Pope Francis is framed in a smartphone as he greets journalists on board the flight to Nairobi, Kenya, Wednesday, Nov. 25, 2015. Pope Francis is traveling to Africa for a six-day visit that is taking him to Kenya, Uganda and the Central African Republic. (AP Photo/Andrew Medichini)

O Vaticano vê com “serenidade” a segurança do Papa no Egito. Assim falou o porta-voz da Santa Sé, Greg Burke, que também revelou que Francisco vai transitar em um veículo “normal, coberto, mas não blindado” – na verdade, um Volkswagen Golf – durante sua viagem, a ser realizada entre 28 e 29 de abril.

Durante as quase 27 horas em que o Papa estará no Egito, que entrou em estado de emergência após os ataques contra igrejas coptas que causaram 46 mortes, em 11 de abril, Francisco vai transitar em veículos sem blindagem, informou o porta-voz papal.

Greg Burke evitou falar de “preocupação” da Santa Sé em relação às medidas de segurança que rodeiam o Papa e as contextualizou como “coisas que devem ser levadas em consideração”.

Por isso, ele ilustrou a atitude do Papa perante a visita pelo exemplo do tipo de veículo que Jorge Bergoglio utilizará em seus deslocamentos.

“O Papa quer ir adiante e nós estamos indo adiante com serenidade”,disse o porta-voz.

Burke declarou que por parte do Vaticano as medidas de segurança aplicadas serão “as mesmas” de outras viagens papais.
E sobre o respeito aos direitos humanos no Egito, ele respondeu com um lacônico “Vamos ver o que o Papa tem a dizer” quando foi perguntado se Francisco vai abordar o assunto com as autoridades egípcias.

“É um momento importante para o diálogo inter-religioso”, disse Burke, resumindo o significado desta viagem ao Egito, que será o vigésimo sétimo país visitado por Francisco durante o seu pontificado.

O deslocamento para o Cairo, disse o porta-voz, tem um significado triplo: pastoral, pelo encontro com a comunidade católica local, ecumênico,pelas reuniões com os cristãos coptas, e inter-religioso, pelo contato com representantes muçulmanos.

Durante sua visita à cidade, o Papa argentino pronunciará um total de cinco discursos: na conferência internacional de paz da qual participa na sexta-feira, em sua reunião com as autoridades, durante sua visita ao Papa Copta ortodoxo Tawadros II, na homilia da missa de sábado e diante do clero e de religiosos católicos.

A partida do Papa do aeroporto Fiumicino de Roma está prevista para a sexta-feira, 28 de abril, às 10:45 horário local (08:45 GMT), e sua chegada no Cairo para as 14:00 horário local (00:00 GMT). Depois, ele irá ao palácio presidencial, onde o chefe de Estado Abdel Fattah El-Sisi dará as boas-vindas oficiais.

Após, o Papa vai à instituição egípcia al Azhar, o centro de referência do islamismo sunita, onde vai visitar o Sheikh Ahmad al Tayeb, seu líder máximo, com quem participará, em seguida, da conferência internacional de paz.

Nesse encontro, o Papa pronunciará o primeiro de seus discursos, depois da fala de Al Tayeb, especificou o porta-voz do Vaticano, que disse que a Santa Sé ainda não tem a programação detalhada do evento.

A sessão de sexta-feira continuará com uma reunião com as autoridades – membros do governo, representantes do corpo diplomático, da Universidade e da cultura-, onde acontecerá o segundo discurso do Papa, depois do presidente Al Sisi.

O dia terminará com a visita cordial de Francisco ao papa copto ortodoxo, Tawadros II. Ele discursará e Francisco responderá a ele em seu terceiro discurso da viagem.

Com o papa Tawadros II, Francisco irá até a Igreja de São Pedro, onde ambos farão uma oração ecumênica pelas vítimas dos atentados contra os cristãos dos últimos meses.

O Papa Francisco ficará hospedado na nunciatura do Vaticano no Cairo, onde ele irá jantar e, em seguida, cumprimentar cerca de trezentos jovens que vão ao Cairo em peregrinação pela visita do pontífice, disse Burke.

No dia seguinte, o Papa celebrará uma missa na Estádio da Aeronáutica Egípcia, lugar escolhido há alguns dias, destacou o porta-voz do Vaticano.

O Papa, em seguida, almoçará com bispos e religiosos egípcios e mais tarde deve fazer seu último discurso, durante um encontro de oração do qual também participarão religiosos e seminaristas católicos.

A partida do Papa está prevista para às 17:00, horário local (15:00 GMT), em um voo da Alitalia que chegará ao aeroporto Ciampino de Roma cerca de três horas e meia depois.

Fonte: Religión Digital

Pope Francis poses with young people during an encounter with youth in Cagliari, Sardinia, Sept. 22. (CNS photo/Paul Haring) (Sept. 23, 2013) See POPE-SARDINIA Sept. 23, 2013.

A Igreja não é um “flashmob” e a vida não é um “reality show”. Os jovens não devem “resetar” o seu passado nem “arquivá-lo em uma nuvem” virtual, mas devem salvar a memória dos acontecimentos e das experiências vividas, inclusive as experiências negativas, para encarar com “coragem” o presente e com “esperança” o futuro.

O Papa Francisco fala aos jovens e como um jovem na mensagem que enviou por ocasião da 32ª Jornada Mundial da Juventude, que se celebrará em nível diocesano no próximo Domingo de Ramos, no dia 09 de abril. Bergoglio começou recordando o “maravilhoso encontro” da JMJ de julho do ano passado em Cracóvia: “experimentamos com força a fraternidade e a alegria, e demos ao mundo um sinal de esperança; as diversas bandeiras e línguas não eram motivo para enfrentamentos e divisões, mas uma oportunidade para abrir as portas do nosso coração, para construir pontes”.

E depois refletiu sobre o tema do evento: “O Todo-poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1, 49), do Magnificat, para mostrar o exemplo de Maria, “muito jovem” e mulher corajosa de Nazaré, que “não se fecha em casa, não se deixa paralisar pelo medo ou pelo orgulho. Maria não é daquelas pessoas que, para estar bem, precisam de um bom sofá onde ficar cômodas e seguras. Não é uma jovem-sofá. Vendo que sua prima idosa precisa de uma mão, ela não perde tempo e põe-se imediatamente a caminho”, exclamou o Papa recordando a expressão que utilizou durante a vigília no Campo da Misericórdia.

Maria, disse, “nos acompanha no caminho para Panamá”, “e quis que este itinerário – explicou em uma videomensagem que acompanha o texto – se fizesse em sintonia com a preparação para o próximo Sínodo dos Bispos, que é dedicado a vocês, aos jovens”: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, durante o qual “nos interrogaremos sobre como vocês, os jovens, vivem a experiência de fé em meio aos desafios da nossa época. Também vamos abordar a questão de como se pode desenvolver um projeto de vida discernindo sua vocação, tomada no sentido amplo, isto é, o matrimônio, no âmbito laical e profissional, ou também a vida consagrada e sacerdotal. Desejo que haja uma grande sintonia entre o itinerário que levará à JMJ do Panamá e o caminho sinodal”.

Tudo isso com a certeza de que “quando Deus toca o coração de um jovem, de uma jovem, estes tornam-se capazes de ações verdadeiramente grandiosas. As ‘maravilhas’ que o Todo-poderoso fez na existência de Maria falam-nos também da viagem da nossa vida, que não é um vagar sem sentido, mas uma peregrinação que, mesmo com todas as suas incertezas e tribulações, encontra em Deus a sua plenitude”. Então, embora sejam fracos, limitados, pecadores, “como a jovem Maria”, os jovens “podem fazer com que sua vida se torne instrumento para melhorar o mundo. Jesus chama vocês para deixar a sua marca na vida, uma marca que determine a história, a sua história e a história de muitos”.

E, falando de história, Francisco convidou as novas gerações a olharem também para o passado. “Ser jovem não significa estar desconectado do passado”, explicou: “a nossa história pessoal insere-se em uma longa esteira, no caminho comunitário dos séculos que nos precederam”. E “a história da Igreja ensina-nos que, mesmo quando ela tem de atravessar mares agitados, a mão de Deus a guia, fá-la superar momentos difíceis. A verdadeira experiência de Igreja não é como um flashmob em que se marca um encontro, faz-se uma representação e depois cada um prossegue pelo seu caminho”, afirmou Bergoglio. Mais, a longa tradição, “que se transmite de geração em geração” e se “enriquece ao mesmo tempo com a experiência de cada indivíduo”: “Também a sua história encontra o seu lugar dentro da história da Igreja”, acrescentou o Papa aos jovens.

Portanto, “fazer memória do passado é útil também para acolher as intervenções inéditas que Deus quer realizar em nós e através de nós. E ajuda a abrir-nos para sermos escolhidos como seus instrumentos, colaboradores dos seus projetos salvíficos”. É verdade que “alguns jovens, feridos pelas circunstâncias da vida, gostariam de ‘resetar’ o seu passado, exercer o direito ao esquecimento”, admitiu o Papa. Mas não devemos esquecer que “não há santo sem passado, nem pecador sem futuro. A pérola nasce de uma ferida da ostra! Com o seu amor, Jesus pode curar os nossos corações, transformando as nossas feridas em verdadeiras pérolas”.

Então, as recordações não devem “ficar todas comprimidas, como na memória de um disco rígido. Nem é possível arquivar tudo em uma ‘nuvem’ virtual. Temos que aprender a fazer com que os fatos do passado se tornem realidade dinâmica, refletindo sobre ela e dela tirando lições e sentido para o nosso presente e o nosso futuro. Tarefa difícil, mas necessária – admitiu o Papa –, é descobrir o fio condutor do amor de Deus que une toda a nossa existência”.

“Muitos dizem que vocês, jovens, são sem memória e superficiais. Não concordo de maneira alguma!”, acrescentou o Papa, embora tenha reconhecido que “em nosso tempo temos que recuperar a capacidade de refletir sobre a própria vida e projetá-la para o futuro”. “Ter um passado não é o mesmo que ter uma história. Na nossa vida, podemos ter tantas recordações, mas delas… quantas constroem verdadeiramente a nossa memória? Quantas são significativas para os nossos corações e ajudam a dar um sentido à nossa existência? Os rostos dos jovens, nas ‘redes sociais’, aparecem em muitas fotografias que contam acontecimentos mais ou menos reais, mas de tudo isso não sabemos quanto seja ‘história’, experiência que possa ser narrada, dotada de uma finalidade e de um sentido”.

O Papa chamou a atenção para as falsas projeções da vida, como programas de TV cheios dos chamados “reality shows”: “não são histórias reais; são apenas minutos que transcorrem diante de uma tela, nos quais os personagens passam o dia, sem um projeto. Não se deixem transviar por esta falsa imagem da realidade! Sejam protagonistas da sua história, decidam o seu futuro!”

E ofereceu-lhes algumas indicações práticas: “No fim de cada dia, podemos deter-nos alguns minutos para lembrar os momentos belos, os desafios, o que foi bom e o que não foi bom. Assim, diante de Deus e de nós mesmos, podemos manifestar os sentimentos de gratidão, arrependimento e entrega, até mesmo – se quiserem – anotando-os em um caderno, uma espécie de diário espiritual”. Isto, explicou o Pontífice, “quer dizer rezar na vida, com a vida e sobre a vida e, com toda segurança, lhes ajudará a compreender melhor as grandes obras que o Senhor realiza em cada um de vocês. Como dizia Santo Agostinho, podemos encontrar Deus nos vastos campos da nossa memória”.

O Papa encorajou os jovens para “não fixar-nos apenas nos problemas e nas dificuldades”. Pelo contrário, indicou, deveriam converter suas vidas em “um dom para toda a humanidade”. E isto só é possível, destacou, graças ao encontro entre os jovens e os idosos, uma “extraordinária fonte de riqueza”. “Que importância vocês dão aos seus idosos, aos seus avós?”, perguntou Francisco. “Vocês, justamente, aspiram a ‘levantar voo’, levam em seu coração muitos sonhos, mas têm necessidade da sabedoria e da visão dos anciãos. Enquanto abrem suas asas ao vento, é indispensável que descubram suas raízes e que tomem o testemunho das pessoas que precederam vocês”.

“É verdade que vocês têm poucos anos de vida e, por isso mesmo, podem sentir dificuldades para dar o devido valor à tradição. Tenham bem presente que isto não significa ser tradicionalista. Não. Quando Maria diz, no Evangelho, ‘o Todo-poderoso fez em mim maravilhas’, ela entende que aquelas ‘maravilhas’ não acabaram, mas continuam a realizar-se no presente. Não se trata de um passado remoto. Saber fazer memória do passado não significa ser nostálgico ou ficar preso a um determinado período da história, mas saber reconhecer as próprias origens, para voltar sempre ao essencial e lançar-se com fidelidade criativa na construção de tempos novos”.

De fato, seria um problema, disse Bergoglio, e não faria bem a ninguém, “cultivar uma memória paralisante, que levasse a fazer sempre as mesmas coisas da mesma maneira”. Por outro lado, “uma sociedade que valoriza apenas o presente, tende também a desvalorizar tudo aquilo que se herda do passado, como, por exemplo, as instituições do matrimônio, da vida consagrada, da missão sacerdotal. Estas acabam por ser vistas como sem sentido, como formas ultrapassadas. Pensa-se viver melhor em situações chamadas ‘abertas’, comportando-se na vida como em um reality show, sem propósito e sem rumo”.

“Não se deixem enganar”, recomendou o Papa. “Deus veio ampliar os horizontes da nossa vida, em todas as direções. Ele nos ajuda a dar o devido valor ao passado, para melhor projetar um futuro de felicidade. Mas isto somente é possível quando vivemos experiências autênticas de amor, que se concretizam na descoberta da vocação do Senhor e na adesão a ela”. Esta é, concluiu Francisco, “a única coisa que nos torna verdadeiramente felizes”.

A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 21-03-2017. A tradução é de André Langer.

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O Papa Francisco sempre surpreende com a escolha de carros. Primeiro foi quando ele parou de utilizar um papamóvel blindado, depois escolheu um Fiat 500L em seu giro pelos Estados Unidos e até um Renault 4L. Agora, para dar o exemplo, decidiu aceitar um dos muitos presentes que recebe diariamente: um carro elétrico. Desta maneira, transformou-se no primeiro líder mundial a utilizar um veículo 100% sustentável.

O presente, um Nissan Leaf, foi doado pelo Wermuth Asset Management, um grupo de investimentos alemão especializado em energia renovável. A princípio, de acordo com o jornal alemão Der Spiegel, a empresa tinha dado ao papa um Tesla Model S, mas Francisco pediu um modelo mais simples.

A aceitação do novo carro eco-friendly faz parte de um esforço mais amplo do Vaticano para comunicar uma mensagem sobre a importância de proteger o meio ambiente. De fato, os últimos rumores da casa sagrada do cristianismo asseguram que o banco do Vaticano deixará de investir em negócios relacionados aos combustíveis fósseis. Esta campanha, no entanto, começou com Bento XVI, que, em 2008, decidiu instalar 2.400 painéis solares no pequeno estado romano.

O Leaf é o carro sustentável mais vendido do mundo, especialmente nos Estados Unidos, Japão – país de origem – e Europa. Nos últimos cinco anos, o grande volume de vendas evitou a emissão de 328.482 toneladas de CO2.

“O fato de que o Papa comece a utilizar um carro 100% elétrico é uma grande notícia para o mundo”, disse o chefe de investimentos Wermuth Jochem Wermuth ao jornal italiano La Repubblica.

E acrescentou: “É um exemplo a ser seguido por outros chefes de Estado e por qualquer pessoa no mundo”.

“Hoje, já não é apenas moralmente correto, mas, além disso, é mais barato ter um carro elétrico, comparado a um carro de motor a combustão”, revelou a empresa.

Por Infobae

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Publicamos abaixo a entrevista que o Santo Padre Francisco concedeu ao periódico Scarp de’ tenis, publicação mensal de rua, projeto editorial e social apoiado pela Cáritas Ambrosiana e pela Cáritas Italiana.

A entrevista foi realizada em preparação à visita do papa à diocese de Milão, programada para o dia 25 de março de 2017.

Isso já tinha acontecido com um jornal das villas miserias argentinas, Cárcova News, depois com um jornal de rua holandês de Utrecht, Straatnews. Mas não existe dois sem três. Em vista da próxima visita a Milão, que ocorrerá no sábado, 25 de março de 2017, Francisco concedeu uma longa entrevista a uma publicação mensal dos sem-teto milaneses.

O Scarp de’ tenis é um jornal, mas também um projeto social. Seus protagonistas são os moradores de rua e outras pessoas em situação de dificuldade pessoal ou que sofrem formas de exclusão social. O jornal pretende lhes dar uma ocupação e complementar a sua renda. Mas, em primeiro lugar, pretende acompanhá-los na reconquista da autoestima.Quem realizou a entrevista – tornada pública pelo escritório de imprensa da Diocese de Milão – foi o diretor Stefano Lampertico e Antonio Mininni, antes vendedor e depois histórico responsável pela redação de rua.

Santo Padre, falamos do povo dos invisíveis, dos moradores de rua. Algumas semanas atrás, no início do inverno [europeu] e com a chegada do grande frio, o senhor deu ordens para acolhê-los no Vaticano, para abrir as portas das igrejas. Como o seu apelo foi acolhido?

O apelo do papa foi ouvido por muitas pessoas e por muitas paróquias. Muitos o ouviram. No Vaticano, há duas paróquias, e cada uma delas hospedou uma família síria. Muitas paróquias de Roma abriram as portas para a acolhida, e eu sei que outras, não tendo lugar nas casas paroquiais, coletaram dinheiro para pagar o aluguel para pessoas e famílias necessitadas por um ano inteiro. O objetivo a ser alcançado deve ser o da integração. Por isso, é importante acompanhá-los por um período inicial. Em muitas partes da Itália, muito foi feito. As portas foram abertas em muitas escolas católicas, nos conventos, em tantas outras estruturas. Por isso, eu digo que o apelo foi ouvido. Sei também de muitas pessoas que ofertaram dinheiro para que se pudesse pagar o aluguel para as pessoas sem-teto.

No passado, o mundo inteiro escreveu sobre os sapatos do papa, sapatos de trabalhador e caminhante, e recentemente a mídia ficou surpresa e contou que o papa tinha ido até uma loja para comprar um par de sapatos novos. Por que tanta atenção? Talvez por que hoje é difícil se colocar – como o Scarp de’ tenis convida a fazer – nos sapatos dos outros?

É muito difícil se colocar “nos sapatos dos outros”, porque muitas vezes somos escravos do nosso egoísmo. Em um primeiro nível, podemos dizer que as pessoas preferem pensar nos próprios problemas, sem querer ver o sofrimento e as dificuldades do outro. Mas há outro nível. Colocar-se “nos sapatos dos outros” significa ter uma grande capacidade de compreensão, de entender o momento e as situações difíceis. Dou um exemplo: no momento do luto, dão-se as condolências, participa-se do velório ou da missa, mas são realmente poucos aqueles que “se colocam nos sapatos” daquele viúvo ou daquela viúva ou daquele órfão. Certamente, não é fácil. Sente-se dor, mas, depois, tudo termina ali. Se pensarmos, além disso, nas existências que muitas vezes são marcadas pela solidão, então colocar-se “nos sapatos dos outros” significa serviço, humildade, magnanimidade, que é também a expressão de uma necessidade. Eu preciso que além se coloque “nos meus sapatos”. Porque todos precisamos de compreensão, de companhia e de alguns conselhos. Quantas vezes eu encontrei pessoas que, depois de ter buscado conforto em um cristão, seja ele leigo, padre, freira, bispo, me diz: “Sim, ele me ouviu, mas não me entendeu”. Entender significa “colocar-se nos sapatos dos outros”. E não é fácil. Muitas vezes, para suprir essa falta de grandeza, de riqueza e de humanidade, perde-se nas palavras. Fala-se. Aconselha-se. Mas, quando só há as palavras ou palavras demais, não há essa “grandeza” de se “colocar nos sapatos dos outros”.

Santidade, quando o senhor encontra um sem-teto, qual é a primeira coisa que lhe diz?

“Bom dia.” “Como vai?” Algumas vezes, trocamos poucas palavras, outras vezes entramos em relação e ouvimos histórias interessantes: “Estudei em um colégio, havia um padre muito bom…”. Alguns poderiam dizer: “Mas o que me interessa?”. As pessoas que vivem na rua entendem logo quando há o verdadeiro interesse por parte parte da outra pessoa ou quando há, não quero dizer aquele sentimento de compaixão, mas certamente de pena. Pode-se ver um sem-teto e olhá-lo como uma pessoa ou como se fosse um cachorro. E eles percebem esse modo diferente de olhar.

No Vaticano, é famosa a história de uma pessoa sem-teto, de origem polonesa, que geralmente ficava na Piazza Risorgimento, em Roma, não falava com ninguém, nem com os voluntários da Cáritas que, à noite, levavam-lhe uma refeição quente. Só depois de muito tempo é que conseguiram fazer com que ela contasse a sua história: “Sou padre, conheço bem o papa de vocês, estudamos juntos no seminário”. A história chegou até São João Paulo II que, tendo ouvido o nome, confirmou que estivera com ele no seminário e quis encontrá-lo. Eles se abraçaram depois de 40 anos e, no fim de uma audiência, o papa pediu para ser confessado pelo sacerdote que tinha sido seu companheiro. “Agora, porém, é a sua vez”, disse-lhe o papa. E o companheiro de seminário foi confessado pelo papa. Graças ao gesto de um voluntário, de uma refeição quente, de algumas palavras de conforto, de um olhar de bondade, essa pessoa pôde se reerguer e começar uma vida normal que o levou a se tornar capelão de um hospital. O papa o havia ajudado. Certamente, esse é um milagre, mas é também um exemplo para dizer que as pessoas sem-teto têm uma grande dignidade.

No arcebispado, em Buenos Aires, debaixo de uma marquise, entre as grades e a calçada, moravam uma família e um casal. Ali, eu os encontrava todas as manhãs quando saía. Eu os cumprimentava e trocava sempre duas palavras com eles. Nunca pensei em expulsá-los dali. Mas alguns me diziam: “Eles sujam a Cúria”, mas a sujeira está dentro. Eu acho que é preciso falar com as pessoas com grande humildade, não como se tivessem que nos pagar uma dívida e não tratá-las como se fossem cães.

Muitos se perguntam se é justo dar esmola às pessoas que pedem ajuda nas ruas. O que o senhor responde?

Existem muitos argumentos para se justificar quando não se dá esmola. “Mas como! Eu dou dinheiro, e depois ele gasta para beber um copo de vinho?”. Um copo de vinho é a única felicidade que ele tem na vida. Está bem assim. Pergunte-se, ao contrário, o que você faz às escondidas. Que “felicidade” você busca às escondidas? Ou, ao contrário dele, você é mais sortudo, tem uma casa, uma esposa, filhos. O que o leva a dizer: “Cuidem vocês dele”? Uma ajuda é sempre justa. É claro, não é bom jogar somente uns trocados ao pobre. É importante o gesto, ajudar quem pede olhando-o nos olhos e tocando as suas mãos. Jogar o dinheiro e não olhar nos olhos não são um gesto cristão. Como se pode educar à esmola?

Eu conto uma anedota de uma senhora que eu conheci em Buenos Aires, mãe de cinco filhos (naquele tempo, ela tinha três). O pai estava trabalhando, e eles estavam almoçando. Ouvem bater na porta. O filho mais velho vai abrir: “Mamãe, tem um homem que pede comida. O que fazemos?”. Todos os três, a menor tinha quatro anos, estavam comendo um bife à milanesa. A mãe lhes disse: “Bem, cortemos a metade do nosso bife”. “Não, mamãe, tem outro bife”, disse a menina. “É para o papai, para esta noite. Se devemos doar, devemos dar o nosso bife.” Com poucas palavras simples, eles aprenderam que se deve doar daquilo que é próprio, daquilo de que você nunca gostaria de se separar. Duas semanas depois, a mesma senhora foi à cidade para resolver algumas questões e foi obrigada a deixar as crianças em casa. Elas tinham o tema de casa para fazer, e deixou-lhes o lanche já pronto. Quando voltou, encontrou os três filhos na companhia de um sem-teto à mesa, comendo o lanche. Elas tinham aprendido muito bem e muito rápido. Certamente, tinha lhes faltado um pouco de prudência… Ensinar à caridade não é descarregar as próprias culpas, mas é tocar, olhar para uma miséria que eu tenho dentro e que o Senhor compreende e salva. Porque todos nós temos misérias dentro.

Várias vezes, o papa se inclinou em defesa dos migrantes, convidando à acolhida e à caridade. Milão, nesse sentido, é uma capital da acolhida. Mas muitos perguntam se realmente é preciso acolher a todos, indistintamente, ou se é necessário pôr limites.

Aqueles que chegam à Europa escapam da guerra ou da fome. E nós somos culpados, de algum modo, porque exploramos as suas terras, mas não fazemos nenhum tipo de investimento para que eles possam ter benefícios. Eles têm o direito de emigrar e têm o direito de serem acolhidos e ajudados. Isso, porém, deve ser feito com aquela virtude cristã que é a virtude que deveria ser própria dos governantes, isto é, a prudência. O que significa? Significa acolher a todos aqueles que “podem” ser acolhidos. E isso no que diz respeito aos números. Mas é igualmente importante uma reflexão sobre “como” acolher. Porque acolher significa integrar. Isso é o mais difícil, porque, se os migrantes não são integrados, eles são “guetizados”. Trago sempre na memória do episódio de Zaventem [o atentado no aeroporto de Bruxelas no dia 22 de março de 2016]. Aqueles jovens eram belgas, filhos de migrantes, mas moravam em um bairro que era um gueto.

E o que significa integrar? Também neste caso dou um exemplo: de Lesbos, vieram comigo para a Itália 13 pessoas. No segundo dia de permanência, graças à Comunidade de Santo Egídio, as crianças já frequentavam as escolas. Depois, em pouco tempo, encontraram onde se alojar, os adultos se esforçaram para frequentar cursos para aprender a língua italiana e para procurar algum trabalho. Certamente, para as crianças, é mais fácil: elas vão à escola e, em poucos meses, já sabem falar o italiano melhor do que eu. Os homens buscaram um trabalho e o encontraram. Integrar, então, significa entrar na vida do país, respeitar a lei do país, respeitar a cultura do país, mas também fazer respeitar a própria cultura e as próprias riquezas culturais. A integração é um trabalho muito difícil.

Nos tempos das ditaduras militares em Buenos Aires, olhávamos para a Suécia como um exemplo positivo. Os suecos, hoje, são nove milhões, mas, destes, 890 mil são novos suecos, isto é, migrantes ou filhos de migrantes integrados. A ministra da Cultura, Alice Bah Kuhnke, é filha de uma mulher sueca e de um homem proveniente do Gâmbia. Este é um belo exemplo de integração. Certamente, agora, também na Suécia encontram-se em dificuldades: eles têm muitos pedidos e estão tentando entender o que fazer, porque não tem lugar para todos. Receber, acolher, consolar e logo integrar. O que falta é justamente a integração. Cada país, então, deve ver qual número é capaz de acolher. Não se pode acolher se não há possibilidade de integração.

Na história da sua família, há a travessia do oceano por parte do seu avô e da sua avó, com o seu pai. Como é crescer como filho de imigrantes? O senhor já se sentiu um pouco desenraizado?

Nunca me senti desenraizado. Na Argentina, somos todos migrantes. Por isso, lá, o diálogo inter-religioso é a norma. Na escola, havia judeus que chegavam na maior parte da Rússia e muçulmanos sírios e libaneses, ou turcos com o passaporte do Império Otomano. Havia muita fraternidade. No país, há um número limitado de indígenas. A maioria da população é de origem italiana, espanhola, polonesa, médio-oriental, russa, alemã, croata, eslovena. Nos anos entre os dois séculos anteriores, o fenômeno migratório foi enorme. O meu pai tinha cerca de 20 anos quando chegou à Argentina e trabalhava no Banco da Itália, e se casou lá.

O que o senhor mais sente falta de Buenos Aires? Dos amigos, das visitas às villas miseria, do futebol?

Há apenas uma coisa de que eu sinto muito falta: a possibilidade de sair e andar pela rua. Eu gosto de visitar as paróquias e encontrar as pessoas. Não tenho uma nostalgia em particular. Vou lhes contar outra anedota: os meus avós e o meu pai deveriam ter partido no fim de 1928, tinham o bilhete para o navio “Princesa Mafalda”, navio que afundou nas costas do Brasil. Mas não conseguiram vender em tempo aquilo que possuíam e, assim, mudaram o bilhete e embarcaram no “Giulio Cesare” no dia 1º de fevereiro de 1929. Por isso, estou aqui.

Milão está pronta para acolher o senhor no fim do mês de março. Comecemos pelas organizações de caridade, pelas associações de voluntariado, por aqueles que se preocupam em dar aos sem-teto um lugar para passar a noite, comida, assistência sanitária, oportunidades de resgate. Em Milão, orgulhamo-nos de conseguir fazer isso, e muito bem. É suficiente? Quais são as necessidades daqueles que acabaram nas ruas?

Assim como para os migrantes, muito simplesmente essas pessoas precisam da mesma coisa: ou seja, integração. Certamente, não é simples integrar uma pessoa que não tem casa, porque cada uma delas tem uma história particular. Por isso, é preciso se aproximar de cada um delas, encontrar o modo de ajudá-las e dar-lhes uma mão.

O senhor repete muitas vezes que os pobres podem mudar o mundo. Mas é difícil que exista solidariedade onde existe pobreza e miséria, como nas periferias das cidades. O que o senhor acha?

Também aqui eu relato a minha experiência de Buenos Aires. Nas favelas, há mais solidariedade do que nos bairros do centro. Nas villas miseria, há muitos problemas, mas muitas vezes os pobres são os mais solidários entre si, porque sentem que precisam uns dos outros. Eu encontrei mais egoísmo em outros bairros, não quero dizer ricos, porque seria qualificar desqualificando, mas a solidariedade que se vê nos bairros pobres e nas favelas não se vê em outros lugares, embora a vida ali seja mais complicada e difícil. Nas favelas, por exemplo, vê-se mais a droga, mas só porque nos outros bairros ela está mais “encoberta” e é usada com luvas brancas.

Recentemente, procuramos ler a cidade de Milão de forma diferente, partindo dos últimos e das ruas, e com os olhos das pessoas sem-teto que frequentam um centro diurno da Cáritas Ambrosiana. Com elas, publicamos um guia da cidade, vista a partir da rua, do ponto de vista de quem a vive todos os dias. Santo Padre, o que o senhor conhece da cidade e o que espera da sua iminente visita?

Eu não conheço Milão. Estive lá apenas uma vez, por poucas horas, nos distantes anos 1970. Eu tinha algumas horas livres antes de pegar um trem para Turim e aproveitei para fazer uma breve visita à catedral. Em outra ocasião, com a minha família, estive um domingo para almoçar na casa de uma prima que morava em Cassina de’ Pecchi. Eu não conheço Milão, mas tenho um grande desejo. Espero encontrar muita gente. Esta é a minha maior expectativa: sim, espero encontrar muita gente.

A entrevista foi publicada no jornal L’Osservatore Romano, 28-02-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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O Papa Francisco comemorou nesta quarta-feira nas redes sociais o fato de ter concluído com êxito sua mais recente missão revolucionária: deixar o Vaticano para comprar sapatos novos.

O pontífice argentino de 80 anos visitou na terça-feira uma loja especializada em produtos ortopédicos perto do Vaticano para escolher um par de sapatos ortopédicos que usa para compensar a dor causada por uma neuralgia do nervo ciático.

A visita foi registrada por um punhado de clientes que estavam na loja e que compartilharam as imagens nas redes sociais.

Em um vídeo postado no Facebook na página de Martina Duarte, intitulado “Uma terça-feira com o papa”, a jovem exibe imagens de Francisco na loja. Em algumas, o papa aparece abençoando um crucifixo de um jovem funcionário e tirando fotos com os clientes.

O pontífice chegou na loja, localizada a cerca de 500 metros da Praça de São Pedro, a bordo de um veículo utilitário acompanhado por uma pessoa. Ele conversou com a equipe e foi gentil e sorridente.

As imagens geraram inúmeras reações e comentários, incluindo uma divertida no jornal La Repubblica, que convidou o papa a assumir a prefeitura de Roma, em crise por um escândalo de corrupção

Não é a primeira vez que o papa deixa a sua residência para fazer compras pessoais. Em setembro de 2015, ele escapou do Vaticano para comprar óculos em uma ótica perto da Praça da Espanha, no centro histórico de Roma. 

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No dia 17 de dezembro o Papa Francisco compleou 80 anos. Eleito há menos de quatro anos ao 76º ano de vida, ele continua exibindo um grau incrível de energia e zelo. É razoável supor que ele vá estar a serviço da Igreja por outros cinco anos aproximadamente na qualidade de Bispo de Roma. Para os americanos, e também para muitas outras pessoas, uma questão que se levanta na esteira das eleições dos EUA é como o Papa Francisco pode representar um modelo de liderança que seja diferente daquele que geralmente vemos nos presidentes deste país. Com essa questão em mente, lembro a seguir um pouco do que vimos até agora com este pontífice.

Outros papas visitaram os EUA, mas nenhum havia discursado ao Congresso. Falando lenta e distintamente em inglês, o Papa Francisco pôs-se de pé diante dos legisladores reunidos em setembro de 2015 e assinalou quatro americanos como especialmente exemplares: Abraham Lincoln, Martin Luther King, Thomas Merton e Dorothy Day. Lincoln e King se destacam por seus esforços que visavam pôr fim às injustiças baseadas no racismo; sofreram o martírio por sua obra. Pouco antes da viagem ao país, Francisco havia beatificado Oscar Romero, o bispo de El Salvador assassinado por defender os pobres contra a violência e a predação dos ricos gananciosos. Em no discurso ao Congresso americano, Francisco também deixou claro que uma pauta pró-vida não se preocupa somente com o aborto; o exemplo de uma questão pró-vida que ele ressaltou foi a necessidade urgente de uma abolição mundial da pena de morte. E ao elogiar Merton e Day, Francisco louvava duas vozes articuladas e proféticas que defenderam o fim da guerra em todos os lugares.

Contornando interesses nacionais e institucionais estreitos, o Papa Francisco vem promovendo repetidamente a cooperação internacional entre os povos, melhores relações entre os diversos cristãos e um diálogo inter-religioso que talvez supere o ódio entre cristãos, muçulmanos, judeus e outros. Não importa o quão desencorajador possa ser o ataque das notícias de violência no mundo, Francisco não desiste. Pelo contrário, nessas ocasiões ele redobra os esforços para a reconciliação e da paz.

Aceitando e endossando o consenso científico sobre as mudanças climáticas e questões ambientais relacionadas, o pontífice publicou uma encíclica intitulada Laudato Si’, documento que aplica os princípios morais do Ensino Social Católico ao tema da ação humana na degradação do meio ambiente. Francisco mostra como são os pobres os que sofrem a maior parte dos prejuízos ambientais, enquanto os ricos evitam reconhecer ou, de alguma forma, mudar seus modos destrutivos e descartáveis. O Ensino Social Católico salienta o bem comum e o que deve ser feito para promovê-lo, tema que Francisco retoma constantemente. Ele enxerga a ganância individual – no ensino católico, um pecado mortal – como o inimigo do bem comum e como um aspecto central para a destruição ambiental. Ao apelar pela colaboração local, nacional e internacional para que se detenham o aquecimento global e outros danos, Francisco põe a solidariedade no cuidado da terra, a casa comum, muito acima dos interesses e lucros particulares.

Em 1980, o superior geral jesuíta Pedro Arrupe criou o Serviço Jesuíta aos Refugiados – organização internacional financiada pela Companhia de Jesus e dedicada a prover vários tipos de assistência e apoio aos refugiados. Francisco, ele mesmo um jesuíta, tem se empenhado em falar na defesa dos refugiados e migrantes, contra aqueles que usam estas pessoas como bodes expiatórios para o desemprego e o crime, e contra aqueles que as usam com finalidades políticas e outros ganhos pessoais. Para Francisco, os pobres são Cristo no meio de nós, o Jesus a quem não havia espaço em Belém, que foi levado como refugiado para o Egito para fugir dos projetos assassinos do rei faminto de poder Herodes.

A misericórdia é o tema dominante do atual papado. Francisco não cansa de exortar os padres para que saiam das zonas de conforto e ministrem próximos do povo, escutando-os em pessoa, ao mesmo tempo pondo os seus pés nas áreas mais pobres, enquanto seus corações se transformam de frios e distantes em calorosos e amorosos. Os padres devem ouvir as histórias humanas sobre casamentos rompidos e trazer o discernimento para suportar assuntos assim, ao invés de meramente repetir regras que podem não se adequar às situações concretas e bagunçadas das pessoas reais.

A descrição das funções de um papa inclui também a administração interna da Igreja Católica, a começar pelos dicastérios e funcionários, conhecidos como a Cúria Romana, juntamente com a nomeação de cardeais e bispos ao redor do mundo. Em um discurso à Cúria em 2014, Francisco parecia especialmente disposto a uma grande reforma nas pessoas e nas instituições, mas alguns analistas observaram o ritmo lento e contínuo de toda e qualquer reforma. Mesmo assim, os cardeais que Francisco tem nomeado vêm sendo um forte indicativo de uma nova maneira de fazer as coisas. Os detentores de arquidioceses grandes e ricas não são mais feitos cardeais automaticamente, sendo muitas vezes preteridos em favor de bispos de dioceses relativamente obscuras, nos confins da terra. Ao nomear os bispos, Francisco não hesita escolher aqueles que dão prioridade ao cuidado dos pobres, imigrantes, refugiados e marginalizados. Na Cúria e entre os bispos e cardeais de vários países, o Papa Francisco certamente tem simpatizantes e críticos, alguns desses últimos sendo bastante ásperos. Porém ele tem evitado uma agenda vingativa, preferindo buscar o diálogo e o consenso sempre que possível.

Nos EUA, alguns se decepcionaram com o ritmo lento das mudanças relativas aos papéis da mulher na Igreja. Os simpatizantes do papa nesse tocante apontam para a resolução amigável que ele deu a uma investigação sobre as irmãs que havia sido iniciada por seu antecessor. Apontam também para a nomeação que fez de uma comissão para estudar os precedentes históricos de diaconisas.

O Papa Francisco exala uma humildade que, com certeza, escapa à maioria dos presidentes ou qualquer pessoa em cargos executivos. Ele literalmente se põe de joelhos e lava os pés de prisioneiros e marginalizados, de ambos os gêneros e de várias religiões. Quando em 2013 lhe perguntaram quem de fato ele é, ele respondeu dizendo ser um pecador. Ilustrou sua resposta lembrando graves equívocos que cometera num período inicial de sua vida, na Argentina, quando não agiu com tanta autoridade diante de uma rigidez autoritária. Enquanto Francisco celebra o seu 80º aniversário, ele com certeza continua a atrair uma admirável atenção de grande parte do mundo, especialmente das pessoas que buscam um modelo de liderança que não esteja vinculado à arrogância e à riqueza.

Thomas Worcester, padre jesuíta, editor do “The Cambridge Companion to the Jesuits”, em artigo publicado por Huffington Post

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Decisão põe fim a uma tradição de 420 anos

Dois anos depois de abrir aos turistas os jardins deste palácio histórico, o Papa Francisco decidiu abrir também para o público os apartamentos privados da residência de verão dos papas em Castel Gandolfo, renunciando de forma definitiva ao uso do local para suas próprias férias.

A partir desta sexta-feira, os visitantes poderão conhecer por dentro esse remanso de paz que tinha sido adquirido pela Santa Sé em 1596, como pagamento de uma dívida familiar dos Gandolfo-Savelli. Em 1626, a propriedade se tornou residência de verão dos pontífices.

Os papas Pio XII e Paulo VI faleceram lá, respectivamente em 1958 e 1978. São João XXIII e São João Paulo II, que apelidava o local, com bom humor, de “Vaticano II”, se transferiam para Castel Gandolfo no verão, conforme a tradição também seguida por Bento XVI.

O Papa Francisco, até o momento, não teve férias. Quando é obrigado a descansar, ele se limita, resignado, a cancelar algum evento e repousar na própria Casa Santa Marta, o local que escolheu como seu domicílio em vez do Palácio Apostólico: “Não posso viver sozinho ou com um grupinho pequeno. Preciso de gente, me encontrar com as pessoas, falar com as pessoas”, afirmou ele ao explicar a decisão, logo no começo do seu pontificado.

Castel Gandolfo, uma villa italiana repleta de história

Os cinco hectares de natureza e arte repletos de história abrangem a villa Barberini e também a antiga villa do imperador Domiciano, o último e cruel imperador da dinastia Flávia, com belíssima vista do lago Albano, nas proximidades de Roma.

A villa, que também alberga o telescópio do Observatório Vaticano, foi dotada de eletricidade em 1934. A partir de 1943, ela foi usada por Pio XII como local de esconderijo para proteger mais de 3.000 judeus que fugiam da perseguição nazista.

Remodelações arquitetônicas foram confiadas ao mestre romano barroco Pietro da Cortona, contemporâneo de Bernini. Para esta abertura aos visitantes, não há nenhuma transformação estrutural prevista.

Desde 11 de setembro de 2015, turistas e peregrinos contam ainda com um pequeno trem que os leva da Cidade do Vaticano até Castel Gandolfo.

 

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Os responsáveis pela comunidade “Papa Giovanni”, do padre Oreste Benzi, tinham dito às jovens que havia uma surpresa, que um cantor famoso iria encontrá-las. No condomínio anônimo na periferia norte de Roma, ninguém percebeu a chegada do Papa Francisco. O carro entrou na garagem subterrânea, e o fizeram passar pelas escadas internas.

Na saída, porém, Francisco passou pela entrada principal, deixando atônitos os poucos transeuntes na rodovia anônima, entre um posto de gasolina e um supermercado. “Mas esse é o papa!”, disse uma senhora com as sacolas de compras; outra lhe ecoou, incrédula: “É o papa bom!”; e uma criança, que acompanhava a escolta do pontífice, repetiu: “O papa me deu cinco beijos”.

No apartamento que abriga as ex-prostitutas, algumas pouco mais do que meninas, assim que o papa saiu, começou a festa. Na pequena cozinha, há duas caixas de pizzas e um suco de laranja. As voluntárias e as jovens se abraçam. Do outro quarto, ainda se ouvem as palmas. Stefania, 22 anos, um nome falso para protegê-la, tem os olhos brilhantes e leva uma das mãos ao coração. No corpo, ela tem as marcas da sua história: o casal que a atraiu na Romênia, com a promessa de um emprego na Itália, cortou-lhe parte das orelhas, arrancou-lhe os cabelos e feriu os seus joelhos para forçá-la a se prostituir.

Quando você soube que o papa viria?

Os responsáveis só tinham nos avisado que viria uma pessoa importante, um cantor. Depois, vimos o papa, com o seu hábito branco! Eu não consigo acreditar que, hoje, eu o abracei e cantei com ele.

Ele falou com cada uma de vocês?

Sim, ele nos abraçou a todas e nos pediu perdão. Disse que se desculpava no lugar de todos os homens que nos fizeram mal, e nos agradeceu, porque nós o ajudamos.

Ele lhe perguntou a sua história?

Eu contei a ele como eu cheguei à Itália. Eu lhe disse que não queria ser prostituta. Eu acreditei naquele casal porque eram pessoas do meu país, tinham me assegurado que eu trabalharia como empregada doméstica ou como babá. Em vez disso, me bateram para ficar nas ruas.

Como o papa reagiu ao seu relato?

Ele me escutou. Eu também lhe mostrei as feridas que ainda tenho. Você vê as minhas orelhas? (Desloca os cabelos que estão crescendo novamente e mostra as orelhas mutiladas.) Depois, ele me abraçou e me deu um terço e um envelope.

O que tinha no envelope?

Nós ainda não os abrimos, não sei, mas não quero dizer, porque é um presente nosso, algo que o papa nos deu, a cada uma de nós.

Como você chegou à comunidade do padre Benzi?

Eles me ajudaram a denunciar os exploradores e, depois de ter sido hospitalizada por um mês, eles me perguntaram se eu queria ficar em uma das casas deles, porque eu precisava de um lugar seguro. Eu tinha muito medo, temia que alguém fizesse mal à minha família. Agora, também encontraram um trabalho para mim. Sou uma pessoa renascida, recomecei a viver como se fosse uma criança.

Você disse isso ao papa?

Sim, e ele me disse para ter confiança, para seguir em frente. Ele me disse que eu fui corajosa e devo continuar.

Você é religiosa? Vai à igreja?

Isso não tem nada a ver. Aqui, há cristãs evangélicas, católicas e pessoas que não falam da sua religião. Nas comunidades “Papa Giovanni XXIII” não nos perguntam se somos fiéis. Todas nós tivemos a mesma emoção, porque esse papa é uma pessoa especial. Quando ele nos abraçou, pensamos que, finalmente, tínhamos voltado a ser mulheres normais, esquecemos por que estamos aqui.

jornal La Repubblica

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“Francisco vem coerentemente rejeitando a narrativa do jihad e das cruzadas. Ele a negou novamente quando se confrontou com o horrível assassinato do Pe. Jacques Hamel na terça-feira da semana passada. Estamos em guerra, disse ele, mas não é uma guerra de religiões“, diz o editorial publicado pelo jornal The Guardian, 31-07-2016. 

O Papa Francisco advertiu os bispos poloneses que uma cultura cada vez mais secularizada e descristianizada está levando as pessoas ao estado de órfãs, sendo vagamente espirituais sem Cristo ou sua igreja.

Falando na catedral de Cracóvia no dia 27 de julho para a Conferência Episcopal irlandesa, organismo composto por 117 bispos, o papa também falou que, por trás da exploração das pessoas e da criação, está em atividade a “colonização ideológica”, o que se vê, por exemplo, na promoção da “teoria de gênero”, cujo objetivo é “aniquilar a espécie humana como a imagem de Deus”.

Seis dias depois de o papa se reunir em privado com os bispos do país, o Vaticano divulgou a transcrição da porção de perguntas e respostas do encontro, que durou 90 minutos. O encontro altamente aguardado veio num momento de desentendimentos dentro da Igreja polonesa quanto a certos aspectos do magistério de Francisco, incluindo os seus apelos por abrigar refugiados.

Francisco respondeu a perguntas feitas por quatro bispos, a primeiro sendo de Dom Marek Jedraszewski, da Arquidiocese de Lodz, que perguntou ao papa qual a ação pastoral que a Igreja polonesa pode tomar para defender os católicos do país de uma “cultura contemporânea ateia-liberal” cada vez maior.

O pontífice concordou com a avaliação do arcebispo quanto à cultura atual e disse que, mesmo onde há sinais de sede espiritual, ela geralmente faz parte de uma “espiritualidade subjetiva sem Cristo”. A resposta da Igreja, falou o papa, deve ser a de estar aí fora, entre o povo, próxima às pessoas e disposta a “perder tempo” com elas.

Ele lembrou uma pessoa que se encontrava hesitante em ir ao confessionário porque estava numa situação em que poderia não receber a absolvição. O pároco, por sua vez, ouviu sua história, abençoou-a e a fez prometer voltar.

Muito embora não pudesse oferecer a absolvição, “o padre ‘perdeu tempo’ a fim de atrair este homem na direção aos sacramentos. Isso se chama proximidade”, disse o papa.

Os bispos, continuou ele, devem também estar próximos de seus padres e imediatamente disponíveis a eles de forma que estes possam “se sentir que possuem um pai”.

O Papa Francisco igualmente salientou que os bispos devem exercitar a paciência no trabalho junto aos jovens que se encontram “aborrecidos”. Ele citou o exemplo de São João Paulo II, quem daria aulas a estudantes universitários e, depois, sairia com eles a passeio.

“Ele daria aulas aos jovens, e depois sairia com eles para as montanhas. [Isso é] proximidade. Ele os escutava, ele ficava com os jovens”, declarou o papa.

Ao responder a uma pergunta levantada pelo bispo auxiliar Leszek Leszkiewicz, da Diocese de Tarnow, sobre se as paróquias ainda são a melhor forma de estender a mão às pessoas e sobre como edificar o zelo missionário, o pontífice ressaltou que a paróquia “é a casa do povo de Deus” e deve ter suas portas bem abertas para recebê-las.

“Existem paróquias com secretarias paroquiais que parecem ‘discípulas de Satanás’, ambientes que assustam as pessoas; são paróquias com portas fechadas”, disse.

Em vez disso, os membros da paróquia devem assumir o manto dos “discípulos missionários” e estender a mão aos que estão longe. “Penso nas pessoas em meu país de origem: se a gente não vai em busca delas, se não tentamos estar próximos delas, elas não vão vir”, completou.

O bispo auxiliar Krzysztof Zadarko, da Diocese de Koszalin-Kolobrzeg, perguntou ao papa não só sobre como ajudar o grande número de refugiados que têm entrado na Europa, mas também sobre como superar “o temor de uma possível invasão ou agressão que tem paralisado a sociedade”.

Francisco respondeu que cada país é diferente e que uma resposta universal não pode ser dada porque “depende da situação de cada país e cultura”. No entanto, o que deve permanecer absoluto é a necessidade de “ter um coração aberto pronto para receber” os que escapam à violência e perseguição. “Isso é absoluto!”.

O papa destacou a necessidade de colocar a questão dos refugiados em seu “contexto” próprio, acrescentando que a difusão de ideologias tem contribuído para as guerras e a exploração que fazem as pessoas fugirem, bem como tem contribuído para a confusão que muitos sentem ao tentar resolver o problema.

“É um problema mundial: a exploração da criação e a exploração das pessoas. Nós vivemos uma época em que a humanidade como a imagem de Deus está sendo aniquilada”, disse ele.

O Papa Francisco relatou aos bispos um diálogo que teve com o Papa Emérito Bento XVI, que lhe disse: “Sua Santidade, nós estamos vivendo uma era de pecado contra Deus, o Criador”.

Entre estes pecados, continuou o papa, está a colonização ideológica e, em particular, a da teoria de gênero, que sustenta que as características de macho e fêmea não são biologicamente determinadas, e sim construtos maleáveis e sociais.

“Hoje, ensina-se às crianças na escolha isto: que cada um pode escolher o seu próprio sexo. E por que eles ensinam isso? Porque os livros vêm daquelas pessoas e instituições que dão dinheiro”, disse.

“Deus criou homem e mulher; Deus criou o mundo assim e nós estamos fazendo exatamente o contrário”, concluiu o papa.

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No dia 4 de junho passado, tocou o telefone na hora do almoço na casa do sacerdote chileno Francisco Rencoret Mujica, doente de sarcoma pulmonar. Era o Papa Francisco.O padre de 35 anos, que estudava Direito Canônico em Roma, na Universidade Gregoriana, voltou a Santiago este ano para tratar de sua enfermidade.A mãe pensou que era outra pessoa“Alô Padre Arturo… Não é o Padre Arturo, é o Santo Padre. Sim, é Sua Santidade, é o Papa!”, disse Maria Isabel, mãe do Pe. Rencoret, que pensava estar falando com um sacerdote espanhol que liga com frequência para saber sobre o estado de saúde de seu filho.

Em declaração à imprensa, Pe. Rencoret explicou que o motivo do telefonema foi “para saber da minha saúde, para me dizer que rezava por mim, para dar-me o apoio, o ânimo e o carinho da Igreja”.

O encontro com o Pontífice no Vaticano

Entre outros assuntos, o sacerdote diocesano lembrou ao Papa que em outubro de 2015 lhe presenteou com um retrato dos pais do Pontífice.

Antes de terminar a conversa, o sacerdote disse a Francisco que “oferecia suas dores à sua vocação, dificuldades e penas” e que estavam “muito em comunhão, porque Deus é misericordioso”.

“Foi uma chamada preciosa, uma surpresa, uma emoção”, acrescentou.

O Pe. Francisco Rencoret Mujica é o quarto de cinco irmãos. Formou-se em direito em 2005 e naquele mesmo ano ingressou no Seminário Pontifício de Santiago do Chile.

Foi ordenado em 13 de abril de 2013.

Fonte: Rádio Vaticano

Pope Francis poses with young people during an encounter with youth in Cagliari, Sardinia, Sept. 22. (CNS photo/Paul Haring) (Sept. 23, 2013) See POPE-SARDINIA Sept. 23, 2013.

Serenidade na confissão

Eu falo com os mendigos e os vendedores de rosas que eu ajudo como antes com alguns euros. Também aperto a mão deles, pergunto sobre o país, os filhos, se são cristãos ou muçulmanos, se rezam. É uma sugestão de Francisco, e eu a implemento. Depois, me “autotributei” para ajudar a paróquia a acolher os refugiados. Isso também eu considero um contágio bergogliano. Não encontro outra coisa que tenha mudado na minha vida. E parece-me pouco.

Faço a pergunta a amigos próximos e distantes. Um visitante do blog me responde assim: “Os amigos padres me dizem que, com este papa, eles se sentem mais livres para dar a sua opinião. Eu vejo entusiasmo por parte de pessoas que, até fevereiro de 2013, sonhavam com igrejas transformadas em estacionamentos. Em suma, mudou o sentimento midiático, que tornou o papa uma figura muito popular. Mas não mais do que isso”.

Insisto em perguntar o que mudou para ele: “Quando eu vou me confessar, sempre penso que o perdão de Deus é mais forte do que as minhas fraquezas. E sou grato por isso”.

Outro visitante confirma: “Reencontrei a serenidade na confissão. Ela me ajuda a redescobrir a importância do amor e da atenção concreta aos irmãos”.

Uma visitante: “Uma irmã minha voltou a participar da missa, e um casal da paróquia decidiu batizar o filho já grande. Os padres citam Francisco e estão contentes com o seu radicalismo evangélico, também ficaram contentes com o Sínodo. Em geral, todos estão contentes pelo fato de que aquilo que tem a ver com a Igreja já não é mais necessariamente feio e ruim”.

Entre os visitantes, quase todos relatam alguns sinais positivos, mas ninguém tem opiniões excessivas.

“Certamente, mudou o clima religioso, mas a religião não é a fé. Uma sobrinha minha, que faz voluntariado, diz que reacendeu a sua fé.”

“Entre os colegas, a maioria pouco praticantes, eu noto uma atitude benevolente quando se fala de participação na missa. Antes, eu tinha a impressão de ser olhado como alguém com velhos hábitos. Pessoalmente, Francisco me estimula. Mesmo quando ele escandaliza com os seus gestos improvisados. Talvez, o que me apaixona é justamente a sua oferta de estímulos, ao invés de uma suma concluída.”

“Eu tento ser menos irritadiça e antissocial. Não que antes eu não fizesse isso, mas eu tento com mais convicção. Ao meu redor, eu não vejo grandes mudanças, só porque, no fundo, éramos assim antes também; na prática, há continuidade nas coisas positivas. Eu diria que fiz mais voluntariado nos tempos de Bento XVI, Com efeito, tive uma mudança maior naquele período. Mas muitas coisas ditas por Francisco também me mudaram, embora não compartilhe tudo e, às vezes, também fique com raiva.”

Retorno à missa

“Há menos hostilidade em relação ao papa. Mas é uma simpatia pessoal por Francisco, não pela Igreja, que é criticada ou amada como antes. Espero que o Jubileu (que é fruto do pontificado de Francisco) convença os sacerdotes a dedicarem mais tempo às confissões: a partir disso, alguma coisa realmente pode mudar. Palavras como ternura e misericórdia agradam a todos, mas não são o suficiente para converter alguém.”

Uma visitante insere a relação com Francisco na história da sua fé: “Eu me converti há 30 anos graças à ternura e à misericórdia. Eu tinha me tornado ateia depois de abandonar o Deus da minha infância, sempre pronto para castigar a nós, pecadores. Tinha ficado impressionada com a morte de Romero, e outros acontecimento tinha me aproximado de novo, mas o fato continuava sendo que o único Deus que eu conhecia era aquele assustador. Uma noite, eu estava indo para o restaurante universitário, e começou a chover como um dilúvio. Eu procurei refúgio em uma igreja. Havia um confessionário com uma luzinha acesa e, sem nem mesmo saber por que, me aproximei. O padre me falou com ternura de um Deus que é amor, que estava me esperando, que sempre tinha me amado, e eu senti um calor repentino no coração, soube que eu tinha encontrado o que tinha buscado sem nem mesmo saber. E agora, com Francisco, parece que eu estou vivendo em um sonho: eu tinha deixado de esperar em Romero bem-aventurado. E muitas coisas que ele diz e faz, eu tinha ouvido dizer e fazer na América Latina, há anos. E reencontrá-las agora em um papa é uma coisa muito bonita. Francisco me fez voltar para a missa.”

Um visitante continua muito crítico em relação a Francisco no âmbito doutrinal: “Ele me deu e continua dando satisfações de verdade em relação à doutrina social. Quando eu dizia aquilo que Francisco diz, olhavam para mim como um marciano. Sobre a piedade popular e sobre a relação direta com Deus, como filhos, isso também me deu satisfação. Mas eu tenho dificuldade para conjugar o sentido que eu dou à palavra misericórdia com e o sentido que ele lhe dá”.

Pároco apaixonado

Outro, ao contrário, simpatiza totalmente: “Notei um maior entusiasmo por parte do clero, especialmente no Sul da Itália. Ao menos essa é a impressão que eu tive no verão passado. Aqui no Norte, talvez (sem generalizar), custamos um pouco mais a entrar no modus agendi de uma pessoa que vem do Sul do mundo, mas estamos a caminho. Pessoalmente, Francisco me levou a aprofundar as temáticas da pobreza e da justiça”.

Eu falo muito sobre o papa com o meu pároco, Francesco Pesce, que está seduzido por ele: “Mais do que contágio, para mim, eu falaria de enamoramento. Eu gosto do seu estilo, da sua linguagem, do seu modo de viver o ministério, do seu magistério. Eu gosto da sua franqueza, do fato de ele incluir todos e cada um, da sua coragem e da sua ternura. Eu gosto de ser um pequeno enfermeiro nesse grande hospital de campanha. Em uma palavra, eu gosto muito dele. Eu acho que a história vai repetir a afirmação do Evangelho de João: ‘Veio um homem enviado por Deus cujo nome era Francisco’. Eu diria que ele é um profeta no meio de nós”.

De acordo com o pároco, a passagem histórica marcada pelo papa argentino deve ser lido em chave bíblica, com referência – digamos – a este dito de Jesus: “O Reino de Deus será tirado de vocês e será entregue a um povo que produzirá seus frutos” (Mt 21, 43).

“Talvez – argumenta o padre Francesco – esse novo povo também seja o povo das pedras descartadas, que talvez foram buscar o Senhor em outro lado, porque a nossa Igreja estava fechada, e o Senhor se deixou encontrar por eles em algum lugar. Eu diria que o contágio de Francisco, naquilo que eu vejo na minha paróquia, é o retorno das pedras descartadas, que antes se sentiam julgadas e abandonadas; um retorno ao confessionário, à missa e à conversa com o sacerdote; um retorno não só de quantidade, mas também de qualidade. Alguns que antes não vinham nunca agora passam pela igreja para um momento de oração.”

Sempre as mesmas coisas

Eu converso com muitos padres romanos e devo dizer que nem todos pensam como o meu pároco. Há alguns que acusam Francisco de sempre dizer as mesmas coisas, de uma teologia fraca, de pensar sempre nos distantes e não nos próximos, e depois a desatenção à doutrina e à verdade imutável.

Há também a resistência ao convite a hospedar os refugiados nas paróquias e nas arejadas novidades em matéria de acolhida às famílias feridas.

Mas, entre as pessoas do bairro Monti, o sentimento dominante é semelhante ao do pároco. Uma jovem que trabalha em um restaurante (engajada na paróquia e com o peso de um divórcio nas costas), diz: “Mudou tudo. Agora, o papa parece que um nosso amigo de confiança, que você sente perto e com o qual pode contar. Você se sente protegida e mais serena. Os padres estão mudando. E nós logo percebemos quem se adapta ao papa, mas não pode vê-lo, e, ao contrário, quem gosta dele. Depois, também há outra mudança: agora, as pessoas, quando veem o papa na televisão, aqui no restaurante, nos pedem para aumentar o volume”.

O jornaleiro da Via Cavour me diz que vende muitas cópias da revista Il Mio Papa e que fala muito sobre Franciscocom os clientes, algo que antes não acontecia. Ele observa que os leitores dos jornal Il Giornale, Il Foglio e Libertoestão descontentes com aquilo que o papa diz ou, melhor, estão “justamente decepcionados com a sua pessoa”.

A caixa do bar La Licata reitera que não é religiosa, mas está muito bem informada sobre as palavras do papa: eu ressalto isso para ela, e ela me diz que o caso a “preocupa”.

Confiança e simpatia dos jovens

A dona da academia e o seu companheiro, que são praticantes, me dizem que percebem mais confiança e simpatia para com o papa, até mesmo nos jovens que são seus clientes.

A moça da pizzaria da Via Leonina confessa que ainda não consegue ir à missa aos domingos, mas quer recomeçar e, enquanto isso, entra de manhã e de noite na igreja para se recolher um pouco, porque se sente “contagiada por essa grande pessoa”: ela usa o termo “contágio” sem que eu o tivesse antecipado. Ela está feliz pelo fato de o pároco manter a igreja sempre aberta, porque assim ela pode ir lá quando está livre.

Conclusão provisória: algo se move. 

Vaticanista italiano Luigi Accattoli, publicada na revista Il Regno.

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Antes de obter o consentimento do Papa Francisco para uma entrevista com o La Croix, o nosso enviado especial permanente em Roma, Sébastien Maillard, teve que renovar várias vezes o seu pedido, mas, de acordo com o próprio papa, soube fazer isso de maneira “humilde”.

Antes, houve um acordo de princípio por parte do papa. Depois, em um domingo, um e-mail do padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, marcou o encontro para a segunda-feira, 9 de maio, às 16h30. Uma lista de perguntas tinha sido previamente transmitida ao papa, a seu pedido.

Naquele dia, Sébastien Maillard e Guillaume Goubert, diretor de redação, acompanhados pelo padre Lombardi, dirigiram-se à Casa Santa Marta, onde reside o papa no Vaticano. Esperaram-no em uma sala no piso térreo. O papa chegou sozinho, com alguns minutos de antecedência.

Depois das fotos, a conversa ocorreu em italiano, mas, de vez em quando, o papa introduzia alguma expressão francesa: “Ah, la laïcité française!”, exclamou, arrastando maliciosamente a penúltima sílaba.

A conversa durou pouco mais de uma hora, em um clima descontraído. Concordou-se que o texto tirado da entrevista seria relido pelo papa antes da publicação. O papa, depois, foi embora, como tinha vindo, simples e sorridente, privadamente, assim como aparece em público.

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“É preciso integrar os migrantes”

Nos seus discursos sobre a Europa, o senhor fala das “raízes” do continente, mas sem jamais defini-las como cristãs. Em vez disso, define a identidade europeia como “dinâmica e multicultural”. Na sua opinião, a expressão “raízes cristãs” não é apropriada para a Europa?

É preciso falar de raízes no plural, porque há muitas. Nesse sentido, quando ouço falar de raízes cristãs da Europa, eu temo às vezes o tom, que pode ser triunfalista ou vingativo. E, então, torna-se colonialismo. João Paulo II falava disso com um tom tranquilo. A Europa, sim, tem raízes cristãs. O cristianismo tem o dever de “borrifá-las”, mas em um espírito de serviço, como no lava-pés. O dever do cristianismo, para a Europa, é o serviço. Erich Przywara, grande mestre de Romano Guardini e de Hans Urs von Balthasar, nos ensina: a contribuição do cristianismo a uma cultura é a de Cristo com o lava-pés, ou seja, o serviço e o dom da vida. Não deve ser uma contribuição colonialista.

O senhor fez um gesto forte, trazendo consigo refugiados de Lesbos para Roma, no dia 16 de abril. Mas a Europa pode acolher tantos migrantes?

É uma pergunta justa e responsável, porque não se pode escancarar as portas de forma irracional. Mas a pergunta de fundo a se fazer é por que há tantos migrantes hoje em dia. Quando eu fui para Lampedusa, há três anos, esse fenômeno já estava começando. O problema inicial são as guerras no Oriente Médio e na África, e o subdesenvolvimento do continente africano, que provoca a fome. Se há guerras, é porque existem fabricantes de armas – que se justificar pela defesa – e, sobretudo, traficantes de armas. Se há tanto desemprego, é por causa da falta de investimentos que possam gerar empregos, dos quais a África tanto precisa.

Isso levanta, de modo mais geral, a questão de um sistema econômico mundial que caiu na idolatria do dinheiro. Mais de 80% das riquezas da humanidade estão nas mãos de cerca de 16% da população. Um mercado completamente livre não funciona. O mercado, em si mesmo, é uma coisa boa, mas deve haver, como ponto de apoio, um terceiro, o Estado, para controlá-lo e equilibrá-lo. É o que se chama de economia social de mercado.

Voltemos aos migrantes. A pior acolhida é a de “guetizá-los”, enquanto, ao contrário, é preciso integrá-los. EmBruxelas, os terroristas eram belgas, filhos de migrantes, mas vinham de um gueto. Em Londres, o novo prefeito [Sadiq Khan, filho de paquistaneses muçulmanos] prestou juramento em uma catedral e, sem dúvida, será recebido pela rainha. Isso demonstra para a Europa a importância de reencontrar a sua capacidade de integrar. Eu penso em Gregório Magno [papa de 590 a 604], que negociou com aqueles que eram chamados de bárbaros, que, depois, se integraram. Essa integração é ainda mais necessária hoje em dia, quando a Europa conhece um grave problema de desnatalidade, em razão de uma busca egoísta de bem-estar. Instala-se um vácuo demográfico. Na França, no entanto, graças à política familiar, essa tendência é atenuada.

O medo de acolher os migrantes se alimenta, em parte, do medo do Islã. Na sua opinião, o medo causado por essa religião na Europa é justificado?

Eu não acho que agora haja um medo do Islã como tal, mas do Daesh e da sua guerra de conquista, tirada em parte do Islã. A ideia de conquista é inerente à alma do Islã, é verdade. Mas ela poderia ser interpretada com a mesma ideia de conquista, no fim do Evangelho de Mateus, em que Jesus envia os seus discípulos a todas as nações. Diante do atual terrorismo islamista, seria oportuno nos interrogarmos sobre a maneira pela qual foi exportado um modelo de democracia, ocidental demais, para países em que havia um poder forte, como no Iraque. Ou na Líbia, que tem uma estrutura tribal. Como dizia um líbio há algum tempo: “Antigamente, nós tínhamos Gaddafi. Agora temos 50!”. No fundo, a coexistência entre cristãos e muçulmanos é possível. Eu venho de um país onde eles convivem em boa familiaridade. Lá, os muçulmanos veneram a Virgem Maria e São Jorge. Em um país da África, me disseram, para o Jubileu da Misericórdia, os muçulmanos fazem uma longa fila na catedral para passar pela porta santa e rezar para a Virgem Maria. Na África Central, antes da guerra, cristãos e muçulmanos viviam juntos e devem reaprender a fazer isso hoje. O Líbano também demonstra que isso é possível.

O peso que o Islã tem hoje na França, assim como o vínculo histórico do país com o cristianismo, levantam problemas recorrentes sobre o lugar das religiões no espaço público. Qual é, na sua opinião, uma boa laicidade?

Um Estado deve ser laico. Os Estados confessionais acabam mal. Isso vai contra a história. Eu acho que uma laicidade acompanhada por uma lei sólida que garanta a liberdade religiosa oferece um quadro para se seguir em frente. Nós somos todos iguais, como filhos de Deus ou com a nossa dignidade de pessoa. Mas cada um deve ter a liberdade de exteriorizar sua própria fé. Se uma mulher muçulmana quer usar o véu, ela deve poder fazer isso. Assim também se um católico quer portar uma cruz. Deve-se poder professar a própria fé, não ao lado, mas dentro da cultura. Uma pequena crítica que eu dirigiria para a França a esse respeito é de exagerar a laicidade. Isso provém de uma maneira de considerar as religiões como uma subcultura e não como uma cultura, para todos os efeitos. Eu temo que essa abordagem, que se compreende como a herança do Iluminismo, ainda esteja presente. A França deveria dar um passo a mais nesse assunto, para aceitar que a abertura à transcendência é um direito de todos.

Em um quadro laico, como os católicos deveriam se posicionar para defender as suas posições sobre questões éticas, como a eutanásia ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo?

É no Parlamento que se deve discutir, argumentar, explicar, raciocinar. Desse modo, uma sociedade cresce. Assim que a lei for votada, o Estado deve respeitar as consciências. Em toda estrutura jurídica, a objeção de consciência deve estar presente, porque é um direito humano, incluindo para um funcionário do governo, que é uma pessoa humana. O Estado também deve respeitar as críticas. Essa é uma verdadeira laicidade. Não podemos deixar de levar em conta os argumentos dos católicos, dizendo-lhes: “Você fala como um padre”. Não, eles se apoiam no pensamento cristão, que a França desenvolveu de forma notável.

O que a França representa para o senhor?

La fille aînée de l’Église… mais pas la plus fidèle! [A filha mais velha da Igreja… mas não a mais fiel!] (risos). Nos anos 1950, também se dizia: “França, país de missão”. Nesse sentido, é uma periferia a ser evangelizada. Mas precisamos ser justos com a França. A Igreja lá possui uma capacidade criativa. A França também é uma terra de grandes santos, de grandes pensadores: Jean Guitton, Maurice Blondel, Emmanuel Levinas – que não era católico –, Jacques Maritain. Penso igualmente na profundidade da sua literatura. Eu também aprecio como a cultura francesa impregnou a espiritualidade jesuíta em relação à corrente espanhola, mais ascética. A corrente francesa, que começou com Pedro Fabro, embora sempre insistindo no discernimento do espírito, dá outro sabor. Com os grandes espirituais franceses:Louis Lallemand, Jean-Pierre de Caussade. E com os grandes teólogos franceses, que tanto ajudaram a Companhia de Jesus: Henri de Lubac e Michel de Certeau. Eu gosto muito destes dois últimos: dois jesuítas que são criativos. Em suma, é isso que me fascina da França. Por um lado, essa laicidade exagerada, a herança da Revolução Francesa e, por outro, tantos grandes santos.

Qual é o santo ou a santa que o senhor prefere?

Santa Teresa de Lisieux.

O senhor prometeu ir para a França. Quando imagina que poderá fazer essa viagem?

Recentemente, eu recebi uma carta de convite do presidente François Hollande. A Conferência Episcopal também me convidou. Não sei quando vai acontecer essa viagem, porque o ano que vem é eleitoral na França, e, em geral, a prática da Santa Sé é de não fazer tal deslocamento nesse período. No ano passado, tínhamos começado a levantar hipóteses em vista dessa viagem, incluindo uma passagem por Paris e pela sua periferia, por Lourdes e por uma cidade aonde nenhum papa se dirigiu, Marselha, por exemplo, que representa uma porta aberta para o mundo.

A Igreja na França vive uma grave crise de vocações sacerdotais. Como fazer hoje com tão poucos padres?

A Coreia oferece um exemplo histórico. Esse país foi evangelizado por missionários vindos da China que, depois, voltaram para a China. Mais tarde, durante dois séculos, a Coreia foi evangelizada por leigos. É uma terra de santos e de mártires que hoje tem uma Igreja forte. Para evangelizar, não é preciso de padres necessariamente.

O batismo dá a força para evangelizar. E o Espírito Santo, recebido no batismo, impulsiona a sair, a levar a mensagem cristã, com coragem e paciência. É o Espírito Santo o protagonista daquilo que a Igreja faz, o seu motor. Muitos cristãos ignoram isso. Ao contrário, um perigo para a Igreja é o clericalismo. É um pecado que se comete a dois, como o tango!

Os padres querem clericalizar os leigos, e os leigos pedem para ser clericalizados, por facilidade. Em Buenos Aires, eu conheci inúmeros bons párocos que, vendo um leigo capaz, logo exclamavam: “Façamos dele um diácono!”. Não, é preciso deixá-lo como leigo. O clericalismo é particularmente importante na América Latina. Se a devoção popular lá é forte, é justamente porque é a única iniciativa dos leigos que não é clerical. E continua sendo mal compreendida pelo clero.

A Igreja na França, particularmente em Lyon, está sendo atualmente atingida por escândalos de pedofilia que remontam ao passado. O que se deve fazer nessa situação?

É verdade que não é fácil julgar determinados fatos depois de décadas, em outro contexto. A realidade nem sempre é clara. Mas, para a Igreja, nesse âmbito, não pode haver prescrição. Para aqueles abusos, um padre que tem vocação de levar uma criança para Deus a destrói. Dissemina o mal, o ressentimento, a dor. Como disse Bento XVI, a tolerância deve ser zero. Com base nos elementos de que eu disponho, eu acredito que, em Lyon, o cardeal Barbarin tomou as medidas necessárias, tomou as coisas bem em mãos. É corajoso, criativo, missionário. Agora, devemos esperar pelo prosseguimento do processo perante a justiça civil.

Portanto, o cardeal Barbarin não deve renunciar?

Não, seria um contrassenso, uma imprudência. Depois da conclusão do processo, isso será visto. Mas, agora, seria como se declarar culpado.

No dia 1º de abril, o senhor recebeu Dom Bernard Fellay, superior-geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Está novamente prevista a reintegração dos lefebvrianos na Igreja?

Em Buenos Aires, eu sempre falei com eles. Eles me cumprimentavam, me pediam uma bênção de joelhos. Eles amam a Igreja. Dom Fellay é um homem com quem se pode dialogar. Não é assim com outros elementos um pouco estranhos, como Dom Williamson, ou outros que se radicalizaram. Eu acho que, como já disse na Argentina, eles são de católicos a caminho da plena comunhão. Durante um Ano da Misericórdia, pareceu-me que eu devia autorizar os seus confessores a perdoar o pecado do aborto. Eles me agradeceram por esse gesto. Antes, Bento XVI, que eles respeitam muito, tinha liberado a missa segundo o rito tridentino. Dialoga-se bem, faz-se um bom trabalho.

O senhor estaria disposto a lhes conceder um status de prelazia pessoal?

Seria uma solução possível, mas, em primeiro lugar, é preciso estabelecer um acordo de fundo com eles. O Concílio Vaticano II tem o seu valor. Prossegue-se lentamente, com paciência.

O senhor convocou dois sínodos sobre a família. Esse longo processo, na sua opinião, mudou a Igreja?

É um processo que começou com o consistório [de fevereiro de 2014], introduzido pelo cardeal Kasper, antes de um Sínodo extraordinário em outubro do mesmo ano, seguido por um ano de reflexão e por um Sínodo ordinário. Acho que todos saímos diferentes desse processo em relação a como entramos. Eu também. Na exortação pós-sinodal [Amoris laetitia, de abril de 2016], eu tentei respeitar ao máximo o Sínodo. Vocês não vão encontrar detalhes canônicos sobre o que se pode ou se deve fazer ou não fazer. É uma reflexão serena, pacífica, sobre a beleza do amor, sobre como educar os filhos, como se preparar para o matrimônio… Ela valoriza as responsabilidades que poderiam ser acompanhadas pelo Pontifício Conselho para os Leigos, sob a forma de orientações de fundo.

Além desse processo, devemos pensar na verdadeira sinodalidade, ao menos naquilo que significa a sinodalidade católica. Os bispos estão cum Petro, sub Petro [com o sucessor de Pedro e sob o sucessor de Pedro]. Isso difere da sinodalidade ortodoxa e da sinodalidade das Igrejas greco-católicas, em que o patriarca conta como um único voto. OConcílio Vaticano II dá um ideal de comunhão sinodal e episcopal. Ainda é preciso fazê-lo crescer, mesmo em nível paroquial, levando-se em conta do que está prescrito. Existem paróquias que não estão dotadas nem de um conselho pastoral, nem um conselho para assuntos econômicos, enquanto o Código de Direito Canônico exige isso expressamente. A sinodalidade também se joga nesse nível.

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Quando a possibilidade de uma troca de domicílio para o Vaticano era algo remoto, Jorge Bergoglio já havia previsto aonde passaria suas noites após completar 75 anos e jubilar-se como bispo: seu lugar seria a habitação 13 do Lar Sacerdotal Monsenhor Mariano A. Espinosa, localizado no bairro de Flores, da Capital Federal.

Nessa casa viveu Francisco quando foi vigário de Flores. Sobre a habitação escolhida, Jorge Bergoglio havia dito: Prefiro que não seja na planta alta (…). Não quero estar por cima de ninguém; não, melhor abaixo. Isso ele havia pedido às Irmãs do Bom e Perpétuo Socorro, que cuidam do lar, segundo se pode ler numa nota publicada no diário tucumano La Gaceta, em março de 2013.

Ontem, o sacerdote Fabián Báez, pároco em Villa Urquiza, subiu por sua conta de Twitter duas fontes da habitação. Ali se vê um austero espaço com piso de madeira ocupado por uma cama, uma estante, uma cadeira, uma poltrona de um corpo e um ventilador. Do lar sacerdotal contaram a Clarin que a habitação foi remodelada há pouco e que não tem um ocupante permanente. Utiliza-a de vez em quando monsenhor Poli, atual arcebispo de Buenos Aires, contaram a este diário lá do lar. Quando já havia deixado o bairro de Flores, Bergoglio continuou sendo uma presença frequente no lar, destinado por anos a ser moradia de religiosos anciãos.

O Monsenhor vinha pelas dez da manhã e começava a percorrer uma por uma as habitações dos sacerdotes enfermos. Escutava-os, gracejava com eles… era muito cálido. Depois, pelas doze menos um quarto, sentava-se a conversar conosco, recordou a Irmã Maria Lucía Fassono para o diário La Gaceta.

Fonte: Clarín