Há 10 anos, quando minha esposa e eu estávamos no processo de conversão ao catolicismo, mudamo-nos para St. Louis. Decidimos morar em um bairro urbano, onde podíamos caminhar até uma cafeteria e andar de bicicleta até o mercado local.

Começamos a criar galinhas em nosso quintal. Comecei a preparar e engarrafar minha própria cerveja em casa. Eu usava equipamento de som estéreo antigo, comprei um toca-discos e comecei a dizer pretensiosamente a quem quisesse ouvir: “a qualidade do som é muito melhor”.

Passamos muitas noites ouvindo músicas indie e cantando com as crianças. Depois de um tempo, comecei a ficar encabulado: por acaso nos tornamos uma família de descolados?

Se você não sabe o que é um hipster, provavelmente é porque os hipsters se recusam a admitir que eles são, de fato, hipsters. Faz parte da cultura deles rejeitar qualquer coisa que pareça ser um rótulo artificial. Por esse motivo, mesmo tendo minhas suspeitas, irei ao meu túmulo negando que sou um deles.

Os hipsters são frequentemente ridicularizados por serem excessivamente exigentes e irreais. Eles são vistos como desdenhosos e excessivamente irônicos. Eu tenho que admitir, no entanto, que realmente gosto deles.

Na minha opinião, hipsters são pessoas que tentam tornar significativas todas as suas escolhas, não importa quão insignificantes possam parecer. Eles pensam profundamente em suas roupas, música, café, meio de transporte, livros e comida.

Eles estão dispostos a nadar contra a cultura pop para estabelecer conexões humanas reais. Por exemplo, eles preferem bairros pequenos e compram em mercados e lojas de produtos locais.

Muitas vezes, eles se destacam por causa disso e com certeza podem exagerar, mas eles estão fazendo o que querem, tentando ser autênticos em um mundo que muitas vezes parece consumista e artificial. Eles frequentemente se rebelam completamente contra o que consideram uma sociedade que nos desumaniza.

Na pior das hipóteses, os descolados podem ser inflexíveis. Eles podem ficar presos em minúcias sem importância. Na melhor das hipóteses, eles são criativos e atenciosos, profundamente preocupados em viver uma vida significativa e realizada.

Aqui está o que eu sei sobre hipsters, com certeza: eles se preocupam com o meio ambiente e a dignidade humana, buscam experiências contemplativas, adoram sair com os amigos, passam um tempo trabalhando na sua espiritualidade e, na sua busca pela autenticidade, acabam muitas vezes remando contra a corrente. Pense nessa lista por um minuto – algo soa familiar? É isso mesmo, o catolicismo é o melhor empreendimento moderno.

Santos com barbas gigantes incríveis? Há muitos. Mulheres magníficas que se inspiraram na Virgem Maria? Há muitas. Lindas e imponentes catedrais que existem simplesmente para acrescentar um pouco de beleza ao mundo? Há muitas. Monges que torram café e fazem cerveja caseira? Há muitos. Um respeito saudável pela cultura retrô como o canto gregoriano? Com certeza. O melhor de tudo é que tivemos um Santo Padre dos descolados, o santo padroeiro de tudo que é legal e autêntico: o Papa São João Paulo II.

João Paulo II era tão bom em ser um hipster que ele o era antes mesmo do termo moderno ser inventado. Ele era conhecido por usar óculos de sol legais, tênis Converse e chapéu. Ele remava contra a corrente e não teve nenhum problema em enfrentar governos totalitários.

Como padre na Polônia, ele costumava reunir grupos de jovens adultos para fazer retiros com ele nas montanhas, onde passavam algum tempo reunidos, tocando música, rezando e caminhando. Ele amava santos obscuros, pessoas tão excepcionalmente legais que ninguém mais tinha ouvido falar.

O que eu amo em João Paulo II não é tanto que ele era um “proto-hipster”, mas ele era muito mais. Ele viveu uma vida autêntica no mundo moderno e, como tal, nunca pôde ser categorizado. Ele nunca seguiu a multidão e foi corajoso o suficiente para ser ele mesmo em toda e qualquer circunstância.

Se hispsters são pessoas que estão tentando encontrar uma maneira autêntica e bonita de existir, eles devem conferir João Paulo II, porque ele é a melhor versão que eles podem imaginar.

Ele sempre foi genuinamente ele mesmo e expressou uma profunda alegria. Através de suas ações e fé, ele procurou viver sua melhor vida possível. Nada poderia ser mais legal do que isso.

Michael Rennier

Nas famílias, são as mulheres que fazem a grande maioria das tarefas domésticas!

Assumo minha parcela de culpa. Não é que eu propositadamente contribua menos, mas ao que parece, assim como a maioria dos homens, tenho meus padrões de organização doméstica embaraçosamente baixos.

Não me importo se a pia não está impecável, e não vejo problema se uma camisa suja aparecer entre as roupas limpas. Talvez, como Mary Kenny afirma no Catholic Herald, os cérebros dos homens funcionem simplesmente de modo diferente. Mas seja qual for a causa, apresenta-se uma situação injusta.

Na verdade, a maioria dos casamentos está repleta de injustiças. Se o objetivo for uma parceria perfeitamente igual na qual os deveres são cuidadosamente discutidos e acordados de tal forma que nenhum dos parceiros carregue mais peso… bem, eu nunca vi esse arranjo na vida real.

Inevitavelmente, os casais caem em um padrão confortável que parece funcionar para eles. Tenho visto casamentos organizados de todas as maneiras e, embora raramente pareçam “igualitários” a um observador externo, isso geralmente funciona para os cônjuges.

Eu me pergunto ser não é o amor que nos leva a tolerar essas “desigualdades”. Mas não seria o amor o único estado de vida que promoveria justamente uma parceria perfeitamente equilibrada?

Pensando em São Bernardo de Claraval temos um exemplo improvável da desigualdade do amor.

Bernardo era um monge beneditino que viveu no século XII. Ele não era casado, mas como todos os monges, ele fez uma série de votos que o prendiam em um “casamento espiritual” com Deus.

Durante seu tempo, os monges ao redor dele relaxaram um pouco da Regra original de São Bento – as diretrizes fundamentais de como os monges honrariam seus votos. Bernardo sentia que tinha mais a oferecer e desejava contribuir mais para seu relacionamento com Deus. Ele estava dolorosamente ciente de quanto Deus havia dado a ele e quão pouco ele tinha dado em troca, escrevendo: “Claramente, amante e Amor, alma e Palavra, criatura e Criador não fluem com o mesmo volume, poder-se-ia comparar a um homem sedento e uma fonte”.

O que Bernardo notou é que,  em qualquer boa relação, é impossível somar e igualar o amor que é dedicado. O amor cria desigualdade, e a contribuição de Bernardo quase some em comparação com a que ele está recebendo.

Sabendo disso, talvez a questão a ser ponderada não seja tanto: “O meu parceiro está me tratando de forma justa?” O que devemos perguntar é: “Estou dando todo o meu amor a esse relacionamento? Como posso dar mais?

Este sentimento é resumido pelo poeta W.H. Auden, que escreve: “Se a afeição igual não pode ser, que o mais amoroso seja eu”.

Em outras palavras, nosso foco deve ser não o que estamos recebendo, mas o que estamos dando. Em um casamento saudável, em que ambos os cônjuges têm essa atitude generosa como mentalidade, o amor cobre uma infinidade de arranjos aparentemente desiguais.

Nosso casamento pode ou não ser “igualitário”, e pode ou não parecer “igualitário” a outras pessoas, mas isso realmente não importa. O que importa é que estamos contribuindo com todo o nosso amor para o melhor de nossas habilidades.

O casamento não é realmente uma parceria, é uma unificação. É um estado de vida complexo, no qual os corações de duas pessoas estão sempre misturados em um único coração. É contra-intuitivo, na medida em que, dando a nossa liberdade e sem contar o custo, tornado-nos felizes.

Talvez o segredo, como São Bernardo percebeu, seja ver como o próprio Deus se alegra em nos amar, embora o relacionamento seja ridiculamente desigual. Naturalmente, nenhum de nós é Deus, mas somos chamados a ser mais e mais como Ele.

O amor da minha esposa, mesmo sem nenhuma palavra, me faz querer responder ainda mais generosamente com meu próprio amor. É assim que o amor verdadeiro deve funcionar.

Michael Rennier