Projeções de Fé

Cavaleiro da Lua: o livre abítrio e a misericórdia

Sinopse: A trama acompanha Steven Grant, um homem gentil e simpático, que trabalha em uma loja de presentes. Ele é uma pessoa comum, mas que sofre com constantes “apagões” e tem memórias que parecem ser de uma vida que não é a sua.

Em um determinado momento, Grant descobre possuir uma Desordem Dissociativa de Identidade e, por isso, “compartilha” o próprio corpo com Marc Spector. Trata-se de um mercenário que também é o implacável avatar de Khonshu, o deus egípcio da lua.

À medida que os inimigos de Marc também interferem na rotina de Grant, ele precisa aprender a lidar e a se relacionar com seu alter ego. Com outros motivos em jogo, os dois devem navegar entre suas identidades complexas em meio a uma batalha mortal travada entre os poderosos deuses do Egito.

Peço licença aos leitores que nosso blog é voltado aos filmes, mas hoje vamos falar das telas da televisão. A Marvel vem nos apresentar mais um personagem na série Cavaleiro da Lua. Até o momento, no terceiro episódio, o enredo se apoia na paradoxo da visão de duas entidades da mitologia egípcia.

Marc Spector é um servo de Konshur, ele protege os vulneráveis e leva a justiça do seu deus a aqueles que merecem. Vale pontuar que, eu não percebi na série a proteção dos vulneráveis, mas a narrativa foca no combate a ascensão da Deusa Ammit.

Esta tem como seu servo na terra Arthur Harrow, que na interpretação de Ethan Hawke nos faz crer que ele realmente é um líder de uma seita de fanáticos. Seu objetivo é ajudar a deusa a construir um mundo novo, um paraíso na terra, submetendo as pessoas ao julgamento de Ammit, que não vai te punir não só pelo que você fez, mas pelo que ainda você pode fazer um dia.

Esse julgamento precoce é justificado por evitar que as pessoas sofram, pois ela corta o mal antes que coisas ruins aconteçam. Mas se ‘cortamos’ algo que possam ser maus não estaremos também ‘cortando’ coisas boas (cf. Mt13-29)? E será que necessariamente essa pessoa será má no futuro? Será que ela não teria capacidade de escolher o bem?

O julgamento precoce nos parece um absurdo porque na visão cristã, nós temos o livre arbítrio, podemos escolher livremente pelo bem e o mal. Ser eliminado precocemente porque temos possibilidade de escolher o mal nos tira a possibilidade de escolher o bem, como nos ensina brilhantemente Santo Agostinho de Hipona.

Sem o livre-arbítrio, não existiria justiça nem a retidão. De nada adiantaria elogiar os retos e condenar os maus. O problema do livre-arbítrio está em fazer mau uso deste, e não, de condenar Deus por tê-lo concedido ao ser humano. (O livre Arbitrio, Santo Agostinho)

Dentro dessa perspectiva a visão da justiça de Konshur parece a melhor, pois ela não elimina a liberdade de escolha. Para uma aventura de super heróis, certamente, mas passa ao largo os ensinamentos cristãos.

Tenhamos em mente que a justiça de Cristo é a misericórdia. Não tenho a menor intenção de recomendar que não se consumam histórias de super heróis, sejam em filmes ou nos quadrinhos. Quem é mais próximo sabe o quanto gosto desse tipo de conteúdo e quanto eles podem nos ensinar. Mas por outro lado, podemos cair num engano da ‘catarse coletiva’, cultivar quase uma veneração por pessoa que tem poderes sobre humanos e que tem como missão cumprir a justiça dentro da visão humana, de forma puramente casuística.

E nos ensina o Papa Francisco para não cairmos no casuísmo e não nos colocarmos no lugar dos Fariseus diante da pecadora:

Marcos narra que «se aproximaram do Senhor estes doutores da lei: é claro, diz o Evangelho, para o pôr à prova perguntando a Jesus se era lícito que um marido repudiasse a própria esposa». Mas «Jesus — explicou o Papa — não responde se é lícito ou não; não entra na sua lógica casuística, porque eles pensavam na fé unicamente em termos de “pode-se” ou “não se pode”, até onde “se pode”, até onde “não se pode”». Contudo, «Jesus não se deixa levar por aquela lógica da casuística». Aliás, «dirige-lhes uma pergunta: “Que vos ordenou Moisés?”». Concretamente, questiona «o que há na vossa lei?».

Ao responder a esta pergunta de Jesus, observou Francisco, os doutores da lei «explicam a autorização que Moisés concedeu de repudiar a esposa, e são precisamente eles que caem na armadilha, porque Jesus os qualifica como “duros de coração”». E dirige-se a eles assim: «Foi devido à dureza do vosso coração que ele vos deu essa lei». E deste modo Jesus «diz a verdade, sem casuística, sem permissões, a verdade: “Desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher”». E continua: «Por isso, deixará o homem pai e mãe», «pôr-se-á a caminho», e «unir-se-á à sua mulher». Portanto, «os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne». E esta, afirmou o Papa, «não é nem casuística, nem permissão: é a verdade; Jesus diz sempre a verdade». Missa na capela de Santa Marta, 24 de fevereiro de 2017

A verdade é a Justiça, é o caminho. Sejamos sempre servos da Verdade.

Ficha tecnica

Desde 2022 / min / Aventura, Drama, Fantasia, Ação
Título original : Moon Knight
Criado por Jeremy Slater
Elenco: Oscar Isaac, Ethan Hawke, May Calamawy
Nacionalidade EUA
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