Mês: agosto 2019
Também existem efeitos de longo alcance de longo alcance: dificuldades em construir um relacionamento amoroso, ter uma imagem degradante das mulheres, dependência sexual etc.
Conversamos com Sabine Duflo, psicóloga clínica francesa e terapeuta familiar, sobre os efeitos da pornografia na juventude de hoje e sobre como podemos evitar os efeitos devastadores da exposição à pornografia em uma idade muito jovem.
Aleteia: Por que a batalha contra a pornografia que Emmanuel Macron* ( Presidente da França) anunciou tornou-se uma prioridade para o governo francês?
Sabine Duflo: A pornografia de hoje está muito longe daquela da geração de nossos avós. Não é mais uma questão de erotismo. Agora cria a imagem de uma sexualidade completamente desumanizada e automatizada, sem nenhum sentimento. Transmite uma imagem degradante das mulheres. É uma sexualidade violenta, em que as mulheres estão em posição de submissão, alienação e totalmente subservientes aos desejos do homem.
Hoje, as crianças não são protegidas quando navegam na internet sozinhas. Elas podem se deparar com imagens violentas e pornográficas a qualquer momento. Esse volume de conteúdos de práticas sexuais é algo sem precedente em nossas sociedades. Aquilo que sempre permaneceu oculto está permanentemente à mostra, à vista de todos. Essa intimidade exposta é traumatizante para crianças, pois as fazem sentir-se chocadas, excitadas e culpadas, tudo ao mesmo tempo.
Quais as consequências que imagens pornográficas podem ter em um adolescente?
S.D .: Para as meninas, assim como para os meninos, as imagens pornográficas separam a sexualidade dos sentimentos de amor, enquanto a sexualidade deve ser a culminação de um relacionamento amoroso. Entre os meninos, a pornografia dá a mensagem de que a sexualidade é algo mecânico, sem sentimento, e está ligada à obrigação de realizar. Isso às vezes cria um uso viciante de pornografia na web e as dificuldades quando um adolescente se apaixona: desejo, excitação sexual e sentimentos não estão mais adequadamente conectados para ele.
Entre as meninas, isso pode criar sentimentos de depressão ou ansiedade, e até mesmo pensamentos suicidas, porque sua posição foi completamente depreciada e porque descobrir sexualidade através de filmes pornográficos é sinônimo de desencantamento total. Assim, podemos ver uma desconexão entre sentimentos amorosos e práticas sexuais. Nos banheiros de escolas de ensino médio, a prática de adolescentes realizando atos sexuais por um preço está se tornando cada vez mais prevalente.
A pornografia não vem sem consequências para as crianças e os futuros adultos que elas se tornarão. Isso ocorre porque um adulto tem que construir um relacionamento amoroso com outra pessoa, e não será capaz de conseguir isso se assimilar uma representação da sexualidade como um ato de violência e alienação.
Como podemos proteger nossos filhos?
S.D .: Se eles já viram imagens pornográficas, é muito raro que eles mencionem isso aos pais porque têm vergonha e se sentem culpados por encontrar essas imagens. A melhor coisa a fazer é falar com eles antes, avisá-los e orientá-los a se retirar da presença de conteúdos assim. No entanto, isso pode ser difícil, por vezes, porque eles são muito jovens.
Você deve ter algumas palavras simples prontas: “Se um dia você se deparar com imagens chocantes – e elas podem aparecer em qualquer lugar na internet – você não é responsável por isso. É uma grande indústria que mira os adolescentes para tentar ganhar dinheiro. Fale comigo, saia imediatamente da tela e não olhe para essas imagens, pois elas dificultarão futuros relacionamentos. Um dia você será crescido e se apaixonará; é uma bela experiência, e se você observar essas imagens, não poderá ter a mesma experiência.”
Outros podem dizer que você está sendo moralista.
A pornografia não é uma questão de moral, é uma questão de humanidade, de sociedade. Meu trabalho é ajudar as crianças a se tornarem adultos felizes que se realizam em seus relacionamentos com os outros. No entanto, imagens violentas e pornográficas atacam esse trabalho, pois fazem com que as crianças acreditem que a sexualidade é sinônimo de violência e desrespeito ao outro, quando deveria ser o contrário.
Homens e mulheres são diferentes, e não se trata apenas de órgãos genitais distintos, timbre de voz ou quantidade de pelo no corpo. Pesquisas recentes na área de neurociências deixam claro que a estrutura do cérebro, o modo como os neurônios fazem conexões e a quantidade de hormônios que agem no órgão afetam os comportamentos e preferências de homens e mulheres de modo muito distinto. Confira algumas diferenças já constatadas pelos neurocientistas:
1- Especialização cerebral
Ainda que o cérebro humano, em geral, possa realizar muitas tarefas, assim como concentrar-se mais em determinadas tarefas do que em outras, é certo que o aparato mental do homem está mais orientado à especialização. Isso quer dizer que no cérebro masculino, determinadas partes dos hemisférios cerebrais tendem a ser mais ativas do que outras, focando mais em tarefas específicas. No caso das mulheres, há uma utilização mais integral de ambos os hemisférios num número maior de atividades, o que caracteriza uma capacidade multitarefa superior.
2- Segmentação da informação
No cérebro masculino, a informação se separa em grupos segmentados que não estão necessariamente relacionados (como emoções e estratégias ou vida pessoal e profissional). No feminino, as informações se entrelaçam como um sistema único. Por isso, as mulheres são mais “holísticas” e, pelo menos mentalmente, não separam tanto os assuntos de ambientes distintos de convivência, como trabalho, faculdade e família.
3- Uso dos sentidos
Homem e mulher também percebem o mundo de modo diferente por meio dos sentidos. Nos homens, a visão tem um papel predominante, é o meio pelo qual a maior parte das informações chega ao sistema nervoso. Nas mulheres, os sentidos funcionam de modo mais equilibrado. Olfato, audição e tato são tão importantes para a compreensão do mundo quanto a visão. Também nesse caso, o cérebro masculino parece privilegiar a especificidade, enquanto o da mulher, o conjunto.
4- Tamanho do cérebro
O cérebro masculino é um pouco maior do que o feminino, o que não significa que homens tendem a ser mais inteligentes. A maioria dos cientistas acredita que a diferença de tamanho tem relação com o maior volume muscular dos homens.
5- Hormônios no corpo
O corpo masculino tem 20 vezes mais testosterona do que o das mulheres e, naturalmente, toda essa quantidade age no cérebro. Isso explica por que o sistema nervoso dos homens tende a impulsionar atitudes mais agressivas do que o das mulheres. Por causa do nível de testosterona, o desejo sexual dos homens é focado no prazer físico, enquanto nas mulheres, o afeto e o vínculo emocional podem chegar a ser até mais motivadores no sexo.
6- Habilidades cognitivas
Nos homens, o hemisfério cerebral esquerdo é dominante. No caso das mulheres, a atividade cerebral é mais balanceada entre os hemisférios. Isso ajuda a explicar a predileção de muitos homens por atividades que envolvam cálculos e coisas, como física, engenharias e tecnologia, enquanto o cérebro feminino desenvolve-se de modo a gerar predileção por áreas que trabalhem com pessoas e linguagens (educação e enfermagem, por exemplo). Essas são atividades que exigem o trabalho conjunto e simultâneo de várias regiões do cérebro.
Referências
Interessou-se pelo assunto? Esses são alguns dos estudos consultados para a produção lista:
Sex differences in the structural connectome of the human brain, Regini Verma, neurocientista, University of Pennsylvania, EUA.
Cerebro de Mujer y cerebro de varón, Natalia Lopez Moratalla, doutora em Ciências, Universidad de La Sabana, Espanha.
Why sex matters for neuroscience, Larry Cahill, doutor em Neurobiologia, University of California, EUA.
Fonte AQUI