Professor da Unifesp e diretor do Instituto Nacional de Políticas de Álcool e Drogas, do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) fala sobre a política antidrogas brasileira e a epidemia do crack no país.
Mário Sergio Conti: “Me parece que mundialmente a política de repressão ao tráfico, a guerra às drogas, não está surtindo efeito.”
Dr. Ronaldo Laranjeira: “Não, mas, se você vê, no Brasil a única coisa que nós não fizemos foi guerra às drogas. Não tivemos políticas. O maior problema é uma cultura permissiva em relação ao consumo de drogas e uma cultura omissa em relação à política. Qual é a política que a gente tem de prevenção aos nossos adolescentes? Nenhuma. Qual é a política que a gente tem de deter a cocaína a chegar no Brasil? Nenhuma. Qual é a política de tratamento? Nós temos muito pouco. Então você não tem nenhuma política e você acha que nada deu certo; então vamos abandonar isso e vamos liberar? Você acha que simplesmente liberar o pequeno traficante vai acabar a droga? Se a gente puder plantar maconha no quintal, o Brasil vai virar um grande maconhal. Não tenha dúvida disso. A gente brinca, mas qual é o impacto que isto vai ter na população adolescente? Já está acontecendo isso. A maconha no Brasil, ela é praticamente descriminalizada. Então você vai querer facilitar mais o acesso à droga do adolescente? Acho que essa é que é a questão importante. A gente já não tem política para o pequeno traficante, para a dispersão dessas pessoas. Agora você vai tolerar o pequeno traficante? Do ponto de vista de saúde pública (…), você tem de adotar políticas que façam a diminuição do acesso às drogas. Esse é o princípio que me parece que deu certo no caso do tabaco, dá certo no caso de álcool, que a gente não faz aqui… E é isso que a gente tem que tentar ver: qual é o nosso modelo para lidar com as drogas ilícitas. (…) Se qualquer país no momento tivesse o modelo ideal, seria fácil. No álcool e no tabaco a gente tem. Nas drogas ilícitas é mais complicado. E aí fica dependendo do gosto do freguês.”
( Por volta dos 40 minutos no vídeo abaixo)
Laura Capriglione: “Por exemplo, se a pessoa pode plantar a sua maconha em casa, você reduz o tráfico.”
Dr. Ronaldo Laranjeira: “Me prova isso. Não tem uma experiência que vai mostrar isso.”
Laura Capriglione: “Em Portugal, a gente não tem isso?”
Dr. Ronaldo Laranjeira: “Portugal é um grande fetiche. Eu acho até bom o modelo português. Mas se você olhar o que aconteceu independentemente de Portugal, de 2001 a 2011, aumentou o consumo de drogas! Então para mim o parâmetro principal, do ponto de vista de saúde pública, eu defendo para as drogas ilícitas o mesmo para as drogas álcool e cigarro. Para mim, o importante é diminuir o consumo. Se você me convencer que as pessoas plantarem maconha em casa vai diminuir o consumo de adolescentes, por exemplo, eu vou ser favorável. Mas não tenho uma vírgula de evidência disso aí.”
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(comentários abaixo de Felipe Moura Brasil, Jornalista)
Como dizia eu mesmo: “Em nome do consumo recreativo de drogas pelos adultos, sempre se chegará ao consumo de drogas pelas crianças no recreio.” No Uruguai – país que legalizou e regulou cultivo, distribuição e comércio da erva -, o consumo de maconha já supera o de tabaco entre estudantes, como noticiou neste mês o G1. E a preocupação do dr. Laranjeira também se justifica pelo fato de que o uso de maconha por adolescentes está associado a uma série de más consequências, incluindo deficiências cognitivas e piores resultados em educação.
Um truque frequente dos legalistas é a comparação que eles fazem de mortes causadas por maconha e outras drogas para as quais ela abre caminho com as causadas por álcool e cigarro sem mencionar que o consumo de maconha e outras drogas é tremendamente menor do que estes, justamente porque aquelas são proibidas.
Ainda que o número de mortes possa jamais se igualar mesmo após a legalização, é evidente que esta tende a aumentá-lo, até porque (fonte aqui) “pessoas que são viciadas em álcool (…) quando o consomem em doses elevadas podem sofrer coma alcoólico e morrer se não forem tratadas a tempo” e “este risco aumenta muito quando o consumo de bebida alcoólica é associado a outras drogas, principalmente tranquilizantes”.
Eis alguns perigos do consumo de cannabis (maconha):
– O risco de infarto para cardiopatas é 5 vezes maior nos primeiros 60 minutos após o seu consumo. O consumo de maconha também pode desencadear arritmias cardíacas como a fibrilação atrial.
– A fumaça da maconha possui 4 vezes mais alcatrão e 50% mais substâncias cancerígenas que o cigarro, além de ser fumado sem filtro e ser muito mais tragado. O consumo de 3 cigarros de maconha por dia parece equivaler ao de 20 cigarros comuns.
– Pessoas que fumam mais de 3 cigarros de maconha por dia costumam apresentar problemas respiratórios semelhantes aos fumantes comuns, incluindo tosse, catarro e diminuição da capacidade de exercícios.
– O uso crônico de maconha está relacionado a um maior risco de DPOC (enfisema pulmonar e bronquite).
– Em longo prazo seu uso está relacionado com a diminuição da resposta imune, redução dos níveis de testosterona, diminuição da motilidade dos espermatozoides e infertilidade, redução da libido, impotência, alterações do ciclo menstrual, ginecomastia, galactorréia, alteração da memória, aumento da incidência de periodontites.
– Em pacientes de hepatite C está relacionado com um alto risco de desenvolvimento de cirrose e câncer de fígado.
– O uso crônico está associado com o desenvolvimento de doenças psiquiátricas como esquizofrenia e depressão.
– Em gestantes que fumam mais de 6 cigarros de maconha por semana, os filhos apresentam, a partir dos dois anos, menor aptidão verbal e menor capacidade de memória que outras crianças, assim como maior risco de hiperatividade e depressão.
Segundo tais dados, como lembrou o professor Francisco Ilídio ao desmascarar o projeto ‘Cavalo de Troia’ de Jean Wyllys, um consumo mensal de 40g de maconha equivale a fumar 266 cigarros de tabaco por mês. Do uso habitual de maconha decorrem, em regra, os mesmos perigos do uso do cigarro além de problemas associados ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas.
Pela enésima vez, vale lembrar também que não existe solução total para o problema das drogas, assim como não há para o de roubos, estupros e assassinatos em lugar nenhum do mundo – e nem por isso vamos legalizar esse crimes. Combate-se o que dá, o que no Brasil se faz muito menos do que seria possível.
De resto, a legalização NÃO elimina o comércio ilegal, como se pode ver em matéria do Washington Times sobre o mercado negro do Colorado, onde a maconha foi legalizada. Se o comércio legal de medicamentos, roupas, CDs, cigarros, programas de computadores, não acabou com a receita financeira dos contrabandistas (vide o caso Eric Garner), por que a legalização das drogas – que dirá da maconha, parcela menor dos faturamentos – acabaria com a receita financeira do tráfico? Isto é papo de ativista de esquerda que ignora os Sete mitos e mentiras sobre a legalização das drogas. Como disse o criminalista holandês Dirk Korf, da Universidade Amsterdã, sobre a experiência holandesa de legalização da maconha: “Hoje, a população está descontente com essas medidas liberais, pois elas criaram uma expectativa ingênua de que a legalização manteria os grupos criminosos longe dessas atividades.”
http://www.youtube.com/watch?v=Ry5fOdt8DbQ