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Que trio! Simone, Sartre e “Che”. A imagem diz tudo.

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Conforme os setores não feministas da sociedade vão se tornando cada vez mais expressivos e claros, os setores ainda não conscientes da natureza venenosa dessa ideologia reagem com um conjunto de argumentos que apenas revelam que a realidade factual não é ainda inteiramente conhecida pelo público.

Algum tempo atrás, um grupo de feministas de cafeteria tentava me convencer que o feminismo não é tão mau quanto eu digo que é e que se eu apenas lesse mais sobre feminismo, eu eventualmente entenderia. Como um exemplo para apoiar essa tese, as citadas feministas me recomendaram que lesse os escritos de Simone de Beauvoir, a Marxista-feminista conhecida por seu livro O Segundo Sexo. Naturalmente aquelas feministas foram incapazes de conceber que alguém tivesse levado sua ideologia a sério o suficiente para ler sua literatura e então, racionalmente, acabar por rejeitá-la. Como para qualquer outro culto, tal coisa é inconcebível para os verdadeiros crentes da seita.

No cabeçalho desta postagem, uma série de alegações foi feita sobre a eminente feminista e é justo que se apresentem provas – o que é exatamente o que será feito nas linhas a seguir.

Entre 1943 e 1944, quando a França estava sob ocupação nazista, Simone de Beauvoir trabalhou como diretora de sonografia para a Rádio Vichy.1  Radio Vichy era a estação de rádio estatal na assim chamadazone libre (zona livre) da França, após a capitulação da República Francesa diante da Alemanha nazista em 1940. Dizemos “assim chamada” porque o regime de Vichy, embora teoricamente neutro do ponto de vista militar, era de fato um colaborador ativo do regime nazista2 e hoje é fato reconhecido por todos os lados envolvidos que a Rádio Vichy era porta-voz de fato da propaganda nazista nas ondas de rádio francesas.

Defensores de Beauvoir podem dizer que ela foi obrigada pelas circunstâncias a trabalhar lá, assim como muitos indivíduos agora alegam ter sido forçados a colaborar com a “Securitate” durante o regime comunista. Mas os manuscritos de Beauvoir durante o período, revelados posteriormente, contam uma história diferente.

Mesmo autores feministas, como a Dra. Ingrid Galster, que dedicou anos de sua vida a estudar Simone de Beauvoir, têm que admitir, mesmo a contragosto, que a atitude manifesta por Beauvoir como diretora de sonografia na máquina de propaganda nazista era, no mínimo, de colaboracionismo sutil3 e a forma pela qual ela chegou àquele trabalho não foi via coerção – mas sim por uma escolha perfeitamente consciente. Beauvoir já era membro do sindicato de funcionários públicos e poderia ter optado por trabalhar numa prefeitura, por exemplo. Mas ela tinha que escolher trabalhar em algo que não fosse ensinar, pois sua carreira como professora estava encerrada – apesar de já ter as qualificações e o prestígio necessário para ensinar, dado que ela tinha tido o segundo melhor desempenho como estudante de doutorado em sua geração, ficando apenas atrás de seu amante de toda a vida, Jean-Paul Sartre.4

A razão pela qual ela não podia mais lecionar está relacionada exatamente à pedofilia e a Sartre. Em 1943, Simone de Beauvoir foi demitida por comportamento que levara a corrupção de menor.5

Novamente, os apologistas de Beauvoir poderão apressar-se em dizer que o momento em 1943 foi um incidente singular ou, como já me disseram, um incidente simplesmente inventado pelos nazistas que não podiam suportá-la após entenderam que ela uma mulher marxista independente e empoderada. Mas isso está longe da verdade.

O interesse sexual de Beauvoir por crianças é um tema recorrente em toda sua vida. Ela estava entre os primeiros filósofos que tentaram unificar o gênero literário que se iniciou nos anos 1930 (e durou até os anos 1980 na Europa Ocidental) chamado pedofilia pedagógica feminina.6 Ela tentou essa unificação com seu ensaio “Brigitte Bardot e a Síndrome de Lolita”, publicada pela primeira vez na revista Esquire em 1959 e republicada várias vezes até meados dos anos 1970. Nesse ensaio, Beauvoir glorifica Brigitte Bardot por seu aspecto físico infantil, que retém a perfeita inocência inerente no mito da infância e então a apresenta como uma Houdini para meninas, que as liberaria e empoderaria para além das correntes que as subjugavam.7, 8

O ensaio de 1959 foi só o começo. Em 1977, Beauvoir, juntamente com a maior parte intelligentsia marxista francesa, assinou uma petição exigindo nada mais, nada menos que a legalização da pedofilia e a libertação imediata de três indivíduos condenados a cumprir longas sentenças de prisão por explorar sexualmente vários meninos e meninas com idades entre 11 e 14 anos. A petição assinada por Beauvoir e Sartre, entre outros, foi publicada no Le Monde e dizia, entre outras coisas:9

Um tempo tão longo de prisão para investigar um simples caso “vicioso” em que as crianças não foram vítimas de qualquer violência, mas ao contrário, testemunharam perante os magistrados que consentiram – embora a lei atualmente negue-lhes o direito de consentir – um tempo tão longo na prisão nós consideramos escandaloso em si. Hoje eles estão em risco de ser sentenciados a uma longa pena de prisão, por terem tido relações sexuais com menores, tanto meninos quanto meninas, ou por terem encorajado e tirado fotografias de suas brincadeiras sexuais. Nós acreditamos que há uma incongruência entre a designação como “crime”, que serve para legitimar tal severidade, e os fatos próprios; mais ainda entre a lei antiquada e a realidade cotidiana em uma sociedade que tende a conhecer sobre a sexualidade de crianças e adolescentes […].

Assim, na opinião de Beauvoir, crianças de 11 anos na França do final dos anos 1970 tendiam a ser seres sexuais. Desde que a puberdade não acontecia e até hoje ainda não ocorre naquela idade para a grande maioria das crianças, é condizente nomear a defesa feita por Beauvoir como nada além de uma advocacia da pedofilia, a despeito da definição escolhida para a palavra.

A petição de 1977 deflagrou toda uma discussão em nível da sociedade na França sobre as leis relativas à idade do consentimento, uma discussão em que os abolicionistas (entre os quais Beauvoir e seu amante) se uniram no Front de libération des Pédophiles (FLIP – a Frente de Liberação dos Pedófilos) e as intenções dos membros da FLIP eram explicadas claramente por eles próprios na discussão transmitida em abril de 1978 pela Radio France Culture.10 A FLIP seria lembrada como uma pioneira no movimento dos pedófilos franceses, embora a organização em si não tenha durado muito devido a suas discordâncias internas.11

Além de Beauvoir e Sartre, houve outras pessoas envolvidas na advocacia da pedofilia naquele período, inclusive pessoas que então acabaram por liderar os destinos da França – a exemplo de Bernard Kouchner e Jack Lang, respectivamente o Ministro da Saúde e o Ministro da Educação (!) no início dos anos 2000, no primeiro mandato de Jacques Chirac.12

Tudo isso torna Beauvoir não apenas uma apologia da pedofilia, mas uma apoiadora atuante. Porém, o que faz dela uma abusadora é sua atividade de recrutar alunas, abusando-as e passando-as para Jean-Paul Sartre, às vezes separadamente, às vezes em ménage à trois integrado. O Telegraph escreve, numa crítica do livro de Carole Seymour-Jones, Simone de Beauvoir? Meet Jean-Paul Sartre (“Simone de Beauvoir? Conheça Jean-Paul Sartre”), um livro dedicado a analisar o relacionamento de Beauvoir com Sartre, o seguinte:13

Por longos períodos, o casal se tornou um “trio”, embora os arranjos raramente funcionassem bem para a terceira parte envolvida: ao menos duas das ex-alunas de Beauvoir se viram a tornar-se primeiro suas amantes, então de Sartre, apenas para o casal fechar-lhes as portas, quando a diversão perdia a graça.[…]

Para Seymour-Jones, os casos de Beauvoir com suas estudantes não eram lésbicos, mas pedófilos em origem: ela as estava “preparando” para Sartre, na forma de “abuso infantil”.

Para Beauvoir (assim como para Sartre), a idade não importava, contanto que as parceiras fossem mais jovens do que ela e Sartre.14 A possibilidade de que as outras pudessem se ferir ou ser exploradas não passava nem remotamente pelo radar da eminente feminista, que pensava que “preparar” garotas para Sartre lhes tirar a virgindade (palavras de Sartre, não minhas) era em si e por si um ato de empoderamento sexual para aquelas meninas.

Mas se as escapadas com sabor de nazismo e pedofilia não convencem você do caráter questionável de Beauvoir, vamos dar uma olhada em seus escritos feministas, que estão tão repletos de misoginia que é difícil encontrar equivalente em outros setores da sociedade. Este aspecto por si não é surpreendente, visto que feminismo é em si uma ideologia misógina. Mas, não vamos tergiversar.

O livro de cabeceira de Beauvoir, O Segundo Sexo, considerado por feministas contemporâneas “notavelmente atual” – tinha o seguinte a dizer sobre mulheres casadas:15

A esposa se alimenta dele como um parasita; mas um parasita não é um mestre triunfante.

Mais de um quarto de século depois, em 1975, em um diálogo com outra feminista, Betty Friedan, Beauvoir esclareceria sua posição além de qualquer dúvida razoável. Em uma discussão sobre a forma de compensar as mães que ficam em casa e cuidam de crianças, Beauvoir respondeu de forma inequívoca:16

Não, nós não cremos que qualquer mulher deva ter essa escolha. Nenhuma mulher deveria ser autorizada a ficar em casa para criar crianças. A Sociedade deveria ser totalmente diferente. As mulheres não deveriam ter essa escolha, exatamente porque se houver tal opção, mulheres demais irão fazê-la. É uma forma de forçar as mulheres em uma certa direção.

Está claro? Na visão da eminente feminista, as mulheres são um monte de criaturas inertes, incapazes de escolher o que é bom para elas como adultos responsáveis. De fato, ninguém além de Simone de Beauvoir e sua ideologia marxista-feminista sabem o que é melhor para as mulheres. Portanto, nenhuma mulher deveria ser autorizada a escolher qualquer coisa que contrarie Beauvoir.

No mesmo diálogo, ela é ainda mais clara:17

Em minha opinião, enquanto a família e o mito da família e o mito da maternidade e o instinto maternal não forem destruídos, as mulheres continuarão a ser oprimidas.

Realmente o ódio de Beauvoir em relação à maternidade e às mães em geral é muito óbvio ao longo de todo o seu livro. Vejamos alguns exemplos:

A maternidade relega a mulher a uma existência sedentária; é natural para ela ficar em casa enquanto os homens caçam, pescam e vão à guerra.18

[A mãe] é planta e animal, uma coleção de coloides, uma incubadora, um ovo; ela assusta as crianças que estão envolvidas com seus próprios corpos e provoca risos disfarçados de homens jovens, porque ela é um ser humano, consciência e liberdade, que se tornou um instrumento passivo da vida.19

E quando essa importante feminista começou a atacar os corpos das mulheres, ninguém a pôde parar:

A atitude física evocada pela servidão menstrual constitui um pesado aleijamento.

[…] o corpo de uma mulher – e especificamente uma menina – é um corpo “histérico” no sentido de que não há, por assim dizer, distância alguma entre a vida física e sua realização fisiológica. O turbilhão trazido pela descoberta, pela menina, dos problemas da puberdade, as exacerba. Porque seu corpo é suspeito para ela, ela o escrutina com ansiedade e o vê como doente: ele é doente.20

As glândulas mamárias que se desenvolvem na puberdade não têm papel na economia individual da mulher: elas podem ser removidas a qualquer momento em sua vida.21

Beauvoir então passa a explicar em seu livro como é maligna e opressiva a família para o desenvolvimento de uma menina. Se o pai tem a audácia de ter orgulho e reconhecimento pelos sucessos de sua filha, isso é outra evidência da opressão e imposição de vassalagem para a filha em relação ao pai.22 Mas se os pais são relativamente poupados, as mães que ousam disciplinar suas filhas têm uma reprovação pior ainda da renomada feminista:

As mães – veremos – são cegamente hostis ao liberar suas filhas e, mais ou menos deliberadamente, atuam em persegui-las ainda mais; para o menino adolescente, o esforço para se tornar um homem é respeitado e ele já recebe grande liberdade. A menina é obrigada a ficar em casa; suas atividades externas são monitoradas.23

Então, está claro? O fato de que alguns pais e mães não deixavam suas filhas saírem após certos horários na França ocupada por nazistas no meio da Segunda Guerra Mundial constitui opressão. E tenha em mente que Beauvoir minimiza este aspecto – sobre o qual ficam sérias dúvidas de que era generalizado – enquanto meninos de 13 e 14 anos estavam lutando na guerra,24 inclusive para mantê-la a salvo para poder escrever sua infame “filosofia” e produzir propaganda para o regime nazista – um regime que também mantinha meninos de 14 e 15 anos de idade em suas tropas.25 Fico quase tentado a dizer que ela deveria ter reconhecido seus privilégios. Mas não vou dizer.

A hipocrisia dessa mulher é fascinante em termos de estudo e revoltante ao mesmo tempo. Simone de Beauvoir, venerada até hoje como um grande ícone do “bom” feminismo dos anos 1960 e estudada nos “diálogos feministas” da Escola Nacional de Ciência Política e Administração Pública de Bucareste, defendeu com grande fervor o regime revolucionário de Ioseb Dzhugashvili (também chamado de Iosif Vissarionovich Stalin) até muito tempo após os horrores do Stalinismo terem se tornado conhecidos na Europa Ocidental.

Em outras palavras, enquanto tantos romenos deixados na URSS estavam sendo deportados para os Gulags, enquanto a elite intelectual do meu país estava sendo dizimada em campos de concentração como Râmnicu Sărat, Pitești ou Aiud e enquanto até mesmo meninos de 12 anos eram torturados em prisões comunistas por conspiração contra a ordem socialista,26 Simone de Beauvoir publicava O Segundo Sexo em que ela explicava como a liberação das mulheres estava intimamente relacionada ao destino do socialismo27 – ao mesmo tempo negando veementemente, juntamente com seu parceiro, as atrocidades stalinistas que ocorriam naquele mesmo momento. E nós, pagadores de impostos romenos, agora pagamos para estudantes irem àquela Escola de Ciência Política e Administração Pública e estudar essa pessoa desprezível, como se ela fosse alguém a se admirar. Bom, esse é um exemplo real de misoginia patrocinada pelo Estado! Mas eu tenho a impressão de que a elite feminista sente-se muito confortável com isso.

Prezadas feministas de cafeteria, se vocês nos recomendam ler Simone de Beauvoir como um exemplo de feminista “do bem”, então vocês ou não a leram e a estão mencionando apenas para parecer cultas, ou, ao contrário, vocês a leram e concordam com o que ela defendeu e nesse caso, qualquer ser humano normal e não feminista teria que ser, no mínimo do mínimo, insano, para acreditar que vocês têm as melhores intenções em mente.

A ousadia com que Beauvoir propõe nada menos que a proibição sumária de certas escolhas para mulheres por essas escolhas não caberem em sua linha ideológica é o exemplo absoluto de utopia doentia para quem água quente é um conceito novo e para quem o planeta gira em torno dela. E se não girar assim, então há um problema com o planeta e ele deve ser proibido. A verdade deve ser proibida se ela for “incorreta”.

Se essas feministas fossem realmente sinceras quando dizem que querem combater a misoginia e ampliar o espectro de escolhas para as mulheres, então começariam por jogar na lata de lixo da História todo o arsenal ideológico vindo de Simone de Beauvoir. Mas, não fazem isso e nunca farão, porque feminismo é hipócrita em seus melhores dias e totalitário por natureza e prática em seus dias comuns. E nos seus piores dias, o feminismo exige o extermínio dos homens.

Prezadas feministas, sua declaração pública de admiração por Simone de Beauvoir diz muito mais sobre vocês mesmas do que qualquer coisa que qualquer um pudesse jamais dizer. Vocês mais uma vez provam que os melhores argumentos antifeministas vêm diretamente das próprias feministas. E por isso, nós lhes estendemos nossos agradecimentos!

Referencias:
Agradecimento especial a Atodiresei pelo auxílio com a documentação.

Fonte da imagem: Wikimedia Commons ( Site da Romênia)

1 http://my.telegraph.co.uk/expat/stephenclarke/10151800/10151800/ – Stephen Clarke – The women that France needs to remember – or forget; The Telegraph, published at September 5, 2013

2 https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Holocaust/VichyRegime.html – The Holocaust: The French Vichy Regime

3 http://www.lexpress.fr/culture/livre/ce-qu-on-n-ose-pas-voir-sur-beauvoir_822547.html – Dupuis Jérôme – Ce qu’on n’ose pas voir sur Beauvoir; L’Express, published at January 3, 2008

4 http://www.telegraph.co.uk/culture/books/non_fictionreviews/3672534/Simone-de-Beauvoir-Meet-Jean-Paul-Sartre.html – Tim Martin – Simone de Beauvoir? Meet Jean-Paul Sartre; The Telegraph, published at April 12, 2008

5 http://opinionator.blogs.nytimes.com/2013/05/19/savile-beauvoir-and-the-charms-of-the-nymph/ – Andy Martin – The Persistence of the ‘Lolita Syndrome’; The New York Times, published at May 19, 2013

6 ibidem

7 ibidem

8 Simone de Beauvoir – Brigitte Bardot and the Lolita Syndrome (with many half-tone illustrations) p.10; 14 – First Four Square Edition – The New English Library LTD., 1962

9 We received the following communication: Le Monde, January 26, 1977 – https://www.ipce.info/ipceweb/Library/00aug29b1_from_1977.htm

10 Sexual Morality and the Law, Chapter 16 of Politics, Philosophy, Culture –Interviews and Other Writings 1977-1984, p.275

11 Le Mouvement Pédophile en France – http://archive.wikiwix.com/cache/?url=http://bibliobleue.fpc.li/Revues/Gredin/N0/MvtFrance.htm

12 http://www.theguardian.com/world/2001/feb/24/jonhenley – Jon Henley – Calls for legal child sex rebound on luminaries of May 68; The Guardian, published at February 24, 2001

13 Ibidem 4

14 http://www.biographile.com/6-degrees-of-infatuation-an-ode-to-frisky-french-writers/28496/ – Kelsey Osgood – 6 Degrees of Infatuation: An Ode to Frisky French Writers; Biographile, published at February 11, 2014

15 Simone de Beauvoir – The Second Sex, p. 378 – Translated by Constance Borde and Sheila Malovany-Chevallier; Vintage Books – Random House Inc., New York, 2009

16 Sex, Society and the Female Dilemma – A Dialogue between Simone de Beauvoir and Betty Friedan; Saturday Review, publicat la 14 Iunie 1975 – p. 18 http://64.62.200.70/PERIODICAL/PDF/SaturdayRev-1975jun14/14-24/

17 Female Dilemma, op. cit. p.20

18 Second Sex, op. cit. p.70

19 Ibidem p.392-393

20 Ibidem p.257-258

21 Ibidem p.43

22 Ibidem p.255

23 Ibidem p. 258-259

24 World War II: Conscription and the Age of Soldiers – http://histclo.com/essay/war/ww2/age/ww2-age.html

25 Hitler’s Boy Soldiers – http://www.historyplace.com/worldwar2/hitleryouth/hj-boy-soldiers.htm

26 Târgșor, communist prison for children – National Romanian Television report (English subtitles included) – http://vimeo.com/73694592

27 Second Sex, op. cit. p.60

Artigo primeiramente publicado no AVFM Romania.
Tradução: Aldir Gracindo

 

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A verdade vos libertará.
João 8:32

Os americanos subscrevem atualmente a duas más-concepções; a primeira é a ideia de que o comunismo deixou de ser uma ameaça quando a União Soviética implodiu; a segunda éa  crença de que a Nova Esquerda dos anos sessenta entrou em colapso e desapareceu também. “Os Anos Sessenta Estão Mortos,” escreveu George Will (“Slamming the Doors,” Newsweek, Mar. 25, 1991).

Uma vez que, como um movimento político, a Nova Esquerda não tinha coesão, ela desmoronou-se; no entanto, seus revolucionários reorganizaram-se e formaram uma multitude de grupos dedicados a um só tópico. É devido a isto que hoje temos as feministas radicais, os extremistas dos movimentos negros, os ativistas “pela paz”, os grupos dedicados aos “direitos” dos animais, os ambientalistas radicais, e os ativistas homossexuais.

Todos estes grupos perseguem a sua parte da agenda radical através duma complexa rede de organizações tais como a “Gay Straight Lesbian Educators Network” (GSLEN), a “American Civil Liberties Union” (ACLU), “People for the American Way”, “United for Peace and Justice”, “Planned Parenthood”, “Sexuality Information and Education Council of the United States” (SIECUS), e a “Code Pink for Peace”.

Tanto o comunismo como a Nova Esquerda encontram-se vivos e de boa saúde aqui na América, preferindo usar palavras de código tais como: tolerância, justiça social, justiça econômica, paz, direitos reprodutivos, educação sexual e sexo seguro, escolas seguras, inclusão, diversidade e sensibilidade. Tudo junto, isto é marxismo cultural mascarado de multiculturalismo.

O nascimento do multiculturalismo

Antecipando a tempestade revolucionária que iria batizar o mundo num inferno de terror vermelho, levando ao nascimento da terra prometida de justiça social e igualdade proletária,Frederich Engels escreveu

Todas as (…) grandes e pequenas nacionalidades estão destinadas a desaparecer (…) na tempestade revolucionária mundial (…). (Uma guerra global) limpará todas (…) as nações, até os seus nomes. A próxima guerra mundial resultará no desaparecimento da face da Terra não só das classes reacionárias (…) mas (…) também dos povos reaccionários.
(“The Magyar Struggle”, Neue Rheinische Zeitung, Jan. 13, 1849)

Quando a Primeira Grande Guerra terminou, os socialistas perceberam que algo não havia corrido bem, uma vez que os proletários do mundo não haviam prestado atenção ao apelo deMarx de se insurgirem em oposição ao capitalismo como forma de abraçarem, no seu lugar, o comunismo. Devido a isto, estes mesmos socialistas começaram a investigar o que havia corrido mal.

Separadamente, dois teóricos marxistas, Antonio Gramsci (Itália) e Georg Lukacs (Hungria), concluíram que o Ocidente cristianizado era o obstáculo que impedia a chegada da nova ordem mundial comunista.

Devido a isto, eles concluíram que, antes da revolução ter sucesso, o Ocidente teria que ser conquistado. Gramsci alegou que, uma vez que o Cristianismo já dominava o Ocidente há mais de 2 mil anos, não só esta ideologia estava fundida com a civilização ocidental, como ela havia corrompido a classe operária.

Devido a isso, afirmou Gramsci, o Ocidente teria que ser previamente descristianizado através duma “longa marcha através da cultura”.

Adicionalmente, uma nova classe proletária teria que ser criada. No seu livro “Cadernos do Cárcere,” Gramsci sugeriu que o novo proletariado fosse composto por criminosos, mulheres, e minorias raciais. Segundo Gramsci, a nova frente de batalha deveria ser a cultura, começando pela família tradicional e absorvendo por completo as igrejas, as escolas, a grande mídia, o entretenimento, as organizações civis, a literatura, a ciência e a história. Todas estas instituições teriam de ser transformadas radicalmente e a ordem social e cultural teria que ser gradualmente subvertida de modo a colocar o novo proletariado no topo.

O protótipo

Em 1919, Georg Lukacs tornou-se vice-comissário para a Cultura do regime bolschevique de curta duração de Bela Kun, na Hungria. Imediatamente ele colocou em marcha planos para descristianizar a Hungria, raciocinando que, se a ética sexual cristã pudesse ser fragilizada junto à crianças, então o odiado patriarcado bem como a Igreja sofreriam um duro golpe.

Lukacs instalou um programa de educação sexual radical e palestras sexuais foram organizadas; foi distribuída literatura contendo imagens que instruíam graficamente os jovens a enveredar pelo “amor livre” (promiscuidade) e pela intimidade sexual (ao mesmo tempo que a mesma literatura os encorajava a ridicularizar e a rejeitar a ética moral cristã, a monogamia e a autoridade da igreja). Tudo isso foi acompanhado por um reinado de terror cultural perpetrado contra os pais, sacerdotes e dissidentes.

Os jovens da Hungria, havendo sido alimentados com uma dieta constante de neutralidade de valores (ateísmo) e uma educação sexual radical, ao mesmo tempo que eram encorajados a revoltarem-se contra toda a autoridade, facilmente se transformaram em delinquentes que variavam de intimidadores e ladrões menores, para predadores sexuais, assassinos e sociopatas.A prescrição de Gramsci e os planos de Lukacs foram os precursores do que o marxismo cultural, mascarado de SIECUS, GSLEN, e a ACLU – agindo como executores da lei judicialmente aprovados – mais tarde trouxe às escolas americanas.

Construindo uma base

No ano de 1923 foi fundada na Alemanha de Weimar a Escola de Frankfurt – um grupo de reflexão marxista. Entre os fundadores encontravam-se Georg Lukacs, Herbert Marcuse, e Theodor Adorno. A escola era um esforço multidisciplinar que incluia sociólogos, sexólogos e psicólogos. O objetivo primário da Escola de Frankfurt era o de traduzir o marxismo econômico para termos culturais.

A escola disponibilizaria as ideias sobre as quais se fundamentaria uma nova teoria política de revolução (com base na cultura), aproveitando um novo grupo “oprimido” para o lugar do proletariado infiel. Esmagando a religião e a moralidade, a escola construiria também um eleitorado junto aos acadêmicos que construiriam carreiras profissionais estudando e escrevendo sobre a nova opressão.

Mais para o final, Herbert Marcuse – que favorecia a perversão polimorfa – expandiu o número do novo proletariado de Gramsci de modo a que se incluíssem os homossexuais, as lésbicas e os transsexuais. A isto juntou-se a educação sexual radical de Lukacs e as tácticas de terrorismo cultural. A “longa marcha” de Gramsci foi também adicionada à mistura, sendo ela casada à psicanálise freudiana e às técnicas de condicionamento psicológico. O produto final foi o marxismo cultural, hoje em dia conhecido no Ocidente como multiculturalismo.

Apesar disto tudo, era necessário mais poder de fogo intelectual, uma teoria que patologizasse o que teria que ser destruído. Nos anos 50 a Escola de Frankfurt expandiu o marxismo cultural de modo a incluir a ideia da “Personalidade Autoritária” de Theodor Adorno. O conceito tem como premissa a noção de que o Cristianismo, o capitalismo e a família tradicional geram um tipo de caráter inclinado ao racismo e ao fascismo.

Logo, qualquer pessoa que defenda os valores morais tradicionais da América, bem como as suas instituições, é ao mesmo tempo um racista e um fascista.

O conceito da “Personalidade Autoritária” defende também que as crianças criadas segundo os valores tradicionais dos pais irão tornar invariavelmente racistas e fascistas. Como conseqüência, se o fascismo e o racismo fazem parte da cultura tradicional da América, então qualquer pessoa educada segundo os conceitos de Deus, família, patriotismo, direito ao porte de armas ou mercados livres precisa de ajuda psicológica.

A influência perniciosa da ideia da “Personalidade Autoritária” de Adorno pode ser claramente vista no tipo de pesquisas que recebem financiamento através dos impostos dos contribuintes.

Em agosto de 2003, a “National Institute of Mental Health” (NIMH) e a “National Science Foundation” (NSF) anunciaram os resultados do seu estudo financiado com 1.2 milhões de dólares, dinheiro dos contribuintes. Essencialmente, esse estudo declarou que os tradicionalistas são mentalmente perturbados. Estudiosos das Universidades de Maryland, Califórnia (Berkeley), e Stanford haviam determinado que os conservadores sociais… sofrem de “rigidez mental”, “dogmatismo”, e  ”aversão à incerteza”, tudo com indicadores associados à doença mental. (http://www.edwatch.org/ – ‘Social and Emotional Learning” Jan. 26, 2005)

O elenco orwelliano de patologias demonstra o quão longe a longa marcha de Gramsci já nos levou.

O politicamente correto

[Nota de FMB: Ver também o documentário “A história do politicamente correto.]

Uma ideia correspondente e diabolicamente construída é o conceito do “politicamente correto”. A sugestão forte aqui é que, para que uma pessoa não seja considerada “racista” e/ou “fascista”, não só essa pessoa deve suspender o julgamento moral, como deve abraçar os “novos” absolutos morais: diversidade, escolha, sensibilidade, orientação sexual, e a tolerância. O “politicamente correto” é um maquiavélico engenho de “comando e controle”e o seu propósito é a imposição de uma uniformidade de pensamento, discurso e comportamento.

A Teoria Crítica é outro engenho psicológico de “comando e controle”. Tal como declarado por Daniel J. Flynn, “a Teoria Crítica, tal como o nome indica, só critica. O que a desconstrução faz à literatura, a Teoria Crítica faz às sociedades.” (Intellectual Morons, p. 15-16)

A Teoria Crítica é um permanente e brutal ataque, através da crítica viciosa, aos cristãos, ao Natal, aos Escoteiros, aos Dez Mandamentos, às nossas forças militares, e a todos os outros aspectos da sociedade e cultura americana.

Tanto o “politicamente correto” como a Teoria Crítica são, na sua essência, intimidações psicológicas. Ambas são maços de calceteiros psico-políticos através dos quais os discípulos da Escola de Frankfurt – tais como a ACLU – estão a forçar os americanos a se submeterem e a obedecerem os desejos e os planos da esquerda. Estes engenhos desonestos não são mais do que versões psicológicas das táticas de “terrorismo cultural” de Georg Lukacs e Laventi Beria. Nas palavras de Beria:

A obediência é o resultado do uso da força (…). A força é a antítese das ações humanizantes. Na mente humana isto é tão sinônimo com a selvageria, ilegalidade, brutalidade e barbarismo, que é apenas necessário exibir uma atitude desumana em relação às pessoas para receber dessas pessoas as posses de força.
(The Russian Manual on Psychopolitics: Obedience, por Laventi Beria, chefe da Polícia Secreta Soviética e braço direito de Stalin.)

Pessoas com pensamento contraditório, pessoas que se encontram “sentadas em cima do muro”, também conhecidos como “moderados”, centristas e RINOs (ed: RINO = Republicans In Name Only, isto é, falsos republicanos), carregam consigo a marca destas técnicas psicológicas de “obediência”. De uma forma ou outra, estas pessoas – que em casos literais se encontram com medo de serem vítimas dos agentes de imposição de obediência – decidiram ficar em cima do muro sob pena de serem considerados culpados de terem uma opinião. 

Ao mínimo sinal de desagrado dos agentes de imposição de obediência (isto é, polícias do pensamento), estas pessoas içam logo a bandeira amarela de rendição onde está escrito de forma bem visível:

“Eu não acredito em nada e eu tolero tudo!”

Determinismo cultural

A cavilha da roda [inglês: “linchpin”] do marxismo cultural é o determinismo cultural, parente da política de identidade e da solidariedade de grupo. Por sua vez, o determinismo cultural foi gerado pela ideia darwiniana de que o homem não é mais que um animal sem alma e que, portanto, a sua identidade – a sua pele, as suas preferências sexuais e/ou as suas preferências eróticas – é determinada pelo exemplo. 

Esta proposição rejeita o conceito do espírito humano, da individualidade, do livre arbítrio e de uma consciência moralmente informada (associada à culpabilidade pessoal e à responsabilidade) uma vez que ela nega a existência do Deus da Bíblia.

Conseqüentemente, e por extensão, ela rejeita também os primeiros princípios da liberdade americana enumeradas na Declaração de Independência. Estes são os nossos “direitos inalienáveis, entre os quais encontram-se a vida, a liberdade e a busca pela felicidade.” O marxismo cultural deve rejeitar todos estes princípios porque eles “foram doados pelo nosso Criador” que fez o homem à Sua Imagem.

Para David Horowitz, o determinismo cultural é

… política de identidade – a política do feminismo radical, da revolução queer e do afro-centrismo – que formam a base do multiculturalismo acadêmico (…) uma forma de fascismo acadêmico e (…) de fascismo político também. (Mussolini and Neo-Fascist Tribalism: Up from Multiculturalism, by David Horowitz, Jan. 1998)

É dito que a coragem é a primeira das virtudes porque sem ela, o medo paralisará o homem, impedindo-o assim de agir segundo as suas convicções morais e de falar a verdade.  Assim, trazer um estado geral de medo paralisante, apatia e submissão – as correntes da tirania – é o propósito por trás do terrorismo cultural psico-político, uma vez que a agenda revolucionária da esquerda comunista deve, a qualquer preço, estar envolta em secretismo.

O antídoto para o terrorismo cultural é a coragem e a luz da verdade.

Se nós queremos vencer esta guerra cultural, reclamando e reconstruindo nosso país para que os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos possam viver numa “Cidade Resplandescente situada na Colina”, onde a liberdade, as famílias, as oportunidades, o mercado livre e a decência florescem, temos que reunir a coragem de modo a que possamos, sem medo,expor a agenda revolucionária da esquerda comunista à Luz da Verdade. A verdade e a coragem de declará-la nos libertará.

Linda Kimball é autora de diversos artigos e ensaios sobre cultura e política.

Publicado no American Thinker – http://www.americanthinker.com

Tradução do Blog O Marxismo Cultural [acima revisada e grifada por Felipe Moura Brasil], publicada no site Mídia Sem Máscara

Autor: Linda Kimball

Beato Martin Martinez Pascual, padre executado durante a Guerra Civil Espanhola aos 25 anos de idade. 

Ordenado em 15 de junho de 1935, ao eclodir a perseguição religiosa pelos comunistas, Martinez Pascual viveu escondido em casa de amigos e até em uma caverna. Ao saber que seu pai havia sido preso, apresentou-se voluntariamente aos algozes em agosto de 1936, com pouco mais de um ano de sacerdócio. Foi preso e, a caminho do cemitério em um caminhão, morto juntamente com 5 sacerdotes e 9 leigos. 

Enquanto todos foram mortos pelas costas, quando lhe perguntaram se gostaria de não olhar para os rifles durante a sua execução, respondeu que não. Tudo o que ele queria era abençoar aqueles que o matariam e rezar a Deus para que os perdoassem pela sua morte. Seu único crime era o de ser sacerdote do Altíssimo. Então, perguntaram-lhe se gostaria de dizer algo. Martín respondeu: “Quero somente dar-vos a minha benção para que Deus não leve em conta a loucura que cometereis”.

E então bradou: “Viva Cristo Rei!”

Instantes antes de ser morto, ele sorriu para o fotógrafo que tirou esta última foto. Em seus olhos, se pode ver a coragem e a alegria de um padre fiel.

Fonte: Fratres in Unum

beato

25310

A OMS (Organização Mundial de Saúde), juntamente com o governo alemão, elaborou uma cartilha de educação sexual infantil que já se encontra espalhada pela Europa. “Coisa leve”: com indicações para crianças… RECÉM-NASCIDAS!!! em diante, até os quinze anos.

Para os que acham que exagero, vejam a página 53 da Standarts for Sexuality Education in Europe e leiam algumas das informações a serem transmitidas para a faixa etária de zero a quatro anos:

“el goce y el placer cuando tocamos nuestro propio cuerpo: la masturbación de la primera infancia; el descubrimiento del propio cuerpo y de los genitales; el hecho de que el placer físico es una experiencia propia (cercana) y normal de vida; la ternura y la cercanía física (contacto) como una expresión del amor y el afecto.”

Captura de tela de 2013-10-01 12-06-01

Não é de admirar que somente agora, três anos após a elaboração e chancela da União Européia, o povo do Velho Continente esteja percebendo o que está acontecendo, afinal as ideologias revolucionárias, que possuem o domínio do linguajar politicamente correto e estabeleceram o monopólio da virtude, há décadas transformaram a Europa em seu parque de diversões. Assim, não por acaso, os europeus, e talvez somente alguns poucos deles, deram-se conta, um pouco tarde demais, sobre o fato de as organizações internacionais (OMS, ONU, UNESCO…) quererem, literalmente, ‘ferrar’ com as crianças.

Atualmente, uma das iniciativas adotadas pelas famílias europeias que não aceitam as “sugestões” da OMS em prol do “desenvolvimento sexual” de suas crianças é uma petição virtual que solicita o recolhimento de tal material e a não intervenção governamental nestes assuntos.

Não se enganem: o lixo europeu em breve chegará por aqui (a cartilha recomenda sua disseminação mundial). E não serão poucos os que aceitarão tais discursos e práticas, dando vazão, sob a asquerosa aparência de benefício à saúde, de abordagem “positiva e holística” da questão, às mais sombrias e devastadoras violências contra as crianças.

Cliquem aqui, vejam e assinem a petição. Na mesma página vocês encontrarão um link, ao final, para download da cartilha, aos que tiverem estômago forte.

Camila Hochmüller Abadie é mãe, esposa e mestre em filosofia. Edita o blog Encontrando Alegria.

imagesDoutrinação e demonização

O marxismo e suas variações constituem as principais ferramentas conceituais que os alunos brasileiros aprendem nas escolas de todo o país. O domínio cultural é tão expressivo que mesmo os professores não identificados com essa corrente ideológica –e até aqueles que lhe são contrários– acabam, sem perceber, utilizando interpretações tributárias dela.

Quando o ferramental marxista não dá conta de uma questão, quando dados questionam ou refutam a tese geral, a questão e os dados simplesmente desaparecem. E é por isso que muitos autores são desconhecidos no Brasil.

Nada pode romper a harmoniosa narrativa maniqueísta. Assim, a velha luta do bem contra o mal ganha novas roupagens: o país explorador e o explorado, o patrão e o trabalhador, o rico e o pobre, o agronegócio e a agricultura familiar.

Nessa narrativa, o produtor rural é apresentado fundamentalmente como um latifundiário que explora os trabalhadores –em alguns casos em regime de escravidão– e que produz alimentos para exportação deixando o povo passar fome.

O pequeno agricultor, chamado de campesino quando visto com bons olhos, é apenas uma vítima em potencial, dizem, pois logo venderá sua propriedade para o cultivo da monocultura.
Com a causa ambiental absorvida pelo marxismo cultural, o inimigo do presente também inviabiliza o futuro. O agricultor é a versão rural da elite urbana.

Essa imagem não aparece de modo claro, direto, mas emerge do emaranhado de afirmações, insinuações e lacunas que devem ser preenchidas pelos alunos.

Se o estudante procurar “MST” no Brasil Escola, um dos mais famosos sites de conteúdo educacional, ele encontrará o seguinte trecho em um artigo: “E o que dizer da bancada ruralista no Congresso, lutando com unhas e dentes para defender seus afilhados? Por acaso este não é um comportamento antiético e imoral, vindo de que vem?”.

O site Brasil Escola figura entre os 300 mais acessados no Brasil, de acordo com a Alexa (serviço de medição de acessos).

A absurda frase do Brasil Escola não é exceção. Na coleção de livros didáticos “Nova História Crítica”, a mais vendida do país –só o MEC comprou mais de 10 milhões de livros–, o autor Mario Schmidt escreveu o seguinte: “Desde a colonização, quase todas as terras estão nas mãos de uma minoria de latifundiários, latifúndio-monocultor e escravista… Os latifundiários reagem com brutalidade às invasões. Contratam capangas que em várias ocasiões já perderam o controle e mandaram bala nos sem-terra”.

O geógrafo e professor José William Vesentini escreveu que “a produtividade agrícola só aumenta nas culturas de exportação, ocasionando fome”. Tal frase contraria fatos e dados elementares, mas é a síntese do autor de “Brasil Sociedade e Espaço”, o renomado livro didático de geografia.

Vesentini argumenta que a modernização da agricultura só ocorre em setores exportadores, o que, a seu ver, diminui a produção dos principais itens que compõem a alimentação dos brasileiros como feijão, arroz, milho, batata e mandioca. O autor entende que disso surgiria o seguinte paradoxo: o Brasil vive abundância produtiva e fome quase generalizada. Consequência, segundo o autor, da concentração fundiária.

Infelizmente Vesentini e Schmidt retratam, com precisão, um conjunto de ideias dominante que aparece, inclusive, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que avalia e direciona os alunas.

Em uma questão do Enem, por exemplo, o estudante deveria interpretar a “fala” de um “ruralista” imaginado pelo proponente: “A minha propriedade foi conseguida com muito sacrifício pelos meus antepassados. Não admito invasão. Essa gente não sabe de nada. Estão sendo manipulados pelos comunistas. Minha resposta será à bala”. Mais claro impossível.

Eis a mentalidade que está sendo gestada no país, inculcando preconceito e ignorância nos nossos jovens. E tudo com dinheiro público, dos contribuintes. É essa a educação que queremos?

Autor: Kátia Abreu, colunista da Folha de São Paulo

Lilian Kirsten

“Aos 47 anos me dei conta de que Deus existia. Ter que enfrentar essa mudança nessa idade não foi fácil”. Assim descreve sua experiência Lilian Kirsten, uma professora de Matemática chilena que se converteu à fé católica ao descobrir que era filha de Deus e que lhe levou à mudar da rebeldia de seu ídolo Che Guevara pela de São José Maria Escrivá, o Fundador do Opus Dei.

Ao relatar sua conversão, a professora descreve como toda sua vida esteve marcada pelo ateísmo militante: suas convicções eram atéias, seu esposo era ateu, todos seus amigos eram ateus. “Todo o espiritual, não existia”, confessa. No entanto, no interior de um oratório que havia procurado ao experimentar o que ela chama um “vazio existencial”, irrompeu nela a com ciência da presença do Senhor que lhe transformou a vida e a encheu de felicidade.

Comecei a estudar na década de 70, uma época bastante agitada politicamente. Saíamos com pedras e marchas e muita reunião”, rememora agora na cidade de Concepção. “O Che Guevara era para nós um modelo: era um rebelde que se rebelava contra a injustiça do mundo”.

“Quando penso nessa época, a pessoa humana não tinha nenhum valor para mim. Quando se falava de aborto, essa pessoa para mim não tinha nenhum valor. Além disso, quanto mais pequenininha, menos valor”, revela quando recorda seus anos estudantis. “Era muito egoísta, muito centrada em mim mesma”, reflete hoje Lilian.

O dogma marxista da luta e conflito não era só algo que escutava e sustentava ela nas aulas mas também algo que vivia na intimidade de seu lar, com seu esposo e seus filhos, situação que levou sua família a viver uma permanente situação de insegurança, angústia e desencontros.

“Havia um desencanto. Fazia muitas coisas mas não encontrava sentido nelas. Eu podia viver majestosamente por fora, mas interiormente tinha uma raiva e um vazio interiores imensos. Estava vivendo muito mal. Então é quando aterrizas e se não tens fé, te vem como um “vazio existencial”.

Um primeiro encontro-desencontro com São José Maria Escrivá de Balaguer, fundador do Opus Dei, cuja imagem via nos santinhos que tinham suas alunas durante os exames (“Quem é este senhor, que o teem como algo tão importante?”, se perguntava) conduziu a Lilian, finalmente, a um oratório. Ali, de joelhos, e pela primeira vez…

Veja abaixo o vídeo ( em espanhol)

Fonte: religionenlibertad.com

O escritor e crítico literário vietnamita Nguyen Hoang Duc, testemunha fundamental no processo de beatificação do Cardeal François-Xavier Nguyen Van Thuan – a quem deve sua conversão e a cura de uma enfermidade – foi sumariamente impedido pelo governo comunista do Vietnã de viajar para Roma, onde assistiria ao encerramento da fase diocesana do referido processo, numa clara demonstração da tirania e repressão que caracteriza esse tipo de regime.

Quando o purpurado – na época, bispo auxiliar de Saigon – foi preso pelo regime socialista do Vietnã, em 1975, Hoang Duc era oficial de alta patente da administração em Assuntos Religiosos. Os caminhos destas duas personagens se cruzaram quando Hoang Duc foi enviado para vigiar o cárcere de Van Thuan. Ali, com o bispo vietnamita, ele não somente aprendeu francês, mas, fascinado pela força de seu testemunho, acabou por entrar também na escola da fé cristã.

É certo que Hoang Duc não foi o único a aderir ao Cristianismo a partir da experiência de santidade do cardeal Van Thuan. Todos à sua volta, carcereiros e encarcerados, ficavam impressionados com a viva esperança do prelado.

Confinado em um cubículo minúsculo, úmido e sem janela, de tal sorte que, para respirar, tinha de passar horas com o rosto metido em um pequeno buraco no chão, Van Thuan havia decidido não esperar por sua libertação: “Eu não esperarei. Vou viver o momento presente, enchendo-o de amor”. E assim fez. Com a ajuda de amigos e de alguns vigilantes, celebrava a Eucaristia em sua cela mesmo. Depois, guardava as espécies eucarísticas com reverência e, à noite, reunia-se com os poucos católicos e outras pessoas ali presentes para adorar o Senhor. “Assim, na solidão, na fome… uma fome terrível, foi possível sobreviver. Desta maneira dávamos testemunho na prisão.”

Tão notável foi a sua resistência, que foi digno de menção na encíclica Spe Salvi, do Papa Bento XVI:

“Durante 13 anos de prisão, numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança, que, depois da sua libertação, lhe permitiu ser para os homens em todo o mundo uma testemunha da esperança, daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites da solidão.”

Sua beatificação anda a passos adiantados. Mas o governo marxista de Hanói, capital do Vietnã, não está nada contente com isto. Os relatos do cardeal Van Thuan circularam em muitos livros, traduzidos para vários idiomas de todo o mundo, e, definitivamente, não são boa propaganda do Partido Comunista e de sua ideologia. Por isso a recusa em conceder o passaporte de viagem a Nguyen Hoang Duc, peça fundamental no processo de beatificação de Van Thuan.

Ademais, Hoang Duc é, por sua própria história de vida, um verdadeiro exemplo do fracasso que é o comunismo. De fato, após conhecer Van Thuan na prisão, o oficial, então membro do governo vermelho, desacreditado de sua ideologia, abandonou o cargo na segurança pública e começou a frequentar igrejas católicas. Um dia, sonhou que era batizado em uma delas. Convencido ser este um sinal, Hoang Duc começou um caminho de formação que o levou ao batismo.

Hoje, batizado, dedicado à literatura, à crítica poética e ao debate cultural, Hoang Duc não esconde a sua gratidão pela vida do cardeal Van Thuan. O que, na década de 1970, como oficial do regime ateu vietnamita, ele só podia ver como superstição e obscurantismo, é hoje o fundamento basilar de sua vida.

Equipe Christo Nihil Praeponere

Marcelo Gullo é doutor em Ciências Políticas pela Universidade do Salvador (Argentina), da qual o atual Papa Francisco foi professor.

Qual é o traço humano que melhor define o Papa Francisco?

O Papa Francisco é um homem austero, humilde, simples e de enorme formação doutrinal, que soube privilegiar a opção pelos pobres sem cair nas vulgatas pseudo-marxistas.

Em sua experiência, o nome de Francisco é uma resposta do Papa à necessidade de reconstruir a Igreja?

A escolha do nome “Francisco” pelo cardeal Jorge Bergoglio tem, sem dúvida, um significado triplo: reconstruir e purificar a Igreja, reevangelizar a Europa e dirigir o olhar da Igreja preferencialmente às pessoas e povos mais pobres.

Você diria que se trata de formar uma Igreja mais horizontal, partindo do Papa?

Há muitos séculos, em um momento difícil para a cristandade, em que as forças do mundano haviam dominado a Igreja e não lhe permitiam levantar a cabeça para olhar para o alto, o sopro do Espírito Santo fez surgir, em um pequeno povoado da Itália, um homem aparentemente frágil, que se despojou de todo o material que o atava ao mundo para poder erguer os olhos e ver o rosto de Cristo crucificado.

Foi assim que o caminho seguido por São Francisco reconstruiu a Igreja, e foi assim que todos os cristãos – especialmente os homens da Igreja, seus sacerdotes e bispos – puderam afirmar com toda sinceridade: “vosso é o poder e a glória para sempre, Senhor”. É por isso que a escolha do nome “Francisco” adquire hoje um significado especial, para que nossos pastores possam dizer novamente, com total franqueza: “vosso é o poder e a glória para sempre, Senhor”.

E sobre a volta do Evangelho à Europa?

Deus morreu há muito tempo na Europa. Os templos deixaram de ser os lugares da fé para tornar-se pontos turísticos ou simples museus. As únicas catedrais são os bancos, e os únicos valores são cotados na Bolsa de Londres ou Frankfurt. A Igreja, que soube lutar contra o materialismo comunista (que havia decidido extirpar Deus da terra por meio da violência), ainda não soube lutar contra o materialismo libertino da sociedade de consumo, que conseguiu (mediante uma revolução anestésica realizada na mídia) fazer o homem europeu esquecer que Deus existe.

Para o homem pós-moderno das sociedades mais desenvolvidas, o poder, o dinheiro e o prazer são as medidas de todas as coisas. Em um ritmo vertiginoso, a autoestima do ser humano passou do ter ao ser, do ter ao parecer e do parecer ao aparecer. O homem pós-moderno parece acreditar que a felicidade está em possuir bens materiais, em parecer-se com determinado modelo físico imposto pela mídia e em aparecer nos meios de comunicação. Por isso, a Europa é hoje uma terra de missão. Se a Europa teve, há cinco séculos, a glória de evangelizar o novo continente, hoje a América tentará ter para si a glória de reevangelizar o velho continente – com a ajuda de um dos seus filhos prediletos, o Papa Francisco.

Existem ações do então cardeal Bergoglio que agora podem se refletir em seu ministério petrino?

Eu gostaria de destacar que vale a pena não somente conhecer as ações levadas a cabo pelo então cardeal Bergoglio, mas é imprescindível também conhecer seu pensamento, para vislumbrar como será seu ministério petrino. É importante também ressaltar que jamais houve, no cardeal Bergoglio, diferença alguma entre o pensamento e a ação. Sem dúvida alguma, as profundas reflexões do cardeal Bergoglio sobre a história e o destino da América Latina (reflexões realizadas durante décadas) se refletirão em seu ministério petrino.

Escreveu mais de 50 livros sobre pensamento católico

Com o avô maçom e pais ateus militantes; Chesterton, Lewis e Newman a levaram à Igreja.

Ronda Chervin se converteu ao catolicismo apesar de seus antecedentes: origem judia, avô maçom, educação ateia e formação universitária numa faculdade de Filosofia agnóstica.

Muitas vezes parece que Deus segue e persegue uma pessoa, até se encontrar com ela. Parece que a busca em sua história concreta até que é impossível continuar olhando para um lado eliminando a realidade que se tem por diante. «Chamei-te pelo teu nome, és meu», disse o profeta Isaías. E esta é precisamente a história de Ronda Chervin: do ateísmo e o desprezo mais profundo para o catolicismo, até chegar à conversão do coração. Ela mesma conta a «amorosa perseguição de Deus» ao longo dos anos.

Uma peça que não se encaixa

Ronda nasceu em 1937 em Nova York e tem uma irmã gêmea. Seus pais se conheceram no Partido Comunista, e depois passaram a ser informantes do FBI.

«Os comunistas os ameaçaram em bombardear nossa casa», conta. Ambos os pais eram de origem judia mas militantemente ateus. Não foram educados na religião judia e então não tinham nenhum interesse em observar as festas nem iam à sinagoga. Separaram-se quando suas filhas tinham oito anos.

Tão peculiar família fez de Ronda uma pessoa que não se encaixava em nenhum lugar: nem com os católicos, nem com os protestantes, certamente não com os judeus ortodoxos em plena expansão, tampouco com os judeus reformistas, nem com os sionistas ateus, nem muito menos com os judeus de esquerda anti-sionistas.

«Mais tarde, como católica, me dei conta que meu desejo de pertencer a um grupo identificável para sempre tinha uma razão psicológica e também teológica», explica Ronda. «No entanto, todos meus familiares se orgulhavam de ser americanos socialistas livre pensadores», lamenta.

Dos avós conflitantes

A vida de Chervin estava marcada por ser descendente de dois avós absolutamente contrários em vida e pensamentos. Por um lado, seu avô paterno, de ascendência sefardi judia, imigrou aos Estados Unidos graças a um programa financiado por judeus maçons que consistia em introduzir jovens brilhantes nas faculdades, de modo que no dia de amanhã pudessem converter-se nos grandes líderes das lojas maçônicas. De fato, seu avô se estabeleceu como dentista em uma das ruas mais centrais de Nova York, Madison Avenue. Isso sim, Ronda pontualiza: «Meu avô nunca observou as festas judias, porque era ateu».

Por outro lado estava sua avó paterna, que conheceu seu futuro esposo precisamente na consulta. Considerada como «loira e frágil», não deixou de ir nem um só domingo à Igreja e rezou sempre por seu marido, seus filhos e seus netos, todos ateus. Lia a Bíblia dia e noite.

«Tinha sido absolutamente proibida —sob ameaça de não voltar a ver-nos— falar às suas netas de Deus ou da religião». Depois de sua morte, Ronda herdou a Bíblia de sua avó, em que ela havia escrito a mão: «Rezo para que algum dia minhas netas possam ler isto». Os pais de Ronda ridicularizavam constantemente a avó por sua fé: «Usavam-na como prova de como só as pessoas estúpidas e débeis ainda acreditavam em Deus depois de que tanto Nietzsche como a evolução tinham demonstrado que Deus não existia ou que estava morto».

A moral sexual da juventude

Ronda começou seus estudos de Filosofia na Universidade de Rochester e, ao mesmo tempo, sua independência juvenil. « Como muitos ateus, tinha sido educada para considerar ridícula a moral sexual das pessoas religiosas. Por temor a uma gravidez, tinha evitado ter relações sexuais. Mas ao estabelecer-me por minha conta, meu grande desejo era dar minha virgindade tão logo quando encontrasse algum jovem atraente disposto a iniciar-me. Graças à providência de Deus não fiquei grávida, porque estou segura de que teria abortado nesse caso. Eras Tu, Pai da vida, protegendo-me de uma vida inteira de culpabilidade?», reflete.

Um de seus noivos foi um estudante estrangeiro do programa de pós-graduação de Filosofia. Era um alemão que tinha militado nas juventudes hitleristas em sua adolescência, mas que tinha sido salvo por um sacerdote católico em continuar nesse terrível movimento. «Começou a me alimentar com livros apologéticos, desde Chesterton até Karl Adam. Não tendo lido o Novo Testamento, quase não entendia uma palavra destes tratados, mas algo me tocava, porque comecei a querer conhecer os católicos, inclusive depois de romper minha relação com o alemão», conta.

Em busca da verdade

Especializar-se em Filosofia tinha sido para Ronda sua forma de buscar a verdade. «Nas universidades laicas que participei, o ceticismo estava tão em moda que, um ano depois me sentia desesperada: Onde estava a verdade? Onde estava o amor? Por que vivo?». Nesta organização, topou com um programa televisivo chamado «A Hora Católica». Os convidados eram Dietrich Von Hildebrand e Alice Jourdain, e estavam falando sobre a verdade e o amor. «Espontaneamente lhe escrevi uma carta contando-lhes minha infrutuosa busca da verdade».

Resultou que ambas viviam perto de sua casa e lhe convidaram a visitá-las. Sugeriram-lhe assistir as aulas de Dietrich Von Hildebrand e Balduin Schwarz, seu discípulo, na Universidade de Fordham. «Fui a umas poucas aulas. O que mais me impressionou não foram as ideias dos filósofos católicos, mas sua vitalidade pessoal e sua alegria. O ceticismo, o relativismo e o historicismo que caracterizava a maioria das universidades seculares nesse momento havia deixado a muitos dos professores tristes e secos». Assim que Ronda, atraída por esta alegria e pela amorosa amabilidade com que todos a receberam, continuou seus estudos nesta universidade.

Depois de uns meses em Fordham, não podia deixar de perguntar-se como era possível que católicos e jesuítas, brilhantes intelectualmente, pudessem crer em ideias tais como a existência de Deus, a divindade de Cristo, a realidade da verdade objetiva e da moral absoluta, e a necessidade de ir à igreja. «Obviamente, não só pessoas estúpidas e débeis pensavam desta maneira», reconhece.

Uma viajem cheia de milagres

Ronda se uniu com seus novos amigos em uma viajem-peregrinação à Europa para ver museus e obras de arte. Apesar de que odiava qualquer estilo artístico exceto o mais moderno, e não tinha ainda interesse em saber mais sobre Deus, Cristo ou a Igreja, aceitou ir para desfrutar do tempo com eles. «O primeiro milagre ocorreu quando entrei na catedral de Chartres na França. Pus-me a chorar e me perguntei: ‘Como pode ser tão belo se não há verdade nele, só ignorância medieval?´».

Porque seus amigos iam à missa todo dia, Ronda se uniu também com mais curiosidade que interesse real: «Ver meu nobre e sábio professor de Filosofia de joelhos me assombrava e me desgostava. Queria lhe dar um empurrão e gritar que nenhum homem deveria ajoelhar-se nunca», admite.

O segundo milagre chegou com a leitura da Bíblia.

E o terceiro poucos dias depois: «Tive o impulso de ajoelhar-me no corredor do hotel e recitar uma oração: ´Deus, se há um Deus, salva minha alma, se tenho uma alma´».

Outro milagre a mais em Lourdes, tocada pelo coro que cantava. E o seguinte em Florença, em frente ao quadro inacabado de “A Natividade’ de Leonardo Da Vinci: «Olhei a Virgem Maria, tão simples, pura e doce, e chorei. Ela tinha algo que eu nunca teria: pureza! Pela primeira vez me vi a mim mesma como pecadora». Depois uma grandíssima impressão diante de uma tapeçaria de Rafael com o rosto de Cristo. E o último na viajem: ver de perto o Papa Pio XII em São Pedro: «Tinha exatamente a mesma expressão em seus olhos que o rosto vivo de Jesus da tapeçaria de Rafael».

Período de reflexão

Depois de tanta profusão de impressões, acontecimentos e milagres, Ronda necessitava sentar-se e refletir: «Estudei livros como ‘ Cristianismo simples ’ de C.S. Lewis. Também, a leitura de livros de Chesterton e do cardeal Newman fez me converter ao catolicismo agora algo já inevitável».

Em 4 de junho de 1959, com 21 anos, Ronda foi batizada. «Não houve um só momento em minha vida em que tenha me arrependido de ser católica. Anos depois, minha irmã gêmea, minha mãe e meu esposo se converteram ao catolicismo», conta com agradecimento.

A página pessoal de Ronda é: http://www.rondachervin.com

Rádio Vaticano

A Casa Católica Polonesa na França denunciou que a Prefeitura de Paris proibiu a instalação de uma imagem do Papa João Paulo II, em frente a Igreja Nossa Senhora da Assunção, por motivos ideológicos.

A imagem em bronze, de 3,5 metros de altura, pesando mais de uma tonelada, foi doada pelo diretor do Instituto de Belas Artes de Moscou, Zourab Tsereteli e está em um depósito à espera da autorização para ser instalada, segundo informou o jornal “Le Figaro”.

Ao negar a autorização, a Prefeitura de Paris alegou em abril de 2012, que a imagem quebrava a harmonia arquitetônica do templo, declarado monumento histórico, fato contestado pelos poloneses que alegam que a obra foi concebida levando em consideração também este fator.

Posteriormente foi proposto à Prefeitura a instalação da imagem na Praça João Paulo II, localizada atrás da Catedral de Notre Dame,(foto) pedido também negado pela comissão de espaços verdes.

O Reitor da Casa Polonesa em Paris, Dom Stanislaw Jez, assegura que a Prefeitura, que tem a frente o socialista Beertrans Delanoe, nega a permissão por motivos ideológicos. O Prefeito, por sua vez, recorda que foi justamente ele que, em 2006, propôs que a explanada em frente à Catedral de Notre Dame fosse chamada de João Paulo II. Ele afirmou se manter aberto ao diálogo, para se buscar um espaço adequado para a instalação da imagem.(JE)

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Nota do editor: O silêncio que separava o governo cubano da Igreja Católica há décadas recentemente se rompeu através do diálogo. O cardeal Jaime Ortega foi uma das peças-chave na abertura e expansão dessas discussões. Esta é a história dele e de como a igreja se aproximou do governo e de seus cidadãos numa época de transição.Durante o voo para o México, na mesma viagem que o levaria a Cuba, no fim de março deste ano, Bento 16 disse a um jornalista: “É óbvio que a ideologia marxista, como foi concebida, hoje já não corresponde à realidade; não é mais possível reagir ou construir uma sociedade dessa forma. É preciso encontrar novos modelos, com paciência, de forma construtiva”.

O papa – um teólogo, homem sábio e analítico, que entendeu e vivenciou os grandes eventos que sacudiram a Europa no último século – queria estar conosco em seu Ano Jubilar para comemorar os 400 anos da presença de nossa santa padroeira, a Virgem da Caridade, em nossa terra. Ele também sabia que estava visitando Cuba num momento único de nossa história.

Suas palavras, pronunciadas dias antes de sua recepção, não foram rejeitadas pelo governo – o mesmo que, presidido por Raúl Castro desde 2008, iniciou uma nova etapa na vida do país. Aplicou várias reformas econômicas e sociais que sugerem que, de fato, as propostas socioeconômicas nascidas durante o marxismo, baseadas numa concepção materialista do mundo e do homem – que não oferecem nenhum ponto de referência transcendentes, estabelecendo limites que não apoiam e são contraproducentes à liberdade humana -, não funcionam em Cuba.

Entretanto, desde abril de 2010, um novo capítulo começou a ser escrito em nossa história recente e notado no exterior: foi quando enviei uma carta a Raúl Castro expressando minha rejeição pessoal e da igreja à oposição do governo às mulheres dos prisioneiros políticos, conhecidas como as “Damas de Branco”, que se reuniam depois da missa, todos os domingos, na porta da Igreja de Santa Rita, em Havana.

O resultado foi uma resposta verbal positiva vinda do presidente.

Em fevereiro de 2008, com os bispos de Cuba, eu o cumprimentei rapidamente quando ele recebeu o secretário de Estado do papa, o cardeal Tarcisio Bertone, que estava em Cuba para presidir vários eventos e comemorações do décimo aniversário da inesquecível visita de João Paulo 2º.

Nos últimos dois anos, ocorreram alguns eventos em nosso país que chamaram a atenção internacional de uma nova maneira. Desde 1959 e o triunfo da revolução popular liderada por Fidel Castro, Cuba sempre foi manchete na imprensa mundial: os conflitos iniciais com a igreja, a emigração, o ataque na Baía dos Porcos, o embargo comercial dos EUA, as guerras na África e a proximidade do governo cubano de movimentos revolucionários de outras nações (especialmente na América Latina, onde eles se alastraram); essas eram as histórias que nos colocavam no noticiário.

Também é bastante conhecido o conflito longo e custoso com os EUA, que, às vezes, parece ser a causa, noutras a consequência de todos os problemas mencionados acima.

Alguns meses depois, em novembro, nós nos encontramos de novo, dessa vez em Camagüey, para a cerimônia de beatificação do frei José Olallo Valdes, líder religioso do século 19 que dedicou sua vida a servir os pobres e doentes da cidade. A presença do novo chefe de Estado sugeria uma nova abordagem não só em relação à necessidade de mudanças socioeconômicas, mas em relação à igreja.Porém, o passo mais significativo e transformador desse relacionamento com a igreja foi a resposta positiva de Raúl Castro à minha carta de abril de 2010, na qual me disse que tinha posto fim às ações contra as mulheres e familiares dos prisioneiros e deixado claro seu desejo de ouvir, através da intervenção da igreja, suas exigências.

Foi um gesto inédito e inesperado, que surpreendeu a todos. Não era a primeira vez que os bispos cubanos apelavam para as autoridades intercederem em nome dos prisioneiros e suas famílias – ato apropriado à missão da instituição -, mas quase nunca tínhamos uma resposta. A igreja em Cuba nunca tinha sido reconhecida como uma mensageira respeitada do povo. Minha carta tinha gerado uma resposta e a resposta gerou o diálogo.

Diálogo esse que levou à libertação de 53 prisioneiros de um grupo de 75 que estava preso desde 2003. Outro grupo, de mais de 70, foi solto depois, de maneira que entre julho de 2010 e março de 2011, mais de 126 pessoas foram libertadas. A maioria foi para a Espanha, para encontrar os familiares; outros se mudaram para Miami ou outras cidades dos EUA; 12 preferiram ficar em Cuba.

Em dezembro de 2011, o governo soltou quase 3.000 presos, motivado, de acordo com Raúl Castro, pela visita de Bento 16, em março de 2012, e por respeito ao 400º aniversário da santa padroeira do país.O diálogo nos permitiu discutir outros assuntos de interesse da igreja e da sociedade. Falamos com as autoridades – não só o presidente – sobre a precária situação econômica do país, os medos e exigências dos cidadãos, as dúvidas, desejos e esperanças de uma parte significativa da população. Conhecemos essas realidades graças à rede de paróquias, igrejas e capelas que nossos padres construíram pelo país e aos religiosos e missionários que visitam os doentes, como os voluntários do Caritas, catequistas e outros agentes pastorais que vão de cidade em cidade, por menores que sejam.

Nossa função, como pastores em Cuba, abrange homens e mulheres, com seus medos e frustrações, ilusões e expectativas, possíveis ou irreais. De fato, a situação está se alterando, talvez com idas e vindas difíceis de definir e objetivos ainda não claros. A mudança começou, esporadicamente e sem um caminho traçado, mesmo que alguns não a desejem nem a reconheçam. Nesse contexto social em mutação, no qual as mais variadas expressões sociais querem ser ouvidas, de uma forma ou de outra, a igreja conseguiu ser reconhecida como uma instituição que tem um papel na sociedade cubana.

Não sabemos até que ponto esse diálogo vai avançar, nem seu conteúdo ou os possíveis resultados que trará, mas é através dele e só dele que a igreja almeja ao bem-estar material e espiritual dos cubanos e da sociedade. É parte essencial da nossa missão. Em meio à profunda crise econômica que afeta o mundo, Cuba vive seu turbilhão particular.

Incapaz de escapar das dificuldades mais amplas, vivemos também um momento de aflição espiritual e existencial. O “sonho cubano”, iniciado em janeiro de 1959, mesclado à simples intuição e ao desejo sincero dos pobres dessa terra, não foi realizado, pelo menos não como foi idealizado.

É verdade que houve conquistas sociais importantes, mas também muito sofrimento; racionamentos e confrontos; excessivas limitações à liberdade e frustração. Durante anos, a igreja, tanto em público quanto em particular, pediu às autoridades que pusesse em prática as mudanças necessárias para melhorar a vida da população, para que ela realizasse todo o seu potencial. Ela estimula as mudanças que estão acontecendo e espera que outras sejam introduzidas pelo bem do país e de seus cidadãos.

“Nesse processo”, disse Bento 16 a bordo do avião que o levou à América Latina, “que requer paciência, mas também determinação, pretendemos ajudar com o diálogo, para evitar traumas. Por essa razão queremos que todos se unam num esforço pela reconciliação e renovação da esperança”.

As cinzas dos sonhos passados não ajudam a construir um futuro promissor. É preciso uma transformação que venha do coração e é por isso que agimos de acordo com a fé cristã.

* O cardeal Jaime Ortega é arcebispo de Havana.

De acordo com um professor africano nos Estados Unidos, o terrível flagelo que a Eritreia sofre recebe pouca atenção internacional porque é um país pequeno, pobre e com população reduzida.

Mas a Eritreia, diz Habtu Ghebre-Ab, é um dos piores lugares do mundo para ser um crente – muçulmano ou cristão.

Ghebre-Ab nasceu e cresceu na Etiópia, de pais eritreus, e viveu na Etiópia até a idade de 18 anos. Agora nos EUA, fundou uma organização sem fins lucrativos, In Chains for Christ. Leciona História na Universidade de Cincinnati.

Nesta entrevista, ele revela detalhes pouco conhecidos da dura política antirreligiosa da Eritreia.

Quando você conheceu Cristo?

Ghebre-Ab: Eu conheci Cristo quando era criança. Nasci e cresci na Igreja Ortodoxa dos meus pais, verdadeiramente piedosos, e por isso a minha exposição ao cristianismo e ao Evangelho remonta aos primeiros anos da minha vida. (…) Oito ou nove anos atrás, retornei à fé de meus pais, à Igreja Ortodoxa, à qual hoje sirvo como diácono.

Embora seja difícil fazer estimativas confiáveis, você poderia nos contar um pouco sobre o panorama religioso atual na Eritreia?

Ghebre-Ab: O povo da Eritreia é muito religioso. A religião é parte integrante da vida das pessoas; o cristianismo e o islamismo coexistiram livremente durante séculos. Hoje, dos 4 milhões de habitantes, cerca 50% deles são cristãos; e a outra metade pertence ao Islã. A Igreja Ortodoxa é, naturalmente, a maior denominação cristã na Eritreia e na Etiópia, e representa cerca de 95% da população cristã.

Um relatório da Freedom House diz: “A Eritreia é uma nação em perpétuo estado de emergência, sob o cerco de seus próprios líderes, com uma população à qual são negadas as liberdades mais básicas de expressão, reunião, imprensa e prática religiosa”. O que isso significa para os cristãos da Etiópia de hoje?

Ghebre-Ab: O que isso significa para os cristãos é que, embora as igrejas ditas minoritárias sejam proscritas, desde maio de 2002, foram literalmente transformadas em criminosas; seus membros e seus líderes são jogados na prisão e o culto não é permitido na Eritreia. No início dos anos 90, houve indícios da política antirreligiosa do governo sobre as Testemunhas de Jeová e a comunidade muçulmana na Eritreia. Quanto à Igreja Ortodoxa eritreia, houve atos de queima de Bíblias desde 1995. Foi em maio de 2002, no entanto, que o governo eritreu pôs em prática sua política antirreligiosa.

Hoje, dentro das forças armadas, as Bíblias ainda são confiscadas e as pessoas que são descobertas em oração são castigadas. Desde 2005, a Igreja Ortodoxa da Eritreia tem sido o principal alvo; seu patriarca, Sua Santidade Abune Antonios, foi colocado sob prisão domiciliar. Embora o patriarca Antonios tenha diabetes e problemas de pressão arterial, não recebe cuidados médicos nem visitas de ninguém. Assim, os líderes religiosos das Igrejas ortodoxas, assim como os das protestantes, foram presos – alguns deles desde 2004.

Eu gostaria de me centrar na perseguição da hierarquia ortodoxa, mas antes, gostaria de saber: o que provoca esta perseguição do governo?

Ghebre-Ab: O pano de fundo desta política antirreligiosa é, naturalmente, um sistema marxista de crenças que o governo da Eritreia adotou durante a luta armada pela independência. Se você consultar certa literatura que remonta à década de 70, encontrará listas com o número e o nome das religiões que seriam eliminadas assim que a Eritreia se tornasse independente.

Então estava tudo planejado?

Ghebre-Ab: Foi planejado desde o início, mas após a independência houve uma tendência entre os eritreus a retornar à sua fé. Seus anos de sofrimento haviam terminado; a Eritreia conseguiu a independência e muitos jovens se tornaram mais religiosos, mais espirituais. Acho que o governo, que tinha esse fundo marxista, sempre se sentiu desconfortável com o fato de que os jovens – independentemente de seu nível de politização – voltaram à sua fé.

Então não se atrevem a atacar os cristãos e tiveram de esperar até recentemente.

Ghebre-Ab: Exatamente. No que diz respeito à Igreja Ortodoxa da Eritreia, chegaram ao ponto de nacionalizá-la, porque é a maior e mais antiga instituição religiosa. Eu acho que eles pensaram que, ao nacionalizá-la, teriam o controle total da Igreja, teriam o controle total de um grande segmento da população do país.

Quase como a Associação Patriótica Católica Chinesa, que está tentando criar uma igreja do Estado?

Ghebre-Ab: Exatamente; ou talvez seja mais correto dizer que é como a Revolução Bolchevique na União Soviética, quando os bolcheviques queriam controlar as igrejas permitidas naquela época. Esse é o estado da igreja cristã na Eritreia hoje – eliminar as religiões menores e controlar aquelas que restam. Alguns têm feito muito para resistir. (…)

Qual é a agenda do governo?

Ghebre-Ab: Eu gostaria de poder dizer que eles têm uma agenda – o mundo parece estar completamente surpreso porque este governo não parece saber quais são seus próprios interesses. Não parece saber para onde ir, porque muitas das ações realizadas são arbitrárias. Aqueles de nós que conhecem o esquema, voltando aos tempos de antes da independência, sabem pelo menos uma coisa: que o governo não é favorável em relação à religião.

Em maio de 2002, começou outra onda de severa perseguição contra os cristãos. O que causou isso e de que tipo de perseguição estamos falando?

Ghebre-Ab: Naquela época, o governo disse aos líderes das igrejas que estas deveriam ser fechadas. O pretexto utilizado pelo governo foi que elas não haviam sido registradas de maneira correta. É preciso registrar-se para se tornar uma religião reconhecida. Este foi o pretexto, foi a cortina de fumaça. Algumas igrejas, na época, procuraram atender até mesmo o menor dos requisitos do governo: deram os nomes dos membros da igreja, onde trabalhavam, o que faziam e qual era sua situação econômica. Ao conhecer o funcionamento interno da Igreja, por assim dizer, é mais fácil eliminá-la. O governo pretende eliminar gradualmente a fé na Eritreia em geral e, considerando a evolução da última década, isso é mais certo do que nunca.

Qual é a resposta dos cristãos? Eles se esconderam na clandestinidade? Emigraram?

Ghebre-Ab: As igrejas evangélicas foram as primeiras que passaram à clandestinidade, ainda que o governo tenha tornado isso impossível por seu aparato de segurança: foram perseguidas. Então, a única coisa que podiam fazer era fugir do país, e milhares de jovens – não apenas os crentes -, bem como milhares de pessoas que não são religiosas, agora estão deixando o país e pedindo asilo político em outros países. Existem campos de refugiados no norte da Etiópia e no Sudão, que hospedam esse número crescente de refugiados que saem em massa da Eritreia.

E isso apesar da ordem de atirar para matar qualquer um que seja descoberto fugindo, na fronteira da Eritreia?

Ghebre-Ab: Exatamente. Isso não parece ter afetado o número de pessoas, especialmente de jovens eritreus, que fogem do país. (…)

O que aconteceu com as instituições e tradições reconhecidas: o Islã, a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa eritreia? Como o governo enfrenta e tenta limitar a atividade religiosa das tradições mais antigas?

Ghebre-Ab: Não tenho a pretensão de falar pelos muçulmanos, mas posso dizer que eles também têm sofrido sob este regime. Neste sentido, o governo da Eritreia é verdadeiramente igualitário na hora de perseguir. No que diz respeito às chamadas “igrejas reconhecidas”, a mídia independente foi abolida em 2001; os principais órgãos das organizações reconhecidas, ou seja, o jornal da Igreja Católica, a florescente jornal da Ortodoxa Eritreia, e também os de outras organizações cristãs que supostamente eram reconhecidas, todos esses jornais foram fechados inclusive antes de fecharem os meios de comunicação leigos independentes.

Outra coisa que o governo ordenou, especialmente à Igreja Ortodoxa e à Igreja Católica, é que os padres de determinada idade deveriam apresentar relatórios sobre seu serviço militar. Eu elogio a eparquia católica por ter adotado uma posição inamovível a este respeito, dizendo que não havia nenhuma maneira de que seus sacerdotes pudessem cumprir o serviço militar, mas dado que a Igreja Ortodoxa estava controlada por uma pessoa política nomeada, não conseguiu resistir e os sacerdotes foram obrigados a ir ao exército.

Os Estados Unidos colocaram a Eritreia na lista do Departamento de Estado dos “Países de Especial Preocupação”. Por que não ouvimos falar disso? Por que não se fala disso na comunidade internacional?

Ghebre-Ab: Esta é uma boa pergunta. A Eritreia é um país muito pequeno, com uma população de menos de 4 milhões de pessoas (outros relatórios afirmam que a população é de 5,7 milhões). Grande parte da população tem fugido nos últimos tempos. Houve ondas de êxodo do país, por uma razão ou outra, mas a Eritreia, ao contrário de muitos de seus vizinhos, não tem petróleo, nem uma grande população.

Devido a isso, enquanto outros países perto da Eritreia e o sofrimento do seu povo recebem muita atenção, o povo eritreu nunca recebeu realmente esse tipo de atenção, mesmo durante o tempo em que lutou pela independência contra a União Soviética. Então, enquanto o país continuar sendo considerado insignificante para o resto do mundo, acredito que continuará também sendo deixado de lado.

O que podemos fazer?

Ghebre-Ab: Eu diria que, acima de tudo, devemos rezar pelo povo da Eritreia, mas também cada crente deveria manter contato com seus representantes eleitos, para garantir que o sofrimento do povo da Eritreia receba a atenção necessária.

Agora existe, como disse, milhares de jovens que abandonam o país. Eles estão sofrendo terrivelmente. Os campos de refugiados estão no norte da Etiópia e no Sudão. Seria preciso dar a esses refugiados os direitos próprios dos refugiados, dar-lhes asilo nesses países.

Temos informações recentes sobre o número de eritreus que se afogam no mar Mediterrâneo, quando tentam atravessá-lo da Líbia à Itália ou a Malta, e muitos desses países repatriam os eritreus. No Egito, existem hoje centenas de refugiados, sem qualquer reconhecimento ou ajuda.

O que acontece com aqueles que são repatriados?

Ghebre-Ab: Os relatos dos que escaparam pela segunda vez depois de ser repatriados são terríveis. O tipo de tortura é quase inimaginável. O governo pretende apresentar a sua melhor cara dizendo: “vamos cuidar deles”. Os relatos, no entanto, revelam uma história diferente. Eles sofreram terríveis torturas e o destino de muitos é desconhecido até hoje.

Quais são as limitações enfrentadas pelas igrejas estabelecidas, em termos de publicações e de licenças de construção?

Ghebre-Ab: As igrejas estabelecidas não puderam agir como vinham fazendo sempre. As licenças para construção ou coisas parecidas são algo em que não se pode sequer pensar. Elas têm dificuldades até para manter os edifícios que já possuem. Por exemplo, a Igreja Católica teve algumas boas escolas e, durante o regime anterior, antes da independência da Eritreia, as escolas foram nacionalizadas. Acho que havia uma esperança e os católicos da Eritreia, as pessoas de boa vontade, estavam esperando que estas escolas voltassem à Igreja Católica e esse foi o pedido da Igreja Católica; mas não se cumpriu nada até agora. (…)

Eu li que mais de 3.200 cristãos estão presos por diversos motivos e atividades. Qual é a situação destes cristãos?

Ghebre-Ab: Ninguém sabe. Na verdade, dizemos 3.200 porque é uma estimativa feita pelo Departamento de Estado norte-americano. Minha estimativa pessoal é maior, porque todo o acampamento militar tem seu próprio centro de detenção. Há muitas prisões não oficiais, nas quais ninguém foi a julgamento e ninguém foi acusado de nada diante de um tribunal legalmente constituído. Assim, o melhor que podemos fazer é fornecer uma estimativa de quantas pessoas estão na prisão. Se você contar todos os prisioneiros de consciência, poderiam ser mais de 3.200 e, se formos falar de cristãos, mais uma vez será um número maior. Deixe-me esclarecer uma coisa: existem muitas pessoas que morreram na prisão por sua fé.

Como são essas prisões?

Ghebre-Ab: Essas prisões foram concebidas para castigar e são sádicas. Há relatos de que pessoas foram presas na parte subterrânea, sem ver a luz durante anos. Não os alimentam bem. Mantiveram pessoas em contêineres de metal, de transporte marítimo. É preciso recordar como essa região do mundo é quente durante o dia e fria durante a noite. E essas pessoas presas em contêineres… Se o governo da Eritreia deixasse as organizações humanitárias internacionais ou a Cruz Vermelha visitar esses locais de detenção ou esses presos, o mundo poderia ver o tipo de condições em que essas pessoas estão. Mas ninguém pôde ver essas pessoas.

Você tem alguma esperança?

Ghebre-Ab: Eu tenho esperança. O povo eritreu é um povo forte. Não vão tolerar esta injustiça por muito tempo. O povo eritreu pagou um grande preço pela liberdade. Eu perdi dois irmãos e doze membros da minha família na guerra pela independência da Eritreia. Pode parecer que minha história é única, mas não é; todos os eritreus contam uma história semelhante. O povo eritreu não pagou todos estes sacrifícios nem sofreu essas indignidades para depois ser proibido de exercer os direitos pelos quais lutou e os direitos que merece.

* * *

Esta entrevista foi realizada por Mark Riedemann para “Deus chora na terra”, um programa rádio-televisivo semanal produzido por Catholic Radio and Television Network, (CRTN), em colaboração com a organização católica Ajuda à Igreja que Sofre.

SÓ PODE DAR NISSO AÍ

Percival Puggina

Retorno ao fato porque é de riqueza extraordinária. Quem assistiu “Diários de Motocicleta” há de lembrar da passagem de Che Guevara pelo leprosário de San Pablo, atendido por uma congregação de religiosas no meio da selva, às margens do Amazonas. E há de lembrar que para os sinistros efeitos do filme, Che é apresentado como um santo abrasado de amor aos enfermos, e as irmãs como um perverso corpo de autoridades locais. Pura mistificação! Após duas semanas fazendo travessuras por ali enquanto superava uma crise de asma, Che bateu asas e foi fazer seu turismo revolucionário noutra freguesia. Quanto às irmãs, tão maltratadas pelo filme, continuaram, vida afora, enfiadas no mato, cuidando dos leprosos. Eis um bem torneado exemplo da diferença entre o verdadeiro amor ao próximo e a fantasia que empresta ao marxismo e ao comunismo o brilho vulgar das lantejoulas. Para o cineasta Walter Salles as religiosas eram megeras e Guevara um anjo de bondade.

Tem sido cada vez mais recorrente a publicação de artigos sobre Educação. Junto-me, então, a administradores, economistas, empresários, filósofos que enveredaram por essa pauta. Vou enfocá-la sob um aspecto que – não se surpreenda, leitor – tem muito a ver com o filme abordado acima. Aliás, são tão recorrentes as reflexões sobre o tema da Educação por profissionais das mais variadas especialidades que o fato já despertou reações adversas, contestando a concessão de espaço para quem não é do ramo. Os não educadores seriam meros palpiteiros. Mas convenhamos, é muito difícil ficar calado diante do que se vê.

Imagine um brasileiro que percorra do primeiro ao último degrau o sistema de ensino do país. Qual a corrente filosófica a que mais esteve submetido durante todo esse período, ainda que haja trocado de escola, de cidade e de Estado, em cada trecho do percurso escolar? Pois é. Marxismo. É análise marxista, crítica marxista, economia marxista, visão marxista da história, teologia da libertação, pedagogia do excluído e, como lastro para o materialismo histórico, camadas maciças de maledicência sobre o cristianismo.

Esse marxismo de polígrafo escolar tem a profundidade de um pires. Os que o lambem como tema de casa são incapazes de escrever uma lauda a respeito, mas saem do colégio prontinhos para ler a vida com os olhos que lhes deram. Assistem “Diários de Motocicleta” e concluem: no peito de Che batia um coração de mártir; já o coração daquelas beatas do leprosário não se abria nem com formão e martelo.

Só escapam dessa linha de montagem, que inclui a maioria dos estabelecimentos de ensino confessionais, os poucos estudantes que recebem em casa, ou de algum professor achado por pura sorte no meio do caminho, dose suficiente de antídoto para enfrentar o que lhes é ministrado ao longo dos cursos. Se mesmo nos bons educandários, deixa-se de lado a sã filosofia e se depreciam os grandes valores que inspiraram e inspiram a imensa maioria dos melhores vultos da humanidade, pergunto: como esperar das elites brasileiras que junto a esses estabelecimentos buscam formação, coisa melhor do que isso que vemos por aí? Quando parece muito normal que o governo contrate um grupo para escrever o passado (Walter Salles faria excelente documentário sobre a comissão), a temática educacional há de ser, sim, motivo de grave preocupação para quem reflita sobre o futuro do país.

Zero Hora, 20/05/2012