Vamos falar sobre vícios?
Naturalmente, quando se ouve essa palavra vem na cabeça imediatamente as palavras álcool e drogas. Entretanto, com a evolução cultural e tecnológica novas formas de vícios foram se estabelecendo enquanto outras puderam ser evidenciadas e tratadas em nossa sociedade. O maior exemplo desse fenômeno é a pornografia. Não obstante, o vício em pornografia é apenas uma das formas de um de vício mais abrangente raramente admitido em nossa cultura: os vícios sexuais.
Os vícios sexuais são também chamados de dependência do amor e do sexo. Nome estranho e até engraçado. Mas amor vicia? E sexo causa dependência? Não. Claro que não. O amor verdadeiro, enquanto virtude que se realiza na saída de si para o encontro com as necessidades do outro, não. Mas o amor enquanto sentimento, emoção ou carência comumente propagandeado, sim. Da mesma forma, o sexo como sinal de doação mútua e expressão do amor virtude também não vicia. Já o sexo cujo o fim último e exclusivo é o prazer, sim.
O termo dependência do amor e do sexo é o termo utilizado por grupos de recuperação como o DASA (Dependentes do Amor e do Sexo Anônimos) e o DAS (Dependentes de sexo anônimo). Este termo inclui também sexo anônimo (sexo com desconhecidos em ambientes comumente utilizados para isso), prostituição, masturbação, pornografia, o voyeurismo (flertar, ou olhar excessivamente com desejos sexuais para o corpo de outra pessoa, espionar pessoas enquanto trocam de roupas, …), e ainda a fantasia sexual (uso incessante da imaginação para a obtenção de prazer sexual e/ou combustível para masturbação). E ainda podemos mencionar as (co)dependências afetivas ou “apaixonamentos”, que poderiam ser traduzidas como relações românticas problemáticas que originam facilmente uma dependência emocional. Como vemos, essas não são substâncias que se compram de traficantes, em bares ou clandestinamente. São comportamentos obsessivos que levam à mesma sensação das drogas convencionais: o prazer, dopamina no cérebro, a fantasia, a usura, a fuga da realidade.
No que diz respeito ao universo masculino, muitos poderiam dizer: “Ah, mas eu não vejo nenhum problema em me masturbar.” “Se a mulher for bonita, não me controlo, tenho que olhar.” “Eu mereço, sou homem, eu preciso.” “Sou solteiro, não tenho outra opção para descarregar os hormônios.” “Ah, mas eu não consigo me controlar.” Podemos muitas vezes utilizar racionalizações para adaptar nosso desequilíbrio aos nossos valores e crenças. Na manutenção de nossos impulsos, podemos ainda “negociar” com nossa consciência dizendo “só hoje… só 15 minuto… essa é a última vez… uma vez não mata ninguém.” Aos poucos e sem se perceber este vai se tornando dependente e prisioneiro dessas práticas.
O primeiro passo para sair desse emaranhado de correntes é reconhecer a situação em que se encontra. Mas como saber se meus “hábitos”, meus “deslizes” são vícios? Como saber se sou dependente do amor e do sexo? Algumas palavras-chave são: autoconhecimento, humildade e honestidade. O questionário de 40 perguntas de autodiagnostico disponibilizado pelo grupo DASA pode dar uma ajuda neste sentido. O auxílio de uma outra pessoa disposta a ajudar também é indispensável: um amigo, psicólogo, padre, pastor do grupo de oração, ou alguém que já passou pela mesma situação.
O problema dos vícios sexuais (assim como todos os outros) é sem dúvida bastante extenso e inabordável em um único artigo. Espero falar mais nos posts que se sucederam sobre os mecanismos que funcionam “por baixo” dos vícios e sobre os caminhos de recuperação.
Deus abençoe.
L. Machado