Caro Filoteu
Celebra-se um rei, ao final do ano litúrgico da Igreja. De fato, o Verbo (a Palavra eterna – segunda Pessoa da SS. Trindade) já reinava com o Pai desde toda a eternidade. A realeza nele habita, Ele é Rei. Para manifestar seu amor, o Pai, pelo Verbo no poder do Espírito decidiu criar-nos. O pecado, no entanto, veio desviar a pessoa humana do caminho certo: a morte passou a marcar com sua sombra sinistra a história do mundo. Por isso, Deus interviu e veio ao encontro. Esse encontro aconteceu com a encarnação. O Filho eterno veio revelar seu Pai e nos deu seu Espírito. Um rosto misericordioso brilhou e se manifestou carregado de misericórdia, convidando-nos a viver como irmãos e irmãs, membros de uma família reunida pelo mesmo Pai.
Um rei se revela. E seu império manifesta-se na superação das forças que se opõem ao seu reinado. Quando se pensa nisso, vem à mente a ideia de um soberano vingativo que destrói quem se lhe opõe. E quem são os inimigos? É importante esclarecer. Os inimigos não são as pessoas, mas tudo quanto consegue separar a pessoa humana do Deus que se revela. Noutras palavras, o pecado. Convém que Ele reine. É fundamental que isso aconteça, ou melhor, é vital. A vitória dele significa vida plena, total. E essa vitória passa a coincidir, ou melhor, ser a mesma coisa que o assumir a vida que Jesus, o Cristo, assumiu.
Um rei que é servo: eis a identidade desse nobre que pastoreia, isto é, cuida, cura, salva, resgata, fortalece. Bem diferente de um poder que humilha, oprime, controla e submete. As consequências eternas deste reinado são notáveis. No juízo universal, como nos narra Mt 25, os imperativos: “Vinde” e “Afastai-vos” marcam de modo definitivo a sorte de quem viveu indo e vindo nas duas polaridades não opostas, mas complementares do amor a Deus e ao próximo. O encontro ou o desencontro passa por este amor ou pela falta dele.
Quem reza pedindo o Reino de Deus pede que ele desponte, dê frutos e chegue à perfeição. E o reinado divino acontece particularmente naquele que na obediência a Deus, acolhe a presença divina. Deus passeia na cidade bem administrada que é a alma que vive na graça do Senhor. “Se alguém me ama guarda meus mandamentos, meu Pai o amará, viremos a Ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14, 23). Eis porque a conversão, processo empreendido pelos cristãos rumo à santificação, é o caminho para Deus reinar. “Passeie Deus em nós como em um paraíso espiritual e reine só ele, junto com seu Cristo; e que em nós se assente à destra de sua virtude espiritual, objeto de nosso desejo” (Orígenes).
Venha o teu Reino, Senhor! Seja essa tua oração constante caro Filoteu e teu grande desejo transformado em ações concretas.