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Foi publicado o novo documento da Congregação para a Educação Católica intitulado“Homem e Mulher os criou”. Para uma via de diálogo sobre a questão de “gender” (gênero) na educação.

Segundo o Prof. Roberto Zappalà, diretor do Instituto Gonzaga de Milão esse documento se apresentada como uma valiosa contribuição adicional de reflexão (que vai se acrescentar a outros elaborados em precedência) útil para “orientar e apoiar os envolvidos na educação das novas gerações” (n. 5).

O foco do documento é certamente sobre uma das “questões mais debatidas sobre a sexualidade humana hoje”, a questão do “gender” na educação, como já mencionado no título. No entanto, a reflexão articulada no documento assume um âmbito mais amplo: a “emergência educativa”, que enfrentamos e que nasce de uma sociedade e de uma cultura cada vez mais pobres em evidência e valores compartilhados, parece agora unir tantos jovens em formação como os adultos que devem educá-los na mesma percepção de viver como “abalados pelas ondas e levados aqui e ali por qualquer vento de doutrina” (Ef/4, 14).

Esta emergência denota – nas palavras do Papa Bento XVI – uma verdadeira “carência antropológica”, que tende a nos fazer esquecer que a pessoa humana “é um ser integral e não uma soma de elementos que podem ser isolados e manipulados segundo à própria vontade”.

Diante dessa carência antropológica que determina a “desorientação antropológica que caracteriza difusamente o clima cultural de nosso tempo” (n. 1), a Igreja, com este novo documento, assume e convida a assumir uma atitude de escuta, de reflexão e de proposta para “empreender a via do diálogo sobre a questão do “gender” na educação” (n. 6). E é precisamente por esta razão que o documento está dividido em três seções: Ouvir nºs 8-23; Refletir, nºs 24-29; Propor, nºs 30-51:

– Ouvir “do perfil histórico, dos pontos de encontro e das críticas na questão do “gender” (n. 24), bem como da “partilha e apreciável exigência de lutar contra qualquer expressão de injusta discriminação”(n. 15);

– Reflexão crítica sobre os aspectos da “liquidez e fluidez pós-moderna” (n. 19) subordinados à ideologia do “gender” que levam a propor, em nível antropológico, “uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente desvinculada da diferença biológica entre masculino e feminino. A identidade humana é entregue a uma opção individualista, mutável com o tempo, expressão do modo de pensar e agir, hoje difundido, que confunde “a liberdade genuína com a ideia de que cada um julga como lhe parece, como se, para além dos indivíduos, não houvesse verdades, valores, princípios que nos guiam, como se tudo fosse igual e tudo se devesse permitir” (n. 22);

– Proposta de um cuidadoso discernimento sobre a verdade da pessoa e sobre o significado da sexualidade humana, através de uma clarificação antropológica que tem o seu núcleo naquela “ecologia humana que procura o reconhecimento da dignidade peculiar do ser humano”. Dignidade que o homem mesmo “deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece”. (n. 30). E é à luz desta ecologia humana que a mulher e o homem podem “aprender […] qual é o significado do corpo em toda a verdade original da masculinidade e da feminilidade; para se poder reconhecer a si mesmo no encontro com o outro que é diferente […], e enriquecer-se mutuamente “(n. 35).

Nesta antropologia relacional emergem traços fundamentais da antropologia cristã da pessoa, que reconhece “o significado da sexualidade de discriminação e de violência, precisamente porque aprenderam a reconhecer as igualdades das pessoas, não negando, mas sim respeitando e valorizando as suas diferenças .

Da leitura global deste novo documento da Congregação para a Educação Católica emerge claramente que a Igreja olha para a “questão do ‘gender’ na educação” na perspectiva mais ampla do comum compromisso de construir uma convivência social que, como já auspiciara o Concílio, sempre mais “respeite a dignidade, a liberdade e os direitos das pessoas”. E é precisamente na perspectiva deste compromisso comum que a Igreja deseja não só abrir “uma via de diálogo”, mas também tornar-se um “espaço de diálogo” com as instituições culturais, sociais, políticas e com todos os homens, mesmo com aqueles que não partilham a fé cristã, mas “têm o culto de altos valores humanos.

Neste diálogo, a Igreja participa com a convicção de que cada interlocutor “tem algo de bom a dizer” e que, portanto, é necessário “dar espaço ao seu ponto de vista, à sua opinião, às suas propostas, sem cair, obviamente, no relativismo”. E precisamente por isso, como “perita em humanidade”, a Igreja quer oferecer a todos “o que possui por si mesma: uma visão global do homem e da humanidade”, convencida de que só um diálogo aberto e respeitoso, enfrentado sem medo nem radicalismo ideológico, pode contribuir verdadeiramente para uma compreensão mais profunda da sexualidade humana.

Prefeito da Congregação para a Educação Católica apresenta o novo documento “Homem e mulher os criou”

“Devemos encontrar caminhos de diálogo sobre o gender, sem cair nos slogans e nos extremismos. Mas devemos fazê-lo partindo da nossa identidade e também sabendo traduzir à luz que vem da fé em argumentos racionais, porque há muita confusão e nas escolas se corre o risco de impor-se um pensamento único como científico. Respeitamos todos, mas pedimos para ser respeitados.”São palavras do prefeito da Congregação para a Educação Católica, cardeal Giuseppe Versaldi, que – junto com o secretário do Dicastério, o arcebispo Vincenzo Zani – assinou o documento “Homem e mulher os criou”.

Eminência, qual é a finalidade do documento?

“É importante deter-se sobre o subtítulo: ‘Por um caminho de diálogo sobre a questão do gender na educação’. Nosso documento não é doutrinal, é mais metodológico: como educar as jovens gerações a enfrentar esses temas num tempo em que há muita confusão sobre isso. Assistimos ao risco que se imponha nas escolas como sendo científico um pensamento único que não podemos aceitar. Ao mesmo tempo, devemos ser capazes de dialogar, de renovar-nos, e de valorizar aquilo que surgiu de bom das pesquisas sobre o gender.”

Como nasce esse novo texto?

“A ocasião e o estímulo a prepará-lo vieram das visitas ad Limina dos bispos do mundo inteiro e também das viagens que fizemos, sobretudo das escolas e das universidades. Efetivamente, se está difundindo uma ideologia do gender e o ensino da Igreja é taxado como retrógrado. Por isso era necessário buscar formular um diálogo educativo sobre esse tema.”

Quais foram as bases sobre as quais se trabalhou?

“Procuramos fazê-lo num nível de razão, com argumentos racionais, e não com slogans nem de modo fideísta. Para nós a razão é iluminada pela fé e não é contrária à razão. Em todo caso, sobre o tema gender é possível formular o diálogo baseado em argumentos que não requerem a adesão à fé católica, mediante três argumentos: ouvir, raciocinar e propor. Há argumentos racionais que esclarecem a centralidade do corpo como subjetividade que comunica a identidade do ser. Nessa luz se compreende o dado biológico da diferença sexual entre homem e mulher. A formação da identidade se baseia na alteridade e na família a relação perante a mãe e o pai facilita para a criança a elaboração da própria identidade-diferença sexual. O gênero ‘neutro’ ou ‘terceiro gênero’, ao invés, se mostra como uma construção fictícia.”

Documento do Vaticano sobre “gender”: sim ao diálogo sobre estudos, não à ideologia

“Em primeiro lugar, devemos distinguir entre a ideologia gender que é apresentada como científica e que se difunde também nas escolas, das pesquisas sobre o gender. Ao tempo em que não aceitamos a ideologia, reconhecemos pontos de encontro nas pesquisas sobre o gender para crescer na compreensão recíproca. Cito dois exemplos: a igual dignidade entre homem e mulher, após as formas de injusta subordinação que marcaram séculos da nossa história. Há também a educação das crianças e dos jovens a respeitar toda pessoa na sua peculiar e diferente condição – necessidade de cuidados especiais, raça, religião, tendências afetivas – combatendo toda forma de bullying e de injusta discriminação. Outro ponto importante diz respeito aos valores da feminilidade evidenciados na reflexão sobre o gender: muito se tem detido sobre o aspecto físico da sexualidade colocando em segundo plano aspectos culturais que aprofundam a natureza sem, porém, opor-se a ela. Esse aprofundamento do valor da feminilidade é, aliás, bem fundado nos documentos dos últimos Pontífices.”

Em relação aos aspectos mais críticos. Quais são eles?

“As teorias do gender, particularmente as mais radicais, se distanciam do dado natural chegando a uma opção total pela decisão do sujeito emotivo. Desse modo, a identidade sexual e, consequentemente, também a família se tornam ‘líquidas’ e ‘fluidas’, fundadas no desejo do momento, em vez de no dado natural e na verdade do ser. Pretende-se eliminar a diferença sexual, tornando-a irrelevante para o desenvolvimento da pessoa.”

Quais resultados se espera alcançar com este novo texto?

“Propondo o caminho do diálogo fundado em argumentos racionais, respeitamos as posições distantes das nossas e pedimos respeito pelas nossas. Não somos nós que escolhemos os alunos das escolas e das universidades católicas, são as famílias e os estudantes que escolhem essas escolas e esses ateneus, sabendo que são católicos. Não podemos faltar à nossa identidade aderindo a um pensamento único que gostaria de eliminar a diferença sexual reduzindo a um mero dado ligado às circunstâncias culturais e sociais. Devemos evitar os dois extremismos: o do pensamento único e da ideologia que se conduz por slogans, e aquele segundo o qual somente quem partilha a fé católica e pensa como nós deveria vir a nossas escolas. Devemos buscar caminhos de diálogo e responder à emergência educacional sobre esses temas. O documento é uma contribuição nesse sentido.”

Por Leda Galli Fiorillo

O ser humano é um “corpo espiritualizado” ou um “espírito corporificado”. Essas duas dimensões estão de tal modo entrelaçadas que o homem se exprime justamente na sua unidade, na sua inteireza de corpo e espírito. É por isso que a sexualidade não é apenas uma questão de anatomia ou de genética.

As dimensões do ser humano

“O corpo, se o olhas apenas, é mudo; mas se o olhas e interrogas, é eloqüente”!

Este pensamento exprime bem o critério metodológico com que me proponho refletir sobre o que é o ser humano. Isto é, partir do dado biológico para chegar, através do rigoroso fio condutor da lógica, ao plano ético. Isto porque a ética – quer dizer, os princípios do comportamento que mais se ajusta à natureza do ser humano – já está inscrita, de algum modo, no próprio corpo humano: basta querer lê-la.

O que é, portanto, o ser humano?

Foi definido como “corpo espiritualizado” ou “espírito corporificado”. As duas dimensões estão de tal modo entrelaçadas que o homem se exprime justamente na sua unidade, na sua inteireza de corpo e espírito.

Podemos imaginar o ser humano composto de camadas concêntricas sobrepostas.

Começando pela periferia, encontramos corporeidade, dimensão que está em contato direto com o ambiente externo, com o qual interage, e que chega a conhecer através dos sentidos externos – vista, audição, olfato, paladar e tato –, que são precisamente as “portas” para a realidade circunstante. Nessa mesma dimensão, encontram-se também os instintos, com a finalidade de satisfazer as necessidades primordiais – comer, beber, dormir, reproduzir-se –, sem os quais os indivíduos e a espécie não poderiam subsistir.

É fácil constatar que da satisfação das necessidades deriva um tipo de gratificação que é o prazer corpóreo, útil como incentivo para o desenvolvimento das correspondentes funções.

O que dissemos até agora pode parecer perfeitamente aplicável aos animais. No entanto, já aqui se abre um abismo entre nós e eles. Pois, nos animais, os instintos estão programados em função da necessidade; satisfeita esta, o instinto apaga-se. De fato, o animal só come se tiver fome, sé bebe se tiver sede, reproduz-se só em determinados períodos do ano, o suficiente para garantir a preservação da espécie, permanecendo absolutamente tranqüilo fora desses períodos.

O homem não. O homem é capaz de – mesmo depois de satisfeita a fome – degustar, ao final do almoço, uma fatia de doce para comemorar um acontecimento qualquer; o mesmo se passa com a bebida. No plano sexual, o ser humano está sempre fisiologicamente disponível, durante todo o ano, muito além, portanto, do que seria necessário para a manutenção da espécie. Daqui se deduz que, no homem, os instintos têm “trânsito livre”, não estando constitutivamente programados. Veremos daqui a pouco a razão disso.

Debaixo da camada da corporeidade, encontra-se a das paixões, das emoções e dos sentidos internos, isto é, a da memória – que faz reviver o passado – e a da fantasia –que cria no imaginário, no não-vivido. É a rica e envolvente dimensão da afetividade.

Por fim, vem o núcleo mais profundo, aquele que mais caracteriza a espécie humana: o da inteligência e da vontade; ou seja, a dimensão da racionalidade.

inteligência – do latim intus legere, “ler dentro” – é a faculdade que serve para conhecer, para entender a verdade das coisas e distingui-la do erro. Do exercício dessa função deriva uma gratificação que podemos definir como satisfaças intelectual.

vontade é a faculdade operativa que permite pôr em prática aquilo que a inteligência entendeu ser justo e, portanto, bom.

Pode-se dizer, portanto, que, se a inteligência tende para a verdade, a vontade tende para o bem. A gratificação que daí se tira é – num crescendo que depende das dimensões do bem – a paz do coração, a felicidade, a alegria.

Entende-se facilmente que satisfação intelectual e alegria não pertencem ao plano da corporeidade – embora se exprimam através dela, revelando a intrínseca unidade do ser humano –, mas sim ao plano do espírito.

De fato, podemos ser intensamente felizes mesmo quando padecemos algumas dores físicas; e vice-versa: podemos estar em perfeita saúde, mas ser infelizes a ponto de desejar a morte…

A esta altura, podemos dar-nos conta da razão pela qual os instintos não terem uma auto-regulação no homem tal como nos animais. Porque o homem, e só ele, tem inteligência para entender se, quando e em que medida deve satisfazer os seus impulsos –, e a vontade para agir em consequência, realizando o seu bem.

Portanto, o homem, se quer ser tal, deve saber regular por si próprio, mediante a inteligência e a vontade, os instintos, que, de outro modo, se desgovernariam; e não só os instintos, mas também as paixões, a memória, a fantasia: em uma palavra, todas as outras faculdades. Caso contrário, será dominado por elas.

Só assim se realizará em plenitude como ser livre, por ser verdadeiramente dono de si em todas as suas dimensões. Desta ordem interior derivarão a autonomia, a unidade e a harmonia de todo o seu ser “corpo espiritualizado” ou “espírito corporificado” que constituem o objetivo de todo o itinerário educativo humano.

A Sexualidade

Mas o ser humano não termina aí. O ser humano é sexuado. Existe, de fato, em duas versões: masculino e feminino. Por quê? O que mudaria se não fosse sexuado? Interroguemos a Biologia. 

Como é sabido, no núcleo das células humanas estão presentes 46 cromossomos, os depositários de todos os caracteres genéticos do indivíduo: 23 provenientes do pai e 23 da mãe. Entre eles, há dois cromossomos especiais, os do sexo: XX para a mulher e XY para o homem. Pois bem, estes cromossomos do sexo encontram-se em todas as células – e são 300 trilhões! – do corpo humano: nas da pele, dos músculos, do cérebro, dos olhos, e assim por diante. Em suma, todo o corpo é sexuado. Mas vimos antes que, no homem, corpo e espírito estão indissoluvelmente unidos (não existe ação material, por mais elementar que seja, que não envolva, em alguma medida, também as faculdades superiores; assim como não existe pensamento, por mais elevado que seja, que não se exprima através da corporeidade): portanto, daqui resulta que a sexualidade é uma dimensão do ser humano como um todo.

Assim, ensinar educação sexual não significa só dar informações sobre a anatomia e o uso dos genitais, mas educar o homem na sua integridade, isto é, educar, além da sua corporeidade, também a sua afetividade, inteligência e vontade.

Dimensão individual da sexualidade

A presença dos cromossomos XY no homem e XX na mulher é responsável pela existência, dentro deles, dos caracteres sexuais primários e secundários.

Por caracteres sexuais primários, entendem-se os aparelhos reprodutores masculino e feminino. 

Os caracteres sexuais primários são diretamente determinados pelos genes, ou melhor, pelos cromossomos do sexo, e, portanto, estão presentes e evidentes já desde o início, nos primeiros tempos do desenvolvimento embrionário.

Os caracteres secundários, por sua vez, são induzidos pelos hormônios secretados, respectivamente, pelos aparelhos masculino e feminino; e, como os hormônios entram em circulação só a partir da puberdade, só fazem a sua aparição nessa época. Compreendem aquela bagagem de características que contribuem para distinguir de modo especial o homem da mulher: a estatura, o timbre da voz, a constituição óssea (costas largas e quadril estreito, no homem; costas estreitas e quadril largo na mulher), a quantidade e a distribuição da pelugem, o desenvolvimento maior ou menor das glândulas mamárias, a quantidade e a distribuição da gordura subcutânea, da qual deriva a silhueta, mais linear no homem, mais curvilínea na mulher. Mas, como no ser humano corpo e psique são um todo unitário, existem também alguns caracteres sexuais secundários psíquicos que completam a dimensão pessoal da sexualidade.

Sem querer catalogar ninguém de maneira rígida, é, no entanto, bem evidente que há características mais propriamente masculinas e outras mais femininas. Por exemplo, o homem é mais realista e imediato, vai ao essencial (linear!…), é mais empreendedor e toma mais a iniciativa, o que o leva a “ir em direção a” (também fisicamente, na relação sexual); vive melhor a fortaleza como afirmação do positivo e tem um tipo de inteligência mais racional, no sentido de que, se vê um problema, dá pequenos passos lógicos, em rigorosa sucessão, na direção do problema, até que chega à solução.

A mulher, por sua vez, é mais sensível e imaginosa (curvilínea!…), atenta ao detalhe, mais paciente, feita para o “acolhimento” (também fisicamente…); vive melhor a fortaleza como resistência ao negativo e tem um tipo de inteligência predominantemente intuitivo, no sentido que, com uma visão de conjunto, abarca o problema e chega rapidamente à solução, talvez sem a mínima ideia sobre como chegou até ali.

Portanto, o homem e a mulher são diversos não só fisicamente, mas também no modo de ser, de pensar e de relacionar-se com o ambiente circunstante. Mas não se trata de uma diversidade casual.

De fato, salta aos olhos que os dois sexos são complementares, tanto no plano físico como no psicológico: cada um dos dois tem e é o que o outro não tem e não é. Nasce, assim, um impulso recíproco irresistível de ir um ao encontro do outro.Mesmo sendo cada um deles um indivíduo completo, no sentido de que poderia muito bem viver só, é até por demais evidente que, postos juntos, formam uma unidade de ordem superior, o casal, completando-se um ao outro.

Agora, pois, podemos finalmente responder à pergunta que formulávamos no início: o que mudaria se o ser humano não fosse sexuado? Cada um estaria fechado em si mesmo, isolado na sua total autossuficiência, e viria a faltar, portanto, o impulso poderoso ao “relacionamento”.

Descobrimos, assim, que a sexualidade, além da dimensão individual, tem também uma outra dimensão: a conjugal.

O Pudor

Antes de passar ao casal, é preciso tomar em consideração um último componente do ser humano: o pudor.

Na cultura de hoje, parece algo ultrapassado, fora de moda…; basta-nos olhar ao nosso redor! O homem parece ter-se libertado de certos “tabus”, aceitáveis, no melhor dos casos, para as nossas avós… Vamos ver se isto é verdade.

Suponhamos que possuímos no nosso apartamento muitos objetos preciosos de grande valor. Deixaríamos o nosso apartamento desprotegido, de portas e janelas abertas, à mercê de estranhos, de modo que qualquer um que passasse levasse consigo uma parte dos nossos bens? Claro que não! Não só fecharíamos as portas e as janelas, como as dotaríamos de fechaduras e de alarmes. E seríamos nós que decidiríamos livremente que parte das nossas riquezas doadas e, em qualquer caso, só a quem considerássemos digno de recebê-las.

Bem, isso é o pudor: o guardião da nossa preciosa intimidade, isto é, de todo o conjunto de riquezas físicas e espirituais que caracterizam o ser humano e que somente podem ser doadas, nunca furtadas.

Claro, se no apartamento não sobrou nada de precioso porque, negligentemente, permitimos que se esvaziasse, deixando os bens ao alcance da mão de qualquer estranho, é óbvio que nessa situação qualquer proteção se tornaria supérflua e perderia sentido…

Eis por que, hoje, o pudor parece ter decaído e estar ultrapassado, quase como se fosse um fato cultural desligado da natureza do ser humano e conectado unicamente com fatores ambientais – as modas – que mudam com o tempo.

Poder-se-á objetar, neste ponto, que existem culturas em que – talvez justamente devido a fatores ambientais, como a alta temperatura – o sentido do pudor parece não estar muito presente, por exemplo em certas tribos africanas. Errado!

Há tribos em que os indivíduos, embora vivam nus ou quase, manifestam o seu pudor ruborizando-se violentamente e fugindo de ser tocados; e outras em que, se uma mulher é surpreendida nua por quem não tem esse direito, reage imediatamente cobrindo o rosto com as mãos. Sim, porque, se pensarmos bem, todos os corpos se assemelham, mas a parte absolutamente individual e irrepetível, através da qual se pode, portanto, ser reconhecido, é o rosto – e mais ainda os olhos–, que é o que melhor exprime a originalidade do ser de cada um.

Portanto, pode-se concluir daqui que o pudor, longe de ser uma postura acidental ou ultrapassada, é, pelo contrário, uma exigência profunda e universal da natureza humana, e que só o seu modo de se manifestar é que muda com as culturas ou com os fatores ambientais. Mas, para que hoje se recupere esse precioso componente do ser humano, é necessário voltar a tomar posse da própria intimidade, tomar consciência dela e cultivá-la como um bem de inestimável valor.

Dimensão conjugal da sexualidade

Podemos agora abordar o tema conjugal.

Do que acaba de ser exposto acerca da complementaridade dos dois sexos, derivam algumas conseqüências lógicas.

Antes de mais nada, que ao homem e à mulher cabem por natureza papéis diversos, mas complementares, que constituirão a origem e o fundamento dos sucessivos papéis paterno e materno. Tais papéis, enquanto estavelmente radicados na biologia e na psicologia do ser humano, não são um fato cultural, que se prenda com a época, a mentalidade ou os costumes, e, portanto, não são intercambiáveis arbitrariamente, como fruto de uma escolha individual.

O que muda com o tempo são as tarefas que o homem e a mulher são chamados a desempenhar nas diversas épocas históricas e nas diferentes sociedades, isto é, para dizê-lo de modo simples: muda a questão de determinar quem vai às compras ou acompanha as crianças à escola, quem cuida das contas a pagar ou das relações com o médico etc., aspectos todos que dependendo, esses sim, de fatores culturais, econômicos, sociológicos, ambientais, profissionais, organizativos ou, simplesmente, de conveniência individual e familiar, e também das aptidões pessoais.

A outra conseqüência está na absoluta paridade de dignidade do ser masculino e feminino, enquanto depositários, um e outro, de atributos, qualidades e prerrogativas de igual valor e, de qualquer modo, indispensáveis ao complemento do outro sexo. Mas atenção: paridade não significa igualdade. O valor e a dignidade são iguais, não os sexos, que – vale a pena insistir são diversos e complementares.

Então, que dizer de séculos, ou melhor, de milênios de machismo – no mundo ocidental, pelo menos – que mantiveram a mulher em estado de sujeição? Um abuso.

E que dizer de décadas de feminismo, não desse feminismo justo e sadio que ajudou a mulher a recuperar a consciência da sua dignidade, trazendo-a de volta ao mesmo nível do homem, mas, sim, daquele feminismo que tem pretendido  substituir o homem, subjugando-o? Outro abuso.

Os dois sexos não são antagônicos, nem autorizam – não teria sentido – a competição entre eles. E nem mesmo é de pensar que, para realizar em plenitude o próprio sexo, seja necessário imitar o outro. Pelo contrário, podem ser de válida e preciosa ajuda um ao outro, na medida em que cada um continuar a ser ele próprio.

E assim se chega à praia serena da colaboração, onde cada qual, cônscio das suas prerrogativas insubstituíveis, olha o outro com gratidão e respeito, reconhecendo-o depositário de riquezas diversas, mas paritárias às próprias.

Aliás, a sociedade tem necessidade de ambos: são-lhe necessários, de fato, tanto o realismo e a essencialidade masculinos como a sensibilidade e a intuição femininas.

Um novo estudo científico encontrou diferenças significativas na maneira como os cérebros masculinos e femininos funcionam no útero durante a gravidez.

O artigo intitulado “Diferenças sexuais na conectividade funcional durante o desenvolvimento do cérebro fetal” foi publicado em abril de 2019 na Elsevier, a maior editora de livros sobre medicina e literatura científica do mundo.

Os pesquisadores realizaram pesquisas com tecnologia avançada de ressonância magnética (RM) em 118 fetos humanos dentro do útero. Estudou-se a conectividade funcional (FC, na sigla em inglês) ou conexões neurológicas entre diferentes áreas do cérebro, tanto para homens como para mulheres, e encontraram conexões entre partes do cérebro feminino que eram quase inexistentes em cérebros masculinos.

“Este estudo demonstra pela primeira vez que o desenvolvimento da conectividade funcional do cérebro fetal varia com o sexo”, escreveram os pesquisadores e concluíram que as redes cerebrais fetais que observaram provavelmente constituem os “blocos de construção” para o desenvolvimento do cérebro durante o resto da vida do bebê.

Dr. Leonard Sax, médico de família e autor do livro de 2005 “Por que o gênero importa”, disse a CNA – agência em inglês do Grupo ACI – que o fato de haver uma diferença na função cerebral, em um estágio de desenvolvimento no qual um bebê ainda não tenha sido exposto a qualquer tipo de influência social, é significativo em si mesmo.

“Acho que a importância desta pesquisa é que mostra que o cérebro de uma menina no útero é significativamente diferente do cérebro de um menino no útero, no mesmo estágio antes do nascimento”, disse Sax.

Sax escreveu um artigo em 27 de março para Psychology Today, que resume as conclusões do estudo, no qual se pergunta por que a pesquisa recebeu relativamente pouca cobertura dos meios de comunicação.

Além disso, o especialista alertou que ainda não está claro para os neurocientistas exatamente o que as diferenças sexuais significam na função cerebral, em termos de como a atividade cerebral se relaciona com a emoção e a experiência humana.

“Como o pensamento acontece? Como o cérebro exerce mediação no processo do pensamento ou sentimento? Não sabemos as respostas para essas perguntas. No meu artigo, não tento afirmar o que significa a diferença (função cerebral), porque os neurocientistas não sabem”, disse Sax.

Em seguida, acrescentou que, embora existam interpretações “plausíveis” que possam ser feitas com base nos dados, os próprios pesquisadores “não tentam adivinhar o significado de suas próprias descobertas”.

“A afirmação que estou fazendo é que meninas e meninos são diferentes, essa imagem apoia fortemente essa afirmação”, acrescentou.

Sax assinalou em seu artigo que acadêmicos como a feminista Judith Butler foram os pioneiros nas populares teorias com base na ideologia de gênero, que consideram que “masculino” e “feminino” são construções meramente sociais e não uma realidade biológica.

“A categoria de ‘menina’ e ‘menino’ são categorias significativas, não são uma mera atuação ou construção social como Judith Butler nos faria acreditar. E são claramente significativos e reais antes do nascimento”, disse.

Sax também observou que The New York Times publicou um artigo de opinião em 1º de abril, no qual a Dra. Carol Hay, professora de filosofia na Universidade de Massachusetts-Lowell, respalda a compreensão de Butler sobre o “gênero” e o qualifica como sendo “fundamentalmente um desempenho” baseado em e aprendido nos sistemas sociais.

No entanto, o médico postulou que a autora não tem conhecimento de que “as pesquisas mostram que ‘homem e mulher’ estão presentes no cérebro humano antes do nascimento”.

“Eu não diria que ela está mentindo, eu diria que ela não está ciente da pesquisa relevante”, esclareceu.

CNA entrevistou Hay para obter uma resposta e ela destacou que, quando se trata de “gênero”, ela tende a “ser bastante crítica em relação à ciência”.

“Porque eu acho que isso geralmente é motivado por uma agenda política particular, já que toda a ciência é motivada por uma agenda política particular”, expressou.

Apesar disso, Hay disse que, em sua opinião, mesmo que a ciência possa provar que existem diferenças biológicas inatas no cérebro masculino e feminino, “não tenho certeza se isso nos diz algo sobre por que meninos e meninas acabam agindo de forma completamente diferente”.

“A pergunta é se essas diferenças cerebrais, se existem, como se traduzem no tipo de diferenças de gênero que estamos acostumados a associar a homens e mulheres e a meninos e meninas”, argumentou.

Sax, no entanto, argumentou que os dados são significativos e mostram uma diferença específica na função cerebral entre homens e mulheres, mesmo que ainda não esteja claro o que isso significa.

“Essa afirmação de que gênero não faz sentido, ou gênero simplesmente como um ‘desempenho’ não é uma afirmação verdadeira. É uma afirmação falsa”, concluiu.

Fonte ACI Digital

Sem dinheiro e com a firme convicção de realizar o impossível, Ernest Shackleton começa pelo óbvio: arrumar uma tripulação para, junto com ele e com um barco antigo, serem os primeiros homens a pisar no ponto mais ao sul do planeta.

O anúncio, publicado nos jornais de Londres, em 1900, começava com uma chamada forte: “Procuro homens para viagem arriscada. Salário baixo, frio congelante, longos meses de completa escuridão, perigo constante, retorno duvidoso. Honra e reconhecimento em caso de sucesso”. Anos depois, coroado pela glória dos heróis, o capitão da expedição Nimrod comentou “…a julgar pelo volume de cartas recebidas, parecia que todos os homens ingleses estavam dispostos a me acompanhar”.

Durante a infância de muitos com mais de 30 anos, aprendíamos claramente a diferença entre o homem e o menino. Mas o que é um homem em relação a um menino? O entendimento tradicional era de que o homem é quem assume uma responsabilidade sobre os outros – sobre a sua família, seu emprego, sobre seu país e, claro, sobre si mesmo. Ser homem era ser guiado por ideais e valores superiores a si mesmo. Ele conduziria sua vida com dignidade. E ele seria rijo, forte, constante.

Quando eu era garoto, na década de 1980, sem que ninguém expressamente precisasse me definir, eu já sabia o que um homem deveria ser. E eu sabia o que os outros, para não mencionar os meus pais, esperavam de mim como homem. Não precisava ser dito explicitamente que eu teria que ganhar a vida, sustentar-me o mais rapidamente possível e sustentar a família depois disso. Nessa época, chamávamos nossos pais de “pai”, aos padres de “padre”, e aos médicos de “doutor”. Éramos corrigidos quando, por algum motivo ou distração, um destes era chamado pelo primeiro nome, pura e simplesmente.

Porém, em algum ponto da década de 1990, os ideais de masculinidade e feminilidade foram amplamente confundidos. O feminismo, como movimento, declarou guerra aos conceitos mais básicos de feminilidade e masculinidade. E, para grande parte da população, foi vitorioso. Com efeito, graças ao conceito feminista de que macho e fêmea são essencialmente os mesmos, um número incontável de meninos que estão chegando hoje à idade adulta foi tratado como se esta diferença não fosse importante. A eles foram negados brinquedos masculinos, tais como soldadinhos de brinquedo e suas formas masculinas de diversão foram banidas.

De tal forma, nossa atual sociedade está toda encardida com os prejuízos dos meninos que nunca aprenderam a serem homens. Como resultado, esses mesmos, hoje, não têm amigos fora da realidade virtual, fogem apavorados do casamento, morrem de medo de ter filhos e escondem-se na internet ou na casa das mães até os 40 anos.

Em contraponto, homens fortes transformam o mundo em que vivem, começam e terminam um trabalho, movem coisas pesadas. Eles fazem as coisas assustadoras, feias e sujas que as mulheres não conseguem, não podem ou não precisam fazer. E este é, provavelmente, o tipo de marido que queremos para nossas filhas.

Por Gustavo Costa, Professor

Muito se tem discutido sobre a modéstia feminina, frisando, sobretudo, que tipo de traje seria adequado ou não para uma mulher católica. A resposta tem se tornado cada vez mais clara, pois surgem traduções importantes de declarações papais, textos relevantes de grandes santos e teólogos, que vão dando precisão aos argumentos em favor da moralização das vestes femininas.

Vê-se, com grande entusiasmo e esperança cristã, reerguer-se a dignidade da mulher católica. É nesse momento de robustecimento da fé católica, com essa bela reação contra as roupas imorais para as mulheres, que nos aparece nova questão: e para os homens, existe a virtude da modéstia no vestir? E quais seriam as regras a se seguir?

Para responder a estas perguntas é preciso ter claro o fato da diferença psicológica de homens e mulheres, e ter isto em mente significa perceber que existem maneiras específicas de olhar o mundo e o que nele existe que são muito próprias para cada sexo.

Disso decorre que a modéstia deve ser observada por ambos de maneira condizente à sua própria natureza. O homem, assim como a mulher, deve seguir as regras do pudor, da castidade e da higiene, e, além disso, deve ter sempre presente qual é o seu papel e missão na Criação.

O homem é uma das “duas expressões diversas da natureza humana”1; e se existem essas duas expressões, elas não podem ser iguais, pois se fosse assim não seriam duas, portanto devem diferenciar-se em pelo menos alguns aspectos, tendo características inerentes que as tornem únicas, mas ao mesmo tempo complementares – já que formam uma mesma natureza humana.

Para a mulher, podemos, olhando para o exemplo da mulher por excelência, a Virgem Santíssima, recolher traços particulares do seu modo de ser, que seria: humildade, meditação, silêncio, submissão, delicadeza; é, acima de tudo, a força espiritual – como retratou a historiadora Gertud Von Le Fort: a mulher representa a força invisível que move o mundo.

Já para o homem podemos tomar como exemplo o chefe da Sagrada Família, o glorioso São José, que na ladainha composta em sua homenagem é saudado como casto guarda da Virgemsustentador do Filho de Deuszeloso defensor de Jesus Cristofortíssimomodelo dos operáriossustentáculo das famílias e protetor da Santa Igreja.

Notem que não se trata de dizer que essas virtudes são somente masculinas ou femininas, pois se poderia objetar que determinadas mulheres se sobressaíram na história exatamente pela firmeza, como foi o caso de Santa Joana D’arc, ou que alguns homens se santificaram exatamente pela submissão e certa docilidade. Quanto a isto não haja dúvida: não se trata de dizer que existem vias exclusivas de santificação para homens e mulheres, mas de fazer nota da existência de atitudes peculiares, enquanto homens e mulheres em geral.

Antes que sejamos capazes de refletir mais sobre as roupas mais adequadas para o homem vestir, temos que definir como se encontra a moda masculina como um todo. Quanto à moda feminina não temos dúvida do seu estado atual, Já para a moda masculina prevalece uma atual presença da cultura relativista na forma como os homens, em geral, se vestem.

Como chegamos a este ponto?

Dentre os vários pontos relevantes, destacamos:

1 – De acordo com certa ideologia corrente nos nossos dias, “ninguém nasce homem ou mulher”, mas sua identidade é construída na vida em sociedade, e essa identidade seria supostamente arbitrária. Estas pessoas pretendem dizer que não existe diferença ontológica alguma entre homens e mulheres, mas que tudo é construção;

2 – Esta mesma ideologia, por ser desconstrucionista – e por isso mesmo destrutiva de toda ordem natural -, postula que estas mesmas identidades não podem ser classificadas apenas como identidades de mulher ou de homem: há uma multiplicidade de identidades de “gênero” – as quais definem como: gay, lésbica, transexual, travesti, etc.; completam dizendo que nenhuma destas identidades são fixas, mas que as pessoas transitam, durante a vida, por várias delas;

3 – É este tipo de ideologia que está sendo utilizado para eliminar as diferenças sexuais estabelecidas e queridas por Deus-4; todos os aspectos da psicologia humana e todos os âmbitos da sociedade são atingidos quando este tipo de pensamento se alastra. Quando isto acontece, tudo aquilo que é produzido nesta sociedade está contaminado por tal concepção, de modo que desde a propaganda de eletrodomésticos, passando pela moda, e principalmente pela forma que as pessoas se relacionam entre si, apresentam resultados do esforço ideológico destrutivo.

Todo este pensamento, no entanto, pode ser definido em uma palavra: igualitarismo. Tendência de tudo igualar, de abolir as diferenças – principalmente aquelas queridas por Deus: Quer abolir as diferenças entre os sexos, as idades, as culturas e transformar tudo numa massa uniforme, onde ninguém é mais ou menos que ninguém, todos valem o mesmo.

Na moda masculina, a tendência igualitária procurou o mesmo caminho descrito acima para alcançar o seu fim último, que neste caso vem a ser a abolição da diferença entre os sexos. Desde a sua primeira intervenção na moda, o igualitarismo já tinha em si o poder de confundir os sexos, de destruir toda a indumentária que deixasse marcada a diferença existente entre o homem e a mulher.

Moda unissex não se trata somente de uma mesma peça que pode ser usada por homens e mulheres (uma camiseta branca que você compra e pode presentear tanto a João quanto a Maria), mas o fato de que quase toda espécie de vestimenta hoje é produzida para ambos os sexos. Exemplos: a camisa pólo masculina e feminina, a calça, a jaqueta, o colete, a camisa social, o terno, a bermuda, e por aí vai. E o que diferencia estas peças é algo muito tênue, é certa tendência para cores ou estampas (fato que tende a diminuir a cada ano), é uma mudança mínima no corte.

Se por um lado o fato de que as mulheres incorporaram o uniforme de trabalho (a camisa masculinizada e as calças) no seu guarda-roupa contribuiu para o igualitarismo, o caminho oposto – ou seja, o homem incorporar indumentárias femininas -, estava facilmente definido e fadado a acontecer. O caminho mais fácil não era ligar este homem à moda de sua esposa, mas estender a cultura relativista para todos os homens. E esta cultura, de fato, fez duras investidas contra as vestes masculinas

Este igualitarismo (5) é o primeiro mal do qual o homem católico deve fugir ao escolher que roupa irá usar. E para isso, é necessário que ele reconheça sua dignidade como filho de Deus, cuja missão é, antes que qualquer outra, refletir a paternidade divina.

Numa época cuja nobreza da vocação paterna e materna é colocada permanentemente em dúvida e ridicularizada(6), sendo utilizado para isto também a moda, significa que passou da hora de uma reforma moral. Esta reforma começa com o nosso “fiat” a Deus e tem uma repercussão direta no momento em que formos à nossa próxima compra de roupa.


1-Dietrich Von Hildebrand. O Amor Entre o Homem e a Mulher.

2 Cf. CIC 369-371

3- Cf. Carta aos bispos sobre a moda imodesta (1954) e discurso de Pio XIIàs garotas da Ação Católica, 22 maio 1941: “Enquanto certos modos provocantes de vestir permanecem como triste privilégio de mulheres de reputação duvidosa e são quase um sinal que as faz reconhecer, não se ousará, pois, usá-los para si; mas no dia em que aparecerem como ornamentos de pessoas acima de quaisquer suspeita, não se duvidará mais de seguir tal corrente, corrente que arrastará talvez para dolorosas quedas”.

4-Tal como a autora feminista Shulamith Firestone escreveu na “Diáletica do Sexo” (The Dialectic of Sex): “Assim como a meta da revolução socialista era… a eliminação da… distinção da classe econômica como tal, assim a meta da revolução feminista deve ser a eliminação da… distinção do sexo como tal [de forma que] a diferença genital entre seres humanos não teriam mais nenhuma importância culturalmente. 

5- “Devemos acentuar a diferença, ao menos como tática de argumentação, porque um dos vícios de nosso tempo consiste precisamente em procurar a simplificação da uniformidade. A desordem de nosso tempo consiste em tender para o amálgama, para o informe, para a massa, para a sociedade sem classe, para um mundo sem limites, para uma vida sem regras, para uma humanidade sem discriminações. Ao contrário disto, a sociedade que desejamos construir é uma sociedade ricamente diferenciada, e nitidamente hierarquizada.(…) E, quanto mais infantil for a criança, e quanto mais mulheril a mulher, e quanto mais varonil o homem, tanto melhor realizaremos em cada situação concreta a ordem, cambiante mas verdadeira, que é o fundamento da felicidade dos povos. O bem, a perfeição da sociedade, está na infantilidade da infância, na feminilidade da mulher, na masculinidade do homem”. (Gustavo Corção, Vocação da Mulher)

“Meninos vestem azul e meninas vestem rosa”

Por Regina Beatriz Tavares da Silva*

A frase que intitula este artigo: “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”, utilizada por Damares Alves, em sua posse como Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, criou uma imensa polêmica.

Foi esclarecido pela Ministra que se tratou de metáfora, a simbolizar o acento que será dado nesta nova era ao que é natural na pessoa humana, conforme referido por Ângela Gandra Martins, Secretária da Família (v. entrevista publicada no Estadão).

No entanto, a polêmica continua na internet e nos demais meios de comunicação, o que me leva a escrever este artigo.

A frase em tela reforça o combate à ideologia de gênero na educação escolar, o que é uma meta do novo governo, que deveria ser muito bem-vinda por todos.

As polêmicas partem das confusões entre ideologia de gênero, igualdade de gêneros e direitos dos homossexuais.

Como veremos, essa confusão existe há anos.

A ideologia de gênero foi introduzida nas Conferências da Mulher, na ONU, na última década do século XX, em se mencionou inúmeras vezes a expressão “identidade de gênero”, mas sem defini-la sob o argumento de tratar-se de conceito “auto evidente”. A indefinição do conceito sempre dificulta o debate acerca do objeto de análise e aí começam as dificuldades de compreensão.

O conceito somente foi definido em 2006, em Conferência realizada em Yogyakarta, na Indonésia. O termo “identidade de gênero” foi conceituado como o sentimento profundo e a experiência de gênero de cada pessoa, que pode corresponder ou não ao sexo de nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo, o que pode envolver, se escolhido livremente, modificações da aparência ou função corporal por meio de cirurgia médica ou outros meios, e outras expressões de gênero, incluindo o nome e a vestimenta.

Aí agravam-se as confusões porque a definição é inadequada. Inadequada porque é de difícil compreensão. Inadequada porque induz a ideia de construção social da identidade de gênero.

O sexo definiria apenas os aspectos biológicos e anatômicos, enquanto o gênero seria uma definição mais ampla do papel sexual do indivíduo, de modo que a ideologia de gênero deveria desprezar o enquadramento “restrito” da designação homem ou mulher, conforme esclarece Verônica Cezar-Ferreira, Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP e Diretora de Relações Interdisciplinares da Associação de Direito de Família e das Sucessões – ADFAS, em Parecer solicitado por esta Associação (Parecer na íntegra publicado pela ADFAS).

A ideologia de gênero, devidamente combatida pelo novo governo Bolsonaro, propõe que as crianças sejam educadas sem sexo definido para que possam optar por seu gênero, ou seja, haveria o que podemos chamar de “neutralidade sexual”, com consequente esvaziamento do conceito de homem e mulher.

Procura-se, nessa ideologia, alterar o conceito da palavra “gênero” – homem e mulher –, conferindo-lhe outro significado que nega a natureza humana, construindo-se uma “nova natureza não biológica”, por meio da manipulação da juventude, ao afirmar que as pessoas nascem sem sexo definido, cabendo-lhes escolher o gênero que querem adotar quando ainda são crianças, como acentua Ives Gandra da Silva Martins, na obra “Ideologia de Gênero”, de sua coordenação em conjunto com Paulo de Barros Carvalho, publicada pela editora Noeses.

Nessa mesma obra, esta articulista teve a oportunidade de publicar, em coautoria com Augusto Cézar Lukascheck Prado e André Fernando Reusing Namorato, o artigo intitulado “Ideologia de gênero: visão totalitária que viola direitos constitucionais das crianças e dos adolescentes”, em que salientamos a necessidade de desfazer o breu que se forma entre os conceitos de ideologia de gênero, igualdade de gêneros e homossexualidade.

E esse breu, como antes referido, é por vezes oriundo de desconhecimento e em outras é intencional. Se houver conhecimento, toda a má intenção ficará prejudicada.

Igualdade é princípio fundamental na ordem democrática brasileira, de modo que certamente será respeitado pelo novo governo que tem demonstrado não pretender ferir a Constituição da República Federativa brasileira. A ideologia de gênero nada tem a ver com a defesa dos direitos das mulheres e, lastimavelmente, o combate à desigualdade entre os sexos transformou-se em apelo à ideologia de gênero, num atalho errôneo de argumentação. Do combate aos abusos contra a mulher e à dominação masculina, passou-se à defesa da ideia de neutralidade sexual na formação das crianças e dos adolescentes.

A cortina de fumaça que é feita na ideologia de gênero também gera uma errônea ideia de que quem a combate estaria a combater o homossexualismo. Os homossexuais devem ter seus direitos reconhecidos pela ordem jurídica, mas acabam sendo instrumentalizados por aqueles que pretendem a introdução desta ideologia na educação brasileira. O debate nada tem a ver com defesa dos direitos dos homossexuais, que não negam ou rejeitam seu sexo biológico. O homossexual está plenamente adaptado ao seu corpo. Tanto o homem quanto a mulher homossexual gostam de ser homens e mulheres e desejam permanecer nesta condição.

O que não é aceitável é a ideologia de gênero no seu conceito de “abstração do sexo” imposta às crianças e aos adolescentes.

A introdução desse tipo de ideologia, na educação de uma pessoa em formação, é uma violência, já que a criança não tem conhecimento de si mesma. Pretender a introdução deste debate num contexto de pessoas incapazes de enfrentá-lo não pode gerar benefício algum. O menino e a menina, submetidos a esse tipo de ideologia, não saberão a qual das duas categorias pertencem. Assim, a pretexto de resolver o problema da desigualdade, cria-se outro ainda mais grave: o problema de identidade.

Como acentuou Verônica Cezar-Ferreira, no Parecer antes citado, a pessoa humana, do ponto de vista da espécie, é macho ou fêmea; do ponto de vista biológico, homem ou mulher; e, do ponto de vista social, masculina ou feminina, de modo que casos como de “disforia de gênero”, em que a pessoa sofre transtorno caracterizado por “sentimento persistente de inadequação ao gênero imposto no nascimento”, que exigem cuidados especiais, não são a regra (Parecer na íntegra publicado pela ADFAS).

Portanto, a disforia de gênero é um transtorno de identidade, que merece toda a atenção, consideração e o devido tratamento, e jamais sua generalização com o objetivo de sua implementação na educação das crianças e dos adolescentes por meio da ideologia de gênero.

Assim, é importante destacar que a implantação da ideologia de gênero na educação brasileira poderá levar à “disforia de gênero”, transtorno raro e que merece cuidados adequados.

Essa ideologia de gênero viola os direitos da criança e do adolescente, previstos no art. 227, caput, da Constituição Federal. Na ordem constitucional, a família é protagonista na educação de uma criança, estando prevista em primeiro lugar no referido dispositivo da Lei Maior, devendo os pais exigir do Estado as melhores condições para que esse direito seja exercido.

Posição contrária viola o disposto no art. 26, n. 3, da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “Os pais têm um direito preferencial de escolher o tipo de educação que será dada aos seus filhos.”.

O desvirtuamento da expressão gênero, como antes exposto, leva o incauto a confundir a igualdade entre homens e mulheres e a tutela dos direitos dos homossexuais com neutralidade sexual, confusão esta que, seja por desconhecimento ou seja por má fé, precisa urgentemente ser desfeita.

Daí afirmar que menino veste azul e menina veste rosa tem o significado de combate a essa perversa ideologia de gênero e de fortalecimento dos gêneros masculino e feminino com que todos nós, sejamos hetero ou homossexuais, nascemos. Ninguém vem ao mundo neutro em seu gênero, de modo que a abstração sexual como base formadora das crianças e dos adolescentes é antinatural e não pode ser admitida em nossa sociedade.

Em suma, a ideologia de gênero, desde que entendido o seu significado, não se confunde com igualdade de gêneros e direitos dos homossexuais neste estado democrático brasileiro.

*Regina Beatriz Tavares da Silva, presidente da Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS). Doutora em Direito pela USP e advogada

Um estudo publicado pela revista científica Infant and Child Development indicou que a escolha de brinquedos por meninos e meninas parece depender não apenas de fatores socioculturais, mas também de forças inatas.

Assinado por sete psicólogos britânicos, o artigo analisou 16 estudos realizados com 787 meninos e 813 meninas e constatou que a preferência de meninos por brinquedos voltados a meninos e de meninas por brinquedos voltados a meninas se mantém independentemente de localização geográfica, escolaridade, faixa etária e a presença de adultos durante a brincadeira.

Segundo os autores, a constância da preferência das crianças nas mais variadas circunstâncias indica “a probabilidade de que isso tenha origem biológica”.

O estudo apontou também que os meninos brincam mais com brinquedos de menino à medida que ficam mais velhos, o que não acontece com as meninas. “Isso indica que efeitos sociais estereotípicos permanecem por mais tempo nos meninos ou que há uma predisposição biológica mais forte por certas brincadeiras entre eles”, diz o texto.

Os pesquisadores perceberam também que em estudos mais antigos, tanto meninos quanto meninas brincavam mais com brinquedos voltados para o seu sexo – uma tendência que vem regredindo em estudos mais recentes.