Em 1996, sete monges da Ordem Cisterciense da Estrita Observância são raptados e assassinados em Tibhirine, aldeia aninhada na região argelina do Magrebe. É o culminar da escalada de violência que opõe o Grupo Islâmico Armado (GIA), extremista, ao governo que acusa de corrupto.

O impacto deste horrível desaparecimento, cujos contornos exatos estão ainda por esclarecer, estende-se até aos nossos dias, levado agora ao cinema sob direção do realizador francês Xavier Beauvois.

A obra, reconhecida com o Grande Prémio do Festival de Cannes e merecedora da forte e comovida chuva de aplausos que encheram o Palais des Festivals é uma extraordinária ode à fé, ao amor ao próximo e ao espírito de serviço que cumpre, em estilo e estrutura narrativa, o despojamento do seu sujeito.

Com efeito, é-nos dado comungar a forma abnegada como uma comunidade de homens lida com uma realidade adversa para a qual não contribui senão com a sua vocação de amor e dádiva. Uma vocação reafirmada ao arrepio das pressões externas para abandonarem a aldeia que servem à sua sorte.

Sem ceder a tentações sensacionalistas, Beauvois desvenda aos nossos olhos o dia-a-dia daquele pequeno mosteiro de Tibhirine, dos seus sete habitantes e da pacata população da aldeia local, induzindo progressivamente o adensar do contexto violento que involuntariamente envolve uns e outros.

Simples e acessível, a linguagem fílmica pretere o horror dos acontecimentos, trágicos, e da crescente violência, ao espírito com que aquela irmandade os enfrenta. Um espírito sustentado na sua extraordinária força e revitalizado na dúvida e fraqueza pela oração, pelo permanente desejo de união e comunhão, pelo tempo e oportunidade concedidos ao discernimento.

Mais que um nefasto episódio da história política ou religiosa, estamos perante uma obra que nos propõe um caminho, pela busca do verdadeiro sentido da vida: o que os sete monges sacrificados, na sua fé cristã, encontraram, e que Xavier Beauvois tão bem percorre, alumiando-o para crentes e não crentes.

Ecclesia


Resumo em espanhol. O restante está em português.

En 1926 el gobierno del presidente Mexicano Plutarco Elías Calles se propuso “descatolizar” a México para abrir el país a la “modernidad”. Con ese fin puso en marcha una feroz persecución contra la Iglesia Católica.

Una de las medidas fue la supresión del culto católico en toda la nación. Para defender su religión y libertad de culto, miles de campesinos y rancheros empuñaron las armas en lo que se conoce como la última Cruzada de Occidente. El heroísmo de aquellos hombres, mujeres y niños (ver: niño beato José L. Sanches), en su mayoría gente sencilla y sin entrenamiento militar, produjo una formidable resistencia al tirano. Los soldados del gobierno llamaron despectivamente “cristeros” a los valientes cruzados porque llevaban la cruz sobre el pecho y gritaban “Viva Cristo Rey” antes de ser fusilados.

No todos los llamados cristeros formaban parte de la resistencia armada. Innumerables mártires, entre ellos sacerdotes y religiosas fueron perseguidos solo por su fe.

Los cristeros fueron vencidos por la traición y el engaño pero no sin antes enriquecer a México con innumerables mártires, algunos de ellos canonizados o beatificados por Juan Pablo II. Los cristeros fueron y son una inspiración para los mexicanos y todos los fieles. Gracias a su sacrificio la Iglesia Católica pudo sobrevivir, aunque ilegal, a lo largo de buena parte del siglo XX.
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A guerra dos Cristeros

“No dia 31 de Julho de 1926, alguns homens fizeram com que Nosso Senhor se ausentasse de seus templos, de seus altares, dos lugares dos católicos, mas outros homens fizeram com que voltasse; estes homens não viram que o governo tinha muitos soldados, muito armamento e muito dinheiro para fazer-lhes a guerra; isto eles não viram, o que viram foi defender seu Deus, sua Religião, sua Mãe, que é a Santa Igreja, isto é o que eles viram.

A estes homens não importou deixar suas casas, seus pais, seus filhos, suas esposas e tudo o que possuíam; foram aos campos de batalha procurar Deus Nosso Senhor. Os rios, as montanhas, os montes, as colinas são as testemunhas de que aqueles homens falaram a Deus Nosso Senhor com o Santo Nome de Viva Cristo Rei, Viva a Santíssima Virgem de Guadalupe, Viva o México.

Os mesmos lugares são o testemunho de que aqueles homens regaram o solo com seu sangue e, não contentes com isto, deram mesmo suas vidas para que Deus Nosso Senhor voltasse. E vendo Deus Nosso Senhor que aqueles homens realmente o procuravam, se dignou vir outra vez a seus templos, a seus altares, aos lugares dos católicos como estamos vendo agora, e recomendou aos jovens de hoje que, se no futuro aparecer novamente o problema, não se esqueçam do exemplo que nos deixaram nossos antepassados” (carta de Francisco Campos, Santiago Bayacora, Durango).

Trechos de um livro que retrata a perseguição. Leia, é muito interessante.

Capítulo 1

A Premeditação — 31 de julho a 31 de dezembro de 1926
31 de Julho; Último Dia de Cultos.

“Desde o dia em que o Episcopado anunciou sua decisão de suspender o culto público, começou a aparecer gente para colocar em ordem suas consciências, apesar de ser tempo de cultivo na lavoura. Cada dia que passava, aumentava a aglomeração de gente nas povoações, de todos os ranchos vizinhos acudia gente, em todos os semblantes se via a inquietação, em todos os olhos se via a tristeza, e das bocas só saía a pergunta: A que se deve isto? Por que fecham as igrejas, o que está acontecendo? E só se respondia: Quem sabe? Eu não sei.

Em uma paróquia havia três sacerdotes, mas foram insuficientes para confessar tanta gente, não tinham tempo nem descanso para tomar seus alimentos, passavam os dias desde muito cedo até altas horas de noite sentados nos confessionários, mas não lhes foi possível confessar aquela multidão.

Os dias e as horas transcorriam e passavam e se dissipavam. E a gente cabisbaixa e pensativa, que não acatava e não aceitava, decidia (sic) que não estava de acordo com aquela lei dada a conhecer e executada tão de repente; havia caído como um raio em todos os corações e em todas as mentes… Mas não havia remédio, tinham de obedecer. Mas não era somente isto: a lei arbitrária ditada por Plutarco Elías Calles não terminava com fechar os templos, mas que Deus tinha de sair dali, apesar de Ele ter dito: ‘Estarei convosco até a consumação dos séculos’. Esta promessa tinha de ser quebrada, Ele tinha de ir para as matas, Ele tinha de abandonar sua casa, assim como Ele um dia expulsou os mercadores do templo dizendo-lhes: ‘Minha casa é casa de oração’, mas um dia teve de deixá-la e fugir como um criminoso porque Calles o havia ordenado. Fechou-se o templo, o sacrário ficou deserto, ficou vazio, Deus já não está aí, foi-se para ser hóspede de quem queria dar-lhe pousada mesmo temendo ser prejudicado pelo governo; já não se ouvia o badalar dos sinos que chamam o pecador para que vá fazer sua oração. Só nos restava um consolo: que a porta do templo estava aberta e os fiéis, de tarde, iam rezar o Rosário e chorar suas culpas. O povo estava de luto, acabara-se a alegria, já não havia bem-estar nem tranqüilidade, o coração se sentia oprimido, e para completar tudo isso o governo proibiu reunião na rua como acontece se uma pessoa fica de pé diante de outra, pois isto era um delito grave” 1.

“Neste dia haveria missa solene às 12 horas da noite, e, desde que terminou o exercício vespertino, a nave do templo era materialmente insuficiente para a imensa multidão de fiéis. As visitas de joelhos, desde a porta até o altar, sucediam-se. Ninguém queria ver chegado aquele momento tão doloroso, mas Deus permitiu que assim fosse. Às 11:30h, os sinos com um alegre repicar, ou então com lúgubre canto, chamam para a missa. A Adoração Noturna, as associações piedosas e os agrupamentos católico-sociais, com seus contingentes e respectivas bandeiras, fizeram ato de presença com todos os fiéis.
Às 12 em ponto foi feita a Exposição do Santíssimo, e, na seqüência, começou a Santa Missa. Depois do Evangelho, nosso querido Pe. González ocupou o púlpito… Logo que ele apareceu na tribuna, começou o pranto de todo o povo reunido aos pés de Jesus Hóstia. As palavras do padre, também cheias de dor, eram interrompidas… A missa continuou, e nela houve comunhão geral, e, terminado o Santo Sacrifício, nos foi dada a bênção com o Ostensório… Finalmente, o padre, sem os paramentos, ajoelhou-se ao pé do altar, com os olhos fixos na imagem do senhor das Misericórdias, despediu-se d’Ele e saiu misturado com os fiéis; Cristo e seu Ministro tinham ido embora.” 2

“Mas naquele dia já não havia alegria, já não havia tranqüilidade, sentia-se algo estranho, todos os ânimos exaltados, exclamações de dor. Valha-nos Deus! Que nos irá acontecer? Certamente é o fim do mundo, diziam outros, e também outros diziam que são nossos pecados, que é isto e nada mais, e por todas as ruas se viam como multidões quando se pressente que vai chover. Muita surpresa causava ver pessoas que viviam afastadas dos sacramentos procurar o confessor para receber o perdão de seus pecados, outros, que viviam amasiados, pedindo que fossem unidos pelo matrimônio como Deus manda, e grande quantidade de batismos.

Por fim foi rezado o rosário com grande fervor, com um eloqüente sermão, e depois o Santo Sacrifício da missa, pois era meia-noite, nem a igreja se fechou porque tantos fiéis acudiam aos sacramentos… não houve quem dormisse nessa inesquecível noite, comentando o futuro… Terminada a missa foi dada como despedida a bênção com o Santíssimo Sacramento, ficando tudo escuro. Meu Deus! Como descrever esta tremenda hora? Meus nervos se crispam, minha mão treme ao descrever o que se via e o que se ouvia. Acabava de se retirar o pai, e seus filhos… ficamos órfãos… Ficou aquele santo lugar como um mar de lágrimas; no meio das trevas saía a gente… repercutindo nas abóbadas todos os ais de dor que saíam de todas as bocas… ao sair em meio de tanta confusão tinham medo, porque gente em todos os lados gritava ‘o diabo, o diabo’…” 3

24 de Julho de 1926: O Episcopado mal havia decretado a suspensão
do culto público em todo o México. Esta medida, inaudita na história da
Igreja Universal, serviu para dar impulso à reação de 31 de Julho.De 24
a 31 de Julho, dia e noite, filas enormes formavam-se nas portas das igrejas,Centenas de
milhares de confissões, milhares de batismos e casamentos foram aqui
administrados. Nestes dias de confusão, suplicavam os fiéis pela benção
de Jesus Sacramentado.

A Mobilização

Desde o começo, os bispos haviam declarado que a Igreja não podia consentir em ver a religião servindo de bandeira a um grupo político, e “ainda menos aprovar o levantamento armado, já que isto seria prejudicial para o povo e para o país”. “A Igreja opõe-se absolutamente ao uso da força armada para solucionar os problemas mexicanos” 4.

Haviam, pois, adotado suas medidas para evitar qualquer ocasião de conflito e acalmar os ânimos; por isso haviam decidido não fechar as igrejas, mas somente suspender o culto, pois fechar as igrejas poderia ser considerado “uma provocação para que o povo se rebelasse” 5.

O fogoso Manriques y Zárate, que não vacilava em desafiar a cólera do presidente Calles chamando-lhe mentiroso, sempre havia proibido a seus fiéis recorrer à violência. Mons. Herrera y Piña, arcebispo de Monterrey, em sua instrução pastoral de 10 de março, recordava uma vez mais que “nunca será lícito recorrer à rebelião ou à violência para recobrar os direitos atualmente negados aos católicos. Quando não se pode impedir o mal com os escassos meios legais que ficam, devemo-nos limitar a uma atitude passiva, sem jamais esquecer o respeito devido às autoridades como representantes de Deus, pois, se elas abusam do poder, não nos compete pedir-lhes contas”.

Todos os bispos empregaram mais ou menos os mesmos termos nas vésperas da suspensão dos cultos: “Volto a recomendar encarecidamente aos católicos que se abstenham de toda e qualquer manifestação que possa trazer desordens consigo. A oração, o sofrimento e a penitência nos salvarão” 6.

O arcebispo de Puebla fez publicar na imprensa seu chamamento à serenidade, determinando “que não se insultem os militares… limitando-se a insistir sobre o Memorial” 7.
“Nós vos recomendamos com vigor que vos abstenhais de toda e qualquer violência e que confieis em… Deus” 8.

Mas o governo, depois da publicação da pastoral coletiva, havia ordenado às autoridades municipais que jamais devolvessem as igrejas a comitês vinculados ao clero, que fechassem e selassem todos os edifícios anexos aos templos e finalmente que fizessem um inventário deles antes de entregá-los aos comitês e de abri-los ao público. Os bispos reagiram, fazendo saber que não era permitido aos católicos fazer parte destes comitês nomeados pelas autoridades, e alguns até chegaram a declarar que as igrejas controladas por tais comitês estavam interditadas e que os católicos não podiam voltar a entrar nelas. Os católicos também não deviam ajudar a redigir as listas de sacerdotes, de igrejas, ou fazer inventários9.

Isto era procurar dificuldades muito sérias e tornar inevitável a violência. As autoridades de Sinaloa e Coiahuila compreenderam-no tão bem, que consultaram o clero quanto à conveniência da formação das famosas “juntas vecinales” (assembléia de vizinhos), o que permitiu que os inventários fossem feitos tranqüilamente e que as igrejas voltassem a se abrir sem incidentes10.

Mas estes estados foram exceção. E o que até então tinha ficado ausente, o povo, “o índio” de que nos falam os governantes, ainda que o povo esteja longe de ser composto somente de índios, reagiu. E reagiu violentamente.

A população local, apegada às suas igrejas, viu no inventário uma profanação e reagiu com extrema violência, apesar de todas as precauções adotadas, sem que fosse possível livrá-la da manobra dos instigadores. Nota-se o fato de que nos informes policiais consultados nos estados de Jalisco, Querétaro e Zacatecas não se encontra esta explicação.

O governo, assim como a Igreja, havia considerado e rechaçado a possibilidade de uma reação popular. Silvino Barba González conta que o presidente Calles, para resolver uma crise de política local, lhe propôs o posto de governador de Jalisco e que ele o recusou. Ante o assombro do presidente, disse-lhe: “Já arrisquei a vida várias vezes e continuarei a arriscá-la quando houver bons motivos para fazê-lo, mas não quando considere que todas as circunstâncias estão contra mim, como vejo claramente neste caso… Senhor presidente, o senhor não quer acreditar que os católicos fanáticos de meu estado vão levantar-se em armas, porque assim me deu a entender quando falamos sobre o assunto.

O senhor general Joaquín Amaro, secretário de Guerra e Marinha, com quem tenho sincera amizade como o senhor sabe, também não quer crer, e o senhor general Jesús Ferrera, chefe das operações militares de Jalisco, também é da mesma opinião. Isto quer dizer que ao se realizar a sublevação, que eu considero absolutamente certa, o governo a meu cargo não contará com o apoio nem com a ajuda das forças armadas da Federação… Eis aqui uma carta (que prova estas coisas).

Insistiu em seguida o senhor presidente, dizendo-me que continuava a acreditar que não poderia haver sublevação armada…” Barba González tentou convencê-lo de que “os dirigentes do clero, aproveitando certo desgosto que eles mesmos lograram despertar no povo por motivo das últimas regulamentações…”, iam tentar derrubar o governo11. Isto ocorria em 1926.

Se o presidente não podia acreditar na resistência do povo, se não via nas filas dos manifestantes nada mais do que beatas e anciãos, se pensava que os católicos careciam de virilidade, a realidade entretanto era outra: entre o governo e o povo o ritmo era diferente, e a carnificina ia começar; o assunto escapava aos bispos e passava às mãos dos católicos, que, “pondo-se unicamente no terreno da fé, parece que serão ainda mais intransigentes do que os chefes do Episcopado. Uma efervescência inquietante brotava em todos os lados, e o nervosismo público aumentava” 12.

Os responsáveis pela ordem local, conscientes da ameaça, como Silvino Barba González, e como os militares, reprimiram “com ferocidade selvagem os motins e distúrbios que surgiam aqui e ali”, o que “fazia recordar os regimes mais tirânicos da história mexicana” 13.

Assim, dois dias antes da suspensão dos cultos, o ancião José García Farfán foi fuzilado em Puebla, pelo general Juan Guadalupe Amaya, por haver cometido o crime de ter no armário um cartaz com os dizeres “Viva Cristo Rei!”, fórmula já sediciosa, futuro grito de guerra daqueles a quem o governo, por zombaria, iria chama cristeros.

As novidades do mês de agosto produziram a mobilização e a exasperação da população. As cidades onde houve resistência — isto acontecia principalmente no campo — foram postas em estado de sítio, enquanto as igrejas eram defendidas por centenas de manifestantes. O governo não quis ver nisso outra coisa além de uma reação de “índios embrutecidos pelo clero” e submissos pelo fanatismo — a frase repete-se em todas as notícias. O elemento determinante foi o apego à Igreja e a vontade de defendê-la, para defender uma religião profundamente entranhada; a Igreja era algo mais do que um edifício de pedras amontoadas, e a sensibilidade popular havia sido afetada na sua própria vida, uma vez que o profano e o sagrado se misturam inextricavelmente. Enquanto o governo sai de seus livros, de seu parlamento, de suas leis para agir contra a vida da fé, sua intervenção aparece como um sacrilégio e provoca uma verdadeira rebelião que prepara os levantamentos futuros.

O trauma experimentado na noite de 31 de julho, com seu pesadelo, é a origem direta da insurreição. Mais de um, prostrado nas trevas na passagem do Santíssimo Sacramento, adotava individualmente a decisão. Foi na manhã seguinte, quando Aurelio Acevedo deu liberdade a seu “cavalo com o objetivo de encontrar carnes para que pudesse resistir ao duro trabalho a que estaria sujeito terminando as chuvas” 14. Este “duro trabalho” é a guerra, que Aurelio Acevedo preparava sem mais tardança, visitando todos os seus companheiros, do sindicato camponês de Valparaíso.

Desde o começo da crise o povo estava em efervescência. Quando em março de 1926 o general Ortiz se apresentou para deter os sacerdotes de Valparaíso (Zacatecas), ‘o povo católico se alarmou… enviaram avisos para todas as redondezas, de modo que ao amanhecer já se tinha notícia até Mezquitic. Amanheceu com a povoação repleta de gente, mais que nas grandes solenidades, e nos limites da povoação havia gente armada, pois haviam combinado que, se Ortiz o levasse, eles se lançariam sobre ele. Deus não o permitiu” 15.

A mobilização começou realmente a partir da semana da Paixão de 1926, quando na maioria das dioceses se fez penitência para pedir misericórdia. De março a dezembro, incansavelmente o povo recorreu a “penitência e mais penitência, orações públicas, cantos de penitência…. Mas a angústia crescia, porque o governo permanecia insensível a tudo o que os católicos faziam e pediam, e com isto aumentava a fúria… não se podiam suportar tais ordens, isto era uma canalhice do governo; já sentíamos os católicos odiá-lo mais do que ao próprio Satanás…. o açoite estava sobre nós” 16.

Já se começava a falar da guerra que havia começado aqui e ali, e fazia-se penitência, “entrando de joelhos no templo, rezando o rosário para ver se Deus lhes concedia que não houvesse revolução para não derramar tanto sangue” 17.

Durante estes meses, enquanto a esperança de vencer pacificamente ia diminuindo, um espírito novo tomava corpo, e as decisões, às vezes inconscientes, eram esclarecidas. É a época das assembléias permanentes, o tempo em que todo o povo monta guarda noite e dia, homens, mulheres, crianças e anciãos em suas igrejas, enquanto as peregrinações, as procissões, os atos públicos de penitência reúnem grandes multidões e constituem uma espécie de insurreição não-violenta, pois escarnecem as leis do governo.

Em Cocula (Jalisco), desde 1º de agosto a igreja estava guardada noite e dia por 100 mulheres no interior e 150 homens no átrio e no campanário. Os cinco bairros de Cocula se revezavam em turnos, e a cada alarme era dado um sinal. Então todos acudiam imediatamente, como conta Porfiria Morales.
No dia 5 de agosto tocou o sino quando ela estava na cozinha; sua criada María exclamou: “Ave, Maria Puríssima!” Tirou o avental, tomou seu manto e um pedaço de pau, e, quando ela lhe perguntou aonde ia, respondeu-lhe: “Que pergunta da minha senhora! Não ouve o sino que chama os católicos da Unión Popular? Em primeiro lugar as coisas de Deus!” E saiu deixando as panelas no fogo18.

Já em agosto “foram organizadas peregrinações de uma povoação para outra, fazendo-se assim ato de fé publicamente”; assim todos os dias, milhares de peregrinos percorriam o campo, de Etzatlán a Ahualulco, de Ahualulco a San Pedro, de San Pedro a Etzatlán19. O mesmo fenômeno se repetiu em muitas outras partes: “Os atos de penitência foram incontáveis… peregrinações todos os dias, de manhã e de tarde, todos rezando o rosário ou a Via Crucis coroados de espinhos e com os pés descalços… não se deixou de ver alguma desordem por se haverem atacado diretamente algumas das mulheres que acompanhavam os soldados…” De San Martín Hidalgo, nove mil pessoas vão descalças até Cocula, levando os estandartes das confrarias e dos sindicatos católicos; de Cocuta onze mil pessoas marcham até San Martin e dali até Atemajac de Brizuela. “Muita gente foi ao encontro levando cestas de flores; davam a cada peregrino um ramalhete de flores, e seguiam na retaguarda rezando o rosário e cantando o hino guadalupano, Viva Cristo Rei” 20. De Atemajac marcharam até Cocula em companhia dos habitantes das aldeias encontradas no caminho, para celebrar a festa de Cristo Rei e jurar morrer por ele; juramento feito diante da bandeira mexicana. “Grossas lágrimas corriam no rosto de todos os assistentes.”

No dia 12 de dezembro, a festa da Virgem de Guadalupe deu ocasião a novas peregrinações, que eram outras tantas assembléias públicas da Unión Popular, em que eram cantados os mistérios do rosário e se falava em tomar as armas21.

Os choques com o governo se multiplicavam, e deles nasceu a guerra; ao lado das provocações puras e simples, todos os atos das autoridades eram sentidos como agressões: desde o fechamento das igrejas torpemente ordenado pelo governo até a execução dos inventários, e os próprios inventários, a detenção de sacerdotes ou de dirigentes seculares eram outras causas diretas dos levantamentos defensivos de 1926.

O desprezo com que o governo considerava as negociações pacíficas, como a petição ao Congresso, acabou por convencer os católicos: “Centenas de pessoas já assinamos papéis que foram enviados a Calles e seus sequazes, mas tudo foi inútil; foram feitas mais cartas, que também assinamos, e foram enviadas a Calles, mas nossos protestos foram jogados na cesta de papéis inúteis, e os sequazes de Calles se consideraram muito grandes e mais nos apertaram, matando pessoas e confiscando os bens particulares de católicos”22.

“Eu, ignorante mas com brio, ao saber dos novos atos deste governo, exaltei-me […]; assim eram meus sentimentos, fui à procura de gente armada e disposta à guerra em defesa da liberdade, de Deus e dos próximos.” 23

Nas assembléias se delineava claramente o problema: “Opinavam que seria necessário, por meio das armas, fazer uma revolução para ver se assim poderiam combater o governo, e Victoriano Ramírez (futuro grande chefe da guerra nos Altos de Jalisco) disse: ‘Não há mais remédio, nada mais do que atirar balaços’.” 24

Por toda a parte reinava esta opinião, o mesmo em Coalcomán (Michoacán), em Santa María del Valle (Jalisco), em Cocula (Jalisco) ou em Santiago Bayacora (Durango), cujos habitantes reunidos em assembléia se perguntavam: “O que vamos fazer?” e respondiam como uma só pessoa: “Uma revolução!” 25. Mas “como tinha de ser assim se ninguém entendia de armas e muito menos sabia organizar tal movimento?… Todos tinham medo, nunca ninguém havia visto algo igual ao que se estava pensando, e sentiam-se inúteis para determiná-lo” 26.

  1. 1.Manuscrito de X, em Tlaltenango.
  2. 2.Cecilio Valtierra, “Memorias de mi atuación en el movimiento cristero em Jalpa de Cánovas, Guanajuato, em David, tomo II, pgs.312 e 317.
  3. 3.Josefina Arellano, “Narración histórica de la revolución cristera en el pueblo de San Julián, Jalisco, pgs.14, 15 e 16 (manuscrito em três cadernos).
  4. 4.Pascual Díaz ao New York Times, 5 e 30 de agosto de 1926.
  5. 5.Pascual Díaz a Roma, em Carreño, obra cit. pg.123.
  6. 6.Exortação pastoral de Francisco Banegas, bispo de Querétaro, 29 de julho

    de 1926, volante.
  7. 7.El Universal, 31 de julho de 1926.
  8. 8.Querétaro, 31 de julho de 1926.
  9. 9.Emeterio Valverde y Téllez, bispo de León, 29 de julho de 1926, documento original. Volante em AAA.
  10. 10.Arquivos Coahuila, leg.36, exp.6, 1926.
  11. 11.S.Barba González, “Los cristeros”, México 1967, pgs.35 e seg.
  12. 12.Lagarde, pg.90.
  13. 13.Idem pg.88.
  14. 14.Meyer/Acevedo.
  15. 15.Diário do padre Arroyo, 1 de março de 1926.
  16. 16.Josefina Arellano, obra cit.
  17. 17.J.J.F. Hernández, “Tierra de cristeros. Historia de Vitoriano Ramirez y de la revolución cristera en Los Altos de Jalisco”, manuscrito de trezentos e setenta e nove páginas.
  18. 18.David, t.IV, pg.188.
  19. 19.Meyer/Pedro Martinez, 1968.
  20. 20.”Datos históricos de los trabajos de la Union Popular en la ciudad de Cocula y datos de la defensa armada”, quarenta e seis páginas manuscritas.
  21. 21.Idem.
  22. 22.Meyer/Ezequiel Mendoza Barragán, 1967, pp. 68-69.
  23. 23.Idem.
  24. 24.J.J.F. Hernández, “Tierra de cristeros…”.
  25. 25.Andrés Lira/Francisco Campos, 1969.
  26. 26.Josefina Arellano, obra cit.

Jornal” O Público”

Bernard-Henri Lévy defendeu esta semana, no El Pais, que “os cristãos formam hoje, à escala planetária, a comunidade perseguida de forma mais violenta e na maior impunidade”. Mais: “enquanto o anti-semitismo é considerado um crime e os preconceitos anti-árabes ou anti-ciganos são estigmatizados, a violente fobia anti-cristã que percorre o mundo não parece ter qualquer resposta”.

Curiosas palavras vindas de um não-cristão, interessantes considerações proferidas por quem, em tempos, ajudou a fundar o SOS-Racismo. E singularmente coincidentes com as de Bento XVI que, na sua mensagem a propósito do  Dia Mundial da Paz, também notou que “os cristãos são, actualmente, o grupo religioso que padece o maior número de perseguições devido à própria fé”.

São raras as notícias sobre estas perseguições, mas isso não significa que elas não existam – apenas que não lhes é dada a importância que merecem. Parece mesmo existir uma espécie de sentimento de culpa que leva a que, ao mesmo tempo que se destacam os ataques aos crentes de outras religiões, se subvalorizam aqueles de que são vítimas os cristãos – católicos, ortodoxos, evangélicos, batistas e por aí adiante.

Vejamos alguns exemplos recentes

Na Nigéria o Natal foi marcado por uma série de atentados, de que resultaram 86 mortos, todos reivindicados por uma organização islamista.
Em Hanói as autoridades proibiram uma celebração protestante e a polícia carregou sobre os crentes que rezavam na rua.
No Azerbaijão foi aprovada legislação que aumenta as multas aplicáveis a todos os grupos que tenham actividade religiosa sem antes se terem registado oficialmente.
No Paquistão uma mulher cristã, Asia Bibi, foi condenada à morte por blasfémia.
No I foram muitos os cristãos que passaram o Natal na cadeia, alguns deles acusados de apostasia (terem trocado a fé muçulmana por outra).
Pouco antes do Natal um grupo de cristãos coptas foi morto no Egito perto da sua igreja.
Nas Filipinas uma bomba feriu 11 pessoas durante uma missa no dia de Natal. Na cidade chinesa de Chendgu a polícia invadiu uma igreja na véspera de Natal e levou presos 17 crentes, incluindo uma mulher grávida.
Na Índia ocorreram ataques contra comunidades cristãs conduzidos por fundamentalistas hindus.
E, no Iraque, onde a intensidade do ataque às comunidades cristãs tem levado a um êxodo em massa, várias cerimónias natalícias foram canceladas após terem sido recebidas ameaças de grupos ligados à Al Qaeda.

Bernard-Henry Levy acrescenta a estes muitos outros exemplos, incluindo a prisão de uma jovem internauta na Palestina de Mahmud Abbas, a tentativa de assassinato do arcebispo de Kartum, Gabriel Zubeir Wako, a perseguição aos cristãos evangélicos da Eritreia, ou a morte a tiro do padre Christian Bakulene na República Democrática do Congo.

O terrível destino da comunidade de monges franceses que vivia num mosteiro católico na Argélia e foi assassinada por um grupo de fundamentalistas islâmicos, e que Xavier Beauvois nos conta no belíssimo filme “Dos Homens e dos Deuses” , está longe de ser um exemplo isolado de violência sectária.

Não faltará quem, como alerta o filósofo francês, esteja pronto a fechar os olhos perante estes crimes lembrando o antigo estatuto de religião dominante do Cristianismo. É um disparate imenso sob todos os pontos de vista. Primeiro, porque todas as vidas humanas têm o mesmo valor, e nada nos permite diminuir a integralidade de qualquer ser humano, seja ele hindu, muçulmano, ateu ou cristão. Depois, porque se é verdade que os cristãos, como tantos outros, promoveram “guerras santas”, não se pode ignorar que a emergência dos valores modernos da liberdade, da igualdade e da dignidade humana medrou em sociedades cristãs, nelas tendo ganho corpo e foros de cidadania muito antes de tal ocorrer noutras civilizações.

É bom recordar, por exemplo, que na primeira república democrática moderna, os Estados Unidos, a liberdade religiosa antecedeu a liberdade política e, como justamente notou Tocqueville, a forte presença da religião na sociedade não impediu a criação de um Estado forte e separado das igrejas.

Bento XVI, que dedica precisamente a sua mensagem de 1 de Janeiro de 2011 à liberdade religiosa, nota que esta se radica “na própria dignidade da pessoa humana” e está “na origem da liberdade moral”, pois se estabelece que “cada homem e cada grupo social estão moralmente obrigados, no exercício dos próprios direitos, a ter em conta os direitos alheios e os seus próprios deveres para com os outros e o bem comum”, como proclamou o Concílio Vaticano II.

Invocando a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Papa defende que excluir a religião da vida pública torna mais difícil “orientar as sociedades para princípios éticos universais” ou “estabelecer ordenamentos nacionais e internacionais nos quais os direitos e as liberdades fundamentais possam ser plenamente reconhecidos e realizados”.

Na mira do chefe da Igreja Católica está um laicismo radical que se traduz na “hostilidade contra a religião” e numa limitação ao “papel público dos crentes na vida civil e política”. É neste quadro que Bento XVI não se limita a desejar que terminem as perseguições sectárias aos cristãos na Ásia, em África ou no Médio Oriente, mas também faz votos para que “cessem no Ocidente, especialmente na Europa, a hostilidade e os preconceitos contra os cristãos pelo facto de estes pretenderem orientar a própria vida de modo coerente” com os seus valores.

Em causa não está a laicidade das instituições ou o direito de crítica, que no Ocidente é exercida com veemência sem que suscite apelos à censura por parte das igrejas cristãs (ao contrário do que sucede com os muçulmanos). Em causa está, isso sim, saber se é legítimo despedir uma enfermeira em Inglaterra porque esta insistiu em usar um crucifixo. Ou se, também em Inglaterra, é legítimo levantar um processo contra um psicólogo que distribuiu aos seus colegas de serviço um desdobrável sobre os efeitos negativos do aborto com base no argumento de que isso é “perturbador”.

Entretanto chegam-nos de Espanha outro tipo de notícias perturbantes. Em Lérida um imã radical criou uma milícia privada que anda pelas ruas a perseguir os muçulmanos que têm comportamentos não ortodoxos (na forma de vestir, por exemplo), perante a indiferença das autoridades. Enquanto isso, na província de Cádiz, um jovem muçulmano fez queixa na polícia do seu professor de geografia por este ter falado, nas aulas, das condições em que fabricava presunto (o ministério público espanhol teve, neste caso, o bom senso de arquivar a queixa).O contraste entre estas situações faz-nos regressar à ideia de que tendemos a olhar para a violência anti-cristã com critérios mais condescendentes ou mesmo com um espírito compreensivo.
É como se entendêssemos que todos os cristãos devem carregar um novo “fardo do homem branco”, sendo obrigados a penar, pelos cinco continentes, os pecados da colonização e, por isso, sendo sempre culpados de todos os males mesmo quando estão inocentes…

Em 31 de Outubro deste Ano, um Grupo de terroristas muçulmanos invadiu uma Igreja Católica em Bagdá, manteve reféns de Todos os fiéis Por Cerca de Cinco Horas e massacrou varias dezenas de PESSOAS.

O testemunho abaixo é de Shahad Zuhair marzina, Estudante Universitária.

O fato é inacreditável e anos ajuda a perceber o que significa ser cristão nos dias de hoje em muitos paises do mundo.

Talvez pelo fato de vivermos em um país de relativa liberdade religiosa nos faz sentir estes dramas distantes e longíquos e nos acomoda em nossa fé “tranquila”, sem muitas exigências e quase invisível, em um mundo desorientado e egoísta, onde a dor só incomoda quando atinge pessoalmente.

Oremos pelos nossos irmãos martirizados em todo o mundo e nos questionemos se o mesmo acontecesse no Brasil onde nós estaríamos em nosso seguimento a Jesus Cristo em sua santa Igreja.

Entre as vítimas dessa tragédia insana está um garoto chamado Adam, muito citado pela tia no testemunho acima.

Adam, de Três anos, presenciou o horror de dezenas de mortes, incluindo a de seus próprios pais. Ele vagava entre os cadáveres e sangue, com os terroristas ao redor e aconselhando-os, “basta, basta, basta.”

De acordo com testemunhas, isto continuou durante duas horas até que Adão foi assassinado.

Notícia  que reforça essa preocupante situação divulgada hoje, 25 de dezembro

Um padre e cinco paroquianos ficaram levemente feridos em uma explosão de bomba durante o Dia de Natal na capela da polícia no sul das Filipinas, disse o exército neste sábado, 25.

Nickee Butlangan/AP
Nickee Butlangan/AP
Ainda não se sabe quem promoveu o ataque; feridos não correm risco de morrer

O explosivo improvisado estava escondido no teto da capela, que fica dentro da área policial na cidade de Jolo localizada na ilha de Jolo, fortaleza dos militantes ligados à Al-Qaeda, disse o porta-voz do Exército Randolph Cabangbang.

Os feridos foram levados ao hospital, mas não correm risco de morrer, ele disse, acrescentando que o telhado da capela ficou danificado.

Não se sabe ainda quem é o responsável, mas a ataques a bomba semelhantes na província da ilha de maioria muçulmana tem têm sido atribuídos a guerrilhas de Abu Sayyaf, que têm ganhado notoriedade por sequestros e decapitações.

Jornal La Stampa- Itália

Evangelho de sangue. Oculo XX foi o século com o maior número de mártires cristãos.

O século XXI corre o risco de ser o da descristianização de quadrantes inteiros do planeta. “Existe o perigo de que um mundo de convivência desapareça”, admite Mario Marazziti, porta-voz da Comunidade de Santo Egídio, “diplomacia laica” da Igreja. “Já desapareceu em parte nos Bálcãs, em Argel e Casablanca, em Istambul. O Oriente Médio empobrece, mesmo que milhares de cristãos emigrantes (filipinos, indianos) possam se tornar a salvação para as antigas Igrejas cristãs árabes”.

Não há alternativa para a arte do conviver e para o diálogo (“mais difícil quanto mais necessário”), indica Marazziti: “Descontemos a década do 11 de setembro e da guerra, que tornou mais difícil a vida dos cristãos. E essa globalização com grande crise social e financeira. Mas não há alternativa”. Demonizar o outro, no fim, “sempre é um bumerangue, até porque o radicalismo islâmico é um perigo também para o Islã”. O diálogo faz mais mal à Al Qaeda do que qualquer outra estratégia.

A religião mais atingida

“O futuro dos cristãos é aleatório, a sua fuga dos países islâmicos é um dado irreversível, mesmo que a Santa Sé não cesse de se comprometer para que eles permaneçam nas suas terras”, adverte o ministro da Imigração do Vaticano, Antonio Maria Vegliò.

“Muitos, principalmente no Líbano, Síria, Iraque, Irã, Egito, Líbia, Israel, Palestina, abandonam sua pátria porque a guerra e a situação social, econômica e política os levam para outros lugares, em busca de um destino melhor”. O quadro é “inquietante”.

Na Argélia, o proselitismo é proibido.

Na Bielorússia, os textos religiosos são censurados.

Na China, entre os 70 milhões de cristãos, as Bíblias circulam clandestinamente.

Na Coreia do Norte, é proibida qualquer forma de religião e exceção da ideologia ateia.

Na Índia, a conversão é proibida por lei.

“A convocação no Vaticano do Sínodo especial para o Oriente Médio expressa a preocupação do Pontífice com o êxodo e a emigração forçada dos fiéis”, explica o cardeal Achille Silvestrini, ex-ministro do Exterior da Santa Sé. “O cristianismo é, no mundo, a religião que paga o preço mais alto pela perseguição“. Mas “o sangue dos mártires, há 2 mil anos, é semente de nova fé e ainda será assim”, evidencia o teólogo Gianni Gennari, que lembra as palavras de João XXIII no começo do Concílio: “É apenas o início”. Da mesma forma que, naquele momento, “muitos pensavam erroneamente que o futuro seria curto e adverso”, hoje “a intolerância parece prevalecer, mas a esperança não irá desiludir”.

Expansionismo islâmico

O expansionismo islâmico, indica Gennari, “é um fato devido também à emigração e à pobreza injusta em que muitos interesses reduzem grandes massas de povos orientais”. A fé em Jesus é contrastada por jihadistas asiáticos e africanos, comunistas ateus, fanáticos hindus ou nacionalistas budistas: da Nigéria ao Vietnã, do Iêmen à China, da Argélia à Indonésia.

“É preciso liberdade religiosa e diálogo para remediar, com a convivência de família de credos religiosos diversos, o empobrecimento do tecido civil que alimenta violências e conflitos”, afirma o cardeal Silvestrini, monitorando os cristãos martirizados no Iêmen, perseguidos no Sudão, mortos no Afeganistão.

“Em San Bartolomeo, na Ilha Tiberina, em Roma, está o único memorial do mundo dos mártires contemporâneos, cristãos de todas as confissões”, destaca Marazziti. “Enquanto isso, no Iraque, se olha para a planície de Nínive como zona neutra entre curdos e muçulmanos. Há um radicalismo muçulmano, hindu, que começa os ataques.

No Oriente Médio, os cristãos estão mais acostumados a viver entre tradições, antigos mundos orientais e modernidade”. A situação não é melhor com o nacionalismo budista. No Estado do Himalaia do Butão, os cristãos são encarcerados, torturados e, se não renegam a fé, expulsos.

As distorções da mídia

Afirma Marazziti: “Enquanto isso, no Ocidente, os cristãos não se cansam de estar na modernidade, mas também de unir os pedaços de sociedades pluralistas, como em Londres. Os católicos, considerados ‘estrangeiros’ e perigosos, se tornaram uma ponte e um forte elemento de construção social. Um modelo para a comunidade islâmica inglesa”.

Além disso, observa Gennari, há mais uma perseguição: “É o preconceito constante e unidirecional da mídia. Muitas vezes, as palavras do Papa e as intenções da Igreja são mutiladas, mal entendidas, distorcidas”. No “famoso discurso de Regensburg”, reforça Gennari, “o Papa havia citado uma opinião sobre Maomé e sobre o Islã do imperador da época, com a acusação de violência intrínseca, e havia dito logo depois que não estava de acordo, porém, os meios de comunicação estouraram uma polêmica mundial que também provocou vítimas”.

Há filmes que são uma virtuosa, e perigosa, fonte da juventude para a Verdade. Redespertam a Memória, revelam os vazios da História, descobrem as catacumbas dos arquivos.

É a graça de “Homens de Deus” , de Xavier Beauvois, que entra em cartaz nesta sexta-feira na Itália.

A reportagem é de Domenico Quirico, publicada no jornal La Stampa

Premiado em Cannes, mas principalmente por um extraordinário sucesso de bilheteria na França (três milhões de espectadores), o filme relata a vida cotidiana dos monges de Notre-Dame de Atlas, perdidos nas montanhas argelinas, pescadores de homens, que, apesar do perigo do fanatismo islâmico, rejeitaram deixar os seus irmãos muçulmanos. Que haviam escolhido o isolamento em um mundo hostil e se consagraram ao fracos, aos pobres, às vítimas da violência e encontraram entre as pedras áridas dosAtlantes uma ordem quase estranha ao mundo de hoje: a caridade, o amor, a justiça, o sacrifício cintilavam nos seus destinos.

O frei Luc, interpretado por um extraordinário Michale Lonsdale, cuidava de centenas de pessoas todos os dias, o irmão Christian estudava o Alcorão e praticava o Ramadã, alguns haviam combatido na Argélia. Seis dentre eles foram mortos em uma noite de março de 1996, envolvida em mistérios.

Pois bem, há 14 anos, isso era um dossiê selado com o lacre de “segredo de defesa”. Na semana passada, o juiz que investiga o crime na França, levado pela emoção que o filme provocou, pediu a desclassificação de numerosos documentos. Particularmente, os relatórios do general Rondot, o chefe dos serviços secretos, que foi enviado à Argélia para investigar e que recolheu também as “verdades” do seu colega argelino. Rondot foi interrogado em setembro e repetiu com vigor que foram os fundamentalistas que sequestraram e mataram os monges. Uma feroz jihad contra os “cruzados” que desafiavam o seu fanatismo simplificador.

Essa é a versão oficial, que a Argélia e a França defenderam nestes anos. A mais persuasiva, no fundo: morto o chefe do comando islamista, além disso em ambíguas relações com os Serviços Argelinos, encerrado já no sanguinário capítulo da guerra civil, tudo podia ser entregue ao silêncio e à desatenção. Não o suficiente para apagar por completo a outra hipótese, isto é, que os monges foram mortos por um terrível erro pelo exército argelino, que os havia confundido com rebeldes. E que depois teria montado a cena do sequestro para culpar os islamistas.

Isso nunca chegaria à atualidade sem o clamor de “Des hommes et des dieux”. Estranho destino para um filme tão ascético, filmado com poucos recursos, com atores extraordinários mas certamente não incluídos entre as estrelas. Que principalmente não concede nada à trama do romance político: tanto que não conta nem a conclusão daquela admirável experiência cristã.

É o segundo “milagre” de um filme que é um magnificat da santidade e que encantou um país laicista e anticlerical que, segundo o slogan de René Viviani, se orgulha de ter “gasto no céu estrelas do céu que não se reacendem mais”.

Veja http://www.dailymotion.com/video/xe1xv7_bande-annonce-des-hommes-et-des-die_shortfilms


“Os monges de Tibhirine despertam e comovem, porque, no seu testemunho, Deus se expõe, por assim dizer, ao risco da liberdade do homem.”

A opinião é do cardeal italiano Angelo Scola, patriarca de Veneza, na Itália, em artigo para o jornal La Stampa:

” Uma resposta para quem se pergunta se o desejo de Deus ainda está presente no nosso tempo. Se é razoável para um homem do Terceiro Milênio crer em Deus, reconhecê-lo como familiar. A estreia do filme sobre os monges de Tibhirine, que está chamando muita atenção em todo o mundo, parece-me refletir o desejo ardente do coração de mulheres e de homens de todas as latitudes de encontrar o rosto de Deus. Portanto, da necessidade viva em todos nós de testemunhas autênticas, que nos ajudem a manter alto o olhar.

O testemunho autêntico, de fato, não é redutível a “dar o bom exemplo”. Ele brilha em toda a sua integridade como método de conhecimento prático da realidade e de comunicação da verdade. É um valor primário com relação a todas as outras formas de conhecimento e de comunicação: científica, filosófica, teológica, artística etc.

Um exemplo luminoso desse método é oferecido justamente pelas palavras do testamento espiritual dopadre Christian de Chargé, prior do mosteiro trapista de Notre-Dame de Atlas, em Tibhirine, Argélia, escrito por ele três anos antes de ser trucidado com os seus monges:

“Chegado o momento, gostaria de poder ter aquele instante de lucidez que me permitisse pedir o perdão de Deus e o dos homens, meus irmãos, perdoando com todo o coração, no mesmo momento, quem tivesse me atingido… Não vejo, de fato, como poderia me alegrar com o fato de que esse povo que eu amo fosse acusado pelo meu assassinato. Dever aquilo que seria chamada, talvez, de “a graça do martírio” a um argelino, qualquer que seja, principalmente se ele dissesse estar agindo em fidelidade àquilo que ele crê ser o Islã, seria pagar um preço muito alto. No fim das contas, eu teria sido liberto da curiosidade mais lancinante que levo dentro: afundar o meu olhar no do Pai para ver os seus filhos do Islã como ele os vê: todos iluminados pela glória de Cristo, também eles fruto da sua paixão, investidos do dom do Espírito, cuja alegria secreta será de restabelecer a comunhão e a semelhança, brincando com as diferenças. Desta minha vida perdida, totalmente minha e totalmente deles, eu agradeço a Deus que parece que a quis toda inteira, justamente por essa alegria, contrariamente a tudo e apesar de tudo. E também tu, amigo do último instante, que não saberás aquilo que estarás fazendo, sim, também por ti quero eu dizer esse obrigado, e esse a-Deus, em cujo rosto eu te contemplo. E que nos seja dado encontrarmo-nos de novo, ladrões cheios de alegria, no paraíso, se aprouver a Deus, Pai nosso, Pai de nós dois”.

Nessa que é uma das páginas mais belas jamais escritas no século XIX se compreende em plenitude como, no martírio cristão, a narração que Deus faz de si e a que permite que nós façamos sobre Ele e em Seu nome encontram uma manifestação completa.

O martírio, graça que Deus concede aos inermes e que ninguém pode pretender, é um gesto insuperável de unidade e de misericórdia. É a derrota de todo eclipse de Deus, é o Seu retorno em plenitude por meio da oferta da vida por parte dos Seus filhos. Uma entrega de si que vence o mal, até aquele “injustificável”, porque reconstrói a unidade, mesmo com aquele que mata.

Como Jesus assume o nosso mal sobre Si, perdoando-nos antecipadamente, assim o mártir, como o Padre Christian, abraça antecipadamente o seu carnífice em nome do dom de amor de Deus mesmo, por todos reconhecível pelo menos como absoluto transcendente.

Só o testemunho digno de fé com-move a liberdade do outro e o convida com força à decisão. Como nos lembrou eficazmente Bento XVI, tornamo-nos testemunhas quando, “por meio das nossas ações, palavras e modo de ser, um Outro aparece e se comunica”.

Os monges de Tibhirine despertam e comovem, porque, no seu testemunho, Deus se expõe, por assim dizer, ao risco da liberdade do homem.

Jornal La Croix.

O dia 1º de outubro de 1978, o Frei Christian de Chergé faz a profissão solene na  Trapa de Tibhirine, onde, aos 39 anos, se comprometeu a viver pelo resto da vida.

Naquela sexta-feira, as orações dos monges se misturam, para além dos muros do mosteiro, às dos seus “irmãos muçulmanos”. A comunidade dos monges do Atlante e a Igreja argelina são conscientes da importância de tal acontecimento, que não havia mais ocorrido desde 1952. Um quarto de século durante o qual a guerra da independência correu o risco de fazer com que o mosteiro desaparecesse.

Notre-Dame de Tibhirine foi fundada no dia 7 de março de 1938, por 12 monges cistercienses vindos de Rahjenburg, na Iugoslávia (atual Eslovênia), e deAiguebelle, na Drôme [departamento da França]. O mosteiro Notre-Dame de Atlas é uma propriedade de 375 hectares sobre as colinas de Médéa, onde os monges vivem de oração e do seu trabalho agrícola.

Tendo ambos chegado em 1946, Frei Amédée dá aulas para as crianças do vilarejo, enquanto Frei Luc dispensa os seus cuidados como médico. Mas o equilíbrio que se criou foi destruído pela guerra. Em 1959, o imã de Médéa foi preso pelo exército francês. Os resistentes argelinos raptam Frei Luc e um frei italiano para usá-los como moeda de troca. Depois de sete dias de caminho, são libertados porque os fellaghas [rebeldes argelinos] defenderam a causa do monge que havia cuidado deles no passado.

Conquistada a independência do país, coloca-se o problema da sobrevivência de Tibhirine. A Igreja Católica local não tem mais fiéis, e os monges votarão pelo fechamento “progressivo” do mosteiro. Mas Dom Léon Etienne Duval, arcebispo de Argel, convida a ordem cisterciense a se mobilizar por Tibhirine. Graças ao mosteiro de Timadeuc (Morbihan) e de Aiguebelle, chegam oito novos freis em 1964.

A vida de Notre-Dame de Atlas é retomada, embora a presença dos monges se torna mais discreta. A superfície da propriedade se reduz a pouco mais de uma dezena de hectares, a comunidade se compromete junto às autoridades a uma estrita reserva e a não superar os 12 monges. Frei Luc atende no dispensário, mas os monges limitam suas atividades sociais, privilegiando uma convivialidade mais espiritual.

“Chegamos a nos definir como ‘orantes em meio a outros orantes’. Os convites para a oração, que vêm do nosso sino ou do muezzin, estabelecem entre nós uma ‘sadia imitação recíproca'”. Nesse texto, escrito para o Sínodo Romano sobre a vida consagrada em 1994, a comunidade conclui: “Temos a sensação de ser ‘melhor compreendidos’ do que certos mosteiros no seu ambiente de antiga cristandade. E depois seria vão buscar ser ‘compreendidos’…”. O diálogo inter-religioso, porém, tornou-se mais formal com os encontros de Ribât-el-Salam (“o vínculo da paz”), que reuniram, desde 1979, cristãos e membros da confraria Sufi.

Depois, o golpe de Estado militar de 1992 e a dissolução da Frente Islâmica de Salvação (FIS) abrem caminho para uma concatenação de violências. No dia 14 de dezembro de 1993, operários iugoslavos cristãos são degolados em um canteiro de obras situado perto do mosteiro para onde se dirigiam para as festas. Comovidos, os cistercienses dão testemunho dessa tragédia, pouco referida pela mídia, em um texto enviado ao jornal La Croix (24 de fevereiro de 1994): “Se nos calarmos, as pedras de Oued gritarão…”.

Na noite de Natal, a comunidade recebe, por sua vez, a visita do comando, conduzida pelo emir Sayyat Attiya, que veio para coletar a taxa para a revolução e para levar embora o Frei Luc. O prior, Frei Christian, se recusa, mas lhe diz que o médico continuará cuidando daqueles que se apresentarem ao mosteiro. O seu sangue frio deixa perplexo o emir, que retorna para a montanha.

Naqueles anos de fogo, os assassinatos de religiosos se multiplicam, enquanto os fundamentalistas islâmicos intimam os franceses a deixar a Argélia. Defendidos pelo arcebispo de Argel, Dom Henri Teissier, os monges de Tibhirine irão escolher, por meio de voto, ficar. Durante um encontro com o wali (prefeito) de Médéa, o prior rejeita a presença dos militares nas proximidades do mosteiro, mas os monges se empenham a limitar as relações com o mundo externo e a fechar as portas às 17h30.

Enquanto aumentam os confrontos na região, onde os fundamentalistas islâmicos se escondem, os monges tentam respeitar uma neutralidade entre aqueles que chamam, por desejo de pacificação, de “os irmãos da montanha” (os fundamentalistas islâmicos) e “os irmãos da planície” (os militares). Eles sabem que a sua vida está suspensa por um fio, como provarão os textos publicados depois, dentre os quais o comovente testamento espiritual de Christian de Chergé.

Regularmente, os grupos armados batem na porta do mosteiro para obter tratamentos. Depois, tudo precipita na noite entre os dias 26 e 27 de março de 1996. Naquela semana, que precede o Domingo de Ramos, o mosteiro acolhe diversos hóspedes. Frei Bruno, prior da comunidade de Fès, anexo à de Notre-Dame de Atlas, criada em 1990 no Marrocos, veio para a eleição de um novo prior. Alguns membros da comunidade cristã argelina participam de uma reunião do Ribât-el-Salam.

Na quarta-feira, 27, à 1h15, cerca de 20 homens despertam o jardineiro, Mohammed, e o obrigam a abrir a porta, enquanto outros escalam o muro. Fazem ser levados até o claustro, de onde irão embora com sete monges, dentre os quais Frei Bruno. Dois membros da comunidade, Jean-Pierre e Amédée, escapam do sequestro, porque dormem em um outro edifício com os visitantes. Despertados pelos ruídos, não podem dar o sinal de alarme, porque os fios telefônicos haviam sido cortados. Ao  amanhecer, os dois homens descem em um Renault 4L para Médéa para avisar as autoridades.

Depois de 58 dias de esperança e de angústia, no dia 21 de maio, o Grupo Islâmico Armado (GIA) anuncia com um comunicado enviado a uma rádio marroquina: “Cortamos a garganta dos sete monges”. Em todo o mundo, a notícia semeia o horror. Em Notre-Dame de Paris, o cardeal Jean-Marie Lustiger apaga os sete círios que haviam permanecido acesos em sinal de esperança.

No dia 28 de maio, uma manifestação em Parvis des droits de l’homme del Trocadero reúne 10 mil pessoas que prestam homenagens àqueles homens da paz, cuja força do testemunho une para além de todas as crenças. A sua presença era a resposta a um convite de Deus para viver naquela terra, onde queriam manifestar a sua solidariedade a um povo em dificuldades. “Martírio é uma palavra muito ambígua”, escreve Frei Michel a um primo em 1994. “Se nos acontecer alguma coisa – eu não o desejo – queremos vivê-la aqui (…), somente solidários com todos os desconhecidos, inocentes…”.

Desde o dia 4 de junho de 1996, os setes monges repousam no jardim de Tibhirine, no silêncio que reina por ali. No ano 2000, seis monges cistercienses vindos de Argel de diversas Trapas de várias partes do mundo esperavam poder se estabelecer em Notre-Dame de Atlas. Mas a ausência de perspectivas de retorno da paz os dissuadiu do seu propósito.

A história fez de Tibhirine um santuário.

A vida do cardeal John Henry Newman (1801-1890) mostra que “a paixão pela verdade, a honestidade intelectual e a autêntica conversão são custosas”, disse Bento XVI no final da tarde deste sábado, durante a vigília de oração pela beatificação do purpurado britânico.

O ato de oração aconteceu no Hyde Park, situado em Westminster, em pleno coração de Londres, reunindo 80 mil pessoas, muitas delas jovens.

Após a leitura das bem-aventuranças, Bento XVI, em sua homilia, compartilhou com os presentes a influência que Newman exerceu em sua vida e em seu pensamento: este anglicano que passou a fazer parte da Igreja Católica “nos convida a examinar nossas vidas, para vê-las no amplo horizonte do plano de Deus e crescer em comunhão com a Igreja de todo tempo e lugar”.

Uma vida ao serviço da Verdade

O Papa destacou a luta constante que o venerável servo de Deus travou contra a tendência de reduzir a fé à esfera privada e a uma percepção meramente subjetiva; uma luta que oferece grandes ensinamentos para o tempo presente, “quando o relativismo intelectual e moral ameaça destruir a própria base da nossa sociedade”.

Newman, continuou, recorda que o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, recebe um chamado especial: conhecer a verdade e encontrar nessa verdade nossa liberdade última e o cumprimento das nossas aspirações humanas mais profundas”.

Proclamar o Evangelho com valentia

Não podemos guardar para nós mesmos a verdade que nos torna livres”, exortou o Papa, dizendo que, a exemplo de Newman, “é preciso dar testemunho dela”, porque a verdade “pede para ser ouvida”. De fato, o poder de convicção que a verdade tem “procede de si mesma, e não da eloquência humana ou dos argumentos que a expõem”.

Um novo martírio: a ridicularização

O Pontífice indicou que “o preço a ser pago pela fidelidade ao Evangelho já não é ser enforcado, desconjuntado, esquartejado”; não obstante, aqueles que proclamam a fé com fidelidade nos tempos atuais muitas vezes devem pagar outro preço: “ser excluído, ridicularizado”.

Mas advertiu que nem por isso a Igreja “pode se desviar da sua missão de anunciar Cristo e seu Evangelho como verdade salvadora, fonte da nossa felicidade definitiva como indivíduos e fundamento de uma sociedade justa e humana”.

Bento XVI convidou os presentes a viverem sua fé com coerência, a exemplo de Newman, pois a verdade se transmite “não só pelo ensinamento formal”, mas sobretudo “pelo testemunho de uma vida íntegra, fiel e santa”.

Da mesma forma, destacou que, diante da crise de fé da sociedade atual, os cristãos não podem “se dar ao luxo de continuar como se não acontecesse nada”.

Advertiu que tampouco basta confiar somente “em que o patrimônio de valores transmitido durante séculos do cristianismo continuará inspirando e configurando o futuro da nossa sociedade”.

“Sabemos que, em tempos de crise e turbação, Deus suscitou grandes santos e profetas para a renovação da Igreja e da sociedade cristã – recordou o Papa. Confiamos em sua providência e pedimos que nos guie constantemente.”

Aos jovens

O Papa fez um convite especial aos jovens, para que escutem atentamente o chamado particular que o Senhor faz a cada um, seja dentro da vida consagrada, no sacerdócio ou dentro do sacramento do matrimônio: “Peçam-lhe a generosidade de dizer ‘sim’. Não tenham medo de entregar-se completamente a Jesus. Ele lhes dará a graça de que precisam para acolher seu chamado”.

E marcou um encontro com os jovens na Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá em Madri em agosto de 2011, assegurando que “é uma magnífica ocasião para crescer no amor a Cristo” e em uma “alegre vida de fé junto a milhares de jovens. Espero ver muitos de vocês lá”.

Ao finalizar seu discurso, a vigília de oração continuou com a adoração ao Santíssimo Sacramento e as ladainhas do Sagrado Coração. Depois, elevou-se a oração Irradiating Christ e o coral coro entoou o cântico Lead, kindly light, ambos compostos pelo cardeal Newman.