A figura paterna tem sido penosa e injustamente desvirtuada.

Se bem que muitos pais e mães não são um exemplo a seguir, também é certo que a sociedade – refiro-me sobretudo às mulheres feministas – obscureceu o masculino, seja por excesso ou por ausência, e lhe roubou o seu papel único e insubstituível na atenção do lar e no cuidado da esposa e dos filhos.

Tanto o machismo como o feminismo são atitudes que pretendem mudar o que é imutável e fazer desses “ismos” um estilo de vida, o que é errado e injusto.

Não somos idênticos

O homem e a mulher, que são diferentes e complementares, podem exercer juntos os seus papéis em todos os âmbitos em que um ser humano pode se desenvolver. Não necessariamente de modo idêntico, mas de maneira análoga e complementar. Isso quer dizer que, como parte dessa complementaridade, temos que reconhecer e reafirmar o espaço que corresponde a cada um.

Qualquer psicólogo ou psiquiatra estará de acordo comigo sobre a importância do sentido de pertença no processo educativo e formativo de qualquer ser humano. Por isso, não podemos tirar o feminino das mulheres e nem o masculino dos homens. Pretender que as mulheres atuem como homens e que os homens atuem como mulheres é um atentado a esse sentido de pertencer a si mesmo, e que corresponde a cada pessoa em seu ser.

O modo de ser específico do homem contribui muitíssimo para a mulher e os filhos. O mal entendido feminismo, em lugar de polir as asperezas da sociedade ali onde a mulher é vítima de abusos, abandono ou desprezo, na maioria dos casos banalizou a figura feminina, atacou a masculina e caiu naquilo que havia criticado, ou seja, no equivocado comportamento machista.

É um erro as mulheres que se fazem de pai e mãe. A mãe só pode fazer o papel de mãe, e o pai só pode se comportar como pai. Não existem os substitutos de um e de outro. Quando o pai falece ou tem de ausentar-se, os filhos, especialmente os meninos, devem se relacionar com algum referente masculino: irmão mais velho, avô, tio, professor.

O papai não é uma mulher com defeito

Não podemos permitir a retirada do pai na tarefa de educar e cuidar da família.

Muitas vezes, nós mulheres nos queixamos de que o marido não nos ajuda na casa como gostaríamos, e esse é ponto de partida do problema, já que não podemos pretender que nosso esposo colabore como se fosse mulher, com as características femininas, projetando o nosso marido como uma mulher com defeito, comprometendo a imagem de bom pai na frente dos filhos.

Devemos permitir que o marido compartilhe as tarefas da casa e da educação dos filhos de acordo com o seu estilo próprio masculino, que é onde todos saem ganhando. A mulher descansa quando “deixa” que seu marido se empenhe nas coisas da casa sem lhe censurar, criticar ou corrigir constantemente. Se há que fazer uma observação, faz-se a sós com ele, para contribuir com o crescimento do esposo e o funcionamento do lar.

Se os filhos meninos veem que seu pai é reprovado constantemente e veem a sua mãe como a rainha da verdade absoluta, eles podem acabar identificando-se mais com a figura materna do que com a paterna, querendo parecer-se mais com ela do que com ele. Já as filhas mulheres poderiam viver pensando que não existe homem que se ajuste à sua perfeição e que elas estão acima do mundo todo… vamos ver quem as aguenta.

Nem é preciso dizer que as mães não podem converter os filhos em um depósito de lamentações, fazendo comentários negativos sobre o pai deles, já que isso desperta nos filhos ressentimentos, facilidade para o julgamento crítico agudo, culpa, assumir responsabilidades que não correspondem a eles e sobretudo pensar que o papai não é bom.

As mulheres não devem expor pessoalmente os defeitos de seus maridos na frente de ninguém, e nem permitir que outros façam isso.

O marido conta com a inteligência e a criatividade de sua esposa quando vê que as coisas funcionam, e é bom que ele contribua com seu jeito de ser para o crescimento e o fortalecimento de sua família.

É um erro pensar que nós, mulheres, fazemos todas as coisas melhor do que eles. Se bem que a mulher seja o eixo da família e da sociedade, ela tem de estar assentada em uma base firme para que tudo possa funcionar adequadamente. Ver o marido como essa base fará que os filhos tenham fundamentos sólidos para se desenvolver adequadamente na vida, e poderão por sua vez ser referentes para as gerações futuras.

O pai é fundamental para que os filhos enfrentem frustrações, para que os filhos aprendam o valor do estudo, do sacrifício e a exigência. O pai, com o seu exemplo, ajuda a que seus filhos entendam que as frustrações os ajudam a crescer e se superar; a ser realistas e a ser conscientes de que, mesmo não podendo conseguir tudo que queira do jeito que espera, é possível ser feliz com o que se tem e desfrutar muito do esforço pessoal.

Em casa a mamãe é a rainha e o papai é o rei. Triste final para uma história de amor seria ver o rei destronado. A sociedade pede que sejamos cada vez mais autênticos. O mundo precisa de verdadeiros pais que faça o que por lei natural e legítimo direito lher corresponde: construir uma família.

Cristina Melo de Viteri

(Revista Vive)

André Gonçalves Fernandes

A ausência do pai é a principal causa de retrocesso no bem-estar dos filhos. Também é um fator crucial para se compreender, hoje, a crise atual da instituição da família. A diminuição da função paterna tem consequências sobre a estruturação psíquica dos indivíduos, nas fases de infância e de juventude, e, indiretamente, sobre a sociedade.

A debilitação da imagem masculina, os transtornos de filiação, o acréscimo das condutas ilícitas, a perda de sentido dos limites (toxicomanias, bulimia, anorexia, práticas sexuais heterodoxas e dificuldades de socialização) são alguns dos exemplos mais marcantes e propalados na mídia.

A sociedade atual valora muito mais a figura materna. Indubitavelmente, a mãe é uma fonte de segurança para os filhos, contudo a relação entre mãe e filho necessita da complementação decorrente da função paterna. O pai é aquele que diz não (tanto ao filho como à mãe), é aquele que introduz a negatividade na vida da criança e declara a proibição, a saber, o limite do possível.

A imagem do pai é imprescindível para o desenvolvimento psicológico equilibrado dos filhos. O pai, com efeito, seria uma espécie de mediador entre o filho e a realidade. Permite ao filho tomar iniciativas e aprender a distinguir entre o certo e o errado e, a partir disso, entender as consequências de uma ou outra escolha.

O pai ocupa uma posição de terceiro em relação ao filho, de companheiro da mãe e não uma versão masculina desta. Graças à figura do pai, o bebê aprende a se diferenciar da mãe e, paulatinamente, ao longo de anos, alcançar sua autonomia psíquica. A criança descobre que não faz as regras, mas que elas existem independentemente dele.

Em virtude da relação com o pai, o menino e a menina adquirem psicologicamente também sua identidade sexual. A diferença de sexos encarnada pelo pai traz, por outro lado, um papel de revelação e confirmação da identidade sexuada. Tanto o menino quanto a menina têm, com efeito, a tendência, no início da vida, a mimetizar o sexo da mãe e o pai, na medida em que é reconhecido por esta, vai permitir ao filho situar-se sexualmente.

Porque se impôs em nossa sociedade a idéia de ausência ou pouca importância do pai? Hoje, divulga-se a imagem do pai indigno, incompetente ou pouco afeito às lides domésticas, sustentada pela lei e estereotipada pelos meios de comunicação.

Na maior parte dos programas de televisão, o pai é apresentado como um sujeito incapaz de assumir um posto na relação educativa, de ocupar seu tempo com os adolescentes, quanto mais enfrentar, com maestria, o papel de proclamar as exigências necessárias para a vida em sociedade para os filhos, incluindo a repreensão quando estritamente conveniente.

Muitas mulheres evitam que os homens cumpram seu papel de pai quando, mais ou menos conscientemente, elas tomam conta da situação para não lhes deixar o lugar que lhes corresponde. A mãe, assim, afasta o pai da relação familiar, com o risco de culpá-lo em um processo perverso, no qual confirma seu poder e seu sentimento de onipotência sobre os filhos, o homem e o pai.

Nos dias atuais, as atenções da psicologia e da lei se situam na relação mãe/filho e o pai crê que necessita assumir a condição de uma “segunda mãe” para se fazer aceitar no círculo familiar. Alguns homens, condicionados por este conformismo, chegam a identificar-se como um modelo de pai meio pusilânime, lembrando mais a imagem de um irmão mais velho, conivente com as estripulias éticas do caçula, ou de um tio que só aparece no aniversário com um presente bem caro para “compensar” a ausência sentida pelo sobrinho.

A falta do pai se explica também pela confusão entre procriação e maternidade, gerada pelo fantasma feminino da partenogênese (fecundação sem a contribuição gênica paterna), já que a sociedade acredita na ideia de que a mulher pode, sem grandes percalços, educar um filho sem um pai. O desenvolvimento dos métodos contraceptivos e a trivialização do aborto contribuem, consideravelmente, para sustentar a ilusão de que a mulher domina sozinha a procriação. Tanto que o chavão feminista sustenta: “Meu corpo me pertence”. Afirmar tal slogan é subentender que “a procriação me pertence”, assertiva bastante discutível. Se a maternidade é algo exclusivo da mulher, a procriação é compartilhada pelo homem e pela mulher: não é competência exclusiva desta.

Os pais devem sentir-se sócios das mães num empreendimento conjunto. A liderança moral que devem exercer na família não pode ser substituída pela erosão conceitual, provocada, sobretudo, pelo feminismo exacerbado. Devem ser exemplo vivo de caráter e de consciência. O respeito filial daí decorrente neutralizará a influência negativa dos colegas na adolescência e será o ponto de apoio firme nos anos de maturidade.

 

O reencontro entre um militar americano e seu filho está emocionando a internet.

Depois de um ano trabalhando no Kuwait, Rob Cesternino voltou para casa e quis surpreender o filho caçula na aula de Taekwondo

O reencontro entre um militar americano e seu filho está emocionando a internet. Depois de um ano trabalhando no Kuwait, Rob Cesternino voltou para casa e quis surpreender o filho caçula na aula de Taekwondo.??

Posted by Pleno.News on Friday, March 22, 2019

Na oitava da solenidade de São José, a liturgia da Igreja põe-nos diante dos olhos o mistério da Encarnação do Verbo de Deus, com a solenidade da Anunciação. E tudo isso em plena Quaresma. É como se nossos pés se detivessem às portas de Jerusalém… e voltássemos a Nazaré, à infância do Salvador, ao Natal.

Nestas linhas, porém, queremos meditar antes sobre um dado da natureza humana. É que a figura de São José, ao lado de Maria e de Jesus — das quais temos abundantes exemplos na arte sacra — vem nos recordar, especialmente a essa nossa época louca e revolucionária, que as famílias precisam de pais, de figuras masculinas (homens!) que as conduzam e liderem; vem nos lembrar que o patriarcado (não obstante a distorção moderna sofrida pelo termo) é uma coisa boa e deve ser conservado.

Muitos argumentos poderiam ser empregados aqui para confirmar essa verdade, argumentos extraídos da simples observação da natureza humana, vindos da psicologia, da antropologia e de outras ciências. Mas, a princípio, às pessoas da Igreja, lembremos tão somente que Deus, querendo vir à terra, confiou-se à responsabilidade de um patriarca; e ainda Ele, moldando a criatura mais perfeita que jamais existiu — a Virgem Maria —, confiou-a igualmente a um homem. Os dois maiores dons com que a humanidade seria agraciada, portanto, sob a tutela de um varão, e a ele submissos. Eis a nobilíssima missão de São José. Eis a verdade que o mundo moderno, se não faz questão de negar, faz o possível ao menos para calar, ignorar ou deixar que morra no esquecimento.

De fato, a releitura que muitos em nossa época, sem fé, tentam fazer da Encarnação é que Jesus teria sido fruto de uma “produção independente”. Numa tentativa patética talvez de justificar a desestruturação por que passam hoje as famílias, a imagem que se vende muitas vezes de Maria Santíssima é a de uma “mãe solteira”, desamparada, que dá à luz um filho nos escombros de uma pobre gruta e sem assistência humana quase nenhuma — São José sempre à parte, sempre coadjuvante, sempre deixado de lado.

À parte os elementos de verdade contidos nessa narrativa — pois é fato que o Filho de Deus quis descer à terra e, na falta de hospedagem, abrigar-se na simplicidade de uma estrebaria —, está muito longe da verdade insinuar que tenha sido nulo ou desprezível o papel de São José no mistério da Encarnação. Vale lembrar que um anjo visitou-lhe em sonho, instruindo-o sobre o que deveria fazer em relação à mulher e ao Menino e, além disso, nas palavras de São Beda, o Venerável, sua escolha foi providencial ad famam Mariae conservandam, isto é, “para salvaguardar a reputação de Maria” [1]. Sim, porque embora os esponsais de Maria e José deixassem como que “velada” a concepção virginal de Cristo, explica Santo Ambrósio, “o Senhor preferiu que alguns duvidassem da sua origem antes que do pudor de sua Mãe” [2]. Em suma, como escreve o Padre Federico Suárez:

Para um cristão que acredita em Cristo, que crê que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, o fato de Deus ter escolhido José para esposo da Virgem Maria e pai legal de Jesus é motivo suficiente para pensar que, apesar de tudo, talvez não tenha sido um homem tão vulgar e comum, uma vez que o próprio Deus o escolheu — mais ainda, o criou — para desempenhar uma das missões mais difíceis e de maior responsabilidade jamais confiada a um homem [3].

O fato de ter sido um homem a zelar pela Sagrada Família, no entanto, de ter sido um homem a conduzi-la de Nazaré a Belém, e dali ao Egito, e dali de volta a Nazaré… não é mais tão óbvio quanto noutras épocas. Existe até mesmo a tentação, por parte de alguns, de relegar o papel masculino na família e na sociedade a uma mera “construção social”, tão passível de transformação quanto um hábito ou qualquer moda do momento.

Mas, não estivéssemos cegados por mentiras como a ideologia de gênero, nós seríamos capazes de ver inscrita na natureza uma ordem e uma harmonia irretocáveis: homem e mulher foram colocados desde o princípio para reinar no mundo criado, um com a cabeça e outra com o coração, um com a razão e outra com os sentimentos, um com a força física que desafia e outra com a força emocional que consola, complementaridade indispensável para a formação integral do ser humano.

É por isso que, antes de falar propriamente das virtudes de São José, importa falarmos primeiro de sua virilidade e de seu papel como pai e esposo; importa falarmos simplesmente de sua presença, já que nossa sociedade experimenta cada vez mais a ausência dos homens, justamente nos postos que mais exigiriam sua atuação…

Sim, porque não adianta rebelar-se contra a ordem natural das coisas e pedir, seja dentro de um movimento social institucionalizado, seja através de gestos e palavras no dia-a-dia, a extinção do patriarcado ou a abolição da masculinidade. “A presença de estruturas mundanas de dominação bruta e egoística deveria não manchar, mas sim acentuar fortemente a honra e o esplendor de um patriarcado cristão caracterizado pelo serviço amoroso e pela liderança sacrificial” [4].

Dizendo de outro modo, não é porque há homens que bebem, batem em suas esposas e não educam os seus filhos que se deve pedir o fim da família e da união entre homem e mulher. O marxismo viu na chamada “família burguesa” uma estrutura essencial de dominação, mas só o fez porque olhou para a família a partir de seus vícios e de sua degradação, ao invés de olhar para o projeto original do Criador e para as famílias que o colocaram em prática.

Da parte dos homens, cabe, é claro, tomar o cuidado de não repetir os mesmos erros pelos quais caíram e fracassaram, principalmente em suas casas, tantos de nossos pais. Se sobram no mundo (e à nossa volta, bem próximos de nós) homens adúlteros, beberrões, covardes, violentos, ladrões e moles, sejamos nós o contrário de tudo isso e lutemos com afinco para ser puros (não só no corpo, mas principalmente de coração), sóbrios, corajosos, pacíficos, honestos e fortes. Essa é a melhor forma (se não a única) de lutar contra a ideologia feminista que propugna pela “liberação” e o “empoderamento” da mulher e pelo fim da autoridade paterna. De nada adianta, de fato, vencer-lhes os argumentos, se continuamos a reforçar, com nossos atos, exatamente as razões pelas quais elas odeiam o patriarcado — e que no fundo não constituem o patriarcado cristão, mas justamente a sua corrupção.

“Corrompeu-se o patriarcado, então?”, alguém poderá indagar. “E quando foi que ele existiu, por assim dizer, em sua forma pura?”

A resposta a essa pergunta infelizmente não é das mais animadoras, pois, mesmo nos tempos em que o cristianismo era o “fermento” da sociedade, o sexo masculino como um todo sempre teve grande dificuldade em observar a palavra de Cristo que diz: “Todo aquele que rejeita sua mulher e desposa uma outra, comete adultério” (Mt19, 9). “É um triste fato”, nesse sentido, “que nos antigos centros da cristandade, e notavelmente em países de predominância católica, ter uma amante fosse, e ainda seja, um estilo de vida aceito” [5]. De fato, essa fidelidade de que fala o Evangelho sempre foi uma virtude de poucos homens, de modo que não é exagero algum afirmar que, historicamente falando, “nunca antes houve um patriarcado cristão culturalmente estabelecido” [6].

Nosso parâmetro, no entanto, não é esta ou aquela época da história; nós não nos devemos guiar pela “média” do que foram os homens de outros tempos e de outros lugares. (Do contrário, seríamos apenas “medianos”, ou pior: medíocres.) Nossa medida deve ser, sempre, os poucos corações que seguiram o Evangelho de Cristo, os poucos homens que foram patriarcas no verdadeiro sentido da palavra, pois é de Deus que provém toda paternidade no céu e na terra (cf. Ef 3, 15). Nosso modelo de patriarcado não é o coração impuro de Adão, mas o Sagrado Coração de Jesus, novo Adão; não é o coração decaído de nosso primeiro pai, mas sim o coração puríssimo do Patriarca da Sagrada Família, São José. Eis os homens que devemos imitar, eis o tipo de coração a que devemos elevar os nossos.

Para começarmos essa ascensão, porém, para implantarmos em nossa época um patriarcado realmente cristão, comecemos do básico. É evidente que abandonar a “gandaia” não é tudo. Um homem que não trai a sua esposa, que não gasta as suas horas no boteco, que não espanca sua companheira e que tampouco dilapida o patrimônio da família não está fazendo, no fundo, mais do que a sua obrigação. Mas ninguém deve subestimar a importância de falar sobre essas coisas, pois são esses pecados grosseiros que aprisionam a maior parte da humanidade — e, custa-nos dizer, maior parte das pessoas que vão à igreja também.

Noutras palavras, para que os seres humanos vivam plenamente o amor, é preciso que eles passem pela experiência da “primeira liberdade”, como diz Santo Agostinho:

A primeira liberdade consiste em estar isento de crimes […] como são o homicídio, o adultério, a fornicação, o furto, a fraude, o sacrilégio e assim por diante. Quando alguém começa a não ter estes crimes (e nenhum cristão os deve ter), começa a levantar a cabeça para a liberdade, mas isto é apenas o início da liberdade, não a liberdade perfeita [7].

Se queremos resgatar a masculinidade, portanto, comecemos com o básico: deixando a vida de pecados mortais. Ninguém se iluda com uma “restauração do patriarcado” que prescinda de conversão, que prescinda de uma vida interior, que prescinda de uma mudança de mentalidade e de uma vida cristã seriamente vivida. Ninguém pode vencer a sua natureza decaída contando com as próprias forças. Ninguém pode viver o dom de uma paternidade autêntica se não for, primeiro, obediente ao nosso Pai dos céus.

Foi esse o grande segredo de São José. E é também esse o caminho para sermos patriarcas como ele foi.

Fonte Original do artigo AQUI

Referências

  1. Citado em Suma Teológica, III, q. 28, a. 1, ad 1.
  2. Id., III, q. 29, a. 1, ad 2.
  3. José, Esposo de Maria, Lisboa: Rei dos Livros/Prumo, 1986, p. 15.
  4. G. C. Dilsaver, The Three Marks of Manhood: How to Be Priest, Prophet and King of Your Family, Charlotte: TAN Books, 2012, viii.
  5. Ibid., p. 100.
  6. Ibid., p. 101.
  7. In Iohannis Evangelium Tractatus, 41, 9-10: CCL 36, 363, citado por S. João Paulo II em Veritatis Splendor, 6 ago. 1993, n. 13, nota 23.

Nascemos filhos. E esperamos ser filhos para sempre. Mimados, educados, amados. Que nossos pais invistam doses cavalares de amor em todo nosso caminho pela vida. Que, quando a vida doer, haja um colo materno. Que quando a vida angustiar, encontremos neles um conselho sábio. E, quando isso nos falta, há sempre uma lacuna, um sentimento estranho de sermos exceção.

Mesmo adultos, esperamos reconhecer nossa meninice nos olhos dos nossos pais. Desejamos, intimamente, atenções miúdas, como a comida favorita no dia do aniversário ou a camiseta do time de futebol se estamos na casa deles.

Não estamos prontos para trocar de lugar nesta relação.

É difícil aceitar que nossos pais envelheçam. Entender que as pequenas limitações que começam a apresentar não é preguiça nem desdém. Que não é porque se esqueceram de dar o recado que não se importam com a nossa urgência. Que pedem para repetirmos a mesma frase porque não escutam mais tão bem – e às vezes, não está surdo o ouvido mas distraído o cérebro. Demora até aceitarmos que não são mais os mesmos – que dirá “super-heróis”? Não podemos dividir toda a nossa angústia e todos os nossos problemas porque, para eles, as proporções são ainda maiores e aí tudo se desregula: o ritmo cardíaco, a pressão, a taxa glicêmica, o equilíbrio emocional.

Vamos ficando um pouco cerimoniosos por amor. Tentando poupar-lhes do que é evitável. Então, sem querer, começamos a inverter os papéis de proteção. Passamos a tentar resguardar nossos pais dos abalos do mundo.

Dizemos que estamos bem, apesar da crise. Amenizamos o diagnóstico do pediatra para a infecção do neto parecer mais branda. Escondemos as incompreensões do casamento para parecer que construímos uma família eterna. Filtramos a angústia que pode ser passageira ao invés de dividir qualquer problema. Não precisam preocupar-se: estaremos bem no final do dia e no final das nossas vidas. Mas, enquanto mudamos esses pequenos detalhes na nossa relação, ficamos um pouco órfãos. Mantemos os olhos abertos nas noites insones sem poder correr chorando para a cama dos pais. Escondemos deles o medo de perder o emprego, o cônjuge ou a casa para que não sofram sem necessidade e, aí, estamos sós nessa espera; não há colo nem bala nem cafuné para consolar-nos.

Quanto mais eles perdem memória, vigor, audição, mais sozinhos nos sentimos, sem compreender por que o inevitável aconteceu. Pode até surgir alguma revolta interior por esperar deles que reagissem ao envelhecimento do corpo, que lutassem mais a favor de si, sem percebermos, na nossa própria desorientação, que eles não têm a mesma consciência que nós, não têm como impedir a passagem do tempo ou que possuem, simplesmente, o direito de sentirem-se cansados.

Então pode chegar o dia em que nossos pais se transformem, de fato, em nossos filhos. Que precisemos lembrá-los de comer, de tomar o remédio ou de pagar uma conta. Que seja necessário conduzi-los nas ruas ou dar-lhes as mãos para que não caiam nas escadas. Que tenhamos que prepará-los e colocá-los na cama. Talvez até alimentá-los, levando o talher a sua boca.

E eles serão filhos piores porque lembrarão que são seus pais. Reagirão as suas primeiras investidas porque sabem que, no fundo, você acha que lhes deve obediência. Enfraquecerão seus primeiros argumentos e tentarão provar que ainda podem ser independentes, mesmo quando esse momento tiver passado, porque é difícil imaginarem-se sem o controle total das próprias rotinas. Mas cederão paulatinamente, quando a força física ou mental reduzir-se e puderem encontrar no seu amor por eles o equilíbrio para todas as mudanças que os assustam.

Não será fácil para você. Não é a lógica da vida. Mesmo que você seja pai, ninguém o preparou para ser pai dos seus pais. E se você não o é, terá que aprender as nuances desse papel para proteger aqueles que ama.

Mas, se puder, sorria diante dos comentários senis ou cante enquanto estiverem comendo juntos. Ouça aquela história contada tantas vezes como se fosse a primeira e faça perguntas como se tudo fosse inédito. E beije-os na testa com toda a ternura possível, como quando se coloca uma criança na cama, prometendo-lhe que, ao abrir os olhos na manhã seguinte, o mundo ainda estará lá, como antes, intocável, para ela brincar.

Porque se você chegou até aqui ao lado dos seus pais, com a porta aberta para interferir em suas vidas, foi porque tiveram um longo percurso de companheirismo. E propor-se a viver esse momento com toda a intensidade só demonstrará o quanto é grande a sua capacidade de amar e de retribuir o amor que a vida lhe ofereceu.

Escrito por 

Entrevista com Padre Paulo Ricardo.

Ao acompanhar muitas famílias no seu ministério sacerdotal, o senhor acredita que a figura paterna esteja mudando em nossa sociedade?

Padre Paulo: Sem dúvida nenhuma, a figura paterna está mudando na nossa sociedade, mas esta mudança não é natural. A mudança da figura do pai faz parte de toda uma engenharia social, ou seja, a ideologia dominante – que é a socialista marxista – pôs na cabeça de muita gente que os males da sociedade atual são causados por uma sociedade patriarcal, portanto, liderada por homens, heterossexuais, brancos e ricos ou seja, o “bicho-papão” da sociedade atual.
De acordo com essa concepção o culpado de tudo é o homem branco, rico, heterossexual e eu acrescento mais uma coisa: o homem cristão. Então, se você tem estas cinco qualidades saiba: você é a “peste bubônica”, você é “o culpado de tudo” [para eles]. Esse trabalho de engenharia social tenta estigmatizar os ricos, ou seja, ser rico é vergonhoso. Tenta fazer com que os cristãos sejam tímidos e tenham vergonha de ser cristãos. Eles tentam fazer com que os heterossexuais sejam cada vez mais afeminados, daí o fenômeno dos “metrossexuais”, ou seja, o “cara” tem atração por mulher, mas ele está quase pedindo desculpa por gostar de mulher e cria todo um fenômeno gay ao redor dele. Então, o “cara” gosta de mulher, mas ele tem que ter creminhos, pintar o cabelo, pôr brinquinhos, usar baby-look, calça collant, para parecer gay, no entanto, ele gosta de mulher.
E, assim, o pai tem que ser cada vez mais mãe, ou seja, é a decadência da figura paterna, porque o pai é aquela figura que está ligada a uma lei, a um limite, enquanto a mãe é ligada mais à figura acolhedora e misericordiosa. E é exatamente este tempero de limite na dose certa e a misericórdia na dose certa que faz com que a educação da criança seja resolvida e que ela seja no futuro uma pessoa equilibrada.
Acontece atualmente que, por causa desta “saraivada” de críticas contra a figura do pai e contra a sociedade patriarcal, os homens estão ficando cada vez mais com vergonha de ser pais. Existe um fenômeno, introjetado no homem de hoje, no qual ele se sente culpado por ser homem, culpado por ser pai; então ele quer ser cada vez mais delicado, cada vez mais feminino, cada vez mais “mãezinha”, e nós vemos o homem com a criancinha no colo parecendo mais uma mãe do que um pai, e daí a criança tem duas “mães”: uma com barba e outra sem barba.
Dessa forma, teremos uma criança sem limites e sem lei. O que significa isso? Isso é um pressuposto necessário para a fundação anárquica, que é, no fim das contas, o destino – digamos assim – da sociedade socialista, pois o regime marxista socialista quer implantar uma ditadura do proletariado, ou seja, do povo pobre que deveria fazer a ditadura, mas é evidente que quem a [ditadura] faz é uma classe de intelectuais com a desculpa de que um dia este governo “tirânico” e “opressor” não será mais necessário e, então, reinará a “paz” e a “liberdade”, pois não haverá governo para ninguém.
Nós temos, na sociedade, um grande medo de representar a lei, o juiz se sente culpado por representá-la, o policial se sente culpado por ser policial. Num tiroteio numa favela morrem dois policiais e um bandido, por exemplo, todas as Ongs vão ao enterro do bandido, enquanto os meios de comunicação falam da opressão da polícia militar, que está muito violenta, mas ninguém vai consolar a viúva do soldado, não existem Ongs que mandam flores para o enterro do soldado que morreu. Por quê? Porque nossa sociedade atual recrimina tudo o que representa a lei e a ordem e, dentro da família, a figura do pai representa ordem, representa a lei, representa o limite, então a figura paterna está mudando e está mudando não porque são os novos tempos, não existe espontaneidade nisso.
Isso também faz parte da ideologia marxista, pois ninguém mais do que eles fazem reuniões e mais reuniões de uma engenharia social para elaborar como uma sociedade deve ser, então eles são os artífices da nova sociedade. Eles dizem que é a história que está caminhando, que está amadurecendo, mas, na verdade, é a ideologia, é uma cortina de fumaça para esconder “a mão que atirou a pedra”. Os pais estão deixando de ser pais, mas isso é uma obra de engenharia social que começa nas universidades. Os nossos professores são treinados para embutir isso na cabeça de nossas crianças que vão crescendo revoltadas com estas figuras patriarcais e os meninos, cada vez mais tímidos, cada vez mais indecisos e com um nível de testosterona cada vez mais baixo – e isso é constatação de pesquisas (ou seja, está acontecendo alguma coisa na nossa alimentação). E o fato é que estamos numa crise de testosterona e de masculinidade na civilização ocidental.

Padre, quais as consequências desta descaracterização da figura paterna para o desenvolvimento humano e psíquico da criança e do futuro adulto?

Padre Paulo: A consequência nós já estamos vendo aí: insegurança. Porque a figura da mãe está ligada ao passado da criança, a mãe é acolhida, é a raiz de ternura, de amor e de afeto, à qual a criança sempre recorre. Mas a mãe também tem a tendência de segurar a criança em casa, enquanto o pai é a figura desafiadora, é aquela figura que provoca a criança a sair de casa, que a separa da mãe e que a lança  para o mundo.
Quando a criança tem uma figura paterna forte ela sente que tem as “costas quentes”, ou seja, ela sente que tem alguém a protegendo e a enviando para o mundo e a faz corajosa e destemida. Mas quando você tem uma figura de pai que quer acolhê-lo como uma mamãe, que não sabe ser lei, não sabe ser provocação, não sabe ser desafio para o futuro, não acontece nada disso. Qual é a pergunta típica do pai para a mãe quando a criança apronta alguma coisa: “O que este menino vai ser quando crescer?” Ou seja, o pai é a preocupação com o futuro da criança. No entanto, a sociedade está preparando jovens que saem de casa cada vez mais tarde. O “cara” já é um adulto de 30 anos e não saiu de casa, já fez 15 vestibulares e trancou todas as matrículas da faculdade. Por quê? Porque ele não sabe o que quer da vida. Tímido, fica o dia inteiro jogando video game porque não tem coragem de enfrentar o mundo que está la fora. E lá fora nós temos uma sociedade cada vez mais violenta e sem lei, sem policiamento, o que contribui mais ainda para que os pais segurem as crianças dentro de casa. No Japão se chegou a um tal ponto que existe a “síndrome do quarto”, na qual milhões de jovens passam o dia inteiro dentro de seus quartos e fazem tudo lá dentro por meio dos serviços da internet. O rapaz vive no quarto e através da internet ele pede uma pizza e tudo o que ele precisa sem pôr o pé fora do quarto.
Fonte: Canção Nova

Querido “pai cansado”,

Eu li o seu comentário sobre as minhas dicas de como rezar o terço diariamente e pude senti a sua dor.

“No seu próximo artigo, você pode dizer alguma coisa para um pai que acredita no poder e beleza do terço, mas também pensa que está muito ocupado ou cansado para rezá-lo e, pior, esquece de fazê-lo em meio a todas as outras coisas que acontecem à noite? Este pai sou eu”.

Claro que eu posso dizer alguma coisa.

Anteriormente, eu disse que comecei a rezar o terço todos os dias por causa de Nossa Senhora de Fátima e por causa de São João Paulo o Grande. O que eu não disse foi que três pais, realmente, me inspiraram.

O primeiro foi Capitão Wojtyla.

Quando Karol Wojtyla encontrou seu pai morto em seu pequeno apartamento em Wadowice depois de voltar para casa da pedreira aos 19 anos, ele disse: “Nunca me senti tão sozinho.” Ele ficou ao lado do corpo durante a noite, orando e chorando.

Esta foi a mais recente série de perdas esmagadoras que o futuro Papa João Paulo II sofreu ao longo de sua vida, já que morreram um membro da sua família atrás do outro.

Era o tipo de coisa que o levaria ao desespero ou criaria a capacidade de grandeza dentro dele. Uma das razões pelas quais Karol não se devastou foi o exemplo de seu pai. A resignação e a fé do Capitão Wojtyla, depois da morte de sua esposa e dos dois irmãos de Karol foi uma poderosa lição para o futuro papa.

João Paulo lembrava-se de seu pai como “um homem de oração constante”, de acordo com o Testemunho de Esperança de George Weigel. Karol via seu pai de joelhos tarde da noite e de manhã cedo, orando. “Pai e filho liam a Bíblia juntos e rezavam o terço regularmente”, escreveu Weigel.

O adulto João Paulo II tinha muitos pais espirituais: São João da Cruz, Santa Faustina e São Louis Marie de Montfort. Mas, em seu leito de morte, uma enfermeira relatou que ele repetia uma oração ao Espírito Santo que ele aprendera com seu pai.

Eu penso que isso diz muito. Uma das maiores mentes espirituais de nossa vida encontrou sua âncora, no final, não em seus profundos estudos teológicos ou em sua familiaridade com os grandes místicos, mas na simples fé de seu pai viúvo.

O segundo foi o pai de Madre Teresa.

Juntamente com São João Paulo II, Madre Teresa é outro gigante católico de nossas vidas. Seu pai, Nikolle, morreu quando ela era jovem, mas o impacto dele na vida de Teresa foi enorme.

Nikolle Bojaxhiu era comerciante, político e, sobretudo, um homem da igreja. A família tinha devoção ao terço diário.

“Minha filha”, disse-lhe quando criança, “compartilhe sempre com os outros, especialmente com os pobres, até o mínimo de comida que você tiver. O egoísmo é uma doença do espírito que nos transforma em servos de nossas riquezas.”

“Meu pai tinha um coração amoroso”, disse uma vez Madre Teresa. “Ele nunca ignoraria os pobres. Estávamos muito unidos depois que ele morreu.”

É maravilhoso pensar que o coração desta grande santa missionária foi formado por um pai cansado, que rezava depois do trabalho.

Mas não foram apenas os pais dos grandes que me inspiraram. Meu compromisso com o terço tornou-se ininterrupto por causa de um pai que morreu em uma fazenda na Virgínia.

Fiquei profundamente comovido – e mudado – pelo exemplo de Thomas Vander Woude, que tinha 66 anos quando morreu.

Seu filho com síndrome de Down tinha de 18 anos de idade quando caiu em uma fossa séptica. Vander Woude entrou na fossa depois dele e conseguiu tirar o filho com segurança, mas no processo, desmaiou e se afogou.

Nós cobrimos a história quando eu estava no National Catholic Register e quanto mais detalhes eram divulgados sobre a vida do homem, mais eu ficava impressionado. Porém, o que mais me chamou a atenção foi uma declaração de seu filho, Dan:

“Ele cumpria a Hora Sagrada entre as duas e três da manhã e era alguém que rezava diariamente. Com o terço, costumava fazer uma oração a São José”, disse Dan. “Estas eram as coisas que observávamos em nosso pai. Nesta cultura consumista, eu tinha um pai de joelhos, que me ensinava como ser um homem de Deus”.

Eu não sou o homem que Thomas Vander Woude foi. Mas, por causa dele, eu me comprometi com uma Hora Santa do início da manhã. E por causa dele, não só insisto em rezar o terço todos os dias, mas também o faço de joelhos.

É da natureza humana os filhos imitarem os pais. Para o melhor ou para o pior.

Eles estão observando o que fazemos e estão ouvindo o que dizemos. Se adotarmos desculpas para a ausência na missa ou na oração, essas desculpas se tornarão princípios fundamentais para eles.

Mas, se eles nos ouvirem dizendo que a oração é importante e nos virem rezando, isso tomará raízes profundas. Se eles nos virem de joelhos, eles vão se sentir à vontade para ficar de joelhos também.

Você e eu provavelmente seremos esquecidos. Mas se fizermos isso direito, nossos filhos poderão mudar o mundo um dia.

Aleteia

Se você é um homem com grandes responsabilidades no trabalho e na vida familiar, provavelmente não tem muito tempo de sobra para ler. Deve ter muito pouco tempo para perder com conversas “motivacionais” que lhe digam por que deveria ser um bom pai, ou com longas e sentimentais histórias que criticam o óbvio. É por isso que, ao escrever este livro, quis que ele fosse direto e eminentemente prático. Está baseado na experiência de outros homens como pais, e apresenta vislumbres reais de vida em família, além de ideias sugestivas que você poderá colocar imediatamente em prática.

Meu objetivo é ambicioso: ajudá-lo a tornar-se um grande pai, um grande marido e um grande homem.

Há muita coisa em jogo aqui. O sucesso de seus filhos mais tarde na vida dependerá enormemente de quão bem você fizer o seu trabalho de pai. Mas, em primeiro lugar, você, como outros homens hoje em dia, precisa de uma descrição do trabalho. Como parece ter dito certa vez o grande Yogi Berra (1): “Se você não sabe para onde está indo, vai parar em outro lugar”.

Como veremos, a principal tarefa de um homem em sua família é protegê-la. Um homem protege sua esposa e filhos de tudo o que ameace a sua felicidade e bem-estar, tanto no presente como no futuro. Se fracassa nessa grande responsabilidade, sua família sofrerá as consequências.

Se você conseguir aprender com este livro, e depois transformar o que aprendeu em uma ação vigorosa, viverá, se Deus quiser, para ver grandes conquistas de sua vida como pai:

– Sua masculinidade forjará em seus filhos um caráter que durará por toda a vida;
– Seus filhos serão viris e suas filhas serão femininas;
– Seu critério moral será a bússola da consciência de seus filhos;
– Sua vida no trabalho e em casa unir-se-ão para formar um conjunto integrado e coerente;
– Sua família se tornará uma divertida aventura;
– Sua mulher e seus filhos o estimarão como um grande homem;
– Seus filhos crescerão para se tornarem homens e mulheres competentes e responsáveis, que o amarão e o estimarão por toda a vida.

Este elevado ideal, de viver como um grande pai, é alcançável, pode ser feito. Sei disso porque o testemunhei nas vidas de muitos pais. Tudo o que há nestas páginas – a estratégia e as táticas da liderança paterna – deriva do que aprendi em meus anos de experiência profissional com muitos homens comuns e conscienciosos como você. Quero ensinar-lhe o que aprendi deles. Quero passar para você sua experiência coletiva, a sabedoria da paternidade.
Deixe-me voltar um pouco e explicar isso, e como acabei escrevendo este livro. (2)

Durante vinte e um anos, trabalhei para ajudar a instalar duas escolas independentes de ensino secundário (3) para meninos, uma em Washington, D.C., e outra em Chicago – a The Heights School e a Northridge Preparatory School, respectivamente. Fui diretor de Northridge por quase doze anos. Tenho a alegria e o orgulho de dizer que ambas as escolas tiveram um enorme sucesso sob todos os aspectos.

Naquele período, procurei conhecer intimamente centenas de famílias. Estudei suas vidas familiares e observei as crianças crescerem e amadurecerem, frequentemente com sucesso, embora às vezes não. Ao longo de muitos anos, conversei com centenas de pais e mães, visitei suas casas, fiz perguntas e aprendi muito.

Fiz isso por duas razões.

Primeiro, acredito que uma escola deve servir à família inteira, tanto aos pais quanto aos filhos, e assim deveria encarar os pais, e não as crianças, como os principais beneficiários de seus serviços. Afinal, os pais são os principais educadores das crianças, e os jovens sobem ou descem na vida principalmente por causa da forma como foram criados em casa. A escola deve apoiar os pais, e não substituí-los, nessa missão tremendamente importante.
Segundo, queria aprender de que forma os pais têm sucesso ou fracasso na missão de educar os seus filhos.

Deixe-me ser claro aqui. Quando digo “sucesso ou fracasso”, não me refiro aos métodos de disciplina que os pais utilizam, nem a como mantêm as crianças sob controle, nem a como lidam com os problemas da vida em família. Essas são conquistas de curto prazo, mas compõem apenas uma parte do quadro.

Os pais só obtêm um sucesso real no longo prazo. Os pais são bem-sucedidos com seus filhos quando estes crescem e tornam-se homens e mulheres competentes, responsáveis, ponderados e generosos, comprometidos a viver de acordo com os princípios da integridade – adultos que honram a seus pais por toda a vida através de sua conduta, consciência e caráter. Educar as crianças para que se tornem adultos como esses é o verdadeiro objetivo da paternidade.

Vi muitos pais que conseguiram fazê-lo, enquanto outros fracassaram. Alguns viram seus filhos amadurecerem e tornarem-se homens e mulheres excelentes. Outros, especialmente quando seus filhos atravessavam a adolescência e a juventude, depararam com a frustração, o arrependimento, e até mesmo a tragédia. Seus filhos sofreram com a falta de confiança e autocontrole, uso de drogas, imaturidade prolongada, comportamentos irresponsáveis e autodestrutivos, falta de objetivos na vida e problemas com a carreira, com o casamento ou com a lei.

Através de minhas incontáveis conversas com pais e mães, procurei explicar as diferenças que haviam entre eles. Busquei padrões de vida familiar entre aqueles pais que haviam triunfado com seus filhos. O que tinham em comum aqueles homens e mulheres bem-sucedidos? O que haviam conseguido fazer certo? E o mais importante: o que outros pais poderiam aprender de sua experiência?

Ao longo dos anos, prestei cada vez mais atenção ao poderoso papel do pai nas vidas dos filhos – e esta é a razão deste livro. Repetidamente, em uma família depois da outra, testemunhei como os pais têm uma influência crucial no êxito que seus filhos teriam na vida. O sucesso ou o fracasso de um homem como protetor e líder dirige o curso da vida de seus filhos para o bem ou para o mal. Nossa epidemia nacional de “pais ausentes” não é simplesmente um problema de mães solteiras que devem enfrentar a vida sem um marido. É também o caso de lares intactos com pai e mãe, nos quais, porém, o pai está moralmente ausente da vida de seus filhos.

Muitos homens, embora fisicamente presentes na família, simplesmente deixam de exercer sua função de pai. Na verdade, parece que nem sequer sabem em que consiste essa função. E de forma lamentável, e mesmo trágica, sua persistente negligência prejudica tanto seu casamento como a formação dos filhos.
Deixe-me contar um exemplo de fracasso, tirado de minha experiência profissional.

Certa manhã, recebi um telefonema de uma preocupada mãe de um menino de doze anos. Seu filho estava tendo terríveis problemas em outra escola. Desejava transferi-lo para a nossa, pois estava preocupada com sua depressão, cada vez pior, e sua falta de confiança em si mesmo e sua baixa motivação. Os problemas emocionais do garoto estavam prejudicando seu desempenho acadêmico. Ela pediu para marcar um horário para vir, junto com seu marido, visitar-nos e discutir a situação e para que seu filho pudesse fazer uma avaliação e uma entrevista.

Embora os requisitos para a entrada em Northridge fossem bastante competitivos e nossa escola tivesse uma política de recusar alunos com problemas motivacionais, senti pena daquela mãe, e por isso concordei em encontrar-me com ela e seu marido. Pensei que ao menos poderia dar-lhe algum conselho e encaminhá-la a profissionais que pudessem ajudar o menino.

Porém, não pudemos encontrar-nos logo. Infelizmente, seu marido estava fora da cidade. Ao longo das duas semanas seguintes, ela e eu marcamos e depois tivemos de desmarcar três horários porque toda vez uma coisa ou outra surgia na ocupada agenda de seu marido. Comecei a suspeitar que os problemas daquele garoto iam além de notas baixas. Tantas vezes antes, vira aquela mesma situação. Que pai – perguntava-me –, colocado diante de um filho com um problema sério, seria incapaz de conseguir arranjar um par de horas para tomar as rédeas de uma situação que estava saindo do controle? Quais seriam as atitudes e prioridades daquele homem?

A mãe e eu finalmente desistimos de tentar encontrar-nos na presença do pai, e assim combinamos que o garoto viria primeiro para uma entrevista. Meu encontro com Mike confirmou minhas impressões.

Mike entrou na minha sala parecendo nervoso e assustado. Seus olhos mal se encontraram com os meus; voavam pela sala como se estivessem desesperados para escapar. Ofereci-lhe um aperto de mão inicial; sua mão estava mole e suada. Enquanto conversávamos, ele olhava para fora da minha janela. Nossa conversa foi basicamente unilateral, e arrastou-se mais ou menos assim:

– O que seu pai faz, Mike? – perguntei-lhe.
Mike murmurou:
– Ele é engenheiro.
– Onde ele trabalha? – ele me disse o nome da empresa.
– Que tipo de engenheiro ele é? Mecânico, elétrico, civil?
Ele murmurou:
– Não sei.
– Onde ele estudou, e quando se formou? – ele me disse o nome da universidade. Não sabia o ano de formatura.
– Onde ele conheceu a sua mãe? Na faculdade?
– Acho que sim, mas não tenho certeza.
– Quanto tempo eles namoraram antes de casar?
– Não sei.
– Quando seu pai tinha a sua idade, de que hobbies e esportes ele gostava?
Ele encolheu os ombros:
– Não tenho certeza.
– Ele gosta do trabalho?
– Acho que sim. Ele não fala muito sobre isso.
– O que vocês dois fazem juntos?
Ele pensou um pouco:
– Às vezes jogamos bola ou videogame. Normalmente, ele está cansado demais e só assiste TV ou lê.
– Ele confere a sua lição de casa?
Mike fez outra pausa:
– Não muito… Às vezes ele fica bravo comigo.
Nova estratégia:
– Quando tinha a sua idade, como ele ia na escola?
– Não sei.

E a coisa continuou assim: “Não sei…; Não tenho certeza…”. À medida que Mike relaxava um pouco e abria-se mais comigo, revelava um fato evidente. Ele não sabia quase nada sobre a vida passada e presente de seu pai, nada sobre as suas ideias e seus interesses. Sabia sobre seu pai poucas coisas que o fizessem respeitá-lo. Temê-lo, talvez, mas não respeitá-lo. Era também muito claro que isso o incomodava profundamente. Na idade em que os garotos começam a buscar uma figura masculina que seja um modelo para suas vidas, aquele garoto olhava para seu pai e via… o quê? Um enigma, um mistério, quase um estranho… um pai virtual.

Gostaria de dizer que esta história teve um final feliz. Para falar a verdade, não sei o que aconteceu – isto é, o que aconteceu com Mike. Encaminhei sua mãe para auxílio profissional, pois naquelas circunstâncias era tudo o que podia fazer. Como você pode imaginar, nunca cheguei a encontrar-me com o pai. Era ocupado demais.

O destino de Mike provavelmente foi semelhante ao de tantos outros meninos de famílias com pais virtuais. Incapaz de obter a aprovação de seu pai, era provável que ele a procurasse entre seus pares, e assim se tornasse vítima da cultura do sexo, drogas e rock’n roll. Sem a liderança confiante e o encorajamento de seu pai, não teria confiança em si mesmo e tentaria escapar de seus medos através dos prazeres de drogas e do álcool, como comumente acontece. Dominado por temores abstratos, seguiria depois o caminho de seu pai como alcoólatra ou simplesmente vagaria sem rumo através de uma inútil sucessão de empregos. Sem a lembrança de conselhos ou de sabedoria paterna para guiá-lo, passaria anos procurando orientação de substitutos paternos: médicos, especialistas em saúde mental, clérigos e conselheiros matrimoniais. Seu casamento, se houvesse, seria construído sobre a areia, e sua esposa e filhos (se os tivesse) sofreriam.

A situação particular de Mike era incomum? Infelizmente, não. Essa distância entre pais e filhos – pela qual as crianças mal conhecem seus pais e assim não chegam a respeitá-los – é muito comum em nossa sociedade.

Em muitas famílias americanas, a distância entre pais e filhos é maquiada por idas a jogos no estádio e outras atividades de amigão. Aos olhos de muitas crianças, seu pai aparece como uma espécie de simpático irmão mais velho ou uma segunda mãe em meio período. Isto não é suficiente. Fazer esportes ou brincar com os seus filhos não é o mesmo que orientar-lhes como pai. Em grande parte de nossa sociedade, há algo que não está acontecendo entre pais e filhos – e isso está prejudicando nossas crianças.

* * *

A história de Mike é a de um fracasso paterno. Sua experiência com seu pai virtual chamou a minha atenção porque contrastava de forma muito intensa com os sucessos que testemunhei entre tantos pais de alunos da minha escola.

Através de uma espécie de seleção natural, Northridge atraía uma grande quantidade de pais com a “cabeça no lugar”. Eu via que aqueles pais e mães estavam fazendo um bom trabalho, com frequência um excelente trabalho, em criar seus filhos.

Pais e visitantes cumprimentavam-nos pela alegria confiante e bons modos de nossos alunos, por sua capacidade de produzir trabalhos de alta qualidade, por seu crescente sentido de profissionalismo, por sua integridade pessoal. Com relação a problemas com drogas, não tínhamos nenhum – nenhum mesmo, zero. Sem dúvida, nossos alunos tinham seus momentos de desequilíbrio e altos e baixos hormonais, como a maioria dos adolescentes normais. Mas nossos alunos eram, na maioria, ótimos adolescentes que rapidamente se tornaram excelentes jovens. No fim, entravam em boas carreiras e casavam-se bem. Nós, professores e pais, tínhamos orgulho deles, e ainda temos.

Procurei descobrir como seus pais conseguiram que fossem assim. Francamente, muitas vezes fiquei chocado por quão diferentes eram seus temperamentos e formas de educar as crianças. Tive o cuidado de tomar notas em diversos papéis avulsos e arquivei-os até ter várias pastas de folhas velhas. Gradualmente, alguns padrões – algumas abordagens comuns na educação dos filhos – começaram a tomar forma, e transmiti essas lições a outros pais através de conselhos e encorajamento.

Com certeza, um elemento comum foi o seguinte: os melhores dentre esses jovens bem educados respeitavam os seus pais e aprendiam deles. Em casa, os dois cônjuges, pai e mãe, estavam fazendo um ótimo trabalho, mas o papel do pai parecia ser central. Ele estava fazendo algo de bom na vida familiar, algo importante que estava lhe conquistando o respeito dos filhos, e determinei-me a descobrir o que era.

Comecei conversando com os filhos adolescentes desses homens. Pedi-lhes que relatassem algum incidente que indicasse ou ilustrasse por que respeitavam os seus pais. Algum tempo depois, pedi o mesmo aos pais mais eficazes que conhecia – que me contassem algo da memória de seus próprios pais. Eis algumas das coisas que me disseram: (4)

“Quando éramos crianças, sabíamos que papai era forte. Sempre que nós todos havíamos tentado sem sucesso abrir a tampa de um pote de vidro, levávamo-lo para papai. Era o único que conseguia abri-la – todas as vezes!”

“Quando eu tinha três ou quatro anos de idade, estava caminhando em um parque com meu pai. Fiquei um pouco para trás e parei para olhar alguma coisa no chão. De repente, um enorme cão setter irlandês correu na minha direção e pulou sobre mim, derrubando-me no chão. O cão ficou em cima de mim, arfando e farejando o meu rosto. É claro que ele estava apenas brincando, mas eu não sabia disso. Estava completamente aterrorizado, gritando de medo, pois pensava que o cachorro ia me comer. Meu pai voltou correndo, espantou o cachorro e ergueu-me em seus braços. Ele me segurou com força, enxugou minhas lágrimas com seu lenço, e sorriu enquanto me dizia que estava tudo bem. Agarrei-me com força ao seu pescoço, e senti que estava seguro com ele”.

“Depois que chegamos a uma certa idade, nosso pai parou de fazer as coisas por nós. Ele nos mostrava como fazê-las e então dizia para as fazermos por conta própria. Ele sempre dizia que nós devíamos aprender a resolver os nossos próprios problemas”.

“Papai era bravo e às vezes perdia a paciência conosco. Mas sempre vinha desculpar-se depois. Às vezes, ele era duro conosco, mas sempre era justo”.

“Nossa família tinha que viver com o fato de que papai era muito ocupado no trabalho. Às vezes tinha que ficar trabalhando até tarde aos sábados. Mas todos nós sabíamos de alguma forma que ele sempre estava disponível. Se qualquer um de nós realmente precisasse dele, sabíamos que deixaria o que fosse que estivesse fazendo e viria”.

“Papai e mamãe sempre se apoiaram. Sempre. Quando pedíamos permissão a mamãe para passar a noite na casa de alguém, ela dizia para esperarmos até que conversasse com papai. E se pedíssemos a ele, dizia a mesma coisa, para esperarmos e deixá-lo conversar com mamãe primeiro. Tomavam as decisões juntos.

“Papai sempre dizia que mamãe era a pessoa mais importante da sua vida – e que o mais importante para ele é que nós a tratássemos bem, senão… E sabíamos que ele estava falando sério”.

“Em uma noite de verão quando tinha treze anos, meu amigo e eu, apenas de brincadeira, tiramos as válvulas de ar de todos os pneus dos carros estacionados em um auditório da Associação dos Veteranos de Guerra da cidade, e voltamos de bicicleta para minha casa. Papai ouviu-nos rindo do que tínhamos feito e ficou furioso. Ele nos levou de volta e fez-nos recolocar todas as válvulas, e depois levou-nos para dentro do prédio para pedirmos desculpas aos donos dos carros. Quase morri de vergonha, mas realmente aprendi a lição”.

“Nunca me esquecerei de quando papai me levava a seu escritório quando eu era pequeno. Todos me tratavam muito bem, e eu via-o escrevendo e trabalhando com as pessoas o dia todo. Sentia uma espécie de orgulho dele”.

“Quando planejávamos férias, papai e mamãe costumavam pedir-nos sugestões. Deixavam-nos dar nossa opinião: o que gostaríamos de fazer, aonde gostaríamos de ir. E faziam o mesmo com outras coisas, também – ouviam a nossa opinião. Mas depois eram eles que tomavam a decisão final”.

“Quando minha irmã estava no colégio, estava de saída para um baile vestida com uma saia nova que acabara de comprar. Era uma saia curta – bem curta –, uma minissaia. Papai viu-a e deu um pulo. Ficou muito bravo. Disse que nenhuma filha dele sairia de casa vestida daquele jeito. Apesar de suas súplicas e choro, ele a obrigou a subir para o quarto e trocar de roupa. Na semana seguinte, obrigou-a a devolver a saia e pegar o dinheiro de volta”.

“Nosso pai era muito aberto. Respeitava nossa liberdade de opinião e deixava que discordássemos dele na maioria das coisas. Mas em alguns assuntos – como ficar fora até tarde, ou a forma como nos vestíamos –, fazia finca-pé. Sabíamos que, quando ele tomava uma posição firme assim, é porque considerava o assunto realmente importante para nós, para o nosso bem, como ele dizia – e assim o assunto estava encerrado, e ponto”.

Assim, quais eram as palavras e termos que repetidamente apareciam na descrição daqueles pais eficazes? Você pode vê-los aqui: forte, assertivo, justo, disponível, carinhosamente unido à sua esposa, competente, protetor, respeitador da liberdade dos filhos, bom ouvinte, um líder que ensina a distinguir o certo do errado. Não é um mau esboço do que é a paternidade; é um bom começo.

Ao longo dos anos, continuei a questionar os pais em particular, esquadrinhando suas histórias, juntando ideias e arrumando-as em padrões. Com frequência, passei adiante o que havia aprendido, através de palestras públicas que dei inicialmente aos pais de nossa escola, depois a outros grupos no Meio-Oeste, e finalmente por todo o país. Escrevi alguns livretos que foram publicados de forma privada e que, para minha grande surpresa, foram amplamente lidos e apreciados. Em algumas ocasiões, fui entrevistado pelo rádio e pela televisão.

Comecei a suspeitar que estava fazendo algo importante quando ocorreram alguns incidentes: eventos que finalmente levaram-me a deixar minha escola e dedicar-me integralmente a ensinar e encorajar jovens pais.

As pessoas começaram a ligar de todas as partes do país pedindo-me que fosse falar em seus grupos de pais. Depois, comecei a receber convites da Inglaterra, Filipinas, Irlanda, Singapura e Austrália.

Os folhetos das minhas palestras eram impressos em uma gráfica, e quando fui até lá para pegá-los, a proprietária pediu-me se poderia ficar com algumas cópias para dar a seus irmãos e amigos casados.

Algumas vezes, homens mais velhos, já avôs, participavam de minhas palestras. Vários deles vinham falar comigo depois e diziam: “Gostaria de ter ouvido essas coisas vinte e cinco anos atrás! Teriam me poupado muitos problemas”.

Algumas das minhas palestras foram filmadas para serem depois exibidas na televisão. Em três ocasiões diferentes – em Milwaukee, Washington e Sidney, os operadores de câmera vieram depois apertar a minha mão e agradecer-me. Um técnico disse-me: “Aprendi muito aqui, e estou muito feliz por alguém falar essas coisas!”.

Um homem aproximou-se de mim durante um intervalo e disse que me ouvira falar três anos antes. Agradeceu-me calorosamente e disse: “Em minha vida, há definitivamente um antes e um depois. Seus conselhos foram o ponto de mudança. Você me mostrou o que eu precisava fazer como pai, e deu-me o empurrão de que eu precisava”.

Durante todos os meus anos como diretor e depois como palestrante, deparei com um problema. Muitos homens perguntavam-me: “Você pode me recomendar alguns livros que eu pudesse ler sobre a paternidade?”. E isso deixava-me sem resposta.

Por muitos anos, procurei intensamente livros para recomendar, livros escritos especificamente para homens e a partir de um ponto de vista masculino. Fiquei decepcionado e frustrado. Embora não faltassem os assim chamados “livros para pais” no mercado, descobri que quase todos eram escritos para mulheres. A maioria concentrava-se no papel crucialmente importante das mães e esposas, mas ignorava ou minimizava o papel especial do pai em casa: uma dimensão da vida familiar que minha experiência demonstrava ser extremamente importante.

A partir de meados da década de 1980, minhas esperanças reacenderam-se quando novos livros sobre a paternidade dos homens apareceram nas livrarias. Mas estes, também, foram na maioria uma decepção. Alguns tinham uma abordagem sociológica e abstrata: longas discussões lamentando o “pai ausente”, mas poucas soluções práticas. A maioria condenava os inimigos das famílias disfuncionais, mas tinha pouco a dizer sobre os problemas comuns das famílias normais. Afinal, famílias normais têm problemas também.

Outros livros ofereciam remédios rápidos e frases feitas inúteis (“Brinque mais com seus filhos”) ou descreviam o comportamento paterno nos mínimos detalhes, mas sem uma visão filosófica mais ampla: não apenas o que um pai faz, mas o que um pai é.

Esses livros tinham todos o mesmo defeito: não davam praticamente nenhuma atenção à masculinidade de um pai, a suas forças inerentemente masculinas, e como essas forças dirigem o crescimento das crianças em capacidade de julgamento, competência e caráter. Muitos daqueles livros pareciam ver o pai ideal como pouco mais do que um amigo ou companheiro de jogos dos filhos em escala adulta, ou como uma espécie de segunda mãe. Nenhum desses pontos de vista coincidia com a minha experiência.

O livro que eu queria tinha que ter uma abordagem completamente diferente. Deveria resumir a sabedoria coletiva dos pais como os homens a aprendiam de seus próprios pais até, digamos, o fim da Segunda Guerra Mundial, quando as forças sociais e familiares começaram a erodir e até mesmo interromper esses ensinamentos masculinos entre gerações.

O livro que eu queria deveria explicar a importância da dedicação e previdência estratégica a longo prazo de um pai; deveria dizer como a visão forte e apaixonada de um pai pode servir como um ideal que capacite as vidas futuras de seus filhos como homens e mulheres; deveria descrever como a responsabilidade especial de um pai, a mais crítica, é ensinar e formar o caráter de seus filhos; deveria explicar os principais obstáculos que estorvam o papel de educador de um pai na sociedade de hoje, e dizer aos homens o que poderiam fazer para superá-los. Então, dentro dessa linha, o livro deveria oferecer conselhos práticos e experimentados sobre como pais bem-sucedidos lidam com os filhos nas áreas mais cruciais: regras de família, disciplina, escola, esportes, diversão, mídia e trabalho em equipe constante com a própria esposa.

Para dizê-lo de outra forma, o livro que estava procurando daria aquilo de que qualquer homem precisa para assumir uma grande responsabilidade, seja em casa ou no trabalho, isto é, uma clara descrição do trabalho, um objetivo de longo prazo realista, um aviso sobre os obstáculos em potencial e o know-how experiente de outros que já exerceram o cargo e triunfaram.

Como não consegui encontrar esse livro em lugar nenhum, eu mesmo o escrevi. É este que você tem em mãos agora.

Assim, vamos em frente, e façamos a descrição do que é o trabalho de um pai.


(1) Lawrence Peter “Yogi” Berra (1925-2015), jogador de baseball, famoso por suas declarações cheias de trocadilhos e paradoxos. (N. do T.)

(2) Esta obra acompanha meu outro livro, A Bússola: Um Manual de Liderança para Pais [Compass: A Handbook on Parental Leadership], e necessariamente possui com este alguns textos em comum. A Bússola explica como os dois cônjuges trabalham como uma equipe em uma liderança dupla e unificada. Este livro, por outro lado, explora como os pais realizam as suas contribuições poderosas e particularmente masculinas na vida familiar. Para obter material atualizado e mais completo sobre estes e outros livros, acesse a minha página: <www.parentleadership.com>.

(3) No Brasil, equivalente aos ensinos fundamental e médio. “Escolas independentes” nos EUA são equivalentes às nossas escolas particulares, isto é, financiadas exclusivamente com seus próprios meios, e não pelo governo nem por outras instituições. (N. do T.)

(4) Quase todas as citações deste livro são aproximações, pois foram reconstruídas de memória, com frequência de muitos anos atrás. As pontuações de citação ou diálogo aqui usadas são apenas um recurso literário. Além disso, em geral modifiquei os nomes e circunstâncias pessoais das pessoas citadas para preservar a sua privacidade

Trecho do livro “como ser um bom pai” de James B. Stenson