mullercardenalalarg

Em relação com os “dubia” apresentados pelos quatro cardeais acerca da exortação “Amoris laetitia”, o Cardeal Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, intervém novamente afirmando que “neste momento não é possível uma correção do Papa porque não há nenhum perigo para a fé”. O cardeal, em uma entrevista com Fabio Marchese Ragona, do Tgcom24, no âmbito do programa Estancias Vaticanas, também expressou irritação após a publicação dos “dubia”.

Como podemos recordar, pouco mais de um mês após a apresentação dos cinco “dubia” (sobre a interpretação de “Amoris laetitia”, a propósito dos sacramentos para os divorciados que novamente casaram, apresentados de acordo com a modalidade técnica de uma petição de esclarecimentos à Congregação para a Doutrina da Fé) os quatro cardeais signatários, Walter Brandmüller, Raymond Leo Burke, Carlo Caffarra e Joachim Meisner, decidiram publicá-los na mídia. A publicação aconteceu poucos dias antes do Consistório de outubro de 2016. Nas semanas seguintes, o Cardeal Burke falou em diversas ocasiões de uma possível e próxima “correção formal” do Papa, caso não houvesse nenhuma resposta. Em uma entrevista com o Vatican Insider, o Cardeal Brandmüller indicou que essa correção seria realizada em primeira instância em “camera caritatis” e, portanto, que não seria publicada.

Agora, o Prefeito da Doutrina da Fé parece afastar a hipótese da “correção”. Todos, disse Müller ao Tgcom24, “especialmente os cardeais da Igreja Romana, tem o direito de escrever uma carta ao Papa. No entanto, fiquei surpreso porque esta foi tornada pública, quase obrigando o Papa a dizer “Sim” ou “Não”. Não gosto disto. Inclusive uma possível correção fraterna do Papa”, acrescentou,” parece-me muito distante, não é possível neste momento, pois não se trata de um perigo para a fé, como disse São Tomás”.

O Prefeito do ex-Santo Ofício continuou: “Estamos longe de uma correção e digo que é um ultraje para a Igreja discutir estas coisas publicamente. “Amoris laetitia” é muito clara na sua doutrina e podemos interpretar toda a doutrina de Jesus sobre o matrimônio, toda a doutrina da Igreja, em 2000 anos de história”. O Papa Francisco, concluiu o cardeal, “pede para que saibamos discernir a situação dessas pessoas que vivem em uma união não-regular, ou seja, que não estão de acordo com a doutrina da Igreja sobre o casamento, e pede que ajudemos essas pessoas a encontrar um caminho para uma nova integração na Igreja segundo as condições dos sacramentos e da mensagem cristã do matrimônio. Mas eu não vejo nenhuma contraposição: por um lado, temos a doutrina clara sobre o casamento, por outro, a obrigação da Igreja de se preocupar com essas pessoas em dificuldade”

Vatican Insider

josephkurtz_aciprensa_donaldtrump_flickrgageskidmore_091116-yyyyyyyyyyyyyy

Poucas horas depois de ser divulgada a vitória eleitoral do candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, o Presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB), Dom Joseph E. Kurtz, publicou um comunicado pedindo “unir-nos como cidadãos fiéis pelo bem comum”.

Em sua mensagem, Dom Kurtz felicitou Trump e assinalou que “agora é o momento para avançar a crescer na responsabilidade de governar para o bem comum de todos os cidadãos” e fez cinco pedidos importantes para o presidente eleito, cujo governo começará às 12h do dia 20 de janeiro de 2017.

1. Escutar o povo americano

“Ontem, milhões de norte-americanos, que estão lutando para encontrar uma oportunidade econômica para suas famílias, votaram para serem escutados. A nossa resposta deveria ser simples: escutamo-los”, disse o Prelado.

“A responsabilidade de ajudar a fortalecer as famílias pertence a cada um de nós”, assegurou.

2. Proteger a vida humana desde a concepção até à morte natural

Dom Kurtz assegurou que os bispos americanos esperam “trabalhar com o Presidente eleito, Trump, para proteger a vida humana desde seu início mais vulnerável até à morte natural”.

Além disso, os bispos advogarão “por políticas que ofereçam oportunidades para todas as pessoas, de todos os credos, em todos os ofícios”.

3. Acolhida humanitária aos imigrantes e refugiados

O Presidente da USCCB assinalou que o episcopado americano se manterá “firme em nossa determinação de que nossos irmãos e irmãs que são migrantes e refugiados podem ser humanamente bem-vindos sem sacrificar a nossa segurança”.

4. Proteção aos cristãos perseguidos no Oriente Médio

O Prelado sublinhou também que os bispos “chamaremos a atenção sobre a violenta perseguição que ameaça os nossos irmãos cristãos e as pessoas de outros credos no mundo inteiro, especialmente no Oriente Médio”.

5. Defender a liberdade religiosa nos Estados Unidos

“Buscaremos o compromisso do novo governo pela liberdade religiosa, assegurando que as pessoas de fé sigamos sendo livres para proclamar e formar nossas vidas sobre a verdade de um homem e uma mulher, e o laço único do matrimônio que eles podem formar”, assegurou.

Dom Kurtz exortou os norte-americanos a não ver uns aos outros “sob a divisora luz de Democrata ou Republicano, ou qualquer outro partido”. Pelo contrário, encorajou: “Vejamos o rosto de Cristo em nossos vizinhos, especialmente naqueles que sofrem ou com quem poderíamos ter discrepâncias”.

“Rezemos pelos líderes na vida pública, para que possam estar à altura das responsabilidades confiadas a eles, com graça e valentia. E que possamos todos nós, católicos, ajudar uns aos outros a ser testemunhas fiéis e alegres do amor curador de Jesus”, pediu.

ACI

jacob-muricken

É um gesto tão forte e eloquente do espírito jubilar do amor ao próximo e da misericórdia para com todos aqueles que estão sofrendo, que despertou, além aplauso e admiração, também críticas e perplexidades. Quem é hostil aos cristãos – e, infelizmente, não são poucos na maior democracia do mundo – entende que tal testemunho de fé e de altruísmo não pode deixar de marcar as consciências e lançar pontes de diálogo sincero e desinteressado onde alguns, em vez disso, querem dividir e impor o próprio credo com a violência e a opressão.

Aconteceu em Palai, no Estado meridional indiano de Kerala, onde o bispo auxiliar de rito siro-malabárico, Mar Jacob Muricken (foto), doou um de seus rins para um jovem hindu gravemente doente e em risco de morte, de uma família pobre e infeliz por diversas circunstâncias, incluindo a incompatibilidade para o transplante de todos os parentes próximos.(foto acima)

A escolha de Dom Muricken nasceu do encontro com outro extraordinário religioso, o padre Davis Chiramel, fundador de uma associação que promove a doação samaritana, como é chamada pela recente lei italiana, e que ele mesmo praticou pela primeira vez em 2009, novamente em favor de um concidadão de religião hinduísta.

O seu exemplo luminoso e a sua pregação convenceram, ao longo dos anos, cerca de 15 religiosos, incluindo algumas freiras, a segui-lo no caminho realmente exigente da oblação de uma parte de si mesmo pelo bem do próximo.

Em um país que viu autênticos ataques violentos aos cristãos – como o de 2008 em Orissa, quando extremistas hindus massacraram quase 100 fiéis, para os quais, recentemente, foi aberta a causa de beatificação como mártires, e onde, há poucas semanas, foi lançado um abaixo-assinado popular para obter a libertação de católicos falsamente acusados de um crime grave – o ato de amor do bispo de Palai é uma resposta que surpreende.

Porque ele se coloca em um plano totalmente diferente, distante de reivindicações, de propostas de diálogo, de ofertas de perdão. Ele simplesmente diz que há um amor maior, aquele de quem está pronto para arriscar a própria vida pelo outro, quem quer que ele seja, sem qualquer condição. O amor ensinado por Jesus e testemunhado por aqueles que têm a coragem de segui-Lo.

Salvação para o jovem Suraj, que recebeu o rim, e uma semente de reconciliação e convivência para toda a Índia.

Jornal Avvenire.

Bispos - foto de costas

A Sala de Imprensa do Vaticano publicou nota sobre o Motu Proprio que decreta a remoção do cargo dos bispos que ocultem casos de abusos sexuais (explicada embaixo, em preto)

O Papa Francisco divulgou novas orientações legislativas que preveem a remoção do cargo de bispos que sejam considerados negligentes na gestão de casos de abusos sexuais de menores e adultos vulneráveis.

Os responsáveis por dioceses católicas dos vários ritos podem ser “legitimamente” removidos do seu encargo, caso se determine que tenham “por negligência, realizado ou omitido atos que tenham provocado dano grave a outros”, tanto a pessoas como à comunidade.

O Motu Proprio (documento legislativo de iniciativa pessoal do pontífice), intitulado ‘Como uma mãe amorosa’, sublinha que “a missão de proteção e do cuidado” diz respeito à toda Igreja, mas envolve em particular os bispos.

“O bispo diocesano ou o eparca pode ser removido apenas quando tenha objetivamente falhado de maneira grave à diligência que lhe é pedida pelo seu ofício pastoral, ainda que sem grave culpa moral da sua parte”, precisa.

No caso de abusos sobre menores ou adultos vulneráveis “é suficiente que a falta de diligência seja grave”.

“O dano pode ser equilíbrio físico, moral ou espiritual”, especifica o documento assinado por Francisco.

O Papa sublinha que “empregar uma particular diligência” em proteger aqueles que são “os mais vulneráveis entre as pessoas a eles confiadas” é dever dos bispos diocesanos e dos superiores maiores de Institutos Religiosos e das Sociedades de Vida Apostólica de Direito Pontifício.

Francisco indica também que quando os indícios são “sérios” a autoridade competente da Cúria Romana pode começar “uma investigação” e informar a pessoa que tem a oportunidade de defesa “com os meios previstos pela lei”, através de depoimentos e documentos.

Após essa apresentação, o organismo da Santa Sé pode “decidir” fazer “uma investigação suplementar” mais aprofundada.

O artigo seguinte explica que, antes de decidir, a Congregação competente deve reunir-se, se necessário, com outros bispos da Conferência Episcopal à qual o investigado faz parte.

Francisco indica que se o organismo Cúria Romana considerar que o bispo em causa deve ser afastado há duas possibilidades: através de “decreto de destituição, no menor tempo possível” ou fraternalmente convidar o prelado a “apresentar a renúncia num período de 15 dias”, após o qual se pode “emitir um decreto de destituição”.

O quinto e último artigo estabelece que a decisão final deve ser apresentada “à aprovação específica” do Papa antes da “decisão definitiva” é assistido por um “colégio de juristas”.

Francisco recorda que o Direito Canônico já prevê “a possibilidade da remoção do ofício eclesiástico por ‘causas graves’” e com o Motu Proprio ‘Como uma mãe amorosa’ quer “precisar” que nessas causas está incluída “a negligência dos bispos” relativas “aos casos de abusos sexuais contra menores e adultos vulneráveis”, como já era previsto pelo Motu Proprio do Papa São João Paulo II ‘Sacramentorum Sanctitatis Tutela’, que foi atualizado por Bento XVI.

A Carta apostólica insiste sobre a importância do cuidado vigilante da proteção dos menores e dos adultos vulneráveis, exigindo uma “diligência particular”.

Assim, precisa que entre as “causas graves” que justificam a remoção dos Cargos eclesiásticos, também dos Bispos, é a negligência no que diz respeito aos casos de abusos sexuais cometidos contra menores ou adultos vulneráveis.

Trata-se de uma Lei que estabelece um Procedimento a ser seguido pela atuação do Cânone já presente no CIC e CCEO (193§1 CIC, 975§1 CCEO).

Não se trata de um procedimento penal, porque não se trata de um “delito” realizado, mas de casos de “negligência” por parte dos Bispos ou Superiores religiosos.

A “instrutória” dos casos de negligência cabe às Congregações competentes, que são 4:

– Bispos
– Evangelização dos Povos
– Igrejas Orientais
– Institutos de Vida Consagrada e Sociedade de Vida Apostólica

A Congregação para a Doutrina da Fé não é chamada em causa porque não se trata de delitos de abuso, mas de negligência no ofício.

Junto às Congregações já existem os  Escritórios disciplinares ou análogos.

Chama a atenção dois pontos:

– A falta de diligência pode existir também “sem grave culpa moral” por parte do Bispo (artigo 1§2).

– Para a remoção, no caso dos abusos de menores “é suficiente que a falta de diligência seja grave” (artigo 1§3), enquanto nos outros casos se requer falta de diligência “muito grave” (artigo 1§2).

Tratando-se de decisões importantes sobre Bispos, a aprovação específica depende do Santo Padre.

Nova é a constituição de um “Colégio de juristas” que assessorará  o Santo Padre antes que tome uma decisão definitiva. Se pode prever que tal Colégio seja constituído por Cardeais e Bispos.

Nota: Tratando-se de uma normativa sobre Procedimentos não se põe a questão da retroatividade ou não, porque a lei sobre a possibilidade de remoção “por causas graves” já existia. De agora em diante, o procedimento para a aplicação do Cânone 193§1 é a que foi estabelecida.

autoridades_venezuelanas_encontro_chavez.jpg.620x350_q85_ltrbx.jpg.620x350_q85_ltrbx


Mais uma vez os bispos venezuelanos denunciam a gravíssima situação do país. Em nota publicada dia 27, os prelados pedem que ninguém se deixe manipular rumo à violência social, não aceitar a corrupção daqueles que especulam, permitir que a Cáritas possa dar a sua ajuda neste momento, especialmente com remédios.

O bispos condenam também os casos de linchamentos e solicitam a todos responsabilidade e respeito da institucionalidade.

“Nunca antes tínhamos sofrido a extrema carência de bens e produtos básicos para a alimentação e a saúde, junto com outros males como o crescimento da delinquência assassina e desumana, o racionamento instável da luz e da água e a profunda corrupção em todos os níveis do Governo e da sociedade. A ideologização e o pragmatismo manipulador intensificam esta situação”, afirma a nota.

Leia a nota completa, em espanhol, nesse link

dom_orani_3_anos___Cpia_05012014050557

O Brasil atravessa um difícil momento de crise política, institucional e ética, que não deixa indiferente ninguém de nós. Ao contrário, pede-nos oração e reflexão. Se de um lado há um despertar das pessoas para agir na sociedade, de outro há também situações de conflitos preocupantes. Ao querer o bem do país, devemos procurar fazê-lo bem também.

Em tempos de tantas situações anômalas e tensas, ao mesmo tempo em que nos cabe manifestar nossas opiniões, somos chamados também a encontrar caminhos de solução. Eis o grande desafio que se impõe nesse momento à nossa pátria!

Em tempos como estes, os homens da Igreja são chamados a dar uma palavra de apoio e incentivo a todos os filhos e filhas desta amada nação que – queiramos ou não – nasceu sob o signo da Cruz do único e divino Redentor do gênero humano. Ele, sem deixar de ser Deus, se fez homem igual a nós em tudo, menos no pecado, na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4). A história é inexorável. Pode ser reinterpretada, nunca, porém, negada por quem quer que seja.

Essas raízes religiosas dão base à unidade nacional de Norte a Sul, de Leste a Oeste, sempre dentro do respeito às diferentes denominações religiosas ou mesmo às pessoas ou grupos que afirmam não ter religião. É a unidade nacional na pluralidade de pensamentos. Isso constitui um Estado que se confessa laico no sentido exato do termo, mas não laicista, ou seja, aquela Nação que, sob a aparência de laicidade, persegue as instituições não concordes com o seu modo de pensar ou, pior, com a linha ideológica do seu governo. Isso caracterizaria um tipo de intolerância que o próprio povo jamais toleraria.

É certo, como a Igreja entende desde o distante pontificado do Papa Leão XIII (1878-1903), que a chamada questão social jamais será resolvida se nos esquecermos dos valores humanos e evangélicos, pois ela é uma questão do homem e da mulher dos nossos tempos com fome e sede do Absoluto ou de Deus, sem o qual tudo o mais parece sem sentido. Daí dizer aquele Papa o seguinte: “Alguns professam a opinião, assaz vulgarizada, de que a questão social, como se diz, é somente econômica; ao contrário, porém, a verdade é que ela é principalmente moral e religiosa e, por este motivo, deve ser resolvida em conformidade com as leis da moral e da religião”. (Encíclica Graves de communi, 18/01/1901).

Em outras palavras, seguindo a sabedoria bimilenar da Igreja, não se pode fazer verdadeira reforma social sem, antes de tudo, transformar o coração humano em um coração que ama o próximo antes de amar a si. Mais: faz isso por amor de Deus e não por mera filantropia. Qualquer reforma social que não parta da própria reforma interior de cada um de nós está sujeita aos mais vergonhosos fracassos, como já ficou comprovado em diversos países que tentaram destronar Deus para colocar em Seu lugar qualquer outra coisa ou pessoa no campo social e político.

Um dos princípios básicos de todo povo civilizado, que se preze de ter esse adjetivo, tem de ser o respeito à vida desde a sua concepção até o seu natural ocaso. Afinal, que credibilidade teria quem dissesse defender os mais fragilizados, mas advogasse – inclusive oficialmente em um programa político ou legislativo – a morte dos mais inermes e indefesos, como são os nascituros no ventre de suas mães? Ainda: como poderia ser chamado de civilizado um país no qual é roubada a dignidade de viver dos idosos a cambalearem pelas filas de alguns órgãos públicos de saúde ou mesmo em hospitais ou instituições semelhantes?

Como poderia ser tida por avançada uma sociedade que, por meio de suas autoridades maiores e contra o sentimento do povo, investisse pesadamente contra a família, célula mãe da vida social e cultural? É na família que se aprendem os primeiros passos da fé, da honestidade, da partilha (e não do tirar vantagem, especialmente com o que é do outro), do amor, enfim, dos valores humanos e cristãos necessários para a vida saudável em comunidade. Tentar quebrar essa instituição querida por Deus é desejar destruir a sociedade a partir de seus alicerces.

Ora, sem o respeito à religião, à vida e à família não se pode, de modo algum, construir uma sociedade verdadeiramente próspera e respeitável. Todos os artifícios de progresso serão uma quimera, que cedo ou tarde acabarão por ruir. Seu alicerce está sobre a areia movediça e não sobre a Rocha firme que é Deus, criador de tudo e desejoso do bem dos seus filhos e filhas. Os caminhos que não respeitam a fé do povo e seus valores acabam por desencadear em situações irrespiráveis.

A falta de ética na vida pública, especialmente no exercício de um mandato público eletivo, neste caso, é mera consequência. É triste, mas não assusta a quem reflita um pouco. Sim, se não se respeita a fé alheia, a vida, a família etc., que se pode mais esperar? O triunfo ou o fracasso? Esperemos que não seja necessário cantar como a ópera Nabucco de Verdi: “Ó minha pátria, tão bela e perdida”, que foi o hino patriótico dos italianos no final do século XIX. Mas o Salmo a que isso se refere (137) coloca sua confiança no Senhor: “Lembra-te, Senhor!”

Ausente de Deus, na prática a pessoa se julga um deus acima de tudo e de todos, e exige para si prerrogativas especiais acima dos demais seres humanos comuns. É a loucura de alguns governantes que, ao longo da história, atribuíram a si mesmos, inclusive, poderes divinos, ou se faziam adorar pelo povo.

Haverá espaço para a ética aí, a não ser aquela “ética” que leva a tirar vantagens de tudo em nome dos que mais necessitam e, pior, à custa deles? A lei, no caso, será igual para todos, menos para alguns privilegiados? Teríamos dois pesos e duas medidas: na hora que convém, invocar-se-ia a Constituição do País, quando não convém, se fariam críticas ferrenhas a essa mesma Lei Maior? Lembremo-nos, porém, de que o comum não é o normal na vida das pessoas. O sonho desmedido e perpetuado de poder não combina com democracia e com progresso em nenhuma parte do mundo.

Um Estado que se pretendesse totalitário, sufocador e abocanhador das demais instituições, não conseguiria prosperar a não ser pelo império do medo e das ameaças, ou jogos sujos de atirar uns contra os outros e enquanto esses menos avisados brigassem aqui embaixo, os poderosos continuariam imunes lá em cima, usufruindo dos benefícios lícitos que o cargo lhes dá ou dos ilícitos tirados especialmente dos mais necessitados. Necessitados que esses homens e mulheres públicos tanto diriam defender.

Passando ao Brasil, em especial, devemos dizer que o momento é grave e requer o despertar e o aliar-se de todas as forças vivas da Nação, a fim de, juntos, dizermos um forte e rotundo “Não” à corrupção, venha ela de quem vier e de que esfera ou natureza for. Não se podem sacrificar os valores éticos e morais, nem se podem espezinhar os benefícios ao povo sofrido como saúde, moradia, educação, saneamento básico. Afinal, sempre é o povo humilde o mais atingido em meio a esse turbilhão de coisas, que desde algum tempo vem se abatendo sobre o Brasil.

Essas mesmas forças vivas da Nação precisam dizem “Sim” à união de todos os homens e mulheres, independentemente de seu time de futebol, da sua cor de pele, da sua condição social ou de quaisquer outras pequenas diferenças acidentais, a fim de que o mal seja combatido com seriedade, dentro da lei e da ordem e, sobretudo, sem ódio ou revolta contra quem quer que seja, nem luta entre classes. Somos todos irmãos em Cristo Jesus!

É hora de mantermos a unidade nacional, a fim de, unidos, vermos o triunfo do bem nesta Terra de Santa Cruz. Portanto, irmãos e irmãs, que todos nós – católicos, cristãos ou homens e mulheres de boa vontade em geral – apoiemos a melhoria desta grande Nação brasileira de modo firme, mas, ao mesmo tempo, cordato e pacífico, sem ódio ou incitações a revoltas. Já temos violência demais! E, assim, Deus nos abençoará com as mais copiosas graças celestiais.

Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, mãe de Jesus, o príncipe da Paz, e também nossa mãe (cf. Jo 19,25-27), dado que somos filhos no Filho (cf. Gl 4,5), intercederá sempre por nós, sobretudo nesta hora decisiva ao povo brasileiro. Amém!

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

maxresdefault

NOTA DA CNBB SOBRE O MOMENTO ATUAL DO BRASIL

“O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,18)

Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil–CNBB, reunidos em Brasília-DF, nos dias 8 a 10 de março de 2016, manifestamos preocupações diante do grave momento pelo qual passa o país e, por isso, queremos dizer uma palavra de discernimento. Como afirma o Papa Francisco, “ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG, 183).

Vivemos uma profunda crise política, econômica e institucional que tem como pano de fundo a ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a sociedade. A busca de respostas pede discernimento, com serenidade e responsabilidade. Importante se faz reafirmar que qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça.

A superação da crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num compromisso entre os responsáveis pela administração dos poderes do Estado e a sociedade. É inadmissível alimentar a crise econômica com a atual crise política. O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético de favorecer e fortificar a governabilidade. 

As suspeitas de corrupção devem ser rigorosamente apuradas e julgadas pelas instâncias competentes. Isso garante a transparência e retoma o clima de credibilidade nacional. Reconhecemos a importância das investigações e seus desdobramentos. Também as instituições formadoras de opinião da sociedade têm papel importante na retomada do desenvolvimento, da justiça e da paz social.

O momento atual não é de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do diálogo à exaustão. As manifestações populares são um direito democrático que deve ser assegurado a todos pelo Estado. Devem ser pacíficas, com o respeito às pessoas e instituições. É fundamental garantir o Estado democrático de direito.

Conclamamos a todos que zelem pela paz em suas atividades e em seus pronunciamentos. Cada pessoa é convocada a buscar soluções para as dificuldades que enfrentamos. Somos chamados ao diálogo para construir um país justo e fraterno.

Inspirem-nos, nesta hora, as palavras do Apóstolo Paulo: “trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende o mesmo sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2 Cor 13,11). 

Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, continue intercedendo pela nossa nação!

Brasília, 10 de março de 2016.

Dom Sergio da Rocha                              Dom Murilo S. R. Krieger

    Arcebispo de Brasília-DF                     Arcebispo de S. Salvador da Bahia-BA

   Presidente da CNBB                         Vice-Presidente da CNBB

 

      Dom Leonardo Ulrich Steiner

         Bispo Auxiliar de Brasília-DF

          Secretário-Geral da CNBB

dom_henriqueHora difícil do nosso País!
Mas, também hora de pensar, de refletir com seriedade.
Como filho desta Pátria, não posso e não quero ficar calado!

Nenhum brasileiro deveria se omitir neste momento!
É preciso se manifestar ordeiramente, mas com coragem e compromisso em relação à nossa Pátria! É o futuro do Brasil que está em jogo!

Como brasileiro, sinto orgulho pela atuação do Ministério Público Federal, pela Polícia Federal e pelo Juiz Sérgio Moro!

Parabéns a eles! Parabéns a boa parte dos meios de comunicação pela coragem de uma cobertura investigativa e independente!

Por outro lado, sinto uma tristeza imensa por ver que os políticos do nosso País – políticos que o povo elegeu! – não estão à altura dos acontecimentos! Nossos representantes, de modo geral, estão totalmente desacreditados; além de pesadas dúvidas e algumas certezas quanto à (des)honestidade de vários deles, dão um triste testemunho de falta de amor ao País e de descompromisso com o povo que os elegeu! Que pena: deu tanto trabalho alcançar a democracia! E agora testemunhar um Congresso Nacional moralmente periclitante!
Não esqueçamos disto nas próximas eleições!
Cada brasileiro deveria acompanhar de perto a atuação do seu senador e do seu deputado federal neste momento tão grave! O voto na próxima eleição: eis nosso veredicto!

Devemos nos manifestar! Devemos exigir uma saída institucional e constitucional para a crise! O povo deve mostrar sua indignação e sua determinação de construir um Brasil honesto, justo, livre de corrupção e de engodos ideológicos!

Viva o nosso povo! Viva o Brasil!
O Senhor abençoe a nossa Pátria e dê ao povo brasileiro coragem de tomar sua história nas mãos, sem falsos messias, sem salvadores da pátria, sem enganadores pais dos pobres, sem demagogos que gritam mas não explicam, criando cortinas de fumaça ao invés de esclarecer!
Precisamos de democracia, precisamos de liberdade, precisamos de transparência, precisamos de políticas públicas que promovam a cidadania e não que criem dependência, precisamos de um Estado a serviço dos cidadãos e da sociedade e não de um monstro que tudo abarca, tudo controla, em tudo se mete, tudo engole e tudo corrompe!

Deus salve o Brasil!
Deus ilumine os brasileiros!

NOTA SOBRE O MOMENTO NACIONAL

E nós somos todos irmãos e irmãs (cf. Mt 23,8)

 

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, fiel à missão evangelizadora e profética da Igreja, acompanha, com apreensão e senso de corresponsabilidade, a grave crise política e econômica que atinge o país e, mais uma vez, se manifesta sobre o atual momento nacional. 

Ao se pronunciar sobre questões políticas, a CNBB não adota postura político-partidária. Não sugere, não apoia ou reprova nomes, mas exerce o seu serviço à sociedade, à luz dos valores e princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja. Desse modo, procura respeitar a opção política de cada cidadão e a justa autonomia das instituições democráticas, incentivando a participação responsável e pacífica dos cristãos leigos e leigas na política. 

Neste momento grave da vida do país, a CNBB levanta sua voz para colaborar, fazendo chegar aos responsáveis o grito de dor desta nação atribulada, a fim de cessarem as hostilidades e não se permitir qualquer risco de desrespeito à ordem constitucional. Nenhuma decisão seja tomada sob o impulso da paixão política ou ideológica. Os direitos democráticos e, sobretudo, a defesa do bem comum do povo brasileiro devem estar acima de interesses particulares de partidos ou de quaisquer outras corporações. É urgente resgatar a ética na política e a paz social, através do combate à corrupção, com rigor e imparcialidade, de acordo com os ditames da lei e as exigências da justiça.

Para preservar e promover a democracia, apelamos para o diálogo e para a serenidade. Repudiamos o recurso à violência e à agressividade nas diferentes manifestações sobre a vida política do país, e a todos exortamos com as palavras do Papa Francisco: “naquele que, hoje, considerais apenas um inimigo a abater, redescobri o vosso irmão e detende a vossa mão! (…) Ide ao encontro do outro com o diálogo, o perdão e a reconciliação, para construir a justiça, a confiança e a esperança ao vosso redor” (Mensagem para a Celebração do XLVII Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 2014, 7). 

Confiamos o Brasil ao Senhor da vida e da história, pedindo sabedoria para os governantes e paz para nosso povo. 

        Imaculada Conceição, vosso olhar a nós volvei, vossos filhos protegei!

Brasília-DF, 08 de dezembro de 2015

             Dom Sergio da Rocha

         Arcebispo de Brasília-DF

           Presidente da CNBB

Dom Murilo S. R. Krieger

           Arcebispo de São Salvador da Bahia- BA

                     Vice-presidente da CNBB

 

 Dom Leonardo Ulrich Steiner

Bispo Auxiliar de Brasília-DF

Secretário Geral da CNBB

 

sinodo_2015

Convido-os a acompanharem o Sínodo no caminhar positivo que muito se respira na Sala Paulo VI, e a desse modo seguirem os seus trabalhos.

Foi o convite do Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, na coletiva desta terça-feira, após esclarecer que a carta de alguns Padres sinodais ao Papa era reservada e que o que foi publicado por algumas fontes não corresponde, nem no texto nem nas assinaturas, à que foi entregue ao Santo Padre, tanto que ao menos quatro cardeais desmentiram.

 

Na realidade, o religioso jesuíta reportou o que efetivamente declarou, a propósito, o Cardeal George Pell: que a missiva ao Pontífice era e deveria permanecer reservada e que o que foi publicado não corresponde, nem no texto, nem nas assinaturas, à que fora entregue ao Papa.

De fato, quatro Padres sinodais – os cardeais Angelo Scola, André Vingt-Trois, Mauro Piacenza e Péter Erdő – desmentiram tê-la assinado.

Por sua vez, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé acrescentou:

“Substancialmente, as dificuldades mencionadas na carta tinham sido evocadas na tarde de segunda-feira, 5 de outubro, na Sala do Sínodo, como havia dito, embora não de modo tão amplo e detalhado. Eu tinha falado de objeções e dúvidas sobre o procedimento. Como sabemos, o secretário geral do Sínodo, Cardeal Baldisseri, e o Papa haviam respondido com clareza na manhã seguinte, terça-feira, dia 6. Portanto, quem, passados alguns dias, deu este texto e esta lista de assinaturas a serem publicadas fez um ato de transtorno não pretendido pelos signatários. Portanto, é preciso não deixar-se condicionar por isso.”

“O porta-voz vaticano explicou ainda que se podem fazer observações sobre a metodologia do Sínodo, que é nova. Isso não surpreende, mas uma vez estabelecida, se procura aplicá-la da melhor forma possível.”

Tanto é assim que “há uma vastíssima colaboração para fazer com que o caminho do Sínodo possa progredir bem”, frisou. Pe. Lombardi ressaltou que, sem dúvida, o clima geral da Assembleia é positivo.

Em seguida, Pe. Lombardi fez-se porta-voz de uma declaração do arcebispo de Durban (África do Sul), Cardeal Wilfrid Fox Napier, a propósito de uma afirmação sua erroneamente reportada numa entrevista:

“A propósito da composição da Comissão de dez membros nomeada pelo Papa para a elaboração do Relatório final do Sínodo, foi escrito erroneamente: ‘Napier questiona o direito do Papa Francisco de fazer essa escolha’. O Cardeal Napier pediu-me para corrigir, afirmando exatamente o contrário: ‘Napier não questiona o direito do Papa Francisco de escolher essa Comissão’.”

Também esteve presente na coletiva de imprensa o abade geral Jeremias Schröder, presidente da Congregação Beneditina de Santa Otília, representando os dez superiores gerais participantes do Sínodo, o qual se deteve sobre a questão da ligação entre a vocação e a vida familiar:

“Muitos jovens monges não mais provêm de famílias católicas bem formadas, muitas vezes o caminho vocacional é, ao mesmo tempo, um caminho catequético, ou seja, o aproximar-se da fé comporta também, posteriormente, a reflexão sobre a vocação. Nesse âmbito estamos vendo mudanças profundas na base social das nossas vocações.”

Em seguida, respondendo à pergunta de um jornalista sobre o tema do diaconato feminino, debatido na Sala do Sínodo, o Rev. Schröder explicou:

“Fiquei impressionado, porque pareceu-me um tema audaz e também, para mim, convincente, tanto que poderia imaginar um caminho dessa natureza. Mas tive a impressão de que esse tema, por agora, não tenha tido uma grande repercussão na Assembleia. Ouvimos uma opinião, mas por enquanto ficou nisso.”

Encontrava-se também entre os participantes da coletiva a consultora e formadora da Federação africana da ação familiar, Thérèse Nyirabukeye, presente no Sínodo na qualidade de auditora. Originária de Ruanda, ela recordou o genocídio no país, vinte anos atrás, e ressaltou a importância da família no processo de reconstrução nacional, porque a família é testemunha de amor e reconciliação, explicou.

Por fim, outra auditora, a diretora do Instituto canadense católico de bioética, Moira McQueen, expressou satisfação pelo papel que tem sido dado aos auditores durante o trabalhos sinodais: “Somos ouvidos e podemos nos pronunciar – disse ela. E esse é um processo democrático.” (RL)

(from Vatican Radio)

0 Comentários

miniatura

Gualtiero Bassetti, natural da Toscana, arcebispo metropolitano de Perugia, participa do Sínodo porque Francisco o nomeou como Padre sinodal. Ele está entre os cardeais italianos mais próximos de Jorge Mario Bergoglio.

Eminência, por que uma parte da Igreja se opõe à abertura do papa sobre a Eucaristia aos divorciados recasados?

Como eu venho de Marradi e sou um toscano de alma, gostaria de lhe perguntar, com uma brincadeira, de qual Sínodo estamos falando: do da mídia ou do da Igreja Católica? O Sínodo se ocupa da família, da sua vocação, da sua beleza, das suas feridas e da sua capacidade de ainda ser o fundamento da sociedade.

Este Sínodo é um dom para a humanidade inteira, um lugar de debate e certamente não é uma sala parlamentar, como disse o papa, ou um talk show de televisão. Sentimos sobre nós, ao contrário, todo o peso dessa reflexão. Mas o jugo torna-se leve com Jesus Cristo ao lado. O sopro do Espírito Santo não falta e não faltará! Aliás, ele vem depois de 35 anos desde o último Sínodo para a família. De 1980 até hoje, um tsunami varreu a sociedade inteira, e nós, como pastores e como padres, temos o dever de cuidar das famílias.

Qual a profundidade da fissura na Igreja entre os conservadores e os progressistas, ou é uma interpretação jornalística errada?

Relatar as divisões, verdadeiras ou supostas, dentro da Igreja é desde sempre um assunto de grande sucesso na opinião pública. Na realidade, sempre houve uma pluralidade de pontos de vista na Igreja, sobre os mais variados assuntos. Temos testemunhos disso nos Evangelhos e nas cartas de São Paulo.

Mas a unidade da Igreja é uma realidade que vai além das divisões de que você fala. É a realização do testamento de Jesus: ut omnes unum sint, “para que todos sejam um”. Portanto, eu deixaria as “sínteses”, os “progressistas” e os “conservadores” para os políticos e para a sua digníssima atividade. A este Sínodo, ao contrário, foi pedido que se fale com parrésia. É o estilo do Papa Francisco, que pediu um debate franco e aberto. Talvez nunca como agora se tinha realizado um Sínodo tão debatido.

Creio firmemente que todos os Padres sinodais estão aqui com a única intenção de oferecer um serviço para a família em um dos momentos mais difíceis da sua história. Como disse o Santo Padre no domingo de manhã em São Pedro, o que se precisa é “uma Igreja que educa ao amor autêntico, capaz de tirar da solidão, sem esquecer a sua missão de Bom Samaritano da humanidade ferida”.

O que o senhor pensou quando leu a história do padre polonês Charamsa, que declarou a sua homossexualidade e se apresentou à imprensa com o seu companheiro?

Esse fato, para mim, foi uma fonte de grande sofrimento. Tanto para as pessoas envolvidas quanto pelo modo em que foi tornado público. A homossexualidade é uma coisa muito séria e complexa para ser tratada em uma coletiva de imprensa em uma enoteca às vésperas do Sínodo. Esse tipo de saídas públicas não fazem bem a ninguém. As minhas orações, como sempre, continuarão sendo dirigidas a todos. Mas o silêncio e o discernimento, nestes casos, são mais do que um conselho fraterno.

A Igreja pode acolher os casais homossexuais e os divorciados recasados sem comprometer a doutrina?

A Igreja acolhe as pessoas, todas, sem exceção, a exemplo de nosso Senhor, que não desprezou o fato de se aproximar da pecadora ou do publicano. Mas a Igreja tem uma Palavra sua a anunciar, o seu caminho que leva ao Pai a indicar. É um itinerário exigente, que requer contínua conversão e que vale para todos! Muitas pessoas homossexuais vivem na Igreja serenamente, sem dramas. Também para as pessoas divorciadas e recasadas se podem imaginar serviços e tarefas que as faça se sentir membros de uma comunidade, apesar do peso de um matrimônio fracassado.

O senhor acredita que o papel na política dos bispos italianos é justamente menos eficaz do que no passado ou a Igreja deve influenciar as decisões do governo italiano?

Os bispos não fazem política, mas anunciam o Evangelho, e a Igreja não é e nunca foi o sindicato dos católicos. Os católicos, porém, tem uma missão: a de serem o sal da terra. Eles têm algo a oferecer ao mundo. Ou seja, eles têm uma visão altíssima do homem e do mundo. Eles pensam que ambos são dons que devem ser protegidos e preservados com o máximo cuidado.

Na base de tudo, está o conceito de pessoa, porque Deus se fez homem. Quando falamos de cristianismo, não estamos nos referindo a um ideal ou a uma filosofia, mas nos referimos sempre a um fato: ao mistério da Encarnação. Deus se encarnou e veio entre os pobres e foi reconhecido primeiramente pelos pastores, isto é, pelos últimos, pelos rejeitados da sociedade. Jesus nasce como um descarte em uma estrebaria de Belém e certamente não no Hotel Garden de Jerusalém. E, além disso, como um refugiado, vai para o Egito.

Por isso, os católicos têm uma visão do mundo a oferecer para a política, que se baseia na valorização da dignidade humana em todos os momentos da existência e que parte dos mais fracos: os pobres, os migrantes, os concebidos, as crianças, as famílias, os trabalhadores temporários, os desempregados, os escravos modernos, os povos em guerra. E, depois, como consequência, a liberdade religiosa, a liberdade de educação, a paz, uma economia justa, um Estado não opressivo.

A reportagem é de Carlo Tecce, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 06-10-2015.

Ruini

O casamento homossexual é uma ‘derrota da humanidade’ porque ignora a diferença e a complementaridade entre homem e mulher, fundamental do ponto de vista não só físico, mas também psicológico e antropológico. A humanidade, através dos milênios, conheceu a poligamia e a poliandria, mas não por acaso o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo é uma novidade absoluta: uma verdadeira ruptura que contrasta com a experiência e com a realidade. A homossexualidade sempre existiu; mas ninguém jamais pensou em fazer disso um matrimônio.”

Cardeal Ruini, que impressão o senhor teve diante do Mons. Charamsa? ( que assumiu publicamente sua homossexualidade recentemente em entrevista coletiva)

Uma impressão de pena, mais ainda do que de surpresa, principalmente pelo momento que ele escolheu.

A entrevista ao jornal Corriere della Sera teve uma repercussão muito ampla. Isso vai influenciar o Sínodo?

Certamente não vai agradar aos Padres sinodais, mas não terá nenhuma influência substancial.

O Mons. Charamsa diz: “Que a Igreja entenda que a solução proposta aos fiéis gays, a abstinência da vida de amor, é desumana”. O que o senhor gostaria de lhe responder?

Eu lhe diria muito simplesmente: como padre, eu também tenho a obrigação de tal abstinência e, em mais de 60 anos, nunca me senti desumanizado, nem mesmo desprovido de uma vida de amor, que é algo muito maior do que o exercício da sexualidade.

No entanto, pareceu que o papa abriu ao diálogo quando disse “Quem sou eu para julgar um homossexual que busca a Deus?”.

Essa talvez tenha sido a palavra mais mal compreendida do Papa Francisco. Trata-se de um preceito evangélico – não julgar se não quiser ser julgado – que devemos aplicar a todos, incluindo evidentemente os homossexuais, e que nos pede para ter respeito e amor por todos. Mas o Papa Francisco se expressou clara e negativamente sobre o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo.

Existe um “lobby gay” na cúpula da Igreja? O próprio papa disse isso, mesmo que em um encontro informal.

Ouve-se muita fofoca sobre isso. Se forem verdadeiras, é uma coisa triste, que é preciso fazer uma limpeza. Pessoalmente, porém, não tenho elementos para falar sobre lobby gay e não gostaria de caluniar pessoas inocentes.

Diga a verdade: além do respeito e também da obediência, o Papa Bergoglio deixa vocês, cardeais ligados à temporada de Wojtyla e de Ratzinger, perplexos.

Não tenho dificuldade para reconhecer que, entre o Papa Francisco e os seus antecessores mais próximos, há diferenças, até mesmo notáveis. Eu colaborei por 20 anos com João Paulo II, depois, mais brevemente, com o Papa Bento XVI: é natural que eu compartilhe a sua sensibilidade. Mas eu gostaria de acrescentar algumas coisas.

Os elementos de continuidade são muito maiores e importantes do que as diferenças. E, desde que eu era estudante no colégio, aprendi a ver no papa, antes, a missão de sucessor de Pedro e só depois a pessoa individual; e a aderir com o coração, além das palavras e das ações, ao papa assim entendido. Quando João XXIII sucedeu a Pio XII, as mudanças não foram menores; mas, já na época, a minha atitude foi essa.

Em Francisco, o senhor revê o Papa João XXIII?

Em vários aspectos, sim. É preciso ser cego para não ver o enorme bem que o Papa Francisco está fazendo para a Igreja e para a difusão do Evangelho.

Francisco é um papa “de esquerda”? As diferenças não são só no estilo, o senhor não acha?

É claro que as diferenças não são apenas de estilo. Mas não afetam a missão de princípio e o fundamento visível da unidade da fé e da comunhão de toda a Igreja. Quanto ao fato de ser de esquerda, o próprio Papa Francisco falou sobre isso várias vezes, dizendo que se trata simplesmente de fidelidade ao Evangelho, não de uma escolha ideológica. Ultimamente, ele também acrescentou, brincando, que é “um pouco esquerdinha”… se eu me lembro das palavras exatas.

Existe o risco de que o papa seja instrumentalizado no plano ideológico, como teme o cardeal Scola?

O fato de que certas posições do papa sejam enfatizadas e que outras passem quase despercebidas é mais do que um risco: é um fato. Em vez de falar de instrumentalizações, eu falaria de esquemas aplicados às personalidades públicas; esquemas aos quais a mídia se afeiçoa e dificilmente renuncia. Isso também aconteceu comigo: sempre me colocavam no esquema.

Por exemplo?

Sobre o casamento gay, eu tomei a posição mais aberta que se podia tomar e foi julgada como a mais fechada.

O senhor disse que se podiam reconhecer os direitos individuais.

E agora juristas como Mirabelli dizem isso. Todos os direitos individuais podem ser reconhecidos, e muitos já foram reconhecidos.

Mas a Itália ainda não tem uma lei sobre as uniões civis. As normas que são discutidas no Parlamento remetem ao modelo alemão, não ao francês e espanhol: nada de casamento, nada de adoções. Por que um católico não poderia votar nelas?

Justamente o modelo alemão prevê que os casais homossexuais tenham, na prática, todos os direitos do casamento, exceto o nome. E o projeto de lei em discussão no Parlamento abre uma fresta também à adoção. Sabemos muito bem, e alguns defensores da proposta dizem isto claramente, que, uma vez aprovada, logo se chegará aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo e às adoções.

Pessoalmente, eu compartilho o comentário do cardeal Parolin, depois do referendo na Irlanda: “O casamento homossexual é uma derrota da humanidade”. Porque ignora a diferença e a complementaridade entre homem e mulher, fundamental do ponto de vista não só físico, mas também psicológico e antropológico. A humanidade, através dos milênios, conheceu a poligamia e a poliandria, mas não por acaso o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo é uma novidade absoluta: uma verdadeira ruptura que contrasta com a experiência e com a realidade. A homossexualidade sempre existiu; mas ninguém jamais pensou em fazer disso um matrimônio.

Haverá também na Itália um movimento de protesto contra as uniões civis?

Os sinais já apareceram com a manifestação do dia 20 de junho na Piazza San Giovanni [em Roma]. A organização foi mínima, e o feedback me impressionou muito: falou-se de 300 mil pessoas. Se se seguir em frente por um certo caminho, dificilmente faltarão os protestos.

O senhor disse ao jornal Corriere della Sera que a onda libertária vai refluir, assim como refluiu a onda marxista. Como o senhor pode ter tanta certeza?

Eu nunca disse que refluirá, mas que poderia refluir. A possibilidade e a esperança, não a certeza, de uma mudança de direção é sugerida pelo contraste entre a onda libertária e o bem da humanidade, que não é uma soma de sujeitos fechados em si mesmos, mas uma grande rede em que cada um precisa dos outros. Espanta-me que os governantes, que deveriam trazer no coração a coesão, não se dão conta de que, desse modo, terão sociedades desintegradas.

É possível readmitir à comunhão os divorciados recasados?

Não. Os divorciados recasados não podem ser readmitidos à comunhão não por uma culpa pessoal particularmente grave deles, mas pelo estado em que objetivamente se encontram. O matrimônio anterior continua existindo de fato, porque o matrimônio sacramento é indissolúvel, como disse o Papa Francisco no voo de volta da América. Ter relações sexuais com outras pessoas seria objetivamente um adultério.

É possível pensar em exceções caso a caso?

Eu não gosto da palavra “exceções”. Parece querer dizer que, para alguns, se concede que se prescinda da norma que lhes diz respeito. Se, ao contrário, o sentido é de que cada pessoa e cada casal devem ser considerados concretamente, para ver se essa norma lhes diz respeito ou não, esse é um princípio geral que sempre deve ser levado em consideração, não só para o matrimônio, mas para todo o nosso comportamento.

Abstratamente, portanto, é possível que um divorciada recasado receba a comunhão?

Sim, se o matrimônio é declarado nulo.

As novas disposições sobre essas questões não correm o risco de atenuar o vínculo, de introduzir uma espécie de divórcio católico?

O risco só pode existir se as novas disposições não forem aplicadas com seriedade. É preciso melhorar acima de tudo a preparação dos juízes. Introduzir sub-repticiamente uma espécie de divórcio católico seria uma péssima hipocrisia, muito prejudicial para a Igreja e para a sua credibilidade. Mas a decisão do Papa Francisco, que muitos de nós – incluindo eu – desejávamos, não tem nada a ver com uma hipocrisia desse tipo.

Se a falta de fé de um dos esposos pode levar à declaração de nulidade, não se abrem espaços muito amplos?

Claro. E por essa razão o Papa Bento XVI, apesar de estar convencido de que a fé é necessária para o matrimônio sacramental assim como para todo outro sacramento, foi muito prudente ao tirar consequências práticas desse princípio. O Papa Francisco também se limitou a indicar a falta de fé como uma das circunstâncias que podem permitir o processo mais breve perante o bispo, quando essa falta de fé gera a simulação do consentimento ou produz um erro decisivo quanto à vontade de se casar. Brincando, eu poderia dizer que quem foi mais longe nesse caminho fui eu, na minha contribuição para o livro dos 11 cardeais que está sendo publicado nestes dias…

Uma família de migrantes em cada paróquia: isso o convence? Ou o senhor compartilha as perplexidades do arcebispo de Bolonha?

O cardeal Caffara evidenciou as condições sem as quais a acolhida se torna difícil e pode até ser contraproducente. Tentar implementá-las é um serviço e não um obstáculo à acolhida.

Caffara defende que é preciso acolher os migrantes “conhecidos”.

Conhecidos no sentido de identificados. Digamos a verdade: muitos até mesmo na Igreja não acolhem ninguém; muito acolhem assim, alla garibaldina [impetuosamente, sem cautelas]. Seria preciso encontrar uma via do meio.

Cardeal italiano Camillo Ruini, ex-presidente da Conferência Episcopal Italiana, em entrevista a Aldo Cazzullo, publicada no jornal Corriere della Sera.

Vatican Family

Tem início neste domingo, 4 de outubro, com encerramento previsto para o próximo dia 25 a XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. É a continuação da III Assembleia Geral Extraordinária realizada em outubro do ano passado. O Sínodo é a expressão “da colegialidade episcopal e das famílias”.

No Sínodo extraordinário no ano passado – palavras dos padres sinodais – tivemos um clima de liberdade, sinceridade e espírito de comunhão fraterna que caracterizou os trabalhos; assim todos puderam contribuir à reflexão. Por isso, o documento final, a Relatio Synodi, publicada após o encerramento dos trabalhos refletiu fielmente com seus matizes, os resultados dos trabalhos do Sínodo.

O Sínodo do ano passado e o que tem início neste domingo com a Santa Missa no Vaticano, teve um espaço, um prazo, que não tem precedentes na história da instituição do Sínodo. Partindo do caminho já realizado aproveitou-se esta oportunidade especial para aprofundar as temáticas e promover o debate em nível de Conferências Episcopais, encontrando os recursos e as ferramentas necessárias para uma maior participação de todos. E isso ocorreu durante o último ano com a distribuição de um questionário que chegou às Igrejas locais solicitando às mesmas a contribuição de todos, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos para uma maior reflexão sobre o tema da família.

Depois tivemos a publicação do Instrumentum Laboris. O documento de trabalho reporta a Relatio Synodi e integra as contribuições provenientes das respostas ao questionário que foi proposto às dioceses. O documento está dividido em três partes: a escuta dos desafios sobre a família, o discernimento da vocação familiar e a missão da família hoje.

No “Instrumentum Laboris” reafirma-se que o matrimônio é um sacramento indissolúvel, não deixando de recordar o acompanhamento que a Igreja deve fazer das situações de sofrimento através de uma atitude de misericórdia. Não são esquecidas também as situações de nulidade matrimonial.

O documento de trabalho deste Sínodo, apresenta uma atenção especial aos divorciados recasados, sendo desejada uma reflexão sobre a oportunidade de fazer cair “as formas de exclusão atualmente praticadas no campo litúrgico-pastoral, educativo e caritativo”, porque estes fiéis “não estão fora da Igreja”.

No caso particular, da comunhão eucarística aos divorciados recasados, o documento apresenta o “comum acordo” que existe sobre a hipótese de um “caminho penitencial” sob a autoridade de um bispo.

Em relação às uniões homossexuais o documento reafirma a posição contrária da Igreja, sendo, no entanto, apresentada a ideia de que cada pessoa, independentemente, da sua tendência sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com sensibilidade e delicadeza.

Uma fundamental referência no texto aos filhos. O Instrumentum convida a ser valorizada a importância da adoção afirmando que “a educação de um filho deve basear-se na diferença sexual, assim como a procriação”, pois esta tem o seu fundamento “no amor conjugal entre um homem e uma mulher”.

A Igreja no Brasil também está presente no Sínodo sobre a família. Cinco bispos vão representar o episcopado brasileiro: Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Brasília (DF) e Presidente da CNBB; Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo (SP); Dom João Carlos Petrini, Bispo de Camaçari (BA); Dom Geraldo Lírio Rocha, Arcebispo de Mariana (MG); e o Cardeal Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo de Aparecida (SP), Presidente Delegado.

De acordo com o Arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lírio Rocha, as contribuições do Brasil junto ao Sínodo se darão em torno  de sua riqueza cultural, do sentido de família presente no povo brasileiro, do apreço à família, bem como das iniciativas da Igreja brasileira com relação ao tema. “Nós levamos para o Sínodo uma reflexão muito ampla e não só, mas uma prática de ação pastoral em defesa da vida e em favor da família, que se consolidou no Brasil em todas as regiões”.

Por ser um evento mundial, o Sínodo tem suas estratégias para organizar as discussões, como por exemplo, as plenárias e os grupos de trabalho. As plenárias são os principais momentos de discussão, nas quais cada país fará suas colocações e apresentará suas respectivas realidades.

Já os grupos de trabalhos serão ocasião para os bispos, divididos por idiomas, elaborarem as proposições que, ao final, do Sínodo serão apresentadas ao Papa Francisco. Os idiomas oficiais do Sínodo são: latim, inglês, italiano, francês, espanhol e o alemão.

O Sínodo não terá um documento final a ser apresentado a toda a Igreja, mas um documento que deverá ser entregue ao Santo Padre para que ele sim, em nome da Igreja, apresente uma exortação apostólica pós-sinodal.

O Sínodo não é uma espécie de parlamento, mas sim um encontro de bispos na qualidade de pastores da Igreja. Não é uma reunião de técnicos, de especialistas ou de peritos em determinada matéria, de alguma ciência. O Sínodo é um acontecimento eclesial, por isso, ele se respalda na palavra de Deus e no Magistério da Igreja, com a intercessão do Espírito Santo. Vamos rezar pelo bom êxito dos trabalhos.

(Silvonei José) Rádio Vaticano