No Estado de Chiapas, México, antigos seguidores da Teologia de Libertação e da revolução zapatista estão aderindo ao maometanismo, noticiou Rádio Holanda.

Em San Cristóbal de las Casas, ouve-se o imame Salvador Lopez Lopez puxando o cântico do Corão. Improvisadas mesquitas aparecem em áreas rurais [foto].

Os neófitos alegam que o islamismo fornece a alternativa ao capitalismo que procuravam.

A transferência de pessoas e recursos entre o movimento comunista em decadência e o islamismo fundamentalista em ascensão sempre foi intensa.

O governo mexicano teme que entre os neófitos funcione uma extensão de Al-Qaeda.

A colaboração entre o fundamentalismo islâmico e os “socialismos do século XXI” é profunda e vai longe.

Por Padre Robert A. Sirico

Por décadas o Cardeal Joseph Ratzinger esteve lutando com a teologia da libertação, o movimento católico tragicamente associado à um dos maiores erros ideológicos da história humana: a idéia de que o socialismo pode criar os meios para a salvação dos pobres. Agora, como Papa Bento XVI, essa batalha está longe de terminar.

O Papa reiterou sua antiga posição de que o socialismo não pode e não irá criar os meios de salvação dos pobres. Ao contrário, disse, ele produz “destruição econômica e ecológica”. E há o problema teológico: o socialismo abraça a concepção materialista da história que contraria o foco evangélico do coração humano. A substituição da missão cristã desse primeiro foco de transformação individual e cultural para uma agenda politizada e centrada no Estado é fatal para a fé.

G. K. Chesterton (1874-1936) escreveu que a heresia é a verdade enlouquecida, e nesse particular, isso é certo. A verdade a respeito da necessidade de justiça social é enfatizada a expensas de todas as outras verdades. Os libertários encobrem todas as admoestações dos Evangelhos sobre, apoiar a propriedade privada (ver a parábola do tesouro no campo), a ética empresarial (parábola dos talentos), e a clara declaração de Jesus de que o seu reino não é desse mundo. Ele é o rei dos céus e não, como acreditavam as pessoas que o saudaram em Jerusalém, um rei terreno que veio para destituir o governo secular.

Na década de oitenta, o Cardeal Joseph Ratzinger apresentou exatamente esses argumentos: “Ao afirmar que deveríamos dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus, Jesus separa o poder do imperador do poder de Deus […] essa frase estabelece os limites para todo o poder terreno e proclama a liberdade da pessoa que transcende todos os sistemas políticos.

Por essa limitação Jesus foi entregue à morte, ele adiantou-se como testemunha da limitação do poder pelo sofrimento. O cristianismo começa não com um revolucionário, mas com um mártir. O crescimento da liberdade que a humanidade deve aos mártires é infinitamente maior do que o que poderia ser dado pelos revolucionários”.

Como exemplo de uma forma apropriada de ação política direcionada para a liberdade humana, Joseph Ratzinger também escreveu em homenagem a Bartolomeu de Las Casas (1474-1566), um bispo espanhol do século XVI, cujos escritos serviram para por fim à opressão dos povos nativos americanos pelos conquistadores. Las Casas condenou a escravidão porque ela pressupunha que os não-cristãos não tinham direitos ou almas que valessem à pena serem salvas. Ele foi um crítico do poder e um verdadeiro promotor da libertação que nunca perdeu de vista o foco primordial da pessoa humana individual.

Desde os primeiros escritos de Bento XVI, encontramos os meios para discernir a verdadeira da falsa libertação no nexo crítico com o poder. A verdadeira libertação não pode ser encontrada por meio do Estado, mas somente pelo exercício da consciência e da liberdade. O Papa vê que a força motora por detrás da idéia socialista tem raízes mais profundas que nos levam ao coração teológico do relacionamento entre o Estado e a salvação.

Do ponto de vista do Papa, há vários e sérios problemas com qualquer teologia que veja a transformação política como um meio de obter a salvação na Terra. Esse não é um problema exclusivo do marxismo ou de sua variante libertária. É uma heresia que vem de longa data.

Joseph Ratzinger foi um paladino do Concílio Vaticano II que declarou os inequívocos direitos humanos à liberdade religiosa e, assim, a sábia separação entre Igreja e Estado. Desde então, em seus escritos, ele tem sido firme ao defender o princípio de que a Igreja e o Estado servem a propósitos diferentes, e que uma confusão institucional apresenta perigo, tanto para a doutrina, quanto para a práxis política.

Essa idéia de liberdade religiosa tem raízes profundas no cristianismo (tão profundas quanto o próprio Evangelho), mas a Igreja Católica desistiu do poder temporal, de modo relutante, somente quando se deparou com a perda dos Estados papais na segunda metade do século XIX. Até hoje em dia, há uma facção dedicada a restaurar a idéia de um Estado eclesiasticamente administrado.

Será que a Igreja deveria empunhar a espada? Não, diz Bento XVI, e por isso foi criticado pelos elementos mais conservadores da Igreja – tais como os seguidores do finado Marcel Lefebvre (1905-1991) que acreditava que a liberdade religiosa era herética.

O que houve de novo após o Concílio Vaticano II foi a emergência de uma facção que buscou quebrar a distinção entre o sagrado e o secular de modo diferente. Essa visão esquerdista é a imagem refletida da visão direitista: ambas vêem a política como exercendo um papel decisivo na salvação espiritual da humanidade.

O apoio do Papa à política de liberdade surge, portanto, desse ideal de uma fé não politizada.

E enquanto seus críticos à direita o acusam de seguir algum tipo de agnosticismo político, os críticos à esquerda sugerem que sua relutância em endossar a agenda política libertária prova sua indiferença na luta pelos pobres.

Parte de sua mensagem no Brasil foi demonstrar que podemos nos importar com a justiça pelos pobres sem construir uma teologia hiper-politizada que clama cada vez mais pelo poder concedido pelo Estado.

O Papa também é altamente crítico a respeito de qualquer teoria capitalista que adote a concepção materialista da história, que é integral no marxismo. “O que é real?” Bento XVI perguntou num discurso no Brasil. “São somente os bens materiais, os problemas sociais, econômicos e políticos da realidade?” Não. A consciência e a alma também são reais.

Há uma característica do ativismo político que visa conseguir a liberdade para todos. A própria salvação, no entanto, vem por meios diferentes. Essa tem sido, por décadas, a resoluta mensagem, reafirmada no Brasil para os novos tempos.

Tradução de Márcia Xavier de Brito