A busca pelo prazer parece ser o principal motor de muitas pessoas. Essa busca frenética pelo deleite sexual sem limites, da qual vários se tornam escravos e dependentes, começa com uma lacuna na educação, algo necessário para a maturidade, que é a aprendizagem sobre como lidar com os próprios impulsos.

O alerta é mundial. Um estudo realizado com 3,2 mil jovens de 13 a 17 anos de cinco países europeus (Bulgária, Chipre, Inglaterra, Itália e Noruega) mostrou que 28% das mulheres e 21% dos homens dizem ter sido objeto de abuso sexual.

Outro estudo realizado na Inglaterra com 700 adolescentes de 12 e 13 anos mostrou que um em cada 5 recebeu imagens pela internet que o chocou ou perturbou. Do total, 12% dos entrevistados admitiram participar de alguma forma em um vídeo de sexo explícito.

A mulher é a que mais sai perdendo. Na maior parte dos conteúdos ‘adultos’ disponíveis nas plataformas digitais, vence o conteúdo misógino e machista, em que homens obrigam as mulheres a posturas desprezíveis, segundo pesquisas internacionais, como a realizada na Universidade de Leicester, na Inglaterra, pela pesquisadora Heather Brunskell-Evans. Um relato nu e cru dessa realidade é descrito no livro recém-lançado nos Estados Unidos Girls and Sex”, de Peggy Orenstein, feito a partir de entrevistas com 70 meninas, em que ela mostra como elas são instigadas pelos próprios colegas a se submeterem sexualmente – e postarem tudo nas redes sociais. E elas não têm recursos afetivos para lutar contra isso.

A solução mais aceita até agora, e citada nesses estudos, é a educação sexual que respeite o desenvolvimento emocional e psíquico de cada pessoa, que é diferente. A questão é como abordar o tema e identificar as fases. Nesse debate, considerar a pornografia como normal não tem sido a melhor saída.

A “educação” pela pornografia

A pornografia influencia na plasticidade do cérebro até formar um novo “mapa cerebral” e, por isso, a exposição ao material pornográfico na infância pode gerar consequências para toda a vida, explica o psiquiatra canadense Norman Doidge em um capítulo do livro “Os custos sociais da pornografia” (The Social Costs of Pornography: A Collection of Papers, editado por James R. Stoner e Donna M. Hughes). Isso acontece por uma série de fatores, como as características das imagens aliadas ao estado vulnerável do cérebro em momentos de excitação mental, e os mecanismos de recompensa fácil.

Segundo ele, a conexão rápida com a internet “satisfaz todos os pré-requisitos necessários para uma mudança neuroplástica”. Por isso, com a popularização das cenas eróticas, o que antes era considerada “pornografia suave” hoje nem mais é considerado pornográfico; e o que era “pornografia grave” é norma atual e tem uma tendência perigosa à violência e ao domínio sobre o outro.

No começo, descreve o psiquiatra, a pessoa sente repugnância a certas práticas e conteúdos. Com o tempo, se acostuma e procura doses cada vez mais fortes para alcançar os mesmos resultados. A consequência do consumo frequente seria a perda do prazer nas relações sexuais reais e sadias.

A “educação dos afetos”

O caminho para quebrar esse círculo vicioso que assalta os ambientes de crianças e jovens é complexo

A chave está em ajudar que as crianças desenvolvam a capacidade de dizer não aos impulsos que firam os direitos humanos próprios ou dos outros, ou ao menos que as levem por caminhos distintos da sua vontade. Explicando melhor: mesmo querendo passar no vestibular, por exemplo, um estudante pode passar horas perdendo tempo porque não é capaz de ir contra outros apelos que o impedem de estudar – ainda que seja muito inteligente e perceba a necessidade de estudar. Se ele não aprendeu, desde pequeno, a ter um domínio político sobre seus sentimentos – político, porque precisa também perceber o momento de relaxar – será refém deles e não alcançará seus objetivos – no caso, entrar na universidade. Esse exemplo pequeno pode ser reproduzido em outros âmbitos da vida.

Como os instintos básicos são fortes – comer, dormir, reproduzir -, as crianças aprendem a lidar com eles aos poucos, pelo conhecimento e exemplo de pessoas que ela admira e se espelha. A escola pode tentar suprir um ambiente familiar deficiente e, por outro lado, a família deve dar apoio quando a criança frequenta uma escola de ambiente hostil.

Não há respostas fáceis, para já, urge a discussão sobre o que seria uma educação sexual oportuna, que dê às crianças e aos jovens as armas que precisam para lidar de forma sadia com a própria afetividade.

Afetos sadios

Os impulsos humanos são controláveis se houver convicções firmes e um exercício constante para ser capaz de dizer “não” ao que pode causar dano. Confira algumas dicas para pais e escolas:

* É na infância que se aprende sobre o próprio valor. Por isso, é bom elogiar atos bons e nominar a sua conduta: “você foi muito valente”, “gostei muito da sua iniciativa”, “esta foi uma atitude muito generosa”.

* Levar a criança a estar segura do amor dos pais, mesmo com os seus erros e defeitos, fazendo-a perceber que pode se esforçar por melhorar.

* Motivá-la a controlar os impulsos: adiar um doce porque o irmão não pode comer, primeiro fazer a lição para depois brincar, etc.

* Ajudar que aceite a negativa para a compra de um brinquedo novo.

* Ensinar o real valor das coisas: as pessoas valem mais que as coisas.

* Ajudar a criança a interpretar as emoções alheias.

* Favorecer o auto conhecimento: quando está triste, alegre, com raiva, medo, entusiasmo, esperança.

* Ajudar a criança a administrar as próprias frustrações.

* Ensinar desde cedo sobre a vida moral e os valores: a justiça, a verdade, o bem, a compaixão.

Ensinar a se posicionar com as opiniões que aprende na família.

Ao corrigir, não ser rude e não humilhar a criança.

* Primeiro compreender e depois aconselhar ou repreender.

Expressar a contrariedade em relação à atitude do filho e nunca à personalidade.

* Elogiar os atos verdadeiramente bons e não qualquer atitude.

Não ser pais permissivos, que permitem tudo e, assim, criam filhos frágeis; e nem autoritários, que resulta em filhos submissos.

* Manter a harmonia conjugal para dar segurança afetiva aos filhos.

* Nunca banalizar os sentimentos da criança.

Sempre ensinar em casa e na escola sobre o bem e o mal através de situações reais, filmes, livros, etc.

* Oportunizar a intimidade afetiva em casa, na família. Entrar em assuntos pessoais com respeito, acolhendo as emoções da criança.

* Ensinar sobre a resolução de conflitos, sobre saídas positivas para os problemas.

*O “não” educa: dizer por que a criança não deve fazer algo e estimular que ela escolha algumas coisas em detrimento de outras, posicionando-se afirmativa ou negativamente e fundamentando o seu pensamento.

* Colaborou: Lélia Cristina de Melo, formada em Psicologia pela PUCPR, Diretora de Formação e Divulgação do Colégio do Bosque Mananciais.

À medida que a nossa sociedade desaprende a masculinidade e feminiza cada estágio da vida masculina, os meninos pagam um preço enorme. Deixe-me compartilhar com vocês duas notícias preocupantes – e, creio eu, intimamente ligadas.

A primeira vem como cortesia de Mark Perry, do American Enterprise Institute. Em um gráfico, ele destaca a diferença dramática e crescente entre os sexos no ensino superior. Em suma, as mulheres dominam:

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A segunda vem de Emma Green do The Atlantics. Detalhando os resultados de uma pesquisa conduzida por sua revista e pelo Public Religion Research Institute, ela observa que 61 por cento dos homens brancos da classe trabalhadora vêm a universidade como uma “aposta arriscada”. O relatório de Green continha esta explicação: “A narrativa duradoura do sonho americano é que, se você estudar, obter uma educação universitária e trabalhar duro, você pode subir na vida”, disse Robert P. Jones, CEO do PRRI. “A pesquisa mostra que muitos americanos da classe trabalhadora branca, especialmente os homens, já não vêm esse caminho disponível para eles… É este sentimento de fatalismo econômico, mais do que apenas dificuldades econômicas, que foi o fator decisivo no apoio a Trump entre os eleitores da classe trabalhadora branca.

“Não se engane, se esses números mostrassem uma diferença educacional equivalente (e crescente) na direção oposta, a esquerda feminista declararia uma emergência cultural. Na verdade, declarou uma emergência cultural apesar do desempenho educacional dominante das mulheres. Como observa Perry, nossas faculdades estão cheias de iniciativas de “centros de mulheres” e “equidade de gênero” que são dedicadas exclusivamente ao sucesso feminino (ou quase exclusivamente). Quando vai parar de existir uma crise para as mulheres no campus? Quando já atingem dois terços da população do ensino superior? Quando três de cada quatro graduados da faculdade são mulheres?

Nossa sociedade está desaprendendo a masculinidade, feminizando cada estágio da vida masculina, e os meninos estão pagando um preço enorme. Considere a feminização do lar – ocorrendo em duas frentes simultaneamente. Em primeiro lugar, e mais importante, a dissolução da família traz um aumento da ausência do pai, e por mais que nossa cultura louve as mães solteiras (e às vezes – mas nem sempre – as mães fazem esforços realmente heróicos para preencher a lacuna), os meninos precisam de pais.

É simples assim. Homens e mulheres em geral têm diferentes papéis a desempenhar na vida de seus filhos, e um menino vê em um bom pai os frutos de uma masculinidade corretamente canalizada e devidamente vivida. Ele tem nele um modelo, muitas vezes um herói, que vive na maior proximidade possível. Mas além da ausência do pai, está a feminização crescente da própria família mesmo aquela com dois pais. Modelos de vida doméstica intencionalmente elaborados para quebrar antigos estereótipos e normas culturais cada vez mais tratam os pais não como “mãe e pai”, mas como “Progenitor 1 e Progenitor 2.” [*] As crianças não são irmão e irmã, mas “Criança 1 e Criança 2.” Já não existem caminhos diferentes para meninos e meninas, mas caminhos únicos para seres especiais esvoaçantes como flocos de neve.

Quem vai dizer o que é masculino? Quem vai dizer o que é feminino? No entanto, a única coisa que sabemos é que os estereótipos das características masculinas de agressão, risco e trabalho duro e jogos de alta energia são “tóxicos” e precisam ser medicados ou educados fora de casa.

Acrescente-se à casa feminizada, a escola feminizada, com sua tolerância zero, medo mortal de qualquer coisa remotamente marcial e sua implacável ênfase na compaixão e nutrição ao invés de exploração e aventura (a menos que o aventureiro seja uma mulher). Nós amamos a Terra. Não a conquistamos. Escola primária é um lugar de abraços, não de conflito, e brincar é ser pacífico acima de tudo. Não mais se encenam batalhas. Não mais armas de brinquedo. Não mais desenhos de tanques ceifando hordas nazistas. E quando a natureza se impõe contra os desejos do ideólogo? Aí entram a medicação e a educação.

Finalmente, os jovens se graduam para um trabalho cada vez mais feminizado. Parte disso é uma função do politicamente correto, e parte dela é simplesmente uma função da economia em mudança.  Há mais cubículos, mais pessoas digitando, e mais pessoas falando. É ótimo ser loquaz.

Em lugar de ensinar os homens a canalizar sua agressividade e espírito aventureiro de maneira produtiva, pedimos-lhes para sufocar sua natureza mais verdadeira.

A força é estritamente opcional. Oh, e quando os homens que trabalham nos cubículos tentam arrumar seus espaços para hobbies, esportes e outras atividades, eles são muitas vezes objetos de zombaria. Por que um contador precisa de um Ford F-150? Olhe para aquele advogado comprando uma motosserra. Ele não sabe como ele é ridículo?

Em vez de ensiná-los a proteger os outros, mentimos e declaramos que toda violência é má. Em vez de dizer a verdade de que homens e mulheres são diferentes, tentamos transformar homens em mulheres. Privilegiamos as histórias daqueles que achavam opressivas as normas tradicionais de gênero (como os gays e seus primos metrossexuais) e comemoramos o fim da masculinidade tradicional que vinha servindo melhor à grande maioria dos homens e dos meninos.

Não é possível preservar a masculinidade enquanto se demonstra compaixão por aqueles que não se conformam? Precisamos queimar tudo? Há poucos pontos de vista mais profundamente significativos do que ver um filho crescer com um bom pai, para vê-lo assumir as melhores características do seu pai, ao mesmo tempo forjar seu próprio caminho. É importante ver e saber que durante toda a vida desse jovem, seu pai não estava apenas o protegendo e nutrindo, ele também estava desafiando-o, empurrando-o para ser mais forte mentalmente, fisicamente e emocionalmente. Para esse fim, é hora de lembrar que a força é uma virtude, corretamente canalizada, a agressão cria e preserva a civilização em si, e não há nada de inerentemente tóxico sobre a masculinidade. A feminização de tudo não apenas atrapalha nossos meninos. No longo prazo, destruirá nossa nação.

David French

Nota do tradutor, Heitor De Paola:

[*] Parent 1 and Parent 2.

Publicado originalmente para o website National Review

Ontem à noite cheguei em casa com meu filho de 8 anos – nossos braços cheios de mantimentos – quando ele abriu a porta e proclamou: primeiro as damas. Naquele instante ele me deu um vislumbre do homem que estamos tentando preparar para o futuro, e eu não poderia ficar mais feliz.

Foi um daqueles bonitos – embora raros – momentos de mãe em que você sente que fez algo. Infelizmente, no meu caso, este eufórico momento-mãe durou apenas dois minutos. Um flash trouxe-me de volta à terra: recordei-me do recente episódio em que meu filho de 10 anos, cansado após a aula de educação física, queixou-se em voz alta de ter de se levantar para dar lugar a uma senhora idosa no metrô. Há ainda algum trabalho a ser feito, pensei. Os bons modos são o que fazem nascer um homem e eu, como mãe, tenho uma enorme responsabilidade em ajudar a tornar esse homem.

Mas eu gostaria de ir um pouco além. Quero que meus mini-homens se tornem cavalheiros, o que é uma distinção muito importante.

Isso pode parecer um pouco antiquado em uma sociedade moderna, onde estamos constantemente lutando pela igualdade entre os sexos. Mas eu não me sentiria menos igual ou enfraquecida se um homem me oferecesse seu assento; eu me sentiria tocada por uma ação atenciosa. Ceder o lugar para uma mulher, ou para alguém com necessidade, é um gesto generoso que eu gostaria que meus filhos fizessem para mim. Então por que não deveriam fazê-lo para os outros? Estou tentando ensiná-los a refletir sobre o que eu aprecio. E como eles ainda não são completamente adolescentes, quem sabe se importem mais tarde.

A razão pela qual eu também sou insistente em propor um nível moderado de bons costumes em meus filhos é que eu admiro o que a verdadeira arte da cavalaria representa. Embora ela se origine nos tempos medievais, de acordo com o site Chivalry Now , aderindo a este código de conduta “os homens são chamados a ser sinceros, leais, corteses com os outros, companheiros para as mulheres, defensores da justiça e defensores dos mais frágeis . Também se espera que eles evitem escândalos”. Como não apreciar isso?

Este código favorece que o cavalheirismo desempenhe um charmoso papel entre homens e mulheres, especialmente como auxiliar no namoro, por exemplo. Ele ajuda no estabelecimento do contato inicial entre duas pessoas, normalmente envolvendo contato com os olhos, e muitas vezes um sorriso – o suficiente para fazer vibrar o coração de uma garota. No entanto, estou ciente de que estamos no século XXI. Não esperamos cavaleiros com armadura brilhantes colocando suas capas sobre poças.

Apesar disso, há os antigos clássicos que eu realmente aprecio, como, em um encontro à noite, quando meu marido abre a porta do carro para mim, não porque sou incapaz, mas porque isso me dá alguns segundos extras para retocar o batom. Um dos meus favoritos é ver meu marido me dar seu casaco quando saímos de um restaurante sob a brisa da noite. E o clássico ato de cavalheirismo moderno: se tem apenas um carregador de celular, meu telefone tem prioridade. Estes gestos simples tornam o meu marido ainda mais o meu próprio príncipe encantado.

Infelizmente hoje em dia os homens acham mais difícil ser cavalheiros, com medo de uma suposta reação negativa. Mas o cavalheirismo é uma habilidade valorizada, mesmo que nas entrelinhas. Para despertar verdadeiros cavalheiros, como pais, devemos ensinar e incentivar os filhos nessa conduta. Em contrapartida, estamos ensinando nossa filha a aceitar graciosamente atos de cavalheirismo como atos de bondade que em sua essência devem ser.

Cerith Gardiner

O mundo carece de boas referências masculinas. A todo momento, a mídia nos propõe ideais de virilidade completamente desordenados. Ora é o “pegador”, ora é o frouxo efeminado e tíbio.

Hoje em dia, nossa educação não nos prepara para as coisas sólidas. Para o amor, para o compromisso e sacrifício. Mas ainda assim, o nosso coração anseia por essas coisas. É nossa natureza, fomos criados para o amor.

Se você anseia por doar sua vida na família, como pai e esposo, esse texto é uma humilde contribuição para sua caminhada. A família começa a ser construída no namoro.

O chamado ao matrimônio é uma nobre vocação. E como todo chamado de Deus, demanda que você escute e saia do seu lugar. Um namoro santo demanda sair de si mesmo, combater as próprias limitações, com oração, mortificação e prática das virtudes. Demanda autoconhecimento, discernimento, prudência. Demanda, enfim, uma busca pela conversão.

Façamos um pequeno itinerário.

AVISOS PRÉVIOS

São João Bosco disse uma vez que não se deve pedir uma mulher a Deus antes que Ele faça de você um homem. É uma verdade, mas como saber se sou um homem, e não um menino?

Há critérios bastante objetivos. O homem precisa ter disposição para sacrificar-se e doar-se. Olhe para sua rotina, seu dia a dia, as coisas que ocupam sua mente. Faça o exame de consciência: “Vivo para mim? Para meus hobbies e lazeres? Para o descanso? Busco fugir do trabalho e das responsabilidades?”.

Se sua maior preocupação é o futebol com a rapaziada, o novo filme da Marvel ou o bar, é hora de trabalhar um pouco o interior.

Outro conselho importante era dado por Santo Afonso Maria de Ligório. Ele dizia que namorar sem possibilidade de se casar a médio prazo, não convém. E aqui precisamos fazer algumas considerações.

Você tem condições de nos próximos anos estar pelo menos exercendo um ofício profissional, ainda que no começo? Não há necessidade de estar pronto para sustentar um lar, mas você poderá ter perspectivas de estar ao menos buscando isso, caminhando na vida profissional?

Você teria condição de catequizar uma criança, ou pelo menos estar trabalhando na própria formação pessoal? Reforçamos que você não precisa estar pronto, acabado (isso talvez nunca estejamos) mas você ao menos está trilhando esse caminho?

Rapazes de dezesseis anos, adolescentes que leem esse texto: não é o momento para namorar agora. Psicólogos afirmam que até os 18 anos nós nem ao menos podemos dizer que temos personalidade estruturada. Essa é a fase de se formar para o sacrifício e a virtude

Também é o momento de fazer um sério discernimento vocacional. É preciso saber quem você é aos olhos de Deus. Se perguntar: “Senhor, que queres de mim?”. Com direção espiritual. Retiros. Vida de oração cotidiana. Não faz sentido namorar sem indícios de que Deus talvez te chame a isso.

Fez um discernimento vocacional? Começou uma séria formação cristã? E uma séria formação humana, virtuosa, em uma profissão?

Agora podemos pensar em namorar.

A ESCOLHA DA NAMORADA

O namoro em si não faz sentido se não for colocado diante da possibilidade do matrimônio. O professor Carlos Ramalhete diz que namorar é procurar alguém para “ficar velhinho junto”. Então não namore uma moça que não permite essa perspectiva. Isso carrega muitos fatores subjetivos e particulares, mas há coisas que se aplicam a todo homem católico.

Por exemplo: não faz sentido namorar uma menina que não abrace a proposta do matrimônio católico. O sacramento pede três requisitos: indissolubilidade, abertura a vida e compromisso em criar os filhos na fé. Isso limita muitas coisas.

Uma menina virtuosa, que busca a castidade, é uma pessoa de boa vontade… mas é comprometida com uma igreja protestante. Você acha que ela aceitaria criar os filhos na fé? Não faz sentido começar um relacionamento.
É possível uma não católica estar sinceramente disposta a isso, e revelaria uma forte abertura de coração à conversão, mas é um caso de extrema exceção.

Por isso, ao procurar uma moça, comece pela Igreja. Na sua paróquia, em um movimento que você participa. Busque se cercar de boas amizades católicas, e certamente você irá se esbarrar com boas meninas.

Mas assim como o homem deve ter maturidade humana, a mulher em questão deve ter certa maturidade. Todos nós temos defeitos, e não dizemos para aguardar uma mulher perfeita, mas é bom saber se a menina tem noção do que é a vocação, tem desejo de buscar sinceramente as virtudes (apenas o esforço em buscá-las, não devemos esperar perfeição de ninguém), é pessoa comprometida com a Igreja e cultiva uma vida de piedade.

Essas coisas são visíveis durante um relacionamento de sincera amizade. Por isso, cultive amizades. Não tema a “friendzone”: não faz sentido namorar uma menina que você acabou de conhecer. Namore uma moça que no convívio com os amigos deu sinal de ter maturidade.

Há os fatores pessoais, que devem ser levados em consideração: se sua profissão te fará viajar por períodos longos, não é prudente namorar uma menina que não lida bem com ausências prolongadas. Ainda que gostos comuns não sejam fatores decisivos (no namoro, aprendemos a gostar de coisas novas, é natural) também não é inteligente namorar alguém com quem você não tenha nenhum gosto comum. É raro isso acontecer entre duas pessoas de Igreja, mas há personalidades que são muito díspares.

Um conselho é justamente pedir conselhos. Um amigo do convívio comum de ambos, que possui uma visão de fora, pode dar a opinião.É bom pedir essas opiniões (mas não muitas) de terceiros. Várias vezes vemos casais que não combinam em nada, no calor da paixão, perderem tempo tentando algo.

Faça boas amizades, conheça boas meninas, e uma vez que surja o momento, peça a opinião de um amigo próximo. Parece que vai dar certo entre você e a moça?

Então, como começo?

CORTEJANDO COMO HOMEM

A verdade é que existem muitas ótimas mulheres. Normalmente se você não consegue é porque não está procurando nos lugares certos (ou é um adolescente, e esse realmente não é o momento para isso).

Mas se você encontrou um ambiente saudável e mesmo assim não consegue, talvez esteja faltando um pouco de virtude.

Sim. Talvez falte paciência para ouvi-la (será que você não está sempre falando de si e do que te interessa, numa autopropaganda vaidosa?). Talvez falte prudência (você acabou de conhecer a menina! Não precisa forçar a barra na intimidade!). Talvez falte, mesmo, certa coragem (meu amigo, mulheres cristãs querem um homem de iniciativa. Com prudência, paciência, mas ainda assim, que “chegue” nela!).

Talvez te falte cavalheirismo. Não é uma ferramenta de conquista de mulheres, mas se você não reconhece a dignidade da mulher e lhe trata com respeito e reverência, não queira que elas te achem interessante.

Faça um discernimento. Discernimento humano: avalie a situação. Há um clima legal, de amizade natural (não force a barra!) entre vocês? Ela demonstrou interesse? (sim, precisamos ficar atentos aos sinais: elas NÃO são objetivas). Então um pouco de ousadia e criatividade cai bem.
Você é um homem de Deus. Suas intenções são retas. Você está buscando formar-se um bom marido e pai, capaz de proteger e prover sua casa, e criar seus filhos. Com obras. Com atos. Se segue esse caminho, e você tem boa amizade com a moça em questão, e ela já deu sinais de interesse, arrisque. Leve-a para um encontro a dois. Não espere a situação surgir: faça o convite. Tenha iniciativa. Dê alguma lembrancinha, mostre que se lembra dela, que é amável a presença dela. Você não está mentindo! Deixe-a saber que é querida. Que você se importa com ela e quer mesmo o Céu para ela.

As mulheres querem segurança. Dê segurança emocional mostrando a ela o que ela tem de bom, com elogios sinceros. Mostre segurança conduzindo o relacionamento: fale a verdade, diga os motivos que te levam a querer avançar em um relacionamento com ela. Mostre que é um homem que reflete sobre a vida, que tem seriedade.

E se ela simplesmente não quiser, paciência, meu amigo. Ela é livre para isso, e um homem precisa saber lidar com desapontamentos. Seja homem! Não a destrate por isso. Faz parte da vida, e isso irá moldar o seu caráter. Siga em frente.

Mas deu certo? Então vamos ao namoro, em si.

O NAMORO: O QUE É, COMO FUNCIONA

Se você seguiu esse roteiro tanto quanto pôde, não há grandes mistérios na condução de um namoro. Façamos apenas alguns apontamentos.

O namoro não é apenas “para se conhecer”. É verdade que é bom conhecer mais sobre o outro, e entre pessoas que dialogam (e diálogo sempre será fundamental) isso é inevitável. Mas o fim último do namoro não é se conhecer. As pessoas mudam! Quando vocês casarem, irão mudar. Quando vierem os filhos, irão mudar novamente.

O namoro é o momento de crescer junto. Lançar as bases da família. Se aqui falamos da importância de se crescer como homem antes de procurar uma namorada, agora o homem e a mulher amadurecidos devem crescer juntos e lançar as bases sólidas de uma futura família.

Você irá precisar se superar e “renunciar a si mesmo” dia após dia. O namoro é uma grande fonte de santificação. Você vai precisar aprender a abrir mão. A se desculpar. A ter paciência. A perdoar. Você vai precisar desenvolver uma delicadeza que nem sempre é natural para o homem. E há muita caridade em fazer as coisas com delicadeza.

Porque você precisará corrigir. Quem ama, corrige. Mas corrigir caridosamente, amavelmente, e sabendo que a mulher é outra pessoa.

O namoro não é lugar para você buscar amparo emocional. Muitas vezes, a mulher virtuosa é um amparo que nos leva a Deus, o Pai das consolações, fonte de todo amparo. Mas namoro não é feito para isso, é apenas uma graça que ele as vezes concede.

J. R. R. Tolkien bem disse em carta ao seu filho, Michael, que a Santíssima Eucaristia é a fonte de consolo, força e amparo. A mulher, segundo ele, é apenas nossa “companheira de naufrágio”, em um mundo ferido pelo pecado. Também ela é pecadora e limitada, e nós devemos todos os dias querer levar sua alma para Deus.

Isso demanda uma vida de oração. A vida de oração pessoal espera-se que você tenha desenvolvido antes do namoro (mas nunca é tarde para começar!), mas o namoro também pede a oração comum. Vocês estão querendo passar toda a vida juntos! Construir uma família! Aprendam a rezar juntos. Criem o compromisso com o santo terço. Participem de adorações eucarísticas. Meditem a Palavra e conversem com o outro sobre os frutos da própria meditação. Frequentem juntos a santa missa. Façam romarias e novenas pedindo as graças que precisam. Intercedam um pelo outro.

A castidade não será possível sem vida de oração. Pessoal e conjunta. Além disso, a fuga das ocasiões é fundamental. Mas sem oração, logo começamos a procurar ocasiões. Então não deixem de rezar juntos. E nas quedas, se levantem e procurem o santo remédio da confissão, que permite continuar de onde paramos. Sem desespero, pois isso é coisa do demônio.

Se são capazes de rezar juntos, e um leva o outro a Deus, é o melhor indicativo de um namoro santo. Se são capazes de se perdoar mutuamente, se são pacientes um com o outro, se o tempo passa e vocês conseguem ver frutos concretos de crescimento, então é sinal de que a coisa está bem encaminhada e o namoro caminha para o fim.
Pois o namoro não é fim em si mesmo. É o caminho para o altar.

QUANDO NOIVAR

Um piedoso sacerdote disse uma vez: “antigamente os casais queriam construir algo juntos. Hoje, as pessoas querem cada uma construir a vida sozinhas e depois pensam em casar”.

Se vocês têm o mínimo para começar a vida juntos, podem noivar. Mas não falamos somente do mínimo material.
Garantir um teto sobre a cabeça e comida na mesa é um desafio, sem dúvidas. Mas a verdade é que hoje em dia vivemos em um contexto materialmente muito mais favorável do que viveram nossos pais, avós, bisavós e toda a humanidade antes de nós.

As condições mínimas também abarcam uma perseverança na oração, uma paciência com as principais fraquezas do outro, capacidade de perdoar, propósito firme de educar os filhos na fé.

O namoro deve ser uma escola de tudo isso. Se tem isso, o material é secundário. Olhem o exemplo da Sagrada Família.

São José, tendo sua oficina em Nazaré, construído sua casa, havia garantido o material necessário para a família. Tão logo Jesus nasce, ele precisa deixar tudo isso para trás e ir morar em terra estrangeira para proteger Cristo de Herodes.

Se Maria e José não fossem santos completamente entregues nas mãos de Deus, não seriam amparados pela providência e não conseguiriam passar por essa missão.

Assim é a vida humana. Necessariamente há imprevistos. Todos estamos sujeitos à necessidade, e nessa hora, o que nos ampara é a providência, e o alimento para manter as virtudes heroicas que esses momentos pedem é o sacramento e a oração.

Não temam o noivado. O Papa pediu na exortação apostólica Amoris Laetitia que os jovens casais não temam uma cerimônia simples. Uma grande festa cara não é fundamental para o casamento. Ser gerente da empresa não é. Um salário de 15 mil e um mestrado também não.

Que Deus ajude todos os jovens casais a viverem essa santa vocação. Homens, olhem para Cristo e seu pai nutrício, São José. Eles serão seus guias nessa jornada!

(Por Daniel Alves, via Homem Católico)

Geração mimimi, ou geração “Metholate que não arde”. O fenômeno parece evidente: os millennials não parecem preparados para a vida, pois vivem em bolhas protegidos de tudo, até de ofensas e “microagressões”, em “locais seguros” inclusive nas universidades.

Crianças “brincam” em locais cada vez mais controlados, sem “riscos”, e com os pais no comando. Policiais são chamados para prender crianças que cortam galhos de árvore, rolam na grama ou tentam vender suco na esquina, sem licença estatal. A paranoia salta aos olhos: perigo, perigo por toda parte! É preciso fechar os pimpolhos numa redoma.

Os efeitos dessa postura super protetora podem ser observados facilmente. Os jovens de hoje estão hipersensíveis, despreparados para o mundo real, confundindo seus desejos com direitos inalienáveis. Eles estão mimados, em suma.

Jonathan Haidt, autor do excelente The Righteous Mind, que resenhei aqui, escreveu um importante ensaio sobre a “geração frágil” com Lenore Skenazy, para a reason.com. Os autores procuram mostrar como o excesso de zelo com a segurança dos filhos acabou tendo um efeito bumerangue, e hoje eles se encontram mais fragilizados e incapazes de vencer as batalhas da vida. Eles escrevem:

Tivemos as melhores intenções, é claro. Mas os esforços para proteger nossos filhos podem ter ricocheteado. Quando criamos crianças que não estão acostumadas a enfrentar qualquer coisa por conta própria, incluindo riscos, falhas e sentimentos feridos, nossa sociedade e até nossa economia estão ameaçadas. No entanto, as práticas e leis modernas de criação de filhos parecem quase todas concebidas para cultivar essa falta de preparação. Há o medo de que tudo o que as crianças vejam, façam, comam, ouçam e lambam possa machucá-las. E há uma crença mais nova que tem se espalhado através da educação superior de que palavras e ideias podem traumatizar.

O que pode ter levado a isso? Os autores apresentam algumas possibilidades:

A partir da década de 1980, a infância americana mudou. Por uma variedade de razões – incluindo mudanças nas normas parentais, novas expectativas acadêmicas, aumento da regulamentação, avanços tecnológicos e, especialmente, um maior medo do sequestro (as crianças desaparecidas em desenhos fizeram sentir como se esse crime extremamente raro fosse desenfreado) – os filhos em grande parte perderam a experiência de ter grandes intervalos de tempo sem supervisão para jogar, explorar e resolver conflitos por conta própria. Isso os deixou mais frágeis, mais facilmente ofendidos e mais dependentes de outros. Eles foram ensinados a buscar figuras de autoridade para resolver seus problemas e protegê-los de desconforto, uma condição que os sociólogos chamam de “dependência moral”.

E como essa situação pode prejudicar os próprios jovens?

Isso representa uma ameaça para o tipo de abertura e flexibilidade que os jovens precisam para prosperar na faculdade e além. Se eles chegam na escola ou começam carreiras desacostumados a frustração e mal-entendidos, podemos esperar que eles sejam hipersensíveis. E se eles não desenvolvem os recursos para trabalhar através de obstáculos, os montinhos parecem ser montanhas.

Esta ampliação do perigo e da dor é prevalente no campus hoje. Já não importa o que uma pessoa pretendia dizer, ou como um ouvinte razoável interpretaria uma declaração – o que importa é se alguém se sente ofendido por isso. Em caso afirmativo, o falante cometeu uma “microagressão”, e a reação puramente subjetiva da parte ofendida é uma base suficiente para enviar um email ao reitor ou abrir uma queixa à “equipe de resposta de viés” da universidade. O efeito líquido é que tanto professores como estudantes hoje relatam que estão caminhando em cascas de ovos. Isso interfere no processo de indagação gratuita e debate aberto – os ingredientes ativos em uma educação universitária.

A nova geração tem valorizado cada vez menos a Primeira Emenda, que garante a liberdade de expressão, e cada vez mais a “polícia do pensamento”, que controla o que cada um pensa e diz para não “ofender” ninguém (a menos, claro, que seja um homem branco heterossexual cristão ou judeu). Os autores resumem o ponto:

Pais e professores estão falando sobre a crescente fragilidade que eles vêem. É difícil evitar a conclusão de que a superproteção das crianças e a hipersensibilidade dos estudantes universitários podem ser dois lados da mesma moeda. Ao tentar tanto proteger nossos filhos, estamos fazendo com que eles fiquem muito seguros para ter sucesso.

Crianças aprendem fazendo, acima de tudo. Como diz o velho ditado, “prepare seu filho para o caminho, não o caminho para seu filho”. Os pais de hoje têm ignorado essa importante lição. Os autores depositam suas esperanças nas brincadeiras, mais soltas e livres. É como os demais mamíferos aprendem coisas importantes para eles. Eles dizem:

No jogo livre, idealmente com crianças de idades misturadas, as crianças decidem o que fazer e como fazê-lo. Isso é trabalho em equipe, literalmente. As crianças pequenas querem desesperadamente ser como as crianças maiores […]. Esta é a base da maturidade.

Um conhecido brincou outro dia: “No meu tempo, perdia aquele que chorasse primeiro diante das provocações; hoje ganha o que chora primeiro!” Ninguém precisa negar os perigos do bullying sistemático e agressivo para reconhecer que a paranoia com qualquer bullying foi longe demais, impedindo os garotos e garotas de criar cascas mais grossas e resistentes para a vida lá fora. Eles concluem:

Ao tentar manter as crianças a salvo de todos os riscos, obstáculos, sentimentos doloridos e medos, nossa cultura tirou as oportunidades que eles precisam para se tornarem adultos bem-sucedidos. Ao tratá-los como uma frágeis – emocional, social e fisicamente, a sociedade realmente os faz assim.

É hora de “tocar a real” para a garotada, permitir que vivam um pouco mais a vida, de forma mais solta e, sim “arriscada”, pois a alternativa é, além de sufocante, mais perigosa ainda, e vai acabar matando a coisa que mais importa: a liberdade.

Rodrigo Constantino

Se você é um homem com grandes responsabilidades no trabalho e na vida familiar, provavelmente não tem muito tempo de sobra para ler. Deve ter muito pouco tempo para perder com conversas “motivacionais” que lhe digam por que deveria ser um bom pai, ou com longas e sentimentais histórias que criticam o óbvio. É por isso que, ao escrever este livro, quis que ele fosse direto e eminentemente prático. Está baseado na experiência de outros homens como pais, e apresenta vislumbres reais de vida em família, além de ideias sugestivas que você poderá colocar imediatamente em prática.

Meu objetivo é ambicioso: ajudá-lo a tornar-se um grande pai, um grande marido e um grande homem.

Há muita coisa em jogo aqui. O sucesso de seus filhos mais tarde na vida dependerá enormemente de quão bem você fizer o seu trabalho de pai. Mas, em primeiro lugar, você, como outros homens hoje em dia, precisa de uma descrição do trabalho. Como parece ter dito certa vez o grande Yogi Berra (1): “Se você não sabe para onde está indo, vai parar em outro lugar”.

Como veremos, a principal tarefa de um homem em sua família é protegê-la. Um homem protege sua esposa e filhos de tudo o que ameace a sua felicidade e bem-estar, tanto no presente como no futuro. Se fracassa nessa grande responsabilidade, sua família sofrerá as consequências.

Se você conseguir aprender com este livro, e depois transformar o que aprendeu em uma ação vigorosa, viverá, se Deus quiser, para ver grandes conquistas de sua vida como pai:

– Sua masculinidade forjará em seus filhos um caráter que durará por toda a vida;
– Seus filhos serão viris e suas filhas serão femininas;
– Seu critério moral será a bússola da consciência de seus filhos;
– Sua vida no trabalho e em casa unir-se-ão para formar um conjunto integrado e coerente;
– Sua família se tornará uma divertida aventura;
– Sua mulher e seus filhos o estimarão como um grande homem;
– Seus filhos crescerão para se tornarem homens e mulheres competentes e responsáveis, que o amarão e o estimarão por toda a vida.

Este elevado ideal, de viver como um grande pai, é alcançável, pode ser feito. Sei disso porque o testemunhei nas vidas de muitos pais. Tudo o que há nestas páginas – a estratégia e as táticas da liderança paterna – deriva do que aprendi em meus anos de experiência profissional com muitos homens comuns e conscienciosos como você. Quero ensinar-lhe o que aprendi deles. Quero passar para você sua experiência coletiva, a sabedoria da paternidade.
Deixe-me voltar um pouco e explicar isso, e como acabei escrevendo este livro. (2)

Durante vinte e um anos, trabalhei para ajudar a instalar duas escolas independentes de ensino secundário (3) para meninos, uma em Washington, D.C., e outra em Chicago – a The Heights School e a Northridge Preparatory School, respectivamente. Fui diretor de Northridge por quase doze anos. Tenho a alegria e o orgulho de dizer que ambas as escolas tiveram um enorme sucesso sob todos os aspectos.

Naquele período, procurei conhecer intimamente centenas de famílias. Estudei suas vidas familiares e observei as crianças crescerem e amadurecerem, frequentemente com sucesso, embora às vezes não. Ao longo de muitos anos, conversei com centenas de pais e mães, visitei suas casas, fiz perguntas e aprendi muito.

Fiz isso por duas razões.

Primeiro, acredito que uma escola deve servir à família inteira, tanto aos pais quanto aos filhos, e assim deveria encarar os pais, e não as crianças, como os principais beneficiários de seus serviços. Afinal, os pais são os principais educadores das crianças, e os jovens sobem ou descem na vida principalmente por causa da forma como foram criados em casa. A escola deve apoiar os pais, e não substituí-los, nessa missão tremendamente importante.
Segundo, queria aprender de que forma os pais têm sucesso ou fracasso na missão de educar os seus filhos.

Deixe-me ser claro aqui. Quando digo “sucesso ou fracasso”, não me refiro aos métodos de disciplina que os pais utilizam, nem a como mantêm as crianças sob controle, nem a como lidam com os problemas da vida em família. Essas são conquistas de curto prazo, mas compõem apenas uma parte do quadro.

Os pais só obtêm um sucesso real no longo prazo. Os pais são bem-sucedidos com seus filhos quando estes crescem e tornam-se homens e mulheres competentes, responsáveis, ponderados e generosos, comprometidos a viver de acordo com os princípios da integridade – adultos que honram a seus pais por toda a vida através de sua conduta, consciência e caráter. Educar as crianças para que se tornem adultos como esses é o verdadeiro objetivo da paternidade.

Vi muitos pais que conseguiram fazê-lo, enquanto outros fracassaram. Alguns viram seus filhos amadurecerem e tornarem-se homens e mulheres excelentes. Outros, especialmente quando seus filhos atravessavam a adolescência e a juventude, depararam com a frustração, o arrependimento, e até mesmo a tragédia. Seus filhos sofreram com a falta de confiança e autocontrole, uso de drogas, imaturidade prolongada, comportamentos irresponsáveis e autodestrutivos, falta de objetivos na vida e problemas com a carreira, com o casamento ou com a lei.

Através de minhas incontáveis conversas com pais e mães, procurei explicar as diferenças que haviam entre eles. Busquei padrões de vida familiar entre aqueles pais que haviam triunfado com seus filhos. O que tinham em comum aqueles homens e mulheres bem-sucedidos? O que haviam conseguido fazer certo? E o mais importante: o que outros pais poderiam aprender de sua experiência?

Ao longo dos anos, prestei cada vez mais atenção ao poderoso papel do pai nas vidas dos filhos – e esta é a razão deste livro. Repetidamente, em uma família depois da outra, testemunhei como os pais têm uma influência crucial no êxito que seus filhos teriam na vida. O sucesso ou o fracasso de um homem como protetor e líder dirige o curso da vida de seus filhos para o bem ou para o mal. Nossa epidemia nacional de “pais ausentes” não é simplesmente um problema de mães solteiras que devem enfrentar a vida sem um marido. É também o caso de lares intactos com pai e mãe, nos quais, porém, o pai está moralmente ausente da vida de seus filhos.

Muitos homens, embora fisicamente presentes na família, simplesmente deixam de exercer sua função de pai. Na verdade, parece que nem sequer sabem em que consiste essa função. E de forma lamentável, e mesmo trágica, sua persistente negligência prejudica tanto seu casamento como a formação dos filhos.
Deixe-me contar um exemplo de fracasso, tirado de minha experiência profissional.

Certa manhã, recebi um telefonema de uma preocupada mãe de um menino de doze anos. Seu filho estava tendo terríveis problemas em outra escola. Desejava transferi-lo para a nossa, pois estava preocupada com sua depressão, cada vez pior, e sua falta de confiança em si mesmo e sua baixa motivação. Os problemas emocionais do garoto estavam prejudicando seu desempenho acadêmico. Ela pediu para marcar um horário para vir, junto com seu marido, visitar-nos e discutir a situação e para que seu filho pudesse fazer uma avaliação e uma entrevista.

Embora os requisitos para a entrada em Northridge fossem bastante competitivos e nossa escola tivesse uma política de recusar alunos com problemas motivacionais, senti pena daquela mãe, e por isso concordei em encontrar-me com ela e seu marido. Pensei que ao menos poderia dar-lhe algum conselho e encaminhá-la a profissionais que pudessem ajudar o menino.

Porém, não pudemos encontrar-nos logo. Infelizmente, seu marido estava fora da cidade. Ao longo das duas semanas seguintes, ela e eu marcamos e depois tivemos de desmarcar três horários porque toda vez uma coisa ou outra surgia na ocupada agenda de seu marido. Comecei a suspeitar que os problemas daquele garoto iam além de notas baixas. Tantas vezes antes, vira aquela mesma situação. Que pai – perguntava-me –, colocado diante de um filho com um problema sério, seria incapaz de conseguir arranjar um par de horas para tomar as rédeas de uma situação que estava saindo do controle? Quais seriam as atitudes e prioridades daquele homem?

A mãe e eu finalmente desistimos de tentar encontrar-nos na presença do pai, e assim combinamos que o garoto viria primeiro para uma entrevista. Meu encontro com Mike confirmou minhas impressões.

Mike entrou na minha sala parecendo nervoso e assustado. Seus olhos mal se encontraram com os meus; voavam pela sala como se estivessem desesperados para escapar. Ofereci-lhe um aperto de mão inicial; sua mão estava mole e suada. Enquanto conversávamos, ele olhava para fora da minha janela. Nossa conversa foi basicamente unilateral, e arrastou-se mais ou menos assim:

– O que seu pai faz, Mike? – perguntei-lhe.
Mike murmurou:
– Ele é engenheiro.
– Onde ele trabalha? – ele me disse o nome da empresa.
– Que tipo de engenheiro ele é? Mecânico, elétrico, civil?
Ele murmurou:
– Não sei.
– Onde ele estudou, e quando se formou? – ele me disse o nome da universidade. Não sabia o ano de formatura.
– Onde ele conheceu a sua mãe? Na faculdade?
– Acho que sim, mas não tenho certeza.
– Quanto tempo eles namoraram antes de casar?
– Não sei.
– Quando seu pai tinha a sua idade, de que hobbies e esportes ele gostava?
Ele encolheu os ombros:
– Não tenho certeza.
– Ele gosta do trabalho?
– Acho que sim. Ele não fala muito sobre isso.
– O que vocês dois fazem juntos?
Ele pensou um pouco:
– Às vezes jogamos bola ou videogame. Normalmente, ele está cansado demais e só assiste TV ou lê.
– Ele confere a sua lição de casa?
Mike fez outra pausa:
– Não muito… Às vezes ele fica bravo comigo.
Nova estratégia:
– Quando tinha a sua idade, como ele ia na escola?
– Não sei.

E a coisa continuou assim: “Não sei…; Não tenho certeza…”. À medida que Mike relaxava um pouco e abria-se mais comigo, revelava um fato evidente. Ele não sabia quase nada sobre a vida passada e presente de seu pai, nada sobre as suas ideias e seus interesses. Sabia sobre seu pai poucas coisas que o fizessem respeitá-lo. Temê-lo, talvez, mas não respeitá-lo. Era também muito claro que isso o incomodava profundamente. Na idade em que os garotos começam a buscar uma figura masculina que seja um modelo para suas vidas, aquele garoto olhava para seu pai e via… o quê? Um enigma, um mistério, quase um estranho… um pai virtual.

Gostaria de dizer que esta história teve um final feliz. Para falar a verdade, não sei o que aconteceu – isto é, o que aconteceu com Mike. Encaminhei sua mãe para auxílio profissional, pois naquelas circunstâncias era tudo o que podia fazer. Como você pode imaginar, nunca cheguei a encontrar-me com o pai. Era ocupado demais.

O destino de Mike provavelmente foi semelhante ao de tantos outros meninos de famílias com pais virtuais. Incapaz de obter a aprovação de seu pai, era provável que ele a procurasse entre seus pares, e assim se tornasse vítima da cultura do sexo, drogas e rock’n roll. Sem a liderança confiante e o encorajamento de seu pai, não teria confiança em si mesmo e tentaria escapar de seus medos através dos prazeres de drogas e do álcool, como comumente acontece. Dominado por temores abstratos, seguiria depois o caminho de seu pai como alcoólatra ou simplesmente vagaria sem rumo através de uma inútil sucessão de empregos. Sem a lembrança de conselhos ou de sabedoria paterna para guiá-lo, passaria anos procurando orientação de substitutos paternos: médicos, especialistas em saúde mental, clérigos e conselheiros matrimoniais. Seu casamento, se houvesse, seria construído sobre a areia, e sua esposa e filhos (se os tivesse) sofreriam.

A situação particular de Mike era incomum? Infelizmente, não. Essa distância entre pais e filhos – pela qual as crianças mal conhecem seus pais e assim não chegam a respeitá-los – é muito comum em nossa sociedade.

Em muitas famílias americanas, a distância entre pais e filhos é maquiada por idas a jogos no estádio e outras atividades de amigão. Aos olhos de muitas crianças, seu pai aparece como uma espécie de simpático irmão mais velho ou uma segunda mãe em meio período. Isto não é suficiente. Fazer esportes ou brincar com os seus filhos não é o mesmo que orientar-lhes como pai. Em grande parte de nossa sociedade, há algo que não está acontecendo entre pais e filhos – e isso está prejudicando nossas crianças.

* * *

A história de Mike é a de um fracasso paterno. Sua experiência com seu pai virtual chamou a minha atenção porque contrastava de forma muito intensa com os sucessos que testemunhei entre tantos pais de alunos da minha escola.

Através de uma espécie de seleção natural, Northridge atraía uma grande quantidade de pais com a “cabeça no lugar”. Eu via que aqueles pais e mães estavam fazendo um bom trabalho, com frequência um excelente trabalho, em criar seus filhos.

Pais e visitantes cumprimentavam-nos pela alegria confiante e bons modos de nossos alunos, por sua capacidade de produzir trabalhos de alta qualidade, por seu crescente sentido de profissionalismo, por sua integridade pessoal. Com relação a problemas com drogas, não tínhamos nenhum – nenhum mesmo, zero. Sem dúvida, nossos alunos tinham seus momentos de desequilíbrio e altos e baixos hormonais, como a maioria dos adolescentes normais. Mas nossos alunos eram, na maioria, ótimos adolescentes que rapidamente se tornaram excelentes jovens. No fim, entravam em boas carreiras e casavam-se bem. Nós, professores e pais, tínhamos orgulho deles, e ainda temos.

Procurei descobrir como seus pais conseguiram que fossem assim. Francamente, muitas vezes fiquei chocado por quão diferentes eram seus temperamentos e formas de educar as crianças. Tive o cuidado de tomar notas em diversos papéis avulsos e arquivei-os até ter várias pastas de folhas velhas. Gradualmente, alguns padrões – algumas abordagens comuns na educação dos filhos – começaram a tomar forma, e transmiti essas lições a outros pais através de conselhos e encorajamento.

Com certeza, um elemento comum foi o seguinte: os melhores dentre esses jovens bem educados respeitavam os seus pais e aprendiam deles. Em casa, os dois cônjuges, pai e mãe, estavam fazendo um ótimo trabalho, mas o papel do pai parecia ser central. Ele estava fazendo algo de bom na vida familiar, algo importante que estava lhe conquistando o respeito dos filhos, e determinei-me a descobrir o que era.

Comecei conversando com os filhos adolescentes desses homens. Pedi-lhes que relatassem algum incidente que indicasse ou ilustrasse por que respeitavam os seus pais. Algum tempo depois, pedi o mesmo aos pais mais eficazes que conhecia – que me contassem algo da memória de seus próprios pais. Eis algumas das coisas que me disseram: (4)

“Quando éramos crianças, sabíamos que papai era forte. Sempre que nós todos havíamos tentado sem sucesso abrir a tampa de um pote de vidro, levávamo-lo para papai. Era o único que conseguia abri-la – todas as vezes!”

“Quando eu tinha três ou quatro anos de idade, estava caminhando em um parque com meu pai. Fiquei um pouco para trás e parei para olhar alguma coisa no chão. De repente, um enorme cão setter irlandês correu na minha direção e pulou sobre mim, derrubando-me no chão. O cão ficou em cima de mim, arfando e farejando o meu rosto. É claro que ele estava apenas brincando, mas eu não sabia disso. Estava completamente aterrorizado, gritando de medo, pois pensava que o cachorro ia me comer. Meu pai voltou correndo, espantou o cachorro e ergueu-me em seus braços. Ele me segurou com força, enxugou minhas lágrimas com seu lenço, e sorriu enquanto me dizia que estava tudo bem. Agarrei-me com força ao seu pescoço, e senti que estava seguro com ele”.

“Depois que chegamos a uma certa idade, nosso pai parou de fazer as coisas por nós. Ele nos mostrava como fazê-las e então dizia para as fazermos por conta própria. Ele sempre dizia que nós devíamos aprender a resolver os nossos próprios problemas”.

“Papai era bravo e às vezes perdia a paciência conosco. Mas sempre vinha desculpar-se depois. Às vezes, ele era duro conosco, mas sempre era justo”.

“Nossa família tinha que viver com o fato de que papai era muito ocupado no trabalho. Às vezes tinha que ficar trabalhando até tarde aos sábados. Mas todos nós sabíamos de alguma forma que ele sempre estava disponível. Se qualquer um de nós realmente precisasse dele, sabíamos que deixaria o que fosse que estivesse fazendo e viria”.

“Papai e mamãe sempre se apoiaram. Sempre. Quando pedíamos permissão a mamãe para passar a noite na casa de alguém, ela dizia para esperarmos até que conversasse com papai. E se pedíssemos a ele, dizia a mesma coisa, para esperarmos e deixá-lo conversar com mamãe primeiro. Tomavam as decisões juntos.

“Papai sempre dizia que mamãe era a pessoa mais importante da sua vida – e que o mais importante para ele é que nós a tratássemos bem, senão… E sabíamos que ele estava falando sério”.

“Em uma noite de verão quando tinha treze anos, meu amigo e eu, apenas de brincadeira, tiramos as válvulas de ar de todos os pneus dos carros estacionados em um auditório da Associação dos Veteranos de Guerra da cidade, e voltamos de bicicleta para minha casa. Papai ouviu-nos rindo do que tínhamos feito e ficou furioso. Ele nos levou de volta e fez-nos recolocar todas as válvulas, e depois levou-nos para dentro do prédio para pedirmos desculpas aos donos dos carros. Quase morri de vergonha, mas realmente aprendi a lição”.

“Nunca me esquecerei de quando papai me levava a seu escritório quando eu era pequeno. Todos me tratavam muito bem, e eu via-o escrevendo e trabalhando com as pessoas o dia todo. Sentia uma espécie de orgulho dele”.

“Quando planejávamos férias, papai e mamãe costumavam pedir-nos sugestões. Deixavam-nos dar nossa opinião: o que gostaríamos de fazer, aonde gostaríamos de ir. E faziam o mesmo com outras coisas, também – ouviam a nossa opinião. Mas depois eram eles que tomavam a decisão final”.

“Quando minha irmã estava no colégio, estava de saída para um baile vestida com uma saia nova que acabara de comprar. Era uma saia curta – bem curta –, uma minissaia. Papai viu-a e deu um pulo. Ficou muito bravo. Disse que nenhuma filha dele sairia de casa vestida daquele jeito. Apesar de suas súplicas e choro, ele a obrigou a subir para o quarto e trocar de roupa. Na semana seguinte, obrigou-a a devolver a saia e pegar o dinheiro de volta”.

“Nosso pai era muito aberto. Respeitava nossa liberdade de opinião e deixava que discordássemos dele na maioria das coisas. Mas em alguns assuntos – como ficar fora até tarde, ou a forma como nos vestíamos –, fazia finca-pé. Sabíamos que, quando ele tomava uma posição firme assim, é porque considerava o assunto realmente importante para nós, para o nosso bem, como ele dizia – e assim o assunto estava encerrado, e ponto”.

Assim, quais eram as palavras e termos que repetidamente apareciam na descrição daqueles pais eficazes? Você pode vê-los aqui: forte, assertivo, justo, disponível, carinhosamente unido à sua esposa, competente, protetor, respeitador da liberdade dos filhos, bom ouvinte, um líder que ensina a distinguir o certo do errado. Não é um mau esboço do que é a paternidade; é um bom começo.

Ao longo dos anos, continuei a questionar os pais em particular, esquadrinhando suas histórias, juntando ideias e arrumando-as em padrões. Com frequência, passei adiante o que havia aprendido, através de palestras públicas que dei inicialmente aos pais de nossa escola, depois a outros grupos no Meio-Oeste, e finalmente por todo o país. Escrevi alguns livretos que foram publicados de forma privada e que, para minha grande surpresa, foram amplamente lidos e apreciados. Em algumas ocasiões, fui entrevistado pelo rádio e pela televisão.

Comecei a suspeitar que estava fazendo algo importante quando ocorreram alguns incidentes: eventos que finalmente levaram-me a deixar minha escola e dedicar-me integralmente a ensinar e encorajar jovens pais.

As pessoas começaram a ligar de todas as partes do país pedindo-me que fosse falar em seus grupos de pais. Depois, comecei a receber convites da Inglaterra, Filipinas, Irlanda, Singapura e Austrália.

Os folhetos das minhas palestras eram impressos em uma gráfica, e quando fui até lá para pegá-los, a proprietária pediu-me se poderia ficar com algumas cópias para dar a seus irmãos e amigos casados.

Algumas vezes, homens mais velhos, já avôs, participavam de minhas palestras. Vários deles vinham falar comigo depois e diziam: “Gostaria de ter ouvido essas coisas vinte e cinco anos atrás! Teriam me poupado muitos problemas”.

Algumas das minhas palestras foram filmadas para serem depois exibidas na televisão. Em três ocasiões diferentes – em Milwaukee, Washington e Sidney, os operadores de câmera vieram depois apertar a minha mão e agradecer-me. Um técnico disse-me: “Aprendi muito aqui, e estou muito feliz por alguém falar essas coisas!”.

Um homem aproximou-se de mim durante um intervalo e disse que me ouvira falar três anos antes. Agradeceu-me calorosamente e disse: “Em minha vida, há definitivamente um antes e um depois. Seus conselhos foram o ponto de mudança. Você me mostrou o que eu precisava fazer como pai, e deu-me o empurrão de que eu precisava”.

Durante todos os meus anos como diretor e depois como palestrante, deparei com um problema. Muitos homens perguntavam-me: “Você pode me recomendar alguns livros que eu pudesse ler sobre a paternidade?”. E isso deixava-me sem resposta.

Por muitos anos, procurei intensamente livros para recomendar, livros escritos especificamente para homens e a partir de um ponto de vista masculino. Fiquei decepcionado e frustrado. Embora não faltassem os assim chamados “livros para pais” no mercado, descobri que quase todos eram escritos para mulheres. A maioria concentrava-se no papel crucialmente importante das mães e esposas, mas ignorava ou minimizava o papel especial do pai em casa: uma dimensão da vida familiar que minha experiência demonstrava ser extremamente importante.

A partir de meados da década de 1980, minhas esperanças reacenderam-se quando novos livros sobre a paternidade dos homens apareceram nas livrarias. Mas estes, também, foram na maioria uma decepção. Alguns tinham uma abordagem sociológica e abstrata: longas discussões lamentando o “pai ausente”, mas poucas soluções práticas. A maioria condenava os inimigos das famílias disfuncionais, mas tinha pouco a dizer sobre os problemas comuns das famílias normais. Afinal, famílias normais têm problemas também.

Outros livros ofereciam remédios rápidos e frases feitas inúteis (“Brinque mais com seus filhos”) ou descreviam o comportamento paterno nos mínimos detalhes, mas sem uma visão filosófica mais ampla: não apenas o que um pai faz, mas o que um pai é.

Esses livros tinham todos o mesmo defeito: não davam praticamente nenhuma atenção à masculinidade de um pai, a suas forças inerentemente masculinas, e como essas forças dirigem o crescimento das crianças em capacidade de julgamento, competência e caráter. Muitos daqueles livros pareciam ver o pai ideal como pouco mais do que um amigo ou companheiro de jogos dos filhos em escala adulta, ou como uma espécie de segunda mãe. Nenhum desses pontos de vista coincidia com a minha experiência.

O livro que eu queria tinha que ter uma abordagem completamente diferente. Deveria resumir a sabedoria coletiva dos pais como os homens a aprendiam de seus próprios pais até, digamos, o fim da Segunda Guerra Mundial, quando as forças sociais e familiares começaram a erodir e até mesmo interromper esses ensinamentos masculinos entre gerações.

O livro que eu queria deveria explicar a importância da dedicação e previdência estratégica a longo prazo de um pai; deveria dizer como a visão forte e apaixonada de um pai pode servir como um ideal que capacite as vidas futuras de seus filhos como homens e mulheres; deveria descrever como a responsabilidade especial de um pai, a mais crítica, é ensinar e formar o caráter de seus filhos; deveria explicar os principais obstáculos que estorvam o papel de educador de um pai na sociedade de hoje, e dizer aos homens o que poderiam fazer para superá-los. Então, dentro dessa linha, o livro deveria oferecer conselhos práticos e experimentados sobre como pais bem-sucedidos lidam com os filhos nas áreas mais cruciais: regras de família, disciplina, escola, esportes, diversão, mídia e trabalho em equipe constante com a própria esposa.

Para dizê-lo de outra forma, o livro que estava procurando daria aquilo de que qualquer homem precisa para assumir uma grande responsabilidade, seja em casa ou no trabalho, isto é, uma clara descrição do trabalho, um objetivo de longo prazo realista, um aviso sobre os obstáculos em potencial e o know-how experiente de outros que já exerceram o cargo e triunfaram.

Como não consegui encontrar esse livro em lugar nenhum, eu mesmo o escrevi. É este que você tem em mãos agora.

Assim, vamos em frente, e façamos a descrição do que é o trabalho de um pai.


(1) Lawrence Peter “Yogi” Berra (1925-2015), jogador de baseball, famoso por suas declarações cheias de trocadilhos e paradoxos. (N. do T.)

(2) Esta obra acompanha meu outro livro, A Bússola: Um Manual de Liderança para Pais [Compass: A Handbook on Parental Leadership], e necessariamente possui com este alguns textos em comum. A Bússola explica como os dois cônjuges trabalham como uma equipe em uma liderança dupla e unificada. Este livro, por outro lado, explora como os pais realizam as suas contribuições poderosas e particularmente masculinas na vida familiar. Para obter material atualizado e mais completo sobre estes e outros livros, acesse a minha página: <www.parentleadership.com>.

(3) No Brasil, equivalente aos ensinos fundamental e médio. “Escolas independentes” nos EUA são equivalentes às nossas escolas particulares, isto é, financiadas exclusivamente com seus próprios meios, e não pelo governo nem por outras instituições. (N. do T.)

(4) Quase todas as citações deste livro são aproximações, pois foram reconstruídas de memória, com frequência de muitos anos atrás. As pontuações de citação ou diálogo aqui usadas são apenas um recurso literário. Além disso, em geral modifiquei os nomes e circunstâncias pessoais das pessoas citadas para preservar a sua privacidade

Crianças que sofrem abuso sexual, físico e emocional podem apresentar não apenas cicatrizes físicas e emocionais, mas também genéticas.

Um novo estudo, feito pela Universidade de British Columbia, no Canadá, e pela Universidade Harvard, nos EUA, e publicado na Translational Psychiatry, revela ainda que a marca genética do abuso é tão profunda que produz alteração no DNA e pode, pelo menos em tese, ser transmitida para gerações futuras.

Há muito tempo, especialistas sabem que pessoas que sofreram abusos na infância carregam por toda vida os danos emocionais decorrentes do trauma. Mas queriam checar se o dano poderia chegar aos genes. O trabalho foi baseado na comparação de marcadores químicos presentes no DNA de 34 homens adultos que tinham sofrido diferentes tipos de abuso. Pesquisadores acreditam que esses marcadores – as ‘cicatrizes moleculares’ – poderão ser usados no futuro até mesmo como prova de que crianças sofreram abusos em casos policiais e judiciais.

As alterações constatadas no DNA são criadas por um processo chamado metilação. Segundo especialistas envolvidos no estudo, a melhor metáfora para entender esse processo é imaginar que ele funciona como uma espécie de interruptor do tipo ‘dimmer’ nos genes, determinando em que grau um gene em particular é ativado ou não. Esses mecanismos de ‘ligar’ e ‘desligar’ genes são estudados no campo conhecido como epigenética. Acredita-se que há uma forte influência de fatores externos, relacionados ao ambiente e às experiências de vida, na expressão genética.

De acordo com os especialistas, as pessoas expostas a abusos continuados apresentam uma liberação acima da média do hormônio cortisol, o chamado hormônio do estresse. Originalmente, o hormônio é liberado para induzir uma resposta imediata do organismo, conhecida como ‘lutar ou fugir’ – e foi muito útil aos nossos ancestrais para escapar de predadores por exemplo. O nível do cortisol cai imediatamente quando a situação de perigo se dissipa. No entanto, em casos de abusos continuados, a liberação excessiva do hormônio provoca as alterações genéticas – as metilações fora de padrão.

Os cientistas decidiram buscar por sinais de metilação em espermatozoides, na premissa de que o estresse na infância deixaria marcas genéticas no indivíduo que poderiam, inclusive, ser repassadas a seus descendentes, como já havia sido demonstrado em estudo com animais.

“Os resultados encontrados em camundongos foram assustadores”, contou a coautora do estudo, em entrevista ao Estado, Nicole Gladish, da Universidade British Columbia. “Filhotes de roedores submetidos a choques herdaram dos pais as marcas genéticas e apresentavam reações de medo quando achavam que seriam submetidos a uma descarga elétrica.”

Os pesquisadores encontraram uma diferença significativa na metilação de vítimas e não vítimas de abuso em 12 regiões dos genomas dos homens. Oito das regiões do DNA eram mais de 10% diferentes e uma região em particular mostrou uma diferenciação de 29%. O estudo não demonstra consequências físicas a longo prazo porque ainda não está claro como a metilação nessas regiões genéticas afeta a saúde dos indivíduos. O que se sabe até agora, segundo Nicole, é que as alterações afetaram genes ligados a função cerebral e ao sistema imunológico.

Os cientistas também não sabem se, no caso de humanos, as alterações sobreviveram ao processo de fertilização e seriam repassadas à geração seguinte, como ocorreu com os camundongos.

“Quando o espermatozoide encontra o óvulo, há um grande volume de rearrumação genética e muita da metilação é temporariamente apagada”, explicou, em comunicado, Andrea Roberts, de Harvard, co-autora do estudo. “Mas encontrar uma assinatura molecular no esperma nos leva um passo mais próximo de determinar se o abuso das crianças pode afetar até mesmo a saúde dos descendentes da vítima.”

A longo prazo, os marcadores genéticos poderiam servir até mesmo como prova em casos policiais. “A metilação começa a ser vista como uma ferramenta potencialmente útil em investigações criminais, por exemplo, ao oferecer aos investigadores dados como a idade aproximada de uma pessoa que deixou para trás alguma amostra de DNA”, lembrou o principal autor do estudo, Michael Kobor, geneticista e professor da British Columbia University. “É razoável que as correlações que encontramos entre a metilação e o abuso possam oferecer um porcentual de probabilidade de que o abuso possa, de fato, ter ocorrido.”

Limitações

Para a geneticista brasileira Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo, os resultados da pesquisa vêm “se somar a uma série de evidências obtidas nos últimos anos de que experiências que a gente vive causam modificações no nosso DNA”. “É um trabalho interessante, pela primeira vez mostra que há alteração no espermatozoide. Mas tem limitações, como ter avaliado um número pequeno de indivíduos. É uma primeira evidência, mas ainda não sabemos o que ela pode representar”, afirma Lygia.

Ela explica que quando o espermatozoide fecunda o óvulo, algumas dessas marcas epigenéticas no DNA costumam ser apagadas no embrião. “São necessárias mais pesquisas para sabermos se isso ocorre ou não nesse caso. Sabemos que o abuso infantil gera uma série de alterações psicológicas na pessoa que o sofreu e que isso é resultado das alterações epigenéticas que acontecem. Talvez isso não fique restrito à pessoa abusada e as marcas biológicas desse abuso sejam transmitidas à próxima geração, assim como se viu acontecer com camundongos. Mas esse estudo ainda não mostra que isso acontece, nem se isso permaneceria no embrião.”

Números

Estatísticas sobre o número de crianças que sofrem abuso no Brasil são muito deficientes. Não há uma base de dados centralizada. Os últimos números disponíveis do Disque Denúncia, por exemplo, revelam 16 mil relatos de violência sexual contra menores em 2016. Um outro dado do Sistema Único de Saúde mostra que 57% das vítimas de violência sexual que chegam aos hospitais têm entre 0 e 14 anos – um total de 13 mil pessoas. Especialistas acreditam que o número de casos deve ser muito maior. Nos Estados Unidos, por exemplo, são 6,6 milhões de registros por ano, segundo a Agência de Proteção à Infância.

Fonte: Estado de S. Paulo

Por CRISTIANE LASMAR

Neste artigo vou falar sobre os meninos. Mais precisamente, sobre o modo como as suas disposições naturais vêm sendo depreciadas pela cultura feminista que domina a cena educacional contemporânea.

As meninas são educadas para a auto vitimização e a desfeminilização, e crescem com a falsa percepção de que os homens são inimigos potenciais. Os meninos, por sua vez, são levados a acreditar que aquilo que neles é mais espontâneo e específico, ou seja, a sua masculinidade, é nociva ao mundo e, principalmente, às mulheres.

As mensagens feministas dirigidas aos meninos devem ser entendidas como parte de um projeto político e ideológico mais amplo,cujos fundamentos, objetivos e métodos já foram dissecados por autoras como Christina Hoff Sommers, no livro “The War Against Boys” (2000) e Suzanne Venker, em “War on Men” (2013). Embora descrevendo o fenômeno a partir dos dados relativos à sociedade americana, essas análises descortinaram as bases do programa de ataque à masculinidade que está em curso em praticamente todos os países ocidentais. Vou me concentrar aqui no modo como esse programa é posto em prática na educação das crianças, começando por esclarecer quais são as disposições infantis que estou chamando de “masculinas” e que o projeto feminista tanto se esforça por neutralizar.

Sabemos que, durante a vida intra-uterina, o cérebro dos meninos é banhado por uma quantidade muito maior de testosterona do que o das meninas, e que isso determina, em ampla medida, a forma masculina de estar no mundo. Não é difícil perceber, por exemplo, que, em média, os meninos desenvolvem a coordenação ampla antes das meninas, ao passo que estas se antecipam no desenvolvimento da linguagem e da coordenação fina. E que, desde a mais tenra idade, a maioria dos meninos manifestam mais interesse imediato por objetos do que por pessoas, preferem brinquedos que possuem barulho e movimento, e mostram-se ávidos por brincadeiras que envolvam exploração, confronto corporal e dispêndio explosivo de energia.

A maior propensão dos meninos a recorrer à violência física para resolver conflitos também faz parte desse pacote.

Quem os educa tem, portanto, diante de si, a importante tarefa de ajudá-los a mitigar e canalizar o seu potencial agressivo para formas de ação civilizadas e socialmente produtivas. Esse esforço de culturalização das disposições naturais masculinas é absolutamente necessário e jamais houve sociedade que deixasse de realizá-lo.

Mas o que vem acontecendo no Ocidente contemporâneo é algo sem precedentes. Temos reprimido, em nossos meninos, todo tipo de comportamento que manifeste vigor combativo e espírito abertamente competitivo, sufocando assim traços essenciais de sua masculinidade. Em suma, os meninos estão sendo impedidos de ser meninos plenamente. E, quando resistem, seu modo de ser é problematizado, estigmatizado. Em muitos casos, chega a ser tratado como algo patológico.

É verdade que não se pode culpar a “ideologia de gênero” por absolutamente tudo. Alguns fatores sociológicos também contribuem para esse cerco à masculinidade. Um deles é a intensificação do padrão de vida urbano. A residência em apartamentos, a impossibilidade de brincar na rua ou em quintais, em contato íntimo com a natureza, assim como o fato das crianças precisarem estar sob vigilância constante de um adulto, tudo isso restringe as suas possibilidades de experimentarem situações espontâneas de aventura, competição e confronto. A oportunidade de se movimentarem amplamente ficou restrita à prática de esportes em clubes e academias, ou seja, a situações de curta duração, rotinizadas e supervisionadas diretamente por professores e instrutores, ou seja, sem uma liberdade real. Em muitos casos, porém, nem isso é concedido aos meninos. Uma boa parte das crianças vive a triste realidade do sedentarismo absoluto. Durante o tempo em que não estão na escola, ficam paralisadas diante das telas dos aparelhos eletrônicos, assistindo por horas a fio as aventuras de personagens virtuais que lutam, correm e se arriscam. Tudo o que lhes resta é o exercício vicário da masculinidade.

Outro fator importante que concorre para esse processo é a dinâmica própria da escola. Por seu caráter universalista e homogeneizante, a escola moderna não pode permitir a expressão plena das individualidades dos alunos, e precisa mantê-los quietos pelo maior período de tempo possível. Além disso, com o fenômeno da judicialização crescente das relações sociais, as escolas têm se tornado alvo potencial de processos por parte dos pais, o que leva os gestores a tentar reduzir o risco de acidentes a zero, aprofundando o controle sobre a corporalidade exuberante dos meninos. Eles não podem brincar de luta, envolver-se em competições espontâneas e, em muitos casos, não são nem mesmo autorizados a correr no recreio. Devem ficar sentados por horas a fio, mimetizando a duras penas o comportamento das meninas, que, embora mais conversadeiras, são, em geral, mais maduras e capazes de se manter quietas e concentradas quando necessário. Por serem mais empáticas, elas também têm mais facilidade para desenvolver relações de cumplicidade com os professores.

Além de não possuírem meios para dar expressão às suas necessidades de movimento, ação e competição, os meninos ainda recebem poucos estímulos imaginativos na escola. Os professores são, em sua maioria, mulheres, e os currículos escolares têm se distanciado cada vez mais da sensibilidade masculina típica. Pensemos, por exemplo, na nova onda de desenvolver nos alunos “competências socioemocionais”. Não é preciso ser PHD em desenvolvimento infantil para saber que esse tipo de conteúdo será, já de saída, muito mais atraente para as meninas, as quais têm mais facilidade e desenvoltura para falar de seus próprios sentimentos, e gostam de fazê-lo. Não obstante, a matéria é introduzida como se atendesse a uma necessidade geral e irrestrita, e sem nenhuma consideração relativa às diferenças entre os sexos. E é claro que isso não ocorre por desconhecimento ou descaso. O objetivo é exatamente o de transformar a sensibilidade dos meninos, da mesma forma como acontece com a seleção da literatura a ser trabalhada em sala de aula. Onde estão as histórias de batalhas, aventuras e heroísmo que tanto encantam a imaginação masculina? Foram substituídas por narrativas politicamente corretas e eivadas de ideologia de gênero.

Em condições normais, esses dois fatores de cerco à masculinidade – a vida urbana e a pedagogia escolar – poderiam ser relativamente contornados pela adoção de estratégias de compensação e adaptação por parte da família e da própria escola. Porém, as chances de se encontrar caminhos alternativos que beneficiem os meninos têm sido limitadas pela interferência de um terceiro fator, que é dentre todos o mais perverso, justamente por impedir o ajuste dos outros dois. Refiro-me à influência nefasta do discurso feminista que apresenta o modo de ser masculino como potencialmente “tóxico”, como algo de que os homens precisam se livrar, para o bem das mulheres e para o seu próprio bem. Nesse ponto, já não estamos mais falando de um constrangimento à masculinidade criado por circunstâncias históricas e sociológicas, e sim de um juízo de valor ideológico e politicamente interessado.

O discurso da “masculinidade tóxica” já se embrenhou em todos os níveis da atividade educacional, impregnando a visão de mundo de boa parte das famílias e de quase todos os gestores e agentes escolares. Em seu nome, os meninos têm sido submetidos a um processo de desvirilização de amplas consequências individuais e sociais. Um exemplo é a redução significativa de suas chances de sucesso escolar. Ao exercer tamanha pressão sobre a masculinidade, a educação atual coloca os meninos em notória desvantagem acadêmica em relação às meninas. Eles são os campeões nos índices de suspensão, expulsão e reprovação. Entre a população menos favorecida economicamente, essa situação tem resultados cruéis. Diminui as chances de mobilidade social e, em casos de maior vulnerabilidade, leva à marginalização e à exclusão social.

Do ponto de vista individual, abafar a expressão da sensibilidade natural dos meninos e impedir que ela se desenvolva em formas socialmente legítimas e valorizadas, significa despersonalizá-los e restringir as suas perspectivas de vida. Do ponto de vista coletivo, significa deixar de prepará-los para assumir as suas responsabilidades futuras como cidadãos e pais de família. Em muitas ocasiões cruciais, e para certas atividades específicas permanentes, uma comunidade precisa contar com a energia viril, do mesmo modo como uma família precisa contar com um homem que seja capaz de assumir riscos e obrigações pesadas para provê-la e protegê-la. É nas situações de calamidade, nos eventos de emergência, e no enfrentamento das ameaças externas, que nos damos conta do quanto a força física, a intrepidez e a objetividade masculinas são predicados imprescindíveis e admiráveis. Como escreveu C. Hoff Sommers, no livro já citado: “A história nos ensina que a masculinidade sem moralidade pode ser letal. Mas quando a masculinidade é imbuída de moralidade, ela se torna poderosa e construtiva, e uma dádiva para as mulheres (grifo meu).”

Mas os promotores da “ideologia de gênero” não estão preocupados com nada disso. O que nós percebemos como um problema sério, para eles é o corolário de um projeto que foi laboriosamente posto em prática ao longo de cinco décadas e cujos efeitos começam a se tornar mais visíveis agora. O cenário que temos hoje diante de nossos olhos – meninos pressionados em sua masculinidade, meninas confusas em relação à sua feminilidade – vem sendo idealizado, planejado e executado desde o início da segunda onda feminista nos anos 60, quando as universidades, as escolas e os meios de comunicação começaram a ser ocupados por agentes dedicados à pauta da desconstrução.

Em suma, o projeto de desvirilização dos meninos é a outra face do projeto de desfeminilização das meninas. As meninas são convencidas de que a sua feminilidade as transforma em vítimas dos homens. Ressentidas, elas se desfeminilizam para competir com eles. Os meninos são convencidos de que a sua masculinidade os torna algozes das mulheres. Culpados pela dor que alegadamente lhes causariam, eles se desvirilizam para tentar agradá-las. E, desse modo, chega-se mais perto da desestruturação da família heterossexual monogâmica, por meio do ataque a um de seus principais fundamentos, a complementariedade entre os sexos.

Um estudo publicado pela revista científica Infant and Child Development indicou que a escolha de brinquedos por meninos e meninas parece depender não apenas de fatores socioculturais, mas também de forças inatas.

Assinado por sete psicólogos britânicos, o artigo analisou 16 estudos realizados com 787 meninos e 813 meninas e constatou que a preferência de meninos por brinquedos voltados a meninos e de meninas por brinquedos voltados a meninas se mantém independentemente de localização geográfica, escolaridade, faixa etária e a presença de adultos durante a brincadeira.

Segundo os autores, a constância da preferência das crianças nas mais variadas circunstâncias indica “a probabilidade de que isso tenha origem biológica”.

O estudo apontou também que os meninos brincam mais com brinquedos de menino à medida que ficam mais velhos, o que não acontece com as meninas. “Isso indica que efeitos sociais estereotípicos permanecem por mais tempo nos meninos ou que há uma predisposição biológica mais forte por certas brincadeiras entre eles”, diz o texto.

Os pesquisadores perceberam também que em estudos mais antigos, tanto meninos quanto meninas brincavam mais com brinquedos voltados para o seu sexo – uma tendência que vem regredindo em estudos mais recentes.