Caro Filoteu!
Hoje comento contigo a história da moeda que estava na boca do peixe. Impressionante! O Senhor sempre nos surpreende com seus caminhos inusitados e seus recursos inusitados.
Urgia pagar o imposto do templo, uma obrigação de que Jesus se achava isento, mas para não escandalizar as pessoas pagou o que precisava; o meio de conseguir o dinheiro foi, digamos, instigante. Eis o que comentaremos.
Vamos lá: “… vai ao mar – disse ele a Pedro, o pescador – lança o anzol e abre a boca do primeiro peixe que tu pescares. Ali tu encontrarás uma moeda; pega então a moeda e vai entregá-la a eles, por mim e por ti” (Mt 17, 27).
Já pensaste, caro Filoteu, o que foi necessário para o cumprimento deste dever? Ou o caminho que Jesus usou para que Pedro pagasse o imposto do templo por si e por ele? Será que precisaria toda essa mobilização? Não seria bastante que o Senhor usasse de sua autoridade e poder para tirar da manga de sua túnica um moeda e a desse como pagamento? Por que na boca de um peixe estaria a moeda necessária? Não parece uma perda de tempo ou uma metodologia muito complicada para conseguir a dita moeda? Pense só numa moeda difícil!
Pois bem, isso vale uma reflexão. Tu lembras que “Deus escreve certo por linhas tortas?” Por isso, é preciso prestar a devida atenção às linhas tortas pois nelas o Senhor está escrevendo certo. Portanto, não queiras que Deus te conduza dentro dos teus esquemas; não imagines a vida cristã como um itinerário previsível e controlável. Não te iludas, pois Deus pode permitir situações e experiências que fogem aos nossos esquemas e expectativas; altos e baixos se sucedem; terás que esperar e quiçá não verás acontecer o que parecia ser lógico e seguro. Deus pode dar e tirar, conceder e não conceder. Não imagines que somente os resultados visíveis são o grande sintoma que tudo está acontecendo nos conformes plausíveis e esperados. Não te esqueças: foi no fracasso da cruz, no grande aniquilamento do calvário que o Divino Redentor salvou a humanidade. Abandonar-se nos braços de Deus como um pequenino e dar-se o trabalho de esperar e fazer somente o que Deus quiser, quando quiser e enquanto o quiser, porque Ele quer, isso sim, é que vai dar a segurança e a genuína fecundidade ao teu fazer. A moeda fedendo a peixe e o trabalho para consegui-la de algum modo nos remete a isso.
É necessário fazer as coisas para dar certo. É necessário usar a inteligência para usar os melhores recursos e as mais eficazes estratégias com foco nos resultados melhores possíveis. Disso ninguém pode discordar. Fazer as coisas sem foco ou estratégia não é algo correto. Seria irresponsável! Junto a isso, o mistério da cruz nos precede e envolve. E na cruz, Jesus não foi um sucesso. Na cruz Jesus foi fiel ao Pai. A competência gera produtividade e a fidelidade gera fecundidade. Que não falte nem uma nem outra na tua vida. No entanto, é preciso manteres teus olhos fixos em Jesus crucificado. Lá está a sabedoria e o poder de Deus.
Que tu não sejas um apressado, caro Filoteu de Betânia! Nem queiras viver as coisas dentro da lógica do calculismo incorrigível de quem age com foco somente no sucesso. Aliás, dizia a Bem Aventurada Madre Teresa de Calcutá: “Deus não nos chamou a ser um sucesso: Deus nos chamou a ser fieis”.
Fica em paz, caro Filoteu!, Não te acomodes e nem te agites. Eu te desejo a sabedoria da cruz e a inteligência da fé para encontrar as moedas que Deus te manda buscar para cumprires os seus desígnios. Fica atento aos peixes que Deus põe no teu anzol!
Até mais outra oportunidade.