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Apresentamos as palavras do Papa Bento XVI durante a catequese realizada na tradicional Audiência Geral na sala Paulo VI, no Vaticano. 21 de Novembro de 2012

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Queridos irmãos e irmãs,

Continuamos avançando neste Ano da Fé carregando no coração a esperança de redescobrir a grande alegria que existe no ato de acreditar, bem como a esperança de reencontrar o entusiasmo para comunicar a todos as verdades da fé. Verdades que não são uma simples mensagem sobre Deus, uma informação a seu respeito. Verdades que expressam o evento do encontro de Deus com os homens, encontro salvífico e libertador, que realiza as aspirações mais profundas do homem, o seu anseio de paz, fraternidade e amor.

A fé nos leva a descobrir que o encontro com Deus melhora, aperfeiçoa e eleva o que há de verdadeiro, de bom e de belo no homem. Acontece, portanto, que, enquanto Deus se revela e se deixa conhecer, o homem vem a saber quem é Deus e, conhecendo-o, descobre a si mesmo, a sua origem, seu destino, a grandeza e a dignidade da vida humana.

A fé permite um conhecimento autêntico de Deus, que envolve toda a pessoa: é um saber no sentido latino de “sàpere” [degustar], um conhecimento que dá “sabor” à vida, um novo sabor de existir, uma maneira alegre de estar no mundo. A fé se exprime no dom de si mesmo aos outros, na fraternidade que nos torna solidários, capazes de amar, vencedores da solidão que nos deixa tristes.

Esse conhecimento de Deus através da fé não é, portanto, só intelectual, mas vital.

É o conhecimento do Deus-Amor, graças ao seu próprio amor. O amor de Deus nos mostra, nos abre os olhos, nos permite conhecer toda a realidade, indo além das perspectivas estreitas do individualismo e do subjetivismo, que desorientam as consciências. O conhecimento de Deus é uma experiência de fé, que implica, ao mesmo tempo, um caminho intelectual e moral: profundamente tocados pela presença do Espírito de Jesus em nós, superamos os horizontes do nosso egoísmo e nos abrimos para os verdadeiros valores da existência.

Hoje, nesta catequese, quero focar na razoabilidade da fé em Deus.

A tradição católica, desde o início, rejeitou o assim chamado fideísmo, que é a vontade de acreditar contra a razão. Credo quia absurdum (creio porque é absurdo) não é a fórmula que interpreta a fé católica. Deus não é um absurdo: em todo caso, é um mistério. O mistério, por sua vez, não é irracional: ele é um excesso de sentido, de significado, de verdade. Se, ao olhar para o mistério, a razão vê o escuro, não é porque não haja luz no mistério, mas sim porque há luz demais. Assim como, quando os olhos de um homem se dirigem diretamente para o sol, eles veem apenas escuridão. Mas quem diria que o sol não é brilhante? Quem diria que ele não é a fonte da luz? A fé nos permite olhar para o “sol”, Deus, porque é o acolhimento da sua revelação na história e, por assim dizer, recebe realmente todo o brilho do mistério de Deus, reconhecendo o grande milagre: Deus veio até o homem, se ofereceu ao seu conhecimento, condescendendo à limitação natural da razão humana (cf. Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Dei Verbum, 13).

Ao mesmo tempo, com a sua graça, Deus ilumina a razão, lhe abre novos horizontes, imensuráveis e infinitos. A fé, por isto, é um forte incentivo para buscarmos sempre, para nunca pararmos nem nos acomodarmos na busca incansável da verdade e da realidade. É vão o preconceito de alguns pensadores modernos, que afirmam que a razão humana seria bloqueada pelos dogmas de fé. É exatamente o oposto, como os grandes mestres da tradição católica mostraram. Santo Agostinho, antes da sua conversão, procura pela verdade com grande inquietação, através de todas as filosofias disponíveis, achando todas insatisfatórias. Sua meticulosa procura racional é para ele uma pedagogia significativa para o encontro com a Verdade de Cristo. Quando ele diz “compreende para crer e crê para compreender” (Discurso 43, 9: PL 38, 258), é como se estivesse contando a sua própria experiência de vida. Intelecto e fé, diante da revelação divina, não são estranhos nem antagonistas; são, ambos, condições para compreendermos o seu significado, para recebermos a autêntica mensagem, aproximando-nos do limiar do mistério.

Santo Agostinho, junto com muitos outros autores cristãos, é testemunha de uma fé que se exercita com a razão, que pensa e convida a pensar. Neste caminho, Santo Anselmo dirá em seu Proslogion que a fé católica é fides quaerens intellectum, e que a busca da inteligência é um ato interior do acreditar. Será especialmente São Tomás de Aquino quem lidará com a razão dos filósofos, mostrando a força fecunda e nova da vitalidade racional que inunda o pensamento humano a partir dos princípios e das verdades da fé cristã.

A fé católica é razoável e tem confiança na razão humana. O concílio Vaticano I, na constituição dogmática Dei Filius, disse que a razão é capaz de conhecer com certeza a existência de Deus através da criação, e que apenas a fé tem a oportunidade de conhecer “facilmente, com certeza absoluta e sem erro “(DS 3005) as verdades sobre Deus, à luz da graça. O conhecimento da fé, ainda, não é contrário à razão. O beato papa João Paulo II, na encíclica Fides et ratio, resume: “A razão humana não é anulada nem humilhada quando presta assentimento aos conteúdos de fé, que são, em qualquer caso, alcançados por livre e consciente escolha” (número 43).

No irresistível desejo da verdade, só a relação harmoniosa entre a fé e a razão é o caminho certo que conduz a Deus e à realização de si mesmo.

Esta doutrina é facilmente reconhecível em todo o Novo Testamento. São Paulo, escrevendo aos coríntios, sustenta: “Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos buscam a sabedoria, nós pregamos o Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (1 Cor 1,22-23 ).

Deus, de fato, salvou o mundo não por um ato de poder, mas através da humilhação do seu Filho único: de acordo com os padrões humanos, o modo incomum escolhido por Deus contradiz as exigências da sabedoria grega. No entanto, a cruz de Cristo tem sua razão, que São Paulo chama de logos tou staurou, a palavra da cruz (1 Co 1,18). Aqui, o termo logos indica tanto a palavra quanto a razão, e, se alude à palavra, é porque expressa verbalmente processos que a razão elabora. Paulo, assim, vê na cruz não um evento irracional, mas um fato da salvação, que tem uma racionalidade própria, reconhecível à luz da fé. Ao mesmo tempo, ele tem tanta confiança na razão humana que se maravilha de que muitos, mesmo vendo as obras realizadas por Deus, se obstinem em não acreditar nele. Diz ele em sua carta aos romanos: “Os atributos invisíveis [de Deus], ​​ou seja, o seu eterno poder e a sua natureza divina, são contemplados e compreendidos na criação do mundo através das obras das suas mãos” (1,20).

Também São Pedro exorta os cristãos da diáspora para adorarem “o Cristo Senhor em vossos corações, sempre prontos a responder a todo aquele que vos pedir razões da esperança que habita em vós” (1 Pe 3,15). Em um clima de perseguição e de forte necessidade de testemunhar a fé, os crentes são convidados a justificar a sua adesão à palavra do evangelho, a dar razão da sua esperança.

É nesse terreno, de ligação frutuosa entre o compreender e o acreditar, que está enraizada ainda a relação virtuosa entre ciência e fé. A pesquisa científica leva ao conhecimento de verdades sempre novas sobre o homem e sobre o cosmos, conforme sabemos. O verdadeiro bem da humanidade, que é acessível pela fé, abre o horizonte para a sua jornada de descoberta.Devem ser incentivadas, portanto, as pesquisas a serviço da vida, que visam erradicar a doença. Também são importantes as investigações sobre os segredos do nosso planeta e do universo, na consciência de que o homem é a coroa da criação, não com o fim de explorá-la insensatamente, mas de preservá-la e torná-la habitável.

Assim, vivida na verdade, a fé não entra em conflito com a ciência, mas coopera com ela, oferecendo critérios básicos para que ela promova o bem de todos, e lhe pede renunciar apenas às tentativas que, em oposição ao plano original de Deus, podem produzir efeitos que se voltam contra o próprio homem. Por isso mesmo, é razoável acreditar: se a ciência é uma aliada valiosa para a compreensão do plano de Deus no universo, a fé permite que o progresso científico aconteça sempre em prol do bem e da verdade do homem, permanecendo fiel a esse mesmo plano.

É por isso que é crucial para as pessoas abrir-se à fé e conhecer a Deus e o seu plano de salvaçãoem Jesus Cristo. O evangelho inaugura um novo humanismo, uma autêntica “gramática” do homem e de toda a realidade. O Catecismo da Igreja Católica afirma: “A verdade de Deus e a sua sabedoria sustentam a ordem da criação e do governo do mundo. Deus, o único que “fez o céu e a terra” (Sl 115,15), pode dar, somente ele, o verdadeiro conhecimento de cada coisa criada na relação com ele” (número 216).

Esperamos, portanto, que o nosso compromisso na evangelização ajude a dar nova centralidade ao evangelho na vida de muitos homens e mulheres do nosso tempo. E oramos para que todos reencontrem em Cristo o sentido da vida e o fundamento da verdadeira liberdade: sem Deus, o homem se perde. Os testemunhos daqueles que vieram antes de nós e que dedicaram a vida ao evangelho o confirma para sempre. É razoável acreditar, pois o que está em jogo é a nossa existência. Vale a pena nos desgastarmos por Cristo. Só ele satisfaz os desejos de verdade e de bem enraizados na alma de cada homem: agora, no tempo que passa, e no dia sem fim da eternidade bem-aventurada.

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O homem encontra a Deus por trás de cada porta que a ciência consegue abrir.

Albert Einstein

Para os que acreditam, Deus está no princípio. Para os cientistas, Deus está no final de todas as suas reflexões.

Max Planck

O físico alemão Otto Hahn, inventor da fissão do átomo de urânio, estava internado num campo de concentração inglês, junto com outros eminentes cientistas. Quando, em agosto de 1945, recebeu a notícia de que Hiroshima tinha sido arrasada por uma bomba atômica, sentiu um profundíssimo sentimento de culpa. As suas pesquisas sobre a fissão do urânio tinham acabado por ser utilizadas para produzir um massacre terrível. Foi tal a sua angústia que tentou abrir as veias nos arames farpados que cercavam o campo.

Depois que os seus companheiros conseguiram dissuadi-lo, o velho professor fez-lhes, desolado, a seguinte confissão: “Acabo de perceber que a minha vida não tem mais sentido. Pesquisei pelo puro desejo de revelar a verdade das coisas, e todo o meu saber científico acaba de se converter num enorme poder aniquilador”.

A experiência pessoal de Otto Hahn foi, na realidade, a experiência amarga de toda uma época. Uma aflitiva impressão de fracasso invadiu os espíritos de todos os que tinham lutado com tanta tenacidade por levar o conhecimento científico à máxima altura possível, convencidos de fazer com isso um grande bem à humanidade. Tinham trabalhado penosamente com a profunda convicção de que o aumento do saber teórico e o incremento da felicidade humana estavam inequivocamente vinculados. Acreditavam que fomentar o conhecimento científico teria sempre um valor positivo, que significaria automaticamente cotas mais elevadas de felicidade e de dignidade. Pensaram que se tratava de um bem inquestionável, e que, portanto, se traduziria indubitavelmente em bem-estar e perfeição para o homem.

Mas esse entusiasmo plurissecular, que já tinha aberto fendas nas trincheiras de Verdun1, ruiu estrepitosamente com os horrores da Segunda Guerra Mundial. O terrível poder destruidor das armas nucleares, os intensíssimos bombardeios da população civil, o extermínio sistemático e profundamente cruel de toda uma raça e um saldo de cinqüenta milhões de mortos puseram tragicamente de manifesto que o saber teórico pode traduzir-se num saber técnico, e este, por sua vez, num amplo poder sobre a realidade, mas, por desgraça, todo esse domínio não leva automaticamente a uma maior felicidade dos homens se aqueles que detêm esse poder não possuem uma consciência ética proporcional à sua responsabilidade.

Após séculos de febril incremento do saber científico, a ideia de que o progresso humano é sempre contínuo e não pode haver retrocesso revelou-se uma farsa irritante. O ideal do domínio científico e a consequente forma de humanismo desfizeram-se em pedaços ao entrarem em colisão com a obstinada realidade da história. Era patente que o futuro não devia caracterizar-se por essa ingênua crença no progresso como princípio motor de uma civilização, mas que era preciso alicerçá-lo em valores mais altos e seguros.

HISTÓRIA DE UMA DESILUSÃO

O psiquiatra austríaco Viktor Frankl, depois da sua experiência pessoal em diversos campos de concentração, chegou à conclusão de que não foram os ministérios nazistas de Berlim os verdadeiros responsáveis por aquelas atrocidades, mas a filosofia niilista do século XIX. Se o homem é um simples produto de uma natureza mutável, um simples macaco evoluído, então, da mesma forma que o macaco pode ser enjaulado num zoológico, o homem pode ser encarcerado num campo de extermínio. Se o homem é um simples animal, ainda que extraordinariamente adestrado, e fazemos sabonetes com gordura animal, por que não fazê-los com gordura humana?

O filósofo Edmund Husserl, esclarecido pela falência do mito do eterno progresso por ocasião da Segunda Guerra mundial – na qual viu, entre outras coisas, aquela racionalização perfeita da matança em massa de milhões de inocentes –, percebeu claramente que a ciência, por força do seu método, não pode ser um princípio motor da vida humana. “O mundo da objetividade científica – escreveu – é um mundo fechado e inóspito. A forma pela qual o homem moderno, na segunda metade do século XIX, se deixou determinar totalmente pelas ciências positivas e cegar pela prosperidade a elas devida, significou pôr de lado as questões decisivas para uma humanidade autêntica. As ciências que só contemplam meros fatos fazem com que os homens só enxerguem meros fatos”. Procurar o conhecimento científico objetivo das coisas é lícito e fecundo. Mas considerar esse modo de conhecer como modelo, como a única forma rigorosa de conhecimento, é uma parcialidade inaceitável, já que empobrece enormemente o homem.

A Ilustração – o Iluminismo – pretendia alcançar o ideal renascentista que sonhava entregar o homem a si mesmo, torná-lo livre, permitindo-lhe viver sob o império exclusivo da razão. A esperança de que o homem atingiria a felicidade para sempre num mundo já dominado e sem segredos, por meio de uma ciência que tudo conheceria e tudo poderia, veio a ser um sonho que nunca se alcançaria e que o horror gigantesco das duas Guerras Mundiais converteu em algo pior que um pesadelo. O domínio da realidade escapava ao molde estreito do pensamento racionalista. E o perigo não derivava da ciência em si, mas dessa mentalidade que levava a considerar que só se pode conhecer aquilo que é mensurável, controlável, verificável, e a desprezar os aspectos da realidade que resistem a esse tipo de controle e cálculo. Essa pretensão de domínio sem limites deixava o homem numa situação de desamparo. Logo se viu que a ciência, que tinha dominado com o seu prestígio o Século das Luzes, não podia, por si só, plenificar a vida do homem. Não era a sua missão. A ciência não fala de valores, de sentido, de metas nem de fins, e o ser humano precisa de tudo isso para preservar a sua dignidade e ser feliz.

O otimismo ilustrado previra horizontes paradisíacos, mas a utopia científica mostrou como nunca a sua impotência.

Não há dúvida de que o progresso científico foi grande e que esse desenvolvimento é uma coisa boa, ou, pelo menos, não tem por que ser má. Mas, hoje em dia, muito poucos acreditam que tudo isso seja a panacéia, que possa fazer algo mais do que transferir a inquietação de uns temas para outros. O domínio das coisas é muito elevado, mas necessita de um humanismo válido que lhe dê sentido. Porque, do contrário, pode embriagar-se com os seus próprios êxitos e crescer em direções aberrantes para a dignidade do homem.

A técnica permite desenvolver meios de comunicação extremamente poderosos, rápidos, atraentes, sugestivos…, mas esses meios podem ser uma arma de primeira grandeza para manipular as consciências, moldar as vontades e os sentimentos dos homens. A ciência precisa de alguns limites para a sua pretensão de soberania. Toda a grande conquista traz consigo uma inevitável ambivalência: um avanço num aspecto e um retrocesso em outro, talvez não menos valioso. O aumento de poder não corre sempre paralelamente ao aumento do domínio do homem sobre esse poder. A ciência não pode abandonar-se à sua própria dinâmica, mas deve ser regulada por uma instância externa que a oriente e lhe dê sentido.

O PROGRESSO CIENTÍFICO IMPLICA UM DECLIVE RELIGIOSO?

A Idade Moderna começou por cultivar insistentemente as questões de método. Bacon, Descartes e Spinoza, por exemplo, concentraram a sua filosofia em torno da busca de um método rigoroso que lhes permitisse chegar à certeza e assentar a vida sobre convicções sólidas, inquebrantáveis, inexpugnáveis.

Como as ciências avançam sobre dados seguros e conferidos, verificados pela experiência, foram surgindo pensadores convencidos de que, sempre que a ciência descobria um segredo, a religião dava um passo atrás.

Parecia-lhes que o progresso da ciência reduzia inexoravelmente o domínio do religioso, cada dia mais confinado. Em contraposição ao que consideravam o crédulo espírito medieval, o homem moderno haveria de encontrar, apenas com a força da sua razão, um método sem fendas. E o grande modelo do pensamento autêntico era, para eles, o saber matemático.

Se se trabalha com a devida lógica, articulando bem os diversos passos do raciocínio – afirmavam –, chega-se em matemática a conclusões apodícticas, inquestionáveis. A ordem no raciocínio torna-se a chave do pensamento e do conhecimento retos. E essa ordem é estabelecida pela razão, pois a razão é o grande privilégio do homem. Por esse caminho – acabavam por concluir –, o homem basta-se a si mesmo, já que a razão lhe oferece recursos de sobra para descobrir as leis da realidade e conseguir um rápido domínio sobre ela.

Mas de novo a passagem do tempo veio a mostrar como esse domínio só é possível em termos quantitativos, naquilo que pode submeter-se a cálculo e medida. Mas o espírito escapa ao método matemático e à lógica cartesiana. Ao possibilitar a opção livre, o espírito torna possíveis muitas coisas que denunciam a insuficiência do modelo racionalista.

Poderiam citar-se muitos exemplos. Um dos mais característicos é a tentativa racionalista de explicar a inteligência humana. É difícil saber exatamente o que é o pensamento, mas, se eu reduzo o problema a uma questão de neurônios, posso conseguir uma tranquilizadora impressão de exatidão: 1.350 gramas de cérebro humano, constituído por 100.000 milhões de neurônios, cada um dos quais forma entre 1.000 e 10.000 sinapses e recebe a informação que lhe chega dos olhos através de 1.000.000 de axônios acumulados no nervo ótico. Por sua vez, cada célula viva pode ser explicada pela química orgânica…. Deste modo, posso pretender explicar a inteligência num plano biológico, a biologia em termos de processos químicos e a química em forma de matemática.

Pois bem, qualquer leitor medianamente crítico perguntar-se-á o que têm a ver as porcentagens de carbono e hidrogênio, os neurônios e toda a matemática associada a esses processos, com algo tão humano e tão pouco matemático como conversar, entender uma piada, captar um olhar de carinho ou compreender o sentido da justiça.

A ciência moderna, com as suas descobertas maravilhosas, com as suas leis de uma exatidão assombrosa, oferece a tentação – um empenho que se deu em Descartes com uma força irresistível – de querer conhecer toda a realidade com uma exatidão matemática. Mas costuma-se esquecer algo essencial: que a matemática é exata à custa de considerar unicamente os aspectos quantificáveis da realidade. E reduzir toda a realidade ao quantificável é uma notável simplificação, é um reducionismo.

Poderíamos replicar como aquele velho professor universitário, quando um aluno fazia alguma afirmação reducionista: “Isso é como se eu lhe perguntasse o que é esta mesa, e você me respondesse: cento e cinqüenta quilos”. As grandezas matemáticas prestaram e prestarão um grande serviço à ciência, e à humanidade no seu conjunto, mas sempre prestaram um péssimo serviço quando se quis empregá-las de um modo exclusivista.

A totalidade do real nunca poderá ser expressa só em cifras, porque as cifras expressam unicamente grandezas e a grandeza é apenas uma parte da realidade. E não é questão de dar mais números ou com mais decimais. Por muitos ou muito exatos que sejam, oferecem sempre um conhecimento notoriamente insuficiente. Você pesa 70 quilos, mas não é 70 quilos. E mede 1,83 metros, mas não é 1,83 metros. As duas medidas são exatas, mas você é muito mais que uma soma exata de centímetros e quilos. As suas dimensões mais genuínas não são quantificáveis: não podem ser determinadas numericamente as suas responsabilidades, a sua liberdade real, a sua capacidade de amar, a sua simpatia por tal pessoa ou a sua vontade de ser feliz.

Não querer reconhecer uma realidade alegando que não pode ser medida experimentalmente seria proceder mais ou menos como um químico que se negasse a admitir as propriedades especiais dos corpos radioativos sob o pretexto de que não obedecem às mesmas leis que explicam o que acontece com os outros corpos já conhecidos.

Acima da ciência há outra face da realidade: a mais importante, e também a mais interessante do ser humano, aquela em que aparecem aspectos tão pouco quantificáveis como, por exemplo, os sentimentos – não é possível pesá-los, mas nada pesa mais do que eles na vida.

Um pensamento ou um sentimento não podem honestamente ser qualificados como materiais. Não têm cor, sabor ou extensão, e escapam a qualquer instrumento que sirva para medir propriedades físicas. “Os fenômenos mentais – afirma John Eccles, Prêmio Nobel de Neurocirurgia – transcendem claramente os fenômenos da fisiologia e da bioquímica”.

“A ciência, apesar dos seus progressos incríveis – escreve o médico e pensador Gregorio Marañón –, não pode nem poderá nunca explicar tudo. Cada vez ganhará mais terreno no campo daquilo que hoje parece inexplicável. Mas os limites fronteiriços do saber, por muito longe que cheguem, terão sempre pela frente um infinito mundo de mistério”.

A  FÉ  DESAPARECERÁ QUANDO  A  SOCIEDADE   AMADURECER?

Em um de seus livros, López Quintás conta que um dia, ao entardecer, depois de visitar a catedral de Notre-Dame, enquanto vagueava pela velha Paris, deparou, sem querer, com um pequeno edifício abandonado, com as suas sórdidas janelas cruzadas por sarrafos de madeira. Aquela construção quase em ruínas era o famoso “Templo da Nova Religião da Ciência” que o filósofo francês Augusto Comte tinha erigido fazia século e meio.

O contraste foi tão brusco como expressivo. O templo com o qual se pretendera dar culto ao progresso científico estava em ruínas. A velha catedral, pelo contrário, irradiava as suas melhores galas, como na sua brilhante época medieval. A música combinava nela com a harmonia das linhas arquitetônicas, com as belas palavras dos oradores, com o magnífico esplendor litúrgico que num dia de Natal, anos atrás, emocionara o grande poeta Claudel, até levá-lo à conversão.

A história daquele templo esquecido está aparentada com a da Ilustração, que no seu tempo se ergueu com o sonho de “despojar o homem dos grilhões irracionais das crenças e conhecimentos supersticiosos baseados na autoridade e nos costumes”. O pensamento ilustrado da Enciclopédia considerava os conhecimentos religiosos como “simples e ingênuas explicações sobre a vida dadas pelo homem não-científico”. Na sua aversão à fé, uma multidão de pensadores deleitava-se em atribuir a origem mais baixa possível ao sentimento religioso. Concebiam os nossos antepassados como “seres perpetuamente atemorizados, empenhados em conjurar as forças hostis do céu e da terra mediante práticas irracionais”. Viam a Deus como um simples “produto do medo das civilizações primitivas, num tempo em que esses espíritos atrasados ainda acreditavam em fábulas”.

Sentiam-se chamados a “libertar toda a humanidade daquele lamentável estado de ignorância”. A fé acabaria por desaparecer à medida que a sociedade fosse amadurecendo. “A deusa Razão encostaria num canto essa ignorância, iluminaria o caminho e dirigiria com mão segura os destinos da humanidade”.

Pensavam que a tendência que levava a buscar nos deuses uma razão de existir pertencia a um estágio primitivo da vida humana, destinado a dar passagem ao pensamento filosófico e, mais adiante, a ceder o lugar ao conhecimento científico, que conferiria ao homem a primazia absoluta no Universo e o situaria na maioridade.

A teoria de Comte sobre a evolução humana através dos três estados – religiosidade, pensamento filosófico e conhecimento científico – gozou na sua época de grande aceitação e em sua honra foi erigido aquele templo dedicado à “Nova Religião da Ciência”.

– Não é curioso que a ciência adquirisse essa faceta religiosa?

Foi efetivamente um curioso fenômeno de substituição. Fascinado pela ciência, o homem elevou-a até ocupar o lugar do sagrado. Mas não era um simples conflito entre a ciência e a fé. Com efeito, entronizar uma bonita mocinha parisiense na catedral de Notre-Dame – como fizeram durante a Revolução Francesa –, dando-lhe o título de “Deusa Razão”, não parece que fizesse parte das ciências experimentais. Por trás de tudo aquilo latejava o empenho ateu de proclamar a salvação da humanidade por si mesma, e o advento de uma sociedade iluminada unicamente pela razão humana.

Passaram-se menos de dois séculos, e o estado de abandono em que se encontra hoje aquele templo laico é talvez um fiel reflexo do abandono da concepção do homem que tanta força teve na sua época. Aquela ilusão segundo a qual o advento da era científica permitiria eliminar o mal do mundo acabou por ser um doloroso engano. As suas hipóteses acabaram por estar mais impregnadas de ingenuidade do que a que eles atribuíam às épocas históricas anteriores.

A  CIÊNCIA  PODE  EXPLICAR  TUDO ?

Um olhar sobre o progresso científico com um pouco de perspectiva histórica deixa-nos espantados com a rapidez com que as máquinas são ultrapassadas e vão parar nos museus. Muitas afirmações das revistas científicas atuais provavelmente serão motivo de riso ou de assombro para as gerações futuras, talvez em menos tempo ainda.

A história da ciência adverte-nos, com teimosa insistência, sobre um fato irrefutável: poucas teorias científicas conseguem manter-se em pé, mesmo que por poucos séculos; muitas vezes, só por alguns anos; e em alguns casos, menos ainda. A maioria das afirmações da ciência vão sendo substituídas, uma atrás da outra, pouco a pouco, por outras explicações mais complexas e mais fundamentadas dessa mesma realidade.Eram hipóteses tidas como certas durante uma série de anos, ou de séculos, e que um dia se descobre que estão superadas. Umas vezes, são englobadas dentro de teorias mais completas, das quais a antiga hipótese é um corolário ou um simples caso particular. Outras, ficaram obsoletas e desapareceram por completo do âmbito científico. A postura própria da ciência experimental deve ser, portanto, extremamente cautelosa nas suas afirmações.

“Uma cilada perniciosa – escrevia John Eccles pouco depois de ter recebido o Prêmio Nobel pelas suas pesquisas em neurocirurgia – surge da pretensão de alguns cientistas, mesmo eminentes, de que a ciência não demorará a proporcionar uma explicação completa de todos os fenômenos do mundo natural e de todas as nossas experiências subjetivas. É uma pretensão extravagante e falsa, que foi qualificada ironicamente por Popper2 como «materialismo promissório».

“É importante reconhecer que, mesmo que um cientista possa manifestar essa pretensão, não se comportaria como cientista, mas como um profeta mascarado de cientista. Isso seria cientificismo, não ciência, embora impressione fortemente os profanos que pensam que a ciência produz de forma incontroversa a verdade.

“O cientista não deve pensar que possui um conhecimento certo de toda a verdade. O máximo que nós, os cientistas, podemos fazer é chegar mais perto de um entendimento verdadeiro dos fenômenos naturais mediante a eliminação de erros em nossas hipóteses. É da maior importância para os cientistas que apareçam perante o público como o que realmente são: humildes buscadores da verdade”.

Em contrapartida, a imodéstia costuma caminhar a par da ignorância. A auto-suficiência com que alguns falam reflete uma atitude muito pouco científica, pois os cientistas sensatos nunca conferem a categoria de dogma às suas hipóteses. O cientificismo orgulhoso prestou sempre um péssimo serviço ao rigor da verdadeira ciência.

CIENTISTAS  QUE PONTIFICAM  SOBRE  FILOSOFIA?

Os cientistas sensatos – além de se vigiarem a si mesmos para não se converterem em personagens dogmáticos – procuram basear sempre as suas afirmações científicas em comprovações que sigam com rigor o método científico. Cuidam, pois, de não impor como científicas afirmações que, no fundo, se apoiam propriamente em razões de ordem filosófica.

– Penso que, se são cientistas, o que dizem estará baseado no método científico, que é aquele que conhecem, não é assim?

Certamente, a maioria dos cientistas comporta-se desse modo, e com grande honestidade. Mas há alguns que são menos honestos nas suas afirmações, embora, às vezes – para desprestígio da verdadeira ciência –, sejam mais conhecidos nos meios de comunicação. São figuras que têm uma certa habilidade para meter-se furtivamente no vizinho campo da filosofia. E isso não nos deve estranhar, pois já dizia Einstein que todo o pesquisador científico é uma espécie de metafísico disfarçado, por mais positivista que se considere.

– Mas têm todo o direito do mundo de filosofar, se assim o desejam, não é?

Sem dúvida. Nem as ciências especulativas nem as experimentais entendem de exclusivismos. Estão abertas a todos. Mas em todas se deve exigir que se cumpram as regras e o método próprios da ciência em que se está trabalhando. Não é legítimo que se pretenda impor especulações filosóficas em nome do método científico.

Se alguém, como cientista experimental, faz uma afirmação científica, deve fornecer dados empíricos que avalizem essa afirmação. Se a afirmação não é experimental, mas especulativa, deve fornecer as razões necessárias de acordo com as normas de um bom trabalho filosófico. Mas não goza de nenhum privilégio nesse campo, por mais que seja um bom cientista. O que não seria lícito é que fizesse conjecturas derivadas da razão e as apresentasse como demonstradas experimentalmente. E isso é o que fazem alguns, que, dando um pulo sigiloso, se metem de roldão em campo alheio, e falam dali querendo fazer-nos ver que falam de outro lugar.

– Quer dizer, é como um pretexto para fugir ao método científico.

Exato. E não é que o façam todos nem continuamente. Fazem-no apenas alguns e em algumas ocasiões, e, às vezes, sem que eles mesmos o percebam. O problema é que costumam mover-se aos tropeções no campo da filosofia e passeiam por ela como um rinoceronte numa loja de porcelanas, fazendo conjecturas filosóficas bastante curiosas.

– De qualquer maneira, também não é mau fazer conjecturas de vez em quando. Não havemos de estar sempre limitados ao estritamente demonstrado.

Com certeza. Mas então é preciso distinguir bem entre as conjecturas e as afirmações da ciência.Assim como, por exemplo, por um princípio ético elementar os profissionais dos meios de comunicação devem distinguir o que é propriamente a notícia do que é a sua opinião sobre essa notícia, os cientistas têm o dever de fazer também essa distinção entre o que comprovaram cientificamente e o que é mera especulação pessoal.

DEMONSTRAR  QUE  DEUS  NÃO  EXISTE?

Narrando a história da sua conversão, o professor de Oxford C.S. Lewis explicava como foi que percebeu, num momento concreto da sua vida, que o seu racionalismo ateu da juventude se baseava inevitavelmente no que ele considerava como as grandes descobertas das ciências. E o que os cientistas apresentavam como certo, ele o assumia sem conceder o menor espaço à dúvida.

Pouco a pouco, à medida que ia amadurecendo o seu pensamento, espatifava-se, uma e outra vez, contra um escolho que não conseguia superar. Ele não era cientista. Tinha, portanto, que aceitar essas descobertas por confiança, por autoridade…, como se fossem, em última análise, dogmas de fé científicos. E isso ia frontalmente contra o seu racionalismo.

Relatava-o passados anos, espantando-se com a ingenuidade da sua juventude. Sem quase saber por quê, vira-se envolvido numa credulidade que agora lhe parecia humilhante. Sempre tinha acreditado, às cegas, em praticamente tudo o que aparecesse escrito em letra impressa e assinado por um cientista. “Na época, ainda não fazia a menor ideia – dizia – da quantidade de tolices que existem no mundo escritas e impressas”.Agora parecia-lhe que essa candura juvenil o tinha arrastado a uma inocente aceitação rendida de um dogmatismo mais forte que aquele do qual estava fugindo. Os cientistas, aos olhos do grande público, têm em seu favor uma grande vantagem: o enorme complexo de inferioridade que o homem comum sente perante a ciência.

– E se a ciência demonstrar um dia que Deus não existe? Porque muita gente pensa que chegará um dia em que a ciência conseguirá prescindir do que chamam a hipótese de Deus, forjada nos obscuros séculos da ignorância…

É um velho temor que surge, às vezes, mesmo entre os que creem, excitado pela força divulgadora do ateísmo científico. No entanto, o temor do crente perante a ciência não faz nenhum sentido. Se demonstrar com seriedade a existência de Deus pode ser uma tarefa trabalhosa para a filosofia, demonstrar a sua inexistência é para a ciência uma tarefa impossível.

O objeto da ciência é só o observável e o mensurável, e Deus não é nem uma coisa nem outra. Para demonstrar que Deus não existe, seria preciso, como vimos, que a ciência descobrisse um primeiro elemento que não tivesse causa, que existisse por si mesmo, e cuja presença explicasse tudo o mais sem deixar nada de fora. E se pudesse descobri-lo – o que não conseguirá, porque está fora do seu âmbito de conhecimento –, seria precisamente isso que nós chamamos Deus.

Robert Jastrow, diretor do Goddard Institute of Space Studies, da NASA, e grande conhecedor dos últimos avanços científicos relacionados com a origem do Universo, dizia: “Para o cientista que passou a vida acreditando no ilimitado poder da razão, a história da ciência desemboca num pesadelo. Escalou a montanha da ignorância, e está a ponto de conquistar o cume mais alto. E quando está subindo o último penhasco, saem para lhe dar as boas-vindas um monte de teólogos que estavam sentados lá em cima faz muitos séculos”.

CIENTISTAS  QUE  CREEM ?

– Alguns estão persuadidos de que a ciência e a fé são incompatíveis. Dizem, como Laplace, que “Deus é uma hipótese da qual não têm nenhuma necessidade”. E afirmam que são precisamente os cientistas quem costuma negar que se possa conhecer a Deus.

É verdade que alguns cientistas pensam assim. No entanto, muitíssimos outros – de indubitável e reconhecido prestígio – não hesitam em afirmar que creem, e não lhes parece que a fé seja de maneira nenhuma um empecilho para as suas pesquisas; pelo contrário, afirmam que a verdadeira ciência, quanto mais progride, mais descobre a Deus. Os conflitos entre a fé e a razão foram sempre causados pela ignorância dos defensores de um ou de outro lado.

O próprio Albert Einstein, por exemplo, autor da teoria da relatividade, afirmava que “a religião sem a ciência estaria cega, e a ciência sem a religião estaria coxa”.

Newton afirmava que “há um ser inteligente e poderoso… que governa todas as coisas não como a alma do mundo, mas como Senhor do Universo, e, por causa do seu domínio, é chamado Senhor Deus, Pantocrator”.

O famoso prêmio Nobel alemão Werner K. Heisenberg, um dos principais criadores da Mecânica Quântica e formulador do conhecido Princípio da Indeterminação que leva o seu nome, ao passar por Madrid em 1969 afirmava: “Creio que Deus existe e que dEle procede tudo. A ordem e a harmonia das partículas atômicas têm que ter sido impostas por alguém”.

Max Planck, outro alemão ganhador do prêmio Nobel, que formulou a teoria dos quanta, é ainda mais explícito: “Em todos os lugares e por mais longe que dirijamos o nosso olhar, não somente não encontramos nenhuma contradição entre a religião e a ciência, mas precisamente um pleno acordo nos pontos decisivos”.

Von Braun, que conseguiu levar o primeiro homem à Lua, assegurava que “quanto mais compreendemos a complexidade da estrutura atômica, a natureza da vida ou a estrutura das galáxias, mais encontramos novas razões para nos enchermos de admiração perante os esplendores da Criação divina”.

O físico britânico Paul Davies assegura que a ciência não pode responder às questões últimas, e que tem de existir algum plano superior capaz de explicar a vida humana. Para Davies, “é totalmente inviável atribuir a existência do homem ao simples jogo acidental de forças cegas da natureza: a espantosa racionalidade da natureza – com um grau verdadeiramente incrível de organização em diferentes níveis que se entrecruzam e complementam – não pode ser fruto de simples acasos”.

Alexis Carrel, prêmio Nobel de Medicina, inicialmente um positivista incrédulo, mas convertido mais tarde ao catolicismo, foi testemunha direta em Lourdes de uma cura instantânea e inexplicável, e dizia: “Pouco espírito de observação e muitas teorias levam ao erro. Muita observação e poucas teorias levam à verdade”.

A multiplicação deste tipo de testemunhos tão qualificados acabou por provocar uma reviravolta contra essa mentalidade de agnosticismo cientificista. É como se os agnósticos tivessem subestimado o poder da inteligência humana para chegar a Deus através da ciência3. Um editorial da revista Time comentava com espanto essa mudança dentro do mundo científico: “Através de uma silenciosa revolução no pensamento e na argumentação – uma revolução impensável faz vinte anos –, é como se Deus estivesse preparando a sua volta”.

A  RAZÃO  PRECISA  DA  FÉ?

O combate que o homem trava contra o mal excede infinitamente os meios da razão e da ciência. É o que demonstram fatos tão atuais como o racismo, a droga ou o álcool. Ou como todos esses terríveis crimes cometidos por totalitarismos ateus sistemáticos e pretensamente científicos ao longo do século XX: desde o genocídio nazista de Hitler até o de Pol Pot no Camboja, passando pelos do leninismo, do stalinismo ou do maoísmo.

O pior é que a maior parte desses crimes em massa foram cometidos em nome de teorias que, na sua época, receberam o aplauso de milhões de pessoas. Foram autênticos infernos fabricados por homens que procuravam um mundo perfeito que se bastasse a si mesmo e já não tivesse necessidade de Deus.

E assim como, lendo Lênin, se podia notar que os direitos do indivíduo não iam ser respeitados num sistema comunista, do mesmo modo, estudando as premissas da Ilustração, viu-se claramente que a Modernidade não atenderia às necessidades globais do ser humano. Não basta a razão para que uma sociedade seja justa, solidária e equilibrada. Para que haja equilíbrio na pessoa e na sociedade, é preciso atender, juntamente com a razão, à vontade e à sensibilidade. A pessoa e a sociedade devem ter por objetivo procurar o bem, a verdade e a beleza; e isso significa falar de vontade, inteligência e sentimentos; e, por sua vez, de ética, de ciência e de arte. Quando se idolatra um método da inteligência, como é a razão, sem elevar à sua altura a ética e a estética, desequilibram-se o indivíduo e a sociedade. Esse foi o fracasso da Ilustração.

Fracassou por ter pensado que da razão deriva automaticamente a ética, coisa que se demonstrou falsa ao ser confrontada com a realidade. A razão não pode ser salva pela razão. Isso seria ilusório. Esses crimes demonstraram o que o homem pode chegar a fazer. E vimos como a  razão não os impediu.

Os ilustrados pensavam que, mostrando ao homem o que é racional, este o adotaria, e a razão seria suficiente para organizar a sociedade. Mas não foi assim. Não basta proclamar o que é racional para que os homens o pratiquem.

O comportamento humano está cheio de sombras e de matizes alheios à razão, que desembestam cada qual por sua conta movendo as molas da vontade e do coração. Reconhecer os perigos que a razão encerra – afirma Jean-Marie Lustiger – é salvar a sua honra. Conceber a razão como a grande soberana, independente do bem que o homem deve procurar, é mais ou menos como pôr-se nas mãos de um computador: é um instrumento muito capaz, processa grande quantidade de dados que toma do exterior, todo o seu desenvolvimento é perfeitamente lógico, mas alguém tem de garantir que está bem programado. A verdadeira fé é um guia insubstituível, pois a razão pode extraviar-se.

Não quero, com isto, menosprezar a razão, antes pelo contrário. A razão é uma das mais nobres capacidades que distinguem a espécie humana, e alegra-nos ver os seus triunfos, bem como as conquistas da ciência e a sua luta por construir um mundo melhor. Mas convém nunca esquecer a limitação humana, e igualmente a ordem natural imposta por Deus, que permite ao homem preservar a sua dignidade e evitar muitos erros.

A história está cheia de cadáveres ideológicos, e ninguém acha estranho encontrá-los perfeitamente alinhados quando olha para trás com a disposição de aprender. E, entre eles, espalhados ao longo dos séculos, pode-se ver toda uma legião de profetas que foram anunciando – sobretudo nos últimos duzentos anos – o próximo e definitivo desaparecimento da religião e da Igreja.

No entanto, a história mostra que são precisamente aqueles que, com tanta paixão, lançam essas condenações e essas profecias os que desaparecem uns após outros, enquanto a Igreja continua adiante depois de dois mil anos, e a religiosidade continua a ser uma constante em todas as civilizações de todos os tempos.

A Igreja, que presenciou catástrofes que varreram impérios inteiros, testemunha pela sua mera subsistência a força que palpita nela. “Os povos passam – observava Napoleão –, os tronos e as dinastias desmoronam-se, mas a Igreja permanece”. É uma realidade que leva a pensar que o fato religioso faz parte da natureza do homem, e que a Igreja está animada de um espírito que não é de origem humana.

Por Alfonso Aguiló

1Uma das batalhas mais cruentas da Primeira Guerra Mundial (N. do E.).

2Karl Popper (1902-1994), a maior autoridade em filosofia da ciência do século XX (N. do E.).

3 Sobre este tema, e outros testemunhos de cientistas, ver Jorge Pimentel Cintra, Deus e os cientistas, Quadrante, São Paulo, 1990 (N. do E.).

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Já me fizeram a seguinte pergunta: “É verdade que o sr. é um racionalista cristão?” Eu respondi: “De maneira nenhuma! Isso é uma contradição, em termos. O racionalista é alguém que abraça uma filosofia que se contrapõe ao cristianismo.” Portanto, embora um cristão verdadeiro não seja um racionalista, a fé cristã certamente é racional.

O cristianismo é coerente? É inteligível? Faz sentido? Ele se harmoniza num padrão coerente de verdade, ou ele é o oposto do racional — ele seria irracional?

Seria o cristianismo complacente com a superstição e concordaria com cristãos que crêem que o cristianismo é francamente irracional? Penso que isso é um fato muito lamentável. O Deus do cristianismo se dirige à mente das pessoas. Ele fala conosco. Ele tem um livro escrito para o nosso entendimento.

Quando digo que o cristianismo é racional, não quero significar com isso que a verdade do cristianismo em toda a sua majestade possa ser deduzida a partir de alguns princípios lógicos por um filósofo especulativo.Há muita informação sobre a natureza de Deus que podemos encontrar unicamente porque o próprio Deus escolheu revelá-las a nós.

Mas o que ele revela é inteligível, podemos entender com nosso intelecto. Ele não nos pede que desprezemos nossas mentes para nos tornarmos cristãos. Há pessoas que pensam que, para se tornarem cristãs, elas precisam deixar seus cérebros em algum lugar do estacionamento. O único pulo que o Novo Testamento nos chama a dar, não é um pulo no escuro, mas é para fora do escuro, para a luz, para aquilo que verdadeiramente podemos entender.

Isto não quer dizer que tudo o que a fé cristã afirma é absolutamente claro no que diz respeito às nossas categorias racionais. Não posso entender, por exemplo, como uma pessoa pode ter uma natureza divina e uma natureza humana ao mesmo tempo, que é aquilo que cremos sobre Jesus. Isso é um mistério — mas mistério não é o mesmo que irracional.

Mistério não se aplica somente à religião. Não compreendo inteiramente a força da gravidade.

Essas coisas são misteriosas para nós, mas não são irracionais. Uma coisa é dizer: “Não compreendo, com minha mente finita, como isso funciona.” Outra coisa diferente é dizer: “Elas são gritantemente contraditórias e irracionais, mas vou acreditar assim mesmo.” Não é isso que o cristianismo faz. O cristianismo afirma que há mistérios, mas esses mistérios não podem ser articulados em termos do irracional; se assim fosse, então nos afastaríamos da verdade cristã.

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Atenção: O autor deste texto não é católico, sua abordagem no entanto é bem interessante, com uma ressalva: o que ele chama de “mente” nós chamamos de ‘inteligência’

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Sem inteligência, a fé se torna frágil e dependente de afetos e sentimentos que nunca foram porto seguro para a verdade. Fica relativa a nós mesmos e a ” como nos sentimos em relação a..” ( vc pode completar com a palavra que quiser).
 
De forma especial penso na verdade e na doutrina da Igreja, eterna desconhecida de muitos que amam a cabeça, que sem o corpo, fica um corpo incompleto.
 
A Igreja não foi  uma invenção dos apóstolos,mas manifestação clara da vontade de Deus para sua salvação atingir o mundo.
***
 
O que Paulo escreveu acerca dos judeus não crentes de seu tempo poderia ser dito, creio, com respeito a alguns crentes de hoje: “Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento”. Muitos têm zelo sem conhecimento, entusiasmo sem esclarecimento. Em outras palavras, são inteligentes, mas faltam-lhes orientação.
Dou graças a Deus pelo zelo. Que jamais o conhecimento sem zelo tome o lugar do zelo sem conhecimento! O propósito de Deus inclui os dois: o zelo dirigido pelo conhecimento, e o conhecimento inflamado pelo zelo. É como ouvi certa vez o Dr. John Mackay dizer, quando era presidente do Seminário de Princeton: “A entrega sem reflexão é fanatismo em ação, mas a reflexão sem entrega é a paralisia de toda ação”. O espírito de anti-intelectualismo é corrente hoje em dia. No mundo moderno multiplicam-se os programatistas, para os quais a primeira pergunta acerca de qualquer idéia não é: “É verdade?” mas sim: “Será que funciona?”. Os Jovens têm a tendência de ser ativistas, dedicados na defesa de uma causa, todavia nem sempre verificam com cuidado se sua causa é um fim digno de sua dedicação, ou se o modo como procedem é o melhor meio para alcançá-lo.
Um universitário de Melbourne, Austrália, ao assistir a uma conferência na Suécia, soube que um movimento de protesto estudantil começara em sua própria universidade. Ele retorcia as mãos, desconsolado. “Eu devia estar lá”, desabafou, “para participar”.O protesto é contra o que? …
Ele tinha zelo sem conhecimento. Mordecai Richler , um comentarista canadense, foi muito claro a esse respeito: “O que me faz Ter medo com respeito a esta geração é o quanto ela se apóia na ignorância. Ser o desconhecimento geral continuar a crescer, algum dia alguém se levantará de um povoado por aí dizendo Ter inventado… a roda”.Este mesmo espectro de anti-intelectualismo surge freqüentemente para perturbar a Igreja cristã. Considera a teologia com desprazer e desconfiança. Vou dar alguns exemplos. Grupos de cristãos pentecostais, muitos dos quais fazem da experiência o principal critério da verdade. Pondo de lado a questão da validade do que buscam e declaram, uma das características mais sérias, de pelo menos alguns neo-pentecostais, é o seu declarado anti-intelectualismo. 

Outros dizem crer que Deus propositadamente dá às pessoas uma expressão inteligente a fim de evitar a passagem por suas mentes orgulhosas, que ficam assim humilhadas. Pois bem. Deus certamente humilha o orgulho dos homens, mas não despreza a mente que ele próprio criou.

Seria isso um anti intelectualismo?, Seriam válvulas de escape para fugir à responsabilidade, dada por Deus, do uso cristão de nossas mentes.?
Concluindo, procurarei prevenir contra o extremo oposto, também perigoso, de abandonar um anti-intelectualismo superficial para cair num árido super-intelectualismo. Não estou em defesa de uma vida cristã seca, sem humor, teórica, mas sim de uma viva devoção inflamada pelo fogo da verdade. Anseio por esse equilíbrio bíblico, evitando-se os extremos do fanatismo. Apressar-me-ei em dizer que o remédio para uma visão exagerada do intelecto não é nem depreciá-lo , nem negligenciá-lo, mas mantê-lo no lugar indicado por Deus, cumprindo o papel que ele lhe deu.
 

Fonte: Crer é também Pensar, John W. Stott.

http://www.youtube.com/watch?v=zwIQLQF8RwU&desktop_uri=%2Fwatch%3Fv%3DzwIQLQF8RwU&app=desktop

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  1. Do que deveríamos chamar aquele que ainda não nasceu e está no útero?
  2. Se aquela entidade é um ser vivente, não é uma vida?
  3. Se você é um ser humano e surgiu primeiramente como uma simples célula, como pode aquele óvulo fertilizado ser algo diferente de um ser humano, como pode não ser você?
  4. Não é mais correto dizer que você era um embrião, em vez de dizer que simplesmente veio de um embrião?
  5. Então quando é que um ser humano passa a ter o direito de viver?
  6. Devemos dizer que o tamanho de um ser humano é o que importa?
  7. Por que um feto é pequeno demais para merecer nossa proteção?
  8. Pessoas grandes valem mais do que pessoas pequenas?
  9. Homens são mais humanos do que mulheres ou vice-versa?
  10. Um jogador de basquete grandão tem mais direito à vida do que um pequenino jóquei?
  11. Uma vida num útero não pode ser levada em conta simplesmente porque você não pode segurá-la em seus braços, ou colocá-la em suas mãos, ou vê-la em uma tela?
  12. Desenvolvimento intelectual e capacidade mental deveriam se tornar a medida de nossa dignidade?
  13. Seres humanos com três anos de idade valem menos que outros de trinta anos de idade?
  14. Um feto vale menos do que um ser humano formado porque não pode falar, contar ou ter consciência própria?
  15. Um bebê brincando no berço tem de sorrir, ou acenar com a mão, ou recitar o alfabeto antes de merecer mais um dia de vida?
  16. Se uma expressão de acuidade mental básica é necessária para se ter o direito de ser um membro da comunidade humana, o que deveríamos fazer com pessoas em estado de coma, pessoas muito idosas, ou a mamãe de cinquenta anos com Alzheimer?
  17. E o que dizer de todos nós quando dormimos?
  18. Deveríamos negar o direito de viver de um feto apenas pelo lugar onde vive?
  19. O meio onde vivemos pode nos dar ou retirar algum valor da nossa vida?
  20. Valemos menos do lado de dentro do que do lado de fora do útero?
  21. Podemos simplesmente ser mortos quando estamos nadando debaixo d’água?
  22. O lugar onde estamos determina quem somos e o quanto vale nossa vida?
  23. Então uma travessia de vinte centímetros no momento do parto nos torna humanos?
  24. Essa mudança de cenário transforma “coisas” em pessoas?
  25. O amor é condicionado pela localização?
  26. Deveríamos reservar a dignidade humana apenas para aqueles que não são dependentes de outros?
  27. Apenas merecemos viver quando podemos viver por conta própria?
  28. Um feto de quatro meses é inferior a um ser humano porque precisa de sua mãe para viver?
  29. Uma criança de quatro meses é inferior a um ser humano quando ainda precisa de sua mãe para viver?
  30. E se você precisar de uma diálise, ou insulina, ou um aparelho respiratório, tornou-se um ser humano inferior ou sua vida perdeu dignidade?
  31. A dignidade é fruto do pleno funcionamento das nossas capacidades vitais?
  32. A independência é um pré-requisito para nos identificar como seres humanos?
  33. Somos valiosos apenas quando podemos pensar, realizar tarefas, ou fazer as coisas por conta própria?
  34. Se a vida de um feto é vida humana, o que justifica arrancá-la fora?
  35. Seria justo tirar a vida de seu filho no aniversário de um ano porque ele veio à vida por meio de circunstâncias tristes e trágicas?
  36. Você jogaria sua filhinha de um ano e seis meses no meio dos carros em tráfego porque ela tornou nossa vida difícil?
  37. Uma criança de três anos de idade merece morrer porque pensamos que merecemos uma escolha?
  38. O que você merece agora?
  39. Quais são seus direitos como ser humano?
  40. Você tinha esses mesmos direitos há cinco anos?
  41. E quando você era um adolescente e nem podia dirigir?
  42. E naquele tempo em que sua bicicleta tinha rodinhas de apoio?
  43. Você era menos do que um ser plenamente humano quando brincava com terra?
  44. E quando você usava babador?
  45. E quando ainda mamava?
  46. E quando cortaram seu cordão umbilical?
  47. E quando você boiava no liquido amniótico e chutava aquela parede elástica?
  48. E quando seu coração bateu pela primeira vez no monitor?
  49. E quando cresceram suas primeiras unhas?
  50. E quando se desenvolveram suas primeiras células?
  51. Do que deveríamos chamar a criança no útero?
  52. Um feto?
  53. Um mistério?
  54. Um erro?
  55. Uma questão ideológica controversa?
  56. E se a ciência, as Escrituras e o consenso chamarem-na de pessoa?
  57. E se um feto, o bebê desastrado, a criança inocente, o adolescente indisciplinado, o calouro universitário, a noiva maquiada, a mãe de primeira viagem, a mulher trabalhadora, a vovó orgulhosa, e o velho amigo esclerosado não diferirem em tipo, mas apenas em tempo?
  58. Onde na evolução a humanidade começa e termina?
  59. Quando a vida passa a ter valor?
  60. Quando começamos a valer alguma coisa?
  61. Quando os direitos humanos se tornam nossos direitos?
  62. E se Dr. Seuss estiver certo e uma pessoa for uma pessoa, sem importar o tamanho que tenha?
  63. Por que celebrar o direito de matar o que você foi um dia?
  64. Por que negar os direitos do pequenino que é o que você é?

Publicado no The Gospel Coalition: 40 Years after Roe, 64 questions

Via o excelente Blog “Vida sem dúvida”

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Em junho de 2007, foi lançado um vídeo de 122 minutos chamado Zeitgeist e até novembro de 2007, oito milhões de acessos haviam sido feitos. Esse documentário foi ganhador do prêmio de melhor filme no festival Artivist, na Califórnia, em 2007 e 2008.[1] ( * O cristianismo está baseado em eventos da história, não em mitos. (Veja imagem acima)

Na primeira parte de Zeitgeist, que é dividido em três blocos principais, é proposto que o Jesus histórico não passa de um plágio das mitologias de povos pagãos antigos. Os apóstolos teriam se utilizado de histórias já conhecidas na época e criado um personagem muito parecido, escrevendo assim quatro evangelhos a respeito desse “outro deus mitológico”.

Veremos a seguir do que se trata esse intenso debate. Antes, porém, mencionaremos alguns dos deuses mitológicos seguidos de suas aparentes semelhanças com Jesus Cristo:

Horus, deus egípcio  Nasceu no dia 25 de dezembro de uma virgem; nascimento acompanhado de uma estrela no leste; adorado por três reis; era mestre aos 12 anos; foi batizado com 30 anos; tinha 12 discípulos; fazia milagres; foi traído, crucificado e morto; depois de três dias ressuscitou; era considerado filho de Deus; caminhou sobre as águas e foi transfigurado numa montanha.

Attis, deus frígio – Considerado filho de Deus, nascido de uma virgem no dia 25 de dezembro; também é considerado salvador que foi morto pela humanidade; seu “corpo” como pão era comido pelos adoradores; era tanto o divino filho como o pai; numa sexta-feira, ele foi crucificado numa árvore e se levantou depois de três dias como “deus todo-poderoso”.

Krishna, deus hindu – Nascido de uma virgem no dia 25 de dezembro, seu pai terreno era carpinteiro; o nascimento foi assinalado por uma estrela ao leste; visitado por pastores que o presentearam, foi perseguido por um tirano que ordenou o assassínio de infantes; operava milagres e maravilhas; usava parábolas para ensinar as pessoas sobre caridade e amor; foi transfigurado diante dos discípulos; crucificado aos 30 anos, ressuscitou dos mortos e ascendeu aos céus; era a segunda pessoa da “trindade” e deverá retornar para o dia do juízo em um cavalo branco.

Dionysus, deus grego – Nascido de uma virgem no dia 25 de dezembro, era mestre viajante que operava milagres; andou em um burro durante uma procissão; transformava água em vinho; era chamado “rei dos reis” e “deus dos deuses”; considerado “filho de deus”, “único filho”, “salvador”, “aquele que redime”, “ungido” e o “alfa e o ômega”, foi identificado como cordeiro e pendurado num madeiro.

Diante de tudo isso, poderíamos perguntar, como Timothy Freke e Peter Gandy, dois dos maiores defensores da teoria do Jesus-mito pagão: “Por que consideramos as histórias de salvadores como Osíris, Dionísio, Adônis, Attis, Mitra e outros deuses pagãos fábulas, porém, ao encontrarmos essencialmente a mesma história contada em um contexto judeu, acreditamos ser a biografia de um carpinteiro de Belém?”[2]

Vamos, então, para o exame das acusações e a confirmação – ou não – de sua confiabilidade.

Nascimento virginal

O centro de todo o desentendimento quanto aos paralelos entre o nascimento virginal dos deuses pagãos e o de Jesus começa já em sua definição. De acordo com o relato de Mateus e Lucas, a descrição que encontramos do nascimento de Jesus é de Maria sendo virgem e Jesus sendo gerado pela operação do Espírito Santo. Porém, não há qualquer relato entre as religiões de mistério que lembre essa situação. A definição dos críticos do nascimento virginal é a fecundação resultante de casamento sagrado (entre um casal de deuses) ou fruto do ato sexual entre um deus disfarçado de ser humano e uma mulher mortal (hieros gamos).

Em uma das histórias de Dionísio, Zeus foi a Perséfone em forma de serpente e a engravidou, portanto, sua virgindade foi tecnicamente perdida. Na versão mais conhecida, Zeus se apaixonou por Semele, princesa da casa de Times. O deus olímpico foi até ela disfarçado de homem mortal e logo Semele estava grávida. Hera, rainha de Zeus, inflamada de ciúmes, se disfarçou de mulher idosa e foi até a casa de Semele. Quando Semele revelou seu caso com Zeus, Hera sugeriu que a história de que Zeus era o rei dos deuses poderia ser mentira e que talvez ele fosse mero mortal que inventou a história para que ela dormisse com ele. Quando Zeus foi visitá-la novamente, ela pediu apenas uma coisa. Zeus jurou que daria o que ela quisesse. “Apareça a mim como você aparece a Hera.” Relutantemente, mas fiel à sua palavra, Zeus apareceu em toda sua glória, reduzindo Semele às cinzas. Hermes salvou o feto e o levou até Zeus que o costurou à sua coxa e três meses depois deu à luz Dionísio.[3]

A história claramente não é comparável com o relato bíblico e, além disso, só existem relatos pós-cristãos. Os deuses e deusas antigos eram típica e muito explicitamente sexuais e ativos, até porque, para o mundo antigo, grandeza era comumente associada com a geração física de um deus. Esse elemento está completamente ausente do relato da concepção virginal de Jesus.

No mito de Horus, o engano continua. De acordo com The Encyclopedia of Mythica, depois de Osíris (pai de Horus) ser assassinado e mutilado em 14 pedaços por seu irmão Set, a esposa de Osíris, a deusa Íris, “recuperou e remontou o corpo, e em conexão pegou o papel da deusa da morte e dos direitos funerais. Ísis engravidou-se pelo corpo de Osíris e deu à luz Horus nos rios de Khemnis, no Delta do Nilo.[4]

O relato está muito distante da realidade bíblica, apesar de uma concepção necrofílica ser miraculosa. Mesmo na imagem encontrada em Luxor, com Thoth anunciando a Ísis que ela conceberia a Horus, a ordem é a concepção e depois o anúncio, enquanto que os evangelhos declaram o anúncio e depois a concepção.

Na pesquisa de Raymond Brown a respeito das narrativas sobre o nascimento de Jesus, ele avalia os exemplos de “nascimentos virginais” não-cristãos, e sua conclusão é: “Em suma, não há nenhum exemplo claro de concepção virginal no mundo ou nas religiões pagãs que plausivelmente poderia ter dado aos judeus cristãos do primeiro século a ideia da concepção virginal de Jesus.[5]

Ressurreição

Segundo Paulo, o maior fundamento da fé cristã é a crença na morte e ressurreição de Jesus (1Co 15:13, 14). Ainda no início do capítulo de 1 Coríntios 15, os exegetas do Novo Testamento encontram fortes evidências para defender a realidade do fato da ressurreição. E foi justamente nessa pedra fundamental que os críticos aproveitaram para divulgar os paralelismos com personagens das religiões de mistério e das deidades que teriam experimentado morte e ressurreição.

Não é senão a partir do 3º século d.C. que encontramos suficiente material a respeito das religiões de mistério que permitem relativa reconstrução de seu conteúdo. Muitos escritores se utilizam desse material (depois de 200 d.C.) para formular reconstruções das religiões de mistério dos séculos anteriores. Essa prática, porém, é extremamente anti-acadêmica e não pode permanecer sem desafios.[6]

Na realidade, segundo Pierre Lambrechts, os textos que se referem à ressurreição são muito tardios, do segundo ao quarto século d.C.[7] A aparente ressurreição de Adonis, por exemplo, não tem sequer uma evidência, nem nos textos antigos nem nas representações pictográficas. Quanto à ressurreição de Attis, não há qualquer sugestão de que ele teria sido um deus ressurreto, senão até depois de 150 d.C.[8]

Há ainda o famoso caso da suposta ressurreição do deus Osíris. A versão mais completa do mito de sua morte e ressurgimento é encontrada em Plutarco, que escreveu no segundo século d.C. De acordo com a versão mais comum do mito, Osíris foi assassinado por seu irmão que então o afundou em um caixão no rio Nilo. Ísis descobriu o corpo e o levou de volta ao Egito. Mas seu cunhado mais uma vez ganhou acesso ao corpo, dessa vez o desmembrando em 14 pedaços, os quais ele atirou para longe. Depois de muita procura, Ísis recuperou cada pedaço do corpo. É nesse ponto que a linguagem utilizada para descrever o que se seguiu é crucial. Algumas vezes, aqueles que contam a história se contentam em dizer que Osíris voltou à vida, mesmo que isso passe longe daquilo que o mito permite dizer. Alguns escritores ainda vão mais longe ao falar sobre a “ressurreição” de Osíris. Ísis restaura o corpo de Osíris e ele é colocado como um deus do mundo dos mortos. Roland de Vaux complementa dizendo:

“O que significa Osíris ter ‘levantado para a vida’? Simplesmente que, graças à ministração de Ísis, ele pôde levar uma vida além da tumba que é quase uma perfeita réplica da existência terrestre. Mas ele nunca mais voltará a habitar entre os viventes e reinará apenas sobre os mortos… Esse deus revivido é, na realidade, um deus ‘múmia’.”[9]

Mudando de deidade, outro muito mencionado por sua suposta história de reaparição dos mortos é o de Cybele e Áttis. Cybele era uma figura muito adorada no mundo helenístico; o rito antigamente incluía um frenesi nos adoradores homens que os levava a se castrarem.

Encontramos especialmente três mitos diferentes com respeito à vida de Áttis. De acordo com um dos mitos, Cybele amava um pastor de ovelhas chamado Áttis. Por Áttis ter sido infiel, ela o levou à loucura. Tomado de loucura, Áttis se castrou e morreu. Isso encaminhou Cybele a um luto muito forte e introduziu a morte ao mundo natural. Mas então Cybele restaurou Áttis à vida, um evento que também trouxe o mundo da natureza à vida. As pressuposições do intérprete tendem a determinar a linguagem usada para descrever o que se segue à morte de Áttis. Referem-se a ela descuidadamente como “ressurreição de Áttis”. Não há nada que se pareça a uma ressurreição corpórea no mito que sugira que Cybele só podia preservar o corpo morto de Áttis, ou seja, ele volta à vida de forma praticamente vegetativa, pois o mito menciona que os pêlos do seu corpo continuaram a crescer e que ele movimentava um dos dedos. Em algumas versões do mito, Áttis volta à vida na forma de uma árvore. Nem nesse e nem nas outras três histórias, encontramos morte e ressurreição ou qualquer coisa semelhante ao que vemos nos evangelhos.

Foi somente em celebrações posteriores pelos romanos (depois de 300 d.C.) que algo remotamente semelhante ocorreu. A árvore que simbolizava Áttis foi cortada e enterrada dentro de um santuário. Na outra noite, a “tumba” da árvore estava aberta e a “ressurreição” de Áttis foi celebrada. A linguagem, porém, é ambígua e os detalhes sobre o culto são remotos; todo o material é muito tardio.

Nas comparações com Krishna, as respostas se tornam ainda mais fáceis de dar. Segundo especialistas em hinduísmo, Krishna foi morto por um caçador que acidentalmente atirou em seu calcanhar. Ele morreu e ascendeu. Não houve qualquer ressurreição e ninguém o viu ascender. Mesmo que o mito da ascensão de Krishna traga algum desconforto, ele pode ser rapidamente resolvido com as declarações de Benjamin Walker, em seu livro The Hindu World: an Encyclopedia Survey of Hinduism: “Não pode haver qualquer dúvida de que os hindus pegaram emprestado os contos [do cristianismo], mas não o nome.”[10]

Por esses paralelos virem do Bhagavata Purana e do Harivamsa, Bryant acredita que o Bhagavata Purana seja “anterior ao sétimo século d.C. (apesar de alguns acadêmicos o considerarem do século 11 d.C.)”, e que o Harivamsa tenha sido composto entre o quarto e o sexto século.

Apesar de ser chocante às mentes religiosas ocidentais, é senso comum dentro da história das religiões que imortalidade não é uma característica básica da divindade. Deuses morrem. Alguns deuses simplesmente desaparecem, alguns somente para retornar novamente depois e alguns para reaparecer frequentemente. Todas as deidades que foram identificadas como fazendo parte da classe de deidades que morrem e ressuscitam podem ser colocadas sob duas classes maiores: deuses que desaparecem e deuses que morrem. No primeiro caso, as deidades retornam, mas não haviam morrido, e no segundo caso, os deuses que morrem, mas não retornam. Para a concepção judaica, nenhum desses paralelos ressuscitou dos mortos, e para muitos acadêmicos hoje paira a dúvida se literalmente existe algum deus que teria experimentado a morte e a ressurreição. Uma citação muito interessante explica a realidade da teoria:

“Desde a década de 1930… um consenso tem se desenvolvido de que os ‘deuses que morrem e ressuscitam’ morreram, mas não retornaram ou se levantaram para viver novamente… Aqueles que pensam diferente são vistos como membros residuais de espécies quase extintas.”[11]

Outras diferenças substanciais

Analisamos brevemente e em seus aspectos principais as semelhanças e as diferenças entre Jesus e os deuses da morte-levantamento e das religiões de mistério. A seguir, mencionaremos outras diferenças marcantes que não poderiam passar despercebidas:

1. Em todos os casos de deuses que morrem, eles morrem por compulsão e não por escolha; às vezes, por orgulho ou desespero, mas nunca por amor sacrifical.[12]

2. Não há qualquer evidência de religiões de mistério inseridas na Palestina das três primeiras décadas do primeiro século. Não haveria tempo suficiente para que os discípulos fossem influenciados pelos mistérios, se eles estivessem dispostos a ser, o que não era o caso. Quando a influência dos mistérios atingiu a Palestina, principalmente por meio do gnosticismo, a igreja primitiva não aceitou, mas renunciou vigorosamente aos mitos pagãos. A falta de sincretismo dificulta a concepção.

3. Os deuses que morrem e ressuscitam, segundo os mitos, nunca morreram por outra pessoa (vicariamente), e nunca anunciaram morrer pelo pecado. A ideia de uma aliança substitutiva pelo homem é totalmente única ao cristianismo. Além disso, Jesus morreu uma vez por todos os pecados, enquanto os deuses pagãos eram frequentemente deuses de vegetação que imitavam os ciclos anuais da natureza, aparecendo e morrendo diversas vezes.

4. Jesus morreu voluntariamente e Sua morte foi uma vitória e não derrota; ambos os aspectos são contrários aos conceitos pagãos.[13]

5. Similaridade não prova dependência. Movimentos sociais e religiosos frequentemente compartilham formas de expressão ou práticas similares. Não é de se surpreender que encontrássemos paralelos em qualquer religião a respeito de vida após a morte, identificação com uma deidade, ritos de iniciação ou um código de conduta. Se uma religião deseja atrair conversos, precisa apelar para as necessidades e desejos universais dos seres humanos. Mas isso não indica dependência! Em qual cultura, por exemplo, a imagem de se lavar em água não significa purificação? O que importa, entretanto, não é a semelhança das palavras e práticas, mas os significados anexados a elas. A fim de provar um caso de dependência é necessário demonstrar semelhança na essência e não só na forma. Os escritores normalmente exageram similaridades formais, enquanto ignoram diferenças essenciais entre a história de Jesus e os variados mitos pagãos.

6. Os pagãos nesse período não estavam confusos quanto à exclusividade da Igreja, e chamavam os cristãos de “ateus” por causa de sua indisponibilidade fundamental de ceder ou sincretizar. Como J. Machen explica, os cultos de mistério eram não-exclusivistas: “Um homem poderia ser iniciado nos mistérios de Ísis ou Mitra sem ter que abrir mão de suas crenças anteriores; mas se ele quisesse ser recebido na Igreja, de acordo com a pregação de Paulo, deveria abrir mão de todos os outros salvadores pelo Senhor Jesus Cristo… Dentre o sincretismo predominante do mundo greco-romano, a religião de Paulo, assim como a religião de Israel, permanece absolutamente distinta.”[14]

7. A cronologia está toda errada. As crenças básicas do cristianismo existiam no primeiro século, enquanto que o total desenvolvimento das religiões de mistério não aconteceu até o segundo século. Historicamente, é muito improvável que qualquer encontro teve lugar entre o cristianismo e as religiões de mistério pagãs até o terceiro século. Até hoje não há evidência arqueológica de religiões de mistério na Palestina do início do primeiro século.[15]

A história das influências pode ser dividida em três períodos: (1) primeiro período (1-200 d. C), as religiões de mistério eram restritas e não exerciam influência nas outras religiões. Se há qualquer influência, ela é na direção contrária: o cristianismo influenciou os cultos;

(2) segundo período (201-300 d.C.), depois de o cristianismo ter-se espalhado pelo mundo romano, as religiões de mistério se tornaram mais ecléticas, suavizando doutrinas severas e conscientemente oferecendo uma alternativa ao cristianismo (aparece o culto a Cybele oferecendo a eficácia do banho de sangue, que antes era de 20 anos, para um período que ia de 20 anos à eternidade), competição com o cristianismo; (3) terceiro período (301-500 d.C.), o cristianismo passou a adotar a terminologia e ritos dos cultos de mistério (e.g., 25 de dezembro).[16]

8. Como um judeu devoto, o apóstolo Paulo nunca teria considerado pegar emprestados seus ensinamentos de religiões pagãs (At 17:16; 19:24-41; Rm 1:18-23; 1Co 10:14), assim como João também não (1Jo 5:21). Não há a mínima evidência de crenças pagãs em seus escritos.

9. Como religião monoteísta com um corpo de doutrinas coerente, o cristianismo dificilmente poderia ter pegado emprestado de um paganismo politeísta e doutrinariamente contraditório.

10. Os críticos parecem ignorar completamente o pano de fundo hebraico do cristianismo. Quase nenhuma atenção é dada ao rico pano de fundo hebraico no Novo Testamento e no cristianismo primitivo. Termos como “mistério”, “ovelha sacrificada” e “ressurreição” em vez de vir dos mitos pagãos, como os escritores sugerem, são baseados nas crenças judaicas encontradas no Antigo Testamento. Além disso, os Manuscritos do Mar Morto têm lançado muita luz sobre práticas judaicas que se escondem atrás do Novo Testamento, como o batismo, comunhão e bispos.

11. O cristianismo está baseado em eventos da história, não em mitos. A morte dos deuses de mistério aparece em dramas místicos sem nenhuma conexão histórica. A igreja primitiva cria que proclamava a morte e ressurreição de Jesus como fatos incontestáveis e era baseada em um verdadeiro evento histórico. Isso faz com que seja absurda qualquer tentativa de derivá-la de histórias míticas e não históricas dos cultos pagãos.

12. Se houve qualquer empréstimo, foi na outra direção. À medida que o cristianismo crescia em influência e se expandia, os sistemas pagãos, reconhecendo a ameaça, provavelmente pegaram alguns elementos do cristianismo. Por exemplo, o rito pagão do banho em sangue de touro (taurobolium) inicialmente tinha sua eficácia espiritual de 20 anos. Mas, assim que a “competição” com o cristianismo começou, o culto a Cybele, aumentou a eficácia de seu rito “de 20 anos à eternidade”[17], quase equivalendo, assim, à eternidade prometida aos cristãos.

13. O conteúdo moral de amor e compaixão, bondade e ações de caridade eram completamente diferentes. A forma cristã de humildade, permitindo que o próximo bata nas duas faces e o próprio exemplo de Jesus utilizando Seu poder apenas para o bem, diferencia seriamente daquilo que vemos na mitologia pagã.

A conclusão da completa falta de argumentos confiáveis e verossímeis é clara e óbvia, e, nas palavras de Ronald Nash: “Esforços liberais de desacreditar a revelação singular cristã por meio dos argumentos da influência das religiões pagãs são destruídos rapidamente a partir da verificação completa das informações disponíveis. É claro que os argumentos liberais exibem academicismo incrivelmente ruim e, com certeza, essa conclusão está sendo muito generosa.”[18]

Fica claro que a melhor conclusão a ser feita é aquela do livro em que encontramos a verdadeira revelação da verdade e da fonte do mistério da vida, morte e ressurreição de Jesus: a Bíblia Sagrada. Porque “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.”[19]

Autor: Marina Garner

Referências:

1. Informação retirada do site http://www.zeitgeistmovie.com, dia 11/05/2009.
2. Timothy Freke e Peter Gandy, The Jesus Mysteries, Three Rivers Press (Setembro, 2001), p. 9.
3. Barry Powell, Classical Myth (3ª ed.), PrenticeHall (New Jersey, 2001), p. 250.
4. Mich F. Lindemans, Encyclopedia of Mythica. Artigo publicado em 21 de maio de 1997 no website: http://www.pantheon.org/articles/i/isis.html (acessado dia 23/08/09).
5. Raymond E. Brown, The Birth of the Messiah, Anchor Bible (1999), p. 523.
6. “A summary critique the mythological Jesus mysteries a book review of ‘The Jesus Mysteries: Was the ‘Original Jesus’ a Pagan God?”, por Timothy Freke e Peter Gandy, Christian Research Journal, , v. 26, nº 1 (2003).
7. P. Lambrechts, “La Resurrection de Adonis”, em Melanges Isadore Levy (1955), p. 207-240, como citado em Edwin Yamauchi, “The Passover plot or Easter triumph?”, em J. W. Montgomery, (ed.), Christianity for the Tough-Minded (Minneapolis: Bethany, 1971).
8. Ibid.
9. Roland de Vaux, The Bible and the Ancient Near East, Doubleday (1971), p. 236.
10. Benjamin Walker, The Hindu World: an Encyclopedic Survey of Hinduism, v. 1 (New York: Praeger, 1983), p. 240, 241.
11. Tryggve N. D. Mettinger, The Riddle of Resurrection: “Dying and Rising Gods” in the Ancient Near East (Stockholm, Sweden: Almquist & Wiksell International, 2001), p. 4, 7.
12. J. N. D. Anderson, Christianity and Comparative Religion (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1977), p. 38.
13. Ronald H. Nash, Christianity & the Hellenistic World (Grand Rapids, MI: Zondervan/Probe, 1984), p. 171, 172.
14. J. Gresham Machen, The Origin of Paul’s Religion (New York: Macmillan, 1925), p. 9.
15. J. Ed Komoszewski, M. James Sawyer, Daniel B. Wallace, Reinventing Jesus (Kregel Publications, 2006), p. 231.
16. Ibid., p. 232, 233.
17. Nash, Christianity & the Hellenistic World, p. 192-199; citando Bruce Metzger sobre o culto de Cybele.
18. Ronald Nash, “Was the New Testament influenced by pagan religions?, Christian Research Journal (Inverno 1994) p. 8.
19. Atos 4:12

Barrett

O Dr. Justin Barrett (foto) , um pesquisador sênior do Centre for Anthropology and Mind, da Universidade de Oxford, alega que as crianças possuem uma predisposição para acreditar num Ser Supremo porque assumem que tudo o que existe no mundo foi criado com um propósito. Ele afirma que as crianças têm fé mesmo quando não foram ensinadas pelas escolas ou pela família; ele alega também que, se as crianças fossem criadas sozinhas numa ilha deserta, acabariam por acreditar em Deus.

Falando para a BBC Radio 4, Barrett afirmou: “A preponderância de evidências científicas recolhidas durante os últimos dez anos mostrou que há muito mais coisas embutidas no desenvolvimento natural das mentes infantis do que pensávamos – incluindo uma predisposição para ver o mundo natural como algo criado e com um propósito, e para ver algum tipo de Inteligência por trás desse propósito. Se colocássemos um grupo de crianças numa ilha e elas crescessem isoladas do resto do mundo, e sozinhas, acho que elas acabariam por acreditar em Deus.”

Numa palestra a ser dada no Instituto Faraday da Universidade de Cambridge, […] o Dr Barrett citará experiências psicológicas levadas a cabo com crianças que ele afirma demonstrarem que elas instintivamente acreditam que quase tudo foi criado com um propósito. Num dos estudos, foi perguntado a crianças com seis e sete anos o porquê da existência do primeiro pássaro, ao que elas responderam: “Para fazer música bonita”, e “Porque serve para tornar o mundo mais agradável”.

Outra experiência levada a cabo com bebês de 12 meses sugeriu que eles ficaram surpreendidos por ver um filme em que uma bola rolante aparentemente criou uma pilha de blocos organizada a partir de uma pilha de blocos desorganizada.

O Dr. Barrett afirmou que existem evidências de que aos quatro anos as crianças entendem que, embora alguns objetos possam ser feitos pelos seres humanos, o mundo natural é diferente. Ele acrescentou que isso significa que as crianças são mais suscetíveis de acreditar no criacionismo do que na teoria da evolução, apesar do que lhes possa ser dito pelos pais ou professores.

O Dr. Barrett disse ainda que alguns antropólogos apuraram que em algumas culturas as crianças acreditam em Deus mesmo quando o ensino religioso lhes foi barrado.

O desenvolvimento normal e natural das mentes infantis faz com que elas sejam mais suscetíveis à criação divina e ao design inteligente. Em contraste, a teoria da evolução é antinatural e relativamente difícil de acreditar

***

Nota do blog Darwinismo: “Aparentemente, o cérebro humano está construído para ver propósito e ordem no mundo natural – algo que rapidamente nos leva para outra dimensão de existência, uma vez que essa ordem e esse propósito nunca poderiam ser autoimpostos. Portanto, sempre que um militante ateu alega que ‘todos nós nascemos ateus’, ele está a fazer uma declaração que contradiz as evidências. Obviamente que se pode dizer que essas experiências foram feitas com crianças com seis ou sete anos, ou com as de 12 meses (e não com recém-nascidos), mas é difícil aceitar que essa inclinação natural do cérebro humano seja algo ensinado ou instalado pela sociedade. Aliás, o próprio Dr. Barrett sugere que isso é algo inato e imutável.

O que o ateísmo e a teoria da evolução fazem no cérebro humano é rejeitar a natural tendência humana de ver um propósito e uma causa nos efeitos naturais, e acreditar que o Universo em si é um efeito sem causa – um sistema sem um Engenheiro –, algo que é, usando a palavra do texto acima, antinatural. Convém ressalvar que só porque uma coisa é ‘difícil de acreditar’ isso não a torna falsa. O que o texto acima mostra é que o argumento ‘todos nascemos ateus’ é cientificamente falso.”

Fonte: http://epiphenom.fieldofscience.com/2009/01/childish-beliefs-of-dr-justin-barret.html

Assim como Jeffrey Burton Russel, em seu livroInventando a Terra Plana, mostra documentalmente o caráter mítico da ideia de que o “modelo” da Terra plana tenha sido uma invenção de religiosos medievais de mente estreita (confira aqui), em seu artigo “The Galileo Affair” (2005), Paul Newall destrói outro mito histórico passado de geração em geração: o de que a Igreja teria condenado Galileu Galilei por ter ele apresentado uma ideia que teria ido contra as Escrituras.

Nos dois casos, a ideia de passar a ideia de que os embates foram da ciência contra a religião. Nada mais falso. A verdade é que Galileu foi condenado pela Igreja, sim, mas com o aval de boa parte dos cientistas da época, que adotavam a visão aristotélica segundo a qual a Terra era o centro do Universo. Portanto, se houve algum embate, foi entre Galileu e Aristóteles e não entre Galileu e a Bíblia (que nada diz a respeito dessa questão).

Hoje, os pensadores materialistas, ateus, agnósticos, céticos, por meio das escolas e da mídia, continuam alimentando o mito. Por quê? Porque lhes interessa manter a dicotomia ciência versus religião, como se a primeira fosse sinônimo de racionalidade e a segunda, de irracionalidade. Com isso, teorias materialistas como o evolucionismo acabam “blindadas” de discussões, já que, na opinião dos mitômanos, religião e ciência não se misturam.

A comunidade científica aristotélica do tempo de Galileu, com “dor de cotovelo”, entregou o italiano à fogueira – mas ele foi “somente” condenado à prisão domiciliar porque contava com o respeito do papa, seu amigo.“O que é erroneamente utilizado pelos cientistas e pela grande mídia como exemplo da ‘razão’ sobrepujando a ‘irracionalidade’ é, na verdade, o inverso: mostra a irracionalidade dos que defendem um paradigma, apesar das evidências contrárias. Isso não lembra a postura da atual comunidade científica em relação a algum paradigma?”, escreveu o mestre em História da Ciência Enézio E. de Almeida Filho

Em 1992, três séculos após sua morte, Galileu foi “perdoado” pelo papa João Paulo II. Mas os defensores do mito em torno do cientista italiano, esses ainda precisam se arrepender da mentira que vêm contando. Na verdade, quem deveria perdoar a Igreja e os cientistas aristotélicos – se pudesse fazê-lo – é Galileu, pela injustiça de que foi alvo.

Michelson Borges

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O matemático italiano Piergiorgio Odifreddi (foto) recebeu uma carta muito especial no último dia 3 de setembro: no envelope selado, onze páginas com data de 30 de agosto se encerravam com a assinatura de Bento XVI.

O papa emérito respondia ao livro “Caro papa, ti scrivo” [“Querido papa, escrevo a você”, ndr; Edições Mondadori, 2011], livro de Odifreddi que, tal como o próprio autor explica, se apresenta já na capa como uma “luciferina introdução ao ateísmo”.

No artigo em que Odifreddi comenta as suas impressões ao receber a carta de Bento XVI, ele afirma que não foi uma coincidência o fato de ter escrito abertamente a Ratzinger. Depois de ler a sua “Introdução ao Cristianismo”, o matemático entendeu que a fé e a doutrina de Bento XVI, diferentemente da de outros, eram suficientemente coerentes e sólidas para que ele conseguisse encarar e rebater ataques frontais.

No fragmento da carta que foi publicado no jornal La Repubblica, o papa emérito relata ter lido algumas partes do livro, apreciando-as e beneficiando-se com o seu conteúdo, mas surpreendendo-se, em outras, com uma certa agressividade e com a superficialidade das argumentações.

No início da carta, Bento XVI escreve: “Você me diz que a teologia seria ‘ficção científica’”. A colocação, o papa emérito responde com quatro pontos.

Em primeiro lugar, Ratzinger observa que “é correto afirmar que ‘ciência’, no sentido mais estrito da palavra, são somente as ciências matemáticas, e você ensina que seria necessário distinguir ainda entre aritmética e geometria. Em todas as matérias específicas, a ciência tem uma forma própria, conforme a particularidade do seu objeto. O essencial é que ela aplique um método verificável, exclua a arbitrariedade e garanta a racionalidade nas respectivas modalidades”.

Em segundo lugar, Bento XVI sustenta que “você deveria ao menos reconhecer que, no âmbito histórico e no do pensamento filosófico, a teologia produziu resultados duradouros”.

Como terceiro aspecto, ele afirma que “uma função importante da teologia é a de manter a religião unida à razão e a razão à religião. Ambas as funções são de essencial importância para a humanidade”. Neste ponto, o papa emérito recorda que, em seu diálogo com Habermas, “mostrei que existem patologias da religião e, não menos perigosas, patologias da razão. Ambas necessitam uma da outra, e mantê-las continuamente conectadas é uma tarefa importante da teologia”.

No último ponto, muito mais extenso que os anteriores, Bento XVI avalia que “a ‘ficção científica’ existe também no seio de muitas ciências”, e, a propósito, faz referência às teorias que Odifreddi expõe sobre o início e o fim do mundo em Heisenberg e Schrödinger, que “os desenharia como ‘ficção científica’ no bom sentido: visões e antecipações para se atingir um verdadeiro conhecimento, mas que são, de fato, apenas imaginações com as quais tentamos nos aproximar da realidade”.

Depois de desenvolver estas ideias, o papa emérito se concentra no capítulo sobre o sacerdote e sobre a moral católica, bem como nos diversos capítulos sobre Jesus. “No tocante ao que você fala sobre o abuso moral de menores por parte de sacerdotes, eu posso, como você sabe, constatá-lo apenas com profunda consternação. Nunca procurei mascarar esses fatos. Que o poder do mal penetre a tal ponto no mundo interior da fé é para nós um sofrimento que, por um lado, temos de suportar, e, por outro, fazer todo o possível para que esses casos não se repitam”.

“Tampouco é motivo de tranquilidade saber, com base nas pesquisas dos sociólogos, que a porcentagem de sacerdotes culpáveis desses crimes não é mais alta do que a porcentagem existente em categorias profissionais similares. Em todo caso, este desvio não deveria ser apresentado ostentosamente como se fosse uma mancha específica do catolicismo. Se não é lícito silenciar o mal que existe na Igreja, não se deve, tampouco, silenciar o grande caminho luminoso de bondade e de pureza que a fé cristã traçou ao longo dos séculos”. Bento XVI recorda nomes como São Bento e sua irmã Santa Escolástica, São Francisco e Santa Clara de Assis, Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz.

Quanto àquilo que o matemático diz sobre a figura histórica de Jesus, Ratzinger recomenda ao autor os quatro volumes que Martin Hengel publicou junto com Maria Schwemer, “um exemplo excelente de precisão histórica e de amplíssima informação histórica”. Bento XVI recorda ainda, como já havia esclarecido no primeiro volume do seu livro sobre Jesus de Nazaré, que “a exegese histórico-crítica é necessária para uma fé que não propõe mitos com imagens históricas, mas que reclama uma historicidade verdadeira e, por isso, tem de apresentar a realidade histórica das suas afirmações também de forma científica”.

Prossegue o papa emérito afirmando que “se você, porém, quer substituir Deus por ‘A Natureza’, resta a pergunta sobre quem ou que é essa natureza. Em nenhum momento você a define. Ela aparece, assim, como uma divindade irracional que não explica nada. Eu gostaria, por isso, de destacar em especial que na sua religião da matemática existem três temas fundamentais da existência humana que permanecem desconsiderados: a liberdade, o amor e o mal. (…) Qualquer coisa que a neurobiologia possa dizer sobre a liberdade no drama real da nossa história está presente como realidade determinante e deve ser levada em consideração”.

Na última parte publicada da carta, Bento XVI ressalta: “A minha crítica sobre o seu livro, em parte, é dura. Mas do diálogo faz parte a franqueza; só assim pode crescer o conhecimento”.

 

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Fonte: Gaudium Press

Vistes um dia a Napoleão ou então conhecestes alguns dos povos bárbaros extintos atualmente? Se mesmo sem teres visto neles acreditais, porque não acreditar em um Deus tão visível aos nossos olhos?

Ante o hodierno problema do ateísmo, a conclusão da existência de um Deus se transformou não exclusivamente em dogma de fé, mas fruto de uma demonstração. E os argumentos cientificamente desenvolvidos não podem ter como resultado senão esclarecer e fortificá-la.

O ateísmo é, em poucas palavras, a atitude de quem nega ou ignora a Deus. Segundo Bettencourt: “os estudos recentes manifestam que o ateísmo não é um fenômeno primitivo da humanidade, mas sim, um fenômeno pós-religioso, ou seja, um fenômeno que supõe uma religião e que se ergue contra ela, à guisa de crítica ou de réplica”. 1

Em outros termos, o ateísmo não é uma manifestação espontânea da natureza humana, pois como a própria História nos narra desde a mais remota Antiguidade, nenhum povo ficou sem ter um Deus – ainda que falso -, e, portanto, sem uma religião à qual aderir.

Lançai um olhar sobre a superfície da terra, dizia Plutarco, e achareis cidades sem muralhas, sem letras, sem magistrados, povos sem casa, sem moedas; mas ninguém viu jamais um povo sem Deus, sem sacerdotes, sem ritos, sem sacrifícios. Todos os povos, cultos ou bárbaros, em todas as zonas e em todos os tempos, admitiram a existência de um Ser Supremo. Agora bem, como é possível que todos tenham se enganado a respeito de uma verdade tão importante?

Contudo, o mundo moderno criou outro obstáculo para poder esquivar-se dessa crença: a separação da fé e da razão. Segundo o professor Plinio  Oliveira este apartamento, onde a teologia deve cuidar exclusivamente da Revelação e a filosofia da razão natural é extremamente errada: “a razão se baseia em fatos que estão no seu conhecimento, e a fé é algo que a razão não deduziu, mas que você conheceu através da Revelação. Ambas são certeza, se bem que a maior é a fé”.2

A exemplo da retina que só captura a visão das coisas que estão ao seu alcance, a razão chega até os seus limites e a fé complementa de forma superabundante a insuficiência daquela.

A este respeito afirma o salmo: “Dixit insipiens in corde suo, non est Deus” – Diz o insensato em seu próprio coração, Deus não existe! – (Sl 13), ou seja, o insensato, aquele que escolheu a via do mal, a fim de abafar sua consciência tenta assegurar a inexistência de Deus. Portanto, o insensato que declara não haver Deus em seu coração, de alguma maneira O percebeu com seu entendimento, e se O percebeu, compreendeu que poderia existir em realidade, mas escolheu negá-Lo.

Como provar, então, fisicamente a sua existência?

São Tomás de Aquino3 desenvolve cinco vias para prová-la.

Primeiramente tomemos a do movimento. Todos os seres são movidos por um motor, é a lei da inércia, pois um corpo em repouso não pode decidir por si mesmo pôr-se em movimento.

Assim, os mares, as galáxias, os ventos, supõem um motor primeiro movente, que só pode ser Deus, um Ser Imóvel (no sentido que é o único a ter essa autonomia) e Absoluto. A este respeito considerava um grande General: “Que significa a mais bela manobra militar comparada com o movimento dos astros?”.

Em segundo lugar temos a causalidade, todas as coisas que existem supõem uma causa primeira que as fez, para qual todas tem uma ligação e subordinação, que só pode ser Deus.

Também a contingência se encontra nessa lista, uma vez que o mundo físico é feito de seres contingentes, por onde uns dependem dos outros. Logo, é preciso existir um Ser que seja a Razão Suficiente das demais, ou seja, Deus.

Os graus de perfeição são postos em quarto lugar, pois tudo no mundo possui perfeições limitadas e em diferentes graus, desde uma joaninha, até um magnífico pôr-do-sol. Ora, dessa realidade se deduz a existência de um Ser ilimitadamente perfeito, que é Deus.

Por fim, na última prova há a ordem e finalidade do universo. Quem contempla o céu estrelado, sabiamente coordenado dentro de proporções que escapam às cifras comuns dos homens, vê nessa ordem natural a Causa total e a Inteligência Ordenadora das coisas criadas, pois, se jogássemos todas as peças de um relógio dentro de uma caixa, elas por si não formariam um relógio, analogamente o Universo, onde cada estação sucede outra, depois da noite vem o dia, supõe uma Inteligência Ordenadora, um Deus.

Desse modo, podemos exclamar com Vitor Hugo: “Deus é o Invisível evidente!”

……………………………………………..

1 Bettencourt, Mater Ecclesiae, Rio de Janeiro

2 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Palestras e Conferencias. São Paulo: Sn, 06. Maio. 1980
3 GARRIGOU-LAGRANGE, Règinald. El sentido común: la filosofia del ser y lãs formulas dogmáticas. Buenos Aires: Desclé de Brouwer, 1945.

 

O diálogo entre ciência e é possível? Elas se complementam? Existem pontos de encontro e desencontro? O sacerdote Luis Gahona Fraga fala sobre este tema no programa “Últimas Perguntas”, de RTVE: “É difícil colocar a física e a em relação, porque elas tratam de objetos diferentes – explica. Ambas buscam a verdade, mas por caminhos diversos”.

Durante a entrevista, Fraga explicou como as ciências experimentais (nascidas nos séculos XVI e XVII) “têm uma maneira de estudar o mundo de forma especial, que consiste em combinar a experimentação com teorias racionais e matemáticas”; esta combinação, afirma, “funciona muito bem, mas não se pode conhecer Deus assim”.

Conhecemos Deus por meio da filosofia e da , da Revelação”, explica o sacerdote, que defende que o aspecto racionalizável desta crença, o que propicia “o ponto de união entre e ciência.

Dentro desta racionabilidade, Fraga explica os pressupostos da inteligibilidade da natureza, questões que o cientista busca entender: de onde vem esta inteligibilidade? Por que podemos encontrar leis no mundo físico?

Para Fraga, “é aí que o cientista se faz a pergunta sobre Deus, e Deus não pode ser demonstrado com as ciências experimentais, mas sim com outra fonte de conhecimento, que é a filosofia”.

Segundo esta união de perguntas, a ciência descobriria características deste mundo que remetem a Deus, e mostra que cada ser tem um índice metafísico que é como uma digital que nos fala de Deus.

“Esta digital é descoberta pela ciência; que ela venha de Deus já é fruto de um raciocínio que vai além do método científico”, comenta o sacerdote, que é professor do Instituto Teológico San Ildefonso de Toledo (Espanha) e físico pela Universidade de Harvard.

Entraríamos então no que Fraga chama de “inteligência inconsciente”. “Chama a atenção que o universo esteja tão bem feito com elementos tão simples, que leva os cientistas a se perguntarem se não haveria uma inteligência inconsciente que explique o que a ciência descobre neste mundo material”, afirma.

Fraga destaca que o universo não é só matéria. Superando os preconceitos de uma mentalidade herdada do materialismo do século XIX, o professor de teologia mostra que “a cosmovisão do mundo atual favorece objetivamente o diálogo com a “; e afirma que há temas que vão além da ciência: “o tema da criação, a essência das coisas, a dignidade do ser humano, a alma espiritual, a liberdade”.

“A Igreja está aberta ao diálogo com o mundo das ciências – explica – porque é próprio da cristã buscar uma racionalidade na “; e defende o ponto de união entre e ciência dentro da filosofia, que “chega a uma visão de mundo baseada em dados da ciência, mas que ao mesmo tempo é compatível com a existência do Criador”.

Na união entre e ciência, há tanto pressupostos intelectuais como éticos, e Fraga defende sua existência.

“O cientista tem um impressionante anseio por saber, mas há certos limites, que ele não deve ultrapassar. Seu limite é a dignidade humana”, alerta.

“O segredo está em distinguir que o ser humano tem uma dignidade e que esta dignidade é um limite absoluto. Do contrário, caímos em erros do passado, e a ciência pode levar aos maiores pesadelos da humanidade”, concluiu.

Fonte: Aleteia