Projeções de Fé

Stranger Things: entre amizade e o terror vale a pena discernir o que é bom.

Sinopse:

Situada no início dos anos 80, Stranger Things se passa na cidade fictícia de Hawkins, Indiana. Como fachada, o laboratório da região realizava experimentos científicos para o Departamento de Energia Americano, quando na realidade, os pesquisadores ali investiram em experimentos com o paranormal e o sobrenatural, incluindo o uso de cobaias humanas. Não intencionalmente, eles criaram um portal para uma dimensão alternativa conhecida como Mundo Invertido, o que iria impactar a vida dos residentes da pequena cidade.

Em 1983, quando Will Byers (Noah Schnapp), um menino de 12 anos, desaparece misteriosamente, o xerife Jim Hopper (David Harbour) inicia uma operação para encontrá-lo. Enquanto isso, Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin), melhores amigos de Will, decidem procurá-lo por conta própria. Mas as investigações acabam levando o grupo em direção aos experimentos secretos do governo e a Eleven (Millie Bobby Brown), uma peculiar menina perdida na floresta. Assim como as crianças, a mãe Joyce Byers (Winona Ryder) está determinada e fará o impossível para rever o filho.

Stranger Things é uma série mundialmente famosa, lançada em 2016 pela Netflix. Nesses seis anos conquistou muitos fãs que vestem a camisa e passam pano para qualquer divergência que a série ofereça. Vamos abordar aqui especificamente a última temporada lançada este ano, aguardando a próxima prevista para 2024.

A quarta temporada trouxe um terror real e psicológico impregnado de experiências traumáticas, fruto de uma proposta da produtora e do apelo da mídia que privilegia o horror e o medo para o espectador, em detrimento do enredo mais envolvente com muito suspense e mistério das primeiras duas temporadas. É a hora do vilão final Vecna entrar na história, como“co-criador” até então do mundo invertido e promover mortes brutais no intuito de exercer sua supremacia mental perante um mundo violento e preconceituoso.

Com as crianças já crescidas, adentramos também nas tramas clichês de adolescentes americanos dos anos 80 com muito bullying, preconceitos com jogos de RPG e personagens nerds. Contudo, nos vemos crescendo com as crianças literalmente e adentrando numa história de amizade intensa e verdadeira entre eles, os quais são capazes de dar a vida uns pelos outros, numa confiança extrema. Esse aspecto curador da amizade é o que realiza uma libertação na vida dos adolescentes que mostram sua verdade. A música em Stranger Things não só remete a atmosfera dos anos 80, ela é o elo de ligação entre os jovens e um dos elementos que os unem para a construção de uma amizade fecunda.

Percebemos também entre os jovens, principalmente na área afetiva dos personagens, o amor romântico nascendo, na forma do amor jovem dos anos dourados mas com um toque da liquidez dos anos atuais, afinal a série traz grandes “brechas ideológicas” para fazer com que os jovens de hoje aceitem a superficialidade do mundo atual e uma vivência relaxada no trato com suas feridas.

Outro ponto que se destaca é a forma como Vecna atrai suas vítimas através das feridas da psique humana, dos pecados e do quanto as pessoas se culpam pelos erros passados, lembrando muito a forma que a depressão (enfermidade do século) age na cabeça de quem luta constantemente contra essa doença. Vecna se “alimenta” das culpas e traumas que suas vítimas trazem e geralmente são pessoas que estão imersas em profundas tristezas, não conseguem ver a saída da situação na qual se encontram.

Um ponto que chama atenção é a forma que a Max (uma das vítimas de Vecna) sai do transe ao qual o monstro a insere, ela começa a ouvir uma canção que remete a uma pessoa que ela gosta, que a faz recordar de momentos felizes. Assim ela consegue sair do transe que a levaria a morte pois a depressão nos leva a isso, adentramos nessa tristeza profunda e não vemos a saída, ansiando muitas vezes pela nossa própria morte.

Como parte da cura precisamos fugir desse abismo em busca do que realmente nos faz bem: amizades, atividades físicas, dialogar com Deus e principalmente viver a nossa fé, juntamente com esperança e confiança que isso tudo vai passar. Para enfrentar a depressão, que muitas vezes pode se estender por anos, o exercício da fé e a vida de intimidade com Deus são pilares fortíssimos para nos tirar das crises mais intensas. Assim como a depressão tem que ser enfrentada na vida percebemos esses passos na trajetória de Max, principalmente a confiança que isso vai passar, e o apoio dos seus amigos.

Infelizmente os personagens da série se declaram em um ponto da trama agnósticos (daí a razão para não terem feito a Crisma nem frequentar uma Igreja – risos). Não percebemos de forma explícita a vivência da fé em Cristo, mas percebemos a forma de se doar pelo outro, dar a vida por amor aos irmãos (amigos) ou seja, amar ao próximo como a si mesmo como nós cristãos somos chamados a amarmos uns aos outros.

Nessa quarta temporada, podemos ver também a reconciliação da personagem Eleven com sua história e com o seu processo de restauração, conseguindo destravar medos, traumas e conseguir dar passos firmes para uma nova vida, assim ajudando os seus amigos de forma muito mais eficaz pois agora ela sabe quem ela é, de onde veio e qual o sentido da sua existência.

Por fim, percebemos nitidamente a forma que a série quer “normalizar” em nós comportamentos e hábitos nocivos. Mesmo a série tendo um contexto de época, não podemos nos deixar influenciar pela ideologia de gênero, uso de drogas “lícitas” que aos poucos nos inserem no ‘mundanismo’ ao qual o Papa Francisco tanto cita dentro da Igreja Católica:

“O mundanismo é uma proposta de vida, é uma cultura do efêmero, uma cultura do aparecer, da maquiagem, uma cultura ‘do hoje sim, amanhã não, amanhã sim e hoje não’. Há valores superficiais. Uma cultura que não sabe o que é fidelidade, porque muda segundo as circunstâncias, negocia tudo. Essa é a cultura mundana, a cultura dos mundanismos. E Jesus reza para que o Pai nos defenda dessa cultura do mundanismo. É uma cultura do descartável, segundo a conveniência. É uma cultura sem fidelidade e é um modo de viver também de muitos que se dizem cristãos. São cristãos, mas são mundanos”. (Papa Francisco, homilia Missa na Casa Santa Marta – 16/05/2020).

Temos que consumir não somente essa série, como muitas produções atuais com um filtro mais aguçado, para não deixar enraizar em nós aquilo que não nos convém. Adentrar na cultura do descartável, da conveniência, da infidelidade. Lutar para viver a vontade de Deus, acolher a presença de Deus em nós, nas nossas ações cotidianas, no zelo pelo nosso tempo, nosso corpo. Viver com amor e respeito o sagrado que habita em nós, e assim zelar pela humanidade inteira. Shalom!

FICHA TÉCNICA:

Título: Stranger Things (Season 4)
Ano/produção: 2022
Direção: Matt Duffer e Ross Duffer
Estréia: 27 de maio de 2022 (mundial)
Duração: 787 minutos
Classificação: 16 anos
Gênero: drama, fantasia, terror
País de origem: Estados Unidos da América

Mônica Lima e Alex Carvalho – Shalom Geeks

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