Muitos já escreveram, falaram e dissertaram sobre a questão dos espíritos, exorcismos e coisas do tipo, que rondam casas mal assombradas. O tema nunca é vencido. Tanto que a data escolhida para a estreia no Brasil foi justamente a famosa “Sexta-feira 13”, que desde os anos 80 e ainda hoje faz muita gente temer e criar superstições, a partir de sonhos fantasmagóricos, movidos por Freddy Krueger e companhia.
Este filme é uma mistura de crença e descrença. Um misto de exorcistas e caçadores de fantasmas. Baseado em histórias reais e com um dos autores ainda vivo, teve sucesso nas bilheterias brasileiras e também mundiais, justamente pelo seu teor um tanto quanto cético e, ao mesmo tempo, deixa quem assiste com arrepios, levando para o lado sobrenatural, sempre fazendo lembrança e alusão à morte ou, “à hora do pesadelo”.
É o tipo de filme que não pode ser analisado apenas sob o “olhar secular”. A Igreja tem suas falas a respeito de películas do mesmo gênero e que, como Mãe e Mestra, tem o que ensinar sobre o assunto. Pelo que, é preciso ter prudência para não se fazer juízo temerário; ao passo que é necessário evidenciar fatos, à luz da Fé, para uma melhor vivência e experiência desta última com os irmãos, pelo Amor, em vista da Esperança que nos une.
É um filme sério e, por isso também, muito bom! Talvez não chegue a ser um Épico, muito menos um Clássico, mas, certamente, entrará como um referencial para quem quiser unir Terror e Suspense a coisas sérias, como exorcismo e atuações demoníacas. Não é um filme paranóico, como a sequência de “Atividade Paranormal” e muito menos do tipo Thriller, como os filmes de Hitchcock. Não recomendo a todos, por conter cenas fortes demais. Porém, quem se aventurar em assistir, faça-o por sua própria conta e risco.
Mas, como diz a famosa frase atribuída a Jack, o estripador, “vamos por partes”.
Para assistir filmes deste gênero e querer entendê-lo à luz da Fé, é necessário Crer em Deus e a consequência lógica é crer também na ação Daquele que Divide (“Diabo”). Portanto, este é um típico filme que mexe sim, com a fé, mas com a fé dos que estão bambos e ainda não firmes em Deus. Filmes assim, podem ajudar a fortalecer ainda mais a nossa fé e, como diziam os Santos Padres da Igreja, “temer o dia do juízo”.
E também não cabe pensar aqui na música “With or without You”, do U2! Não tem nada a ver, nem o título desta, isto é, “Com ou sem Deus”, aliás, no refrão diz o contrário, que não se consegue viver, nem com, nem sem. É uma completa contradição… Descartem esta ideia, pois “não se brinca com inimigos”.
O título traduzido, como que “por milagre”, faz jus ao original “The Conjuring” (A Conjuração) e subentende-se o restante: … do Mal. Neste sentido, é possível fazer uma analogia com o filme “O exorcismo de Emily Rose”, de 2005: o último dos grandes exorcismos aprovados publicamente pela Santa Sé. É igualmente baseado em um caso verídico, ocorrido em Leiblfing, Alemanha, em que também uma [jovem] mulher é possuída pelo Demônio. Não é o caso de comparar com o filme “O Ritual”, de 2011, em que a trama se dá pela questão da necessidade da comprovação e mesmo tomada de consciência pela falta da Fé de um Padre jovem, observando a vida e as ações de outro Padre, porém, idoso e experiente em exorcismos. Este sim é um Thriller que também destaca a Fé como ponto essencial para a vida dos sacerdotes que fazem exorcismos.
Há muita gente – católicos, inclusive – que, como os caçadores de fantasmas do filme, tem verdadeiras “relíquias” de superstições em casa, seja por gosto, coleção ou até mesmo, por alguma atração do tipo estético. Os Warren possuem tal coleção, mas como forma de aprisionar objetos que levam o mal às pessoas. Ao casal é atribuído o título de “únicos exorcistas não católicos reconhecidos pelo Vaticano”, segundo informações de críticos de cinema e apesar de na película utilizarem-se de objetos sacros católicos.
Nas palavras do demonologista, “o medo se define como uma sensação de nervosismo e ansiedade por causa da presença iminente de perigo, sejam fantasmas, espíritos ou entidades, todos se alimentam do medo.” E apresenta três estágios da atividade demoníaca: “Infestação, Opressão e Possessão”, fases estas também atestadas por grandes Exorcistas, como o Padre Gabriele Amorth, Frei Elias Vella e Frei Matteo La Grua (in memoriam). Todo o filme, além da base nas narrações de fatos dos autores, caçadores de fantasmas, Ed Warren e sua esposa – ainda viva – Lorraine Warren, foi fomentado pelo que estes demonologistas e outros exorcistas ensinam e ensinaram a respeito das ações demoníacas.
Diferentemente do modo como muitos possam ver, não se trata apenas do estrelato e sucesso cinematográfico; este filme tenta de fato, passar a mensagem de que o Diabo existe e atua neste mundo, entre nós. Claro que é necessário ter discernimento e ajuda de especialistas (de fé), para tais constatações.
Um dos principais valores defendidos no filme é a base familiar. No caso, a família atormentada é típica da época: pai, mãe e cinco filhas, coisa quase rara de se ver nos dias atuais, tanto a formação, quanto a quantidade de filhos. No entanto, aquela família não era religiosa e não tinha prática alguma; tanto que nem mesmo as filhas haviam recebido o sacramento do batismo. Apesar de os Estados Unidos serem um país eminentemente Protestante, a película busca mostrar uma família que deveria ser católica – é o que, indiretamente, pelas ações, os demonologistas fazem: agem e evangelizam, mesmo sem pretender, pelo exemplo.
Elementos clássicos do Terror e da Fantasmagoria como a sensitividade dos animais, manifestamente, no cachorro que a família possui – até sua morte ainda no início, lençóis brancos voando também não são esquecidos, pessoas sendo puxadas pelas pernas na cama, assim como os Trovões e Raios nas tentativas de noites de sono e também Corvos, como prenúncios de morte.
É interessante como alguns sacramentais são bem nítidos ao longo do filme, como Cruzes com o Cristo, Água benta, um Terço no retrovisor interno do carro e nos punhos dos caçadores de fantasmas. Outra coisa interessante é a quantidade de vezes que os demônios usam para insultar a Santíssima Trindade: justamente três vezes sempre, parando na hora da flagelação de Jesus, conforme a Tradição nos ensina: às 03:07 da madrugada. Os números são altamente simbólicos também: 3 – Trindade e 7 – Perfeição Divina. Ou seja, as injúrias são a Deus, por meio da sua obra-prima, a humanidade.
No caso do filme, a hora em que a primeira moradora da casa ofereceu seu filho de apenas sete dias e sacrificou-o no fogo. Em seguida, “sacrificou-se”, para não dizer que cometeu suicídio, declarando amor e adoração a Satanás. Bathsheba (referência a Betsabeia, como na Bíblia, em II Samuel 11,3: filha de Elião, mulher de Urias, a quem o Rei Davi tomou como esposa, fazendo-a cometer adultério) era seu nome e fora acusada e enforcada como uma das famosas “Bruxas de Salém”, Massachusetts, em Outubro de 1692.
O filme retrata a mãe da família sendo possuída pelo Demônio, que atenta contra a sua própria vida e contra a vida das suas filhas, reproduzindo o que ocorrera com os primeiros moradores da casa. Dante Alighieri, em sua obra magna “Divina Comédia”, retrata o Inferno com maestria e foi em grande parte, por causa das figuras que ele criou, que hoje podemos imaginar com melhor precisão as classes do Sheol e para quem cada uma é destinada. Aqui, podemos citar que tal Demônio, segundo Dante, pertencia “ao primeiro círculo do Inferno, onde são atormentados somente pela aspiração à felicidade sem esperança, onde estão as almas dos que não foram batizados.” (Cf. Divina Comédia, Canto IV).
Há que se elogiar toda a remontagem cenográfica da época (1971) e os recursos utilizados para captar os demônios e suas onomatopeias. O viés psicológico também não fica de fora, com os chamados “Insights”, termo do século XIII, mas cunhado no início do século XX, pela Gestalt e que viria a ser a base racional para as ditas “visões” que certas pessoas tinham (têm), inclusive no campo religioso.
No tocante à “vidente” do filme, é interessante termos em conta o posicionamento da Igreja quanto às “Aparições e Revelações Particulares”, contido no documento homônimo, quando se refere aos critérios de discernimento das mesmas: “O conteúdo da aparição não pode contradizer nem à razão humana, por falso, maldoso ou imoral, nem à Revelação divina, aos dogmas e a doutrina magisterial da Igreja.” (Nº 2, b.)
O amor com que o esposo luta pela esposa, demonstra que as forças demoníacas não podem contra a força do Amor. A cena que melhor ilustra isto é o exorcismo feito em conjunto pelos demonologistas e pelo esposo – o que entende-se que é possível ainda hoje, de acordo com o Ritual de Exorcismos e outras Súplicas, nº 13, para diferenciar “exorcista” (que é o caso), de “sacerdote exorcista” – único que pode fazer o Exorcismo Maior, que não é o caso no filme. O ponto central é que nenhum membro daquela família era batizado. Portanto, o demonologista estaria apto para realizar aquele exorcismo, como os que são feitos no Ritual de Batismo, mesmo por um fiel leigo. (Cf. Catecismo da Igreja Católica, nºs 1237 e 1256).
O gesto da imposição das mãos também é significativo, ainda mais porque é feito por uma mulher, a demonologista. É uma ênfase necessária, haja vista que normalmente é algo realizado por homens, isto é, Sacerdotes Exorcistas. Claro que também é necessário levar em consideração o fato de ser uma obra que reproduz uma história real, em forma de filme. Então, há acréscimos que romanceiam um pouco as cenas, para dar a tonalidade esperada em cada ato.
O que aquela família precisava era de Deus! O Demônio claramente escarnecia de Sua Santíssima Mãe, possuindo a mãe da família, para fazer o mal às suas filhas (Cf. Ap 12,17). É uma figura muito interessante também, pois da casa onde estava ela não podia sair, pois lá era sua habitação. Enquanto a oração e a intercessão uns pelos outros não entrou em vigor (Cf. Tg 5,16b), não foi possível expulsar Satanás, que a possuía, com uma figura feminina. É certo que ele é “o pai da mentira” e desta forma que ele atua: enganando a todos e agindo por quem, normalmente, menos se espera. Talvez por isso tudo, o final não deixa a desejar, mas, tal como em outros da mesma categoria, finda a história sem margens para uma continuação ou vistas a uma série.
Trailer:
Boa noite. A paz!
Gostaria de saber se recomendariam Anabelle e a feira, pois vejo alguns falando que não seria bom assistir.
O filme anabelle é bom?
Olá, Rodrigo, a Paz!
Ele é a base do “Invocação do mal”, sobre o qual pôde ler aqui. Sabendo bem a respeito desse, saberá, por consequência, de “Invocação do Mal 2” e também de “Anabelle”. O “Invocação do Mal 2” e “Anabelle” classificamos da mesma maneira: “Vale conferir”, porque “Bom”, foi somente esse primeiro. Todos os demais, foram mais do mesmo, porém, mais pobres em roteiro e em outras abordagens. Shalom!
gostaria de saber qual a posição de vocês em relação ao INVOCAÇÃO DO MAL 2
Rodrigo, a avaliação é a mesma do primeiro 🙂