Blog do Carmadélio

Como nasceu o Comitê Médico de Lourdes que analisa cientificamente os milagres.

A ofensiva de críticas e calúnias forçou a criação de um setor médico para apurar a autenticidade das curas sobre bases estritamente científicas.

Para cortar o passo às más interpretações iniciais, em 28 de julho de 1858 — ou seja, doze dias após a última aparição — o bispo diocesano, D. Laurence, nomeou uma “comissão encarregada de constatar a autenticidade e a natureza dos fatos que têm acontecido… numa gruta no oeste da cidade de Lourdes”.

Foi o ponto de partida do atual Bureau Médico de Lourdes.

Com ele, o espírito naturalista e de orgulho revolucionário haveria de sofrer outro revés.

Pois o Bureau passou a constatar, com base em critérios muito rígidos, que o inexplicável naturalmente — o milagre — acontece para aqueles que apelam à graça da Virgem Santíssima, que esmaga sob seus pés o pai de todas as revoltas, Satanás.

O atual Bureau Médico de Lourdes apura, apenas do ponto de vista médico, se as curas alegadas pelos fiéis são explicáveis ou não pela ciência.

Se não o são, o Bureau encaminha a conclusão do inquérito ao Bispo da diocese do miraculado.

O Prelado então decide se reconhece oficialmente ou não o milagre.

As atribuições estão muito claramente definidas. O Bureau se pronuncia apenas do ponto de vista médico, jamais do ponto de vista religioso-sobrenatural. Por isso, não fala em milagre, mas em cura inexplicável pela ciência.

Por sua vez, os Bispos não se pronunciam do ponto vista médico. Eles apenas proclamam que houve milagre, quando julgam isso oportuno.

Portanto, a constatação pelo Bureau, de cura que vai além de quanto a medicina conhece, é o primeiro e indispensável passo para o reconhecimento oficial do milagre.

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O milagre mais recente foi reconhecido em 2018

Confira o mais recente dos 70 milagres confirmados em Lourdes – entre milhares de alegações de milagres que a Igreja descartou por constatar que eram curas cientificamente explicáveis. O milagre número 70 foi oficialmente divulgado em fevereiro de 2018, após nada menos que 10 anos de estudos e avaliações:

Dom Jacques Benoit-Gonnin, bispo de Beauvais, na França, anunciou oficialmente o reconhecimento do 70º milagre atribuído à intercessão de Nossa Senhora de Lourdes.

Trata-se da cura milagrosa da irmã Bernadette Moriau, uma religiosa que atualmente tem 79 anos de idade. Ela não conseguia andar sem ajuda e peregrinou ao santuário mariano em 2008. Após anos de avaliações e estudos por parte de médicos, cientistas e autoridades católicas responsáveis pela análise de supostos milagres, a confirmação de que esta cura é cientificamente inexplicável foi tornada pública de modo oficial neste domingo, 11 de fevereiro, dia em que a Igreja celebra Nossa Senhora de Lourdes e o Dia Mundial dos Enfermos.

A religiosa, que pertence à congregação das Franciscanas Oblatas do Sagrado Coração de Jesus, sofria de um tipo de estenose espinhal que afeta o conjunto de nervos localizado ao final da medula espinhal. A doença, que é conhecida como “síndrome da cauda equina”, afetava a irmã Bernadette desde o final dos anos 1960.

Em vídeo postado no YouTube, a religiosa relata:

“Em fevereiro de 2008, o meu médico me convidou a fazer uma peregrinação diocesana de 3 a 7 de julho (…) Eu nunca tinha estado em Lourdes. Quando estava doente, visitei o santuário com a alegria de todos os peregrinos, porque naquele ano celebramos os 150º aniversário das aparições de Nossa Senhora. Na gruta, eu senti a presença misteriosa de Maria e da pequena Bernadette (…) Não pedi a cura, mas a conversão do coração e a força para seguir o meu caminho”.

Quatro dias depois de terminar a peregrinação a Lourdes, a freira teve “uma sensação de calor e uma melhora em todo o meu ser. Eu me senti bem”. A experiência aconteceu durante a adoração ao Santíssimo Sacramento, em sua comunidade religiosa.

O bispo de Beauvais explicou, em comunicado oficial, que, naquele mesmo dia, quando a irmã Bernadette acabou a oração e voltou para o quarto, deixou de lado todos os equipamentos e começou a andar imediatamente, sem ajuda e com total autonomia. “As irmãs testemunharam este acontecimento“.

Depois de consultar seu médico, a religiosa procurou a Comissão Médica Internacional de Lourdes, que, conforme o protocolo adotado para todos os casos de supostos milagres de cura ocorridos no santuário, passou a realizar uma série de testes, estudos e exames que duraram 8 anos. Em sua assembleia de 18 e 19 de novembro de 2016, a comissão apresentou a conclusão de que a cura da religiosa é “inexplicável no estado atual dos nossos conhecimentos científicos”.

O bispo relatou que foi oficialmente informado sobre os estudos da comissão médica em fevereiro de 2017, quando deu prosseguimento ao minucioso protocolo da Igreja para as avaliações de milagres desse tipo, submetendo aqueles estudos à consideração de uma comissão diocesana. Após essa análise e as oportunas reflexões sobre as conclusões médicas e a relação entre a cura e a peregrinação realizada pela irmã Bernadette a Lourdes, dom Jacques reconheceu o caráter milagroso da cura “como um sinal dado por Deus através da intercessão de Nossa Senhora de Lourdes“.

O bispo, que não conhecia a religiosa antes da cura inexplicável, se declarou feliz com o milagre, comentando:

Poder expressar conscientemente que Deus interveio é algo que me supera. De fato, para a Igreja, um milagre é uma ação de Deus que diz algo sobre Ele e o seu desígnio para a humanidade. Muitas vezes o milagre é realizado através da intercessão de um santo que é invocado. Neste caso, Deus age através da intercessão da Virgem Maria, venerada em Lourdes“.

Luis Dufaur

Testemunho da miraculada (em Francês)


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