É tristemente comum a confusão que perdura no meio de muitos cidadãos, inclusive católicos, no tocante à diferença entre política e politicagem, ou política e partidarismos. O católico não deve fazer politicagem, mas deve fazer política. O católico não deve se alinhar com partidarismos, mas deve se envolver seriamente na política.

Política não é ruim. Ruim é politicagem. Ruim é partidarismo.

Política é apenas a participação ativa e consciente nas decisões da sociedade, o que não é apenas um direito, mas também uma obrigação moral: ninguém pode se isentar da sua cota de responsabilidade nas decisões da sua própria comunidade. Somos TODOS responsáveis, em alguma medida, pelos rumos da nossa pátria, do nosso Estado, da nossa cidade, do nosso bairro, da nossa rua.

A Igreja deixa esta responsabilidade bem clara na sua doutrina social – e o Papa Francisco nos lembra disso com frequência. 

A fim de reforçar esta consciência, compartilhamos a seguinte mensagem de Dom Gil Antônio Moreira, arcebispo de Juiz de Fora, no Estado brasileiro de Minas Gerais:

Consta dos princípios cristãos o dever de colaborar com a sociedade na busca do bem comum. É ‘sagrado’ o dever de participar leal e responsavelmente da vida pública e política, buscando uma sociedade justa, fraterna e pacífica. A Igreja faz isto a partir do Evangelho cujo núcleo é a pessoa de Jesus Cristo, que veio para salvar a pessoa humana de forma integral e definitiva.

Para esclarecer sobre a participação do fiel cristão na vida pública, social e política, o Pontifício Conselho “Justiça e Paz” publicou no ano de 2004 o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, que estabelece balizas para este fim.

São João Paulo II, na encíclica Sollicitudo Rei Socialis (1987), enfatizava que não é possível amar o próximo como a si mesmo e perseverar nesta atitude sem firme e constante determinação de empenhar-se em prol do bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos.

Já o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), na Constituição Conciliar Gaudium et Spes, proclamava que as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, são as mesmas da Igreja.

Este dever de colaboração social é também um direito que a democracia, regime que todos prezamos, garante a todos os cidadãos, independentemente de credo religioso. O direito democrático prevê a liberdade de expressão e garante a liberdade religiosa como algo inalienável na construção da civilização. Tais direitos estão explícitos na Constituição Federal Brasileira nestes termos: Art. 5.º, inciso VI: é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias. O inciso VIII garante aos que creem o direito de expressão e todos os demais diretos comuns a todos os demais cidadãos: ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.

O referido direito é internacionalmente reconhecido, como se pode ver na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo 18: Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Este direito importa a liberdade de mudar de religião, ou convicção, bem assim a liberdade de manifestá-las, isoladamente ou em comum, em público ou em particular, pelo ensino, pelas práticas, pelo culto e pela observância dos ritos. Defendendo os mesmos direitos, o Pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, reza em seu artigo 12: Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião.

Por esses e por outros artigos de leis, nenhum governo, nenhum ideólogo nem qualquer outra pessoa pode, em nome da laicidade, impedir ou cercear a ação dos cidadãos que professam uma religião. Em nome da laicidade, ninguém, a não ser que seja totalitarista ou deseje impor uma ditadura destruidora da democracia, pode negar à Igreja o direito de existir e de se posicionar, de ensinar a seus fiéis e de expressar publicamente suas convicções a respeito da dignidade humana, mesmo porque, esta matéria não é um artigo da sua dogmática, mas faz parte de uma ordem natural aceitável pela pura razão humana.

O Estado pode e deve ser laico, mas não pode ser laicista, nem pode impor uma única religião a ser seguida, como também não pode impor o ateísmo como regra geral ao seu povo, mesmo porque isto já seria uma posição religiosa praticada por ele.

O povo brasileiro, em sua imensa maioria, é fiel e temente a Deus e merece ser respeitado no que lhe atribui a legislação. O respeito e a defesa do direito à prática religiosa são indispensáveis para que haja paz e justiça para todos; do contrário, cair-se-ia no caos social.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora

Francisco Vêneto

Sempre Família lançou uma iniciativa que promete ser de grande utilidade nas eleições deste ano para os brasileiros que se preocupam com a defesa da vida e a promoção da família. No Vota, Família!, é possível conferir o posicionamento de cada pré-candidato à presidência da República e de cada partido político sobre temas de interesse para a família brasileira.

Acesse: Vota, Família!

O lançamento do projeto ocorreu durante o Simpósio Família e Vida nas Eleições 2018, em Curitiba, um evento organizado pelo Sempre Família, com o apoio do jornal Gazeta do Povo, que contou com a presença de lideranças pró-vida e pró-família de todo o Brasil.

Os temas considerados pela análise do Vota, Família! se relacionam diretamente com as convicções defendidas pelo site. A posição de cada partido ou pré-candidato no que diz respeito à defesa da vida, casamento, drogas, conciliação entre trabalho e família, educação moral dos filhos e liberdade religiosa definiu a avaliação que cada partido ou pré-candidato recebeu. A avaliação tomou como base entrevistas, documentos, publicações em redes sociais e a análise de trajetória.

Vota, Família! se inspirou em iniciativas do exterior com objetivos semelhantes em seus países, como o Saber Votar, do México, e o Vota Valores, da Espanha. O Sempre Família tem publicado desde abril de 2017 uma série de matérias que analisam o posicionamento dos pré-candidatos à presidência em temas como o aborto, as drogas e o casamento homoafetivo, e agora, com o Vota, Família!, aprofunda o debate e facilita a visualização dessas informações.

Como funciona

No Vota, Família! é possível verificar o posicionamento de cada pré-candidato ou partido de três formas: acessando uma ficha de cada pré-candidato ou partido (no meu superior, “Pré-Candidatos” e “Partidos”); visualizando uma tabela que compara o posicionamento de todos os pré-candidatos ou partidos (no menu superior, “Posicionamento”); ou comparando pré-candidatos ou partidos dois a dois (no menu superior, “Compare”).

Cada tema é avaliado com um sinal verde, amarelo ou vermelho, que corresponde ao compromisso do pré-candidato ou partido com aquela pauta. Cada posicionamento é justificado através de uma pequena citação do pré-candidato ou partido sobre o tema, que permite também enxergar as nuances de cada posicionamento.

Fonte Sempre Família

Os bispos da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) afirmaram que “é um verdadeiro crime que clama ao céu” adiantar as eleições nesse país em meio à grave situação de miséria e fome que vive a nação.

“É um absurdo ético e humano, um verdadeiro crime que clama ao céu, que em meio a uma situação de miséria, fome, falta de serviços, morte e desintegração nacional, privilegie-se um espetáculo de distração e alienação, em condições desiguais, contra todo o senso de equidade e serviço à população”, indicaram os bispos em comunicado divulgado na segunda-feira, 29 de janeiro.

A Assembleia Nacional Constituinte (ANC) emitiu um decreto em 23 de janeiro para adiantar as eleições que normalmente são realizadas em dezembro, uma medida que foi “aprovada por aclamação”, segundo indicou Delcy Rodríguez, presidente da Assembleia.

Depois da aprovação do decreto, o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro pediu ao “Poder Eleitoral para definir a data imediatamente para acabar com isso logo, ganhar as eleições e começar a fazer uma grande e necessária revolução 2018. Vamos acabar com isso de uma vez por todas”.

Maduro disse que as eleições serão realizadas com ou sem oposição.

Em seu comunicado, os prelados assinalaram que, “na Democracia, a primeira responsabilidade de cada governante é atender às necessidades básicas das pessoas, que hoje infelizmente são obrigadas a passar fome, a não contar com os serviços mínimos indispensáveis para a vida, em algumas ocasiões até morrer, e em outras, emigrar diante da necessidade de sobrevivência”.

Após recordar que o povo é que garante a soberania “e não uma instância falsa”, os bispos ressaltaram que para isso é necessário “instituições do Estado que respeitem a vontade do povo”.

“Além disso, devemos recordar que, se realmente vivemos em uma democracia, a instituição eleitoral – CNE – deve manter a sua autonomia e servir ao povo eleitor”, acrescentaram.

De acordo com a BBC, não se sabe qual candidato da oposição poderia apresentar-se, pois os principais líderes, Henrique Capriles e Leopoldo López, estão inabilitados.

O adiantamento das eleições foi rejeitado pela oposição venezuelana e pelo Grupo de Lima, que reúne representantes de 14 países da América.

O chanceler chileno Heraldo Muñoz, leu um comunicado a respeito, o qual indica que “esta decisão impossibilita a realização das eleições presidenciais democráticas, transparentes e credíveis”.

No comunicado divulgado na segunda-feira, os bispos afirmaram que “a liderança política deve assumir com responsabilidade a situação difícil: a comunidade internacional declarou abertamente sua convicção de que a ação do governo é inaceitável. A liderança dos partidos políticos tem sido, muitas vezes, deficiente e incoerente”.

“Devem abrir-se a buscar um consenso com os diferentes setores da sociedade, pois uma condição essencial é reconhecer e conseguir uma unidade política que vá muito além das alianças eleitorais”, continuaram.

Do mesmo modo, reiteraram o que expressaram em 12 de janeiro: “A Assembleia Nacional Constituinte é inconstitucional e ilegítima em sua origem e desempenho. Em vez de escrever uma nova Constituição, pretende tornar-se um suprapoder com funções executivas e judiciais”.

Ao concluir, os bispos da CEV destacaram que “a situação e o momento que os venezuelanos enfrentam ante esta crise global, ‘requer uma grande esperança junto com ações concretas que contribuam a fim de melhorar as condições de vida, dignificando as pessoas e fortalecendo as famílias e as comunidades às quais pertencemos’. Nós estamos dispostos a colaborar para que encontremos o rumo de uma Venezuela fraterna e de todos”.

“Que o Espírito nos ilumine e nos fortaleça para servir o nosso povo”, concluíram.

ACI Digital

Não é nenhum segredo que boa parte dos partidos do Brasil é adepta do fisiologismo e adequa suas pautas àquilo que for mais conveniente em cada momento. Muitas vezes, membros do partido discordam da orientação da sigla – isso quando a sigla tem uma orientação clara. Outras vezes, os candidatos, com mais ou menos convicção, aderem ao que o partido estabelece.

Defensores da legalização

Uma série de partidos se expressa claramente a favor da legalização do aborto no Brasil. Entre eles estão o Partido dos Trabalhadores (PT) Partido Verde (PV), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), o Partido Popular Socialista (PPS), o Partido da Causa Operária (PCO), o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), o Partido Comunista Brasileiro (PCB).

O PSOL, por exemplo, é responsável pelo PL 882/2015 e pela ADPF 442/2017, que advogam pela legalização da prática até a 12ª semana de gestação no Congresso e no STF. No seu último congresso nacional, em dezembro de 2017, o partido se comprometeu a “seguir intervindo na institucionalidade a favor da luta feminista e dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres” – conceito que inclui a legalização do aborto.

O PPS também é bem claro: “Nosso partido, como organização laica que é, reconhece a maternidade como um direito e uma escolha, e assume posição clara em defesa da descriminalização do aborto, por considerá-lo uma questão de saúde pública, e de direito e autonomia da mulher”, diz uma nota do partido.

Já o PV se expressa da seguinte forma: “O PV não estimula a prática do aborto, pois ele é sempre traumático. Por isso, queremos a legalização do procedimento, estabelecendo regras e limites de idade gestacional”, diz um post do partido em sua página no Facebook. Em seu programa, defende a “legalização da interrupção voluntária da gravidez com um esforço permanente para redução cada vez maior da sua prática através de uma campanha educativa de mulheres e homens para evitar a gravidez indesejada”.

O PSTU, o PCdoB e o PCB costumam publicar posts e manifestos por ocasião do Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta pela Descriminalização do Aborto, em 28 de setembro. O PCdoB, por exemplo, publicou um post alusivo à data em sua página no Facebook. O PCB soltou um manifesto: “O aborto não mata, o que mata é a clandestinidade, é a violação dos direitos humanos e reprodutivos das mulheres, é a legitimação/legalização do estupro, tudo baseado numa ideia religiosa (as células fecundadas já seriam pessoas), portanto, ignorando totalmente a laicidade do Estado brasileiro”, diz o texto.

O PSTU também é claro: “Descriminalizar e legalizar o aborto é garantir o direito das mulheres trabalhadoras à vida, por isso essa reivindicação deve ser tomada pelo conjunto dos trabalhadores. Não podemos admitir nem uma morte [de mulheres] a mais porque setores conservadores e reacionários no poder se negam a conceder esse direito às mulheres”, diz uma publicação do partido.

O PCO garante que “defende a legalização do aborto como parte dos direitos democráticos da população”. “A moral e a religião não pertencem a essa discussão, a decisão sobre a continuidade ou não de uma gestação pertence a mulher”, diz o site do coletivo feminino do PCO.

O PT também defende claramente a descriminalização do aborto, conforme resolução aprovada em 2007. Em 2009, chegou a punir dois deputados, Luiz Bassuma e Henrique Afonso, por terem “infringido a ética-partidária ao ‘militarem’ contra resolução do 3º Congresso Nacional do PT a respeito da descriminalização do aborto”.

O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), por sua vez, é menos explícito. Embora em seu programa partidário o partido destaque o fato de ser “intransigentemente a favor da vida” – sem referir-se explicitamente ao aborto –, o núcleo do partido que atua em favor dos direitos das mulheres, o MDB Mulher, definiu o aborto como uma questão de saúde pública, durante o primeiro fórum realizado por eles, em 2008. Na ocasião, o indiciamento de quase 10 mil mulheres no Mato Grosso do Sul foi debatido pelas participantes e de lá saiu um documento que afirmava que o caso não deveria “ser tratado pela polícia e pelo Judiciário e, sim, como uma grave questão de saúde pública e de promoção de justiça social”.

Contrários à legalização

O Partido Social Cristão (PSC) é um dos mais engajados em ações contra a legalização do aborto no país. No site do partido há um tópico específico para o assunto, mostrando a importância que a legenda dá ao tema. Já no primeiro parágrafo de seu posicionamento se lê: “Alicerçado em princípios cristãos, o PSC entende que a vida se inicia já na concepção. Assim como nós, pensam também os legisladores brasileiros, que se preocuparam em assegurar no Código Civil os direitos do nascituro (ser concebido, mas ainda não nascido). A vida é, portanto, direito primordial e fundamental de todo ser humano”.

O Partido Humanista da Solidariedade (PHS) também se opõe à legalização do aborto. Segundo a sua Doutrina Partidária, eles se colocam “abertamente em posição de apoio às gestantes, tendo profunda preocupação com a questão do aborto, e a primeira infância”. O relator do Estatuto do Nascituro e do Estatuto da Família, Diego Garcia, é filiado ao partido.

A Rede Sustentabilidade (REDE) se posiciona contra a legalização do aborto e postula “um princípio de defesa da vida”. “O que nos une a todos nesse debate é que ninguém deva estar em uma situação em que precise lançar mão do aborto”, diz, em um vídeo oficial do partido, a porta-voz da legenda, Marina Silva.

O Partido Republicano Brasileiro (PRB), o Patriota (PATRI) e o Partido Republicano da Ordem Social (PROS) também são contrários à legalização. Uma matéria publicada no site do PRB mostra que em 2016 o PRB sugeriu a inclusão de dispositivos do Pacto de San José da Costa Rica, assinado pelo Brasil, no texto da MP 696/2015 para combater a tentativa de legalizar o aborto. O pedido foi acatado na ocasião, pela Câmara dos Deputados.

Já no estatuto do Patriota (ex-PEN), atualizado em agosto de 2017 e que está disponível no site, a legenda coloca no artigo 3º do documento, a exigência de que todos os seus filiados tenham o compromisso de defender alguns pontos importantes, sob pena de declaração de infidelidade partidária, com todas as consequências. Entre eles está a “proteção à vida e combate à legalização do aborto”. As alterações no documento foram feitas com o intuito de atrair o eleitorado do pré-candidato Jair Bolsonaro para o partido – mas Bolsonaro acabou indo para o Partido Social Liberal (PSL).

Deputados filiados ao PROS costumam estar envolvidos em manifestações em defesa da vida do nascituro e mesmo expressando sua opinião contra a legalização do ato, em seus discursos. É o caso do deputado Ronaldo Fonseca, em uma homenagem aos 10 anos do Movimento Brasil sem Aborto, e do deputado Eros Biondini, ativo na militância pró-vida no Congresso.

O Partido da Mulher Brasileira (PMB) também é contrário à legalização do aborto, mas se expressa claramente sobre a manutenção dos casos atualmente previstos em lei. Segundo a presidente da sigla, Suêd Haidar, em entrevista à revista Exame, em 2015, o partido não pode “afirmar que a mulher deva matar uma vida, matar seu próprio filho e se expor a sua própria morte. Defendemos um planejamento diferenciado dos gestores públicos e do governo, onde todos devem discutir essa questão do aborto que ainda é complexa para todos. Defendemos a educação sexual, a orientação para as famílias e a difusão dos métodos contraceptivos nas camadas mais baixas da população, para evitar que a mulher precise chegar a um ato tão violento quanto o aborto. Em casos em que já tenha sido identificada alguma deficiência que não seja possível mantê-lo (o feto) vivo, aí sim deve haver o aborto”.

Outras posturas

O Partido Novo (NOVO) tem uma postura sui generis: em entrevistas recentes, João Amoêdo, fundador do partido e agora pré-candidato pela legenda à presidência da República, explicou que o posicionamento da sigla é que temas como o aborto devem ser deixados a cargo dos estados. “O que a gente acha em algumas questões, como aborto, é que essa questão fosse levada para os estados, para que cada um pudesse ter a sua pauta e se aquilo for algo muito relevante para uma pessoa, que ela esteja incomodada, que ela tenha a opção de mudar de estado e você não obrigaria toda uma população ou determinada minoria a seguir a determinação da maioria”, disse ao HuffPost Brasil.

Os demais partidos não se expressam claramente sobre o tema. São eles: Democratas (DEM), Avante (ex-PTdoB), Partido Democrático Trabalhista (PDT), Podemos (PODE, ex-PTN), Partido da Mobilização Nacional (PMN), Partido Progressista (PP), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido da República (PR), Partido Pátria Livre (PPL), Partido Social Democrata Cristão (PSDC), Partido Social Democrático (PSD), Partido Republicano Progressista (PRP), Partido Social Liberal (PSL), Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), Partido Trabalhista Cristão (PTC), Solidariedade (SD), Partido Socialista Brasileiro (PSB) e Partido da República (PR).

Com informações, Sempre Família. Via Conexão politica

Conselho Nacional de Educação (CNE) modificou diversos pontos da revisão feita pelo Ministério da Educação (MEC) na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e alterou, principalmente, o conteúdo relacionado ao ensino religioso. O novo documento com alterações feitas pelos conselheiros, divulgado ontem pelo CNE e pelo MEC, retirou temas relacionados a gênero e orientação sexual das habilidades a serem trabalhadas pela religião no 9º ano do ensino fundamental. Mas, por outro lado, o órgão também se dobrou às últimas modificações do MEC e retirou totalmente os termos sobre o tema do restante texto. A BNCC norteará os currículos escolares das escolas de todo o país na educação infantil e no ensino fundamental e deve ser votada na sexta-feira.

No fim de novembro, o MEC encaminhou ao CNE uma revisão da terceira versão da Base, que foi divulgada em abril, na qual estabelecia como um dos objetos de conhecimento “corpo, gênero e sexualidade nas tradições religiosas” e definia que, nesse eixo, as escolas deveriam “discutir as distintas concepções de gênero e sexualidade segundo diferentes tradições religiosas e filosofias de vida.” Com as alterações feitas pelos conselheiros durante rodadas de discussão na semana passada,a temática não compõe os objetos de conhecimento. Foi incluído, por outro lado, o eixo “princípios e valores éticos” que estabelece como umas das habilidades “reconhecer a coexistência como uma atitude ética de respeito à vida e à dignidade humana”. Há ainda outras alterações que permeiam o conteúdo de ensino religioso, modificando algumas estruturas e redações de determinados objetos e habilidades.

A minuta de resolução do texto, também divulgada ontem, determina que, por meio de uma comissão específica do CNE, o órgão vai deliberar se o ensino religioso terá tratamento como área do conhecimento ou como componente curricular da área de Ciências Humanas, no Ensino Fundamental. Na resolução o CNE também afirma, como mencionado na semana passada, que emitirá orientações específicas sobre orientação sexual e identidade de gênero. No parecer, a justificativa é que “a temática ‘gênero’ foi objeto de muitas controvérsias durante os debates públicos da BNCC. Neste sentido, entende-se que o CNE deve, em resposta às demandas sociais, aprofundar os debates sobre esta temática, podendo emitir, posteriormente, orientações para o tratamento da questão, considerando as diretrizes curriculares nacionais vigentes”.

Base Nacional Comum Curricular
O QUE É?
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que define o que todos os alunos devem aprender na educação básica. O texto servirá como referência para o currículo das escolas.
COMO É HOJE?
As escolas constroem seus currículos de acordo com diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE), de conselhos estaduais e municipais. Agora, o currículo deverá seguir orientações da BNCC.
 
PRINCIPAIS PONTOS EM DISCUSSÃO
As escolas constroem seus currículos de acordo com diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE), de conselhos estaduais e municipais. Agora, o currículo deverá seguir orientações da BNCC.
Antecipação da alfabetização:
Na última versão, o MEC estabeleceu que os alunos sejam alfabetizados até o fim do 2º ano do ensino fundamental, e o aprofundamento do processo seja feito ao longo dos anos seguintes. Antes, o indicado era que alfabetização fosse concluída até o 3º ano. A questão, no entanto, não é consenso e pode ser revista pelo CNE.
Orientação sexual e gênero:
O texto encaminhado pelo MEC ao CNE em abril suprimiu termos como “orientação sexual” do documento. A expectativa era de que o Conselho incluísse novamente a expressão, mas o órgão sinalizou que a temática deve ficar sob abordagem dos “Direitos Humanos”, sem menção explícita às questões de sexualidade e gênero.
Educação Infantil:
A educação infantil deve passar novamente por reformulações. Segundo especialistas e membros do CNE, o texto referente à etapa tenta valorizar aspectos como a brincadeira e a criança como protagonista de seu desenvolvimento. Também haverá maior clareza em relação à progressão de aprendizagem.
PRÓXIMOS PASSOS
No final de novembro, o MEC fez novas observações ao texto da Base. Para que o documento entre em vigor, o plenário do CNE, composto por 24 membros, deve aprovar a última versão. Após esse aval, o ministro da Educação, Mendonça Filho, deve homologar o texto. A partir da homologação, o prazo para que a BNCC seja implementada é de um ano.

Esse projeto de resolução, que orienta a implantação da BNCC, e o próprio texto da Base ainda podem sofrer alterações. Posteriormente, eles seguem para apreciação do ministro da Educação, Mendonça Filho, que pode homologá-los, caso concorde. O MEC tem pressa. Na última semana, os conselheiros começaram a debater, no pleno do CNE, os documentos. Mas não chegaram a uma decisão e houve um pedido de vista. Uma cisão dentro do conselho ocorreu depois que o MEC retirou os termos ligados à questão de gênero e sexualidade da BNCC.

— O pedido de vista deu um tempo importante para que os conselheiros possam continuar analisando o material. Mas existe por parte da sociedade a expectativa de concluir o processo o quanto antes, é um documento importante para nortear o trabalho na educação — afirmou o presidente do CNE, Eduardo Deschamps.

Leia mais: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/cne-retira-genero-orientacao-sexual-da-base-curricular-22179063#ixzz513hsMXbS 
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Em livro, o Papa Francisco abre o seu coração em uma entrevista concedida a Dominique Wolton. O pesquisador francês ficou impressionado com a sua “incrível simplicidade”.

Crise dos migrantes, laicismo, pedofilia na Igreja, relações com o islã… O Papa Francisco abre o seu coração em um livro que chegou às livrarias francesas no dia 06 de setembro passsado. O Sumo Pontífice respondeu a Dominique Wolton em uma série de entrevistas, “não menos de 12 encontros em um ano”. O pesquisador francês destaca que “este homem, que é extremamente culto, fala com uma incrível simplicidade”.

Como você convenceu o Papa e por que ele aceitou a entrevista?

Eu propus a ele o projeto sem conhecê-lo inteiramente. Eu escrevi para ele dizendo: “Eis quem eu sou e o que fiz e eu quero propor-lhe um livro sobre a política”. Anexei o plano do livro que eu tinha preparado. O que o levou a aceitar, foi, em primeiro lugar, o fato de que eu sou cientista. Isso o tranquilizou em relação a um jornalista. Eu era um leigo francês, o que lhe interessava, porque ele gosta muito da França e do debate sobre a laicidade. A segunda coisa, que não estava prevista, é que quando nós nos encontramos, houve um verdadeiro encontro humano. Rolou uma química entre as nossas duas histórias, que não tem nada a ver uma com a outra; mas isso criou esse diálogo e esta comunicação.

Como isso aconteceu? Você conversou a sós com ele?

Sim. Na primeira vez, me fizeram esperar em um pequeno escritório e eu levei um intérprete para me ajudar, porque eu não sou nenhum gênio em italiano nem em espanhol. A porta se abriu e este homem chegou de branco. Em seguida, ficamos o tempo todo sozinhos. Não é fácil falar com um papa!

Que tipo de pessoa você teve na sua frente? Um excelente comunicador? Um jesuíta? O Papa?

O que me impressionou imediatamente foi a bondade, os olhos, a gentileza, uma espécie de ternura incrível, uma vontade muito grande, uma lucidez real e uma incrível simplicidade. Nós nos conectamos intelectualmente. Logo depois, tudo aconteceu num plano mais amigável, mas não havia nenhuma linguagem estereotipada ou em todo o caso o mínimo. Em relação aos inúmeros políticos que eu já vi, de presidentes da República, políticos pretensiosos com sua linguagem estereotipada, ele é de uma simplicidade! É a razão de seu sucesso mundial. Este homem, que é extremamente culto, fala com uma incrível simplicidade.

Ele lhe pareceu sozinho? Ele até fala de uma gaiola…

Sim, é a gaiola do Vaticano! Eu não percebi que estivesse enclausurado, embora seja, como ele mesmo disse, uma gaiola muito agradável. Eu penso que ele não está sozinho. Uma boa parte dos católicos está com ele e outra boa parte lhe é hostil, mas ele tem muito mais encontros humanos, políticos e culturais com ateus e agnósticos, porque ele fala de política. É por isso que isso me interessava. Ele é extremamente sensível à sociedade: como ele diz, “a Igreja deve fazer a grande política, não a pequena política”. Portanto, ele odeia a hipocrisia, a rigidez, as críticas sobre os costumes. Ele tem uma visão do humano extremamente cristã e, ao mesmo tempo, sem ilusões. Ele não é um homem de rupturas. O que me impressiona é que é realmente da grande política, no sentido de que sua obsessão é a de estender pontes e não construir muros, isto é, conectar e não excluir. Penso que isso seja de uma inteligência política extrema, no sentido mais amplo da palavra “política”.

Ele é agora um amigo para você?

Eu penso que o que eu posso representar para ele e o que eu posso lhe dizer é importante, e vice-versa. Você sabe, é sempre assim na minha vida. Eu tive uma relação muito forte com Raymond Aron, muito forte com Jean-Marie Lustiger, forte o suficiente com Jacques Delors e muito forte com ele. Em todo caso, é este encontro humano e esta espécie de lucidez, enfim, este otimismo, que eu guardo.

Fonte: Radio France

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Autor de um livro-entrevista com o Sumo Pontífice, o sociólogo conta os segredos dos seus 14 encontros.

Faça um resumo de Politique et Société (Editions de L’Observatoire), que foi publicado na quarta-feira, 06 de setembro.

É um encontro intelectual e humano. Uma janela para o mundo entre o sociólogo agnóstico, pesquisador em comunicação política, que eu sou, e um papa que mede a importância da laicidade e repensa o equilíbrio entre tradição e modernidade. Essas 411 páginas destacam sua luta contra as corrupções e nos mostram que o tempo da Igreja é diferente do nosso.

Como você trabalhou?

Na “clandestinidade”… Manter o segredo não era muito difícil, porque ninguém me conhecia. Por conseguinte, para mim foi fácil entrar no Vaticano anonimamente na companhia do padre Louis de Romanet, meu tradutor, que, tendo trabalhado na Secretaria de Estado, também serviu de peixe-piloto para mim. Eu desci do táxi atrás da Praça de São Pedro, passei pelas várias barreiras marcadas pelo secretário particular do Papa até a Casa Santa Marta, onde ele mora. No começo, eu não sabia quantos encontros eu teria, porque o livro foi sendo construído ao longo de meses. Finalmente, trabalhando sozinho, eu não arrisquei nenhuma fuga.

Descreva para nós este Papa, que você nunca tinha encontrado antes.

Sua inteligência, sua bondade, sua alegria, sua fé, sua misericórdia, seu amor pelo povo, a humanidade me impressionaram; mas também sua energia, sua cultura, sua abertura de espírito e mais ainda a sua firmeza na luta contra a rigidez.

Francisco admitiu ter consultado uma psicanalista...

Uma surpresa que veio naturalmente quando abordamos a questão das mulheres, suas amizades femininas; ele então “confessou” isso sem barreiras entre sua vida pública e sua vida privada. Este papa não esconde estar muito à vontade com elas; a prova: os seus olhos brilham quando fala delas.

Ele é um pessimista ou um otimista?

Ele é, antes, um cético ativo, otimista contracorrente, mas sem ilusões sobre nada. Seu credo é o Evangelho, onde o bem supera o mal, mas não tem um calendário preciso. Ele trava as batalhas essenciais para ele: a batalha contra a hipocrisia, pelo serviço dos pobres, dos excluídos, pela reforma da família, da cúria, com a ambição de colocar as mulheres na Igreja católica. É uma verdadeira batalha esperando dar-lhes um papel importante no futuro, talvez até mesmo que tenham acesso às ordens sagradas. Na verdade, consciente de que se João Paulo II libertou a Europa, seu desafio é enfrentar os desafios da globalização. Mas é “diabolicamente” difícil gerenciar as tensões internacionais.

Um papa muito jesuíta?

Mais franciscano na sua abordagem da pobreza, mas jesuíta na gestão da política e do poder, e argentino no seu cosmopolitismo, no seu humor, na sua forte desconfiança dos Estados Unidos. Para entender isso, é preciso mensurar o quanto a sua relação com a Argentina é visceral…

No entanto, a imprensa argentina ainda não falou sobre o livro.

De fato, os principais jornais argentinos, ao menos por enquanto, ainda não ecoaram o livro. Sem dúvida, eles ainda não perceberam que a eleição de Jorge Mario Bergoglio mudou as prioridades. Ele também está bravo com a Europa, que ele considera não estar à altura. O Papa Francisco está obcecado com as pontes que não devem ser quebradas. Construir muros lembra-lhe muito os muros do comunismo e das ditaduras.

Que lição você aprendeu com essa experiência única?

Nosso relacionamento manteve-se técnico, profissional. Francisco me fez poucas perguntas pessoais, nunca me ofereceu um café ou me convidou para almoçar na Casa Santa Marta. Eu gostaria de dizer que, desde o final do livro, formou-se entre nós uma cumplicidade respeitosa e calorosa que, confesso, me deixa muito orgulhoso. No começo, tive que superar a emoção criada pelo poder do seu olhar, a angústia de conseguir realizar bem este trabalho, cujo projeto eu tinha feito antes de entrar em contato com o Santo Padre. Eu falei em francês lentamente – o Papa compreende perfeitamente o nosso idioma, mas suas palavras são hesitantes, então ele me respondia em italiano. Quando ele releu o livro, ele não censurou nada, apenas fez alguns ajustes, e quando, na semana passada, eu lhe levei a primeira cópia, ele exclamou: “Ah! Que lindo que ficou”. Um momento inesquecível!

Fonte: Paris Match.

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Atenção, artigo em espanhol.

Se realizará en diciembre en Colombia y reunirá a 80 figuras del continente. Por Argentina irán la ministra de Desarrollo Social, Carolina Stanley, el ex presidente de la Cámara de Diputados Julián Domínguez y el intendente de Córdoba Ramón Mestre.

El papa Francisco impulsa la realización de un Congreso para políticos católicos latinoamericanos que se hará en diciembre en Colombia y al que serán invitadas 80 figuras del continente, entre ellos, y por Argentina, la ministra de Desarrollo Social, Carolina Stanley, el ex presidente de la Cámara de Diputados Julián Domínguez y el intendente de Córdoba Ramón Mestre.

“El evento se llamara ‘Encuentro de católicos con responsabilidades políticas al servicio de los pueblos latinoamericanos’, y será el 1, 2 y 3 de diciembre en Colombia. Queremos que sea un intercambio de experiencias, de testimonios y reflexiones sobre la experiencia de los laicos católicos que asumen responsabilidades políticas”, anunció este lunes en diálogo con Télam el vicepresidente de la Pontificia Comisión para América Latina del Vaticano (CAL), Guzmán Carriquiry.

El evento, al que asistirán 80 dirigentes de toda la región, incluidos Stanley, Domínguez y Mestre, contará además con la presencia de “20 pastores”: siete cardenales y 13 Obispos, y está co-organizado por la CAL y el Consejo Episcopal Latinoamericano (CELAM).

“El encuentro tiene el aval, el apoyo y el impulso de Francisco y tiene como antecedente la cuestión que Francisco impuso como tema en 2016 de la asamblea plenaria de la CAL, sobre ‘el indispensable compromiso de los laicos en la vida pública de los países latinoamericanos’. Y 20 días después de esa asamblea envió una carta sobre este tema”, explicó Carriquiry.

Serán 80 invitados propuestos por las conferencias episcopales de la región, en una proporción de entre tres y cuatro por país, con la excepción de Brasil que tendrá ocho representantes. Se sabe el ecuatoriano Rafael Correa, para entonces con mandato cumplido, estará en las deliberaciones.

“Queremos poner a la Iglesia, en especial a sus pastores, en actitud de escucha, ante las situaciones y necesidades que viven los católicos con responsabilidades políticas”, detalló el laico uruguayo.

Explicó que la idea no es “formar un bloque político católico en América Latina, ni restaurar un partido de inspiración cristiana”, sino “invitar católicos dentro del espectro plural de las opciones políticas de cada país”. “Y vamos a buscar que la comunión entre ellos sea más fuerte en la sede eclesial que las contraposiciones políticas, que seguirán existiendo y no vamos a amortiguar”, anunció.

“Vamos a tratar de escuchar qué es lo que el magisterio de Papa Francisco y el Episcopado latinoamericano piden a los desafíos y las tareas de la política en América Latina”, agregó.

Tras participar junto a la plana del Celam de una reunión de trabajo en Roma sobre las conclusiones de la asamblea plenaria que la entidad tuvo la semana pasada en El Salvador, Carriquiry explicó que se buscará “estudiar cuál es el identikit ideal del católico en la política y cómo formar una nueva generación de católicos para dignificar la política en América Latina”.

El año pasado, en su carta a la CAL, Francisco planteó que “debemos reconocer que el laico por su propia realidad, por su propia identidad, por estar inmerso en el corazón de la vida social, pública y política, por estar en medio de nuevas formas culturales que se gestan continuamente tiene exigencias de nuevas formas de organización y de celebración de la fe”.

La información es publicada por Telam, 22-05-2017.

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A Câmara dos Deputados enviou ao STF seu posicionamento, por escrito, contra a liberação do aborto até a 12ª semana de gravidez, como quer o PSOL. O documento, assinado por Rodrigo Maia, sustenta que se o Supremo acatar a ação, estará indo contra o Congresso.

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Fonte: O Antagonista

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É tristemente comum a confusão que perdura no meio de muitos cidadãos, inclusive católicos, no tocante à diferença entre política e politicagem, ou política e partidarismos. O católico não deve fazer politicagem, mas deve fazer política.

Política é apenas a participação ativa e consciente nas decisões da sociedade, o que não é apenas um direito, mas também uma obrigação moral: ninguém pode se isentar da sua cota de responsabilidade nas decisões da sua própria comunidade. Somos TODOS responsáveis, em alguma medida, pelos rumos da nossa pátria, do nosso Estado, da nossa cidade, do nosso bairro, da nossa rua.

A Igreja deixa esta responsabilidade bem clara na sua doutrina social – e o Papa Francisco nos lembra disso com frequência. 

A fim de reforçar esta consciência, compartilhamos a seguinte mensagem de Dom Gil Antônio Moreira, arcebispo de Juiz de Fora, no Estado brasileiro de Minas Gerais:

* * *

Consta dos princípios cristãos o dever de colaborar com a sociedade na busca do bem comum. É ‘sagrado’ o dever de participar leal e responsavelmente da vida pública e política, buscando uma sociedade justa, fraterna e pacífica. A Igreja faz isto a partir do Evangelho cujo núcleo é a pessoa de Jesus Cristo, que veio para salvar a pessoa humana de forma integral e definitiva.

Para esclarecer sobre a participação do fiel cristão na vida pública, social e política, o Pontifício Conselho “Justiça e Paz” publicou no ano de 2004 o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, que estabelece balizas para este fim.

São João Paulo II, na encíclica Sollicitudo Rei Socialis (1987), enfatizava que não é possível amar o próximo como a si mesmo e perseverar nesta atitude sem firme e constante determinação de empenhar-se em prol do bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos.

Já o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), na Constituição Conciliar Gaudium et Spes, proclamava que as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, são as mesmas da Igreja.

Este dever de colaboração social é também um direito que a democracia, regime que todos prezamos, garante a todos os cidadãos, independentemente de credo religioso. O direito democrático prevê a liberdade de expressão e garante a liberdade religiosa como algo inalienável na construção da civilização. Tais direitos estão explícitos na Constituição Federal Brasileira nestes termos: Art. 5.º, inciso VI: é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias. O inciso VIII garante aos que creem o direito de expressão e todos os demais diretos comuns a todos os demais cidadãos: ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.

O referido direito é internacionalmente reconhecido, como se pode ver na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu artigo 18: Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Este direito importa a liberdade de mudar de religião, ou convicção, bem assim a liberdade de manifestá-las, isoladamente ou em comum, em público ou em particular, pelo ensino, pelas práticas, pelo culto e pela observância dos ritos. Defendendo os mesmos direitos, o Pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, reza em seu artigo 12: Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião.

Por esses e por outros artigos de leis, nenhum governo, nenhum ideólogo nem qualquer outra pessoa pode, em nome da laicidade, impedir ou cercear a ação dos cidadãos que professam uma religião. Em nome da laicidade, ninguém, a não ser que seja totalitarista ou deseje impor uma ditadura destruidora da democracia, pode negar à Igreja o direito de existir e de se posicionar, de ensinar a seus fiéis e de expressar publicamente suas convicções a respeito da dignidade humana, mesmo porque, esta matéria não é um artigo da sua dogmática, mas faz parte de uma ordem natural aceitável pela pura razão humana.

O Estado pode e deve ser laico, mas não pode ser laicista, nem pode impor uma única religião a ser seguida, como também não pode impor o ateísmo como regra geral ao seu povo, mesmo porque isto já seria uma posição religiosa praticada por ele.

O povo brasileiro, em sua imensa maioria, é fiel e temente a Deus e merece ser respeitado no que lhe atribui a legislação. O respeito e a defesa do direito à prática religiosa são indispensáveis para que haja paz e justiça para todos; do contrário, cair-se-ia no caos social.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora

Aleteia Brasil

Urna-eleitoral

Fonte: Catholic Answers (EUA) – http://www.catholic.com
(Tradução de Carlos Nabeto)

Para os Verdadeiros Católicos

Este Guia oferece declarações claras e concisas acerca de cinco assuntos morais inegociáveis. Ao terminar de lê-lo, não restará dúvida ou confusão a respeito do ensino da Igreja, sobre o que ela exige de seus filhos.

Nenhuma parte deste Guia deverá ser interpretada como apoio para algum candidato ou partido político.

Como este guia do eleitor pode ajudá-lo?

Este Guia do Eleitor o ajudará a votar de modo consciente, fundamentado no ensino moral católico. Este Guia o auxiliará a eliminar aqueles candidatos que apóiam políticas irreconciliáveis com as normas de moralidade sustentadas por todo cristão.

Face à maioria dos temas apresentados pelos candidatos e legisladores, os católicos podem favorecer um ou outro, sem ter que agir contra a sua fé. Com efeito, a maioria dos assuntos não necessita de uma “postura católica”.

Porém, alguns assuntos são tão importantes, tão fundamentais, que apenas uma única ação pode estar de acordo com o ensino do evangelho cristão. Ninguém que defenda uma postura incorreta nesses assuntos pode dizer que age segundo as normas morais da Igreja.

Este Guia do Eleitor identifica os cinco assuntos “inegociáveis” e o ajuda a chega numa lista de candidatos aceitáveis, que postulam um cargo político, seja a nível nacional, estatal ou municipal.

Os candidatos que respaldarem qualquer dos cinco assuntos inegociáveis, devem ser considerados desqualificados para o desempenho de cargo público e, portanto, não devem receber o seu voto. Assim, você deverá fazer a sua escolha entre os candidatos restantes.

Seu papel como eleitor católico

Os católicos têm a obrigação moral de promover o bem comum ao exercer o seu privilégio de voto (cf. CIC, §2240). As autoridades civis não são as únicas responsáveis pelo país. “O serviço do bem comum exige dos cidadãos que cumpram com a sua responsabilidade na vida da comunidade pública” (CIC, §2239). Isto significa que os cidadãos devem participar do processo político na urna de votação.

Porém, a votação não pode ser arbitrária. “A consciência cristã bem formada não permite a alguém favorecer com o próprio voto a concretização de um programa político ou a aprovação de uma lei particular que contenham propostas alternativas ou contrárias aos conteúdos fundamentais da fé e da moral” (CVP nº 4).

Algumas questões sempre estarão erradas e ninguém poderá votar a favor delas direta ou indiretamente. Os cidadãos votam a favor desses males quando votam nos candidatos que se propõem a promovê-los. Portanto, os católicos não devem votar a favor de alguém que promove programas ou leis intrinsecamente más.

Os cinco assuntos inegociáveis

Estes cinco assuntos são chamados inegociáveis porque contêm atos que sempre são moralmente maus e nunca podem ser promovidos pela lei. É pecado grave defender ou promover qualquer destes atos e nenhum candidato que verdadeiramente deseja fomentar o bem comum pode apoiar estes cinco assuntos inegociáveis:

1. O Aborto

Sobre uma lei que permite o aborto, a Igreja ensina que “nunca é lícito submeter-se a ela, nem participar em uma campanha de opinião a favor de uma lei semelhante, nem dar-lhe o sufrágio do próprio voto” (EV nº 73). O aborto é o assassinato intencional de um ser humano inocente e, portanto, é uma espécie de homicídio.

A criança sempre é parte inocente e nenhuma lei pode permitir que lhe seja tirada a vida. Mesmo quando uma criança é concebida em razão de estupro ou incesto, a criança não tem culpa e não deve sofrer a morte pelo pecado dos outros.

2. A Eutanásia

Às vezes disfarçada sob a denominação de “morte misericordiosa”, a eutanásia é uma forma de homicídio. Ninguém tem o direito de tirar sua própria vida (suicídio) e ninguém tem o direito de tirar a vida de uma pessoa inocente.

Com a eutanásia, os doentes e os idosos são assassinados sob um sentido de compaixão mal fundamentado, pois a verdadeira compaixão não pode incluir o cometimento de atos intrinsecamente maus contra outra pessoa (cf. EV nº 73).

3. As Pesquisas com Células Estaminais Fetais

Os embriões humanos são seres humanos. “O respeito pela dignidade do ser humano exclui toda manipulação experimental ou exploração do embrião humano” (CDF nº 4b).
Os recentes avanços científicos demonstram que qualquer cura que possa resultar dos experimentos com células estaminais fetais pode também ser desenvolvida a partir do uso de células estaminais adultas. As células estaminais adultas podem ser obtidas sem causar mal aos adultos das quais provêem. Portanto, já não existe um argumento médico favorável ao uso das células estaminais fetais.

4. A Clonagem Humana

“As tentativas… para se obter um ser humano sem conexão alguma com a sexualidade, mediante ‘fissão gemelar’, clonagem, partenogênesis, devem ser consideradas contrárias à moral, porque estão em contraste com a dignidade tanto da procriação humana como da união conjugal” (RVH 1,6).

A clonagem humana também acaba sendo uma forma de homicídio porque destrói o clone “rejeitado” ou “fracassado”; no entanto, cada clone é um ser humano.

5. O “Matrimônio” Homossexual

O verdadeiro matrimônio é a união entre um homem e uma mulher. O reconhecimento legal de qualquer outra forma de “matrimônio” menospreza o verdadeiro matrimônio e o reconhecimento legal das uniões homossexuais na realidade causa dano aos homossexuais, pois os anima a continuar vivendo sob um acordo objetivamente imoral.

“No caso de uma Assembléia Legislativa propor pela primeira vez um projeto de lei a favor da legalização das uniões homossexuais, o parlamentar católico tem o dever moral de expressar clara e publicamente seu desacordo e votar contra o projeto de lei. Conceder o sufrágio do próprio voto a um texto legislativo tão nocivo ao bem comum da sociedade é um ato gravemente imoral” (UPH nº 10).

Com quais cargos políticos devo me preocupar?

As leis são aprovadas pelo Legislativo, o Executivo as faz cumprir e o Judiciário as interpreta. Isto quer dizer que você deve se preocupar com qualquer candidato ao Legislativo, ou qualquer um que se apresente como candidato ao Poder Executivo e, [nos países onde for cabível] os que se candidatam à magistratura. E isto não apenas em nível nacional, mas também estadual e municipal.

É certo que, quando o cargo é inferior, há menor probabilidade do candidato apoiar certas causas. Por exemplo, é possível que a Câmara Municipal jamais discuta o tema da clonagem humana. Porém, é muitíssimo importante avaliar cada candidato antes das eleições, sem importar o cargo que está disputando.

Poucas pessoas alcançam um alto posto sem ter ocupado um cargo menor. Algumas poucas pessoas se convertem em deputados, em senadores ou presidentes sem ter sido antes eleitas para um cargo menor. Porém, a maioria dos deputados, senadores e presidentes começaram sua carreira política em nível local. O mesmo ocorre com os deputados estaduais; muitos deles começaram nas Câmaras Municipais e associações de bairro, galgando aos poucos a carreira política.

Os candidatos que futuramente postularão cargos superiores procederão principalmente dos atuais candidatos a cargos menores. Por isso, é prudente empregar os mesmos princípios para os candidatos municipais como para os estaduais e federais.

Se os candidatos que estão equivocados nos cinco assuntos inegociáveis fracassarem na eleição para os cargos menores, talvez não postularão cargos superiores. Isto facilitaria a eleição dos melhores candidatos para os postos de maior influência em nível estadual e nacional.

Como determinar a postura de um candidato

1. Isto poderá se conseguir com maior facilidade quanto mais importante for o cargo. Por exemplo: apresentar estes assuntos [inegociáveis] aos deputados e senadores e determinar sua postura. O mesmo podemos fazer em nível estadual. Em ambos os casos, conhecer a postura de um candidato pode ser fácil ao ler artigos em jornais e revistas, buscar suas opiniões na Internet ou avaliar suas propostas impressas e distribuídas durante o período eleitoral.

2. Um pouco mais difícil é conhecer as opiniões dos candidatos aos cargos municipais, porque poucos deles tiveram a oportunidade de considerar a legislação sobre temas como o aborto, a clonagem e a santidade do matrimônio. Porém, estes candidatos, por serem locais, freqüentemente podem ser contatados diretamente ou mantêm comitês eleitorais onde poderão explicar sua postura perante estes temas.

3. Se não for possível determinar a postura do candidato por outros meios, não hesite em escrever-lhe diretamente e perguntar-lhe qual a sua posição sobre cada um dos assuntos inegociáveis.

Como não se deve votar

1. Não confie seu voto apenas à sua filiação partidária, em seus anteriores hábitos de votação ou na tradição familiar de voto. Há alguns anos, estas eram formas confiáveis para determinar em quem se poderia votar, mas hoje não são mais confiáveis. Deve-se olhar cada candidato como um indivíduo. Isto significa que você pode votar em candidatos de partidos distintos.

2. Não vote pela aparência ou personalidade do candidato ou por sua astúcia perante os meios de comunicação. Alguns desses candidatos atraentes, agradáveis e que dizem o que convém apóiam males intrínsecos quando deveriam se opor a eles, enquanto que outros candidatos, que parecem simples, cansados ou incomodados pelas câmaras defendem leis que estão de acordo com os princípios cristãos.

3. Não vote em candidatos apenas porque se declaram católicos. Infelizmente, muitos dos candidatos que se dizem católicos rejeitam os ensinamentos básicos da moral católica. Eles apenas são “católicos” porque querem o voto dos católicos.

4. Não selecione os candidatos baseando-se apenas no pensamento: “O que vou ganhar?”. Tome sua decisão optando pelos candidatos que pareçam mais dispostos a promover o bem comum, ainda que você não se beneficie direta ou imediatamente do ordenamento legal que propõem.

5. Não premie com seu voto os candidatos que estejam corretos em assuntos menos importantes, mas que estão equivocados em assuntos morais fundamentais. Pode ser que um candidato adquira uma certa consideração por ter votado exatamente como você deseja, embora já tenha votado a favor – digamos – da eutanásia. Tal candidato jamais deve receber o seu voto. Os candidatos devem saber que estar equivocado em um dos cinco assuntos inegociáveis é suficiente para excluí-los da sua consideração.

Como votar

1. Para cada cargo, determine primeiro a posição que cada candidato possui em cada um dos cinco assuntos inegociáveis.

2. Elimine da sua relação os candidatos que estiverem equivocados em qualquer um dos assuntos inegociáveis. Não importa que tenham razão em outros assuntos; devem ser desprezados se estiverem equivocados em um só dos não negociáveis.

3. Escolha entre os candidatos restantes, baseando-se no seu juízo sobre as posições de cada candidato em outros assuntos de menor importância.

Quanto não há um candidato “aceitável”

Em alguns debates públicos, cada candidato assume uma postura equivocada em um ou mais assuntos inegociáveis. Nesse caso, você pode votar no candidato que assuma menos posturas incorretas; ou que pareça ser mais incapaz para fazer avançar a legislação imoral; ou pode, ainda, não votar em ninguém.

O papel da sua consciência

A consciência é como um alarme: o adverte quando está a ponto de cometer algum erro. Ela apenas não determina o que é bom ou mau. Para que a sua consciência funcione corretamente, deve estar bem informada. Ou seja, você deve se informar sobre o que é bom e o que é mau. Só assim sua consciência será um guia confiável.

Infelizmente, muitos católicos hoje em dia não formaram suas consciências adequadamente sobre os assuntos fundamentais da moralidade. O resultado é que suas consciências não disparam nos momentos apropriados, inclusive no dia das eleições.

Uma consciência bem formada jamais contradiz o ensino moral católico. Por essa razão, se você tem dúvidas sobre o caminho que deve trilhar a sua consciência no momento de votar, ponha sua confiança no firme ensino moral da Igreja (o Catecismo da Igreja Católica é uma excelente fonte de ensino moral autêntico).

Quando acabar de ler este Guia do Eleitor

Por favor, não pare com a simples leitura deste Guia. Leia-o, aprenda com ele e prepare a sua seleção de candidatos baseado nele. Após, forneça este Guia do Eleitor a um amigo e peça-lhe que o leia e o repasse a outros. Quanto mais pessoas votarem de acordo com os princípios morais básicos, melhor será o nosso país.

Abreviações:

CIC – Catecismo da Igreja Católica
CVP – Congregação para a Doutrina da Fé: Nota doutrinal sobre algumas questões relativas ao compromisso e a conduta dos católicos na vida política.
CDF – Pontifício Conselho para a Família: Carta dos Direitos da Família.
EV – João Paulo II: Carta Encíclica Evangelium Vitae (O Evangelho da Vida)
RVH – Congregação para a Doutrina da Fé: Instrução acerca do respeito da vida humana nascente e dignidade da procriação.
UPH – Congregação para a Doutrina da Fé: Considerações acerca dos projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais

VATICAN CITY, VATICAN - SEPTEMBER 18: Pope Francis attends his weekly General Audience in St. Peter's Square on September 18, 2013 in Vatican City, Vatican. Pontiff called on Catholics together with other Christians to continue to pray for peace in the most trouble parts of the world. (Photo by Franco Origlia/Getty Images)

Vossa Santidade
Papa Francisco
São Paulo, 30 de agosto de 2016.

Santíssimo Padre,

Dirijo-me a Vossa Santidade para informá-lo da gravíssima situação política e institucional que vive o Brasil, país que tive a honra de presidir de 2003 a 2010.

Tomo a liberdade de escrever-lhe considerando o respeito e a amizade que Vossa Santidade tem pelo Brasil, pelos quais somos todos imensamente gratos.

Orgulho-me de ter conseguido, apesar da complexidade inerente às grandes democracias e dos problemas crônicos do Brasil, unir o meu país em torno de um projeto de desenvolvimento econômico com inclusão social, que nos fez dar um verdadeiro salto histórico em termos de crescimento produtivo, geração de empregos, distribuição de renda, combate à pobreza e ampliação das oportunidades educacionais.

Por meios pacíficos e democráticos, fomos capazes de tirar o Brasil do mapa da fome no mundo elaborado pela ONU, libertamos da miséria mais de 35 milhões de pessoas, que viviam em condições desumanas, e elevamos outras 40 milhões a patamares médios de renda e consumo, no maior processo de mobilidade social da nossa história.

Em 2010, como se sabe, fui sucedido pela Presidenta Dilma Rousseff, também do Partido dos Trabalhadores, que havia dedicado sua vida à luta contra a ditadura militar, pela democracia e pelos direitos da população pobre do nosso país.

Mesmo enfrentando um cenário econômico internacional adverso, a Presidenta Dilma conseguiu manter o país no rumo do desenvolvimento e consolidar os programas sociais emancipadores, prosseguindo na redução das enormes desigualdades materiais e culturais ainda existentes na sociedade brasileira.

Em 2014, a Presidenta Dilma foi reeleita com 54 milhões de votos, derrotando uma poderosa coalizão de partidos, empresas e meios de comunicação que pregava o retrocesso histórico do país, com a redução de importantes programas de inclusão social, a supressão de direitos básicos das classes populares e a alienação do patrimônio público construído com o sacrifício de inúmeras gerações de brasileiros.

A coalizão adversária, vencida nas urnas em 2002, 2006, 2010 e 2014, não se conformou com a derrota e desde a proclamação do resultado procurou impugná-lo por todos os meios legais, sem alcançar nenhum êxito.

Esgotados os recursos legais, no entanto, em vez de acatar a decisão soberana do eleitorado, retomando o seu legítimo trabalho de oposição e preparando-se para disputar o próximo pleito presidencial – como o PT sempre fez nas eleições que perdeu –, os partidos derrotados e os grandes grupos de mídia insurgiram-se contra as próprias regras do regime democrático, passando a sabotar o governo e a conspirar para apossar-se do poder por meios ilegítimos.

Ao longo de todo o ano de 2015, torpedearam de modo sistemático os esforços do governo para redefinir a política econômica no sentido de resistir ao crescente impacto da crise internacional e recuperar o crescimento sustentável. Criaram um clima artificial de impasse político e institucional, com efeitos profundamente danosos sobre a vida do país, contaminando o ambiente de negócios, deixando inseguros produtores e consumidores, constrangendo as decisões de investimento. No afã de inviabilizar o governo, apostaram contra o país, chegando até mesmo a aprovar no parlamento um conjunto de medidas perdulárias e irresponsáveis destinadas a comprometer a estabilidade fiscal.

E, finalmente, não hesitaram em deflagrar um processo de impeachment inconstitucional e completamente arbitrário contra a Presidenta da República.

Dilma Rousseff é uma mulher íntegra, cuja honestidade pessoal e pública é reconhecida até pelos seus adversários mais ferrenhos. Nunca foi nem está sendo acusada de nenhum ato de corrupção. Nada em sua ação governamental pode justificar, sequer remotamente, um processo de cassação do mandato que o povo brasileiro livremente lhe conferiu.

A Constituição brasileira é categórica a esse respeito: sem a existência de crime de responsabilidade, não pode haver impeachment. E não há nenhum – absolutamente nenhum – ato da Presidenta Dilma que possa ser caracterizado como crime de responsabilidade. Os procedimentos contábeis utilizados como pretexto para a destituição da Presidenta são idênticos aos adotados por todos os governos anteriores e pelo próprio vice-presidente Michel Temer nas ocasiões em que este substituiu a Presidenta por razão de viagem. E nunca foram motivo de punição aos governantes, muito menos justificativa para derrubá-los. Trata-se, portanto, de um processo estritamente político, o que fere frontalmente a Constituição e as regras do sistema presidencialista, no qual é o povo que escolhe diretamente o Chefe de Estado e de Governo a cada quatro anos.

As forças conservadoras querem obter por meios escusos aquilo que não conseguiram democraticamente: impedir a continuidade e o avanço do projeto de desenvolvimento e inclusão social liderado pelo PT, impondo ao país o programa político e econômico derrotado nas urnas.

Querem a todo custo comandar o Estado para apossar-se do patrimônio nacional – como já começa a acontecer com as reservas petrolíferas em águas profundas – e desmontar a rede de proteção aos trabalhadores e aos pobres que foi ampliada e consolidada nos últimos treze anos.

As mesmas forças que tentam arbitrariamente derrubar a Presidenta Dilma, e implantar a sua agenda antipopular, querem também criminalizar os movimentos sociais e, sobretudo, um dos maiores partidos de esquerda democrática da América Latina, que é o PT. E não se trata de mera retórica autoritária: o PSDB, principal partido de oposição, já apresentou formalmente uma proposta de cancelamento do registro do PT, com vistas a proibi-lo de existir. Temem que, em 2018, em eleições livres, o povo brasileiro volte a me eleger Presidente da República, para resgatar o projeto democrático e popular.

A luta contra a corrupção, que é uma mazela secular do Brasil e de tantos outros países, e deve ser combatida de modo permanente por todos os governos, foi distorcida e transformada em uma implacável perseguição midiática e política ao PT. Denuncias contra líderes de partidos conservadores são sistematicamente abafadas e arquivadas enquanto acusações semelhantes a qualquer personalidade do PT tornam-se de imediato, à revelia do devido processo legal, condenação irrevogável na maior parte dos meios de comunicação.

A verdade é que o combate à corrupção no Brasil passou a ser muito mais vigoroso e eficaz a partir dos governos do PT, com o respeito, que antes não existia, à plena autonomia do Ministério Público e da Polícia Federal no exercício de suas atribuições; a ampliação do orçamento, do quadro de funcionários e a modernização tecnológica dessas instituições e dos demais órgãos de controle; a nova lei de acesso à informação e a divulgação das contas públicas na internet; os acordos de cooperação internacional no enfrentamento da corrupção; e o estabelecimento de punições muito mais rigorosas para corruptos e membros de organizações criminosas.

Todos nós, democratas, interessados no aperfeiçoamento institucional do país, apoiamos o combate à corrupção. As pessoas que comprovadamente tiverem cometido crimes, devem pagar por eles, dentro da lei. Mas os juízes, promotores e policiais também estão obrigados a cumprir a lei e não podem abusar do seu poder contra os direitos dos cidadãos. As pessoas não podem ser publicamente condenadas (e terem a sua reputação destruída) antes da conclusão do devido processo legal, e menos ainda por meio do vazamento deliberado de informações praticado pelas próprias autoridades com fins políticos. Uma justiça discriminatória e partidarizada será fatalmente uma justiça injusta.

Eu, pessoalmente, não temo nenhuma investigação. Desde que iniciei a minha trajetória política e, particularmente nos últimos dois anos, tive toda a minha vida pública e familiar devassada – viagens, telefonemas, sigilo fiscal e bancário –, fui alvo de todo o tipo de insinuações, mentiras e ataques publicados como verdade absoluta pela grande mídia, sem que tenha sido encontrado qualquer desvio na minha conduta ou prova de envolvimento em qualquer ato irregular. Se a justiça for imparcial, as acusações contra mim jamais prosperarão. O que não posso aceitar são os atos de flagrante ilegalidade e parcialidade praticados contra mim e meus familiares por autoridades policiais e judiciárias.

É inadmissível a divulgação na tv de conversas telefônicas sem nenhum conteúdo político, a coação de presos para fazerem denúncias mentirosas contra mim em troca da liberdade, ou a condução forçada, completamente ilegal, ocorrida em março último, para prestar depoimento do qual eu sequer tinha sido notificado.

Por isso, meus advogados entraram com uma representação no Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, relatando os abusos cometidos por algumas autoridades judiciais que querem a todo custo me eliminar da vida política do país.

A minha trajetória de mais de 40 anos de militância democrática, que começou na resistência sindical durante os anos sombrios da ditadura, prosseguiu no esforço cotidiano de conscientizar e organizar a sociedade brasileira pela base, até ser eleito como o primeiro Presidente da República de origem operária, é o meu maior patrimônio e a ele ninguém me fará renunciar. Os vínculos de fraternidade que construí com os brasileiros e brasileiras na cidade e no campo, nas favelas e nas fábricas, nas igrejas, nas escolas e universidades, e che levaram a maioria do nosso povo a apoiar o vitorioso projeto de inclusão social e promoção da dignidade humana, não serão cancelados por nenhum tipo de arbitrariedade. Da mesma forma, nada me fará abrir mão, como sabem as lideranças de todo o mundo com as quais trabalhei em harmonia e estreita cooperação  – antes, durante e depois dos meus mandatos presidenciais – do compromisso de vida com a construção de um mundo sem guerras, sem fome, com mais prosperidade e justiça para todos.

Agradeço desde já a generosa atenção que Vossa Santidade dedicou a esta mensagem e coloco-me à disposição, como sempre estive, para qualquer esclarecimento ou reflexão de interesse comum.

Reiterando o meu respeito e consideração, despeço-me fraternalmente.

Luiz Inácio Lula da Silva

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O discurso do papa à Europa é o equivalente do discurso “I have a dream”, de Martin Luther King Jr.: o sonho de Francisco com “um novo humanismo europeu”, em que a Igreja desempenha o seu papel como comunidade evangelizadora, mas também promotora de diálogo entre cristãos e entre pessoas de fés diferentes.

A opinião é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor de história do cristianismo e diretor do Institute for Catholicism and Citizenship, da University of St. Thomas, nos EUA. O artigo foi publicado no sítio L’Huffington Post.

Eis o texto.

No ano do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, os políticos que vão a Roma para ver o Papa Francisco buscam uma indulgência diferente daquela que enfureceu Martinho Lutero há 500 anos: é uma indulgência para serem perdoados pela fraqueza da política e, em alguns casos, a tentativa de uma transfusão de autoridade daquele que tem mais autoridade do que todos no cenário mundial hoje.

O Vaticano de Francisco continua vendo a procissão de líderes políticos europeus e mundiais, ou aspirantes a líderes, como Bernie Sanders. É um claro sinal da autoridade moral do papa jesuíta argentino no vácuo político que caracteriza o mundo ocidental hoje.

Nessa sexta-feira, foi a vez da chanceler Merkel e dos líderes institucionais da União Europeia: Schulz, Juncker, Tusk,Draghi. Na Sala Regia do Vaticano, um verdadeiro parterre de rois (incluindo o rei da Espanha) prestou homenagem ao papa que recebia um prêmio de claro significado político.

O compromisso era para o prestigiado Prêmio Carlos Magno (Karlspreis), edição 2016. Francisco é o primeiro líder do “global South” do mundo a receber o prêmio, e apenas o quarto não europeu, junto com outro trio que tem pouco em comum com o radicalismo político do papa jesuíta: George C. Marshall (1959, idealizador do plano homônimo para salvar a Europa da fome depois de 1945), o secretário de Estado do presidente Nixon, Henry Kissinger (1987), e o presidente estadunidense Bill Clinton (2000).

O prêmio conferido ao Papa Francisco segue alguns meses de alta política ecumênica internacional do pontificado: a viagem à África Central, as relações com o patriarca ortodoxo de Moscou (o primeiro encontro na história, em Cuba, em fevereiro) e com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu (a visita aos refugiados em Lesbos no mês passado) e justamente alguns meses antes da viagem de Francisco à Suécia para os 500 anos da Reforma protestante (em outubro próximo). É parte da política e da espiritualidade das viagens de Francisco, particularmente às “periferias da Europa” – Lampedusa, Sarajevo, Albânia – marcadas pela violência da história recente.

No seu discurso ao Karlspreis 2016, o Papa Francisco citou o seu discurso ao Parlamento Europeu de novembro de 2014, em que falava de uma Europa não mais fértil, incapaz de gerar processos de inclusão e transformação, de uma Europa que vai se entrincheirando.

No discurso dessa sexta-feira, Francisco ampliou e aprofundou a sua visão do continente europeu. Ele falou da tentação dos egoísmos e de construir recintos particulares. Citou Elie Wiesel e a necessidade de uma “transfusão da memória”. Citou os pais fundadores da Europa e a necessidade de uma “solidariedade de fato” e do laço entre solidariedade e paz. Ele exortou os europeus a recomeçarem um trabalho construtivo para o futuro do continente.

O centro do discurso foi focado no modo de atualizar a ideia de Europa, com um novo humanismo baseado em três capacidades: 1) capacidade de integrar (com a citação do teólogo alemão-polonês Erich Przywara, um dos mais importante para a visão de Francisco); 2) capacidade de dialogar; 3) capacidade de gerar.

Francisco defendeu o papel particular do continente europeu, mas dizendo “não” às colonizações ideológicas: uma Europa modelo de novas sínteses e de diálogo, modelo político e social inclusivo de todos os atores.

Francisco apelou a uma “justa distribuição dos bens da terra”, a “novos modelos econômicos mais inclusivos e equitativos”, à passagem “de uma economia líquida a uma economia social”, em que a prioridade seja o acesso ao trabalho, e não uma economia especulativa. Uma Europa solidária e aberta aos jovens, aos migrantes, aos refugiados.

Francisco falou de uma “Europa cansada, mas ainda rica em energias”. O fundamento teológico do discurso é claro: “Deus deseja habitar entre os homens” e pode fazer isso em um mundo fecundado pelas suas testemunhas.

A conclusão do discurso é o equivalente para o papa do discurso “I have a dream”, de Martin Luther King Jr.: o sonho de Francisco com “um novo humanismo europeu”, em que a Igreja desempenha o seu papel como comunidade evangelizadora, mas também promotora de diálogo entre cristãos e entre pessoas de fés diferentes.

Na sua crise mais grave durante os últimos 60 anos, a Europa unida parece quase se confiar novamente ao Sacro Império Romano de Carlos Magno e do papa de Roma. São os tempos longos da história, diante dos tempos breves dos ciclos eleitorais e dos tempos muito breves do ciclo das notícias.

Seria possível pensar em um retorno da hegemonia geopolítica alemã ao Vaticano, mesmo depois da renúncia do Papa Bento XVI. Mas é uma história mais longa. O projeto europeu nasce depois da Segunda Guerra Mundial de líderes europeus católicos que pensam e falam em alemão – Adenauer, De Gasperi, Schuman: tanto que o projeto europeu foi visto com desconfiança por muitos protestantes, que julgavam a nova comunidade dos Estados europeus como o filho ilegítimo de um casamento de interesses, que se tornou necessário por causa do anticomunismo, entre o Vaticano de Pio XII e os Estados Unidos à frente da Guerra Fria.

Em tempos recentes, foi um “católico adulto” como Romano Prodi (entre muitos outros) que pensou e quis firmemente o alargamento para 27, pouco mais de uma década atrás (mas parece ter se passado muito mais tempo).

É possível dizer que a União Europeia redescobre hoje a lição de João Paulo II sobre as “raízes cristãs” do continente, e em parte isso é verdade. Mas, seguramente, é um novo modo, o de Francisco, para encarnar aquelas raízes. A diversidade ideológica dos líderes europeus que escutavam Francisco no Vaticano nessa sexta-feira (entre eles, Matteo Renzi, uma das suas poucas vezes no Vaticano) testemunha a profunda remistura das identidades políticas, mas também o reconhecimento de um profundo substrato de valores comuns ao continente.

Na Europa incapaz de gerir a crise humanitária, no ressurgimento dos nacionalismos, a centralidade do Vaticano continua exercendo um papel no cenário mundial.

Esse Karlspreis 2016 conferido ao Papa Francisco lembra o Prêmio Balzan da Paz ao Papa João XXIII em 1963. Mas é um mundo diferente e uma Igreja diferente dos anos 1960. A centralidade do Vaticano continua mesmo depois da saída de cena dos papas europeus (por enquanto, pelo menos) e mesmo depois do desaparecimento do catolicismo político europeu (com a importante exceção alemã).

É uma centralidade geopolítica, espiritual e simbólica, que nenhum outro centro religioso tem hoje – nem mesmo Jerusalém. A secularização, no sentido de perda de fé, é, para a política, não menos grave do que para a Igreja. A Europa não é apenas um espaço e um mercado comum, mas acima de tudo um artigo de fé. A assembleia dos políticos reunidos no Vaticano nessa sexta-feira, diante de Francisco, parecia muito com uma confissão de fé e também com uma confissão de pecados.

AFP4559389_Articolo“O Papa Francisco está tentando transformar Roma no trampolim para uma Igreja sinodal e colegiada. É uma Igreja não apegada à Europa ou a uma cultura em particular. Não está claro aonde este esforço irá levar. Mas claro está que a visão de Roma e do Vaticano que o papa jesuíta possui decorre não só a partir de sua eclesiologia, mas também de sua leitura dos sinais dos tempos”, escreve Massimo Faggioli, professor de História do Cristianismo na University of St. Thomas, EUA, em artigo publicado por Global Pulse, 27-04-2016.

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Frequentemente o Papa Francisco é acusado de ser populista. No entanto, ele vem tendo muito sucesso em estabelecer relações entre Roma e as demais capitais da assim-chamada geopolítica cristã: Constantinopla (“a segunda Roma” do cristianismo bizantino), Moscou (“a terceira Roma” da ortodoxia russa) e Nova York (a capital cultural do país cristão mais militante do mundo).

A capacidade do papa de estabelecer tais conexões ficou evidente já no início de seu pontificado. Mas ultimamente algumas coisas se aceleraram.

Num breve período de oito dias (de 8 a 16 de julho), ele publicou a exortação pós-sinodal fundamentalmente importanteAmoris Laetitia, habilmente lidou com a presença diplomaticamente delicada de um presidenciável americano no Vaticano e viajou para a Grécia com dois importantes líderes ortodoxos para se encontrar com refugiados mantidos na ilha de Lesbos.

As viagens de Francisco estão sendo significativas não só por causa da geografia física delas; quer dizer, os destinos para onde ele foi. As suas viagens também esboçam uma outra geografia: um mapa daquelas figuras que ele consegue atrair e envolver em suas iniciativas.

O papa de 79 anos “atraiu” a colaboração de Bartolomeu I, o Patriarca de Constantinopla (um verdadeiro parceiro de diálogo), e o Arcebispo Jerônimo, chefe da Igreja Ortodoxa Grega, um dos mais relutantes ao diálogo com o catolicismo romano. Ambos fizeram parte de sua visita emblemática a Lesbos.

De forma inesperada, Francisco foi também capaz de engajar Kirill I, o Patriarca de Moscou, num encontro histórico entre os dois na Cuba comunista – uma das ironias da história da Igreja.

Estas iniciativas possuem consequências ecumênicas para o catolicismo assim como para a tradição ortodoxa. O Bispo de Roma está atraindo os hierarcas da ortodoxia oriental e ajudando-os a lidar com as franjas intransigentes e antiecumênicas. Isso é particularmente importante hoje, nas vésperas do Sínodo Pan-ortodoxo histórico que vai acontecer em junho próximo em Creta.

Mas Francisco igualmente seduziu – de uma forma não costumeira para o Vaticano, a mais antiga diplomacia do mundo ocidental – o candidato socialista judeu à presidência americana, Bernie Sanders. A significação disso ultrapassa os alinhamentos políticos novos e surpreendentes entre o Vaticano e os políticos mundiais. Ele sublinha a resiliência do Vaticano e da Roma papal no cenário mundial.

Em termos políticos, o Vaticano é uma relíquia do passado que deve mais à história política da Europa do que ao martírio de Pedro e Paulo. Há, porém, uma resiliência deste lugar, o seu simbolismo, a sua capacidade de reconhecer e interpretar eventos mundiais, que é fruto da capacidade da Igreja de se adaptar a condições cambiantes.

Em 1870, o papado perdeu Roma e seu poder temporal. Os pontífices de 1846-1939 (de Pio IX a Pio XI) lamentaram essa perda. Porém, no rescaldo do Concílio Vaticano II, Paulo VI considerou-a providencial.

Durante os pontificados de João Paul II e Bento XVI, o Vaticano se transformou no centro da política católica, como uma consequência dos esforços em centralizar em Roma tudo o que dizia respeito à Igreja Católica global.

Mas o Papa Francisco agora está tentando transformar Roma no trampolim para uma Igreja sinodal e colegiada. É uma Igreja não apegada à Europa ou a uma cultura em particular.

Não está claro aonde este esforço irá levar. Mas claro está que a visão de Roma e do Vaticano que o papa jesuíta possui decorre não só a partir de sua eclesiologia, mas também de sua leitura dos sinais dos tempos.

A ida a Lesbos foi, ao mesmo tempo, uma peregrinação ecumênica e uma visita ao cemitério inter-religioso imenso em que o Mediterrâneo se tornou por causa das ondas de refugiados que morreram no mar enquanto tentavam escapar da guerra. E um dos sinais dos tempos é a ilusão dos políticos europeus em suas tentativas de livrar a Europa e o Mediterrâneo do DNA multirreligioso e multicultural da região.

A ênfase de Francisco em que esta é “a crise humanitária mais grave desde a Segunda Guerra Mundial” é um outro lembrete de que, hoje, é preciso um papa da Argentina para recordar a Europa do que a Europa deve fazer.

A atração que Bernie Sanders e as igrejas ortodoxas têm por este papa contrasta-se com a hostilidade que o establishment político europeu tem mostrado para com esta sua mensagem social.

As palavras, em Lesbos, de Francisco, Bartolomeu e Jerônimo emitiram uma mensagem clara à União Europeia e à Turquia com respeito às suas políticas concernentes aos refugiados. Mas as palavras deles também sinalizaram que existem paralelos entre o período pós-Segunda Guerra e o momento atual.

O período imediatamente após 1945 foi o começo do envolvimento da Igreja Católica (mesmo se lenta e cautelosamente) no movimento ecumênico cristão. De forma parecida, a presente crise humanitária pode ser o berço de um novo internacionalismo ecumênico na medida em que o mundo tenta ajudar as vítimas da explosão do mundo árabe.

Isto não é a construção de uma arquitetura geopolítica complexa, mas uma intuição profunda do Papa Francisco. Os refugiados não sabem de teologia, mas sabem o que a Igreja é. É um exemplo da pastoralidade da doutrina que o papa tem em mente. É também uma resposta aos que se queixam de que os ensinamentos dele carecem de clareza e que denigrem a pastoralidade como sendo meras sutilezas eclesiásticas.

Mas, claramente, a ênfase pastoral do papa é algo maior, especialmente a sua volta a Roma com doze refugiados muçulmanos a bordo de seu avião. O ato simbólico de libertar refugiados dos campos onde eles estão detidos é igualmente um ato de reforma na Igreja.

A ironia é que esse ato político perturbador foi possível também devido ao papel extraordinário do Vaticano como um Estado, à sua extraterritorialidade e à herança do poder temporal antigo que o papa possui.

Estas últimas semanas constituíram mais um daqueles momentos em que Francisco coloca o seu pontificado profundamente em desacordo com um século que tem visto conservadores e reacionários fazerem conversões ideológicas ao catolicismo, desde Carl Schmitt na Alemanha nazista até Richard John Neuhaus nas guerras culturais americanas pós-Reagan.

Não é por acaso que estas conversões políticas envolveram nacionalistas que buscavam um refúgio ideológico desta modernidade cosmopolita. Também não é por acaso que a resposta a eles é o espírito global e ecumênico do catolicismo.