Olá, querida amiga, na minha opinião e experiência, o melhor e único psicólogo da minha vida é Cristo”. Esse foi o primeiro comentário de um recente post no Instagram em que eu descrevia minha experiência com psicoterapia.

Outros comentários se seguiram: “A melhor terapia de todas são os retiros e o rosário”. “Eu visito regularmente os jesuítas. Um retiro silencioso, é onde você encontra Deus – Ele é o melhor terapeuta. Eu recomendo! Seus valores se encaixam e a estrada se torna reta”, escreveu outro internauta.

Esses leitores queriam enfatizar que a fé em Deus (ou o fato de ter um relacionamento com Ele) e cuidar dessa fé (através de retiros ou do rosário) são suficientes para que não tenhamos dificuldades ou problemas emocionais.

Primeiro de tudo, se assim fosse, nenhum cristão crente sofreria de depressão, e eles rapidamente se recuperariam quando se sentissem para baixo. Nós não precisaríamos de ajuda. Seríamos indivíduos autossuficientes, eternamente felizes, satisfeitos, conscientes de nossa autoestima. Mas esse não é o caso.

Em segundo lugar, tais comentários fazem com que pessoas que precisam da ajuda de um profissional de saúde mental se sintam culpadas (“Se a fé basta, mas não é suficiente para mim, isso significa que minha fé é fraca?”) ou dissuadi-las da decisão de procurar terapia (“Talvez a oração seja suficiente?”). Também faz com que os outros crentes sintam que as pessoas que fazem uso de ajuda psicológica estão “com falta de fé” ou são “crentes equivocados”. É como se a sua fé determinasse sua saúde psicológica.

Em terceiro lugar, esse tipo de comentário pressupõe que na vida devemos simplesmente juntar nossas mãos em oração (ou ir a um retiro), e Deus cuidará de tudo para nós. Você está triste? Não faça nada sobre isso, deixe Deus mudar (leia: isso acontecerá por si mesmo). É como se não tivéssemos controle sobre nossas vidas. Além disso, é como se nossa inteligência fosse o maior obstáculo.

O erro fundamental aqui é não saber distinguir o cultivo de um relacionamento com Deus com o cuidado da saúde. Assim como somos capazes de nos manter fisicamente limpos e irmos a um médico quando o nosso corpo está doente, devemos também poder (graças à ajuda de um psiquiatra, psicoterapeuta, conselheiro, terapeuta etc.) cuidar da nossa saúde mental e das nossas próprias emoções e psique.

De fato, como falar com Deus quando não sabemos qual parte de nossos pensamentos e impressões são de Deus? Que “voz” seguimos – nossas emoções? Nossa razão? Como podemos saber o que fazer quando tudo está confuso e tudo o que sabemos é que estamos nos sentindo perdidos e infelizes há muito tempo?

Em quarto lugar, tenho a impressão de que as pessoas que dizem essas coisas estão apenas inventando desculpas para si mesmas. Eu não consigo parecer feliz, então Deus deve querer assim. Estou triste, então deve ser um julgamento espiritual. Eu tenho medo, mas quando rezar, Deus me libertará do medo. Eu me sinto como um ninguém; tenho que agradecer e adorar a Deus com mais frequência. Eu acredito que, a longo prazo, este modo de pensar não é acreditar em Deus, mas ignorar e se machucar e se desculpar usando Deus. Não buscar ajuda psicológica é prejudicial, o que, em vez de nos enviar para o céu, pode nos colocar em um ciclo vicioso de aprofundamento dos problemas mentais.

Então, esses são alguns pensamentos gerais, mas aqui estão razões mais específicas do porquê Deus não é meu terapeuta, como alguém que, há quase três anos, está em processo de psicoterapia.

1. Porque Deus não é outro ser humano que está visivelmente presente

Dois mil anos atrás, talvez isso fosse possível – Cristo andou na Terra e conversou com as pessoas. Com alguns, ele se encontrava regularmente, mas mesmo assim não era psicoterapia, mas sim amizade e discipulado.

A psicoterapia consiste em reuniões semanais regulares entre um paciente e um terapeuta, durante as quais um terapeuta qualificado, com amplo conhecimento da psique humana e das formas como funciona, tenta ajudar o paciente a compreender a si mesmo. Não é possível sem conhecimento, experiência, empatia e conversa direta e clara. Temos que ouvir algumas coisas claramente para começar a notá-las.

Deus não é um terapeuta, mas Deus trabalha através de um terapeuta. É graças a Ele que finalmente posso me compreender em um nível muito profundo e, até agora, inconsciente, perdoar a mim mesmo e amar a mim mesmo como fui criado.

2. Porque eu quero agir, não fugir

Para mim, a religiosidade tinha sido uma maneira de lidar com minhas próprias emoções, fragilidades e desejos. Eu interpretava o que estava acontecendo na minha vida interior de uma maneira estritamente religiosa. Eu interpretava a ansiedade como Satanás, o medo como sendo covarde e a coragem como orgulho. E esses são apenas alguns exemplos.

Felizmente, em algum momento, comecei a lutar por mim. Eu não queria esperar por um milagre mágico; eu queria estar calma e feliz. Acredito que Deus nos promete uma vida boa e sábia, uma sensação de segurança e estabilidade emocional. Eu também acho que essas coisas não caem do céu, mas eu posso trabalhar para elas. É por isso que comecei a fazer algo nesse sentido.

3. Porque eu quero sentir-me estável e saudável

Quando meu dente dói, vou ao dentista. Quando estou doente, vou ao médico. Quando estou deprimida, vou a um psicoterapeuta ou a um psiquiatra. Emoções são sinais que me dizem o que está acontecendo comigo e o que eu preciso. Se sinto medo, vazio e tristeza permanente, preciso de ajuda e apoio. Não só isso, eu mereço isso.

4. Porque eu rezei por 25 anos e minha tristeza não foi embora

Por muito tempo, eu esperava que minha depressão passasse. Eu pensei que se eu terminasse a faculdade, encontrasse um emprego, me apaixonasse e perdesse peso, eu finalmente sentiria que valeria alguma coisa, como todo mundo ao meu redor. Mas isso não aconteceu.

O que ajudou foi o enfrentamento da árdua e lenta separação entre o que eu queria e o que eu achava que deveria querer, e de quem eu sou e quem eu achava que deveria ser.

5. Porque o encontro com Deus é diferente de uma reunião consigo mesmo

A oração é um encontro com Deus; a psicoterapia é uma reunião consigo mesmo com a ajuda de um terapeuta. Existem dois objetivos diferentes aqui, embora ambos basicamente levem à verdade e ao amor. Conhecer a Deus, buscar a verdade sobre Ele e descobrir Sua presença é diferente de conhecer a si mesmo. Preciso descobrir por que respondo de uma maneira e não de outra, por que sou puxada em uma direção em vez de outra e por que certas coisas são tão difíceis para mim.

Preciso me encontrar para entender o que quero e o que preciso. Se eu não me ajudar e não cuidar de minhas próprias necessidades básicas, não serei capaz de apreciar e aproveitar minha vida. E eu não vou poder amar verdadeiramente.

A oração é importante – na verdade é indispensável – mas não é tudo. Deus pode realizar milagres, mas geralmente Ele trabalha através de meios naturais. Ele espera que confiemos Nele e peçamos Sua ajuda, mas também que usemos os recursos que Ele nos disponibiliza, e isso inclui a ciência da medicina, que pode nos ajudar a sermos saudáveis ​​no corpo e na mente.

Jola Szymanska

Até mesmo santos da estatura moral da Madre Teresa de Calcutá, admirada por crentes e descrentes, dão testemunho de ter sofrido algo que soa surpreendente e talvez chocante para quem acha que os santos viveram numa bolha de perfeição à parte das cotidianidades que afetam os seres humanos “comuns”: o conceito da “noite escura da alma“.

A mais famosa abordagem do tema e do termo é, provavelmente, a do místico espanhol São João da Cruz, reconhecido como nada menos que Doutor da Igreja. Ele descreve essa profunda espécie de crise espiritual na jornada rumo à união com Deus em seu célebre poema intitulado, precisamente, “La noche oscura del alma” (século XVI).

É fato que Deus permite, e com frequência, a drástica provação da aridez espiritual, da completa falta de fervor sensível, da dúvida espessa a respeito da Sua existência, da revolta perante os injustíssimos reveses da vida, do desespero diante da tragédia ou mesmo da rotina que, dias depois de dias, meses depois de meses, se reveste daquela insuportável e amorfa ausência de sentido…

Se o próprio Cristo experimentou o drama do silêncio do Pai na mais negra de todas as noites, a ponto de Lhe suplicar que afastasse d’Ele esse cálice durante a Sua oração no Jardim das Oliveiras, à espera da Paixão, por que presumir que Deus fosse poupar-nos de experimentar a dúvida radical? Por que imaginar que Ele nos privasse da oportunidade de escolher, livre e voluntariamente, abraçar a fé ou rejeitá-la, confiar n’Ele ou refutá-Lo, purificar o amor ou mantê-lo morno, frágil, apoiado em incentivos cômodos e débeis?

Nem a vocação à vida religiosa isenta um cristão da provação espiritual.

É claro que nem sempre essa provação é propriamente a doença física e psíquica que hoje conhecemos como depressão. No entanto, há santos que, pelos sintomas descritos por eles próprios ou por outros biógrafos, muito provavelmente enfrentaram esse quadro que atualmente é visto como “o mal do século”.

Alguns dos santos que possivelmente enfrentaram a depressão:

1 – Santo Agostinho

Pois é! Uma das mais icônicas e sublimes figuras representativas da intensidade da conversão cristã e do poder extraordinário da graça santificante; uma das personalidades mais admiradas da história da civilização ocidental, inclusive por não católicos e até por não cristãos: até ele enfrentou, muito provavelmente, os altos e baixos dos neurotransmissores e a instabilidade psíquica e física que hoje a medicina denomina depressão.

Sua mãe, Santa Mônica, suportou com paciência quase inacreditável a imprevisibilidade do filho brilhante, mas de temperamento terrível. Agostinho procurava com intensa sinceridade a verdade e o sentido da existência, mas, em suas andanças desnorteadas e segundo os seus próprios termos, ele a buscava na aparência das coisas criadas, nas volúpias e prazeres dos sentidos, longe de Deus e cada vez mais longe de si mesmo. “Eis que estavas dentro de mim, mas eu estava fora, e fora Te buscava, e nas coisas formosas que criaste, deforme eu me lançava“, declarará ele nas “Confissões”, obra-prima da espiritualidade não apenas cristã, mas universal.

A teimosia da graça, porém, foi mais irredutível ainda que a dele mesmo, e, encontrando canal nas “indesanimáveis” orações de sua mãe e na admirável influência do grande bispo Santo Ambrósio, levou o rebelde e angustiado Agostinho a finalmente se render a Deus e acolher o batismo. Mais ainda: ele se consagrou a Deus e chegou também ele a ser bispo.

Depois que a mãe morreu, no entanto, e durante os mais de quarenta anos que a isto se seguiram, a sua personalidade poderosa ainda se manifestaria com frequência na propensão à raiva implacável e à… depressão severa. Santo Agostinho se levantava desses abismos por meio da oração, do sacrifício e do trabalho. Ocupar-se foi um grande remédio, tanto nas muitas responsabilidades de bispo quanto nas muitas horas de reflexão, estudo e oração que o transformaram em grande defensor da doutrina da Igreja.

2 – Santa Flora de Beaulieu

Ela teve uma infância normal, mas, quando seus pais começaram a buscar marido para ela, se recusou e anunciou que ia dedicar a vida a Deus entrando num convento. No entanto, essa decisão, tomada num contexto turbulento, desencadeou uma fase intensa e prolongada de depressão que afetava de tal modo o seu comportamento que mesmo para as outras irmãs era uma provação conviver com ela. Com a graça de Deus, o tempo e a ajuda de um confessor compreensivo, Flora fez grande progresso espiritual precisamente por causa do desafio da depressão, que ela enfrentou com empenho.

3 – Santo Inácio de Loyola

A personalidade poderosa do grande santo fundador dos padres jesuítas também era dada a sentimentos de profunda inquietação e sofrimento. O senso de certeza e convicção que ele demonstra em sua autobiografia (escrita em terceira pessoa) não vieram com facilidade. Depois de se converter, Inácio teve de lutar contra um feroz período de escrupulosidade, termo que, na ascese cristã, se refere à tentação de sentir-se sempre em grave pecado por cada mínima falha pessoal no cumprimento de deveres e na vivência das virtudes. Essa provação veio seguida de uma depressão tão séria que ele chegou a pensar em suicídio. Deus o retirou do abismo de trevas e sofrimento interior inspirando-lhe grandes coisas a realizar na vida em nome de Cristo e da Sua Igreja.

O próprio Inácio define como “desolação” a experiência que enfrentou em seus exercícios espirituais: um estado de grande inquietação, irritabilidade, desconforto, insegurança quanto a si mesmo e às próprias decisões, dúvidas assustadoras, grande dificuldade de perseverar nas boas intenções… De acordo com Inácio, Deus não causa a desolação, mas a permite para nos “abalar” como pecadores e nos chamar à conversão.

A partir da sua experiência, Santo Inácio dá três conselhos para reagir à desolação: não desistir nem alterar uma boa resolução anterior; intensificar a conversa com Deus, a meditação e as boas ações; e perseverar com paciência, pois a provação é estritamente limitada por Deus, que dará o alívio no momento oportuno. Ele descobriu, em suma, que a depressão pode ser um grande desafio espiritual e uma ótima oportunidade de crescimento.

Estes conselhos continuam perfeitamente válidos, mas, hoje, é de importância crucial acrescentar um quarto conselho: procurar a ajuda médica adequada. Os avanços da medicina deixam claro que, na maioria dos quadros verdadeiramente depressivos, a medicação psiquiátrica é indispensável para reequilibrar os neurotransmissores, pois se trata de uma doença propriamente dita e não apenas de uma “fase de tristeza”. O tratamento da depressão clínica tem duas vertentes interdependentes: o trabalho interior pessoal, que pode ser acompanhado por um bom psicólogo ou orientador qualificado, e o trabalho da medicina, acompanhado por um psiquiatra sério e bem atualizado.

4 – Santa Joana Francisca de Chantal

Durante oito anos, ela viveu feliz o seu casamento com o Barão de Chantal. Mas, quando o marido morreu, seu sogro, vaidoso e teimoso, forçou Joana e seus três filhos a irem morar com ele, provocando uma rotina de contínuos dissabores, duras provas de paciência e… depressão. Em vez de se escorar na vitimização, como infelizmente é comum desde sempre e até hoje, Santa Joana fez a escolha de manter a alegria e de responder às crueldades do sogro com caridade e compreensão.

Mesmo depois de estabelecer uma cordial e santa amizade com o grande bispo São Francisco de Sales e de trabalhar com ele na criação de uma ordem religiosa para mulheres de mais idade, Joana continuava experimentando momentos de grande sofrimento e injusto julgamento – e continuava, também, a responder com alegria, trabalho esforçado e espírito voltado a Deus.

A propósito, São Francisco de Sales tem um relevante conselho para quem sofre dessa provação:

“Refresque-se com músicas espirituais, que muitas vezes provocaram o demônio a cessar as suas artimanhas, como no caso de Saul, cujo espírito maligno se afastou dele quando Davi tocou sua harpa perante o rei. Também é útil trabalhar ativamente, e com toda a variedade possível, de modo a desviar a mente da causa de sua tristeza”.

5 – São Noel Chabanel

Padre jesuíta, mártir norte-americano, trabalhou entre os índios huron com São Charles Garnier. Os missionários, no geral, desenvolvem grande empatia por aqueles a quem evangelizam; no entanto, não foi o caso do pe. Noel: ele sentia repugnância pelos índios e pelos seus costumes, além de imensa dificuldade para aprender a sua língua, completamente diferente de qualquer idioma europeu, sem falar nos brutais desafios que a vida em ambiente quase selvagem envolvia. Todo esse conjunto de provações gerou nele um sentimento duradouro de sufocamento espiritual. Como ele respondeu? Fazendo um voto solene de jamais desistir nem abandonar a sua missão. E esse voto ele manteve até o dia do seu martírio.

6 – Santa Elizabeth Ann Seton

A primeira santa nascida em solo estadunidense sofria com a contínua sensação de solidão e melancolia, tão profunda que ela pensou várias vezes em se matar. Ela teve muitos problemas em sua vida, especialmente relacionados à sua família. Leituras, música e o mar a ajudaram a ser mais alegre. Quando se converteu, a Eucaristia e a caridade passaram a ser sua grande força diária!

7 – São João Maria Vianney

Conhecido como o Cura D’Ars, ele é um dos sacerdotes mais queridos da história da Igreja, modelo de pároco zeloso e de pastor que superou as muitas e graves limitações intelectuais próprias para guiar as almas com maestria pelo caminho da vida de graça. Apesar de todo o bem que fazia, ele não conseguia enxergar a própria relevância diante de Deus e convivia persistentemente com um forte complexo de inutilidade pessoal, sintoma da depressão que o acompanhou durante toda a vida.

Nos momentos mais difíceis, ele recorria ao Senhor e, apesar do sofrimento, renovava a determinação de perseverar no seu trabalho com confiança, fé e amor a Deus e ao próximo.

8 – Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein)

A santa carmelita descalça que havia nascido judia e crescido ateia sofreu com a depressão durante longo período. Chegou a escrever:

“Encontrei-me gradualmente em profundo desespero… Eu não podia atravessar a rua sem querer que um carro me atropelasse e eu não saísse viva dali”.

Desde antes de se converter, principalmente nas muitas ocasiões em que foi desprezada e humilhada por ser mulher e de origem judia, Edith sofreu intensamente a depressão. Intelectual, filósofa, discípula e até assistente de Edmund Husserl, o fundador da fenomenologia, ela finalmente encontrou em Deus a Verdade que tanto buscava, a partir da leitura da obra de Santa Teresa de Jesus. Abraçou então a graça com tamanha sede que dela arrancava as forças para lidar não apenas com os seus dolorosos sofrimentos interiores, mas também com as trevas mortíferas do nazismo.

Edith Stein, que adotou no convento carmelita o nome religioso de Teresa Benedita da Cruz após se converter e se consagrar a Deus radicalmente, foi capaz de perseverar até o martírio, mantendo a lucidez, a fé, a esperança e o amor inclusive na prisão e na execução a que foi submetida covardemente no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Esse final de vida terrena parece particularmente deprimente? Pois ele é, mesmo. No entanto, como tudo nesta vida tem mais do que apenas um lado, ela enfrentou esse cenário extremo com a serenidade e a paz de espírito de quem aprendeu a lidar com os altos e baixos da depressão, enxergando além do imediato e abraçando uma vida que não acaba porque é eterna – e que é capaz de brilhar até mesmo nas trevas mais densas da morte num campo de concentração.

“O grande truque do diabo é fazer-nos pensar que ele não existe”.Estas não são as palavras de um teólogo, nem mesmo de um santo: foram escritas pelo poeta francês Charles Baudelaire. A presença silenciosa, mas ativa de Satanás é como um câncer não detectado que, de uma forma desonesta e não percebida, corrompe um corpo e se instala em tantos órgãos quanto possível através de uma metástase letal.

Pe. Paolo Morocutti sabe muito bem disso. Ele é um exorcista da Diocese de Palestrina, uma das dioceses periféricas de Roma. Também é membro da AIE (Associação Internacional de Exorcistas, abreviado de seu nome em italiano) e professor de vários cursos para exorcistas.

Muitas pessoas gostariam de conhecer um exorcista para que pudessem aprender mais sobre o diabo. Aqui está um pouco do que aprendemos quando conversamos com o Pe. Marocutti.

Alguns teólogos são da opinião de que os exorcismos bíblicos – incluindo aqueles realizados por Jesus – foram simplesmente curas de doenças que, naquela época, eram consideradas influências espirituais. O que o senhor pensa sobre esse assunto?

Na verdade, essa questão foi resolvida há muito tempo. Acima de tudo, é uma questão de honestidade intelectual. A exegese bíblica cuidadosa e a teologia séria reconhecem claramente a diferença entre a forma como Cristo lida com pessoas doentes e a maneira como ele trata as pessoas possuídas nos Evangelhos. Ele usa duas abordagens totalmente diferentes.

O Catecismo da Igreja Católica contém um ensinamento claro sobre este assunto, e nenhum bom católico pode deixá-lo de lado. Finalmente, gostaria de me referir aos ensinamentos dos santos, que, com a vida de união com Cristo que viveram dentro da Igreja, confirmaram o Magistério de forma clara e inequivocamente.

Algumas pessoas defendem a extinção do ministério dos exorcistas, porque consideram que é uma usurpação do trabalho dos psicólogos. Como o senhor enxerga isso?

Eu leciono Psicologia Geral (na Faculdade de Medicina) e Cirurgia (na Universidade Católica do Sagrado Coração), e entendo bem a diferença entre as duas disciplinas. De acordo com a antropologia cristã, os seres humanos são sempre e em todos os lugares entendidos a partir de uma perspectiva integral e unida. As duas disciplinas não estão, de fato, em competição. Em vez disso, elas estão intimamente conectadas. Uma pessoa espiritualmente perturbada quase sempre precisa de apoio humano qualificado para interpretar a situação e avançar pacificamente. Quando o espírito é afetado, a carne também é afetada e vice-versa. O problema surge quando a Psicologia, especialmente a Psicoterapia, constrói suas convicções sobre conceitos antropológicos improváveis ou sobre os que estão longe do humanismo cristão.  Nesse caso, podem surgir dicotomias perigosas – ou, pelo menos, inconvenientes.

Quais os critérios usados para diferenciar casos psicológicos dos espirituais?

A sabedoria da Igreja, desenvolvida ao longo de milhares de anos através da formação de livros litúrgicos – que, entre outras coisas, faz parte do magistério oficial para nós católicos – estabelece um procedimento através do qual um sacerdote exorcista pode reconhecer o trabalho e a presença do diabo. Penso que é útil mencionar que, na última versão do rito, o exorcista é convidado a utilizar a ciência médica e psicológica para discernir melhor. Além disso, o rito indica como critério para reconhecera presença do maligno: falar línguas desconhecidas, saber ou revelar coisas escondidas e demonstrar força desproporcional à idade e ao estado natural do sujeito. Esses não são critérios absolutos; são sinais que, se identificados dentro de um quadro geral com atenção aos detalhes, podem ajudar muito um exorcista. É necessário dedicar muito tempo a ouvir a pessoa e fazer uma análise atenta do comportamento e hábitos de vida do sujeito. É importante concentrar-se mais na sua vida moral do que nos sinais, embora este último possa ser sempre uma grande ajuda.

Quais são os principais canais através dos quais a obsessão demoníaca ou a possessão podem surgir?

O canal principal é, definitivamente, o pecado – em particular, um estado de pecado grave, vivido deliberadamente e sem arrependimento. Essa condição geralmente expõe a alma à ação do diabo.

Além disso, os principais canais de ação de Satanás são: o esoterismo, a feitiçaria, o seguimento mais ou menos consciente de práticas filosóficas inspiradas nas religiões orientais ou, de alguma forma, incompatíveis com uma visão antropológica cristã e, finalmente, participação em grupos abertamente satânicos.

Frequentemente, essas realidades estão escondidas por ideologias aparentemente inócuas. Devemos ser cautelosos. Satanás nos seduz com falsa beleza, fazendo com que as coisas contrárias a Deus pareçam boas e inofensivas.

Ainda assim, no centro do processo de discernimento está sempre a ação moral de uma pessoa. Se uma pessoa age com retidão moral e permanece em estado de graça, buscando a verdade, é improvável que ele ou ela seja objeto de ação extraordinária do maligno. Obviamente, a vida de certos santos é uma exceção. Em alguns casos, devido à permissão especial de Deus, eles até experimentaram o combate com o diabo de maneira sangrenta.

O que o senhor aprendeu de positivo ao exercer este ministério que poderia deixar como lição e conselhos para nossos leitores?

Que o amor de Jesus Cristo por nossas almas é algo sério e que a alma deve ser protegida em um estado de graça, como o presente mais belo e sublime que Deus nos deu. Hoje, a sensação de pecado está desaparecendo cada vez mais, devido a uma compreensão profundamente equivocada da misericórdia. Neste ministério, entendi claramente que a Eucaristia, o sacramento da Confissão e o nosso amor por Maria Santíssima são os meios mais confiáveis para caminharmos sempre na graça e na verdade – e para sempre podermos apreciar a doce presença de Jesus em nossas almas.

poll-postpartum-depression-tatyana-dzemileva-shutterstock

Fique atento: alguém da sua família (ou você mesmo) pode estar ocultando a depressão – ou nem sequer sabe que tem a doença

Existem pessoas que vão levando a vida com “depressão mascarada” ou “escondida“: elas tentam ocultar a sua depressão diante dos outros ou nem sequer sabem (ou não querem admitir para si mesmas) que têm depressão.

Isto acontece porque ainda existem, entre as pessoas, entendimentos vagos ou equivocados sobre esta doença de sintomas complexos, que variam de indivíduo para indivíduo: nem sempre é fácil identificar a presença da depressão em familiares, amigos, colegas ou até em nós próprios. O desconhecimento e os preconceitos a respeito da depressão estão diminuindo, é verdade, mas, mesmo assim, continuam sendo bastante frequentes.

No entanto, até nos casos em que o sofrimento parece “invisível”, ele deixa “sinais” que podemos captar se estivermos atentos.

E estes são 7 sinais de que uma pessoa pode estar sofrendo de “depressão escondida”:

1. A pessoa deprimida pode nem parecer deprimida, mas está constantemente cansada

Muita gente pensa que as pessoas com depressão não querem sair do quarto, ficam desleixadas e andam sempre tristes. Mas a depressão não tem os mesmos sintomas em todas as pessoas. Muitos doentes conseguem demonstrar uma aparência de boa saúde mental, mas, por baixo desse verniz, estão exaustos. De fato, um efeito bastante comum da depressão é um permanente cansaço – e, se o doente não foi diagnosticado adequadamente, nem ele sabe que a causa desse cansaço é a depressão. Talvez ele pense que está apenas com acúmulo de trabalho, ou se culpe por uma suposta preguiça, ou ache que está com “fraqueza”. Um diagnóstico sério é fundamental para dar início à solução deste quadro depressivo.

2. A pessoa deprimida pode se irritar com facilidade

Ainda é comum a ideia de que uma pessoa com depressão seja quieta, amuada, apática. Por isso, muita gente não imagina que a pessoa deprimida pode ficar bastante irritadiça. Mas ela pode; aliás, isso ocorre com frequência, já que ela precisa continuar lidando com as responsabilidades do cotidiano apesar da falta de energias, o que é bastante esgotador. Como o mundo inteiro parece mais acelerado e impaciente hoje em dia, é comum que as pessoas não interpretem essa irritabilidade como sintoma da depressão. E é por isso mesmo que é necessário ficar atento: a irritabilidade pode ser, sim, um sintoma da doença.

3. A pessoa deprimida pode parecer indiferente ao afeto dos outros

O indivíduo com depressão nem sempre se sente triste: muitas vezes, ele simplesmente não sente nada. São relativamente comuns os relatos de pacientes que se sentem frios, indiferentes, “entorpecidos”, e, nesse quadro, eles não reagem a palavras e atos de carinho. Este é outro sinal que pede atenção.

4. A pessoa deprimida pode abandonar atividades que antes gostava de fazer

O desinteresse por atividades antes prazerosas é um indicativo frequente da depressão, já que a doença esgota as energias físicas e mentais, reduzindo drasticamente a capacidade de sentir satisfação. Se não houver explicação plausível para o desinteresse crescente da pessoa por atividades das quais ela gostava, este mesmo fato pode ser um importante sintoma da depressão.

5. A pessoa deprimida pode assumir hábitos alimentares prejudiciais

A alteração dos hábitos alimentares pode ser um efeito colateral do descuido com a própria vida ou até uma tentativa de lidar com a doença: pode ser que o excesso de comida seja uma forma de tentar sentir algum prazer, por exemplo, ou que a perda de apetite seja um indicativo de que até o ato de comer já se tornou insípido e pesado. É comum achar que os maus hábitos alimentares de alguém se devam a mera falta de disciplina, mas eles também podem ser sinais relevantes de depressão clínica.

6. A pessoa deprimida pode se sentir pressionada ou exigida além das suas forças

Uma pessoa com depressão não tem as mesmas disposições de quem está mental e fisicamente sadio. Exigir o que ela não é capaz de fazer só serve para piorar o seu quadro, porque tanto pode perturbá-la e frustrá-la quanto deixá-la envergonhada e magoada. Se é sempre importante ser paciente e compreensivo com todas as pessoas no dia-a-dia, é mais importante ainda ter a sensibilidade de manter a paciência e a compreensão com as pessoas que enfrentam o peso da depressão: elas realmente não conseguem fazer as coisas com a mesma disposição de quem não sofre a doença. Não é frescura! É doença e requer tratamento – e muita paciência.

7. A pessoa deprimida pode oscilar de humor aleatoriamente

A depressão pode ser cheia de altos e baixos, alternando “dias bons” e “dias ruins” sem muita lógica aparente. Geralmente, não se percebe uma motivação específica para as variações de humor: elas podem ser apenas uma forma de manifestação da depressão. É importante prestar especial atenção à falsa impressão de que a pessoa está curada quando passa por uma série de “dias bons”: na verdade, o quadro poderá mudar de repente, reforçando a necessidade de ajuda especializada.

________

Com informações de LifeHack

terapia-de-regressao-6-847-thumb-570

De vez em quando, aparecem histórias trágicas de suicídio nos noticiários. Uma mulher faz o impensável a seus filhos e acaba tirando a própria vida. Todo mundo está em choque. Eles não podem acreditar que ela faria isso com seus próprios filhos. Eles estavam sempre tão bem vestidos e cuidados. Iam à igreja todos os domingos. Eram vizinhos calmos e agradáveis , todo mundo parecia muito feliz.

E, no entanto, um dia ela ligou o gás do fogão.

“É obra do diabo!”, dizem as pessoas.

Ou outra história: uma mulher jovem e sofredora deixou sua casa e nunca mais voltou. Ela não disse uma palavra a ninguém. Apenas deixou seu filho dormindo e saiu. Uma semana antes, ela tinha postado uma foto de seu recém-nascido no Facebook. Parecia feliz. Ela planejou o batismo e comprou as roupas. “O que aconteceu com ela? O que a fez agir assim?! ”

Atrás dessas manchetes sensacionalistas está uma profunda desordem psicológica. As maiores desordens, porque muitas vezes as pessoas que passam por isso são mal interpretadas.

Quando um paciente católico me diz que não acredita em psicoterapia, eu lhes digo que não se trata de fé, mas de habilidade.

O que elas fizeram de errado?

A mãe sofredora não pediu ajuda. Ela estava envergonhada. Ela estava com medo de si mesma porque seus pensamentos pareciam estranhos. Ela via coisas que os outros não viam. Ela ouvia vozes, mas outras pessoas não respondiam. Ela parou de cuidar de si mesma, não procurou mais seus amigos, e não falou para ninguém que estava muito cansada. Seu bebê chorou, mas não por muito tempo.

Entre a insônia e a fadiga, algo perturbador se infiltrava. Memórias estranhas e indesejadas, pensamentos perigosos. Algo lá dentro estava dizendo a ela para deixar sua casa como uma forma de castigo.

“Sim, essa é a sua cruz, e ela tem que suportá-la. Ela não merece a felicidade ou seu bebê. Ela tem que se castigar.”

Muitos católicos estão convencidos de que têm problemas com sua fé, e não com sua saúde mental. Eu explodo facilmente, perco a paciência com meus filhos. Sinto vergonha e corro para a confissão; eu me arrependo e prometo tentar uma vez mais, mas acontece de novo. Eu começo a me bater. Em vez de tentar entender o que eu poderia estar passando, eu rejeito e me castigo: eu me privo de tudo, não compro nada novo, não saio com amigos. Mas isso tudo não ajuda. Eu perdi meu caminho? Eu sou fraca porque me afastei de Deus. Eu estou na cama chorando, quando eu deveria estar tentando ser mais santo.

A diferença entre problemas psicológicos e problemas espirituais

Essa linha de pensamento é perigosa. As pessoas não acreditam que  precisam de ajuda médica. Não há necessidade de um diagnóstico. Medo e vergonha de ir a um psiquiatra ainda são generalizados. E se as orações não ajudam e os problemas não são compreendidos, então será que um exorcista vai ajudar?

Um padre ou um conselheiro espiritual pode desempenhar um papel importante no apoio moral, mas ele não substitui um médico. Claro, uma confissão tem um elemento de terapia. É uma forma de limpeza que permite aliviar os sentimentos. Mas, muitas vezes, é uma solução de curto prazo, porque os problemas voltam, as dificuldades se acumulam e a dor não diminui.

A confissão é um ato de fé; terapia é trabalhar em si mesmo e é sempre um processo. Entender por que, por exemplo, estou aterrorizada pela ternura do meu marido? Por que eu amo possessivamente, ou por que eu sou tão honesta que pareço quase agressiva para as pessoas próximas a mim?

É importante diferenciar os problemas espirituais dos psicológicos. Em vez de sentir culpa constante, permanecer na dor e lutar sem êxito contra você mesma é crucial admitir que seu problema não é espiritual, mas psicológico. Você não está perdida, você está doente. Você não tem uma crise de fé, mas você tem um problema de saúde mental.

O pecado da gula pode se transformar em bulimia, o pecado da preguiça pode ser a depressão e a vaidade pode ser um transtorno  neurótico. “Pensamentos impuros” repetitivos, às vezes, são diagnosticados como transtornos obsessivo-compulsivos.

Os católicos precisam de psiquiatra ou psicólogo?

Claro que sim! Assim como qualquer outra pessoa que já não é capaz de lidar com seus sentimentos e pensamentos e sente que seus eles  podem representar um risco para si ou para seus entes queridos. Sempre que ele ou ela ouve a pergunta: “Então, o que está acontecendo com você?”, eles podem não entender a preocupação. Afinal, nada está acontecendo; é uma coisa privada. É a minha cruz, e vou suportar, de alguma forma.

Quando seu dente dói, você não deve procurar um par de alicates; você deve ir a um dentista. Quando nos afastamos da vida cotidiana e nos sentimos tristes e sem esperança sem razão, quando temos pensamentos suicidas, obsessões, comportamentos chamando a atenção dos outros devemos ir ao médico.

Um psiquiatra não é um deus; não precisamos acreditar nele para usar seu conhecimento médico. Neurose ou doença mental não é algo de que se deve ter vergonha, mas negar o conhecimento e os recursos do campo da psiquiatria é. Um médico não ficará surpreso, ele vai entender. Seu trabalho é descobrir o que está acontecendo com você e o motivo.

Um bom católico não tem de escolher entre ajuda espiritual e médica. As práticas religiosas e terapêuticas não precisam competir ou lutar. Elas podem se complementar. É bom dizer ao seu confessor sobre o seu tratamento. Tais informações afetam a confissão, ajudam a promover uma nova compreensão da culpa, do arrependimento e da punição pelo que você pode ter feito.

Um bom psiquiatra não luta contra a fé do paciente. Ele sabe que para ele é um valor fundamental, e o apoio moral de um padre ou de um grupo de oração ajuda muito. O paciente e seus entes queridos não se sentem estigmatizados, excluídos ou piores. Às vezes, os transtornos mentais contêm elementos de natureza religiosa e pode haver uma necessidade de uma conversa direta entre os médicos e o padre do paciente.

O melhor conselho para pessoas de fé que estão passando por um sofrimento psicológico? Reze e consulte um médico!

Zyta Rudzka é graduada pela Academia de Teologia Católica, com pós-graduação em Psicologia. Ela ganhou o Prêmio Drama Gdynia pelo seu drama “Cold Buffet”. A versão para televisão de sua peça, “The Sugar Bra”, ganhou uma medalha de ouro no prestigioso Worldfest Independent Film Festival em Houston. Suas obras foram traduzidas para o alemão, russo, inglês, croata, italiano, tcheco, francês e japonês.

10072016092453

O americano Richard Gallagher é um psiquiatra certificado pela Junta Americana de Psiquiatria e Neurologia que reconheceu a possessão demoníaca de uma autoproclamada sacerdotisa satânica, depois de não encontrar evidência científica para provar que ela sofria de um transtorno mental. Gallagher, que também é professor de psiquiatria clínica no New York Medical College, atualmente trabalha em um livro sobre posse demoníaca e esta é a sua história.

No final da década de 80, Richard conheceu uma mulher que se referia a si mesma como bruxa, vestia roupa escura e utilizava sombras de olhos de cor negra que chegavam até as têmporas. “Em nossas muitas conversas, reconheceu adorar Satanás como sua ‘Rainha’”, contou o cientista ao jornal Washington Post.

Devido à formação de Gallagher como psiquiatra pela Universidade do Yale e em psicanálise pela Universidade de Columbia, foi contatado por um sacerdote católico que procurava sua opinião profissional, especificamente para descartar que a mulher sofresse de um transtorno mental e assim assegurar-se de que se tratava de uma posse demoníaca.

“Senti-me cético. Mas o comportamento da mulher superou o que podia explicar com minha formação. Ela podia dar-se conta dos segredos de algumas pessoas, sabia como tinham morrido indivíduos que nunca conheceu, incluindo a minha mãe e seu caso mortal de câncer de ovário”, disse Gallagher.

Além disso, seis pessoas lhe asseguraram que durante os exorcismos realizados a esta mulher, escutaram-na falar vários idiomas incluindo o latim, que era totalmente desconhecido para ela.

“Esta não era uma psicose; só consigo descrever como uma capacidade paranormal. Cheguei à conclusão de que estava possuída”, expressou.

“Durante os últimos 25 anos, em várias centenas de consultas, ajudei clérigos de várias denominações e credos a filtrar os episódios de uma enfermidade mental –que representam a imensa maioria dos casos– de, literalmente, uma obra do diabo”, conta o psiquiatra.

Gallagher assegurou ainda que não vê a ciência e a fé em conflito: “os mesmos hábitos que realizo como professor e psiquiatra –abertura, respeito pela evidência e a compaixão pelo sofrimento– me ajudam a discernir se estes ataques são em realidade maus espíritos ou se trata de condições médicas”, explica.

Segundo o especialista os ataques que recebem os indivíduos se classificam como “possessão demoníaca” ou como “opressões”, que são ataques mais comuns, mas menos intensos.

“Geralmente uma pessoa possuída pode entrar em uma espécie de transe e apresentar estados de voz nos que se injuria e menospreza a religião, assim como entender e falar vários idiomas estrangeiros previamente desconhecidos”, narrou.

Acrescentou também que pode apresentar “uma força enorme ou inclusive o estranho fenômeno de levitação. Pode-se exibir ‘conhecimento oculto’ de todo tipo de coisas, como a forma em que seres queridos de estranhos morreram, os erros que cometeram, inclusive como se encontram as pessoas em um momento dado. Estas são habilidades que não se podem explicar, exceto pela capacidade psíquica ou sobrenatural”.

O especialista comenta que embora se aproxime de cada caso com certo ceticismo, tecnicamente não realiza um “diagnóstico” próprio, mas informa aos clérigos que os sintomas que se apresentam não contam com uma causa médica concebível.

“Sou consciente da forma em que muitos psiquiatras veem este tipo de trabalho. Enquanto a Associação Americana de Psiquiatria não tiver uma opinião oficial sobre estes assuntos, o campo estará cheio de céticos e materialistas”, sentenciou Gallagher.

A demanda de exorcistas está crescendo nos Estados Unidos, onde pelo menos há 50 exorcistas “estáveis” frente aos 12 que havia há apenas uma década.

Assim o explica o Pe. Vicente Lampert, um sacerdote exorcista da Arquidiocese de Indianápolis. Atualmente este sacerdote recebe perto de 20 consultas por semana, o dobro de quando seu Bispo o nomeou em 2005.

ACI

espiritualidade-no-tratamento-psiquiátrico

A Associação Mundial de Psiquiatria aprovou no mês passado um documento que declara a importância de se incluir a espiritualidade no ensino, pesquisa e na prática clínica da psiquiatria.

O documento não serve para que o médico psiquiatra indica uma crença religiosa ao paciente, mas sim que ele converse sobre o assunto, mostrando que a fé pode ajudá-lo.

Nos Estados Unidos há muitos estudos sobre o tema, o jornal Folha de São Paulo chega a citar que no PubMed, ligado ao governo americano, há mais de mil artigos científicos publicados que falam a respeito da religião nos tratamentos psiquiátricos.

Esses trabalhos falam sobre inúmeras maneiras de como os recursos espirituais podem melhorar a saúde e o bem-estar dos pacientes. Alguns falam sobre acreditar em Deus ou em um poder superior, outros sobre frequentar alguma instituição religiosa, participar de momentos de meditação e muito mais.

O que esses estudos mostram também é que há um maior impacto positivo na saúde mental dos pacientes que passam a ter um envolvimento religioso. As teses não tentam provar a existência de Deus de forma científica, mas sim que os laços sociais criados na prática religiosa reduzem a incidência de solidão, depressão e amenizam o estresse causado por doenças ou perdas.

Três metas-análises (revisões científicas) indicam que frequentar serviços religiosos aumenta cerca de 37% a probabilidade de sobrevida em doenças como o câncer, e a ciência tenta entender como isso acontece.

Se para os religiosos o resultado dessas pesquisas é um verdadeiro milagre, para os médicos e cientistas trata-se do chamado eixo “psiconeuroimunoendócrino”. Essa palavra tenta explicar que na verdade a emoção positiva gerada no convívio com instituições religiosas eleva a produção de hormônios capazes, por exemplo, de reduzirem a pressão arterial.

O professor de psiquiatria da Universidade Federal de Juiz de Fora, Alexander Moreira-Almeida, diz que “o impacto da religião e espiritualidade sobre a mortalidade tem se mostrado maior que a maioria das intervenções, como o tratamento medicamentoso da hipertensão arterial ou o uso de estatinas”.

Porém o médico faz um alerta sobre os efeitos negativos que as crenças religiosas podem trazer à saúde. Principalmente quando o paciente desiste do tratamento. “Piores desfechos em saúde são observados quando há uma ênfase na culpa, punição, intolerância, abandono de tratamentos médicos. A existência de conflitos religiosos internos ao indivíduo ou em relação à sua comunidade religiosa também está associada a piores indicadores de saúde.”

O professor de psicologia clínica na Bowling Green State University (Ohio), Kenneth Pargament, também alerta sobre os riscos, diz que a religião e a espiritualidade podem sim ser recursos vitais para a saúde e bem-estar, mas também podem ser fontes de perigo.

“Para muitas pessoas, a religião e a espiritualidade são recursos-chave que podem facilitar o seu crescimento. Para outros, são fontes de problemas que precisam ser abordadas durante o tratamento. Isso precisa ser compreendido pelos profissionais de saúde.” Com

Folha de SP

priests-playing-footba

Ir à ​​igreja com regularidade é uma maneira eficaz de evitar a depressão, sugere pesquisa de equipe britânica e holandesa. Durante quatro anos foram monitoradas 9.000 pessoas em diversos países da Europa.

As pessoas que se juntam a uma organização religiosa têm uma saúde mental melhor do que aqueles que se juntam a um grupo comunitário ou partido político, concluíram os acadêmicos.

O estudo foi publicado ontem na revista científica American Journal of Epidemiology. Ele comparou diferentes tipos de atividade social e como elas influenciam o humor das pessoas. Entre as conclusões, ficou evidenciado que pertencer a um grupo religioso também é mais benéfico do que participar de atividades esportivas, educacionais ou fazer obras de caridade.

A pesquisa foi realizada conjuntamente pelo Centro Médico da Universidade Erasmus, na Holanda, e a Escola de Economia e Ciência Política de Londres. Os acadêmicos descobriram que aderir a uma organização religiosa é a melhor forma de combater a depressão. Porém, não puderam precisar se é a fé em si que ajuda as pessoas, ou se a religião simplesmente dá às pessoas um “sentimento de pertença”, especialmente na terceira idade.

O especialista em saúde mental Dr Mauricio Avendano, que coordenou parte do estudo, disse que a única atividade associada à felicidade duradoura era participar de um local de culto religioso. Embora pessoas que se juntem a grupos políticos e comunitários tendem a mostrar uma melhora inicial em sua saúde mental, isso acaba diminuindo drasticamente a longo prazo.

“A igreja parece desempenhar um papel social muito importante para manter a depressão longe e também serve como um mecanismo de enfrentamento durante períodos de doença na fase da velhice”, afirmou.

Cerca de dois anos atrás, outro estudo, (descrito abaixo), mostrou que dentre as pessoas com predisposição genética à depressão, as que são religiosas correm um risco até 90% menor de passar por isso que as não religiosas.

***

Muitos estudos sobre a influência da oração e da espiritualidade na saúde já foram realizados. A pesquisa mais recente é da Universidade Columbia, nos Estados Unidos.

Publicada na semana passada na revista científica JAMA Psychiatry, mostra como a anatomia cerebral pode indicar o risco de uma pessoa ter depressão. Essa membrana que reveste o cérebro é comprovadamente mais fina nas pessoas com maiores chances de ter a doença. O novo estudo da Columbia indica que as pessoas religiosas possuem uma tendência de possuir um córtex cerebral mais espesso. Assim sendo, elas teriam um risco menor de depressão.

Os dados compilados ainda não conseguem comprovar como a espiritualidade mais desenvolvida aumenta a espessura do córtex cerebral. Contudo, estudos anteriores mostraram que dentre as pessoas com predisposição genética à depressão, as que são religiosas correm um risco até 90% menor de passar por isso que as não religiosas.

Os pesquisadores selecionaram pessoas entre 18 e 54 anos, que foram acompanhadas durante cinco anos. Apenas uma parte delas tinha predisposição genética para a depressão. Durante a pesquisa, os cientistas fizeram entrevistas para determinar a importância da religião em suas vidas, bem como a frequência com que iam a templos ou igrejas. Os voluntários submeteram-se ainda a exames de ressonância magnética, fazendo um monitoramento de sua anatomia cerebral.

Entre as conclusões do estudo, os pesquisadores revelam que as pessoas que estavam mais envolvidas com questões espirituais, de fato possuíam um córtex mais espesso em algumas áreas do cérebro. A associação entre religiosidade e a espessura do córtex foi comprovada em todos os participantes, sendo mais forte naqueles que tinham um histórico de depressão na família. Com informações Health Day e Revista Veja.

 Daily Mail

topic (1)

“Medicando os sentimentos das mulheres”: este era o título do artigo mais compartilhado por e-mail, no último fim de semana, pelos leitores do site do “New York Times” (original em inglês).

A autora do artigo, Julie Holland, é uma psiquiatra preocupada com o “boom” de cidadãos norte-americanos que estão tomando medicamentos psiquiátricos; em particular, mulheres. Julie calcula que pelo menos uma em cada quatro mulheres anda tomando esse tipo de medicação, diante de um em cada sete homens.
 
Este quadro é “insano”, considera ela. E eu tive que concordar. Mas o que realmente me surpreendeu no artigo foram outras considerações feitas por ela:
 
“O humor das mulheres oscila naturalmente. Pelo nosso design evolutivo, somos equipadas para ser sensível aos nossos ambientes, empáticas com as necessidades dos nossos filhos e intuitivas quanto às intenções dos nossos parceiros. Isto é fundamental para a nossa sobrevivência e para a da nossa prole”.

Como é que é? Somos regidas pelas nossas emoções, mais do que pela razão? Design evolutivo? Equipadas? Ué, mas não deveríamos acreditar, hoje, que o comportamento é todo fruto de condicionamentos sociais, que o corpo tem muito pouco a ver com o que somos e que é hora de dar às mulheres mais direito à sua cabeça e aos homens mais direito ao seu coração?
 
Pode ser que 90% daqueles e-mails disparados pelos leitores do “New York Times” tenham sido enviados por feministas e professores da teoria de gênero bufando de raiva com as implicações biológicas da afirmação de Julie Holland.
 
“Algumas pesquisas sugerem que as mulheres têm frequentemente mais facilidade do que os homens para expor os seus sentimentos porque o desenvolvimento do cérebro feminino reserva mais capacidade para a linguagem, a memória, a escuta e a observação das emoções dos outros”.

Como? Mas e todos os cérebros femininos que estão se destacando cada vez mais na análise do mercado de ações e na manipulação de genes? E o ponto de vista cada vez mais difundido de que a espécie humana não é só macho e fêmea, e sim todo um espectro de gêneros cuja beleza e diversidade estamos agora começando a enxergar?
 
Se bem que, por outro lado, talvez houvesse centenas de mulheres “comuns” encaminhando o artigo por e-mail para as amigas e dizendo: “Olha só, isso aqui bem que faz sentido, né?”.
 
Holland até acena com um lencinho branco da paz para os teóricos do gênero ao dizer que “não pretende polemizar com tipo algum de ideologia pró ou antifeminista”, mas, ao mesmo tempo, se mantém firme em apresentar as suas “armas” biológicas. Provavelmente, porque ela é uma profissional da saúde e realmente lida com mulheres concretas, de carne e osso, que estão angustiadas de uma forma ou de outra e a quem ela quer ajudar na prática, em vez de se dedicar a virar a sociedade de cabeça para baixo.
 
O que vem incomodando Julie Holland é a maneira como as empresas farmacêuticas e alguns médicos estão explorando os naturais altos e baixos dos sentimentos das mulheres e tentando convencê-las (ou conseguindo convencê-las), através de uma publicidade implacável, de que as oscilações femininas de humor são patológicas e precisam de medicação. Uma horda de mulheres em busca de receitas de antidepressivos e antipsicóticos está criando o “novo normal”.
 
No entanto, diz a psiquiatra, “esse ‘novo normal’ está em desacordo com a biologia dinâmica das mulheres; o cérebro e a química do corpo precisam fluir”. O ciclo menstrual e seus efeitos sobre os hormônios têm uma razão natural de ser. Se as mulheres se sentem irritadiças, insatisfeitas e até choram sob a pressão da casa e do trabalho, esse fluxo natural serve para alertá-las de que as coisas precisam de mudança, incluindo, por exemplo, um sono de melhor qualidade e mais exercícios ao ar livre.
 
O consumo de medicamentos (é cada vez mais comum consumir os que regulam a serotonina, que é o ingrediente químico do cérebro responsável pela sensação de “tudo beleza”) implica o risco de ir entorpecendo o paciente, física e emocionalmente. Algumas mulheres percebem que ficam menos interessadas em sexo; outras relatam que sentem menos irritação, menos tristeza, menos raiva e menos preocupação, mas também sentem menos empatia, menor criatividade e menos inclinação a deixar os seus sentimentos se manifestarem.
 
Quando os níveis de serotonina são mantidos constante e artificialmente elevados nas mulheres, elas correm o risco deperder a sensibilidade emocional, com todas as suas flutuações naturais, e de acabar moldando um equilíbrio hormonal mais estático, mais comum ao sexo masculino. Esse embotamento emocional incentiva as mulheres a adotar comportamentos normalmente aprovados pelos homens: parecer invulneráveis, por exemplo, o que até pode ajudar as mulheres a ascender mais rápido em ambientes de negócios dominados pelos homens.
 
Em tudo isso, o que eu achei mais interessante é a hipótese de Holland de que a biologia humana tenha um sentido ético: se alguém se sente mal física ou mentalmente, é porque o corpo está lhe dizendo alguma coisa que é melhor ouvir e talvez mudar, em vez de só apelar para o Prozac e continuar igual a antes. Esta visão das coisas contrasta com a atual tendência de tratar o corpo como um volume de matéria ligado à mente e remodelável ao nosso bel-prazer, a fim de se adequar aos nossos desejos ou às exigências que a sociedade materialista nos impõe.
 
Se as mulheres estão hoje se medicando contra a depressão e a ansiedade duas vezes mais do que os homens é porque, ao longo dos últimos 50 anos, elas sofreram mais os efeitos de impor ao seu corpo um comportamento biologicamente masculinizado. Não nos esqueçamos de que, antes de medicar os sentimentos das mulheres, a indústria farmacêutica já tinha se concentrado, com grande empenho, em medicar a sua química reprodutiva. E, talvez, pela mesma razão: por exemplo, para impedir que o funcionamento natural do corpo feminino atrapalhasse os seus objetivos econômicos e políticos.
 
Em prol de um mundo com menos gente e, portanto, com mais sobras financeiras para consumir cada vez mais frivolidades materiais que nunca satisfazem os anseios humanos de amor correspondido e de sentido de vida, os anticoncepcionais foram o centro de um bombardeio propagandístico obedientemente engolido pelas mulheres. Agora, as mulheres estão engolindo um bombardeio de pílulas que as molda emocionalmente a um mundo consumista e focado em trabalho, carreira, status e ter.
 
Holland insiste:
 
“A emotividade das mulheres é um sinal de saúde, não de doença; é uma fonte de energia, não de fraqueza. Mas nós vivemos sob constante pressão para conter o nosso emocional. Somos doutrinadas a pedir desculpas pelas nossas lágrimas, a sufocar a nossa raiva e a ter medo de ser chamadas de histéricas”.
 
Poderíamos dizer exatamente o mesmo sobre o objetivo biológico da natural emotividade feminina:
 
“A fertilidade das mulheres é um sinal de saúde, não de doença; uma fonte de energia, não de fraqueza. Mas nós vivemos sob constante pressão para contê-lo. Somos doutrinadas a pedir desculpas por ficar grávidas, a sufocar a nossa raiva e a ter medo de ser traídas pela nossa própria evolução natural (como de fato somos, e cada vez mais)”. 
Isso também, para usar o mesmo termo de Julie Holland, é “insano”.
 
Se pelo menos a maioria dos psiquiatras reconhecesse este fato, estaríamos mais bem encaminhadas para resolver a epidemia do sofrimento psíquico feminino, em vez de tentar driblá-lo com paliativos que geram bilhões de dólares (para bolsos que não são os nossos).

Carolyn Moynihan

8-post-automultilac3a7c3a3o-6

Cortar na própria carne não é uma metáfora para muitos adolescentes. A disseminação da prática da automutilação em redes sociais dá uma pista sobre um problema que, no Rio, preocupa um número crescente de especialistas e escolas, que têm organizado palestras e eventos sobre o tema.

Psiquiatras cariocas já falam em “epidemia” de um castigo autoinfligido para, na ótica dos jovens, minorar sofrimentos emocionais ou psicológicos. E alertam: grande parte dos pais sequer percebe que os filhos têm se cortado com canivetes, lâminas de barbear e até lâminas de apontadores de lápis.

Administradora de uma das páginas sobre automutilação no Facebook, com mais 10 mil “curtidas” em menos de um mês de criação, A., de 15 anos, diz que o intuito não é incentivar, mas ajudar os jovens que sofrem do mesmo problema, sem julgá-los. Na rede, eles postam fotos das feridas e trocam experiências e telefones para formar “grupos de autoajuda” pelo aplicativo Whatsapp. A menina conta que fez o primeiro corte com um compasso há três anos e, desde então, só conseguiu ficar sem se mutilar por, no máximo, cinco meses.

— Começou na sala de aula, e me arrependo bastante. Falo muito com os curtidores da página para nunca darem o primeiro corte, pois se torna um vício. Depois desses meses, meus cortes, que antes eram leves, acabaram só aumentando e ficando fundos, deixando cicatrizes — conta A., aluna de um colégio estadual do Rio que diz ter aderido aos cortes por conta de traumas de infância e familiares, sobre os quais se recusa a falar.

O pai dela mora em Minas Gerais, e a mãe, no Rio, não desconfia do problema. Há uma semana, a adolescente foi chamada pela direção de sua escola, que percebeu o comportamento:

— As diretoras conversaram bastante comigo, e implorei que não contassem para minha mãe. Prometi que não ia me cortar mais lá dentro. Mas (ao fazer isso), sinto alívio na dor sentimental, troco-a pela física. Pelo menor por um momento eu me sinto livre de tudo. Esse é o problema: acaba dando vontade de me cortar compulsivamente.

Na última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM-5, na sigla da Associação Americana de Psiquiatria), a automutilação sem intenção de suicídio ficou sob observação para ser tratada como um transtorno isolado, apesar de estar comumente associada a comportamentos obsessivos compulsivos e outras síndromes, como a de Borderline. De acordo com o psiquiatra Olavo de Campos Pinto, membro do International Mood Center e ex-professor da Universidade da Califórnia (EUA), o principal público atingindo são meninas de 13 a 17 anos. A internet tem papel preponderante na disseminação atual da prática, que ele chama de epidêmica.

— Nessa idade, a pessoa não tem a personalidade formada e assume um comportamento de grupo altamente perigoso. As redes sociais são multiplicadores, o principal combustível, e (a automutilação) está se tornando uma epidemia. É uma maneira de lidar de forma impulsiva e destrutiva com frustrações e ansiedades. Tenho visto cada vez mais casos na pré-adolescência. É assustador — diz Campos Pinto. — Estudos de condução nervosa sugerem que, quando há uma sensação de frustração, o corte alivia a dor psíquica. Há um alívio imediato, mas, quando passa, vem uma sensação de vergonha, de arrependimento, de ser descoberto no seu ato.

Anteontem, o Colégio Sacré-Coeur de Marie, em Copacabana, Zona Sul do Rio, realizou uma palestra sobre o tema com psicólogas. O público-alvo eram alunos do 7º ano, e a programação fez parte de um evento em que os adolescentes escolhem os assuntos debatidos. Alguns choraram, outros saíram do auditório durante a apresentação. Orientadora educacional do ensino fundamental II, Clícia Belo conta que os primeiros casos surgiram quando a cantora teen Demi Lovato assumiu que se automutilava. As redes sociais trouxeram de novo o fenômeno à tona.

— Há uma percepção de que está numa crescente muito grande, sobretudo por causa das redes sociais, como produção de autossubjetividade. Muitos acabam praticando algum episódio para tentar acompanhar um grupo. A escola é espaço de possibilidades de coisas que, em casa, não se pode conversar pela sensação de incompreensão, inutilidade, culpa, desamparo e desamor — explica Clícia.

Aluno do 7º ano, X., de 12 anos, faz terapia há quatro e diz que às vezes sente vontade de se cortar, mas que nunca teve coragem:

— Penso em me cortar, mas sinto que não posso fazer isso e sinto dores de cabeça, nervosismo, aflição, muito estresse. Fico tremendo às vezes, e o pensamento dói. Mas sinto que não posso me automutilar porque seria muito torturante. Não posso contar para os meus pais para não envergonhá-los. Contei para minha terapeuta, e ela fez com que eu pensasse que não vai durar para sempre. Procuro me distrair e ver um filme.

A psicóloga clínica Elisa Bichels diz que já atendeu a mais de 80 pacientes de 13 a 16 anos com casos de automutilação, todos de classe média e alunos de escolas particulares do Rio. Segundo ela, além dos cortes, há outras formas de autoagressão como queimaduras, menos usuais. Ela também afirma que o aumento da incidência está ligado às redes sociais.

‘Aniversário’ da cicatriz

— Há quem se utilize de um ato autolesivo pela dor, mas outros (o fazem) porque todo mundo está fazendo, para ver qual é. A questão maior é convencê-los de que as informações da internet não são verdadeiras. Para dar vazão instantaneamente àquela angústia enorme, eles deslocam o sofrimento.

Por isso, vira uma compulsão. Eles ficam prestando atenção ao corte, comemoram o aniversário da cicatriz…. Muitas vezes já consegui evitar lesões conversando com eles pelo WhatsApp — conta Elisa.

A terapeuta cognitivo-comportamental explica que a duração do tratamento depende da gravidade das lesões e do tempo das práticas de automutilação. Para além do óbvio risco de infecções e doenças, há as marcas psicológicas, mais difíceis de apagar. Aluna de uma escola particular de Santa Cruz, Zona Oeste da cidade, Y., de 15 anos, está se tratando há um ano, mesmo período em que está sem se cortar, depois de sua mãe ver as marcas e cicatrizes em suas coxas. Ela conta que descobriu a prática em páginas no Tumblr.

Coordenadora de saúde da escola municipal do Ginásio Experimental Olímpico Juan Antonio Saramanch, em Santa Teresa, Angélica Bueno diz que o problema já foi detectado ali:

— São meninos e meninas de, às vezes, 12 anos. Estamos tratando dessa questão com as famílias e com profissionais da saúde.

A reportagem de Lauro Neto, publicada pelo jornal O Globo.

exorcismo1

Em 2008, o doutor Richard E. Gallagher, um psiquiatra e professor de Psiquiatria na clínica New York Medical College, documentou o caso de uma paciente com o nome de “Julia”, dizendo que se encontrava diante de um real caso de possessão demoníaca. É raro que um cientista e psiquiatra reconheça tal possibilidade, visto que em geral os médicos dizem que se trata de qualquer tipo de doença mental. O doutor Hallagher observou pessoalmente objetos voarem e notou que Julia era capaz de levitar, falar em línguas desconhecidas e saber coisas das pessoas ao redor dela.

Também a ciência cambaleia diante de episódios que se apresentam como inexplicáveis. Um destes é a possessão demoníaca, processo no qual o espírito demoníaco se apodera de um corpo mortal. Um processo não imediato e radical, mas que se manifesta em três frases, a última das quais (possessão de terceiro grau) é devastadora para o físico da pessoa, na qual o demônio altera fortemente as características físicas, a temperatura corpórea varia e a pele emite mau cheiro.

A Aleteia perguntou a especialistas do ramo da psiquiatria clínica e psicanálise como a medicina enfrenta este tipo de “via diabólica”.

A doutora Donatella Pace, especialista em Psiquiatria e em Psicologia Médica, seguiu em diversas ocasiões este tipo de pessoas, vítimas de opressões diabólicas. “Como psiquiatra – explica – avalio se seja mais indicado para os pacientes um percurso de psicoterapia, um tratamento psico-farmacêutico, ou eventualmente, os dois. A diferença entre um psiquiatra católico, ateu ou agnóstico está apenas no fato que o primeiro não exclui a verificação dos fenômenos pré-naturais”. Em alguns casos, de fato, verificam-se fenômenos não explicáveis em nível científico. “Ressalto, porém, que isso não acontece de forma frequente. 

Existe toda uma outra série de sintomas que não podem se assimilar a distúrbios psíquicos. “Fala-se de distúrbio bipolar – continua Pace – quando em um paciente se alternam períodos de excitação – marcados por hiperatividade, irritação, delírio de onipotência e outros – e períodos de profunda depressão. Este é um distúrbio puramente psiquiátrico. Em alguns casos, existem mudanças do tom de humor, que não são cíclicos como no distúrbio bipolar – meses de excitação, seguidos de meses de depressão – mas absolutamente repentinos e alternados no período de poucas horas: a pessoa pode ser tranquila e em uma hora se tornar agitada, furiosa, profundamente angustiada, alegre e assim por diante”.

Outro episódio que tem profundamente marcado a psiquiatria foi “a mudança improvisada de cor da pele em uma pessoa. A pele assumiu uma tonalidade indescritível e nunca observada clinicamente. Aquilo se associava a uma deformação do rosto e um timbre de voz também indescritível, acompanhados de uma força enorme”. Neste caso somente a intervenção do exorcista seria eficaz. “A pele retoma sua cor, o rosto parece doce em minutos e assim a voz volta ao timbre normal”.

“Antes de chegar a uma conclusão, o médico deve atender uma pessoa várias vezes, dizer quais são os sintomas físicos e psíquicos e debater com outros colegas. Às vezes, acontece que o trabalho do psiquiatra termina aqui. Ali entra o exorcista: será ele, e somente ele a comprovar através do discernimento dos fenômenos naturais e paranormais, ou seja, aqueles que se relacionam com situações de opressão, infestação ou possessão demoníaca”.

O professor Giorgio Codarini, psiquiatra e estudioso de demonologia, evidencia que no curso dos séculos existiu constantemente a tentativa de representar a força do mal. A neurose demoníaca se tornou objeto de estudo, evolução paralela da psicologia e da psicanálise. “A tarefa do psicanalista – afirma Codarini – é de tornar linguística, transformar em uma história, aquela experiência que transborda no delírio e busca elementos onde se origina o estado nervoso. Não é uma leitura ontológica, não crê na presença do ser que encarna o mal, mas estuda aquilo que é simbólico. E há casos em que ele admite ser impotente e encerra o trabalho”.

Segundo o psicanalista, existem pelo menos dois estados que, em alguns casos mais extremos, poderiam se chamar demoníacos: as histerias, que são nervosas, onde se registram mudanças de voz, o falar línguas desconhecidas; e as esquizofrenias, que são psicoses, caracterizadas por distúrbios psiquiátricos com êxtases muito perigosos, o contínuo ouvir vozes, ou emitir risadas anormais. Neste caso é como se tivesse diante de si mais pessoas que uma só. “Não tenho elementos para demonstrar que seriam possessões demoníacas – disse Codarini – mas naquelas pessoas percebo algo de anormal no rito do falar, na tipologia de linguagem adotada e no discurso. O mundo externo é como se não existisse, e existe uma apreciação fora dele”.

Em muitos casos é possível curar, transformando o estado de nervoso ou psicótico em uma história, banindo assim esta “presença” obscura, inexplicável, que anula o “eu”. “Em outras situações, não é possível curar a pessoa e, naquele ponto, pode entrar o exorcista para tirar a pessoa desta prisão”. 

É mais radical o pensamento do Padre Raffele Talmelli, psiquiatra e exorcista, autor do livro “Eu vejo o céu aberto”, no qual desmascara muitas obras do diabo. “A demonologia cuida de fatos extraordinários, com pessoas, frequentemente sãs na mente, que desmoronam no mal e o semeiam. Tudo isso não tem nada a ver com a psiquiatria. E após a Segunda Guerra, ocorreram muitas confusões entre as duas coisas”. 

Um exorcista “nem deveria comentar sobre o diagnóstico de um psiquiatra”. Daqui a um tempo sairá um documento da Conferência dos Bispos Italianos neste sentido. “Será útil relatar a demonologia fora do fenômeno da aberração”. Uma “disciplina” que não tem nada a ver com sintomas como mudanças bruscas de humor, distúrbios de personalidade. Nem é correto aproximá-la somente de uma força extraordinária de tipo muscular que poderia originar uma fase maníaca, ou à glossolalia, falar línguas desconhecidas que poderiam ter sido aprendidas em qualquer circunstância da vida. “É necessário ter atenção em outros sinais, sobretudo de ordem moral, que revelam sob forma diversa, a intervenção diabólica”, explica o psiquiatra-exorcista.

“Não digo nada de novo – prossegue padre Talmelli – porque é o Magistérios da Igreja a falar de possessão diabólica nestes termos. Basta ler o ritual do exorcista, hoje facilmente encontrado na internet, para ver que existe uma dimensão não estritamente física que testemunha a presença do demônio”. O sacerdote dá o exemplo de uma pessoa anciã, mas com uma vitalidade enorme, possessa pelo demônio dos 75 aos 90 anos. Era um clarividente e em quinze anos tinha escrito 20 mil páginas sem nenhum erro ortográfico, seguidamente, sem dormir, nem mesmo uma hora ao dia. Uma pessoa que manifestava dentro de si uma maldade incrível. Buscava teorizar o mal, tendo uma cultura de base muito limitada e se sentia movido por uma força que o garantia uma energia sem fim.

“Nunca soube que levantasse objetos pesados – acrescenta o sacerdote -, ou cometesse outros gestos que são associados a uma possessão diabólica. Quero ressaltar que quando Jesus encontrou o demônio, este citou o salmo, dando uma interpretação distorcida à Palavra de Deus. Não cometeu nenhum ato físico contra Jesus, ou contra si mesmo. Um outro exemplo: Hitler era uma pessoa movida pelo demônio, um convicto sustentador da pureza da raça ariana, um germe difundido com maldade indescritível a milhões de pessoas. Por isso sou convencido que a possessão é algo que entra em uma esfera não classificável da ciência, e se insere no extraordinário dos fatos”. 

Fonte: Aleteia

Roda_Viva_Valentim_Gentil_1297881872

  • Se o Brasil seguir a tendência de outros países e oficializar a indústria da maconha, nós teremos “uma fábrica de esquizofrênicos”. A opinião é do psiquiatra Valentim Gentil Filho, professor titular da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), convidado desta segunda-feira (4) do programa Roda Viva, apresentado ao vivo na TV Cultura e reproduzido pelo UOL.

Para o psiquiatra, considerado um dos mais influentes do país, a sociedade tem sido conivente e omissa em relação à droga, e os riscos provocados por ela não têm sido bem divulgados. Gentil Filho contou no programa que, segundo estudos bem fundamentados, a maconha aumenta em 310% o risco de esquizofrenia quando consumida uma vez por semana na adolescência. E trata-se de uma doença incurável: “O esquizofrênico pode ter uma vida praticamente normal, mas sempre há uma sequela”.

O psiquiatra sugeriu que, assim como pais permitem que seus filhos consumam álcool em festas, a informação distorcida de que maconha não faz mal fará com que eles deixem os jovens fumarem em casa. E o problema é que, nos adolescentes, que estão em uma fase de “poda” natural do cérebro para a entrada na idade adulta, a droga é especialmente prejudicial. 

O professor também fez críticas à chamada luta antimanicomial, que fez o Brasil fechar milhares de leitos psiquiátricos sem proporcionar alternativas. Ele ressaltou que o atual modelo dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) não tem como substituir o atendimento ambulatorial e as internações psiquiátricas. Para Gentil Filho, não se trata de abandonar os pacientes em manicômios, mas garantir o tratamento em fase aguda. Ele reforçou que, atualmente, só um terço dos pacientes psiquiátricos diagnosticados recebe tratamento. 

Para o psiquiatra, tanto a luta antimanicomial quanto a vinda de cubanos (pelo programa Mais Médicos) fazem parte de uma visão mais ampla que a medicina, de uma mentalidade que persiste no Ministério da Saúde e tem raízes político-ideológicas. Na prática, segundo ele, o que acontece é que há um número absurdo de pessoas com transtornos graves nas ruas, rejeitadas por hospitais e por outras instituições. “Há uma desassistência fenomenal e nós temos recursos terapêuticos”, lamentou.