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O impacto da crescente presença muçulmana no mundo ocidental é um dos temas mais candentes da atualidade – e em torno dele se verificam todos os dias acaloradas discussões de diferentes vieses ideológicos.

Giulio Meotti, jornalista e editor cultural do periódico italiano Il Foglio, abordou o tema do ponto de vista de quem vive no meio do dilema que se impõe aos europeus. Em artigo para o Gatestone Institute, o jornalista registra a seguinte impressão dos seus conterrâneos captada por pesquisas recentes:

“Todos os cantos europeus veem sinais de fissuras. Ao que tudo indica, os jihadistas estão tomando de assalto a liberdade e as democracias seculares. Apreensões dominam o imaginário coletivo dos europeus. Um levantamento com dados de mais 10.000 entrevistados de dez países europeus revelou uma crescente oposição pública à imigração muçulmana. A Chatham House Royal Institute of International Affairs realizou uma pesquisa de opinião perguntando aos entrevistados, pela internet, o que eles achavam da afirmação de que ‘toda a migração futura de países, principalmente muçulmanos, deve ser interrompida’: nos 10 países europeus onde foram realizados os levantamentos, uma média de 55% dos entrevistados concordou com a afirmação”.

A grande mídia, segundo Meotti, “já questiona se a Europa teme mais os muçulmanos do que os Estados Unidos”, e, ainda no tocante à mídia, o editor italiano recorda a recente publicação de imagens de uma oração muçulmana em massa diante do Coliseu, um dos mais célebres monumentos da Itália e do planeta: “Ecoando a captura da grande civilização cristã de Bizâncio em Constantinopla, o pregador mais destacado do islã sunita, Yusuf al Qaradawi, declarou que chegará o dia em que Roma será islamizada“.

Citando o historiador David Engels, Meotti considera que a Europa vai encarar o mesmo destino da antiga República Romana: a guerra civil. E se pergunta:

“As civilizações morrem de fora para dentro ou de dentro para fora? O seu desaparecimento resulta de agressão externa (guerra, desastres naturais, epidemias) ou de erosão interna (decadência, incompetência, escolhas desastrosas)? No século passado, Arnold Toynbee ressaltou de forma resoluta: ‘as civilizações morrem se suicidando, não por assassinato’”.

Por toda a Europa, observa o jornalista,

“há sinais de tomada de poder. O número de estudantes muçulmanos já supera o de estudantes cristãos em mais de 30 escolas britânicas ligadas às igrejas. Uma escola primária anglicana já conta com 100% de estudantes muçulmanos. A Igreja da Inglaterra estima que cerca de 20 das suas escolas têm mais alunos muçulmanos do que cristãos e 15 escolas católicas romanas têm maioria muçulmana entre seus estudantes. Na Alemanha também há temores de um influxo muçulmano massivo no sistema escolar, a ponto de que alguns professores alemães estejam alertando abertamente contra a ameaça de uma ‘guetização’”.

Meotti prossegue anotando que a França registrou 34.000 nascimentos a menos no ano passado em comparação com 2014 e que o número de mulheres francesas que deram à luz atingiu o nível mais baixo em 40 anos. A baixa taxa de fertilidade tornou-se, para o jornalista, uma “praga em toda a Europa“: em 1995, apenas a Itália tinha mais pessoas acima de 65 anos do que abaixo de 15; hoje há 30 países nessa mesma situação – e até 2020 serão 35.

É significativo notar que a França teria uma taxa de natalidade ainda menor se não fosse pelas mulheres muçulmanas: “Com taxa de fertilidade de 3,5 filhos por mulher, os argelinos contribuem significativamente para o crescimento populacional da França“, de acordo com o demógrafo Gérard-François Dumont. Ele também cita a taxa de fertilidade de outras mulheres de origem muçulmana em terras francesas: 3,3 filhos no caso das marroquinas e tunisianas; 2,9 no caso das turcas.

É também por causa dos migrantes muçulmanos que as maternidades da Suécia estão hoje ocupadas: entre 2001 e 2014, foi registrado no país um aumento de 25% nos nascimentos. A percentagem de estrangeiros saltou de 4% na década de 1960 para 17% em 2015.

Em Milão, centro financeiro da Itália, o nome mais dado aos recém-nascidos é Maomé.

Situações similares acontecem em Londres, nas quatro maiores cidades da Holanda e em várias outras regiões da Europa, de Bruxelas a Marselha. “É o islã, não o cristianismo, que agora permeia a paisagem e a imaginação da Europa“, registra Meotti.

Enquanto isso, vários dos maiores líderes europeus simplesmente não têm filhos. É o caso da alemã Angela Merkel, da primeira-ministra britânica Theresa May e de um dos principais candidatos à presidência da França, Emmanuel Macron. Se os próprios líderes europeus não têm filhos e, portanto, não tem razões pessoais para se preocuparem com o futuro porque tudo termina com eles mesmos, é plausível que eles não entendam cabalmente os motivos de preocupação dos pais e mães europeus com a abertura indiscriminada das fronteiras do seu continente. A maior preocupação dos políticos parece ser sempre econômica e nunca familiar, conforme se vê nas palavras de Federica Mogherini, representante das relações exteriores da União Europeia: “Eu acredito que os europeus devem compreender que precisamos da migração para as nossas economias e para os nossos sistemas de bem-estar social. Com as tendências demográficas atuais, temos que ser sustentáveis“.

A Batalha de Poitiers, em 732, foi o marco final da primeira grande onda islâmica na Europa Ocidental. Se os cristãos não tivessem vencido, “talvez”, como assinalou Edward Gibbon, “a interpretação do alcorão seria agora lecionada nas escolas de Oxford e os seus púlpitos poderiam pregar a um povo circuncidado a santidade e a verdade da revelação de Maomé“. Giulio Meotti complementa com uma indagação: “Isso não soa familiar hoje em dia?“.

Os islamistas, recorda o editor italiano, levam a cultura e a história mais a sério do que os ocidentais. Recentemente, em Paris, um terrorista egípcio tentou atacar o grande museu do Louvre: ele planejava desfigurar a arte do museu por ser “um poderoso símbolo da cultura francesa“.

Giulio Meotti encerra o seu artigo propondo uma reflexão incômoda:

“Pense num extremista islâmico gritando ‘Allahu Akbar’ ao mesmo tempo em que desfigura a Mona Lisa. Esta é a tendência que precisamos começar a reverter”.

É uma discussão com a qual se pode concordar ou discordar. O que não se pode mais é evitá-la com base no dogma do politicamente correto.

Francisco Vêneto

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Willem Jacobus Eijk é, desde 2008, arcebispo de Utrecht e primaz da Holanda e cardeal desde 2012. Sua tarefa não é fácil: é responsável por uma Igreja que nos últimos anos sofreu uma redução drástica em termos numéricos, chegou a um acordo com um processo de secularização impetuoso e presenciou polêmicas internas, que, contudo, foram aos poucos se abrandando. Os católicos holandeses caíram de 5,5 milhões em 1990, a pouco menos de 4 milhões hoje, o que representa uma redução de 37 a 23 por cento da população. Formado em medicina, com uma tese sobre eutanásia, e em filosofia, o Cardeal Eijk foi ordenado sacerdote em 1985.

Eis a entrevista.

Eminência, de acordo com um estudo da ONU a Holanda é o sexto país mais feliz do mundo. Quem está dentro sente a mesma coisa? Os holandeses são felizes hoje?

Depende muito dos critérios que essas pesquisas utilizam para chegar a conclusões. De acordo com um relatório de uma entidade oficial holandesa, o Instituto para o Planejamento Social e Cultural (SCP), dois terços dos holandeses são pessimistas, acreditam que o país está seguindo na direção errada. Há um sentimento generalizado de que nos últimos anos a Holanda piorou. Lamenta-se um empobrecimento dos costumes, do modo como as pessoas se tratam. Nas discussões públicas é comum ouvir insultos, mesmo no parlamento, e respira-se um clima de intolerância. Uma parte crescente da população está convencida que o Estado ajuda demais os imigrantes e muito pouco os holandeses nativos. Alguns vivem em um estado de carência extrema.

A Holanda é um país rico, é claro, e essa riqueza é certamente uma das razões que levou a ONU a declarar que os holandeses estão entre os mais felizes do mundo. Mas nem todos nos últimos anos têm aproveitado a recuperação econômica: os grupos da população menos instruídos estão sofrendo um empobrecimento. Nós, Igrejas, estamos fazendo mais e mais para as famílias pobres, aquelas em que pai e mãe ficaram ambos desempregados. O estado ocupa-se cada vez menos dessas pessoas, os recursos para a assistência social diminuíram e o resultado é que o número de pessoas que já não conseguem pagar o aluguel ou as contas básicas aumentou.

Uma parte da população está se tornando cada vez mais rica, tem nas mãos a maioria dos recursos financeiros, enquanto a outra parte é cada vez mais pobre e cada vez mais irritada porque vê que os outros estão aproveitando a situação. Dentro desse quadro é crescente a desconfiança em relação à elite política: uma parte da população pensa que os políticos não fazem nada para ajudá-la e que nem sequer tentam fazê-lo porque a Holanda perdeu parte da sua soberania, devolvendo-a à UE.

Hoje em dia, qual é a característica da sociedade holandesa que mais lhe agrada e qual a que mais lhe preocupa?

Os holandeses são generosos, querem ajudar os menos afortunados. Neste momento estamos realizando uma grande arrecadação de fundos para as vítimas da fome no Sudão do Sul, organizações cristãs e não cristãs se uniram nesta iniciativa. Por outro lado, há coisas que me deixam triste: a falta de fé em nossa sociedade e a relativa perda de valores éticos ligados à fé e ao bom senso. É possível constatar que no nosso país o respeito pela vida humana está aos poucos diminuindo. Outro campo que gera preocupação é em relação ao casamento: poucos se casam, seja na igreja ou no registro civil.

Como em muitos outros países europeus, a fé e a prática religiosa diminuíram muito na Holanda. Segundo a edição de 2016 do levantamento “Deus na Holanda” a soma de ateus e agnósticos representa quase 60 por cento da população holandesa, e pela primeira vez o número de ateus declarados superou o daqueles que acreditam na existência de um Deus pessoal.

Em sua opinião, qual foi o fator mais importante que desencadeou a tendência de queda no número de crentes e da prática religiosa? Trata-se de causas relacionadas com as Igrejas, portanto com a teologia liberal e com a pastoral ligada a esse direcionamento, ou é a pressão geral da sociedade que enfatiza e impõe valores seculares?

O fator mais importante, em minha opinião, é a cultura. Os primeiros sinais de uma secularização entre os católicos na Holanda já podiam ser observados nas décadas de 1920 e 1930. Nas grandes cidades já havia católicos que não frequentavam mais a igreja, que já não batizavam mais os filhos. O fenômeno se intensificou desde a Segunda Guerra Mundial. Em outubro de 1947, realizou-se um simpósio no seminário menor da Arquidiocese de Utrecht em que sacerdotes e laicos reuniram-se para estudar este problema. Eles falaram dos problemas da pastoral e formularam a previsão de que um grande número de pessoas batizadas deixaria a Igreja silenciosamente nas décadas seguintes. Eles estavam certos, porque vinte anos mais tarde a Igreja holandesa havia se esvaziado bem rapidamente. Em 1947 já se verificava que muitos católicos mantinham com a Igreja um vínculo de tipo ético-social, mas não estavam interessados nas verdades da fé. Vivia-se em uma rede de organizações católicas, mas faltava uma vida pessoal de oração, uma verdadeira espiritualidade.

Karol Wojtyla visitou nosso país no final da década de 1940, quando estava realizando a sua tese de doutorado na Universidade de Leuven, na vizinha Bélgica, e mesmo expressando admiração para a grande estrutura e organização da Igreja Católica, observou uma falta de vida espiritual, de uma ligação pessoal com Cristo. Ele constatou que a Igreja Católica na Holanda estava unida e combatia os protestantes, mas era uma unidade puramente no negativo, pois carecia de fé pessoal.

Todos esses fatores tornaram-se a causa da grave crise que a Igreja holandesa tem vivido desde o início dos anos 1960, momento em que surgiu o fenômeno do individualismo. A grande prosperidade que se iniciou na época colocava a pessoa em condições de viver de forma bastante independente dos outros e isso levou a um individualismo muito forte, exagerado, que bem conhecemos agora em nosso país. O individualista é uma pessoa autorreferencial, que acredita ter não apenas o direito, mas o dever de construir por si o seu próprio ser e seus próprios valores éticos. Não procura pontos de referência nos outros, em realidades e estruturas que o transcendam, mas apenas em si mesmo. E esse indivíduo está fechado em si mesmo, não se abre a um Deus transcendente e nem mesmo a uma comunidade de fiéis, que é a essência da Igreja. Todos esses fatores levaram à grave crise de fé e da vida da Igreja Católica de hoje.

Inclusive os teólogos vêm experimentado essa evolução, tornando-se cada vez mais liberais. Eles sentiram os efeitos bem mais do que os produziram. Edward Schillebeeckx, por exemplo, um professor de dogmática na Universidade de Nijmegen, costumava ser bastante ortodoxo nos anos 1950, mas a partir de 1965 tem se transformado em um defensor das novas correntes teológicas. Os teólogos foram mais seguidores das mudanças da cultura do que tiveram influencia sobre ela. Para isso contribuíram múltiplos fatores, cujo resultado é que a catequese acabou faltando na Igreja Católica nos últimos cinquenta anos.

Eu frequentei uma escola religiosa em Amsterdã e, nos primeiros anos, de 1965 a 1967, recebi uma excelente formação de catequese, especialmente bíblica. Prometeram-nos que tratariam dos sacramentos a partir do terceiro ano, mas nunca o fizeram. Os professores de religião ainda eram sacerdotes, mas havia discussões sobre Che Guevara, sobre os temas da época, mas nada sobre religião. Eu descobri e mantive a vocação sacerdotal graças ao pároco da minha cidade natal, perto de Amsterdã, uma pessoa de grande sensibilidade. Em geral na escola católica não tinha catequese, e isso é um problema que subsiste até hoje.

Nas paróquias não é ensinada a catequese?

Atualmente apenas é feita uma preparação para a Primeira Comunhão e para a Crisma, mas é muito difícil reunir os jovens para a catequese, há muitas atividades recreativas, todo mundo tem seus próprios programas pessoais. Quando eu era criança não havia tantas atividades, hoje em dia é muito difícil reunir as pessoas à tarde ou à noite para a catequese. Ainda existem muitas escolas com uma identidade católica, mas como a maioria dos alunos não é mais católica, e nem mesmo os professores o são, ou não são membros ativos, a escola católica não tem mais condições de transmitir a fé como acontecia até 50 anos atrás.

No Relatório “Deus na Holanda”, ressalta-se que os católicos mais jovens são mais ortodoxos do que os mais velhos em relação à doutrina católica tradicional. O senhor concorda ou isso não passa de uma ilação?

É isso mesmo, posso confirmá-lo. As gerações mais velhas são aquelas que nos anos 1960 adotaram as novas correntes teológicas, enquanto os jovens, quando ainda acreditam, não questionam a ortodoxia e têm uma intensa vida de oração. O Domingo de Ramos coincide com uma atividade da pastoral juvenil na minha arquidiocese, que inclui uma hora de Adoração.

Os nossos jovens realmente amam a Adoração, adoram a oração silenciosa. Durante essa hora, nós sempre oferecemos a possibilidade de fazer a confissão, e praticamente todos os jovens se confessam, mas quando se fala em confissão com a geração mais velha, as reações são bem mais negativas e hostis: “Nós não fazemos mais essas coisas”. Não se vê isso entre os jovens, eles são muito abertos para a confissão. O número de católicos é sempre decrescente, mas a qualidade está aumentando, e isso é um sinal de esperança.

Num futuro próximo, a Igreja na Holanda será muito pequena, mas vai ser uma Igreja com uma forte fé, que poderá ser a semente para o Reino de Deus na sociedade do amanhã. Eu não sou um arcebispo desesperançado, no entanto, temos de aceitar que a Igreja na Holanda vai se tornar muito pequena. Estou fechando muitas igrejas, talvez um terço das igrejas da Arquidiocese de Utrecht será fechada antes de 2020 e dois terços antes de 2025. Talvez tenhamos condições de manter umas 20 paróquias, com uma ou duas igrejas em cada uma delas, enquanto na década de 1960 eram quase 400: é uma imensa redução. Mas quando os paroquianos têm uma fé forte e profunda, esta poderá ser o fermento do futuro: esta é a minha esperança para o tempo que virá. E devo dizer que, mesmo entre os idosos aqueles que permanecem têm uma fé mais substancial do que a que havia em sua própria geração no passado.

Quando eu me tornei pároco assistente em 1985, a maioria dos meus paroquianos apoiava às idéias do movimento de 8 de Maio. Era o nome do movimento surgido na véspera da visita de João Paulo II à Holanda, que justamente ocorreu em 8 de Maio de 1985. Foi uma visita muito especial, com muitos protestos contra o papa: foi a visita mais difícil que João Paulo enfrentou durante o seu longo pontificado. Os participantes do movimento defendiam uma teologia liberal, criticavam muitos pontos delicados da doutrina da Igreja, especialmente contestavam à moralidade sexual. No domingo, a igreja ainda estava bastante cheia, mas eu sabia que a maioria das pessoas presentes não aceitava o teor de meus sermões. Hoje não é mais assim, o ambiente é mais relaxado, é mais tranquilo. Agora anunciar a fé se tornou mais fácil do que era há 30 anos. Nem todos os desenvolvimentos são negativos, seria um erro pensar isso.

Apesar da diminuição do número de católicos na Holanda, as estatísticas mostram que a cada ano várias centenas de adultos convertem-se ao catolicismo. Que tipos de pessoas são estes adultos que pedem para ser acolhidos na Igreja Católica?

São pessoas tão diversas como é a sociedade holandesa. Algumas poucas se tornam católicas para se casar com um católico, a maioria descobre a fé católica através de amigos ou após um evento importante na vida. Alguns são protestantes, outros nunca foram batizados. Eles são pessoas muito diferentes, e cerca de metade deles se tornam fiéis ativos com uma forte fé.

Há muitos estrangeiros entre eles, ou em sua maioria são holandeses?

A maioria é de nativos holandeses. Entre os imigrantes cristãos encontram-se muitas pessoas batizadas, crentes, mais educadas na fé do que os holandeses. Na Holanda temos um milhão de islâmicos, mas também 800-900 mil católicos imigrantes, que são uma parte muito ativa nas paróquias da parte ocidental do país, nas grandes cidades como Amsterdã, Haia e Rotterdam.

Recentemente o senhor ressaltou a necessidade de um documento de alto nível da Igreja Católica sobre a ideologia de gênero. Por que tal documento seria importante?

Inclusive sobre esta questão a Holanda foi pioneira. Na década de 1980 uma clínica universitária de Amsterdã, de filiação protestante, foi a primeira a oferecer tratamentos tanto hormonais como cirúrgicos para mudar o sexo biológico. O seguro de saúde pagava a maior parte do tratamento e continua sendo assim. Hoje, através de comissões da ONU, são exercidas pressões consideráveis sobre os estados para implementar legislações adequadas com a teoria de gênero, principalmente programas nas escolas. O que defende em resumo esta teoria? Que no passado a identidade de gênero era imposta pela sociedade, especialmente em relação ao papel social da mulher, mas agora somos individualistas, adulto, autônomos, e, portanto, temos o direito e o dever de escolher a nossa identidade de gênero.

Hoje, na Holanda, a teoria do gênero já não é mais um tema debatido, todos a aceitam como um fato evidente: o gênero não tem uma ligação essencial com o sexo biológico, o indivíduo tem a liberdade de determinar sua própria identidade de gênero e de mudar o sexo biológico conforme sua vontade, de acordo com suas idéias sobre a sua identidade de gênero. Para as pessoas tornou-se difícil entender que uma mudança de sexo é algo incompatível com a doutrina da Igreja sobre o casamento e a sexualidade. É por isso que eu pedi um documento sobre a teoria do gênero para o magistério romano: não necessariamente uma encíclica, mas um documento que explique claramente o que a Igreja pensa da teoria de gênero, com base em uma antropologia filosófica cristã, de modo que as pessoas possam entender que, com base na visão do mundo que a Igreja defende, e que vem da Sagrada Escritura e Tradição, o sexo biológico é essencial para a identidade de gênero.

Pode haver mudanças em relação ao papel social do gênero, isso acontece em todas as culturas e ao longo da história, mas não pode ser dito que o gênero é totalmente separado do sexo biológico. Fiz o pedido de tal documento porque todos na nossa sociedade aceitam a teoria de gênero sem ter ciência de suas consequências e da antropologia que pressupõe. O Papa falou algo sobre o assunto aqui e ali, falou de uma colonização ideológica agressiva em relação à teoria de gênero, de uma guerra em escala mundial contra o casamento e a família, mas um documento específico sobre a teoria de gênero poderia ser profético.

Outra questão delicada é a legislação para a eutanásia que na Holanda já existe e é bastante permissiva. O que o senhor pensa da legislação em vigor e das consequências das reformas que são propostas na direção do suicídio assistido?

A situação está ficando complicada. Uma comissão criada pelo governo e presidida por um membro do partido D66, que lutou muito para a introdução da eutanásia na Holanda, concluiu no ano passado que a lei atual funciona bem e não há necessidade de mudá-la. A comissão escreveu que, de fato, na Holanda existem pessoas idosas que gostariam de poder usufruir do suicídio assistido mesmo que não sofram de nenhuma doença, só porque consideram que “completaram suas vidas”. Essas pessoas, de acordo com a comissão, já podem fazer uso da lei vigente. Apesar disso, os ministros da Justiça e da Saúde, em 13 de outubro do ano passado, enviaram uma carta ao Parlamento, em que anunciaram planos para introduzir um novo projeto de lei, para ser anexado ao já existente sobre a eutanásia, para aqueles que consideram ter completado a sua vida. Tal lei sobre a “vida completada” preveria que cada pessoa tivesse o direito de solicitar o suicídio assistido dirigindo-se aos agentes assistenciais autorizados, que podem ser médicos, psicólogos e enfermeiros especializados. Os assistentes têm a competência para verificar se a pessoa está solicitando o suicídio assistido de forma coerente e livre, sem pressões familiares ou ambientais. O próprio partido D66 anunciou um projeto de lei para o suicídio assistido para os idosos, indicando como idade mínima os 75 anos.

Esta é uma nova etapa na discussão da eutanásia na Holanda. Quando alguém menciona que essas propostas estão assumindo uma inclinação perigosa, todos negam e protestam, mas é impossível não notar que a legislação tem avançado por um declive escorregadio dos anos 1970 até hoje. Principiou-se falando em eutanásia para doenças incuráveis na fase terminal da vida; em seguida, discutiu-se sobre a eutanásia fora da fase final; mais tarde, nos anos 1990, foi estendida para doenças psiquiátricas e neurodegenerativas; depois, em 2004, foi introduzido o Protocolo de Groningen, que autoriza a supressão da vida de recém-nascidos gravemente enfermos e, pela primeira vez, foi quebrada uma barreira, aquela que defendia que a supressão de vida deveria ser solicitada pelo paciente. Agora o próximo passo parece ser a introdução do suicídio assistido para aqueles que não sofrem de uma doença, mas afirmam que completaram a sua vida.

Nos últimos 30 anos, a Holanda tornou-se alvo de um grande fluxo migratório. Muito migrantes vêm de regiões do mundo onde a visão religiosa da vida ainda é prevalente. Muitos deles são muçulmanos. A sua percepção é que estes imigrantes estão se secularizando como a maioria dos holandeses, ou estão mantendo e transmitindo uma forte identidade religiosa?

Até 2004 observou-se uma tendência à secularização, inclusive entre os imigrantes islâmicos, mas desde 2004 nota-se um reforço da identidade islâmica entre os imigrantes, especialmente aqueles que chegam da Turquia e do Marrocos e que acima de 95 por cento declaram- se islâmicos praticantes. De fato, 40 por cento dos muçulmanos na Holanda visitam a mesquita às sextas-feiras, um percentual significativo quando comparado com o dos cristãos que frequentam regularmente uma igreja, que é de 10-15 por cento. A prática do culto aos domingos entre os católicos é inferior a 5 por cento. Os islâmicos têm identidade religiosa mais forte do que a de protestantes e católicos atuais.

Quantas mesquitas sunitas existem na Holanda? E quantas paróquias católicas?

As mesquitas são atualmente 500, e outras estão sendo construídas. Eles constroem mesquitas, nós cristãos fechamos igrejas. As paróquias católicas são cerca de 1.500, um número que está se reduzindo assim como o número de igrejas abertas ao culto. Há igrejas que não são mais usadas, mas como que não há compradores, esperamos antes de desconsagrá-las permanentemente. Atualmente na minha arquidiocese há cerca de vinte igrejas à venda. Eu sou da opinião que devemos evitar gastar todos os recursos financeiros de uma paróquia na manutenção de uma igreja que não está em uso, deixando as gerações futuras sem fundos, de mãos vazias: na Holanda não há a destinação de 8 por mil do imposto (alíquota destinada às igrejas, na Itália). Os municípios podem declarar uma igreja no seu território como patrimônio cultural. Isso impossibilita interferir sobre sua arquitetura, e torna-se difícil a venda, porque o comprador não poderá mais alterar sua destinação, ao mesmo tempo em que os municípios gastam muito pouco para a manutenção dessas igrejas declaradas como patrimônio. As municipalidades amarram as mãos da Igreja, mas pouco ajudam para encontrar uma solução.

Fonte: Tempi

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Islândia converteu-se no primeiro país onde todos as crianças com Trissomia 21 são abortadas. O doutor Peter McParland, do National Maternity Hospital, assegurou na Assembleia cidadã islandesa que “não nasceu nem um bebê com síndrome de Down na Islândia nos últimos cinco anos”.

Este país converteu-se no'”modelo” a ser seguido quanto se refere a medidas eugênicas. A Dinamarca lhe segue de perto comum 95% de casos abortados, e prevê que nos próximos 10 anos chegará a ser uma nação livre de síndrome de Down, segundo informou Lifesitenews.

Outros países como Espanha, Grã Bretanha e EUA já abortam a 90% dos bebês que são detectados com esta anomalia durante a gravidez.

As estatísticas não mentem
“99% são felizes com suas vidas, 99% de seus pais ama a seus filhos e 94% de seus irmãos se sentem orgulhosos deles”. Isso é o que diz um informe de NBC News, e que recolhe Juanjo Romero em Infocatólica.

“Não é difícil imaginar a “solução” às consequências sociais de outros “problemas” como a pobreza, a velhice, a enfermidade: eliminação do pobre, do ancião, do enfermo. É pura coerência. Aborto e eutanásia, também de crianças recém nascidas se o problema não se detectou na gravidez, são apenas duas ferramentas”, aponta Juanjo Romero em seu artigo.

De: religionenlibertad.com

Via Front Católico

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  • Foi ordenada a remoção de uma estátua da Virgem Maria por um tribunal no município de Publier. A Senadora Nathalie Goulet criticou severamente os juízes chamando-os de “aiatolás do secularismo”.
  • Uma escola alemã na Turquia acaba de proibir as festividades do Natal. A escola, Istambul Lisesi, financiada pelo governo alemão, decidiu que as tradições e canções de Natal não serão mais permitidas. Uma loja da Woolworth na Alemanha descartou os enfeites de Natal alegando aos clientes que a loja “agora é muçulmana”.
  • A Europa já está mutilando suas próprias tradições “para não ofender os muçulmanos”. Nós nos tornamos nosso maior inimigo.
  • Os muçulmanos também estão reivindicando “a mesquita de Córdoba”. Autoridades da cidade, que fica no sul da Espanha, recentemente deram um duro golpe na reivindicação de propriedade da catedral pela Igreja Católica. Agora os islamistas a querem de volta.
  • O resultado final do secularismo autodestrutivo da Europa poderá verdadeiramente acabar em um Califado.
  • “Tudo é cristão”, escreveu Jean-Paul Sartre depois da guerra. Dois mil anos de cristianismo deixaram uma marca profunda na língua francesa, paisagem e cultura. Mas isso não é bem assim de acordo com a ministra da Educação da França, Najat Vallaud-Belkacem. Ela acabou de anunciar que, em vez de dizer “Feliz Natal”, os servidores públicos devem dizer “Boas Festas” – trata-se claramente de uma deliberada intenção de apagar do discurso e do espaço público qualquer referência à cultura cristã na qual a França está enraizada.

Jean-François Chemain chamou isso de “erradicação de qualquer sinal cristão no cenário público”. O estopim da controvérsia ocorreu há um ano na cidade francesa de Ploermel, quando um tribunal deliberou que a estátua do Papa João Paulo II, erguida em uma praça, teria que ser removida por violar o “secularismo”.

Na sequência foi ordenada a remoção de uma estátua da Virgem Maria por um tribunal no município de Publier. A Senadora Nathalie Goulet criticou severamente os juízes chamando-os de “aiatolás do secularismo”.

Os jornais da “esquerda” francesa, indignados com a proibição dos burquínis da “direita” na Riviera Francesa, estão endossando essa política anticristã.

O Conselho de Estado da França acaba de decidir que “a instalação temporária de presépios em lugares públicos é legal se tiver um valor cultural, artístico ou festivo, mas não se expressar a identificação de um culto ou uma preferência religiosa”. Quantas precauções para justificar uma tradição milenar!

Na cidade de Scaer, uma casa de repouso foi objeto de uma reclamação secularista da mesma natureza, pela presença de um afresco da Virgem Maria. Depois foi a vez da manjedoura na estação de trens de Villefranche-de-Rouergue em Aveyron. Na cidade de Boissettes, os sinos da igreja foram silenciados por uma decisão judicial.

Felizmente certas ideias do Observatório do Secularismo – órgão criado pelo presidente François Hollande para coordenar suas políticas neoseculares – não foram implementadas. Uma delas até propunha eliminar alguns feriados nacionais cristãos para dar espaço aos feriados islâmicos, judaicos e seculares.

Por ocasião da Páscoa, o Presidente Hollande “esqueceu”de expressar seus votos de Feliz Páscoa aos cristãos da França. Mas alguns meses antes Hollande expressou seus votos de bom feriado aos muçulmanos durante a festa do Eid, quando termina o Ramadã. “A saudação de Hollande aos muçulmanos é oportunista e política. Para o Partido Socialista os muçulmanos são uma crucial clientela eleitoral”, assinalou o filósofo francês Gerard Leclerc no jornal Le Figaro.

Essa cristianofobia é o Cavalo de Troia do Islã. Conforme ressalta Charles Consigny no semanário Le Point: “através dessa tábula rasa do passado a França fará uma limpeza do seu futuro”. Lamentavelmente a França não é um caso isolado. A ausência secular de propósitos e de valores confusos e esvaziados censuram o cristianismo em favor do Islã em toda a Europa.

Um terrorista jihadista, visando um símbolo da tradição cristã, massacrou na semana passada 12 pessoas em uma feira natalina em Berlim. A Europa já está mutilando suas próprias tradições “para não ofender os muçulmanos”. Nós nos tornamos nosso maior inimigo.

A procissão anual à luz de velas de Santa Lúcia (“Sankta Lucia”), uma tradição cristã sueca celebrada durante centenas de anos, está “morrendo”. Uddevalla, Södertälje, Koping, Umeå e Ystad estão entre o número cada vez maior de cidades que não comemoram mais esse lindo evento cultural. Segundo Jonas Engman, etnólogo do Museu Nórdico, o declínio no interesse pela procissão de Sta. Lúcia acompanha uma alienação mais abrangente da cultura cristã na Suécia. Um estudo realizado pelo instituto Gallup Internacional revela que, em se tratando de praticar a religião cristã, a Suécia é “o país menos religioso do Ocidente”. Enquanto isso o Islã cresce munido de novas metas fortes e de um conjunto de valores da sharia.

Uma escola alemã na Turquia acaba de proibir festas de Natal. A escola, Istambul Lisesi, financiada pelo governo alemão, decidiu que as tradições e canções de Natal não serão mais permitidas. O Washington Post resumiu assim a decisão: “não às tradições do Natal, não às festas e não às canções de Natal”. Não se trata de um incidente isolado. Uma loja da Woolworth na Alemanha também descartou os enfeites de Natal alegando aos clientes que a loja “agora é muçulmana”.

Na Grã-Bretanha, David Isaac, o novo presidente da Comissão para a Igualdade e Direitos Humanos (EHRC em inglês), disse aos empregadores que eles não devem suprimir a tradição cristã por medo de ofender alguém. Anteriormente, Dame Louise Casey, a “czarina” da integração do governo britânico, alertou que “tradições como as festas natalinas morrerão a menos que as pessoas defendam os valores britânicos”.

Em inúmeras cidades espanholas como por exemplo a Cenicientos, o município desta Comunidade Autônoma de Madrid removeu a Via-crúcis. Depois a prefeita de Madrid, Manuela Carmena, decidiu retirar a tradicional exibição da Natividade em Puerta de Alcalá.

Os muçulmanos também estão reivindicando “a mesquita de Córdoba”. Autoridades da cidade que fica no sul da Espanha recentemente deram um duro golpe na reivindicação de propriedade da catedral pela Igreja Católica. Construída no local da igreja de São Vicente, que depois serviu de mesquita por mais de 400 anos quando a Espanha islâmica fazia parte de um califado, antes do reino cristão de Castela conquistar a cidade e convertê-la novamente em igreja. Agora os islamistas a querem de volta.

Os muçulmanos também estão reivindicando “a mesquita de Córdoba”. Autoridades da cidade que fica no sul da Espanha recentemente deram um duro golpe na reivindicação de propriedade da catedral pela Igreja Católica. Construída no local da igreja de São Vicente, que depois serviu de mesquita por mais de 400 anos quando a Espanha islâmica fazia parte de um califado, antes do reino cristão de Castela conquistar a cidade e convertê-la novamente em igreja. (Imagem: James Gordon/Wikimedia Commons).

Bélgica, a democracia mais islamizada da Europa, também está purgando sua herança cristã. A Natividade, o tradicional presépio, não foi montado na cidade belga de Holsbeek nos arredores de Bruxelas. Alega-se que os cenários foram retirados para “não ofenderem os muçulmanos”.

Conforme reportado pelo jornal La Libre, agendas escolares dentro da comunidade de língua francesa da Bélgica também estão usando uma nova terminologia secularizada: Dia da Todos os Santos (Congés de Toussaint) está agora sendo chamado de Folhas de Outono (Congé d’automne), Férias de Natal (Vacances de Noël) viraram Férias de Inverno (Vacances d’hiver); Férias da Quaresma (Congés de Carnaval) viraram Licença para Descanso e Relaxamento (Congé de détente) e a Páscoa (Vacances de Pâques) passou a ser Férias de Primavera (Vacances de Printemps). Na sequência a Bélgica instalou uma árvore de Natal descristianizada, abstrata, na capital Bruxelas.
Na Holanda a tradição cristã do Pedro Preto está sendo fortemente criticada e logo logo será abolida. Na Itália sacerdotes católicos cancelaram as cerimônias de Natal para “não ofenderem os muçulmanos”.

O resultado final do secularismo autodestrutivo da Europa poderá verdadeiramente acabar em um Califado, no qual o destino de suas antigas e maravilhosas igrejas recapitulariam àquelas de Constantinopla, onde a Hagia Sophia, que por milhares de anos foi a maior catedral do cristianismo, foi recentemente transformada em mesquita. A chamada do muezim agora reverbera dentro deste marco cristão pela primeira vez em 85 anos.

Terroristas islâmicos visavam o Natal em Berlim, mas são os secularistas cristãos quem o está abolindo em toda a Europa.

Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.

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A verdade é que a Europa precisa recuperar sua grande narrativa pela qual deva viver, pela qual deva determinar o que é verdadeiro, bom e benéfico para seu povo.

O grande número de pessoas desembarcando no litoral da Europa – sejam refugiados, sejam imigrantes em busca de melhores condições financeiras – assim como o maléfico advento do Estado Islâmico e de outros grupos extremistas muçulmanos, levou o historiador Niall Ferguson a comparar, no jornal britânico The Sunday Times, o estado atual da Europa com o da época da chegada das tribos germânicas e dos hunos da Ásia Central às portas de Roma, no século V.

Certamente existem pontos em comum entre a situação do então Império Romano do Ocidente e a da Europa de hoje. Nós possuímos a mesma cultura popular decadente e superficial, em que tudo é permitido e o “pão e o circo” mantém a população anestesiada com uma saraivada de esportes, entretenimento e jogos de azar sem fim. Em comum entre as duas épocas também há o cinismo em relação à fé e aos valores que dela advém, assim como a mesma acídia ou cansaço de culturas decrépitas. Mas devemos tomar cuidado em não sermos anacrônicos e atribuir a Roma todos os nossos vícios e todas as nossas virtudes. É impressionante como alguns, ao invés de enxergarem o Cristianismo como parte da resposta para as tribulações da Europa, estão aproveitando a oportunidade para caluniar a religião em geral, sejam quais forem os fatos da história.

É particularmente incorreto tomar o livro de teor extremamente anti-clerical “Declínio e Queda do Império Romano”, de Edward Gibbon, como uma referência confiável na comparação do papel do Cristianismo no Império Romano e a chegada de extremistas islâmicos em nosso meio agora. Como Larry Siedentrop bem mostrou na obra “A invenção do Indivíduo”, não houve culturas “seculares” na Antiguidade. Tudo o que havia eram religiões da família, tribo, cidade ou império, e Roma não era exceção. Desta forma, César, tal qual muitos governantes antigos, se considerava divino e, na época do surgimento do Cristianismo, foi denominado “Dominus et Deus”.

Foi isso o que causou tantos problemas para a Igreja em seus primórdios. A Igreja podia honrá-lo como imperador, mas tinha que recusar prestar-lhe o culto divino. É totalmente errado alegar que a força da Roma “secular” foi sabotada pelo advento do Cristianismo monoteísta. Também é bastante enganoso comparar o Cristianismo em sua fase inicial com o ISIS e outros grupos terroristas islâmicos. Mais importante, o Cristianismo substituiu os cultos corporativos da família, da tribo e da cidade por uma espiritualidade profundamente pessoal e pela possibilidade de se pertencer a uma comunidade universal sem classes. Como Siedentop afirma, foi o Cristianismo que nos deu a idéia da “pessoa”, da sua liberdade e do seu valor. Se os cristãos nem sempre foram fiéis a essa visão, não há motivo para fazer falsas comparações com um sistema totalitário, tal como o Islamismo radical, onde há pouco espaço para a liberdade pessoal e quase nenhum para o exame interior da consciência. Siedentop também demonstra que o reino secular surgiu a partir de idéias cristãs, como o respeito pela consciência, e da natureza não-coercitiva do Cristianismo primordial, e não de supostos antecedentes pagãos tão amados pelos intelectuais que o odeiam.

O fato é que Roma foi salva dos piores excessos dos vândalos e dos hunos pelo papa Leão I e, como lembra o filósofo Alasdair MacIntyre, as luzes do conhecimento foram mantidas acesas na Idade Média pelos beneditinos e por outras congregações religiosas. Nós certamente precisamos de estadistas como Konrad Adenauer e Robert Schuman, que viram a necessidade de uma base moral cristã para a integração da Europa do pós-guerra. Nós precisamos também de um João Paulo II, cujo papel na libertação de países da Europa Central e do Leste de outra ideologia antagônica (comunismo) não precisa sequer ser mencionado. Certamente existem trevas crescentes e que se aproximam, mas o Cristianismo é a luz que pode brilhar sobre elas e dispersá-las. Com certeza, devemos rezar por um Bento ou Wojtyla, mas quem iria querer outro Nero ou Domiciano?

Ferguson acertadamente observa o vazio da cultura do entretenimento e dos shopping centers. Porém, ele não menciona o estado caótico da vida familiar que foi criado após ter se confundido liberdade com libertarianismo. A isso ele poderia acrescentar o simbolismo empobrecido daqueles que tentam lamentar uma atrocidade horrenda, mas sem ter uma referência ou um sistema de crenças, possuindo apenas uma compreensão opaca de qualquer coisa que seja transcendente. Como John Henry Newman descreveu nas palavras do Apóstolo: “sem esperança e sem Deus no mundo”. Por que a secular Quinta República tem de realizar o memorial em homenagem às 130 vítimas dos ataques feitos por terroristas do ISIS (o artigo foi publicado uma semana após os ataques de 13 novembro de 2015, em Paris – nota do tradutor), na gloriosa catedral de Notre-Dame, e não fazê-lo no completamente secular e sem graça Centro Pompidou? Pode isso ser um indício do papel que a fé cristã pode desempenhar em ajudar a Europa a despertar de sua letargia e se acalmar, e também a assisti-la na sua renovação espiritual e moral?

A verdade é que a Europa precisa recuperar sua grande narrativa pela qual deva viver, pela qual deva determinar o que é verdadeiro, bom e benéfico para seu povo. O marxismo e o fascismo trouxeram sofrimentos terríveis para os europeus. Agora, outra ideologia totalitária os ameaça. Um espaço plural real só pode ser garantido pelas idéias intrinsecamente cristãs da dignidade da pessoa humana, do respeito pela consciência, da igualdade de pessoas e da liberdade não apenas de crer, mas de manifestar nossas crenças em público, sem discriminação ou violência contra aqueles que não as compartilham. A autogratificação imediata e o entretenimento sem fim não irão mais contribuir para a sobrevivência da Europa contemporânea do que o fizeram para a da Roma Antiga. O que é necessário é uma ética de serviço, uma abnegação e um sacrifício em nome do bem comum. Muitos reconhecerão nisso os ensinamentos do Mestre da Galiléia, e não de um paganismo qualquer, antigo ou moderno, nem de qualquer ideologia secular ou religiosa.

Não existem coisas como a neutralidade ou o processo gratuito nessas questões. O extremistas decidiram quais são seus valores e de onde eles vêm. Possuímos nós algo para se opor a isso? As instituições, a cultura, as realizações, os valores da Europa podem ser entendidos com referências à tradição judaico-cristã, seus ensinamentos com relação ao valor da pessoa, ao bem comum e principalmente à necessidade de auto-crítica e renovação. Essa é a hora de se reapropriar dela, no seu sentido mais amplo, como a fonte de nossos valores; celebrá-la e oferecê-la a todos os de boa vontade como uma base para trabalharmos juntos por uma Europa aberta, mas unida. Alguém possui outras alternativas viáveis?

* Michael James Nazir-Ali é um bispo anglicano nascido no Paquistão e naturalizado inglês.
Artigo foi publicado originalmente na revista Catholic Herald.
Tradução: Alexandre Cegalla

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É tudo uma questão de repensar a presença, encontrar novas formas, trabalhar com talento. Bento XVI reiterou isso ao seu biógrafo Peter Seewald, quando ele respondeu rapidamente sobre a descristianização da Europa nas Ultime conversazioni [Últimas conversas] (Ed. Garzanti), o seu testamento espiritual. É uma evidência, mas talvez, mais do que passar em revista a lista das igrejas vazias, fechadas e abandonadas, talvez convertidas em mercados de frutas ou salões de festa com excelente parquet – todas coisas que já sabemos de memória –, seria útil entender que o problema é a fé, sedada e distraída.
Em suma, reiniciar a partir daí, da questão central e fundamental do ser cristão. Isto é, testemunhar de formas diferentes, o que não significa que devam ser transgressivas. Até porque a história segundo a qual o catolicismo (ou até mesmo segundo o cristianismo) está em agonia, destinada a uma morte certa, é, na realidade, uma boa piada para as manchetes dos jornais e para as discussões de alguns círculos luteranos do século XVI.

Philip Jenkins, um dos maiores especialistas de história e ciências das religiões, escreveu isso recentemente no jornal Catholic Herald. Nada de fim, nada de extinção. Sim, é claro, as multidões entre os bancos de madeira das igrejas (onde eles ainda existem, sem terem sido substituídos por tristes cadeiras) são raras, as procissões continuaram flutuantes, mas tudo isso está relacionado com a Europa.

Aí está o problema, na tese de Jenkins: pensar o catolicismo como algo meramente europeu, ligado à teoria das suas imensas e antigas catedrais, aos ritos de um tempo que foi, à catequese administrada em doses maciças para crianças de cinco, seis, sete anos todas as santas manhãs depois da missa e mesmo antes de ir para a escola. Essas crianças, na maioria das vezes, são aqueles que hoje – desligados dos deveres impostos – são os primeiros que não colocam mais os pés na Igreja e não levam os filhos.

Há alguns anos, em 2011, a American Physical Society publicou um volumoso e detalhado dossiê que se concluía com a sentença inapelável: o mundo se livraria das religiões (de todas, incluindo o Islã, hoje imerso na luta fratricida entre sunitas e xiitas pela supremacia sobre a umma) até 2100, e, no topo da lista dos países prontos a abandonar aquilo em que tinham acreditado durante séculos, despontavam a Áustria e a Irlanda. Ou seja, duas das realidades que mais contribuíram com a causa católica, embora hoje também lá se sofra, e não só pelos escândalos sexuais e financeiros – no que respeita à Áustria, é suficiente reler o discurso desesperado que o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, fez há três anos ao clero de Milão, contando uma situação que obriga a diocese a vender as Igrejas ao melhor comprador (na melhor das hipóteses, aos ortodoxos), vazias e financeiramente insustentáveis.

“O que eu posso fazer?”, perguntava-se o cardeal, descrevendo uma situação, na sua opinião, irremediavelmente comprometida. O estudo aplicava complicados modelos matemáticos que levavam todos à mesma conclusão: “Em grande parte das modernas democracias seculares, há uma tendência segundo a qual o povo não se identifica com nenhuma religião. Na Holanda, estamos em 40%, enquanto o nível mais alto foi registrado na República Checa, com 60% daqueles que se declaram não filiados a qualquer religião”.

Daí a profetizar – como Cassandras – o fim da religião dentro de poucas décadas, porém, há uma grande distância, até porque a fé individual ainda é uma das poucas coisas que escapa das classificações em banco de dados ou em tabelas do Excel.

Em suma, o fato de não haver mais católicos em Praga pode desagradar aqueles que se emocionam ao ouvir o som dos sinos medievais, mas não pode, de modo algum, marcar o destino de uma religião.

Jenkins não parte de preconceitos. Ele mesmo escreveu um livro (La storia perduta del cristianesimo [A história perdida do cristianismo], Ed. Emi) para dizer que “as religiões morrem” e que, “ao longo da história, algumas religiões desaparecem totalmente, outras se reduzem de grandes religiões mundiais a um punhado de seguidores”.

Em suma, não seria uma novidade. Mas, desta vez, o prognóstico auspicioso não tem razão de ser. Porque a Igreja Católica, que “já é a maior instituição religiosa do planeta”, está desfrutando de um crescimento global sem precedentes. Os números: em 1950, a população católica era de 347 milhões de indivíduos. Vinte anos depois, eram 640 milhões. Em 2050, de acordo com estimativas conservadoras, serão 1,6 bilhão.

E então? Aqui também, trata-se de ampliar os horizontes e olhar para fora do contexto meramente ocidental. “Eu falei de crescimento global, e o elemento ‘global’ requer ênfase”, escreve Jenkins. “A Igreja tem a pretensão de ter inventado a globalização, o que explica por que os seus números estão em plena expansão. Ao longo da história, houve tantos chamados ‘impérios mundiais’ que, na realidade, estavam confinados principalmente à Eurásia. Apenas no século XVI, os impérios espanhol e português realmente abraçaram o mundo. Para mim – escreve o estudioso, professor emérito da Penn State University – a verdadeira globalização começou em 1578, quando a Igreja Católica estabeleceu a sua diocese em Manila, nas Filipinas – como sede sufragânea da Cidade do México, do outro lado do imenso Oceano Pacífico”.

O fato é que “hoje estamos habituados a pensar o cristianismo como uma fé tradicionalmente ambientada na Europa e na América do Norte, e só gradualmente aprendemos o estranho conceito de que essa religião se propaga em escala global, porque o número dos cristãos está aumentando rapidamente na África, na Ásia e na América Latina”, escreve Jenkins.

“O cristianismo – continua – está tão enraizado no patrimônio cultural do Ocidente que faz com que se pareça quase revolucionária tal globalização, com todas as influências que ela pode exercer sobre a teologia, a arte e a liturgia. Uma fé associada principalmente com a Europa deve, de algum modo, se adaptar a esse mundo mais vasto, redimensionando muitas das suas premissas, ligadas à cultura europeia”.

O discurso, ampliado ao cristianismo, vale com ainda mais razão para o catolicismo. Diante de tudo isso, é natural se perguntar se “esse novo cristianismo global ou mundial permanecerá plenamente autêntico, como se as normas europeias representassem uma espécie de gold standard”.

Interrogações legítimas, mas sem sentido, “quando nos damos conta de como é artificial a acentuação do carácter euroamericano no contexto mais amplo da história cristã”. Até porque hoje os grandes reservatórios do catolicismo estão em outro lugar: Brasil, México, Filipinas. Neste último caso, os católicos estão destinados a crescer até chegar aos 100 milhões até 2050. Aqui, no ano passado, houve mais batismos do que na França, Espanha, Itália e Polônia juntas.

A objeção é fácil: as tendências demográficas explicam as razões para o crescimento maciço. Onde nascem mais crianças, crescem mais católicos, se o substrato (embora encoberto por acúmulos secularizantes e laicistas) estiver presente. Onde isso não acontece, o catolicismo seca.

Não precisamente, observa Jenkins: basta ir à África para entender que as coisas não são assim. Em 1900, no imenso continente africano, viviam talvez 10 milhões de cristãos (incluindo os católicos, estimados em alguns milhões), que constituíam 10% de toda a população. Hoje, lá, há meio bilhão de cristãos (200 milhões de católicos) e eles irão duplicar no próximo quarto de século. E a África certamente não é o berço do catolicismo, exceto pela distante raiz norte-africana, depois cortada brutalmente por invasões, ocupações e islamização mais ou menos forçada.

No entanto, a África sozinha, se a tendência for constante, acrescenta o estudioso, em 2040, terá mais católicos do que havia em todo o mundo apenas em 1950. Dez anos antes, mais ou menos em 2030, os católicos na África superarão os residentes na Europa: será, diz Jenkins, “um marco na história”. Pouco depois, a África vai disputar com a América Latina o título de Igreja mais católica do mundo.

No tempo de uma geração, na lista dos dez países mais católicos do planeta, figurarão a Nigéria, a Uganda, a Tanzânia, o Congo. Isto é, realidades onde o catolicismo começou a se enraizar de forma decisiva há apenas um século. É claro que nem tudo pode ser explicado pelos histogramas relativos à demografia ou reduzindo a questão ao ditado não muito original segundo o qual os africanos fazem mais filhos e, portanto, assim se explicaria porque lá há mais cristãos.

Naturalmente, as dúvidas são legítimas, especialmente em relação ao número das conversões e aos batismos em massa. São os riscos de uma Igreja jovem e ainda entusiasta. Bento XVI, em 2009, reconheceu isso, quando constatou como a África era “um imenso pulmão espiritual para uma humanidade que parece estar em crise de fé e de esperança”, alertando, porém, que um pulmão sempre pode ficar doente.

Um discurso semelhante, embora com números menos bombásticos, vale para a Ásia, terreno tão disputado por Francisco, e não só pela sua vocação jesuítica ao responder às sereias do Oriente.

Para voltar à questão de Jenkins, sobre os riscos de uma contaminação do cristianismo euroamericano, considerado por várias razões como o autêntico, a resposta está não só nas massas de fiéis africanos e asiáticos que lotam as igrejas italianas para a missa dominical, mas também no modo, na forma com que presenciamos o rito. Muitas vezes, muito mais respeitosa com o sagrado do que vemos em algumas catedrais, que têm até a rosácea brilhante, e os baldaquinos do Renascimento, e os altares majestosos, e a música que ressoa não a partir de CDs comprados em qualquer loja no mercado, mas sim por órgão s de beleza inquestionável.

Bastava ver como o papa foi acolhido em Bangui, na paupérrima República Centro-Africana, enquanto entrava na catedral depois de ter aberto a Porta Santa: o povo quase em adoração, ajoelhado, recolhido. Nada de empurrões e palavrões para conquistar uma foto tirada com o iPhone, talvez uma selfie com o vigário de Cristo.

Talvez fosse a isso que Joseph Ratzinger se referia a partir da sua ermida do mosteiro Mater Ecclesiae ao comentar a descristianização galopante no Ocidente dos velhos esquemas e das velhas tradições, até mesmo obsoletas.

Jenkins dá como exemplo Aarhus, cidade da Dinamarca conhecida nestas latitudes apenas porque, há poucas décadas, participava muitas vezes da Copa Uefa ou da Copa Intertoto (para aqueles que se lembram dela).

Pois bem, lá, em um país que tem bem pouco de católico, tanto na prática religiosa, quanto nos costumes, aquelas poucas igrejas católicas que existem, veem entrar semanalmente grupos numerosos de fiéis provenientes de terras distantes. Todos rezando, representando o caráter global (ou universal, portanto, católico) da fé.

A pergunta que poderia ser feita, no máximo, é se existe a vontade e a capacidade de buscar e experimentar novas formas de testemunho e de presença, deixando de lado os discursos sobre qual é a raiz verdadeira e autêntica do cristianismo, se a sua imagem mais correta é a da Europa que não se reconhece mais ou a da África galopante e jovem.

Uma evangelização nova, portanto. O Papa Francisco reiterou isso em uma recente mensagem enviada aos participantes do 14º Simpósio Intercristão, que foi realizado em agosto em Salônica. O tema era justamente a re-evangelização das comunidades cristãs na Europa, e Bergoglio escreveu que o continente já está lidando com “a realidade generalizada daqueles batizados que vivem como se Deus não existisse, pessoas que não estão conscientes do dom da fé recebida , não experimentam a sua consolação e não são plenamente partícipes da vida da comunidade cristã”.

É por isso que a Igreja está diante de um “desafio”: trata-se de renovar os laços com as raízes cristãs já cada vez menos percebidas. O objetivo, acrescentava o pontífice, é de “identificar caminhos novos, métodos criativos e uma linguagem apta a fazer com que o anúncio de Jesus Cristo, em toda a sua beleza, chegue ao homem europeu contemporâneo”.

Matteo Matzuzzi, publicada no jornal Il Foglio

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A Polônia, considerado o país mais católico da Europa, acolhe a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2016 em um esforço para fazer frente à crescente secularização de sua sociedade, especialmente entre os jovens, que se traduziu em uma diminuição de vocações e de participação na missa.

Durante mais de 40 anos, a Igreja católica polonesa desempenhou um papel chave na luta contra o regime comunista imposto na Polônia no final da Segunda Guerra Mundial e, embora mantenha uma importante influência social, o país vive um contínuo processo em que a religião passou a ser uma questão individual e não coletiva.

“A perda de peso social e cultural da Igreja católica polonesa é um fato irreversível, especialmente nas grandes cidades, assim como também a modernidade social, que apesar de ter chegado à Polônia mais tarde que a outros países do Oeste Europeu, é algo inevitável”, explicou à Efe a socióloga Malgorzata Wos.

Neste cenário, os seminários da Polônia estão cada vez mais vazios, uma tendência que preocupa a hierarquia eclesiástica, embora o país conte com 31 mil sacerdotes relativamente jovens (em 2010, 57,7% tinham menos de 50 anos) e ofereça à Europa um de cada quatro padres.

O número de estudantes nos seminários cai ano após ano, e em 2015, menos de 3.600 seminaristas se preparavam para o sacerdócio, número muito abaixo dos 8.122 de 1990 ou dos 6.038 em 2006, segundo dados da Conferência Episcopal da Polônia.

Junto com esta chamada crise de vocações, também a participação nas missas caiu na última década, algo especialmente evidente entre os jovens.

O ano de 2008 ficou marcado como o pior ano das últimas três décadas, ao situar-se a presença nos serviços religiosos pela primeira vez abaixo dos 40%, 6% a menos que em 2007.

Desde então, os números se mantiveram estáveis e 39,1% dos poloneses participam regularmente da missa dominical (sobretudo em pequenos povoados e em áreas rurais do leste do país) e 16% comungam cada domingo, segundo uma pesquisa elaborada pelo Instituto Estatístico da Igreja católica.

Apesar desta tendência à secularização, 91% dos poloneses são oficialmente católicos e a Igreja mantém ainda grande peso na sociedade, que recorda o papel decisivo que milhares de padres exerceram na oposição ao comunismo, o apoio ao movimento Solidariedade e à chegada da democracia.

Diante deste prestígio social de que a Igreja católica polonesa ainda goza, os costumes sociais mudam rapidamente no país. Os emigrantes que retornam ao país trazem uma atitude mais relativista diante da vida, grande parte dos jovens é cada vez mais consumista e quer viajar ao exterior e os sermões dominicais interessam cada vez menos, destaca Wos.

A perda de peso social da Igreja católica contrasta com sua maior influência nas estruturas do Estado, ao menos desde que o partido nacionalista-ultraconservador Lei e Justiça assumiu o governo em novembro de 2015, após ganhar as eleições com maioria absoluta.

Esta proximidade com o poder faz com que as paróquias sirvam em mais de uma ocasião como plataformas para transmitir as posturas da Igreja sobre questões que ultrapassam o divino.

A comunhão com o Governo, por exemplo, impulsionou a cruzada da Igreja católica contra o aborto, depois que uma iniciativa popular reuniu as 100 mil assinaturas necessárias para levar ao Parlamento o pedido de proibir a interrupção da gravidez.

Este é o cenário com que a Igreja da Polônia receberá o Papa Francisco a partir do próximo dia 27 de julho em Cracóvia, cenário da Jornada Mundial da Juventude 2016.

Centenas de milhares de jovens de todo o mundo se reunirão a partir de 26 de julho até o domingo, 31 de julho, com o Papa Francisco na 31ª Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia (Polônia), onde viveram “os dois grandes apóstolos da misericórdia”, os santos João Paulo II e Faustina Kowalska. Esta jornada se inscreve no Ano Jubilar da Misericórdia.

Durante a sua permanência no país, o Papa se reunirá no dia 29 de julho com um grupo de 10 sobreviventes de Auschwitz no marco de uma visita ao antigo campo de concentração nazista programada em sua viagem, que acontecerá dois dias após sua chegada a Cracóvia. Ali permanecerá durante duas horas sem que esteja previsto um pronunciamento seu, embora escreva algumas palavras no livro de honra. Justamente na coletiva de imprensa no Vaticano, no dia 20 de julho, por ocasião da apresentação da Jornada Mundial da Juventude, o porta-voz oficial do Vaticano, o Pe. Federico Lombardi, enfatizou que estas palavras serão “muito importantes”.

Durante a sua visita ao campo, o Papa atravessará a pé o portal com a inscrição “Arbeit mach frei” (“O trabalho liberta”) e depois rezará diante do “muro da morte”, quando acenderá uma vela e rezará. Em seguida, acontecerá a reunião com alguns sobreviventes do campo de concentração. O último deles entregará ao Papa uma vela, e o Pontífice acenderá uma lâmpada que doará ao campo de concentração.

Este é o lugar onde o franciscano polonês Maximiliano Kolbe foi assassinado pelos nazistas. O dia 29 de julho é, além disso, o dia do seu 75º aniversário de condenação à morte. Está previsto que o Papa visite de forma reservada a cela na qual foi assassinado com uma injeção letal. Na saída, assinará o livro de honra.

Posteriormente, o Santo Padre irá ao campo de concentração de Birkenau onde visitará o monumento em homenagem às vítimas das nações, composto por uma série de placas que recordam diversas ações comemorativas.

O Papa é o terceiro Sumo Pontífice a visitar o chamado “vale obscuro da morte”. João Paulo II visitou este campo de concentração em 1979; Bento XVI, por sua vez, fez o mesmo em 2006. “Francisco viverá este momento de dor e compaixão em silêncio”, especificou Lombardi.

Nesse mesmo dia, às 16h30, irá a Prokocim, onde visitará o Hospital Pediátrico Universitário, um dos mais importantes da Polônia, onde são atendidos 30 mil pacientes internados e 200 mil crianças com tratamento ambulatório por ano.

Ali, cerca de 50 crianças esperarão o Santo Padre reunidos na sala de recepção do hospital junto com seus pais, onde está previsto que o Papa faça um discurso.

Também fará uma visita privada a algumas áreas da guarda de emergência no piso térreo, acompanhado pelo diretor e pelos pais de algumas crianças e rezará na capela do hospital. O Papa João Paulo II visitou este hospital em 1971.

Às 18h, o Pontífice fará a Via Sacra com os jovens no Parque Blonia, com capacidade para cerca de 600 mil pessoas, e ao término do ato dirigirá algumas palavras aos fiéis. Nesse dia, depois da janta, o Pontífice irá aparecer na janela Papal para saudar a multidão reunida na praça em frente à residência dos bispos de Cracóvia.

Mesmo que o Pontífice aterrisse em Cracóvia apenas no dia 27 de julho, a Jornada Mundial da Juventude começará oficialmente um dia antes, 26 de julho, com uma cerimônia de abertura e uma missa presidida pelo arcebispo da cidade polonesa, o cardeal Stanislaw Dziwisz que, durante muitos anos, foi secretário pessoal de São João Paulo II. O Papa, que pronunciará todos os discursos em italiano menos um em espanhol, chegará no dia seguinte, em torno das 16h (horário local), ao Aeroporto Internacional João Paulo II Cracóvia-Balice, onde acontecerá a cerimônia de boas vindas.

Uma hora mais tarde está prevista sua chegada ao Castelo Real de Wawel, onde terá um encontro com as autoridades e o corpo diplomático. Na sequência e após sua visita de cortesia ao Presidente da República da Polônia, o Santo Padre terá um encontro com os bispos deste país na catedral de Wawel.

Ali acontecerá a oração silenciosa diante do túmulo de Santo Estanislau – onde também se encontram as relíquias deSão João Paulo II – e onde venerará o Santíssimo Sacramento na capela que se encontra atrás do altar e fará um discurso. Ao entardecer, na residência dos bispos de Cracóvia e depois da janta, o Santo Padre irá aparecer na janela Papal para saudar a multidão reunida na praça em frente à residência.

Na quinta-feira, 28 de julho, pela manhã, está previsto que o Papa se desloque para Balice, com uma parada noConvento das Irmãs da Apresentação. Na sequência, se deslocará de helicóptero a Czestochowa, ao Mosteiro de Jasna Góra, onde rezará na capela da Imagem Milagrosa da Virgem Negra antes de presidir a Santa Missa no âmbito da Celebração dos 1.050 anos do Batismo da Polônia.

Esta missa é um evento de importância nacional, que se coloca no situa do Jubileu do Batismo da Polônia. A área do Santuário pode abrigar cerca de 300 mil fiéis, onde os bispos e muitos sacerdotes poloneses irão concelebrar, e da qual participarão o presidente da República e as mais altas autoridades do país. Às 17h, na praça em frente à sede do Arcebispado, o prefeito de Cracóvia entregará as chaves da cidade ao Santo Padre.

Posteriormente, o Papa viajará em um bonde ecológico até o Parque Blonia com um grupo de jovens deficientes e depois percorrerá as ruas no papamóvel antes da cerimônia de acolhida, na qual se espera a presença de cerca de 600 mil jovens. Depois da janta, o Santo Padre aparecerá na janela papal para saudar a multidão reunida na praça em frente à residência dos bispos de Cracóvia.

No sábado, 30 de julho, começarão propriamente as atividades da Jornada Mundial da Juventude quando o Papa irá ao Santuário da Divina Misericórdia, atravessará a Porta Santa e visitará a capela na qual repousam os restos deSanta Faustina Kowalska. Ali ouvirá a confissão de cinco jovens em italiano, espanhol e francês. Depois de deslocará ao Santuário São João Paulo II, construído na região em que o papa polonês trabalhou como operário e posteriormente celebrará a missa com os sacerdotes, religiosos, religiosas, consagrados e seminaristas poloneses.

No domingo, 31 de julho, Francisco voltará ao Campus Misericórdia onde dará a bênção das instalações da Cáritas: a Casa da Misericórdia, para pobres e idosos, e a Casa do Pão, que corresponde a um armazém de alimentos para os mais necessitados. Finalmente, celebrará a missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude e fará o envio dos jovens como testemunhas da Divina Misericórdia, anunciando o lugar da próxima jornada.

Até o dia 19 de julho, 335.437 peregrinos de 187 países tinham realizado e pagado a inscrição para participar daJornada Mundial da Juventude de Cracóvia. Entre os grupos mais numerosos estão os peregrinos provenientes daEspanha. A Polônia é o país anfitrião e, portanto, a mais numerosa quanto a peregrinos inscritos. É seguida pela Itália,França e Espanha. Em quinto lugar estão os Estados Unidos e a Alemanha está em sexto.

Pela primeira vez participarão jovens do Kosovo, Bangladesh, Gibraltar, Palestina, Mianmar e Sudão do Sul. Por ordem de idiomas mais falados, o primeiro é o polonês, seguido do italiano, espanhol, inglês e, por último, o português.

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O Deus dos millennials morreu ou está mal. É o que dizem as últimas pesquisas sobre a fé das novas gerações. São cada vez mais os jovens que se declaram ateus, agnósticos ou indiferentes, mesmo que provenham não de um histórico laico, mas de uma educação católica (e nunca de uma má educação).

Quase três em cada dez jovens, entre os 18 e os 29 anos de idade, “parecem ter removido da sua carteira de identidade uma referência última e transcendental”. E, entre os muitos que continuam se professando crentes, prevalece um substancial desinteresse pela fé e pela oração: mais do que na dimensão espiritual, o catolicismo sobrevive como herança cultural ou laço social, sem muitos envolvimentos interiores.

Embora com ênfases diferentes, o aumento dos não crentes no mundo juvenil é registrado por livros e revistas que se interrogam sobre o porte do fenômeno. Mais interno à Igreja, é o livro Dio a modo mio [Deus a meu modo], que apareceu no último número da revista La Civiltà Cattolica, que faz referência a 150 testemunhos recolhidos por Rita Bichi e Paola Bignardi.  

De marca laica é a nova e articulada pesquisa publicada pela editora Mulino, organizada por Franco Garelli, o sociólogo católico aluno de Luciano Gallino, que entrevistou quase 1.500 jovens representativos das várias áreas da Itália (Piccoli atei crescono [Pequenos ateus crescem]).

Para além do método diferente e da inspiração diferente, não muda a fotografia de uma paisagem juvenil cada vez mais secularizada, em que a fé, mesmo quando existe, se torna cada vez mais subjetiva e evanescente.

“Uma geração sem Deus?” O ponto de interrogação é obrigatório – como está no subtítulo da investigação da editora Mulino – porque a busca do sagrado é uma característica irrenunciável entre os jovens, até mesmo sob formas imprevisíveis.

Quem mais desaparece entre os mais jovens é o Deus com letra maiúscula, o Senhor aterrorizante do Antigo Testamento, substituído por outro mais modesto, o deus minúsculo das pequenas coisas, que não é mais uma entidade repleta de mistério, mas tem a ver com a busca de uma harmonia pessoal.

No lugar da dimensão da transcendência e da eternidade, entra a da imanência e a temporalidade. E o Deus do temor dá lugar à figura do amor. No fundo, aconteceu com Deus aquilo que aconteceu com o pai, defende uma das jovens entrevistadas por Garelli. “Antigamente, eles eram mais pais e chefes. Agora, são mais permissivos e se deixam submeter pelos próprios filhos. Porque, se pensamos em Deus como nosso pai, sabemos que Ele nos quer bem mesmo que nós nem Lhe demos bola”.

Mas é preciso ter cuidado para não ceder ao lugar-comum sobre a superficialidade e sobre a apatia moral dos mais jovens: muitos deles rejeitam a primazia da não crença, que eles devolvem de bom grado àqueles que vieram antes deles. Nós, “a primeira geração incrédula”?

Não brinquemos, responde a maioria dos jovens entrevistados. A idade de ouro da fé – cultivada pelos avós, conservada pelos pais e dissipada pelos filhos – é uma representação enganosa que toma um caminho equivocado. Porque quem rompeu o pacto religioso, com os seus comportamentos oscilantes e marcados pelo conformismo social, foram a mãe e o pai.

E, também no campo da religiosidade, repropõe-se a aliança geracional com os avós, que, muitas vezes, se verifica na política ou em outras áreas da existência: o modelo dos avós é julgado como criticável e culturalmente distante, mas nítido e coerente. Enquanto o comportamento dos pais e das mães é incerto, desfocado, intermitente. Em uma palavra, decepcionante no plano do testemunho.

“Nós levamos a bom termo aquilo que foi semeado no passado”, diz um jovem não crente. A ruptura da tradição é uma herança, não uma elaboração original. “A minha geração não é incrédula, mas sim irritada por causa do senso de abandono profundo e visceral”, responde outro millennial.

E a síntese chega de uma jovem da sua idade: a religião é mistério e confiança, e nós não podemos nos permitir nem o mistério nem a confiança. Nada de geração superficial, acostumada a surfar na onda do digital. Nada de desorientação ética. É proibido confundir a fuga de Deus com a perda de uma demanda espiritual.

A busca de sentido e do “além da imanência” ocorre através de modalidades e rituais diversos. A oração, por exemplo. A pesquisa de Garelli nos mostra que, se é verdade que 30% dos jovens não rezam nunca, a pulsão ao Pai Eterno também pode mover uma parte dos jovens não crentes, que, talvez, renunciam ao Pater Noster, mas não ao silêncio, à meditação, à leitura da Bíblia ou ao atravessamento dos meandros desconhecidos da própria interioridade. E o modo de rezar também muda entre os católicos mais convictos.

Entre crentes e não crentes, podem existir zonas de contiguidade impensáveis há algumas décadas. E essa é outra figura original dos millennials, que derrubam muros e perímetros do passado, substituídos por fluxos contínuos entre um campo e outro.

“É uma geração pós-ideológica”, diz Garelli. “Esses jovens se livraram dos pesos da história. E se abrem às razões dos outros, embora não as compartilhem”. O anticlericalismo à moda antiga parece ser uma moda decaída; os profissionais do ateísmo, figuras militantes ultrapassadas e um pouco indigestas.

“Embora bem convencidos de não terem um céu acima deles, muitos jovens não crentes consideram legítimo crer em Deus, mesmo na sociedade contemporânea, negando, portanto, a ideia de que a modernidade avançada é o túmulo da religião. E, vice-versa, muitos crentes estão conscientes de como é difícil professar uma fé religiosa nas atuais condições de vida.”

O que leva um jovem a se afastar de Deus? O agnosticismo se aninha, especialmente, entre os filhos dos separados, “entre aqueles que viveram a ruptura dos laços familiares ou a perda da certeza afetiva”, explica Garelli.

O que racha a fé podem ser as fraturas existenciais, como a perda do trabalho ou uma condição precária. Mas também a estranheza em relação a uma Igreja percebida como hierarquia pomposa e injusta, reino do privilégio e da riqueza, e não dos últimos. E isso apesar da revolução de Francisco, o papa das periferias e dos simples.

Ou, melhor, um fato que surpreende é que há bolsões de resistência em relação a uma figura como Bergoglio, mas que é criticado não tanto pelos ateus, mas sim por uma pequena parte da minoria dos crentes convictos. E é assim que o papa argentino parece estar mais à frente de algumas áreas da sociedade italiana que o criticam por “privilegiar o social em comparação com o sagrado”, por “colocar crentes e não crentes no mesmo plano” e por “encorajar uma presença estrangeira cada vez mais pesada”. Contradições internas àqueles que se professam católicos praticantes.

O Deus dos millennials não está muito bem, mas a Itália ainda é o país onde “até mesmo os ateus são católicos”, casam-se na igreja e preferem o funeral religioso. O núcleo duro dos jovens italianos não crentes (28%) ainda é pequeno em comparação com países como Suécia, Alemanha, Holanda, Bélgica e França, onde “o vento da morte de Deus já sopra com força”, chegando, entre os mais jovens, a percentuais ao redor dos 50/65% (enquanto nos fervorosos Estados Unidos os céticos não chegam a 18%).

O que chama a atenção na Itália é o ritmo de crescimento dos agnósticos (não chegavam a 10% na virada do século), talvez favorecido pelo clima cultural em mudança. Hoje, os jovens italianos se sentem mais livres para negar a Deus, advertindo “que desapareceu o estigma que, antes, tocava incrédulos e descrentes”.

Além disso, a religiosidade, entretanto, continua nos bastidores, “embora seja um pano de fundo cada vez mais distante do palco da vida”.

Neste momento, substancialmente, não se registram sobressaltos. Esperemos para ver como serão os próximos capítulos.

A reportagem é de Simonetta Fiori, publicada no jornal La Repubblica

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O coletivo Church Brigade buscou financiamento colaborativo, levantando doações num site para transformar uma igreja numa pista de skate.

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O movimento chamou atenção da Red Bull, que foi fundamental para que se reformasse a antiga igreja de Santa Barbara, na cidade de Llanera, na Espanha. O prédio estava abandonado há anos e agora se chama Kaos Temple [O templo do caos].

Sua estrutura original foi preservada e a maior parte da decoração foi feita pelo artista plástico espanhol Okuda San Miguel. Ele cobriu as paredes da estrutura com murais geométricos e multicoloridos. O chão foi todo coberto por placas de madeira, que dão forma a pista.

Templo do Caos.

A obra original do arquiteto espanhol Manuel del Busto (1912), totalmente pintada, com muita cor, durante 7 dias. O espaço virou uma obra de arte contemporânea única e espera atrair muitos turistas.

Kaos-Temple-Frame

AP2937787_ArticoloEm toda a Europa, o Islã estatisticamente cresce mais que o cristianismo, enquanto os judeus estão abandonando o velho continente em quantidades cada vez maiores.

O Gatestone Institute, que monitora a ascensão do islamismo, fez um levantamento espantoso: a maioria das igrejas europeias estão se tornando templos islâmicos. Isso era impensável até o século passado.

Segundo o Gatestone, turistas que visitam qualquer grande cidade europeia moderna poderão notar que novas mesquitas estão sendo construídas ao lado de igrejas que estão fechadas, e algumas literalmente se tornaram museus.

Os casos de templos cristãos transformados em mesquitas se multiplicam na França. Em Vierzon, a Igreja de Saint-Eloi tornou-se uma mesquita. Em Nantes, a antiga Igreja de São Cristóvão também se tornou um local de culto muçulmano.

Na Holanda, as coisas não são muito diferentes. A Grande Mesquita de Fatih, na capital Amesterdã no passado foi a Igreja de São Inácio. Das 720 igrejas existentes na província de Friesland, 250 se tornaram mesquitas ou foram fechadas. A sinagoga da cidade de Haia agora responde pelo nome de mesquita Al Aqsa.

O Reino Unido testemunha situações similares. A principal mesquita em Dublin, capital da Irlanda, durante séculos foi uma igreja presbiteriana. Na Inglaterra, são centenas de igrejas fechadas na última década, sendo que muitas foram reformadas para abrigar mesquitas.

Segundo dados atuais, são 3 milhões de seguidores de Maomé na terra da Rainha Elizabeth, sendo mais da metade deles imigrantes.

De acordo com o jornal La Libre, dezenas de igrejas belgas estão em perigo iminente de conversão para outros usos. Uma boa porcentagem deve virar mesquita. Em Bruxelas, metade das crianças que estudam em escolas públicas assistem aulas de religião muçulmana, embora oficialmente apenas 19% da população se declara muçulmana.

Na Alemanha, apesar de a chanceler Angela Merkel ser filha de pastor luterano e o presidente Joachim Gauck ser um pastor protestante, o cristianismo está em queda livre. Entre 1990 e 2010, a Igreja Luterana Alemã fechou 340 igrejas e a Igreja Católica perdeu mais de 400 templos.

Muitas delas foram adquiridas pela crescente comunidade muçulmana no país.  Eles eram 50 mil na década de 1980, hoje passam de 4 milhões.

Segundo um levantamento do Instituto Pew, a população muçulmana na Europa na década de 1990 era cerca de 29 milhões de pessoas. A projeção era que chegassem a 58 milhões em 2030. Contudo, a crise migratória dos últimos dois anos impossibilitou qualquer previsão a curto prazo. Todos os especialistas apontam para números muito superiores nas próximas décadas.

E Sinagogas também

Zvi Ammar, presidente do Consistório Israelita de Marselha, França, anunciou recentemente que um dos efeitos do antissemitismo no país era o esvaziamento das sinagogas. A organização muçulmana Al Badr pagou 400.000 euros [R$ 1,5 mi] pelo prédio onde funcionou durante séculos a sinagoga Ou Torah.

Enquanto o templo judeu estava vazio, a mesquita do mesmo bairro estava com superlotação, a ponto de os fiéis serem obrigados a rezar na rua.

Esse é um exemplo significativo. Um ano atrás, o líder muçulmano francês Dalil Boubakeur sugeriu transformar igrejas vazias em mesquitas. É a primeira vez na França que algo semelhante aconteceu com uma sinagoga na Europa. Há vários registros desse tipo de situação no Oriente Médio e norte da África durante o período de expansão do islamismo, nos séculos 7 e 8.

Fonte: Gospel Prime

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Antes de obter o consentimento do Papa Francisco para uma entrevista com o La Croix, o nosso enviado especial permanente em Roma, Sébastien Maillard, teve que renovar várias vezes o seu pedido, mas, de acordo com o próprio papa, soube fazer isso de maneira “humilde”.

Antes, houve um acordo de princípio por parte do papa. Depois, em um domingo, um e-mail do padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, marcou o encontro para a segunda-feira, 9 de maio, às 16h30. Uma lista de perguntas tinha sido previamente transmitida ao papa, a seu pedido.

Naquele dia, Sébastien Maillard e Guillaume Goubert, diretor de redação, acompanhados pelo padre Lombardi, dirigiram-se à Casa Santa Marta, onde reside o papa no Vaticano. Esperaram-no em uma sala no piso térreo. O papa chegou sozinho, com alguns minutos de antecedência.

Depois das fotos, a conversa ocorreu em italiano, mas, de vez em quando, o papa introduzia alguma expressão francesa: “Ah, la laïcité française!”, exclamou, arrastando maliciosamente a penúltima sílaba.

A conversa durou pouco mais de uma hora, em um clima descontraído. Concordou-se que o texto tirado da entrevista seria relido pelo papa antes da publicação. O papa, depois, foi embora, como tinha vindo, simples e sorridente, privadamente, assim como aparece em público.

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“É preciso integrar os migrantes”

Nos seus discursos sobre a Europa, o senhor fala das “raízes” do continente, mas sem jamais defini-las como cristãs. Em vez disso, define a identidade europeia como “dinâmica e multicultural”. Na sua opinião, a expressão “raízes cristãs” não é apropriada para a Europa?

É preciso falar de raízes no plural, porque há muitas. Nesse sentido, quando ouço falar de raízes cristãs da Europa, eu temo às vezes o tom, que pode ser triunfalista ou vingativo. E, então, torna-se colonialismo. João Paulo II falava disso com um tom tranquilo. A Europa, sim, tem raízes cristãs. O cristianismo tem o dever de “borrifá-las”, mas em um espírito de serviço, como no lava-pés. O dever do cristianismo, para a Europa, é o serviço. Erich Przywara, grande mestre de Romano Guardini e de Hans Urs von Balthasar, nos ensina: a contribuição do cristianismo a uma cultura é a de Cristo com o lava-pés, ou seja, o serviço e o dom da vida. Não deve ser uma contribuição colonialista.

O senhor fez um gesto forte, trazendo consigo refugiados de Lesbos para Roma, no dia 16 de abril. Mas a Europa pode acolher tantos migrantes?

É uma pergunta justa e responsável, porque não se pode escancarar as portas de forma irracional. Mas a pergunta de fundo a se fazer é por que há tantos migrantes hoje em dia. Quando eu fui para Lampedusa, há três anos, esse fenômeno já estava começando. O problema inicial são as guerras no Oriente Médio e na África, e o subdesenvolvimento do continente africano, que provoca a fome. Se há guerras, é porque existem fabricantes de armas – que se justificar pela defesa – e, sobretudo, traficantes de armas. Se há tanto desemprego, é por causa da falta de investimentos que possam gerar empregos, dos quais a África tanto precisa.

Isso levanta, de modo mais geral, a questão de um sistema econômico mundial que caiu na idolatria do dinheiro. Mais de 80% das riquezas da humanidade estão nas mãos de cerca de 16% da população. Um mercado completamente livre não funciona. O mercado, em si mesmo, é uma coisa boa, mas deve haver, como ponto de apoio, um terceiro, o Estado, para controlá-lo e equilibrá-lo. É o que se chama de economia social de mercado.

Voltemos aos migrantes. A pior acolhida é a de “guetizá-los”, enquanto, ao contrário, é preciso integrá-los. EmBruxelas, os terroristas eram belgas, filhos de migrantes, mas vinham de um gueto. Em Londres, o novo prefeito [Sadiq Khan, filho de paquistaneses muçulmanos] prestou juramento em uma catedral e, sem dúvida, será recebido pela rainha. Isso demonstra para a Europa a importância de reencontrar a sua capacidade de integrar. Eu penso em Gregório Magno [papa de 590 a 604], que negociou com aqueles que eram chamados de bárbaros, que, depois, se integraram. Essa integração é ainda mais necessária hoje em dia, quando a Europa conhece um grave problema de desnatalidade, em razão de uma busca egoísta de bem-estar. Instala-se um vácuo demográfico. Na França, no entanto, graças à política familiar, essa tendência é atenuada.

O medo de acolher os migrantes se alimenta, em parte, do medo do Islã. Na sua opinião, o medo causado por essa religião na Europa é justificado?

Eu não acho que agora haja um medo do Islã como tal, mas do Daesh e da sua guerra de conquista, tirada em parte do Islã. A ideia de conquista é inerente à alma do Islã, é verdade. Mas ela poderia ser interpretada com a mesma ideia de conquista, no fim do Evangelho de Mateus, em que Jesus envia os seus discípulos a todas as nações. Diante do atual terrorismo islamista, seria oportuno nos interrogarmos sobre a maneira pela qual foi exportado um modelo de democracia, ocidental demais, para países em que havia um poder forte, como no Iraque. Ou na Líbia, que tem uma estrutura tribal. Como dizia um líbio há algum tempo: “Antigamente, nós tínhamos Gaddafi. Agora temos 50!”. No fundo, a coexistência entre cristãos e muçulmanos é possível. Eu venho de um país onde eles convivem em boa familiaridade. Lá, os muçulmanos veneram a Virgem Maria e São Jorge. Em um país da África, me disseram, para o Jubileu da Misericórdia, os muçulmanos fazem uma longa fila na catedral para passar pela porta santa e rezar para a Virgem Maria. Na África Central, antes da guerra, cristãos e muçulmanos viviam juntos e devem reaprender a fazer isso hoje. O Líbano também demonstra que isso é possível.

O peso que o Islã tem hoje na França, assim como o vínculo histórico do país com o cristianismo, levantam problemas recorrentes sobre o lugar das religiões no espaço público. Qual é, na sua opinião, uma boa laicidade?

Um Estado deve ser laico. Os Estados confessionais acabam mal. Isso vai contra a história. Eu acho que uma laicidade acompanhada por uma lei sólida que garanta a liberdade religiosa oferece um quadro para se seguir em frente. Nós somos todos iguais, como filhos de Deus ou com a nossa dignidade de pessoa. Mas cada um deve ter a liberdade de exteriorizar sua própria fé. Se uma mulher muçulmana quer usar o véu, ela deve poder fazer isso. Assim também se um católico quer portar uma cruz. Deve-se poder professar a própria fé, não ao lado, mas dentro da cultura. Uma pequena crítica que eu dirigiria para a França a esse respeito é de exagerar a laicidade. Isso provém de uma maneira de considerar as religiões como uma subcultura e não como uma cultura, para todos os efeitos. Eu temo que essa abordagem, que se compreende como a herança do Iluminismo, ainda esteja presente. A França deveria dar um passo a mais nesse assunto, para aceitar que a abertura à transcendência é um direito de todos.

Em um quadro laico, como os católicos deveriam se posicionar para defender as suas posições sobre questões éticas, como a eutanásia ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo?

É no Parlamento que se deve discutir, argumentar, explicar, raciocinar. Desse modo, uma sociedade cresce. Assim que a lei for votada, o Estado deve respeitar as consciências. Em toda estrutura jurídica, a objeção de consciência deve estar presente, porque é um direito humano, incluindo para um funcionário do governo, que é uma pessoa humana. O Estado também deve respeitar as críticas. Essa é uma verdadeira laicidade. Não podemos deixar de levar em conta os argumentos dos católicos, dizendo-lhes: “Você fala como um padre”. Não, eles se apoiam no pensamento cristão, que a França desenvolveu de forma notável.

O que a França representa para o senhor?

La fille aînée de l’Église… mais pas la plus fidèle! [A filha mais velha da Igreja… mas não a mais fiel!] (risos). Nos anos 1950, também se dizia: “França, país de missão”. Nesse sentido, é uma periferia a ser evangelizada. Mas precisamos ser justos com a França. A Igreja lá possui uma capacidade criativa. A França também é uma terra de grandes santos, de grandes pensadores: Jean Guitton, Maurice Blondel, Emmanuel Levinas – que não era católico –, Jacques Maritain. Penso igualmente na profundidade da sua literatura. Eu também aprecio como a cultura francesa impregnou a espiritualidade jesuíta em relação à corrente espanhola, mais ascética. A corrente francesa, que começou com Pedro Fabro, embora sempre insistindo no discernimento do espírito, dá outro sabor. Com os grandes espirituais franceses:Louis Lallemand, Jean-Pierre de Caussade. E com os grandes teólogos franceses, que tanto ajudaram a Companhia de Jesus: Henri de Lubac e Michel de Certeau. Eu gosto muito destes dois últimos: dois jesuítas que são criativos. Em suma, é isso que me fascina da França. Por um lado, essa laicidade exagerada, a herança da Revolução Francesa e, por outro, tantos grandes santos.

Qual é o santo ou a santa que o senhor prefere?

Santa Teresa de Lisieux.

O senhor prometeu ir para a França. Quando imagina que poderá fazer essa viagem?

Recentemente, eu recebi uma carta de convite do presidente François Hollande. A Conferência Episcopal também me convidou. Não sei quando vai acontecer essa viagem, porque o ano que vem é eleitoral na França, e, em geral, a prática da Santa Sé é de não fazer tal deslocamento nesse período. No ano passado, tínhamos começado a levantar hipóteses em vista dessa viagem, incluindo uma passagem por Paris e pela sua periferia, por Lourdes e por uma cidade aonde nenhum papa se dirigiu, Marselha, por exemplo, que representa uma porta aberta para o mundo.

A Igreja na França vive uma grave crise de vocações sacerdotais. Como fazer hoje com tão poucos padres?

A Coreia oferece um exemplo histórico. Esse país foi evangelizado por missionários vindos da China que, depois, voltaram para a China. Mais tarde, durante dois séculos, a Coreia foi evangelizada por leigos. É uma terra de santos e de mártires que hoje tem uma Igreja forte. Para evangelizar, não é preciso de padres necessariamente.

O batismo dá a força para evangelizar. E o Espírito Santo, recebido no batismo, impulsiona a sair, a levar a mensagem cristã, com coragem e paciência. É o Espírito Santo o protagonista daquilo que a Igreja faz, o seu motor. Muitos cristãos ignoram isso. Ao contrário, um perigo para a Igreja é o clericalismo. É um pecado que se comete a dois, como o tango!

Os padres querem clericalizar os leigos, e os leigos pedem para ser clericalizados, por facilidade. Em Buenos Aires, eu conheci inúmeros bons párocos que, vendo um leigo capaz, logo exclamavam: “Façamos dele um diácono!”. Não, é preciso deixá-lo como leigo. O clericalismo é particularmente importante na América Latina. Se a devoção popular lá é forte, é justamente porque é a única iniciativa dos leigos que não é clerical. E continua sendo mal compreendida pelo clero.

A Igreja na França, particularmente em Lyon, está sendo atualmente atingida por escândalos de pedofilia que remontam ao passado. O que se deve fazer nessa situação?

É verdade que não é fácil julgar determinados fatos depois de décadas, em outro contexto. A realidade nem sempre é clara. Mas, para a Igreja, nesse âmbito, não pode haver prescrição. Para aqueles abusos, um padre que tem vocação de levar uma criança para Deus a destrói. Dissemina o mal, o ressentimento, a dor. Como disse Bento XVI, a tolerância deve ser zero. Com base nos elementos de que eu disponho, eu acredito que, em Lyon, o cardeal Barbarin tomou as medidas necessárias, tomou as coisas bem em mãos. É corajoso, criativo, missionário. Agora, devemos esperar pelo prosseguimento do processo perante a justiça civil.

Portanto, o cardeal Barbarin não deve renunciar?

Não, seria um contrassenso, uma imprudência. Depois da conclusão do processo, isso será visto. Mas, agora, seria como se declarar culpado.

No dia 1º de abril, o senhor recebeu Dom Bernard Fellay, superior-geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Está novamente prevista a reintegração dos lefebvrianos na Igreja?

Em Buenos Aires, eu sempre falei com eles. Eles me cumprimentavam, me pediam uma bênção de joelhos. Eles amam a Igreja. Dom Fellay é um homem com quem se pode dialogar. Não é assim com outros elementos um pouco estranhos, como Dom Williamson, ou outros que se radicalizaram. Eu acho que, como já disse na Argentina, eles são de católicos a caminho da plena comunhão. Durante um Ano da Misericórdia, pareceu-me que eu devia autorizar os seus confessores a perdoar o pecado do aborto. Eles me agradeceram por esse gesto. Antes, Bento XVI, que eles respeitam muito, tinha liberado a missa segundo o rito tridentino. Dialoga-se bem, faz-se um bom trabalho.

O senhor estaria disposto a lhes conceder um status de prelazia pessoal?

Seria uma solução possível, mas, em primeiro lugar, é preciso estabelecer um acordo de fundo com eles. O Concílio Vaticano II tem o seu valor. Prossegue-se lentamente, com paciência.

O senhor convocou dois sínodos sobre a família. Esse longo processo, na sua opinião, mudou a Igreja?

É um processo que começou com o consistório [de fevereiro de 2014], introduzido pelo cardeal Kasper, antes de um Sínodo extraordinário em outubro do mesmo ano, seguido por um ano de reflexão e por um Sínodo ordinário. Acho que todos saímos diferentes desse processo em relação a como entramos. Eu também. Na exortação pós-sinodal [Amoris laetitia, de abril de 2016], eu tentei respeitar ao máximo o Sínodo. Vocês não vão encontrar detalhes canônicos sobre o que se pode ou se deve fazer ou não fazer. É uma reflexão serena, pacífica, sobre a beleza do amor, sobre como educar os filhos, como se preparar para o matrimônio… Ela valoriza as responsabilidades que poderiam ser acompanhadas pelo Pontifício Conselho para os Leigos, sob a forma de orientações de fundo.

Além desse processo, devemos pensar na verdadeira sinodalidade, ao menos naquilo que significa a sinodalidade católica. Os bispos estão cum Petro, sub Petro [com o sucessor de Pedro e sob o sucessor de Pedro]. Isso difere da sinodalidade ortodoxa e da sinodalidade das Igrejas greco-católicas, em que o patriarca conta como um único voto. OConcílio Vaticano II dá um ideal de comunhão sinodal e episcopal. Ainda é preciso fazê-lo crescer, mesmo em nível paroquial, levando-se em conta do que está prescrito. Existem paróquias que não estão dotadas nem de um conselho pastoral, nem um conselho para assuntos econômicos, enquanto o Código de Direito Canônico exige isso expressamente. A sinodalidade também se joga nesse nível.

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Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Sant’Egidio, escreveu um interessante artigo no jornal italiano Corriere della Sera sobre o discurso do Papa Francisco no dia em que o líder religioso recebeu o prestigiado Prêmio Carlos Magno pela integração europeia.

Em resumo, o argumento do autor é que Francisco vê o principal desafio da Europa como um continente que necessita da renovação de uma cultura de diálogo e integração, que promova uma “economia social” em lugar de uma “economia líquida” capaz de criar emprego e gerar esperanças, especialmente aos recém-chegados e jovens.

“Numa época de etno-nacionalismos”, escreveu Riccardi, “Francisco propõe coalizões, não no sentido político-militar, mas no sentido ‘cultural, educacional, filosófico e religioso’, pela Europa e pela paz: ‘Armemos o nosso povo com a cultura do diálogo e do encontro’”.

Isto, evidentemente, é uma mensagem com uma relevância óbvia num momento no qual o continente está lidando com a crise de refugiados mais acentuada desde a Segunda Guerra Mundial.

Riccardi observa que, não muito tempo atrás, “diálogo” não era exatamente a principal nota que emanava do Vaticano para com a Europa.

Nas décadas de 1990 e 2000, os papas João Paul II e Bento XVI travaram duras batalhas para recordar o continente de suas raízes cristãs, entre outras coisas insistindo que um novo documento constitucional para ele deve conter a chamada “cláusula divina”, ou “invocatio Dei”.

Depois que estas iniciativas fracassaram, o sentimento de afastamento se tornou, muitas vezes, papável.

Aos fiéis europeus mais amargurados, a frase do dia foi popularizada pelo Cardeal Joseph Ratzinger antes de sua eleição ao papado, ao citar o historiador inglês Arnold Toynbee: “minoria criativa”.

Num discurso em 2004, disse Ratzinger: “Os fiéis cristãos deveriam olhar para si como uma minoria criativa e ajudar a Europa a reafirmar o que há de melhor em sua herança e, desse modo, pôr-se a serviço de toda a humanidade”.

Ainda que isto nunca tenha sido o que o Papa Bento pretendeu, muitos católicos europeus ouviram nesta frase um chamado ao recolhimento: a verem-se como uma subcultura em apuros, cuja tarefa é preservar a fé dentro de um meio social laico e hostil. Referências ao espírito do “contemptus mundi”, ou de “desprezo do mundo” dos primeiros movimentos monásticos cristãos, foram abundantes.

Curiosamente, no discurso de quase três mil palavras do Papa Francisco para a recepção do Prêmio Carlos Magno, as palavras “laico” e “laicismo” não aparecem.

Em vez disso, Francisco esboçou um papel para a Igreja na Europa de hoje e, de maneira mais ampla, para as pessoas de fé como agentes de encontro e integração.

Quando falou das “raízes” da Europa, Francisco não se referia à cristandade medieval, e sim à visão pós-Segunda Guerra de um continente que seria o bastião da paz, dos direitos humanos e da tolerância, superando os nacionalismos violentos que levaram a guerras mundiais avassaladoras.

Francisco está ciente de que este projeto europeu do período pós-guerra, forjado por estadistas como Alcide de Gasperi, Robert Schuman e Konrad Adenauer, baseava-se em grande parte na herança e nos valores cristãos destes líderes; Schuman é hoje um candidato a santo.

Como escreveu Riccardi, Francisco sabe que as raízes da Europa precisam ser “irrigadas com o Evangelho”.

No entanto, para o papa, a fé em ação é o que conta. Defende-se melhor o cristianismo não travando batalhas contra símbolos ou com discursos, mas pondo as convicções em prática em momentos em que o mundo mais precisa delas.

“No papa, os políticos encontram um líder espiritual que crê na União Europeia, na medida em que esta é capaz de se expandir e integrar”, escreveu Riccardi.

“Segundo o Papa Bento, a Europa (…) hoje está em declínio devido a um medo de se encontrar com outras pessoas e religiões, escondendo-se atrás das fronteiras e identidades cristalizadas”, completou o articulista, sugerindo ainda que os estadistas europeus atuais sabem disso também, mas que não conseguem consertar o problema por si próprios”.

Em outras palavras, não muito tempo atrás uma ampla parcela da classe política europeia e suas elites culturais viam o papado, e a Igreja, como obstáculos àquela sociedade emancipada e pluralista que queriam construir. Hoje, pelo menos alguns deles estão enxergando o papado e a Igreja como recursos para este mesmo objetivo, talvez como a sua última – e melhor – esperança.

O tempo dirá se o Papa Francisco teve sucesso como o líder de uma nova “coalizão espiritual” que busca reviver os ideais humanistas do continente. Com certeza, as tendências políticas não são animadoras, com partidos de extrema-direita ganhando cada vez mais espaços na União Europeia.

De qualquer forma, o que o Prêmio Carlos Magno parece simbolizar é que Francisco descobriu um papel para o cristianismo no velho continente que vai além do de proteger a si mesmo, além do status quase permanente de ser uma subcultura. Pelo contrário, ele deu-lhe uma nova cara, como se fosse um novo porta-estandarte da melhor versão da Europa.

Ironicamente, tudo isso está sendo feito por um argentino, um argentino cujas raízes encontram-se na Europa, da região de Piemonte, Itália.

À luz da história recente, essa reversão de papéis pode acabar sendo lembrada como um dos elementos mais marcantes deste papado, um papado em que o “marcante”, cada vez mais, parece ser a normalidade.

John L. Allen Jr., publicado por Crux

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Entrevistamos o oncologista da Universidade de Louvain, Benoît Beuselinck, que afirma: “A experiência da Bélgica demonstra claramente a teoria do ‘declive escorregadio’: ele começa assim que se remove a barreira muito clara que afirma que o médico não pode matar direta ou voluntariamente o seu doente”.

A eutanásia só aumenta na Bélgica, até alcançar hoje os 2.000 casos por ano, o equivalente a 2% das mortes. Mas isso não é tudo. O país tem visto um número consistente de pessoas que sofrem de depressão procurarem a eutanásia (65 casos em um ano), e o número das pessoas que se beneficiaram com a “doce morte” dobrou entre 2008 e 2013.

Os meios de comunicação também têm falado amplamente de casos de eutanásia bastante surpreendentes, como a eutanásia de pessoas com cegueira incipiente, com Alzheimer na fase inicial, pessoas cansadas de viver, criminosos sexuais, pessoas que sofrem com a idade avançada e a solidão.

“A eutanásia está evoluindo até se tornar uma ‘morte como as outras'”, observa o professor Benoît Beuselinck, oncologista da Universidade de Louvain. A experiência da Bélgica demonstra, assim, claramente a teoria do “declive escorregadio”.

“O declive escorregadio”, explica o professor, “começa assim que se remove a barreira muito clara que afirma que o médico não pode matar direta ou voluntariamente o seu doente. Assim que é removida essa barreira, as indicações se tornam cada vez mais amplas, tornando difícil, senão impossível, traçar linhas claras para delimitar a prática da eutanásia”.

Como oncologista, que caminho vocês viram ser feito pela prática da eutanásia?

Desde o início, dissemos que seria muito difícil, senão impossível, pôr limites claros para a prática da eutanásia. Como indicar, por exemplo, de modo claro e inequívoco, em uma lei ou em uma diretriz, quais são os termos e as circunstâncias exatas para que um paciente possa se “beneficiar” com a eutanásia? Tememos desde o início que, uma vez aberta a porta à eutanásia para os “casos raros e extremos de dor e difíceis de controlar em fase terminal”, seria, depois, muito difícil fixar limites para a prática.

Quais foram as consequências na vida das pessoas?

Eu cuidava de um homem de 85 anos, doente de câncer de próstata. Essa pessoa era viúva e não tínhamos mais qualquer tratamento ativo para ele. Ele também começou a enfraquecer tanto que não podia mais viver sozinho em casa. Uma admissão a um serviço de cuidados paliativos nos parecia uma solução apropriada. No entanto, essa pessoa rejeitou categoricamente ser internado na unidade de cuidados paliativos, porque ele – palavras suas – “era católico e não queria ser eutanasiado”.

Os cuidados paliativos: por que eles perderam a sua credibilidade?

Os defensores da lei fizeram muitas tentativas para introduzir a eutanásia entre os cuidados paliativos, apresentando-a como “uma oportunidade a mais”. Ora, isso causa sérios problemas. Em uma unidade de cuidados paliativos de uma grande cidade flamenga, o diretor decidiu oferecer a eutanásia para as pessoas que a pedissem (seguindo a norma da lei). Cada vez mais pessoas se dirigiram para aquela unidade para serem eutanasiadas. De repente, o papel da equipe de “cuidado” se reduziu para acolher os candidatos para a eutanásia, organizar cerimônias para confortar a família, assistir à morte ao vivo e, depois, preparar a sala para o próximo paciente. Enfermeiros e psicólogos não desempenhavam mais a tarefa que haviam escolhido como sua profissão, e, em poucas semanas, a unidade de cuidados paliativos perdeu a metade do seu pessoal.

Qual é a diferença entre eutanásia e sedação paliativa?

Com efeito, essa confusão acabou confundindo muitas pessoas, incluindo os católicos. A diferença entre eutanásia e sedação paliativa é muito clara e precisa. A sedação paliativa é aplicada – ou deveria ser aplicada – em caso de sintomas refratários relacionados com o fim da vida, como a dor, a angústia, a asfixia ou a angústia terminal. O objetivo da sedação é aliviar esses sintomas, não matar diretamente. No caso da eutanásia direta, ao contrário, a intenção e a proporcionalidade são diferentes: a intenção é induzir a morte. O “tratamento médico” é usado em sobredosagem. É muito importante definir o que é a sedação paliativa e distingui-la da eutanásia, porque a sedação paliativa é o nosso melhor modo para evitar a eutanásia.

Há uma resposta à dor e uma razão para a morte?

Você está me fazendo uma pergunta de natureza espiritual e teológica, à qual eu não sou a melhor pessoa para responder. Na fase terminal, os processos fisiológicos do corpo se descombinam de modo significativo, e isso pode levar àquilo que se chama de ansiedade terminal. Mas eu lhe pergunto: a eutanásia seria uma solução? A experiência clínica mostra que não. Para um paciente, a decisão de pedir a eutanásia e de encontrar o “momento certo” para fazer isso, muitas vezes, são fonte de mais preocupação. O pedido de eutanásia também coloca sob pressão as famílias que, muitas vezes, se dividem em torno do problema… Uma enfermeira, chefe de um serviço de cuidados paliativos, me disse que, nas dezenas de eutanásias que ela viveu, nenhum paciente partiu em paz. Não é fácil dar “um sentido ao sofrimento”. Mas a nossa experiência nos demonstra que, para a maioria dos pacientes, é possível encontrar um “sentido para a vida, apesar do sofrimento”. Família, amigos e acompanhadores podem ajudar os pacientes a percorrer esse caminho.

M. Chiara Biagioni, publicada no sítio Agensir