Embora a Mãe de Deus “ame a todos” e “não seja chefe dos correios, que todos os dias manda uma mensagem”, disse Francisco a respeito de Medjugorje, “Deus faz milagres em Medjugorje. Em meio às loucuras humanas, Deus continua fazendo milagres”.

Essas são algumas das suas reflexões agora publicadas em italiano, de uma conversa com o Pe. Alexandre Awi Mello, secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. Seu diálogo foi publicado em um livro intitulado “Ela é minha mãe! – Encontros do Papa Francisco com Maria”, lançado este ano em italiano. 

“A obediência de uma pessoa à Igreja”, pontuou o pontífice, é um critério para discernimento quando há supostas aparições e quando há “mensagens” e “locuções interiores” que procedem de possíveis “pessoas especialmente dotadas”.

O dia em que Bergoglio proibiu uma reunião sobre aparições em Medjugorje

Sobre o caso de Medjugorje, que ainda está sendo estudado, o Papa Francisco relata que “quando eu estava em Buenos Aires, proibi uma reunião, que ocorreu de qualquer maneira. Eles sabiam, no entanto, que eu não estava de acordo”. 

Francisco está se referindo ao que aconteceu quando um dos “videntes” de Medjugorje visitou a arquidiocese que ele estava dirigindo na época, para um encontro marcado em uma igreja. O então arcebispo Bergoglio se opôs ao encontro (sem expressar sua opinião sobre a autenticidade das aparições) porque “um dos videntes ia falar e dar algumas explicações e, então às quatro e meia Nossa Senhora ia aparecer. Ou seja, ele tem a agenda de Nossa Senhora. Então, eu lhes disse: não; olha, esse tipo de coisa eu não quero aqui. Disse que não. Não na Igreja”. 

O Papa observou que “devemos distinguir que em Medjugorje, Deus faz milagres, entende? Assim, em meio às loucuras humanas, Deus continua fazendo milagres”.

Na mesma linha, ele diz que talvez existam “fenômenos mais pessoais”.

“Chegam-me algumas cartas, mas se vê que são questões mais psicológicas do que qualquer outra coisa. Nós temos que distinguir as coisas claramente. Eu acho que há graça em Medjugorje. Não há como negar isso. Existem pessoas que estão se convertendo. Mas também há falta de discernimento, e não quero dizer que há pecado, porque as pessoas não sabem onde o pecado começa, mas, pelo menos, há falta de discernimento”.

Falando hoje, com o pano de fundo do Sínodo dos Jovens, o autor do livro comentou sobre o surgimento do livro e sobre a visão eclesial do papa de uma Igreja que é mãe, como Maria: acolhendo e amando as novas gerações.  

“Eu tive a oportunidade, há algum tempo, de entrevistar o Papa Francisco sobre sua relação com a Virgem Maria, e parece-me que não é apenas um relacionamento piedoso ou devocional; é algo que afeta sua visão da Igreja. Por que o Papa ama tanto Maria? Porque nela, ele viu uma imagem da Igreja, do que deveria ser: uma mãe, acolhedora, professora, amiga, misericordiosa”. 

“Portanto, penso que é importante considerar essa dimensão materna da Igreja que ama e acolhe os jovens, que tanto necessitam”, disse Pe. Mello, durante a conferência de imprensa sobre o trabalho do Sínodo, realizada na Sala de Imprensa da Santa Sé.

Mello é o ex-diretor do ministério nacional de jovens no Brasil. 

Em relação a Medjugorje, apenas alguns meses após o pontificado do Papa, quando presidiu a missa na capela da Casa Santa Marta em 14 de novembro de 2013, explicou que o espírito de curiosidade mundana, que busca conhecimento por si só e procura coisas cada vez mais estranhas e incomuns, leva as pessoas para longe da verdadeira sabedoria e da beleza de Deus.

Neste contexto, ele expressou suas dúvidas sobre os videntes, que dizem ter mensagens da Virgem Maria em intervalos fixos.

Os videntes afirmam que estão vendo a Virgem Maria desde 1981.

Fala-se que talvez a Igreja pudesse eventualmente reconhecer apenas as primeiras sete aparições, à luz de um relatório preparado por um grupo de oficiais da Igreja sobre Medjugorje.

As aparições marianas aos seis videntes, hoje adultos, continuariam até hoje.

Dificuldades expressas pela Congregação para a Doutrina da Fé – que resultou do estudo da congregação sobre o assunto em 2016 – aumentam a complexidade do problema.

Por agora, está sendo discernido se a igreja construída em Medjugorje (Bósnia-Herzegovina) em honra à Virgem Maria poderia se tornar um santuário pontifício, uma possível solução para acabar com os conflitos entre os franciscanos, que estão no comando do santuário, e o bispo de Mostar, a diocese local.

Diálogo com jornalistas

Durante seu diálogo com jornalistas no caminho de volta do santuário de Fátima, que acaba de celebrar o 100º aniversário da aparição da Virgem Maria, o Papa revelou os resultados da comissão que identificou uma diferença muito clara entre o início do fenômeno que é “considerado sobrenatural” (24 de junho a 3 de julho de 1981) e o que aconteceu após as primeiras visões.

O relatório da comissão explica que as seis crianças videntes eram psicologicamente normais, que ficaram surpresas com a aparição e que não havia influência externa sobre o que disseram ter visto.

Tal como aconteceu com os três pastorinhos de Fátima, os videntes de Medjugorje recusaram-se a dizer o que tinham visto, apesar de terem sido detidos pela polícia e ameaçados de morte. Além disso, a hipótese de que o fenômeno poderia ser demoníaco foi rejeitada.

No final, Francisco deu uma opinião positiva sobre o trabalho da comissão – presidida pelo cardeal Camillo Ruini e instituída pelo papa Bento XVI em 2010 – cujo trabalho terminou em 2014.

Por razões pastorais, a comissão tomou uma posição a favor da remoção da proibição de peregrinações a Medjugorje. Assim, o relatório Ruini conclui que o santuário deve estar sob a autoridade da Santa Sé e sugere que a paróquia seja convertida em um santuário pontifício.

No ano passado, o pontífice enviou o arcebispo polonês Henry Hoser ao santuário mariano para avaliar a situação e, em particular, para estudar a assistência pastoral prestada aos fiéis locais e aos peregrinos. O objetivo da visita foi obter mais informações para planejar futuras iniciativas de cuidado pastoral.

Aleteia

Neste último sábado, dia em que a Igreja celebrou os arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, o Papa pediu aos fiéis que rezassem, diariamente, neste mês de outubro, o Terço “contra o mal que divide a Comunidade cristã”.

Por isso, a pedido do Santo Padre, a Rede Mundial de Oração lança, neste mês de outubro, uma Campanha especial de Oração para que os fiéis de todos os Continentes possam invocar Nossa Senhora e o Arcanjo Miguel, para que protejam a Igreja nestes tempos difíceis.

Com efeito, recentemente, vivemos na Igreja situações difíceis, como contínuas denúncias de abuso sexual por parte do clero, das pessoas consagradas e dos leigos. O aumento dos abusos e divisões internas na Igreja, certamente, é favorecido pelo espírito maligno, “inimigo mortal da nossa natureza humana”.

Na tradição cristã, o mal se apresenta em diversas formas, como de “Satanás”, que em hebraico significa “adversário”, ou “Diabo”, que, em grego, é aquele que divide e semeia discórdia.

Na tradição bíblica, fala-se também de “sedutor do mundo”, “pai da mentira” ou “Lúcifer”, que se apresenta como anjo da luz e do bem, mas conduz ao engano.

Enfim, o mal se manifesta de diversos modos, complicando a missão de evangelização da Igreja, chegando até a desacreditá-la. Em parte, a responsabilidade é nossa por deixarmo-nos levar pelas paixões e não pela verdadeira vida: a riqueza, a vaidade e o orgulho. Estes são os caminhos pelos quais o maligno nos seduz e nos arrasta para o mal, levando-nos a cometer ações perversas, como discórdias, mentiras etc.

Na sua Carta ao Povo de Deus, no último dia 20 de agosto, o Santo Padre recordou: “Se um membro sofre, todos sofrem com ele… Quando experimentamos a desolação, que provoca tantas chagas na Igreja, devemos persistir na oração a Maria e buscar crescer no amor e na fidelidade eclesial”.

Portanto, neste mês de outubro, o Santo Padre pede a todos os fiéis um maior esforço nas orações pessoais e comunitárias, rezando, todos os dias, o Terço a Nossa Senhora, para que a Virgem Maria proteja a Igreja, nestes tempos de crise, e o Arcanjo São Miguel a defenda dos ataques do inimigo. Segundo a tradição eclesial, este Arcanjo é o chefe dos exércitos celestes e protetor da Igreja.

Ao término da oração mariana do Terço, o Papa nos convida a rezar a mais antiga invocação à Santa Mãe de Deus “Sub tuum praesidium” (“Sob a vossa proteção”) e a tradicional oração a São Miguel, escrita por Leão XIII:

Oração a Nossa Senhora

«À Vossa Proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!»

Oração a São Miguel Arcanjo

«São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate. Sede o nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio. Que Deus manifeste o seu poder sobre ele. Eis a nossa humilde súplica. E vós, Príncipe da Milícia Celeste, com o poder que Deus vos conferiu, precipitai no inferno Satanás e os outros espíritos malignos, que andam pelo mundo tentando as almas. Amém!».

Vatican News

A cura da irmã Bernadette Moriau, em 2008, aos 69 anos, vítima de uma doença grave, foi reconhecida como um milagre pelo bispo de Beauvais, no norte da França. Este é o 70° milagre em Lourdes admitido pela Igreja Católica.

A cura foi “repentina, instantânea, completa, duradoura e inexplicada no atual estado de nossos conhecimentos científicos”, segundo o Monsenhor Jacques Benoît-Gonnin em um comunicado divulgado pela igreja.

Bernadette Moriau nasceu em 1939 e entrou aos 19 anos para o convento em uma congregração de franciscanas na França, tornando-se enfermeira em 1965. Em 1966, aos 27 anos, ela começou sentir dores na coluna lombar e no nervo ciático. A freira passou por quatro operações sem sucesso. Ela foi obrigada a deixar a profissão e se movimentava com a ajuda de aparelhos.

Em julho de 2008, a irmã Moriau participou da peregrinação de sua diocese em Lourdes e recebeu a bênção dos enfermos. Ao voltar para o convento na Picardia, onde mora, Bernadette sentiu uma sensação “diferente” de relaxamento e calor em todo o corpo, “e ouviu uma voz pedindo para que ela retirasse todos os seus aparelhos”.

A irmã Moriau decidiu então interromper todos os seus tratamentos. Vários exames médicos, consultas e reuniões de religiosos em Lourdes levaram o departamento da igreja que analisa esse tipo de caso a afirmar que a cura não tinha explicação científica.

“Advogado do diabo”

Em novembro de 2016 em Lourdes, durante uma reunião anual, o comitê médico internacional de Lourdes confirmou o milagre. Atualmente, a freira leva uma vida normal e tem uma saúde perfeita, segundo o médico Alessandro de Franciscis, presidente do comitê.

De acordo com ele, que se descreve como “o advogado do diabo”, seu trabalho é buscar pistas no dossiê dos doentes que possam descartar a cura milagrosa. Um trabalho longo e rígido, diz, que explica porque das 7200 curas registradas em Lourdes, apenas 69 foram reconhecidas como milagre.

RFI em Português

Os sonhos sempre foram bons para Paul McCartney. Em uma manhã de 1965, ele acordou com a melodia de Yesterday completamente formada, com sua música melancólica contrastando com sua alegre reputação de “o Beatle mais bonito”.

Os problemas pareciam muito distantes naqueles dias embriagados pela obsessão do sucesso. Porém, três anos mais tarde, o sonho dividido com seus companheiros de grupo se transformou em um pesadelo recheado com desacordos criativos, disputas empresariais e choques de caráter.

“Perto do outono de 1968, eu estava passando por um momento realmente difícil”, recordaria mais tarde McCartney no livro The Right Words at the Right Time, de Marlo Thomas.

“A carreira dos Beatles já estava muito avançada e tínhamos começado a fazer um álbum novo, uma continuação do White Album. Como grupo, começávamos a ter problemas. Eu tinha a sensação de que os Beatles iam se separar. Por isso, eu passava madrugadas acordado, bebendo, usando drogas, indo a bares, como era comum para as pessoas naquela época. Eu vivia e me divertia intensamente”.

Foi durante um dos episódios de sono irregular que McCartney, mais uma vez, recebeu uma visita em sonho. Desta vez, era uma presença reconfortante de fé e fortaleza. Ele acordou na manhã seguinte com as forças reestabelecidas, pegou papel e caneta e escreveu uma canção nova, que evocava essa experiência emocionante:

Quando eu estou em momentos difíceis

A Mãe Maria vem até mim

Dizendo palavras de sabedoria: Deixe estar.

Nos anos seguintes, fãs de todo o mundo entenderam que essa figura era a Virgem Maria, Mãe de Jesus. Mas a verdade era muito mais literal para o compositor. Ele sentiu o cálido conforto de sua própria mãe, Mary Mohin McCartney, que não resistiu a um câncer de mama e morreu quando ele tinha 14 anos.

“Em um sonho, vi minha mãe, que já estava morta há 10 anos”, contou ao escritor Barry Miles na biografia autorizada, Many Years from Now. 

Foi fantástico vê-la. É isso que os sonhos têm de maravilhoso: te reúnem de verdade com a pessoa;  durante um segundo vocês parecem estar fisicamente juntos novamente. Foi maravilhoso para mim e ela foi muito tranquilizadora. No sonho, ela me disse: ‘Tudo vai ficar bem’. Não estou certo se ela usou as palavras ‘deixe estar’ [let it be], mas essa era a essência do seu conselho. Era: ‘não se preocupe demasiadamente, tudo vai dar certo’. Foi um sonho tão agradável que eu acordei pensando: ‘Foi muito bom poder ter falado com ela novamente’. Eu me senti muito abençoado por ter tido aquele sonho. Isso me fez escrever a canção Let it be”.

As palavras saíram da mesma fonte subconsciente que fez brotar a sofrida letra de Yesterday. A morte repentina de Mary deixou a família de McCartney devastada. Era ela a fortaleza e o apoio para todos. “Minha mãe foi enfermeira. Era muito trabalhadora, porque queria o melhor para nós. Não éramos uma família rica – não tínhamos carro, apenas nos permitimos ter uma TV. Meus pais trabalhavam e mamãe contribuía com uma boa fatia das receitas familiares. À noite, quando ela voltava para casa, costumava cozinhar. Não tínhamos muito tempo para ficarmos juntos. Mas simplesmente ela era uma presença muito reconfortante em minha vida”.

Como não sabia nada sobre a doença, Paul McCartney ficou tão impactado com a morte da mãe que sua primeira reação foi: “O que vamos fazer sem dinheiro?”. E essa foi uma frase que o atormentaria durante anos.

McCartney lidou com sua dor entregando-se ao domínio da guitarra. O dramático fato também serviu como cimento para sua amizade com John Lennon, que perderia sua mãe menos de dois anos depois, em um acidente de trânsito. “Aquilo se transformou em um vínculo muito grande entre John e eu”, disse McCartney no documentário The Beatles Antology.“Ambos tínhamos esta turbulência emocional para enfrentar e, como éramos adolescentes, tínhamos que resolver isso rápido”. Juntos, eles se dedicaram à composição.

Apesar de o primeiro trabalho de composição de McCartney – I lost my little girl –  ter sido diretamente inspirado no trauma familiar, Yesterdayse tornou ainda mais especialmente emocionante quando se pensa a partir da perspectiva de um jovem desorientado, que reagiu mal à abrupta morte da mãe:

Por que ela

Teve que ir eu não sei

Ela não me disse

Eu disse

Algo de errado e agora eu sinto falta

Do ontem

Enquanto Yesterday dificultava seus despreocupados dias de fama, fortuna e admiração com lembranças de um profundo arrependimento, Let it be era a imagem da mãe no espelho, oferecendo esperança em meio à escuridão. “Eu acordei com uma sensação muito boa. Era como se ela tivesse me visitado de verdade neste momento tão difícil da minha vida e me deixado a seguinte mensagem: ‘Seja doce, não lute contra as coisas, simplesmente tente seguir a corrente e tudo vai dar certo’”.

A canção tomaria forma pela primeira vez em janeiro de 1969, durante as tortuosas sessões do que ficou conhecido como Get Back, um projeto multimídia que combinava um especial de TV com um álbum ao vivo. As relações entre os Beatles estavam mais tensas. McCartney sentia que o grupo se desmoronava irremediavelmente. Por sorte, seu ânimo foi reforçado pela nova mulher de sua vida: sua esposa Linda Eastman. “Não muito depois do sonho, eu me casei com Linda, que foi minha salvação. Poderia dizer que era como se minha mãe a tivesse enviado”, lembrou.

A experiência Get Back foi tão desagradável que as fitas ficaram encaixotadas durante um ano, durante o qual os Beatles conseguiram gravar um último álbum: Abbey Road (em homenagem ao lar criativo de sempre).

Let it be seria o último single da banda antes do anúncio da separação e também seria o tema que daria nome ao LP lançado um mês depois. Desde então, alcançou o status de um hino moderno e amado por todos, que traz alegria e inspiração a milhões de pessoas.

Em 1986, a música foi escolhida para coroar o show Live Aid em Londres, transmitindo a todo o mundo a mensagem celestial da fé de Maria. A canção traria, mais uma vez, o consolo ao seu autor, quando, em 1998, as pessoas cantaram-na no funeral de Linda, que também perdeu a batalha contra o câncer de mama. Para McCartney, a canção foi um eco comovedor da tragédia que ele viveu na infância. Mas continuava ajudando-o.

Apesar do seu intenso significado pessoal, McCartney manteve uma atitude bondosa em relação às interpretações mais piedosas da canção. “‘Mãe Maria’ se transformou em algo quase religioso, então você pode entender dessa forma, não me importo”, disse ele a Miles. “Eu fico feliz que as pessoas queiram usá-la para reforçar a fé. Não tenho problemas com isso. Acho maravilhoso ter qualquer tipo de fé, principalmente no mundo em que vivemos”.

Aleteia

 

A. J. Clishem trabalha a cerca de 10 quilômetros de um santuário dedicado a Nossa Senhora de Guadalupe em Des Plaines, no Estado norte-americano de Illinois. Ele nos relata a seguinte e surpreendente constatação que fez ao visitar o santuário num gélido dia do inverno passado: 

(…) Cheguei às 12:45. A temperatura era de -3°C e o céu estava azulíssimo (…) O templo era iluminado pelo sol e o ar se aquecia. Os peregrinos entregavam buquês de flores coloridas para serem postos diante da réplica da tilma, o tipo de manto indígena sobre o qual tinha ficado estampada a imagem de Nossa Senhora em sua aparição no México.

No santuário reinava um grande silêncio. De repente, me lembrei do porquê da minha visita. Olhei para cima, em direção à réplica da tilma, e abri meu coração à Virgem Maria (…) Depois eu olhei em volta. Milhares de peregrinos faziam a mesma coisa, abrindo o coração para a mesma e única Mãe do Céu. Éramos todos filhos reunidos para estar com ela.

Olhei de novo para a tilma. O revestimento de vidro refletia o sol justamente sobre a cabeça de Maria. Em vez de ver o seu rosto suavemente inclinado para um lado, eu só via o brilho intenso do reflexo. Notei que o brilho da luz que irradiava do alto do sol refletido tinha a mesma inclinação que a cabeça de Nossa Senhora. Tirei uma foto, relembrando um elemento básico da astrofísica: o eixo da Terra tem uma inclinação de 23,5° em relação ao sol.

Voltando ao estacionamento, olhei para o sol e vi o mesmo brilho vertical inclinado em direção à Terra. Fiz outra foto, perguntando-me quantos graus se inclinaria a cabeça de Nossa Senhorana tilma guadalupana.

No dia seguinte, resolvi verificar. Usando uma imagem digital de Nossa Senhora de Guadalupe tal como vista na tilma original, tracei uma linha reta vertical que parte do topo da cabeça e outra que passa pelo ângulo da inclinação da cabeça. Coloquei um transferidor no ponto onde as duas linhas se cruzavam. 23,5°!

O meu desenho era rudimentar e os meus conhecimentos de astronomia são básicos, mas logo descobri que outra pessoa, o Dr. Juan Hernández Illescas, já tinha feito essa descoberta em 1981. E me perguntei o que isto significaria.

Já ouvi muitos comentários sobre a inclinação da cabeça de Mariacomo símbolo da sua humildade, o que é perfeitamente coerente, mas agora tenho uma nova ideia sobre a questão: da sua posição no céu e vestida de sol, Nossa Senhora de Guadalupe direciona o seu olhar de 23,5° a toda a humanidade “inclinada” para longe de Deus. Com todos os seus filhos à sua vista, ela chama cada um e nos convida a lhe abrirmos o coração!

Se Nossa Senhora de Guadalupe tem uma mensagem central, é a de que o mundo inteiro tem uma mãe e que o Filho que ela deu à luz vem a nós neste período como o Salvador do mundo inteiro. A Encarnação! Deus que se faz homem! O que pode ser mais esperançador do que isto?

De agora em diante, vou sempre me lembrar de Nossa Senhora de Guadalupe como os meus 23,5 graus de esperança!

Católicos do mundo inteiro recordam o centenário de um acontecimento extraordinário ocorrido em Portugal: o “Milagre do Sol”, durante a última aparição da Virgem Maria a três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco, na vila portuguesa de Fátima.

As aparições tinham começado em maio de 1917, e em 13 de outubro daquele ano dezenas de milhares de pessoas foram a Fátima, atraídas pela notícia de que Nossa Senhora havia prometido um grande sinal para aquele dia. Não apenas devotos, mas jornalistas, professores universitários e céticos prontos a desqualificar o evento também estavam presentes. Transcrevo aqui a descrição do escritor norte-americano William Thomas Walsh em seu livro sobre as aparições de Fátima (Walsh não estava em Fátima no dia do milagre, mas conversou com pessoas que estiveram lá, e com a própria Lúcia):

“O sol brilhava no zênite como se fosse um imenso disco de prata. Brilhava com a intensidade normal, e no entanto podia ser fitado sem que ofuscasse. Isso durou apenas um instante. Enquanto todos olhavam assombrados, a imensa bola começou a ‘dançar’: esta foi a palavra com que todos os observadores a descreveram. Primeiro, viram-na girar rapidamente, como uma gigantesca roda de fogo. Depois de um certo tempo, parou. A seguir, voltou a girar sobre si mesma, vertiginosamente, numa velocidade incrível. Finalmente, os bordos tornaram-se escarlates e espalharam-se pelo firmamento, espargindo chamas vermelhas de fogo, como um redemoinho infernal. Essa luz foi-se refletindo na terra, nas árvores, nos arbustos, nas próprias faces voltadas para cima e nas vestes, tomando tonalidades brilhantes e cores diferentes: verde, vermelho, laranja, azul, violeta, as cores todas do espectro solar. Girando loucamente sob essa aparência, por três vezes, o globo de fogo pareceu agitar-se, estremecer e depois precipitar-se em ziguezague sobre a multidão. (…) Isso durou talvez uns dez minutos. Logo depois, viram todos o sol começar a elevar-se da mesma maneira, em ziguezague, até ao ponto onde havia aparecido antes. Ficou então tranquilo e brilhante. Ninguém mais lhe pôde suportar o fulgor. Era novamente o sol de todos os dias.”

Desde então, não faltam explicações e tentativas de validar ou desacreditar os relatos. Se por um lado nenhum observatório astronômico relatou nada de incomum naquela data, e nem todos os que estavam na Cova da Iria disseram ter visto todos os fenômenos descritos (houve mesmo pessoas devotas que afirmaram não ter visto nenhum movimento do sol), por outro lado mesmo céticos e pessoas que estavam a até 20 quilômetros de Fátima relataram ter visto coisas fora do normal (ou seja, podemos descartar um fenômeno em massa de autossugestão por parte dos devotos), e há relatos de que, durante o evento, roupas e o chão, que estavam molhados devido à chuva que caía antes do milagre, terem ficado completamente secos (você pode ler aqui vários relatos de pessoas que estavam em Fátima na ocasião).

Dezenas de milhares de pessoas estiveram em Fátima e disseram ter visto o sol se movendo no céu. Mesmo céticos que pretendiam desqualificar as aparições fizeram relatos semelhantes. (Foto: Reprodução)

O padre Stanley Jaki, uma grande referência no trabalho sobre ciência e fé, escreveu um livro apenas sobre este evento. Não tive a oportunidade de lê-lo, mas Stacy Trasancos, estudiosa do trabalho do padre Jaki, publicou um artigo quatro anos atrás em que resume as conclusões do sacerdote. Jaki conclui que, naquele dia, os espectadores na Cova da Iria presenciaram não exatamente um movimento solar, mas uma combinação única (tão única e irrepetível que, sim, Jaki a considera milagrosa) de fenômenos físicos: a presença de cristais de gelo nas nuvens e a interação entre uma massa de ar frio e outra quente. “Claramente, o ‘milagre’ do sol não foi um mero fenômeno meteorológico, ainda que raro. Do contrário, teria sido observado antes ou depois, independentemente da presença de multidões devotas. Eu apenas alego, como fiz em outros escritos meus sobre milagres, que ao produzi-los Deus frequentemente usa um substrato material e aumenta muito seus componentes físicos e suas interações. De fato, pode-se dizer, ainda que não da forma como alguns que escrevem sobre Fátima fazem, que os dedos da Mãe de Deus brincaram com os raios do sol naquela hora extraordinária, em Fátima”, diz Jaki em sua autobiografia.

Um outro artigo interessante saiu em 11 de maio deste ano, às vésperas do centenário da primeira aparição, no Catholic Herald. O padre (e especialista em física de partículas) Andrew Pinsent, diretor do Ian Ramsey Centre for Science and Religion da Universidade de Oxford, se pergunta: um cientista pode levar a sério o Milagre do Sol? E responde: por que não? Pinsent explica que muitas vezes temos uma compreensão errada do conceito de milagre, entendido de forma simplista como uma quebra das leis da natureza. O pulo do gato é que as leis da natureza descrevem o funcionamento de sistemas simples e isolados, mas eles estão sujeitos à intervenção de agentes livres, inclusive de um agente todo-poderoso. “Portanto, da perspectiva das leis científicas, não há um problema real com os milagres, porque descrever como um sistema funciona na ausência de intervenção não diz nada sobre se uma intervenção ocorre ou pode ocorrer”, afirma.

Lúcia, Francisco e Jacinta (da esquerda para a direita): pastorinhos disseram que a Virgem Maria havia prometido um grande sinal para o dia 13 de outubro de 1917. (Foto: Illustração Portugueza)

Mas, para Pinsent, há um outro modo de entender mal os milagres, que é buscar explicações naturais que reduzem o milagroso ao providencial. Essa afirmação parece, à primeira vista, bater de frente justamente com a explicação que Jaki oferece para o Milagre do Sol, mas podemos alegar que também Jaki aceita uma intervenção divina que “reforçou” as propriedades/características/interações do que quer que estivesse envolvido no episódio. Difícil saber, porque Pinsent não cita em nenhum momento a explicação fornecida por Jaki. Tampouco dá a sua hipótese para o que houve naquele 13 de outubro, limitando-se a dizer que tudo o que sabemos sobre o episódio é compatível com um “milagre público dos mais extraordinários”. Fica a impressão de que Pinsent admite que houve algo mais do que simplesmente um processo de ilusão de ótica, mas o quê? 

Embora eu ache a explicação de Jaki bem convincente, eu tendo a acreditar que houve algo mais ali, e nisso acho que me inclino mais para a posição de Pinsent. Agora, que algo mais é esse, aí já não sei dizer.

Fonte: Tubo de ensaio

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O poderoso general francês Napoleão Bonaparte, que se tornou imperador da França, via em Nossa Senhora uma espécie de “rival” por causa da… sua data de nascimento!

Napoleão nasceu no dia 15 de agosto de 1769, dia em que a Igreja celebra a Assunção de Nossa Senhora. Mesmo quando adulto, o general se incomodava por ter que “dividir” a sua festa de aniversário com a celebração do dia em que Nossa Senhora foi levada ao céu.

E a irritação do general ainda piorava: é que, no dia da Assunção de Maria, também se celebra, na França, o “voto de Luís XIII”: este rei tinha emitido, em 15 de agosto de 1637, um decreto solene que colocava a nação francesa sob a explícita proteção da Mãe de Deus!

O que muito bem poderia lhe dar orgulho e serenidade o incomodava. Para Napoleão, a França talvez devesse contar apenas com ele, o invencível, o genial, o poderoso imperador…

Para completar, a Igreja lia, no dia 15 de agosto, a célebre passagem bíblica do Magnificat:

[Deus] Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes”.

Todo aniversário de Napoleão era “arruinado”, assim, pela lembrança exposta por Nossa Senhora de que “Deus dispersa os soberbos nos pensamentos dos seus corações”!

Foi então que Napoleão teve a ideia de lançar um decreto, em 19 de fevereiro de 1806, abolindo a festa da Assunção e substituindo-a pela festa de… São Napoleão!

O Papa Pio VII protestou, é claro, declarando que é “inadmissível que o poder civil substitua o culto a Nossa Senhora Assunta ao Céu pelo culto de um santo inexistente, com intolerável interferência do poder temporal no espiritual”.

Napoleão, porém, não ouviu ninguém.

E como acabou Napoleão? Todos sabemos.

“Deus derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes”.

E quanto a Maria? Depois da abdicação do imperador, em março de 1814, a França lhe devolveu a solenidade da Assunção.

Afinal,

“Deus olhou para a humildade da sua serva. Desde agora e para sempre, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, pois o Poderoso fez em mim grandes coisas. Santo é o Seu nome”.

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A partir de texto de Maria Corvo no site italiano intemirifugio.it

Via Aleteia

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Alexis Carrel, Prêmio Nobel de Medicina em 1912, chegou a se converter ao catolicismo graças aos milagres que presenciou na cidade mariana de Lourdes, na França, a partir de 1903, quando ainda era um jovem médico ateu.

Na época, um colega que acompanharia um grupo de peregrinos a Lourdes lhe pediu, por força maior, que o substituísse. Carrel aceitou pensando em comprovar pessoalmente a falsidade dos supostos milagres – mas o que lhe coube foi justamente assistir a um deles.

O médico visitou, observou e analisou todos os sintomas de uma mulher tuberculosa em leito de morte. Não havia dúvida alguma de que ela morreria em breve. No entanto, quando aquela mulher, diante dos seus olhos incrédulos, saiu das piscinas de Lourdes, tudo tinha desaparecido. O depoimento de Carrel ao revelar a sua conversão foi recebido com escândalo nos âmbitos naturalistas céticos que dominavam a França.

A propósito: é recomendável que os incrédulos, em vez de promulgarem os seus próprios dogmas de “intelectualidade superior” diante daquilo que não entendem, procurem conhecer o assunto com mais rigor científico e menos conclusões precipitadas (e anticientíficas). É o que propõe outro médico premiado com o Nobel de Medicina: o dr. Luc Montagnier, que, entre outras relevantes contribuições à ciência, ficou famoso pela descoberta do vírus HIV. Ele afirma:

“Muitos cientistas cometem o erro de rejeitar o que não entendem. Não gosto dessa atitude. Frequentemente cito a frase do astrofísico Carl Sagan: ‘A ausência de prova não é prova de ausência’ (…) Quanto aos milagres de Lourdes que eu estudei, creio que realmente se trata de algo inexplicável (…) Não consigo entender esses milagres, mas reconheço que há curas que não estão previstas no estado atual da ciência”.

De fato, são milhares os registros de “curas inexplicáveis” que acontecem todos os anos no santuário mariano de Lourdes, mas são pouquíssimas as curas consideradas efetivamente milagrosas por parte da Igreja, que adota critérios rigorosos em sua minuciosa avaliação científica de cada caso.

Na verdade, a Igreja não afirma a ocorrência de um milagre apenas porque queira ou possa: ela submete a análise de cada suposto milagre a uma sequência criteriosa de etapas científicas, que incluem, por exemplo, comissões médicas para estudar cada alegação de cura cientificamente inexplicável.

É o caso da Comissão Médica Internacional de Lourdes, cuja metodologia é a mesma usada na investigação científica. Aliás, seus membros costumam citar o princípio de Jean Bernard: “Quem não é científico não é ético“. Não se trata de cair no cientificismo ou no positivismo por si mesmos, e sim de buscar a verdade com a clara consciência daquilo que a encíclica Fides et Ratio veio a sintetizar magnificamente:

“A fé e a razão são como as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”.

OS 7 CRITÉRIOS DA CURA MILAGROSA

O cardeal Prospero Lambertini, que se tornaria mais tarde o papa Bento XIV (pontífice de 17 de agosto de 1740 até a morte em 3 de maio de 1758), detalhou as características do milagre do ponto de vista médico-científico na “De servorum beatificatione et beatorum canonizatione” (“A beatificação dos servos de Deus e a canonização dos beatos“), livro IV, capítulo VIII, 2-1734, definindo 7 critérios para o reconhecimento de uma cura extraordinária ou inexplicável:

  1. A doença deve ter características de gravidade, com prognóstico negativo.
  2. O diagnóstico real da doença deve ser certo e preciso.
  3. A doença deve ser apenas orgânica.
  4. Eventual tratamento não pode ter favorecido o processo de cura.
  5. A cura deve ser repentina, inesperada e instantânea.
  6. A retomada da normalidade deve ser completa (e sem convalescênça).
  7. A cura deve ser duradoura (sem recaída).

Os 7 critérios de Lambertini são válidos até hoje e esclarecem o perfil específico da cura inexplicável, garantindo que toda objeção ou contestação seja levada em ampla consideração antes de se atestar que uma determinada cura foi “não explicável cientificamente”.

DE 7.200 SUPOSTOS MILAGRES, SÓ 69 RECONHECIDOS

A seriedade das avaliações de supostos milagres pode ser percebida nos números relacionados ao santuário mariano de Lourdes, na França, o mais visitado do mundo por peregrinos em busca de cura física:  desde 1858, houve mais de 7.200 alegações de cura milagrosa, mas apenas 69 casos foram declarados efetivamente inexplicáveis do ponto de vista médico-científico até hoje.

O mais recente caso é o de Danila Castelli: ela foi curada em 1989, mas o reconhecimento formal da inexplicabilidade científica de sua cura só aconteceu em 2013; portanto, após 24 anos de estudos, disponíveis para a contestação da comunidade científica.

Já o primeiro caso reconhecido em Lourdes tinha sido a cura de Catherine Latapie, ocorrida poucos dias depois da primeira aparição de Nossa Senhora em Massabielle.

UM CASO DE IMPRESSIONAR

Um dos casos de cura mais impactantes que passaram pela Comissão Médica Internacional de Lourdes é o da religiosa Luigina Traverso, curada repentinamente de uma lombociática incapacitante de meningocele no dia 23 de julho de 1965, após anos de tratamento médico e várias cirurgias que não tinham dado resultado.

Em 20 de julho de 1965, a irmã viajou até Lourdes em estado grave – aliás, os médicos tinham recomendado que ela não fizesse a peregrinação porque a viagem representava alto risco de morte.

Em 23 de julho, na passagem do Santíssimo Sacramento durante a celebração eucarística, a irmã Luigina relata ter experimentado uma súbita sensação de forte calor e bem-estar, acompanhada pelo “desejo de ficar de pé” – o que era impossível para ela havia meses. De repente, ela recuperou o movimento dos pés e deixou de sentir dor.

Em 24 de julho, acompanhada pela madre superiora, a religiosa caminhou sem ajuda alguma até a gruta de Lourdes para agradecer a Nossa Senhora. No mesmo dia, participou da via-crúcis dos peregrinos e subiu rezando até a quarta estação – a subida é íngreme. Ao longo dos dias seguintes, a irmã Luigina já estava ajudando a cuidar dos doentes que peregrinavam ao santuário.

Demorou até 2012 para que o milagre fosse reconhecido, cumpridas todas as rígidas etapas de estudos médicos e científicos e, por último, de análise por parte da Igreja.

Aleteia

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Treze votos a favor do reconhecimento da sobrenaturalidade das primeiras sete aparições de Medjugorje, um voto contra e uma abstenção. A maioria dos votos suspensivos e muitas dúvidas sobre o prosseguimento do fenômeno das aparições que aconteceram entre o final de 1981 e hoje. Este é o resultado final do trabalho da comissão sobre Medjugorje instituída em 2010 por Bento XVI e presidida pelo cardeal Camilo Ruini.

O Papa Francisco mencionou esse relatório durante a conversa com os jornalistas durante o voo de retorno de Fátima, quando revelou a diferença entre as primeiras aparições e o fenômeno posterior, dizendo: “Uma comissão composta por bons teólogos, bispos e cardeais. A relação da comissão é muito, muito boa”. Como se sabe, a indicação das palavras do Pontífice é positiva sobre os frutos espirituais e as conversões (“pessoas que se convertem, que encontram Deus, que mudam de vida. E isto não graças a uma varinha mágica”), mas negativa sobre as aparições que continuam atualmente: “Eu, pessoalmente, sou mais malvado, prefiro a Nossa Senhora Mãe em vez da Nossa Senhora chefe de um escritório de telégrafos e que diariamente envia uma mensagem com hora marcada”.

Uma comissão instituída por Ratzinger

Entre 17 de março de 2010 e 17 de janeiro de 2014, por vontade de Bento XVI, foi instituída uma comissão presidida por Ruini. Além do ex-presidente da Conferência Episcopal da Itália, faziam parte dela os cardeais Jozef Tomko, Vinko Puljic, Josip Bozanic, Julián Herranz e Angelo Amato. Além disso, era integrada pelo psicanalista Tony Anatrella, os teólogos Pierangelo Sequeri, Franjo Topic, Mihály Szentmártoni e Nela Gaspar, o mariólogo Salvatore Perrella, o antropólogo Achim Schütz, o canonista David Jaeger, o relator das Causas dos Santos Zdzislaw Józef Kijas, o psicólogo Mijo Mikic e o oficial da Doutrina da Fé Krzysztof Nykiel.

Eles tiveram a tarefa de “reunir e examinar todo o material” sobre Medjugorje e apresentar “um relatório detalhado”, com a votação sobre a “sobrenaturalidade ou não” das aparições, além de indicar as “soluções pastorais” mais adequadas. A comissão reuniu-se 17 vezes, avaliou toda a documentação depositada no Vaticano, na paróquia de Medjugorje e nos arquivos dos serviços secretos da ex-Iugoslávia. Ouviu todos os videntes e testemunhas, e em abril de 2012 fez uma visita ao pequeno povoado da Bósnia-Herzegovina.

Juízo positivo sobre as primeiras aparições

A comissão identificou uma diferença muito clara entre o início do fenômeno e seu desenvolvimento posterior. E decidiu expressar-se com duas votações diferentes sobre duas fases diferentes: as primeiras sete supostas aparições, que aconteceram entre o dia 24 de junho e o dia 03 de julho de 1981, e tudo o que aconteceu depois disso. Os membros e os peritos se expressaram com 13 votos a favor do reconhecimento da sobrenaturalidade das primeiras visões. Um dos membros votou contra e um dos peritos se absteve. A comissão sustenta que os sete rapazes videntes eram normais psiquicamente, foram surpreendidos pela aparição e que não houve nenhuma influência externa (nem por parte dos franciscanos da paróquia nem de outros sujeitos) sobre o que disseram ter visto. Negaram-se a contar o que tinham visto apesar de a polícia tê-los detido e ameaçado de morte. A comissão também descartou a hipótese de origem demoníaca das aparições.

As dúvidas sobre a evolução do fenômeno

Em relação à segunda fase das aparições, a comissão considerou as fortes interferências provocadas pelo conflito entre o bispo e os franciscanos da paróquia, assim como pelo fato de que as aparições, pré-anunciadas e programadas singularmente para os videntes (e já não em grupo), tenham continuado com mensagens repetitivas. Estas continuam, embora os rapazes tenham dito que não, coisa que não se verificou. E depois há a questão dos “segredos” com requintes apocalípticos que os videntes afirmam ter recebido da aparição. Sobre esta segunda fase, a comissão votou em dois momentos diferentes. Uma primeira vez, considerando os frutos espirituais de Medjugorje, mas deixando de lado o comportamento dos videntes. Nesta votação três membros e três peritos afirmaram que havia efeitos positivos, quatro membros e três peritos indicaram que havia efeitos mistos, principalmente positivos, e outros três membros disseram que havia efeitos mistos (positivos e negativos). Se além dos frutos espirituais se considera o comportamento dos videntes, oito membros e quatro peritos consideraram que não se podia fazer um juízo, ao passo que outros dois membros votaram contra a sobrenaturalidade. 

A solução pastoral

Após constatar que os videntes de Medjugorje nunca foram acompanhados adequadamente do ponto de vista espiritual e observar que há muito tempo já não faziam parte de um grupo, a comissão pronunciou-se a favor da suspensão da proibição de organizar peregrinações a Medjugorje (com o voto de 13 membros e peritos dos 14 que estavam presentes) e votou a favor da criação, em Medjugorje, de “uma autoridade dependente da Santa Sé” e da transformação da paróquia em um santuário pontifício. Uma decisão motivada por questões pastorais (o cuidado dos milhões de peregrinos que chegam ali, evitar que se formem “igrejas paralelas”, esclarecer questões econômicas), mas que não implicaria o reconhecimento da sobrenaturalidade das aparições.

As dúvidas da Congregação para a Doutrina da Fé

O Papa Francisco também falou sobre isso durante a entrevista que o levava de volta a Roma de Fátima. A Congregação para a Doutrina da Fé, dirigida pelo cardeal Gerhard Ludwig Müller, manifestou suas dúvidas sobre o fenômeno e também sobre o relatório da comissão Ruini, considerado como um documento confiável, mas que deve ser comparado com outros pareceres e documentos. Em 2016, aconteceu a Feira IV, reunião mensal dos membros do dicastério, convocada para discutir o caso de Medjugorje e o relatório da comissão Ruini. Cada um dos cardeais e bispos membros recebeu o texto da comissão, mas também mais documentos que se encontram na Congregação para a Doutrina da Fé. Durante a reunião pediu-se aos membros que expressassem suas opiniões. O Papa Francisco, que não queria que o relatório da comissão Ruini fosse “leiloado”, estabeleceu que enviassem a ele, pessoalmente, todos os pareceres dos membros da Feira IV. E isso foi feito na hora.

A decisão do Papa Francisco

O Papa, após ter examinado o relatório da comissão Ruini e os pareceres dos membros da Congregação para a Doutrina da Fé, decidiu encomendar ao arcebispo polonês Henryk Hoser uma missão de “enviado especial da Santa Sé” e, “sobretudo, das exigências dos fiéis que para ali se dirigem em peregrinação” para “sugerir eventuais iniciativas pastorais para o futuro”. Antes que termine o verão deste ano de 2017, o enviado da Santa Sé entregará os resultados do seu trabalho ao Papa e este tomará uma decisão.

Andrea Tornielli – Vatican Insider

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Uma superiora visitou-a no leito das dores:

– Que faz aqui, minha preguiçosa? – perguntou sorrindo, amável.
– Minha Madre, eu estou no meu ofício.
– E que ofício é o seu, minha filha?
– O meu ofício é sofrer e estar doente.

Mandaram-lhe um crucifixo para a cabeceira da cama.

– Sou mais feliz – disse Bernadette – com o meu Cristo no leito de dores do que uma rainha no seu trono.

Às crises de asma, dolorosas e terríveis, juntaram-se os vômitos de sangue, a opressão do peito e dores intoleráveis causadas por um abcesso que se formou no joelho direito. Mais um tumor e uma aquilose. Os sofrimentos eram horríveis e a vítima tinha já a face cadavérica. Não dormia um só instante. Às vezes, a natureza deixava escapar um grito de dor, mas a Irmã Maria Bernarda (Bernadette) humilhava-se e sorria heroicamente, repetindo:

– Perdão, meu Jesus! Meu Deus, eu vos ofereço o meu sofrimento! Meu Deus, eu vos amo!

O capelão do mosteiro lhe disse que pensasse no Céu e que iria contemplar a beleza da Imaculada.

– Oh -respondeu ela -, como este pensamento me faz bem!

Às vezes, murmurava com almejo do Céu:

– Oh, Céu! Dizem que muitas almas não foram diretamente para o Céu porque não o desejaram bastante aqui no mundo. Isto não acontece comigo! Ah, vamos para o Céu, trabalhemos, soframos pelo Céu! O resto nada vale.

A moléstia se agravava cada vez mais. Ela, sempre resignada. Disse então:

– Ó cruz, vós sois o altar no qual eu quero me sacrificar com Jesus agonizante. O coração de Jesus é o meu tesouro. No coração de Jesus viverei e morrerei em paz no meio dos sofrimentos.

Despojou-se de tudo que possuía: algumas imagens e santinhos. Só conservou um crucifixo.

– Só tenho necessidade dele. Só ele me basta.

Depois da festa de São José, disse:

– Eu pedi a São José uma só graça: a graça de uma boa morte.

No dia 28 de março, a superiora lhe perguntou se desejava receber a extrema unção. Aceitou-a com alegria! Às duas horas da tarde, o capelão lhe administrava o sacramento dos enfermos. Recebeu-o com edificante fervor em presença de boa parte da comunidade.

– Minhas irmãs, peço-vos perdão por todos os aborrecimentos e trabalhos que vos dei, das minhas infidelidades na vida religiosa e do mau exemplo que dei às minhas companheiras, sobretudo pelo meu orgulho.

O olhar de Bernadette, durante toda a doença, conservou-se belo, vivo, impressionante. Era aquele olhar da visão de Massabielle.

O demônio a tentava, Nosso Senhor permitia, a fim de purificar ainda mais aquela almazinha privilegiada. Ela ficava num estado de agonia dolorosa e horrível, com a face em expressão de espanto, e repetia:

– Vai-te, Satanás! Vai-te, Satanás!

O capelão lhe disse:

– Ofereça a Jesus o sacrifício da vida, minha filha.
– Que sacrifício, meu padre? Não é sacrifício deixar esta pobre terra, onde se encontra tanta dificuldade para servir a Deus!

Perguntaram-lhe:

– Sofre muito, minha irmã?
– Sim, mas tudo é bom para o Céu – respondeu, com doce resignação.
– Eu vou pedir à boa Mãe do Céu que lhe dê alguma consolação, minha Irmã Maria Bernarda.
– Não, não – repetiu ela -, não peça consolações. Peça a Nossa Senhora força e paciência para mim. Só isto…

Quarta-Feira Santa, o capelão foi chamado às pressas para a Irmã Maria Bernarda. Ela estava na poltrona, sentada, sem poder respirar, num martírio cruel. Confessou-se pela última vez.

– Minha filhinha – disse-lhe a Madre superiora -, agora está na cruz, não é?

Bernadette abriu os braços em forma de cruz e murmurou:

– Meu Jesus! Meu Jesus! Oh, como vos amo!

Para não perder o crucifixo, pediu que o pusessem em seu peito. Recitaram a oração dos agonizantes. Ela repetia as jaculatórias que lhe diziam ao ouvido.

Uma hora antes da morte, ficou tranquila, fitou um ponto do alto. Depois exclamou, feliz, três vezes:

– Oh!

E alguns segundos depois:

— Meu Deus, eu vos amo de todo o meu coração, de toda a minha alma, com todas as minhas forças.

Tomou o crucifixo, beijou-o, pediu perdão à comunidade e disse:

– Eu tenho sede!

Deram-lhe água. Apenas molhou os lábios.

Fez o sinal da Cruz, aquele admirável sinal da Cruz que só ela sabia fazer.

Murmurou, alguns instantes depois:

– Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por mim, pobre pecadora… pobre pecadora…

E expirou suavemente.

Eram três horas e um quarto de tarde de Quinta-Feira Santa, 16 de abril de 1879.

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Mons. Ascânio Brandão, em “Santa Bernadette, a confidente de Lourdes”, Ed. Vozes, 1956, 3ª. edição

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Quando os deputados portugueses se sentaram na Assembleia da República para ouvir discursar Ronald Reagan, em 1985, poucos esperariam uma referência a Fátima e aos pastorinhos. Mas foi isso que aconteceu.

Já na fase final do seu discurso, Reagan abordou a dimensão religiosa do homem. “A nossa reivindicação de liberdade humana e a nossa sugestão de que os direitos inalienáveis vêm de alguém maior do que nós estão ancoradas no transcendente”, disse, para depois evocar João Paulo II, seu amigo e aliado na luta contra o comunismo.

“Ninguém fez mais para recordar o mundo da verdade da dignidade humana, bem como do facto de que a paz e a justiça começam com cada um de nós, que aquele homem especial que veio a Portugal há uns anos depois de ter sofrido um terrível atentado. Veio cá, a Fátima, o local do vosso grande santuário, movido pela sua especial devoção a Maria, para pedir pelo perdão e pela compaixão entre os homens, para rezar pela paz e o reconhecimento da dignidade humana através do mundo”, disse Reagan.

Mas o mais surpreendente ainda estava para vir. “Quando me encontrei com o Papa João Paulo II, no ano passado, no Alasca, agradeci-lhe pela sua vida e pelo seu apostolado. Atrevi-me a sugerir que o exemplo de homens como ele e nas orações de pessoas simples em todo o mundo, pessoas simples como os pastorinhos de Fátima, reside mais poder do que em todos os grandes exércitos e estadistas do mundo.”

Reagan concluiu então, dizendo que apesar de ele ser Presidente de uma das duas superpotências mundiais, vinha a Portugal também para aprender sobre o poder. “Isto também é algo que os portugueses podem ensinar ao mundo. Porque a grandeza da vossa nação, como a de qualquer nação, reside no vosso povo. Pode ser vista no seu dia-a-dia, nas suas comunidades e vilas, e sobretudo nas igrejas simples que pontuam a vossa terra e que dão testemunho de uma fé que justifica todas as reivindicações de dignidade e liberdade dos homens.”

“Digo-vos que é aqui que está o poder, aqui se encontra a realização final do sentido da vida e do propósito da história e aqui se encontra a fundação para uma ideia revolucionária – a ideia de que os homens têm o direito de determinar o seu próprio destino.”

A história deste discurso foi revelada num artigo escrito pelo historiador Paul Kengor, na revista Crisis. O autor recorda que Tony Dolan, o principal autor dos discursos de Reagan, era um católico devoto que conhecia bem Fátima. Dolan confirmou a Kengor que o Presidente, apesar de não ser católico, estava a par do fenômeno.

“Ele sabia de Fátima. Fátima era uma parte importante do movimento anticomunista. O movimento de Fátima era algo que ele teria conhecido e, para além disso, ele tinha uma vertente mística muito forte.”

Por isso Dolan incluiu a frase no discurso: “Eu sabia que ele ia gostar e que a iria usar. Tinha a certeza. Foi muito atrevido”.

Mas o interesse de Reagan por Fátima não se ficou por aí. Em 1987 o Presidente ia novamente encontrar-se com o Papa, em Roma, e sabendo da importância de Fátima para João Paulo II quis inteirar-se totalmente sobre o assunto. O homem encarregado de o fazer foi o embaixador dos EUA junto da Santa Sé, Frank Shakespeare, que, por coincidência, tinha sido embaixador em Lisboa antes de ser colocado no Vaticano.

“Falei com o Reagan sobre Fátima na viagem, tanto no avião como no carro. E ele escutou com muita, muita atenção – estava muito atento. Estava mesmo muito interessado”, recorda Shakespeare, em conversa com Kengor.

A julgar por estes testemunhos, dos líderes mundiais da altura, não era apenas o Papa João Paulo II que Fátima tinha um papel importante a desempenhar na luta contra o comunismo.

Diário de Notícias

O programa “Terra da Padroeira“, transmitido pela TV Aparecida aos domingos, recebeu na edição de 17 de julho de 2016 a jovem dupla sertaneja Hugo e Tiago, que impactou e levou o público às lágrimas com um testemunho de fé de arrepiar.

Com a dupla, estava presente o padre Alcides Piquilo, que é irmão de Tiago. Os dois irmãos compartilharam a sua dramática vivência recente da enfermidade do pai, que também se chama Alcides e que enfrentou uma severa pneumonia, agravada pelo fato de só ter um pulmão.

A culminação do drama familiar veio no dia em que, mesmo depois que a família tinha se unido com grande fervor na oração do rosário, “seu” Alcides ficou à beira da morte.

Naquele dia, Tiago entrou no quarto do pai e sentiu um forte odor de flores e rosas. Ele imediatamente associou o cheiro ao de um velório e, em desespero, pensou que o pai tivesse falecido. Chamou a mãe e a irmã e, todos juntos, correram para o hospital na tentativa de salvar a vida do pai.

Três horas depois que o pai tinha praticamente morrido, os médicos chamaram a família e fizeram uma declaração surpreendente, que o próprio Tiago relata aos prantos de emoção.

Fonte: Aleteia

Confira neste vídeo o arrepiante testemunho:

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As aparições modificam em algo a fé em Jesus Cristo? Elas servem a algum propósito? Quem é católico está obrigado a acreditar nas aparições de Maria? Ou basta simplesmente acolher essas manifestações com respeito e veneração?

As aparições são sinal da presença de Deus no mundo, mas não acrescentam nada à Revelação. Não são dogmas de fé e, portanto, os católicos não estão obrigados a acreditar nelas. No entanto, a Igreja, após longos processos de discernimento e verificação, reconheceu algumas aparições como válidas ou dignas de fé, mas não de fé divina, como o conteúdo da Revelação, e sim de fé humana.

A Revelação se refere à comunicação de Deus com o homem. Revelando-se, Deus quer tornar os homens capazes de responder-lhe, de conhecê-lo e de amá-lo (cf. CIC 52). A Igreja distingue dois tipos de revelação: o primeiro é a Revelação contida na Bíblia e na Tradição da Igreja, interpretada pelo Magistério. Esta revelação já está completa. Não se pode acrescentar nada a ela, segundo afirma o último livro da Bíblia, também chamado de “Revelação” (Apocalipse).

O segundo tipo de revelação é conhecido como “revelação privada”. Isso acontece porque Deus continua se manifestando de diversas maneiras, inclusive de formas que podem ser vistas e ouvidas pelos sentidos humanos. Estas manifestações não são necessariamente aparições, mas as aparições estão incluídas nesta categoria.

O Catecismo a Igreja Católica afirma (n. 67): “No decurso dos séculos tem havido revelações ditas ‘privadas’, algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é ‘aperfeiçoar’ ou ‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja. A fé cristã não pode aceitar ‘revelações’ que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação de que Cristo é a plenitude. É o caso de certas religiões não cristãs e também de certas seitas recentes fundadas sobre tais ‘revelações’”.

De fato, ainda que a Igreja reconheça uma aparição como válida ou crível, continua sendo considerada e permanecerá sempre como “revelação privada”. Os católicos são livres para acreditar nessas aparições, dado que a Igreja as aprova somente porque estão em harmonia com os ensinamentos da Igreja. Mas nunca é obrigatório acreditar nelas, já que a Revelação está completa em Cristo e terminou com a morte do último Apóstolo.

O Papa Bento XV (1854-1922) foi eleito em 1914 e, durante o seu pontificado, ocorreram as aparições de Fátima. Em “De servorum Dei beatificatione”, ele explicou que a aprovação da Igreja de uma aparição é basicamente a permissão para dar a conhecer a aparição “para instrução e benefício” dos fiéis. Também destacou que as aparições, inclusive as aprovadas pela Igreja, não podem receber o “assentimento de fé” divina, mas somente um “assentimento humano”, como aconselha a prudência, por mais que pareçam prováveis e verídicas para a piedade.

Certamente, as aparições não modificam em absoluto o Credo. Mas então a pessoa poderia perguntar: são realmente inúteis?

As aparições podem ser consideradas úteis na medida em que suas mensagens confirmam ou sublinham a profundidade dos mistérios da fé. Por exemplo, quando Nossa Senhora apareceu em 1858, em Lourdes, Ela se apresentou como “Imaculada Conceição”, um título que havia sido proclamado como dogma quatro anos antes no documento do Papa Pio IX, “Ineffabilis Deus”. Algo parecido ocorreu com a definição da Assunção em 1950: quando o Papa Pio XII deliberava sobre a proclamação desse dogma, teve uma visão nos Jardins Vaticanos. Ele mesmo registrou esta visão em uma nota manuscrita que o vaticanista italiano Andrea Tornielli deu a conhecer em fevereiro de 2008.

A Igreja, depois de longos processos de discernimento e verificação, aprovou algumas aparições, isto é, reconheceu-as como dignas de fé.

As aparições e visões de Nossa Senhora marcaram profundamente a história da Igreja e a piedade católica, já desde os tempos apostólicos; a primeira aparição aprovada pela Igreja, segundo uma antiquíssima tradição, é a de Nossa Senhora do Pilar, que foi uma aparição da Virgem a apóstolo São Tiago quando este evangelizava a Espanha, antes do seu martírio. Santuários e eremitérios foram construídos nos lugares das aparições e sustentam as atividades da piedade cristã.

No entanto, deve-se destacar que a Igreja estuda escrupulosamente as aparições sobre as quais é informada, antes de reconhecê-las publicamente. De fato, como explicou o teólogo René Laurentin em um discurso em Praga, em 10 de maio de 2010, só existem 15 aparições reconhecidas, das cerca de 2.500 que foram comunicadas. Entre estas 15, encontram-se: a de Guadalupe, no México (1531), a de Aparecida, no Brasil (1717), a de La Salette, na França (1846), a de Lourdes, na França (1858), a de Fátima, em Portugal (1917), e a de Amsterdã, na Holanda (1945). Outras, como as aparições documentadas de Medjugorje, estão sendo investigadas ainda.

No processo de investigação – iniciado pelo bispo local –, intervêm médicos, teólogos e outros especialistas. O processo é dirigido por normas estabelecidas pela Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano. As normas incluem uma série de critérios, entre eles, que a mensagem da suposta aparição esteja em conformidade com os ensinamentos da Igreja. Outros critérios se referem a que não haja fins lucrativos, que o suposto vidente seja uma pessoa psicologicamente saudável, que se verifiquem sinais ou milagres etc.

Como foi mencionado, o primeiro responsável por iniciar as investigações é o bispo local, que pode recorrer à Santa Sé para pedir ajuda. De fato, é a Congregação para a Doutrina da Fé que se encarrega de revisar estes casos e emitir o correspondente juízo eclesial. Nos últimos anos, foram publicadas diversas notificações sobre este processo, entre elas um documento com a revelação do “terceiro segredo” de Fátima.

No 22° Congresso Mariológico-Mariano Internacional, realizado em Lourdes em setembro de 2008, o oficial da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Charles Scicluna, explicou a visão da Igreja sobre as aparições. A Igreja as considera como “um carisma do Espírito e, como tal, pertencem ao dom da profecia”. Portanto, devem ser avaliadas, mas não silenciadas, sugeriu o prelado. “As marianas devem ser acolhidas tendo presente a revelação definitiva concedida em Cristo Jesus; portanto, não são algo absoluto. Não seriam sequer necessárias, mas somente complementares e secundárias para a vida de fé”.

As aparições podem ter diversos objetivos: missão doutrinal, pastoral; convite à penitência, à conversão e a um crescimento na vida cristã (oração, caridade etc.). A aprovação da aparição pretende ser uma ajuda para os fiéis: elas podem servir para esclarecer verdades professadas pela Igreja ou para convidar os cristãos a viverem uma vida mais plena.

A Igreja obviamente deve prestar atenção às aparições e às informações sobre aparições, já que estes fenômenos tendem a suscitar grandes movimentos de religiosidade popular, conversões e inclusive milagres.

O teólogo e mariólogo francês René Laurentin, reconhecido autor de várias investigações históricas sobre as aparições marianas (especialmente a de Lourdes), destaca que, em suas múltiplas mensagens, a Virgem Maria sempre convida as pessoas à conversão e a voltar a Deus. “As aparições – sugere Laurentin – nos recordam ao mesmo tempo a transcendência e a familiaridade de Deus.”

O prelado se refere a Maria como “delegada privilegiada da misericórdia de Deus a favor dos homens”.

Neste sentido, é oportuno ter presente o notável aumento das aparições registrado no século XX, especialmente nas últimas décadas. Quando o jornalista italiano Vittorio Messori perguntou sobre isso ao cardeal Joseph Ratzinger (hoje Papa Bento XVI), em 1984, o purpurado respondeu: “Um dos sinais da nossa época é que as notícias sobre aparições marianas estão se multiplicando no mundo” (“Informe sobre a Fé”, BAC, 1985).

Dom Laurentin, em seu livro “Aparições atuais da Virgem Maria” (Rialp, 1991), fez esta observação: a Virgem Maria “tem uma missão de Mãe aos olhos da nossa época. Esta missão está chamada a intensificar-se nos últimos tempos, dizia Grignion de Montfort. Será que a multiplicação das aparições não corresponde a certa urgência? Talvez não se trate do fim do mundo, mas, pelo menos, de uma grave comoção no limiar do terceiro milênio” (pág. 14).

O autor diz que ele mesmo realizou várias investigações, precisamente para questionar sua proliferação. “Mas os resultados foram positivos, em maior medida do que eu havia pensado. As aparições ocorridas na Argentina (San Nicolás), México (Terra Blanca), Ruanda (Kibeho), Síria (Damasco), Itália (Schio), Coreia (Naju) etc., não apresentam nenhum sinal patológico. Se algumas das minhas investigações descobriram aparições ilusórias ou desvios, a maioria terminaria no lixo, que é onde costumam parar as aparições que mostram a menor falha, segundo o princípio “bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu” (algo é bom quando tudo nele é bom, mau se tiver o menor defeito)” (p. 14-15).

Finalmente, nas aparições, existe um sinal de misteriosa simplicidade: nem Bernadette Soubirous nem os pastorinhos de Fátima haviam feito nada e particular para tornar-se testemunhas de fatos sobrenaturais. Estes fenômenos são uma oportunidade excepcional para sentir a presença de Deus. Por isso, a Igreja os qualifica como “sinais”, mas não baseia somente neles seu apelo à conversão.

Existe uma “dimensão espiritual superlativamente positiva” das aparições marianas.

O professor da Universidade Franciscana de Steubenville Mark Miravalle explicou à Aleteia que, ainda que não haja “obrigação estrita de acreditar em revelações marianas privadas”, também é verdade que, “se Deus considera oportuno enviar a Mãe de Jesus à história humana para destacar os aspectos mais exigentes do Evangelho – por exemplo, maior oração, jejum, penitência, conversão, paz –, então esta intervenção do céu deveria ser recebida com respeito, gratidão e veneração”.

Deus não é arbitrário em seus atos providenciais – acrescentou o professor – e, se determina que a família humana se encontra em uma necessidade significativa de uma visita celestial da Mediadora de todas as graças, então deveríamos receber estas visitas com mentes e corações abertos, especialmente uma vez que a Igreja discerniu que a aparição comunicada tem uma origem sobrenatural”.

Miravalle, que preside o movimento católico internacional Vox Populi Mariae Mediatrici (A voz do povo por Maria Mediadora), destacou que o Papa São João XXIII “transmitiu este sentido de um reconhecimento reverente e uma resposta às aparições marianas em 18 de fevereiro de 1959, por emissão de rádio a Lourdes”.

O Papa disse: “Nós os instamos a escutar com simplicidade de coração e sinceridade de mente as proveitosas advertências da Mãe de Deus (…). O Pontífice Romano (…) também sente o dever de recomendar à atenção dos fiéis – quando após um exame responsável, assim o julgarem para o bem comum – essas luzes sobrenaturais que Deus quis dispensar gratuitamente a algumas almas privilegiadas, não para propor novas doutrinas, mas para guiar-nos em nossa conduta”.

Miravalle acrescentou que “deveriam ser respeitadas especialmente as revelações maianas aprovadas que foram introduzidas na oração litúrgica pública da Igreja” e apresentou como exemplos a memória litúrgica de Lourdes, em 11 de fevereiro, e a memória livre das aparições de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em 13 de maio.

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Revisado pelo Pe. Enrique Llamas, carmelita descalço e presidente da Sociedade Mariológica Espanhola

Via Aleteia