Vamos falar sobre vícios?

Naturalmente, quando se ouve essa palavra vem na cabeça imediatamente as palavras álcool e drogas. Entretanto, com a evolução cultural e tecnológica novas formas de vícios foram se estabelecendo enquanto outras puderam ser evidenciadas e tratadas em nossa sociedade. O maior exemplo desse fenômeno é a pornografia. Não obstante, o vício em pornografia é apenas uma das formas de um de vício mais abrangente raramente admitido em nossa cultura: os vícios sexuais.

Os vícios sexuais são também chamados de dependência do amor e do sexo. Nome estranho e até engraçado. Mas amor vicia? E sexo causa dependência? Não. Claro que não. O amor verdadeiro, enquanto virtude que se realiza na saída de si para o encontro com as necessidades do outro, não. Mas o amor enquanto sentimento, emoção ou carência comumente propagandeado, sim. Da mesma forma, o sexo como sinal de doação mútua e expressão do amor virtude também não vicia. Já o sexo cujo o fim último e exclusivo é o prazer, sim.

O termo dependência do amor e do sexo é o termo utilizado por grupos de recuperação como o DASA (Dependentes do Amor e do Sexo Anônimos) e o DAS (Dependentes de sexo anônimo). Este termo inclui também sexo anônimo (sexo com desconhecidos em ambientes comumente utilizados para isso), prostituição, masturbação,  pornografia, o voyeurismo (flertar, ou olhar excessivamente com desejos sexuais para o corpo de outra pessoa, espionar pessoas enquanto trocam de roupas, …), e ainda a fantasia sexual (uso incessante da imaginação para a obtenção de prazer sexual e/ou combustível para masturbação). E ainda podemos mencionar as (co)dependências afetivas ou “apaixonamentos”, que poderiam ser traduzidas como relações românticas problemáticas que originam facilmente uma dependência emocional. Como vemos, essas não são substâncias que se compram de traficantes, em bares ou clandestinamente. São comportamentos obsessivos que levam à mesma sensação das drogas convencionais: o prazer, dopamina no cérebro, a fantasia, a usura, a fuga da realidade.

No que diz respeito ao universo masculino, muitos poderiam dizer: “Ah, mas eu não vejo nenhum problema em me masturbar.” “Se a mulher for bonita, não me controlo, tenho que olhar.” “Eu mereço, sou homem, eu preciso.” “Sou solteiro, não tenho outra opção para descarregar os hormônios.” “Ah, mas eu não consigo me controlar.” Podemos muitas vezes utilizar racionalizações para adaptar nosso desequilíbrio aos nossos valores e crenças. Na manutenção de nossos impulsos, podemos ainda “negociar” com nossa consciência dizendo “só hoje… só 15 minuto… essa é a última vez… uma vez não mata ninguém.” Aos poucos e sem se perceber este vai se tornando dependente e prisioneiro dessas práticas. 

O primeiro passo para sair desse emaranhado de correntes é reconhecer a situação em que se encontra. Mas como saber se meus “hábitos”, meus “deslizes” são vícios?  Como saber se sou dependente do amor e do sexo?  Algumas palavras-chave são: autoconhecimento, humildade e honestidade. O questionário de 40 perguntas de autodiagnostico disponibilizado pelo grupo DASA pode dar uma ajuda neste sentido. O auxílio de uma outra pessoa disposta a ajudar também é indispensável: um amigo, psicólogo, padre, pastor do grupo de oração, ou alguém que já passou pela mesma situação.

O problema dos vícios sexuais (assim como todos os outros) é sem dúvida bastante extenso e inabordável em um único artigo. Espero falar mais nos posts que se sucederam sobre os mecanismos que funcionam “por baixo” dos vícios e sobre os caminhos de recuperação.

Deus abençoe.

L. Machado

Não existem demarcadores concretos que denunciem quando alguém já pode ser considerado homem de verdade. Tem muita gente do sexo masculino por aí, mas pessoas que se portem de modo confiável e comprometido é um pouco mais difícil.

Claro, estas não são características exclusivas do sexo masculino, nem dão algum diploma ou garantia absoluta, mas são indícios de que a pessoa não está mais aqui a passeio e que não chega ao outro extremo de se levar a sério demais.

É de maturidade que falo aqui, coisa preciosa.

1. Sabe expressar aquilo que pensa e sente sem jogos

O típico jogo de meninos é tentar sair ganhando todas as paradas e conseguindo aquilo que querem, preferencialmente sem esforço ou sem levar em consideração todas as condições. Para isso dramatizam, inventam, choram, na tentativa de dobrar o mundo ao seu gosto. Sua tática costuma ser uma variação de chantagem emocional que faça dos outros marionetes de seus interesses.

Um homem maduro percebe o momento adequado para se expressar sem atropelar os outras com suas vontades inadiáveis. Para isso, coloca as cartas na mesa com a tranqüilidade de quem está desarmado.

2. Valoriza a credibilidade

Meninos costumam agir sob impulso, por isso são capazes de fazer promessas para a vida inteira para alguém hoje e, amanhã, prometer o mesmo para outra pessoa com a mesma pseudo-convicção. Por isso, agem levianamente com trabalho, relacionamentos, família e consigo mesmos.

A credibilidade de um homem é o carro chefe do seu currículo. Seu talento vem acompanhado de uma certeza de que a fala é fiel aos atos, ainda que seja: “agora não vou prometer isso”.

3. Sabe equilibrar posturas

É muito fácil para o menino afirmar que é 8 ou 80, afinal qualquer coisa que der na cabeça dele será justificado por sua imprevisibilidade e intensidade.

A maturidade traz a tranqüilidade de quem não precisa agir como uma caricatura exageradamente feliz ou preocupada. Ele pondera e deixa decantar suas ideias e sentimentos até a efetiva ação. Com firmeza, sem radicalismos.

4. Evita auto-afirmação barata

Como está sempre hesitante, o menino se agarra a pequenos jogos de poder e usa os outros como escada de seus interesses. Garotas se transformam em cabides de sua vaidade e a escravidão por status é o arroto de sua pobreza emocional.

O homem de verdade consegue se movimentar mesmo sem estar no pódio e ainda assim se felicita com as vitórias e alegrias que permeiam a jornada de crescimento alheio. Por isso, não usa os outros como meios para seus fins, mas como parceiros de realização mútua.

5. Sabe liderar e ser liderado

O menino, por medo de voltar à condição de criança, quer sempre estar com as rédeas na mão. Ele dita condições, normas e regras rígidas para si mesmo e para os outros numa tentativa de não voltar ao cativeiro da casa dos pais.

Como o adulto já não vê esse retorno psicológico como uma realidade plausível, não precisa se reafirmar com a batuta na mão. Pode conduzir ou deixar-se guiar sem ver sua autoridade ferida.

6. O sexo não o aprisiona

Para meninos o sexo é o primeiro caminho de realização e prazer. Por isso, se agarram a ele como se fosse a única forma de encontrar entrega, afetividade, intensidade e gozo. Em pouco tempo ficam reféns do prazer a qualquer custo e acabam usando pessoas como peças dessa engrenagem egocêntrica.

Uma pessoa madura já ampliou seus horizontes e não resume seu prazer vital à cama. Já consegue saborear a sutileza do encontro sem afobação, desfrutando de um bom papo noite a dentro e uma vida recheada de trocas emocionais significativas. A verdadeira sensação de intimidade é sua meta. O sexo é um detalhe importante, mas não exclusivo para esse fim (e deve ser vivenciado efetivamente dentro do matrimônio)

7. Avança ou recua quando necessário

Para o menino só serve a vitória e, nessa empreitada de inevitável fracasso, agarrará cada disputa pessoal como um pitbull furioso, só largando se alguém sai machucado.

O homem maduro sabe admitir falhas, às vezes recua e não precisa estar sempre certo. Consciente de que a vida não é um jogo, pode abrir mão de excessos que os garotos nunca deixariam para trás. Ele segue em frente, seja lá qual for o resultado.

8. Seja um período ruim ou bom, ele sabe que vai passar

Meninos só interagem com quem terão algum proveito e fazem de tudo para continuar navegando em mar calmo, controlando tudo ao seu redor.

Homens passam por situações de escassez e continuam de peito aberto, criativos, dispostos, encontrando caminhos desconhecidos e prontos para lidar com privações.

Se a recompensa jorra em sua vida pessoal e financeira consegue ter virtudes e bens sem oprimir os outros, pois sabe utilizar seus recursos em benefício dos seres.

9. Seus desejos e caprichos nem sempre são prioridade

Consequência e responsabilidade são palavras pouco usadas no dicionário de meninos, já que estão habituados a colocar as coisas na conta dos pais ou da sociedade injusta. Para eles é natural e até vantajoso não lidar com limites.

O cara de “responsa” sabe bem onde pisa e, se avança sobre a liberdade alheia, percebe a hora de dizer sim ou não para os próprios desejos.

10. Não fica tentando sustentar estereótipos de macho

Os garotos com pouco repertório emocional (ainda que tenham 40 anos) se agarram em estereótipos de macho e se levam demasiado a serio. Lutam cegamente pelos brinquedos convencionais como carros, casas e iates, mas esquecem de alavancar uma vida significativa com felicidade, liberdade e paz de espírito.

Os bem vividos têm jogo de cintura e flexibilidade para mudar a rota da sua vida. Posicionam sua mente em um lugar privilegiado, de ludicidade, que vê a vida como uma dança harmoniosa onde não existem ruas sem saídas.

11. Palavras são só palavras, ele age

Os mimados reclamam e não pedem nada, não são capazes de sugerir mudanças ou verdadeiramente pensar em soluções. Falam e não comunicam com clareza o que exatamente os aflige ou como podem contribuir para uma mudança.

Para eles é mais importante se livrar do peso da cobrança – de si próprio ou de um outro – do que fazer o que tem de ser feito. Por isso prometem. Confiam no autoengano de suas promessas e esquecem que são as ações que falam mais alto.

Homens não esperam o momento ideal, tomam a frente e fazem o que tem que ser feito, sem preguiça. Na sua mente a mamãe não vai resolver a prova final.

12. Tenta acessar sua sabedoria mais profunda em meio às crises

Quando o horizonte do homem avança, há uma tendência em não mais ir atrás de soluções individuais. Ele percebe que é melhor e mais fácil avançar por meio de uma mente coletiva que traz à tona uma inteligência mais profunda. Aprende a converter qualquer interação num espaço de transformação e dali sair renovado diante de uma crise, sem paralisia.

Atos extremos estão reservados para mentes estreitas que só vêem dois caminhos. Certo/errado, bom/mau, justo/injusto. No universo infantil de alguém preso a estes eixos, há muito mais espaço para sentimentos contraproducentes como culpa, vergonha e medo.

13. São menos autocentrados

Um homem deixa que seu ego seja espremido pelas imprevisibilidades da vida sem que perca os outros de vista. Ainda que o ego baita forte e constante em suas mãos, insiste em trazer outros consigo, como parceiros. Não é uma pessoa plena, mas tem coragem para enfrentar suas incompletudes sem se fechar em sua bolha pessoal

Se você achou o mundo dos homens muito lento, chato, utópico ou com pouca ação e intensidade, já tem um bom indicio de qual ponto se encontra no percurso de amadurecimento pessoal. Fique atento se é acometido da pressa existencial precoce que paira no mundo dos meninos ou se submerge nos desafios silenciosos do oceano das incertezas humanas.

Autor: Frederico Mattos

A busca pelo prazer parece ser o principal motor de muitas pessoas. Essa busca frenética pelo deleite sexual sem limites, da qual vários se tornam escravos e dependentes, começa com uma lacuna na educação, algo necessário para a maturidade, que é a aprendizagem sobre como lidar com os próprios impulsos.

O alerta é mundial. Um estudo realizado com 3,2 mil jovens de 13 a 17 anos de cinco países europeus (Bulgária, Chipre, Inglaterra, Itália e Noruega) mostrou que 28% das mulheres e 21% dos homens dizem ter sido objeto de abuso sexual.

Outro estudo realizado na Inglaterra com 700 adolescentes de 12 e 13 anos mostrou que um em cada 5 recebeu imagens pela internet que o chocou ou perturbou. Do total, 12% dos entrevistados admitiram participar de alguma forma em um vídeo de sexo explícito.

A mulher é a que mais sai perdendo. Na maior parte dos conteúdos ‘adultos’ disponíveis nas plataformas digitais, vence o conteúdo misógino e machista, em que homens obrigam as mulheres a posturas desprezíveis, segundo pesquisas internacionais, como a realizada na Universidade de Leicester, na Inglaterra, pela pesquisadora Heather Brunskell-Evans. Um relato nu e cru dessa realidade é descrito no livro recém-lançado nos Estados Unidos Girls and Sex”, de Peggy Orenstein, feito a partir de entrevistas com 70 meninas, em que ela mostra como elas são instigadas pelos próprios colegas a se submeterem sexualmente – e postarem tudo nas redes sociais. E elas não têm recursos afetivos para lutar contra isso.

A solução mais aceita até agora, e citada nesses estudos, é a educação sexual que respeite o desenvolvimento emocional e psíquico de cada pessoa, que é diferente. A questão é como abordar o tema e identificar as fases. Nesse debate, considerar a pornografia como normal não tem sido a melhor saída.

A “educação” pela pornografia

A pornografia influencia na plasticidade do cérebro até formar um novo “mapa cerebral” e, por isso, a exposição ao material pornográfico na infância pode gerar consequências para toda a vida, explica o psiquiatra canadense Norman Doidge em um capítulo do livro “Os custos sociais da pornografia” (The Social Costs of Pornography: A Collection of Papers, editado por James R. Stoner e Donna M. Hughes). Isso acontece por uma série de fatores, como as características das imagens aliadas ao estado vulnerável do cérebro em momentos de excitação mental, e os mecanismos de recompensa fácil.

Segundo ele, a conexão rápida com a internet “satisfaz todos os pré-requisitos necessários para uma mudança neuroplástica”. Por isso, com a popularização das cenas eróticas, o que antes era considerada “pornografia suave” hoje nem mais é considerado pornográfico; e o que era “pornografia grave” é norma atual e tem uma tendência perigosa à violência e ao domínio sobre o outro.

No começo, descreve o psiquiatra, a pessoa sente repugnância a certas práticas e conteúdos. Com o tempo, se acostuma e procura doses cada vez mais fortes para alcançar os mesmos resultados. A consequência do consumo frequente seria a perda do prazer nas relações sexuais reais e sadias.

A “educação dos afetos”

O caminho para quebrar esse círculo vicioso que assalta os ambientes de crianças e jovens é complexo

A chave está em ajudar que as crianças desenvolvam a capacidade de dizer não aos impulsos que firam os direitos humanos próprios ou dos outros, ou ao menos que as levem por caminhos distintos da sua vontade. Explicando melhor: mesmo querendo passar no vestibular, por exemplo, um estudante pode passar horas perdendo tempo porque não é capaz de ir contra outros apelos que o impedem de estudar – ainda que seja muito inteligente e perceba a necessidade de estudar. Se ele não aprendeu, desde pequeno, a ter um domínio político sobre seus sentimentos – político, porque precisa também perceber o momento de relaxar – será refém deles e não alcançará seus objetivos – no caso, entrar na universidade. Esse exemplo pequeno pode ser reproduzido em outros âmbitos da vida.

Como os instintos básicos são fortes – comer, dormir, reproduzir -, as crianças aprendem a lidar com eles aos poucos, pelo conhecimento e exemplo de pessoas que ela admira e se espelha. A escola pode tentar suprir um ambiente familiar deficiente e, por outro lado, a família deve dar apoio quando a criança frequenta uma escola de ambiente hostil.

Não há respostas fáceis, para já, urge a discussão sobre o que seria uma educação sexual oportuna, que dê às crianças e aos jovens as armas que precisam para lidar de forma sadia com a própria afetividade.

Afetos sadios

Os impulsos humanos são controláveis se houver convicções firmes e um exercício constante para ser capaz de dizer “não” ao que pode causar dano. Confira algumas dicas para pais e escolas:

* É na infância que se aprende sobre o próprio valor. Por isso, é bom elogiar atos bons e nominar a sua conduta: “você foi muito valente”, “gostei muito da sua iniciativa”, “esta foi uma atitude muito generosa”.

* Levar a criança a estar segura do amor dos pais, mesmo com os seus erros e defeitos, fazendo-a perceber que pode se esforçar por melhorar.

* Motivá-la a controlar os impulsos: adiar um doce porque o irmão não pode comer, primeiro fazer a lição para depois brincar, etc.

* Ajudar que aceite a negativa para a compra de um brinquedo novo.

* Ensinar o real valor das coisas: as pessoas valem mais que as coisas.

* Ajudar a criança a interpretar as emoções alheias.

* Favorecer o auto conhecimento: quando está triste, alegre, com raiva, medo, entusiasmo, esperança.

* Ajudar a criança a administrar as próprias frustrações.

* Ensinar desde cedo sobre a vida moral e os valores: a justiça, a verdade, o bem, a compaixão.

Ensinar a se posicionar com as opiniões que aprende na família.

Ao corrigir, não ser rude e não humilhar a criança.

* Primeiro compreender e depois aconselhar ou repreender.

Expressar a contrariedade em relação à atitude do filho e nunca à personalidade.

* Elogiar os atos verdadeiramente bons e não qualquer atitude.

Não ser pais permissivos, que permitem tudo e, assim, criam filhos frágeis; e nem autoritários, que resulta em filhos submissos.

* Manter a harmonia conjugal para dar segurança afetiva aos filhos.

* Nunca banalizar os sentimentos da criança.

Sempre ensinar em casa e na escola sobre o bem e o mal através de situações reais, filmes, livros, etc.

* Oportunizar a intimidade afetiva em casa, na família. Entrar em assuntos pessoais com respeito, acolhendo as emoções da criança.

* Ensinar sobre a resolução de conflitos, sobre saídas positivas para os problemas.

*O “não” educa: dizer por que a criança não deve fazer algo e estimular que ela escolha algumas coisas em detrimento de outras, posicionando-se afirmativa ou negativamente e fundamentando o seu pensamento.

* Colaborou: Lélia Cristina de Melo, formada em Psicologia pela PUCPR, Diretora de Formação e Divulgação do Colégio do Bosque Mananciais.

O mundo carece de boas referências masculinas. A todo momento, a mídia nos propõe ideais de virilidade completamente desordenados. Ora é o “pegador”, ora é o frouxo efeminado e tíbio.

Hoje em dia, nossa educação não nos prepara para as coisas sólidas. Para o amor, para o compromisso e sacrifício. Mas ainda assim, o nosso coração anseia por essas coisas. É nossa natureza, fomos criados para o amor.

Se você anseia por doar sua vida na família, como pai e esposo, esse texto é uma humilde contribuição para sua caminhada. A família começa a ser construída no namoro.

O chamado ao matrimônio é uma nobre vocação. E como todo chamado de Deus, demanda que você escute e saia do seu lugar. Um namoro santo demanda sair de si mesmo, combater as próprias limitações, com oração, mortificação e prática das virtudes. Demanda autoconhecimento, discernimento, prudência. Demanda, enfim, uma busca pela conversão.

Façamos um pequeno itinerário.

AVISOS PRÉVIOS

São João Bosco disse uma vez que não se deve pedir uma mulher a Deus antes que Ele faça de você um homem. É uma verdade, mas como saber se sou um homem, e não um menino?

Há critérios bastante objetivos. O homem precisa ter disposição para sacrificar-se e doar-se. Olhe para sua rotina, seu dia a dia, as coisas que ocupam sua mente. Faça o exame de consciência: “Vivo para mim? Para meus hobbies e lazeres? Para o descanso? Busco fugir do trabalho e das responsabilidades?”.

Se sua maior preocupação é o futebol com a rapaziada, o novo filme da Marvel ou o bar, é hora de trabalhar um pouco o interior.

Outro conselho importante era dado por Santo Afonso Maria de Ligório. Ele dizia que namorar sem possibilidade de se casar a médio prazo, não convém. E aqui precisamos fazer algumas considerações.

Você tem condições de nos próximos anos estar pelo menos exercendo um ofício profissional, ainda que no começo? Não há necessidade de estar pronto para sustentar um lar, mas você poderá ter perspectivas de estar ao menos buscando isso, caminhando na vida profissional?

Você teria condição de catequizar uma criança, ou pelo menos estar trabalhando na própria formação pessoal? Reforçamos que você não precisa estar pronto, acabado (isso talvez nunca estejamos) mas você ao menos está trilhando esse caminho?

Rapazes de dezesseis anos, adolescentes que leem esse texto: não é o momento para namorar agora. Psicólogos afirmam que até os 18 anos nós nem ao menos podemos dizer que temos personalidade estruturada. Essa é a fase de se formar para o sacrifício e a virtude

Também é o momento de fazer um sério discernimento vocacional. É preciso saber quem você é aos olhos de Deus. Se perguntar: “Senhor, que queres de mim?”. Com direção espiritual. Retiros. Vida de oração cotidiana. Não faz sentido namorar sem indícios de que Deus talvez te chame a isso.

Fez um discernimento vocacional? Começou uma séria formação cristã? E uma séria formação humana, virtuosa, em uma profissão?

Agora podemos pensar em namorar.

A ESCOLHA DA NAMORADA

O namoro em si não faz sentido se não for colocado diante da possibilidade do matrimônio. O professor Carlos Ramalhete diz que namorar é procurar alguém para “ficar velhinho junto”. Então não namore uma moça que não permite essa perspectiva. Isso carrega muitos fatores subjetivos e particulares, mas há coisas que se aplicam a todo homem católico.

Por exemplo: não faz sentido namorar uma menina que não abrace a proposta do matrimônio católico. O sacramento pede três requisitos: indissolubilidade, abertura a vida e compromisso em criar os filhos na fé. Isso limita muitas coisas.

Uma menina virtuosa, que busca a castidade, é uma pessoa de boa vontade… mas é comprometida com uma igreja protestante. Você acha que ela aceitaria criar os filhos na fé? Não faz sentido começar um relacionamento.
É possível uma não católica estar sinceramente disposta a isso, e revelaria uma forte abertura de coração à conversão, mas é um caso de extrema exceção.

Por isso, ao procurar uma moça, comece pela Igreja. Na sua paróquia, em um movimento que você participa. Busque se cercar de boas amizades católicas, e certamente você irá se esbarrar com boas meninas.

Mas assim como o homem deve ter maturidade humana, a mulher em questão deve ter certa maturidade. Todos nós temos defeitos, e não dizemos para aguardar uma mulher perfeita, mas é bom saber se a menina tem noção do que é a vocação, tem desejo de buscar sinceramente as virtudes (apenas o esforço em buscá-las, não devemos esperar perfeição de ninguém), é pessoa comprometida com a Igreja e cultiva uma vida de piedade.

Essas coisas são visíveis durante um relacionamento de sincera amizade. Por isso, cultive amizades. Não tema a “friendzone”: não faz sentido namorar uma menina que você acabou de conhecer. Namore uma moça que no convívio com os amigos deu sinal de ter maturidade.

Há os fatores pessoais, que devem ser levados em consideração: se sua profissão te fará viajar por períodos longos, não é prudente namorar uma menina que não lida bem com ausências prolongadas. Ainda que gostos comuns não sejam fatores decisivos (no namoro, aprendemos a gostar de coisas novas, é natural) também não é inteligente namorar alguém com quem você não tenha nenhum gosto comum. É raro isso acontecer entre duas pessoas de Igreja, mas há personalidades que são muito díspares.

Um conselho é justamente pedir conselhos. Um amigo do convívio comum de ambos, que possui uma visão de fora, pode dar a opinião.É bom pedir essas opiniões (mas não muitas) de terceiros. Várias vezes vemos casais que não combinam em nada, no calor da paixão, perderem tempo tentando algo.

Faça boas amizades, conheça boas meninas, e uma vez que surja o momento, peça a opinião de um amigo próximo. Parece que vai dar certo entre você e a moça?

Então, como começo?

CORTEJANDO COMO HOMEM

A verdade é que existem muitas ótimas mulheres. Normalmente se você não consegue é porque não está procurando nos lugares certos (ou é um adolescente, e esse realmente não é o momento para isso).

Mas se você encontrou um ambiente saudável e mesmo assim não consegue, talvez esteja faltando um pouco de virtude.

Sim. Talvez falte paciência para ouvi-la (será que você não está sempre falando de si e do que te interessa, numa autopropaganda vaidosa?). Talvez falte prudência (você acabou de conhecer a menina! Não precisa forçar a barra na intimidade!). Talvez falte, mesmo, certa coragem (meu amigo, mulheres cristãs querem um homem de iniciativa. Com prudência, paciência, mas ainda assim, que “chegue” nela!).

Talvez te falte cavalheirismo. Não é uma ferramenta de conquista de mulheres, mas se você não reconhece a dignidade da mulher e lhe trata com respeito e reverência, não queira que elas te achem interessante.

Faça um discernimento. Discernimento humano: avalie a situação. Há um clima legal, de amizade natural (não force a barra!) entre vocês? Ela demonstrou interesse? (sim, precisamos ficar atentos aos sinais: elas NÃO são objetivas). Então um pouco de ousadia e criatividade cai bem.
Você é um homem de Deus. Suas intenções são retas. Você está buscando formar-se um bom marido e pai, capaz de proteger e prover sua casa, e criar seus filhos. Com obras. Com atos. Se segue esse caminho, e você tem boa amizade com a moça em questão, e ela já deu sinais de interesse, arrisque. Leve-a para um encontro a dois. Não espere a situação surgir: faça o convite. Tenha iniciativa. Dê alguma lembrancinha, mostre que se lembra dela, que é amável a presença dela. Você não está mentindo! Deixe-a saber que é querida. Que você se importa com ela e quer mesmo o Céu para ela.

As mulheres querem segurança. Dê segurança emocional mostrando a ela o que ela tem de bom, com elogios sinceros. Mostre segurança conduzindo o relacionamento: fale a verdade, diga os motivos que te levam a querer avançar em um relacionamento com ela. Mostre que é um homem que reflete sobre a vida, que tem seriedade.

E se ela simplesmente não quiser, paciência, meu amigo. Ela é livre para isso, e um homem precisa saber lidar com desapontamentos. Seja homem! Não a destrate por isso. Faz parte da vida, e isso irá moldar o seu caráter. Siga em frente.

Mas deu certo? Então vamos ao namoro, em si.

O NAMORO: O QUE É, COMO FUNCIONA

Se você seguiu esse roteiro tanto quanto pôde, não há grandes mistérios na condução de um namoro. Façamos apenas alguns apontamentos.

O namoro não é apenas “para se conhecer”. É verdade que é bom conhecer mais sobre o outro, e entre pessoas que dialogam (e diálogo sempre será fundamental) isso é inevitável. Mas o fim último do namoro não é se conhecer. As pessoas mudam! Quando vocês casarem, irão mudar. Quando vierem os filhos, irão mudar novamente.

O namoro é o momento de crescer junto. Lançar as bases da família. Se aqui falamos da importância de se crescer como homem antes de procurar uma namorada, agora o homem e a mulher amadurecidos devem crescer juntos e lançar as bases sólidas de uma futura família.

Você irá precisar se superar e “renunciar a si mesmo” dia após dia. O namoro é uma grande fonte de santificação. Você vai precisar aprender a abrir mão. A se desculpar. A ter paciência. A perdoar. Você vai precisar desenvolver uma delicadeza que nem sempre é natural para o homem. E há muita caridade em fazer as coisas com delicadeza.

Porque você precisará corrigir. Quem ama, corrige. Mas corrigir caridosamente, amavelmente, e sabendo que a mulher é outra pessoa.

O namoro não é lugar para você buscar amparo emocional. Muitas vezes, a mulher virtuosa é um amparo que nos leva a Deus, o Pai das consolações, fonte de todo amparo. Mas namoro não é feito para isso, é apenas uma graça que ele as vezes concede.

J. R. R. Tolkien bem disse em carta ao seu filho, Michael, que a Santíssima Eucaristia é a fonte de consolo, força e amparo. A mulher, segundo ele, é apenas nossa “companheira de naufrágio”, em um mundo ferido pelo pecado. Também ela é pecadora e limitada, e nós devemos todos os dias querer levar sua alma para Deus.

Isso demanda uma vida de oração. A vida de oração pessoal espera-se que você tenha desenvolvido antes do namoro (mas nunca é tarde para começar!), mas o namoro também pede a oração comum. Vocês estão querendo passar toda a vida juntos! Construir uma família! Aprendam a rezar juntos. Criem o compromisso com o santo terço. Participem de adorações eucarísticas. Meditem a Palavra e conversem com o outro sobre os frutos da própria meditação. Frequentem juntos a santa missa. Façam romarias e novenas pedindo as graças que precisam. Intercedam um pelo outro.

A castidade não será possível sem vida de oração. Pessoal e conjunta. Além disso, a fuga das ocasiões é fundamental. Mas sem oração, logo começamos a procurar ocasiões. Então não deixem de rezar juntos. E nas quedas, se levantem e procurem o santo remédio da confissão, que permite continuar de onde paramos. Sem desespero, pois isso é coisa do demônio.

Se são capazes de rezar juntos, e um leva o outro a Deus, é o melhor indicativo de um namoro santo. Se são capazes de se perdoar mutuamente, se são pacientes um com o outro, se o tempo passa e vocês conseguem ver frutos concretos de crescimento, então é sinal de que a coisa está bem encaminhada e o namoro caminha para o fim.
Pois o namoro não é fim em si mesmo. É o caminho para o altar.

QUANDO NOIVAR

Um piedoso sacerdote disse uma vez: “antigamente os casais queriam construir algo juntos. Hoje, as pessoas querem cada uma construir a vida sozinhas e depois pensam em casar”.

Se vocês têm o mínimo para começar a vida juntos, podem noivar. Mas não falamos somente do mínimo material.
Garantir um teto sobre a cabeça e comida na mesa é um desafio, sem dúvidas. Mas a verdade é que hoje em dia vivemos em um contexto materialmente muito mais favorável do que viveram nossos pais, avós, bisavós e toda a humanidade antes de nós.

As condições mínimas também abarcam uma perseverança na oração, uma paciência com as principais fraquezas do outro, capacidade de perdoar, propósito firme de educar os filhos na fé.

O namoro deve ser uma escola de tudo isso. Se tem isso, o material é secundário. Olhem o exemplo da Sagrada Família.

São José, tendo sua oficina em Nazaré, construído sua casa, havia garantido o material necessário para a família. Tão logo Jesus nasce, ele precisa deixar tudo isso para trás e ir morar em terra estrangeira para proteger Cristo de Herodes.

Se Maria e José não fossem santos completamente entregues nas mãos de Deus, não seriam amparados pela providência e não conseguiriam passar por essa missão.

Assim é a vida humana. Necessariamente há imprevistos. Todos estamos sujeitos à necessidade, e nessa hora, o que nos ampara é a providência, e o alimento para manter as virtudes heroicas que esses momentos pedem é o sacramento e a oração.

Não temam o noivado. O Papa pediu na exortação apostólica Amoris Laetitia que os jovens casais não temam uma cerimônia simples. Uma grande festa cara não é fundamental para o casamento. Ser gerente da empresa não é. Um salário de 15 mil e um mestrado também não.

Que Deus ajude todos os jovens casais a viverem essa santa vocação. Homens, olhem para Cristo e seu pai nutrício, São José. Eles serão seus guias nessa jornada!

(Por Daniel Alves, via Homem Católico)

Crianças que sofrem abuso sexual, físico e emocional podem apresentar não apenas cicatrizes físicas e emocionais, mas também genéticas.

Um novo estudo, feito pela Universidade de British Columbia, no Canadá, e pela Universidade Harvard, nos EUA, e publicado na Translational Psychiatry, revela ainda que a marca genética do abuso é tão profunda que produz alteração no DNA e pode, pelo menos em tese, ser transmitida para gerações futuras.

Há muito tempo, especialistas sabem que pessoas que sofreram abusos na infância carregam por toda vida os danos emocionais decorrentes do trauma. Mas queriam checar se o dano poderia chegar aos genes. O trabalho foi baseado na comparação de marcadores químicos presentes no DNA de 34 homens adultos que tinham sofrido diferentes tipos de abuso. Pesquisadores acreditam que esses marcadores – as ‘cicatrizes moleculares’ – poderão ser usados no futuro até mesmo como prova de que crianças sofreram abusos em casos policiais e judiciais.

As alterações constatadas no DNA são criadas por um processo chamado metilação. Segundo especialistas envolvidos no estudo, a melhor metáfora para entender esse processo é imaginar que ele funciona como uma espécie de interruptor do tipo ‘dimmer’ nos genes, determinando em que grau um gene em particular é ativado ou não. Esses mecanismos de ‘ligar’ e ‘desligar’ genes são estudados no campo conhecido como epigenética. Acredita-se que há uma forte influência de fatores externos, relacionados ao ambiente e às experiências de vida, na expressão genética.

De acordo com os especialistas, as pessoas expostas a abusos continuados apresentam uma liberação acima da média do hormônio cortisol, o chamado hormônio do estresse. Originalmente, o hormônio é liberado para induzir uma resposta imediata do organismo, conhecida como ‘lutar ou fugir’ – e foi muito útil aos nossos ancestrais para escapar de predadores por exemplo. O nível do cortisol cai imediatamente quando a situação de perigo se dissipa. No entanto, em casos de abusos continuados, a liberação excessiva do hormônio provoca as alterações genéticas – as metilações fora de padrão.

Os cientistas decidiram buscar por sinais de metilação em espermatozoides, na premissa de que o estresse na infância deixaria marcas genéticas no indivíduo que poderiam, inclusive, ser repassadas a seus descendentes, como já havia sido demonstrado em estudo com animais.

“Os resultados encontrados em camundongos foram assustadores”, contou a coautora do estudo, em entrevista ao Estado, Nicole Gladish, da Universidade British Columbia. “Filhotes de roedores submetidos a choques herdaram dos pais as marcas genéticas e apresentavam reações de medo quando achavam que seriam submetidos a uma descarga elétrica.”

Os pesquisadores encontraram uma diferença significativa na metilação de vítimas e não vítimas de abuso em 12 regiões dos genomas dos homens. Oito das regiões do DNA eram mais de 10% diferentes e uma região em particular mostrou uma diferenciação de 29%. O estudo não demonstra consequências físicas a longo prazo porque ainda não está claro como a metilação nessas regiões genéticas afeta a saúde dos indivíduos. O que se sabe até agora, segundo Nicole, é que as alterações afetaram genes ligados a função cerebral e ao sistema imunológico.

Os cientistas também não sabem se, no caso de humanos, as alterações sobreviveram ao processo de fertilização e seriam repassadas à geração seguinte, como ocorreu com os camundongos.

“Quando o espermatozoide encontra o óvulo, há um grande volume de rearrumação genética e muita da metilação é temporariamente apagada”, explicou, em comunicado, Andrea Roberts, de Harvard, co-autora do estudo. “Mas encontrar uma assinatura molecular no esperma nos leva um passo mais próximo de determinar se o abuso das crianças pode afetar até mesmo a saúde dos descendentes da vítima.”

A longo prazo, os marcadores genéticos poderiam servir até mesmo como prova em casos policiais. “A metilação começa a ser vista como uma ferramenta potencialmente útil em investigações criminais, por exemplo, ao oferecer aos investigadores dados como a idade aproximada de uma pessoa que deixou para trás alguma amostra de DNA”, lembrou o principal autor do estudo, Michael Kobor, geneticista e professor da British Columbia University. “É razoável que as correlações que encontramos entre a metilação e o abuso possam oferecer um porcentual de probabilidade de que o abuso possa, de fato, ter ocorrido.”

Limitações

Para a geneticista brasileira Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo, os resultados da pesquisa vêm “se somar a uma série de evidências obtidas nos últimos anos de que experiências que a gente vive causam modificações no nosso DNA”. “É um trabalho interessante, pela primeira vez mostra que há alteração no espermatozoide. Mas tem limitações, como ter avaliado um número pequeno de indivíduos. É uma primeira evidência, mas ainda não sabemos o que ela pode representar”, afirma Lygia.

Ela explica que quando o espermatozoide fecunda o óvulo, algumas dessas marcas epigenéticas no DNA costumam ser apagadas no embrião. “São necessárias mais pesquisas para sabermos se isso ocorre ou não nesse caso. Sabemos que o abuso infantil gera uma série de alterações psicológicas na pessoa que o sofreu e que isso é resultado das alterações epigenéticas que acontecem. Talvez isso não fique restrito à pessoa abusada e as marcas biológicas desse abuso sejam transmitidas à próxima geração, assim como se viu acontecer com camundongos. Mas esse estudo ainda não mostra que isso acontece, nem se isso permaneceria no embrião.”

Números

Estatísticas sobre o número de crianças que sofrem abuso no Brasil são muito deficientes. Não há uma base de dados centralizada. Os últimos números disponíveis do Disque Denúncia, por exemplo, revelam 16 mil relatos de violência sexual contra menores em 2016. Um outro dado do Sistema Único de Saúde mostra que 57% das vítimas de violência sexual que chegam aos hospitais têm entre 0 e 14 anos – um total de 13 mil pessoas. Especialistas acreditam que o número de casos deve ser muito maior. Nos Estados Unidos, por exemplo, são 6,6 milhões de registros por ano, segundo a Agência de Proteção à Infância.

Fonte: Estado de S. Paulo

O consenso a respeito do assunto

Após muitas décadas de psicologia ruim, o mundo moderno finalmente está descobrindo que a pornografia faz mal para as pessoas. A Igreja já dizia o mesmo faz tempo, mas só agora a cultura secular está compreendendo esta sombria verdade. Em um caso raro de consenso, maior parte dos estudiosos tem chegado à conclusão de que a pornografia distorce a visão das pessoas em relação ao outro sexo, atua como uma droga, cuja dependência geralmente piora com o tempo, e tem o potencial de arruinar relacionamentos.

Em resposta a esses dados, grupos das mais variadas áreas do espectro cultural têm oferecido argumentos para convencer os céticos, programas de autoajuda para romper com o mau hábito e até mesmo comunidades para as pessoas compartilharem seus esforços e ajudarem umas às outras. São inúmeros os recursos de qualidade disponíveis para o homem e a mulher que lutam contra o vício da pornografia, sendo muitos valiosos inclusive para quem não sofre com esse mau hábito, já que frequentemente esses materiais trazem insights profundos sobre a natureza humana e o modo de cultivar relacionamentos saudáveis.

Não obstante tudo isso, o problema da pornografia continua a fazer estrago, especialmente nos homens. Hoje, eles podem até dispor de mais recursos que os ajudem a lidar com o vício, mas, ao mesmo tempo, o acesso a conteúdo pornográfico se tornou muito mais fácil com a tecnologia. Podemos apresentar todos os argumentos convincentes para mostrar que a pornografia é algo ruim, mas a verdade é que as pessoas não sentem que seja assim, dado o fato de ela estar por toda parte. No fim das contas, como uma coisa pode ser tão ruim se tantos homens fazem e se é tão acessível?

Ainda que muitos argumentos contra a pornografia realmente ajudem algumas pessoas, a maior parte deles geralmente têm o efeito de varrer o assunto para debaixo do tapete. A vasta maioria dos homens, religiosos ou não, assiste a pornografia, mas guarda silêncio quanto a isso. Assim como as campanhas antitabagistas, campanhas contra a pornografia têm estigmatizado a prática, sem no entanto eliminá-la de fato. Um fumante agora, para dar uma tragada, precisa ir para o seu carro e ficar longe dos outros; o viciado em pornografia faz a mesma coisa.

O sintoma sutil da pornografia

Há uma diferença chave, no entanto, entre esse tipo de adicção e o vício em pornografia: os sintomas do primeiro aparecem e são difíceis de esconder. O fumante, o alcóolatra, o dependente químico tem um cheiro diferente, um aspecto diferente e se comporta diferentemente das outras pessoas. O viciado em pornografia, ao contrário, não parece em nada diferente dos outros, o que torna o seu problema difícil de detectar.

Parte disso também se deve ao fato de que são tantas as pessoas a sofrer com o vício em pornografia que os sintomas acabaram normalizados. Se todas as pessoas cheirassem a cigarro, ninguém iria realmente notar o odor. Quando tantos homens transformam as mulheres em objeto e têm problemas de intimidade, a maioria das pessoas simplesmente assume que isso faz parte de sua natureza.

Outra razão pela qual as pessoas têm dificuldades de detectar uma adicção — particularmente quem a tem — é que o principal sintoma se encerra no mais profundo da alma humana. Muitas discussões sobre castidade abordam os problemas externos como a química corporal, as mentiras contadas a quem se ama, o declive escorregadio para assistir a material mais pesado, a psiquê deformada, mas poucos mencionam o enorme impacto que a pornografia provoca em nosso espírito.

Muitos dirão que a pornografia emascula o homem, é verdade, mas o que isso significa? Significa que ela suga do homem o seu desejo pela excelência, a sua vontade de ser melhor, a sua busca por algo transcendente. Em termos práticos, o homem que assiste a pornografia não vai querer se sair bem na escola ou no trabalho, não vai procurar melhorar a sua saúde e a sua força física, não vai querer ler e trabalhar a sua mente, não fará muito caso de suas amizades e relacionamentos e terá poucos objetivos pessoais (se os tiver). Em suma, ele ficará paralisado.

Em sua Introdução à Vida Devota, São Francisco de Sales chama o homem de “o sexo mais vigoroso”, mas a pornografia reverteu essa realidade. Os homens abandonaram seus papéis como provedores e protetores, deixando-os serem assumidos pelas mulheres. Antes, eles dominavam o ambiente acadêmico e definiam a cultura e as tradições; agora, as mulheres se graduam em maior número e a cultura geral se encontra feminizada [1].

Os homens disciplinavam a si mesmos e os seus filhos; hoje, pouquíssimas pessoas sequer conhecem o significado de disciplina. Os homens costumavam passar tempo juntos e formar grandes amizades; agora, eles vivem desiludidos e isolados. Os homens costumavam rezar, ler e escrever; agora, eles “vegetam” em frente a uma tela (de TV, de computador ou de celular). O homem foi criado, enfim, para a grandeza, para a magnanimidade, mas agora, na maioria das vezes, o que ele faz é simplesmente chafurdar na mediocridade.

Rompendo com o mau hábito

Por debilitar o espírito humano, a própria fonte do desejo de adquirir a virtude e eliminar o vício, o hábito de assistir a pornografia é incrivelmente difícil de vencer. A superação de qualquer vício requer uma vontade determinada e a ajuda dos outros, mas a pornografia elimina as duas coisas tornando o homem, de modo secreto, fraco e desmotivado.

Não se trata, porém, de algo impossível. Um homem pode romper com isso se tomar medidas sérias para tanto. Isso significa que ele deve, em primeiro lugar, evitar todas as ocasiões de pecado — qualquer coisa que tenha uma tela e acesso a Internet. Programas de TV e filmes com conteúdo picante, bem como quaisquer revistas ou outros meios com imagens impróprias. Talvez seja necessário livrar-se do próprio smartphone e usar um computador somente para fins profissionais. Se for o caso, assim seja! Uma medida como essa também ajuda a tornar as pessoas ao redor responsáveis por essa mudança.

Eliminar todas essas coisas não vai necessariamente prevenir recaídas, mas elas diminuirão e o terreno estará preparado para uma desintoxicação. Levará um bom tempo, é certo, para as imagens que foram armazenadas na memória irem embora. A ociosidade tende a propiciar que essas imagens venham à tona, pelo que ter umhobby ou dedicar-se a uma atividade também constituem peças chave para frear esses impulsos.

Finalmente, é preciso rezar com frequência. Nada melhor para apagar a chama da luxúria que lembrar a Natividade de Nosso Senhor, a suave humildade de Nossa Senhora ou a Paixão de Cristo. A graça de Deus dará forças a qualquer um que esteja em busca de purificação. Outra boa prática, muito recomendada, é dizer três Ave-Marias ao dormir e ao acordar, todos os dias.

Com o tempo e com muito esforço, a adicção pode e deve diminuir. Mesmo aqueles que duvidavam perceberão a mudança. À medida em que vai perdendo, então, esse compulsivo desejo de olhar porcarias, o homem vai ganhando uma clareza de mente e um controle até então desconhecidos, os quais o ajudarão a crescer e a encontrar felicidade. Ele perceberá, em suma, qual a sua verdadeira natureza e entrará no caminho para ser aquilo para o qual desde sempre foi criado: um homem de Deus!

Notas

  1. Entendam-se corretamente as palavras do autor. Não se trata de uma crítica à ação das mulheres na sociedade contemporânea, mas à omissão dos homens. Assim como uma família, para crescer bem, demanda a complementaridade dos sexos, a ausência da presença masculina na sociedade também deixa muitos aspectos a desejar. Para um melhor conhecimento a respeito do papel da mulher no lar e no convívio social, leia-se o documento, do Papa São João Paulo II, Mulieris Dignitatem

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Este é um problema difícil de ser reconhecido por quem passa por ele. A relação entre um homem com sua mãe é importante para a construção da identidade e dos relacionamentos com os outros. Portanto, a sombra de uma mãe controladora pode ter sérias implicações quando o adulto quiser alcançar sua independência e felicidade. 

Geralmente, os filhos adultos de mães controladoras vivem em uma esfera de silêncio e em contínuas contradições. Isso se deve, principalmente, ao peso de nossa cultura à ideia segundo a qual as crianças são obrigadas a silenciarem suas emoções para parecem fortes. 

No fim das contas, ser criado e conviver com uma pessoa emocionalmente indisponível, com o clássico resplendor do egoísmo, cheia de queixas e com muita necessidade de controle pode deixar sequelas graves. Vejamos algumas delas: 

  • uso recorrente da mentira e da negação. O filho que cresceu sob a influência de uma mãe controladora não teve tempo de construir uma identidade própria, autêntica e forte. Deste modo, uma mecanismo de sobrevivência muito comum a estes homens é a mentira. A mentira serve, para ele, como proteção, para esconder suas emoções e sobreviver a duras penas em qualquer contexto;
  • contenção emocional. Os filhos adultos de mães controladoras vivem se anulando emocionalmente. Ao suprimir, desde o início, a energia emocional da criança para colocar ela própria como prioridade, a mãe faz com que a criança pense que mostrar sentimentos pode ser vergonhoso e perigoso;
  • hostilidade. Uma mãe controladora gera sempre um apego inseguro. Se, neste vínculo mãe-filho, a criança não foi valorizada, é possível que, quando adulto, desenvolva comportamentos agressivos ou hostis. Deste modo, o homem que cresceu nesta dinâmica pode demonstrar reações superdimensionadas em certas ocasiões. É quando se evidenciam a falta de controle e a tendência a manifestar a própria raiva;
  • Relacionamentos frustrados. As mães controladoras consideram que seus filhos são propriedades delas. Esse vínculo tóxico tem graves implicações no desenvolvimento afetivo do menino, no seu amadurecimento psicológico, na sua independência e na sua capacidade de tomar decisões. Uma consequência evidente é a clara dificuldade para estabelecer intimidade e conexão emocional autêntica com a futura esposa. 

Conclusão: é importante ter presente que o amor verdadeiro busca o bem-estar da pessoa amada, principalmente quando se trata do próprio filho. Educar no amor e na liberdade é algo essencial, que começa a se desenvolver em casa, já nos primeiros meses de vida. 

Autor do artigo Javier Fiz Pérez