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No dia 23 de janeiro de 1945, há 70 anos, foi escrito o último capítulo da matança que o nacional-socialismo conduziria contra os seus opositores, depois das execuções sumárias que se seguiram imediatamente após o atentado fracassado contra Adolf Hitler do dia 20 de julho de 1944.

Organizaram-se processos-farsa (os bancos dos juízes estavam desprovidos até mesmo dos códigos penais), concluídos, em grande parte, com condenações à morte. Entre a primeira e a segunda fase de repressão, foram cinco mil as vítimas da vingança do Führer.

Entre os mártires da repressão, destacam-se figuras como o líder reconhecido do “Círculo de Kreisau”, o protestante James Helmuth von Moltke, o jornalista católico Nikolaus Gross e o jesuíta Alfred Delp, um dos 85 membros da Companhia assassinados pelo nazismo em vários países da Europa.

Esses três protagonistas cristãos da oposição à ditadura (os primeiros dois foram enforcados no dia 23 de janeiro; o terceiro, no dia 2 de fevereiro) são exemplos de um grupo de adversários do nazismo que encontrariam a morte até mesmo na véspera do suicídio de Hitler, como Dietrich Bonhoeffer, o teólogo luterano morto no fim de abril.

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Moltke (foto acima) havia reunido ao seu redor um grupo de intelectuais e políticos que se interrogavam sobre o destino da Alemanha, preparando uma hipótese de governo no dia seguinte ao fim, inevitável, considerando o andamento da guerra, do regime. O Círculo não estava ligado aos conspiradores do atentado do dia 20 de julho, mas muitos de seus membros foram presos sob a acusação de alta traição.

Durante o processo, von Moltke não se deixou intimidar pelo presidente do tribunal, o feroz Ronald Freisler, e expressou a sua confiança no futuro de uma Alemanha livre e sem o nazismo.

Restam dele um diário, em que estão anotados os méritos daqueles membros das Igrejas cristãs que não tinham sucumbido à ditadura, e uma intensa correspondência trocada com a esposa, Freysa, no período passado na prisão.

Ali, ele reafirma as suas certezas e esperanças de cristão, motivando a oposição ao nazismo como um dever do crente. Os dois cônjuges estavam cientes da necessidade do testemunho: “Tínhamos consciência – escreve – que talvez teríamos que pagar este preço”.

É comovente a frase dirigida a ele pela mulher: “Tu morres por algo que vale a pena morrer”. E a resposta: “Não há motivo de esperança humana. Mas, meu coração, avaliemos este evento como um sinal de que Deus nos escuta; seria falta de fé não fazer isso”.

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Nikolaus Gross (foto acima) era um sindicalista e jornalista que tinha identificado, desde o início, o caráter criminoso e anticristão do nazismo. Ainda em 1930, no jornal dos sindicatos católicos do qual era diretor, ele tinha escrito que era necessário rejeitar a doutrina hitleriana “não apenas por razões políticas e econômicas, mas definitivamente também em nome de uma posição religiosa e cultural”.

Marginalizado e controlado durante a ditadura, ele não haviam se curvado às dificuldades materiais e às perseguições. Ele fez parte do grupo de opositores reunidos em torno de von Moltke e seguiu o seu destino.

Durante a prisão, concluída com o processo e a condenação à morte, Gross pôde estabelecer um contato por cartas com a esposa (nunca lhe foi permitido encontrar a família). As suas cartas são testemunho de uma fé cristã vivida intensamente. Na última mensagem, ele falava de “um tempo de graça, para me preparar para o retorno para a casa” do Pai.

Aos seus entes queridos, ele escrevia: “Continuamente rezei todos os dias para que, através da força e da graça, o Senhor fortaleça a você e a mim, para que tomemos, paciente e devotamente, sobre nós tudo o que Ele estabeleceu e decidiu. E sinto que, através da oração, há calma e paz em mim”.

Gross é o primeiro canonizado entre os leigos alemães vítimas do nazismo, ao lado de inúmeros consagrados. João Paulo II, durante a sua visita à Alemanha, em 1987, tinha sublinhado o “heroico testemunho de fé” oferecido por ele e por outras vítimas “contra a aspereza de uma ímpia ditadura desprezadora dos homens”.

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Sobre Alfred Delp (foto acima), foi recentemente pedida a abertura do processo de canonização. O jovem jesuíta (ele foi admitido na ordem com uma consagração clandestina quando já estava na prisão) tinha participado, com o consentimento da Companhia, das reuniões do Círculo de Kreisau por causa das suas competências nas questões sociais.

Anteriormente, ele havia realizado uma intensa atividade como animador pastoral, palestrante e autor de artigos sobre teologia. Preso, torturado e espancado, foi reenviado ao julgamento sem provas criminais contra ele: mas, para condená-lo, bastou apenas o fato de ele ter se recusado a sair da ordem dos jesuítas para salvar a vida. Durante o processo, ele enfrentou Freiser, que explodiu contra ele em expressões de raiva. “Era uma questão contra Deus, e eu O defendi”: assim Delp consolou a sua irmã na última carta.

Von Moltke, Gross e Delp não são os únicos: há um copioso martirológio para se recuperar a memória daquelas testemunhas que, com o seu sacrifício, há 70 anos, salvaram a honra cristã da Alemanha.

Angelo Paoluzi, publicada pela agência Servizio Informazione Religiosa

 

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No dia 9 de novembro foi comemorado o 25º aniversário da queda do Muro de Berlim, terrível barreira cinza que cortava o coração da Europa. Como herança ainda permanecem hoje alguns fragmentos de cimento na capital alemã e os testemunhos daqueles que pessoalmente estavam envolvidos na exasperação ideológica daquelas décadas de ódio. A batalha organizada pelo comunismo internacional contra o cristianismo é um dos aspectos mais hediondos do século XX, que se revela em todo o seu realismo percorrendo a longa lista de mártires, incluindo milhares de sacerdotes diocesanos e religiosos, entre leigos e seminaristas, além de uma centena de bispos e quatro cardeais.

A história que Mons. Sigitas Tamkevičius, agora bispo de Kaunas (Lituânia), narrou a José Miguel Cejas no livro El baile tras la tormenta (A dança depois da tempestade), oferece informações valiosas sobre a realidade de um sacerdote na União Soviética. O site Alfa y Omega propôs um trecho sobre a detenção, o posterior interrogatório e a prisão do então padre Sigitas.

O padre jesuíta foi parado pelas autoridades soviéticas, juntamente com seus outros irmãos em 1983. “Subindo a van da KGB, subiu-me um suor frio – diz mons. Tamkevičius -. Os porões da prisão, com os corredores estreitos, os tetos altos, mal iluminados por lâmpadas fracas, com manchas de umidade e fissuras, não inspiravam a serenidade”.

Diante de um austero funcionário e com uma forte luz nos olhos, o atual arcebispo deu os seus dados, os quais não deixaram nenhuma dúvida ao agente: “Uau! Você é Sigitas, do Comitê para a Defesa dos Crentes, que faz propaganda anti-soviética contra o Estado”, exclamaram. O que realmente interessava a eles – hoje revela o arcebispo – não era a sua participação no Comitê, mas a publicação da revista A Crônica da Igreja na Lituânia, uma revista organizada por Tamkevičius com outros quatro sacerdotes e enviada também para o exterior.

O objetivo desta publicação – em acordo com o bispo mons. Vicentas Sladkevicius – era o de informar o mundo sobre os assédios aos quais eram submetidos os eclesiásticos e os praticantes católicos na União Soviética. Proibidas catequeses e conferências, era assim sufocado todo desejo de evangelização. Durante as Missas, então, estava sempre presente algum espião do Governo que tomava notas sobre homilias e verificava que entre os presentes não houvesse ninguém além dos habituais idosos.

Denunciar esta situação além da cortina de ferro, evidentemente, preocupava os funcionários comunistas. Como diz mons. Tamkevičius “, oito oficiais começaram a me interrogar um dia sim, um dia não. Não podia imaginar que aquele interrogatório continuaria por seis meses!”. Um longo período durante o qual – acrescenta o prelado – “Deus me deu a força para não trair ninguém (…), nem sequer nos momentos de maior fraqueza”.

O arcebispo explica que muitos, escutando o seu testemunho, perguntam-lhe como é que foi possível resistir. A cada um deles explica que o mérito não está nas suas forças, mas sim na sua perseverança na fé. Aí está o segredo da salvação de mons. Tamkevičius.

Embora confinado em um canto escondido de uma cela, privado de tudo, este sacerdote conseguiu assim mesmo celebrar a Eucaristia. “Na prisão consegui comprar um pouco de pão e verifiquei que era de trigo – narra -. Faltava-me só o vinho; em uma carta pedi à minha família uva passa seca. A partir daquele momento tinha só que encontrar o melhor momento, sabendo que o meu companheiro de cela, como acontecia no geral, era um criminoso comum ao qual foi prometido reduzir a pena caso tivesse fornecido algumas informações comprometedoras sobre mim”.

Bom momento que só acontecia quando o seu companheiro de cela dormia. Naquele momento o sacerdote, de costas para a porta, coloca o estojo de óculos na mesa e colocava um pedaço de pão e uma pequena tijela com uva passa. Depois disso, pegava esta uva e começava a apertá-la entre os dedos até conseguir alguma gota de vinho que, em casos excepcionais, é válida para celebrar a Eucaristia.

Excepcional era também a alegria que enchia a alma de mons. Tamkevičius naqueles momentos. “Experimentava uma alegria maior do que a que tinha provado a primeira vez que celebrei a Missa na catedral de Kaunas”. O arcebispo estava convencido de que era devido ao fato de que “Deus me confortava e me consolava”; presença que estava “do meu lado, de forma inefável”.

Daí a sua “força especial” escudo vital capaz de rejeitar qualquer tentação de desconforto. O arcebispo recorda que, por vezes, para fugir do perigo de que um olhar do seu companheiro de cela pudesse surpreendê-lo, tinha que celebrar deitado na cama, de noite: “com as Sagradas Espécies sobre a minha cama, transformada em altar”. Essas são as recordações de mons. Tamkevičius, que representam um pedaço daquele período de perseguição anti-cristã, durante o qual, no entanto, “os braços de Jesus me sustentavam”.

Zenit

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Durante o encontro que o Papa Francisco teve ontem com os religiosos, religiosas, seminaristas e movimentos leigos na Catedral São Paulo de Tirana, a irmã religiosa da Congregação Franciscana Estigmatina, Irmã Maria Caleta (85) relatou como em meio ao regime comunista brutal ela dava testemunho de fé.

Irmã Maria contou ao Santo Padre que desde muito jovem havia sentido o “chamado do Senhor sem saber ainda o que significava ser religiosa”, ela morava com os seus pais, era filha única e graças às orações e aos conselhos do seu tio sacerdote, teve a ajuda “para empreender este caminho”.

A religiosa frequentou o convento das Irmãs Franciscanas Estigmatinas por sete anos, mas por causa do regime comunista se viu obrigada a abandoná-lo e voltou para casa junto com os seus pais e a cuidar do seu tio sacerdote que estava na prisão. O sacerdote e uma grande amiga estão em processo de canonização, ela é a única mulher da lista e era irmã de sua mesma congregação.
 
Com a morte de seus pais, Irmã Maria viveu sozinha e soube “manter a fé viva no coração dos fiéis embora de maneira clandestina. O Senhor me deu de presente tanta fé que pude ajudar também os outros batizados, não só as crianças dos povoados, mas também aqueles que se aproximavam da minha porta e só depois de ter a certeza que não tinham me denunciado”.

Lembrou-se particularmente da vez que estava voltando de seu trabalho para a casa e “pelo caminho senti que uma voz me chamava, era uma mulher com uma menina no colo e que chegou correndo e me pediu para batizá-la”.

Irmã Maria que ainda era leiga “tinha medo porque sabia que era a mulher de um comunista e lhe disse que não tinha com o que batizá-la porque estávamos na estrada, mas pelo grande desejo que tinha me disse que num canal próximo havia água, eu lhe disse que não tinha com o que retirar a água, mas ela insistia que eu batizasse a sua menina, como vi a sua fé, retirei o meu sapato que era de plástico e com ele peguei a água do canal e batizei a menina”.

Continuando com o seu testemunho ao Santo Padre, a religiosa contou-lhe sobre outras bênçãos que tinha recebido em meio à perseguição. “Além disso, graças ao consentimento dos sacerdotes guardei o Santíssimo Sacramento em um gabinete da minha casa, e o levava às pessoas doentes que estavam prestes a morrer”.

“Prestei um serviço religioso que nem mesmo eu sei como o fiz, quando penso nisso não sei como pudemos suportar tantos e terríveis sofrimentos, mas sei que o Senhor nos deu a força a paciência e a esperança”, ressaltou.

“O Senhor deu a força àqueles que chamou, de fato me recompensou de todos os sofrimentos também aqui na terra”, expressando que depois que as Igrejas abriram quando terminou o regime comunista “tive a sorte de me tornar religiosa desejo comum de tantos outros sacerdotes e irmãs”.

A religiosa também assinalou que não sabe como dar graças a Deus por este dia “tive o privilégio de estar com sua Santidade e pedir a bênção para mim e para o meu tio sacerdote e para as irmãs Estimatinas para a paróquia onde nasci e desempenhei meus serviços até hoje, para os bispos, os sacerdotes, as religiosas e para todo o povo albanês”, concluiu.

Para saber mais sobre a viagem do Papa Francisco à Albânia, ingresse em:

http://www.acidigital.com/albania2014/

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O Papa Francisco expressou pesar pela morte de três irmãs missionárias xaverianas italianas mortas no convento em Burundi, na missão de Kamenge, norte da capital africana Bujumbura. Trata-se das irmãs Olga Raschietti, Lucia Pulici e Bernardetta Boggian.

Francisco enviou dois telegramas, divulgados nesta segunda-feira, 8, pelo Vaticano. Um foi para o núncio apostólico em Bujumbura, Dom Evariste Ngoyagoye, e o outro para a superiora geral das missionárias xaverianas, irmã Inês Frizza. Em ambas as mensagens, o Santo Padre se diz atingido pela trágica morte das religiosas.

“Ele (o Papa) deseja que o sangue derramado se torne semente de esperança para construir a autêntica fraternidade entre os povos”, escreve o secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, que assina a mensagem, informando ainda que Francisco assegura suas orações pelas generosas testemunhas do Evangelho.

O superior dos missionários xaverianos em Burundi, padre Mario Pulcini, trabalhava com as religiosas há muitos anos. Ele diz que todos estão em estado de choque com o acontecimento e não sabem o que pode ter acontecido.

“É uma coisa muito grosseira, pode ser uma vingança, pode ser que tenha acontecido alguma coisa com alguém… Mas, não conseguimos encontrar uma justificativa, uma motivação para delitos assim (…) Esta é realmente uma tragédia, que arrisca colocar em crise o povo e os trabalhadores, sobretudo os catequistas e outros que ajudam a paróquia”.

Sobre as religiosas, padre Mario informa que elas estavam no bairro de Kamenge há cerca de sete anos, depois de terem trabalhado no Congo. Ele contou um pouco do trabalho desempenhado por elas, destacando a grande perda que suas mortes significam.

“Irmã Lúcia trabalhou, sobretudo, em nível de santidade: tinha tratado milhares de doentes. Fazia um trabalho extraordinário para a paróquia, para a Igreja, serviços simples… Era muito bem querida pelo povo. Olga tinha trabalhado por muitos anos no Congo na catequese, na pastoral do ensino… Porém, tinha uma grande sensibilidade pelos doentes. (…) E Bernardetta, que foi superiora por muitos anos, também na direção geral, dedicava-se, sobretudo, à escola de costura e cozinha pra meninas. Realmente, é uma grande perda para nós, para Kamenge, para a Igreja em Burundi e penso que também para o Congo”.

Fonte: http://parma.repubblica.it/cronaca/2014/09/07/news/due_missionarie_saveriane_uccise_in_burundi-95229424/

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Cristãos num abrigo em Erbil, Iraque. Foto: Ahmed Jalil/EPA

Das igrejas fizeram casa. Continuam a ir à missa – rezam pela paz. Mas onde havia milhares de cristãos, como em Mossul, não há agora nenhum.

“A vida deles está completamente virada do avesso”, diz à Renascença , a partir do Iraque, um elemento da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.

De um dia para o outro, tudo mudou para os cristãos no Iraque. Entre conversão ao Islã ou o pagamento do imposto exigido pelo autoproclamado Estado Islâmico, não tiveram escolha. Deixaram tudo para trás. No meio do desespero não sobrou tempo para preparos. Muitos fugiram de mãos vazias e sem dinheiro nos bolsos.

“Os refugiados estão a abrigar-se em igrejas, alguns deles estão em parques a viver em tendas. Nesta altura do ano, as temperaturas atingem os 43, 45 graus. São condições muito difíceis”.

Regina Lynch, directora de projectos da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), organização dependente do Vaticano.

“Conhecemos uma família que demorou cinco horas a fazer uma viagem que normalmente demoraria uma hora e meia. Eram 24 pessoas numa carro que transporta oito no máximo. Isto mostra a forma desesperada como as pessoas tiveram que abandonar a região”, conta, por telefone.

Com Regina Lynch, estão no Iraque o presidente internacional da AIS, Johannes von Heereman, e a directora de comunicação, Maria Lozano. Querem conhecer de perto os cristãos perseguidos e as suas necessidades. Querem lembrar-lhes que não estão sós e dar-lhes voz.

A vida “do avesso”

“Há pessoas a viver em abrigos e que estão a ser registadas neste momento. Há muitos a viver com familiares em casas sobrelotadas. É difícil ter um número exato, mas sabemos que há cerca de 70 mil refugiados à volta de Ankawa e 60 mil nas áreas a norte de Mossul. Mas a todo o momento há pessoas a chegar, famílias a bater à porta à procura de lugar para ficar”, conta Lynch.

A AIS já recolheu e enviou mais de 230 mil euros para a Igreja do Iraque. O apoio vai permitir suportar necessidades básicas de milhares de cristãos iraquianos refugiados.

São urgentes “alimentos, colchões, ventiladores, frigoríficos”. E alguém que os escute. “Os refugiados viram-se para a Igreja e esperam que a Igreja os ajude. Que os ajude a resolver os problemas. Outras vezes só esperam que alguém possa ouvi-los”.

Têm muito para contar. Num abrir e fechar os olhos, a vida que conheciam deixou de existir. Em 2003, só em Mossul, viviam 35 mil cristãos. Pela primeira vez em dois mil anos, não sobra um único.

“As pessoas que conhecemos estão muito traumatizadas porque aconteceu tudo muito rápido. Os cristãos em Mossul, por exemplo, achavam que o exército do Governo ia protegê-los. Foi um choque para eles. A vida deles está completamente virada do avesso”.

“Esta é a nossa casa, esta é a nossa história”

A delegação da AIS chegou na quarta-feira ao Iraque para uma viagem de cinco dias. Visitaram Ankawa, um subúrbio cristão da cidade de Erbil que acolhe muitos dos que fugiram de Qaraqosh. Passaram por Dohuk, onde, vindos de Mossul, cristãos em fuga procuraram refúgio. Reúnem-se com bispos, visitam abrigos, ouvem esperanças e vontades.

“Alguns dizem que querem sair, que querem emigrar. Outros contam que querem voltar para as suas aldeias, para as suas casas porque estão lá há gerações e gerações. Dizem: ‘esta é a nossa casa, esta é a nossa história’. Mas só podem voltar se houver alguma espécie de protecção internacional, uma garantia de que isto não vai acontecer outra vez”.

O Patriarca Caldeu do Iraque, D. Louis Sako, tem-se desdobrado em apelos. A ele, já se juntaram os bispos da Europa numa carta enviada esta semana ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Pedem decisões urgentes para “para pôr fim às atrocidades cometidas contra os cristãos e outras minorias religiosas no Iraque”.

Uma cruz tatuada

Por enquanto, resta confiar na generosidade dos que no terreno fazem de tudo para ajudar.

“Soubemos de uma vila cristã que não teria mais de 60 famílias e que agora tem mais 250 famílias cristãs refugiadas. Dá para imaginar o impacto que isto tem na comunidade. As pessoas são muito generosas. Fazem tudo para ajudar os refugiados”.

Pouco sabem do que vem a seguir. “É difícil para eles perceber como é que a situação se vai desenvolver. Alguns expressaram-nos o desejo, a esperança, de que uma equipa internacional de manutenção de paz entre no país e garanta a sua protecção. Outros esperam que os peshmerga, as tropas curdas, ganhem força para lutar contra o Estado Islâmico.”

Regina Lynch ficou “muito comovida com a fé” dos cristãos iraquianos.

“Hoje falámos com uma senhora de idade que tem uma cruz tatuada na mão e contamos-lhe como hoje em dia na Europa são poucas as pessoas que usam cruzes. Ela respondeu: ‘nós preferimos morrer a esconder a nossa cruz’”.

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A passagem para o Oriente de Francisco é também uma viagem ao coração da perseguição e do martírio cristão. A sua permanência entre esta quinta e segunda-feira na Coreia do Sul é marcada pela memória dos mártires, dos quais floresceu a história de graça dessa Igreja.

Os 124 mártires que Francisco se prepara para beatificar no sábado pertencem todos à primeira geração de cristãos batizados nessa terra, mas são apenas uma pequena parte de uma constelação formada por mais de 10 mil outras testemunhas, porque a discriminação, a perseguição e o martírio já caracterizaram mais de 200 anos de história da Igreja na Coreia.

Não há dúvida de que a particular dinâmica que brotou do sangue dos mártires – com o qual a fé permaneceu viva aqui e que continuou a difusão do Evangelho através da obra apostólica de simples leigos autóctones, livre de imposições externas – é paradigmática da visão pastoral e da imagem da Igreja “em estado permanente de missão”.

E, certamente, essa peculiaridade também pode ter influenciado na escolha do Papa Francisco de entrar pela primeira vez no continente asiático justamente pela porta da Coreia do Sul. Uma viagem, portanto, que nos leva a refletir ainda sobre as conexões entre testemunho e perseguição, missão e martírio, anúncio do Evangelho e busca da paz, e a dar a luz aos sofrimentos sofridos neste momento pelos cristãos no Iraque, para os quais o próprio Francisco enviou nessa quarta-feira uma carta sincera ao secretário-geral das Nações Unidas.

Ainda hoje, “os cristãos são perseguidos” a ponto de que talvez haja “mais mártires agora do que nos primeiros tempos”: “O nosso tempo é um tempo de martírio”. As referências do bispo de Roma à perseguição e ao martírio, repetidas várias vezes, sempre pontuaram a sua pregação. Nelas, encontra-se o critério de fé com o qual o Papa Francisco olha para essa parte justamente a partir da história cristã no mundo.

Para o Papa Bergoglio, a perseguição existe agora porque sempre houve e sempre haverá. O atual sucessor de Pedro – com toda a tradição da Igreja – reconhece que a conotação martirial sempre acompanhou o testemunho cristão e a missão da Igreja no mundo. “Esse – disse – é o caminho do Senhor, o caminho daqueles que seguem o Senhor.” Um caminho que “sempre acaba, como para o Senhor, com uma ressurreição, mas passando pela Cruz”.

Porque o próprio Jesus é o mártir que, com o seu martírio e a sua ressurreição, nos salvou, ocorrido em um contexto de absoluta falta de liberdade religiosa. O mistério da Cruz acompanha a missão. E a história das missões é a história do martírio de Cristo que sempre se renova. Das perseguições dos primeiros séculos às de hoje. Segundo a “bem-aventurança das perseguições” previstas e garantidas por Jesus aos seus discípulos.

O martírio é vocação, dom que torna semelhante a Cristo. O testemunho dos mártires, portanto, tem a particularidade de tornar manifesto uma mensagem: a salvação de Cristo. O mártir cristão é um testemunho da fidelidade a Cristo à sua missão de dar a vida pela salvação do mundo.

Por isso, o martírio tem um valor claramente cristológico em razão da relação, totalmente especial, do mártir com o Senhor. É um ato de fé, que, por sua vez, é movida pela caridade. E é somente o sacrifício de Cristo, morto e ressuscitado por nós, que dá sentido ao martírio de todo homem e mulher. É esse sacrifício de Jesus que o torna possível, porque a vida compartilha com ele a dimensão fundamental da Encarnação: a paixão e a morte, à qual se segue a ressurreição.

No testemunho de frágeis criaturas, resplandece a onipotência de Deus. O martírio torna-se, então, uma proclamação da possibilidade de esperança em Deus, cujo poder sustenta os humildes e também é vencedor. O mártir, de fato, não é um derrotado, mas um vencedor. Perde a sua vida, mas muitos, com a conversão graças a ele, a recebem. E a sua própria vida vai sustentar a da Igreja inteira como comunhão.

Falando de martírio, porém, devemos estar sempre atentos para não correr o risco de pôr em segundo plano o valor da justiça e a absoluta deplorabilidade de situações de opressão. O martírio nasce, de fato, como fruto santo de situações de iniquidade: perseguições, violências, violações da dignidade humana. E, se a presença de Cristo no mártir, junto com a proclamação solene do seu nome, faz a grandeza e a fecundidade da experiência heroica até o dom da vida, permanece intacta a radical injustiça – que não deve ficar em silêncio e deve ser combatida – dos contextos históricos que geram mártires.

No entanto, como salientou o cardeal Filoni, enviado especial do papa ao Iraque, “a Igreja, com a beatificação e a canonização dos mártires, evidencia que o batismo e o dom da fé dão a graça de dar testemunho da glória de Deus até renunciar à própria vida. Na nossa cultura atual, essa natureza própria do martírio cristão, porém, é muitas vezes perdida de vista e prevalece uma concepção que corre o risco de fazer também do martírio apenas uma questão de direitos humanos violados e a serem reivindicados”.

Nas reflexões do Papa Francisco, a perseguição e o martírio – como a Igreja sempre ensinou – se referem, por isso, ao próprio mistério da salvação prometida por Cristo. O seu olhar sobre os fatos de perseguição não se confunde com as interpretações em chave política dos sofrimentos enfrentados pelos cristãos.

Se denuncia toda violação da liberdade religiosa e da dignidade humana, ao mesmo tempo, anuncia que Cristo fez da perseguição e da morte um instrumento de salvação. E é preciso lembrar como algumas vezes o testemunho dos mártires também toca o coração dos pagãos ou dos perseguidores.

Os mártires também são considerados como os intercessores mais eficazes na Igreja, até serem defensores de reconciliação e de unidade da Igreja e, com o seu testemunho de autoridade, instrumentos de paz. Lançam pontes. Não levantam muros.

Nisso se esclarece o nexo martírio-anúncio-busca da paz. E, nesse sentido, também deve ser considerado o gesto deSão Francisco de Assis com o sultão do Egito em 1219. Nas duas margens do Mediterrâneo fluía o ódio. A mentalidade estava ligada ao confronto entre dois sistemas.

Alguns freis haviam sido mortos por ódio à fé, e havia aqueles que, proclamando a grandeza da religião cristã, insultavam o Islã. Um beco sem saída para Francisco, que, incondicionalmente, queria ir ao encontro do sultão Malik al Kamil. As fontes franciscanas relatam o episódio salientando como São Francisco, com coragem e amor, foi ao encontro do sultão, que ficou tocado por esse frei.

encontro de São Francisco com o sultão é um episódio sem martírio. Por muito tempo, o diálogo de paz entre o sultão e São Francisco, porém, foi considerado um fracasso. Para muitos, naquela época, era melhor silenciar o episódio, considerado pouco glorioso.

Mas Francisco, com a sua visão da evangelização e no seu agir, se inseria em uma lógica totalmente diferente e acabou até prevendo a derrota dos cruzados. Ele não raciocinava com os critérios ideológicos da cristandade do seu tempo e, naquela viagem, para conhecer de perto os muçulmanos, tinha se colocado para além de todas as fronteiras.

O santo de Assis tinha simplesmente testemunhado o Evangelho: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus”. Essa é a missão da Igreja de Cristo, que é trazida à luz também com a beatificação dos mártires na Coreia e o horizonte da verdadeira paz.

Stefania Falasca,  Avvenire.

apelo para cristãos santa sé

A Santa Sé emitiu um apelo (ACIMA) para que todos da comunidade internacional protejam os cristãos do Iraque.

Nas palavras do Papa (em inglês):

His Holiness urgently calls on the international community to protect all those affected or threatened by the violence, and to guarantee all necessary assistance – especially the most urgently needed aid – to the great multitude of people who have been driven from their homes, whose fate depends entirely on the solidarity of others.O apelo da Santa Sé segue ou foi seguido pelo apelo do Patriarca Caldeu Louis Sako a ONU e a União Europeia para que eles ajudem aos cristãos que sofrem dos terroristas do ISIS.  

apelo para salvar cristão no Iraque استغاثة 2 001

O Papa emitiu  apelo urgente à comunidade internacional para «proteger» as populações do norte do Iraque, na maioria cristãs, que estão em fuga perante o avanço dos jihadistas do Estado Islâmico.

Num apelo transmitido pelo seu porta-voz Federico Lombardi, o papa retoma a sua exortação do Angelus (oração dominical) de 20 de julho, sublinhando que «a violência não se vence pela violência, mas pela paz», e exprime a sua «proximidade» com os irmãos cristãos «perseguidos e despojados de tudo».

Francisco «emite um imperioso apelo à comunidade internacional, para que se mobilize e ponha fim ao drama humanitário em curso». Solicita «que sejam tomadas as medidas necessárias para proteger os que estão ameaçados pela violência, e asseguradas as ajudas necessárias, a começar pelas mais urgentes, para tantos deslocados, cujo destino despende da solidariedade dos outros».

«À luz destes inquietantes acontecimentos, o Santo Padre renova a expressão da sua proximidade espiritual para todos os que atravessam esta prova muito dolorosa e une-se aos insistentes apelos dos bispos regionais, pedindo, com eles e para as comunidades em perigo, que de toda a Igreja se erga uma oração unânime para pedir ao Espírito Santo o dom da paz».

Hoje, os combatentes radicais islâmicos apoderaram-se de Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque, forçando dezenas de milhares de pessoas a fugir, enquanto os clérigos caldeus apelavam à ajuda da comunidade internacional.

Segundo o patriarca caldeu Louis Sako, 100.000 cristãos foram expulsos para as estradas ¿apenas com as roupas que envergavam¿ e as igrejas «foram ocupadas e as cruzes retiradas».

«Hoje emitimos um apelo, com muita dor e tristeza, ao Conselho de Segurança da ONU, à União Europeia e às organizações humanitárias, para que ajudem estas pessoas em perigo de morte», referiu o patriarca em declarações à agência noticiosa AFP no Iraque, sublinhando ainda recear «um genocídio».

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“A comunidade cristã na Líbia já está reduzida ao mínimo, mas pretendo continuar aqui, enquanto houver um cristão que seja”. Foi o que afirmou à Agência Fides o Vigário Apostólico de Trípoli, Dom Giovanni Martinelli,(foto) no momento em que a Líbia atravessa um dos momentos mais difíceis após a derrubada do regime de Muammar Kadafi.

O Bispo resume com estas palavras a situação da comunidade cristã na Líbia: “Em Cirenaica não existem mais irmãs, enquanto estão deixando a região a maior parte dos filipinos, que são o coração da comunidade cristã na Líbia. Em Trípoli ainda existe uma boa presença dos filipinos, mas muitos deles estão de partida”.

“A Igreja vive em relação com esta presença dos leigos que atuam no setor de saúde e, dada a situação atual, isto é realmente um momento de dura prova. Não sei como tudo acabará, mas tenho a confiança de que um grupo de pessoas permanecerá aqui a serviço da Igreja”, observou esperançoso Dom Martinelli.

“O problema é saber que fisionomia assumirá o país”, continua o Vigário Apostólico. “No momento, os combates parecem ter cessado, mas a situação permanece precária. O aeroporto está fechado e as pessoas que partem, o fazem de navio. Também a viagem por terra até a fronteira com a Tunísia tornou-se impraticável”, relatou.

“Ainda tenho confiança no futuro da Líbia, mas estamos nas mãos de Deus”, prossegue Dom Martinelli que afirma não querer abandonar o país. “Enquanto houver um só cristão aqui, eu devo ficar para assisti-lo. Mesmo que o serviço religioso tenha se reduzido ao mínimo, não posso abandonar os poucos cristãos remanescentes”, conclui o prelado, que dirige um apelo à oração, pois “somente a oração pode resolver situações difíceis como a vivida pela Líbia hoje”. (JE)

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A fé cristã sofre perseguições! Nada mais atual que a frase de São Tertuliano de que “o sangue dos mártires se torna semente para novos cristãos”. Professar a fé cristã é ser hostilizado em muitas esferas da nossa sociedade; de modo escancarado ou velado, o comportamento se transforma se se declara crente, temente a Deus e discípulo do Mestre, que é Jesus Cristo.

A fé guardada por homens, mulheres e crianças a ponto de darem suas vidas por causa do Evangelho, é um grito que incomoda porque aponta para além dos modismos e das fugacidades da vida pós-moderna, onde o que importa são as aparências e a simples sensação de estar bem e ter uma “vida legal”. A fé preservada em meio às perseguições nos aponta para a infinitude, para uma razão na vida, um querer de felicidade que só Cristo pode nos dar.

Os cristãos no Iraque sofrem perseguição pelo estado islâmico de Mosul, é o que afirma o jornal francês Le Figaro. Os cristãos são obrigados a deixar sua região ou a pagarem altos impostos, têm suas casas marcadas com o N de Nazareno e assim sujeitos ao massacre e transformados em cidadãos de segunda categoria. No fundo, o Estado islâmico quer obrigá-los a se converterem, ou serão mortos. Os cristãos no Iraque antes da invasão americana eram 1 milhão, hoje são 400 mil.

Na Ucrânia, após a invasão russa, muitos católicos têm seu futuro incerto, pois a Igreja poderá ser banida do território. Padres são raptados, e alguns desaparecem sem nenhuma explicação. Alguns fiéis chegam a ser espancados por oficiais russos e têm suas propriedades confiscadas. É a lógica do medo para que abandonem sua fé!

Na China, o Partido Comunista Chinês silencia a Igreja Católica, que é obrigada a viver na clandestinidade. São em média 12 a 15 milhões de católicos em um país de 1,4 bilhão de habitantes. Os católicos são obrigados muitas vezes a serem membros da Associação Católica Patriótica Chinesa, que é controlada pelo governo e não está em comunhão com o papa.  Alguns bispos católicos vivem encarcerados durante décadas por não abandonarem a fé.

Na Mongólia, um sacerdote e uma religiosa foram mortos por cuidarem de crianças e idosos pobres. Na Síria, os conflitos têm gerado intolerância religiosa contra os cristãos num ambiente em que 90% da população é muçulmana. De acordo com estimativas divulgadas pelo Associated Press, cerca de 1.800 cristãos foram mortos na Nigéria em ataques terroristas planejados por radicais islâmicos desde 2007. Na Coreia do Norte, 50 a 70 mil cristãos sofrem nos campos de concentração em trabalhos forçados. Na Somália, se um ex-muçulmano é descoberto logo é condenado imediatamente à morte. No Afeganistão, os cristãos são considerados inimigos do Estado. Nestes e em muitos outros lugares, seguir a Cristo é estar correndo risco de morte e ser perseguido.

No Brasil, os católicos também acabam passando algumas situações sofridas, tendo suas igrejas invadidas, seus objetos de cultos ridicularizados e imagens depredadas. Isso aconteceu no Rio de Janeiro, Montes Claros (MG), Sacramento (MG), Igarapava (SP), Erechim (RS)…

O papa Francisco afirmou que há mais cristãos perseguidos atualmente que nos primeiros tempos da Igreja. Existem lugares em que não se pode ter uma Bíblia, ensinar o catecismo ou mesmo levar um crucifixo. A cada cinco minutos, um cristão é morto, segundo algumas fontes. Além do mais, a perseguição não é somente física, o martírio de sangue. Outras formas de perseguição se espalham e marcam profundamente a vida das pessoas. Hoje há o martírio da ridicularização no trabalho, na universidade, nos ambientes sociais…

Estes exemplos demonstram como ainda há corações, estruturas sociais e regimes políticos fechados ao Evangelho. É preciso permanecermos vigilantes para que a profissão da fé cristã não se torne um crime sujeito a retaliações. A nossa vida deve-nos falar sobretudo de Cristo e de Cristo crucificado e ressuscitado, como centro da história e da nossa vida. A cruz de Cristo ocupa sempre um lugar central na vida da Igreja e tem que ocupar também em nossa vida pessoal. Na história da Igreja não faltará jamais paixão e perseguição, mas a partir delas e pelo testemunho de guardar e dar testemunho dela muitos crerão. Se aceitamos a cruz, ela se converte em benção. “Somos atribulados por todos os lados, mas não esmagados; postos em extrema dificuldade, mas não vencidos pelos impasses; perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados. Incessantemente e por toda a parte trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também manifestada em nosso corpo” (2 Cor 4, 8-10).

* Geraldo Trindade é diácono na arquidiocese de Mariana. 

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Guerrilheiros do ISIS invadiram a província cristã de Aleppo, no norte do país, e crucificaram nove homens em praça pública

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos vem divulgando constantemente os horrores da guerra na Síria. Tendo se iniciado há mais de três anos, já resultou em 162 mil mortos e mais de nove milhões forçados a saírem de suas casas.

No embate entre as forças do governo e os rebeldes, de duas facções islâmicas distintas, os cristãos foram pegos no fogo cruzado e são o grupo que mais sofre nessa guerra. Quando os rebeldes invadem as aldeias e cidades cristãs da Síria, geralmente punem seus moradores por não servirem a Alá e por serem aliados do governo do presidente Bashar al-Assad, que nunca perseguiu os cristãos do país.

Os guerrilheiros do exército do Estado Islâmico no Iraque e na Síria (ISIS), vem chamando atenção da mídia internacional pelas demonstrações de crueldade nesta guerra. Seu objetivo declarado é criar um estado islâmico em áreas sunitas do Iraque e na Síria.

Em maio deste ano, os terroristas também invadiram a cidade de Raqqa. Nos corpos de cristãos crucificados foram colocadas faixas, com os dizeres: “Este homem lutou contra os muçulmanos”.

Desde o início deste ano, os cristãos de Raqqa precisam pagar uma espécie de “imposto de proteção”. Os cultos não muçulmanos foram proibidos, assim como o uso de símbolos religiosos cristãos

No último final de semana, deram dois sinais claros que as coisas estão saindo de controle novamente. Após as eleições recentes, esperava-se que o ritmo da guerra diminuísse e a paz fosse negociada.

Porém, foram divulgadas imagens da ação do ISIS na província cristã de Aleppo, no norte do país. Nove homens foram crucificados em público. A acusação era de apostasia (afastar-se da verdadeira fé muçulmana). Um deles, que não teve seu nome divulgado, conseguiu sobreviver. Ele contou que foram torturados após os jihadistas invadirem sua aldeia, e condenados a pagar por sua falta de fé.

Os corpos dos demais homens ficaram na praça principal da vila por três dias, como um sinal de força do ISIS. No início do mês passado, foram divulgadas imagens de cristãos sendo crucificados por soldados do ISIS na cidade de Raqqa.

Neste domingo (29), uma gravação postada na internet anunciou para o mundo que os jihadistas do ISIS estão restabelecendo o califado. Esse regime político, desaparecido há um século, significa na prática que seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, agora é o califa, e portanto será o líder dos muçulmanos em todas as partes do mundo.

Segundo o que essa organização terrorista, que nasceu no seio da Al-Qaeda, tem divulgado, pretendem instituir um regime fundamentalista islâmico em todo o Oriente Médio e norte da África. Isso pode ser visto como uma declaração de guerra a Israel, a quem eles prometeram aniquilar. Também pode ser encarado como uma ameaça real a todos os cristãos que vivem nessas áreas.

Fonte: Telegraph, Yahoo e G. Prime

Outra fonte da mesma notícia confirma as mortes mas dá a entender que os mortos não são cristãos mas muçulmanos. Veja!

http://edition.cnn.com/2014/05/01/world/meast/syria-bodies-crucifixions/index.html

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O ex-membro da Organização para Libertação palestina Walid Shoebat se converteu ao cristianismo, e resolveu expor ao mundo o massacre que extremistas islâmicos cometem contra cristãos em “rituais de sacrifícios humanos”.

Em vídeos que ele  encontrou e optou por disponibilizar ao mundo, muçulmanos matam cristãos de forma fria e sistemática, demonstrando crueldade e um nível de extremismo digno de terroristas.

No material exposto por Shoebat, há corpos retalhados e esquartejados e cabeças armazenadas em linha como se fossem troféus, além de execuções de homens enfileirados de joelhos, enquanto os muçulmanos fazem preces pedindo que Alá aceite seu sacrifício. Num dos vídeos mais chocantes, um extremista corta a garganta de um homem e o joga ainda agonizando numa cova.

“Relatamos essa história por causa do silêncio sobre o assassinato sistemático dos cristãos, minorias xiitas e até muçulmanos sunitas na Síria que não concordam com a teologia takfirista. A história é uma reminiscência para o relatório inicial sobre o extermínio dos judeus da Europa e de outras minorias quando pouca cobertura foi dada à verdade nestes dias”, disse Shoebat em entrevista ao portal WND.

Segundo o palestino que se converteu ao cristianismo, “os cristãos estão sendo mortos nestes mesmos rituais todos os dias, e o derramamento de sangue não vai parar. Devemos trabalhar juntos para resgatá-los “, convocou.

Os rituais macabros e cruéis de sacrifícios de cristãos já havia sido denunciado pela freira ortodoxa síria Hatune Dogan, que por conta própria conduziu uma investigação sobre casos de torturas a cristãos e descobriu que os radicais islâmicos da síria praticam um ritual de lavagem das mãos com o sangue, como parte do “sacrifício a Alá”.

Normalmente, muçulmanos usam água para os rituais de lavagem das mãos antes de suas preces. O sangue de cristãos vem sendo usado por fanáticos em suas preces, o que gerou um mercado negro de tráfico de sangue de cristãos.

As imagens, extremamente chocantes, podem ser vistas neste link.  ( Atenção!! As imagens são MUITO fortes e recomenda-se extrema prudência. Os vídeos vinculados e incorporados são extremos, mostrando execuções brutais e os corpos dos mortos nessas execuções)

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Homens carregam caixões de três cristãos, mortos enquanto iam para uma igreja para um funeral, em Damasco. Os relatos sobre cristãos mortos ao redor do mundo por causa de sua fé duplicaram

Os relatos sobre cristãos mortos ao redor do mundo por causa de sua fé duplicaram em 2013, comparado com o ano anterior, com os casos somente na Síria superando o total registrado em 2012, de acordo com uma pesquisa anual.

O Portas Abertas, um grupo sem denominação que presta apoio a cristãos perseguidos ao redor do mundo, disse ter documentado 2.123 homicídios de “mártires”, comparado com 1.201 em 2012. Houve 1.213 mortes desse tipo somente na Síria no ano passado, afirmou a entidade.

“Essa é uma contagem bastante mínima baseada no que foi relatado na mídia e que podemos confirmar”, disse Frans Veerman, diretor de pesquisas para a Portas Abertas. Estimativas de outros grupos cristãos colocam a contagem anual em 8 mil.

O Portas Abertas colocou a Coreia do Norte no topo de sua lista de 50 países mais perigosos para cristãos, posição que o nação asiática ocupa desde que a pesquisa anual começou a ser realizada há 12 anos. Somália, Síria, Iraque e Afeganistão vêm a seguir.

O grupo sediado nos Estados Unidos relatou um aumento da violência contra cristãos na África e afirmou que muçulmanos radicais foram a principal fonte de perseguição em 36 dos países que estão na lista.

“O extremismo islâmico é o pior perseguidor da Igreja mundial”, disse a entidade.

Cerca de 10 por cento dos sírios são cristãos. Muitos se tornaram alvos de rebeldes islâmicos que os consideram apoiadores do presidente Bashar al-Assad.

O relatório não traz dados sobre assassinatos na Coreia do Norte, mas diz que lá os cristãos enfrentam “a mais alta pressão imaginável” e que cerca de 50 mil a 70 mil vivem em campos para presos políticos.

Por Tom Heneghan

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Todos os números da admirável revista ecumênica “Touchstone” incluem uma seção intitulada “A Igreja que sofre”. É um título que os católicos associam ao purgatório, mas, neste caso, significa a Igreja que é purificada aqui e agora, devido à perseguição.

É uma lembrança útil de um tema desagradável. Este tema desagradável, de fato, raramente influencia a consciência dos cristãos, especialmente dos pertencentes à Igreja cômoda, tolerante, amável, ainda que a comissão histórica instituída por João Paulo II tenha mostrado claramente que os cristãos vivem atualmente o período de maior tribulação da sua história.

Esta comissão afirmou que houve mais cristãos assassinados no século 20 que nos 19 séculos precedentes de história cristã. Uma só página da “Touchstone” destacou que quase 1.200 protestantes foram presos nos campos de concentração do deserto da Eritreia, nos quais “a tortura é uma rotina”; Mustafá Bordbar, um cristão convertido, de 27 anos, foi preso e acusado de “reuniões ilegais e de ter participado de uma igreja doméstica” no Irã”; um líder muçulmano da Nigéria central sequestra regularmente meninas e mulheres cristãs, obrigando-as a converter-se ou voltar ao islã.

Durante este tempo, os cristãos temem cotidianamente pela sua vida na Síria e no Egito, duas sociedades que estão em processo de implosão e nas quais as facções e seitas muçulmanas majoritárias só concordam em uma coisa: a caça aos cristãos. Em duas décadas, talvez menos, o cristianismo poderia deixar de ser uma realidade eclesial vivente em muitos dos lugares nos quais nasceu; isso sem falar das cidades nas quais se desenvolveu o cristianismo sub-apostólico e patrístico. A única exceção a esta tendência no Oriente Médio está no norte da África e em Israel.

Tom Holland, um historiador famoso e autor de “A forja do cristianismo”, afirmou recentemente, em uma coletiva de imprensa em Londres sobre o ódio e as rivalidades sectárias no Oriente Médio, que “estamos assistindo a algo que, quanto ao horror, lembra a Guerra dos 30 anos europeia”. Na mesma coletiva, minha velha amiga e colega Nina Shea, diretora do Centro pela Liberdade Religiosa do Instituto Hudson de Washington, destacou algumas perguntas dirigidas à ignorância da mídia ocidental. Shea sublinhou que, no Egito, foi destruída recentemente uma igreja copta do século IV, dedicada a Nossa Senhora – e tal igreja estava à espera de ser declarada patrimônio mundial pela UNESCO. A igreja tinha 200 anos a mais que os Budas de Bamiyan (Afeganistão), que constavam na lista da UNESCO e cuja destruição, por parte dos talibãs, em 2001, foi amplamente comentada e universalmente divulgada; no entanto, os principais meios de comunicação trataram o ato de vandalismo religioso e cultural anticristão no Egito como se não houvesse acontecido nada.

O que é preciso fazer agora? Apoiar estas agências não governamentais que trabalham por sustentar a vida pastoral da cristandade nos lugares em que esta nasceu; pedir à diplomacia dos EUA que leve mais a sério a liberdade religiosa no Oriente Médio. E que a causa destes irmãos e irmãs em Cristo seja uma parte regular na oração litúrgica, recordando a Igreja perseguida nas intenções gerais de todas as missas, e rezando publicamente pela conversão dos perseguidores. Sim, pela sua conversão.

Fonte: Aleteia