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Pyongyang já foi o lar de mais cristãos que qualquer outra cidade coreana. Era até a sede episcopal da nação. Tudo mudou no início da década de 1950, quando as autoridades da então recém-separada Coreia do Norte decidiram suprimir oficialmente qualquer tipo de atividade cristã de culto.

Vários grupos de defesa dos direitos humanos estimam entre 50 mil e 70 mil o número de cristãos confinados à prisão ou a campos de concentração naquele país por simplesmente praticarem a sua fé.

Mesmo assim, não é de todo estranho, nesta época do ano, ver árvores de Natal em algumas lojas de luxo e restaurantes de Pyongyang, ainda que desprovidas de qualquer significado religioso.

Agora o ditador Kim Jong-Un deu mais um passo na proibição das celebrações de Natal na Coreia do Norte: ele ordenou que, na noite de 24 de dezembro deste ano, o povo comemorasse o nascimento da sua avó, Kim Jong-Suk, uma guerrilheira comunista que combateu os japoneses e se tornou a esposa do primeiro ditador do país, Kim Il Sung. Ela teria nascido na véspera de Natal de 1919.

Morta em 1949 e considerada a “Sagrada Mãe da Revolução”, Kim Jong-Suk recebe nestas datas a homenagem de muita gente que visita o seu túmulo.

Para ler mais sobre o assunto, confira matéria da Fox News (em inglês).

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Penn Jillette começou sua fama como parte do duo de mágicos Penn e Teller (Penn é o cara que fala). Ultimamente, porém, ele tem sido no centro das atenções como um apaixonado defensor do ateísmo, entre outras coisas.

O que torna essa história sincera tão intrigante.

Alguns anos atrás, Jillette registrou um pequeno vídeo sobre alguém que veio para falar com ele após um de seus shows de mágica. Disse que o indivíduo tinha sua idade e tinha participado em um dos atos como um membro da audiência.

O homem elogiou Jillette no show, então disse: “Eu trouxe isso para você”. O homem deu-lhe um pequeno livro. Era um Novo Testamento com os Salmos, algo que poderia caber no bolso de uma pessoa.

“Eu escrevi na frente”, disse o homem, “e eu queria que você tivesse isso”. O homem explicou que ele era um homem de negócios e não louco.

Jillette, movido pelo gesto do homem, lembrou: “Ele foi gentil, simpático e são, olhou-me nos olhos, falou comigo e depois me deu esta Bíblia”.

“Eu sempre disse,” Jillette explicou, “que não respeito as pessoas que não fazem proselitismo. Eu não respeito. Se você acredita que existe um céu e um inferno, e as pessoas poderiam ir para o inferno ou não ter a vida eterna ou o que quer que seja, e você acha que não vale a pena dizer isso porque isso lhe tornaria socialmente estranho.

“Quanto você tem que odiar alguém por não fazer proselitismo? Quanto você tem que odiar alguém por acreditar que a vida eterna é possível e não dizer isso às pessoas?”

Jillette, em seguida, ofereceu este exemplo para ilustrar o seu ponto: “Se eu acreditasse, sem dúvida, que um caminhão estava vindo em sua direção, e você não acreditasse que o caminhão estava indo para lhe atropelar, há um certo ponto que eu o abordo, e isso é mais importante do que isso. “

“Esse cara era muito bom. Ele era educado, honesto e sã, e se importava o suficiente comigo para fazer proselitismo e me dar uma Bíblia.”

Agora, Jillette ainda é um ateu, e ele queria deixar isso claro: “Eu sei que não há Deus, e uma pessoa educada que vive bem sua vida não muda isso.

“Mas eu vou te dizer, ele era um homem muito, muito, muito bom. E isso é realmente importante. E com esse tipo de bondade, é bom ter essa certa dose de desacordo.

“Eu ainda acho que a religião faz um monte de coisas ruins mas, cara, esse foi um bom homem que me deu esse livro. Era tudo o que eu queria dizer.

Naturalmente, Jillette tem toda a razão sobre a evangelização. Acreditamos realmente no Evangelho? E se crermos, nós amamos aqueles que nos rodeiam o suficiente para compartilhá-los com eles, mesmo que seja socialmente difícil?

Aqui está o vídeo completo de Jillette contando a história:

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Em uma conferência pronunciada no Vaticano, durante o encontro sobre “Ciência e Sustentabilidade”, organizado pela Pontifícia Academia das Ciências, Stephen W. Hawking, físico teórico e professor da Universidade de Cambridge, defendeu o legado científico do padre belga e professor de Física da Universidade Católica de Lovaina, Georges Lemaitre.

Para Hawking, Lemaitre é “o pai do Big Bang”.

A teoria do Big Bang propõe que o universo se encontrava inicialmente em um estado de grande densidade e após uma grande explosão teria entrado em um processo de expansão e esfriamento no qual nos encontraríamos atualmente.

Tradicionalmente, considerou que o pai desta teoria é o físico e astrônomo soviético de nacionalidade estadunidense George Gamow, cujos estudos e pesquisas dão contribuições essenciais para a explicação das origens do universo e da consolidação da teoria do Big Bang.

No entanto, Hawking precisou em sua palestra que “Georges Lemaitre foi o primeiro a propor um modelo no qual o universo teve um começo infinitamente denso. Assim, ele e não George Gamow é o pai do Big Bang”.

Em sua intervenção, o professor Hawking expôs diferentes conceitos e teorias relacionados à origem e natureza do universo, como as ondas gravitacionais, o multiverso ou as micro-ondas procedentes dos instantes anteriores ao Big Bang.

“A evidência científica para confirmar a ideia de que o universo estava, inicialmente, em um estado muito denso, surgiu em outubro de 1965, com a descoberta de um frágil fundo de micro-ondas em todo o espaço. A única explicação possível para este fundo de micro-ondas é que seja radiação procedente de um universo primigênio muito denso e quente. À medida que o universo se expandia, a radiação ia se esfriando, até que ficou o frágil remanescente que podemos detectar hoje”, disse.

Hawking, que se declarou publicamente ateu, viu-se envolvido em inúmeras polêmicas ao negar a existência de Deus e por argumentar que não é necessário recorrer a Deus para explicar a origem da existência.

Em declarações feitas em junho de 2015 ao jornal espanhol El Mundo, defendeu que “no passado, antes de entendermos a ciência, era lógico acreditar que Deus criou o Universo. Mas agora a ciência oferece uma explicação mais convincente”. “Não existe nenhum Deus. Sou ateu. A religião acredita nos milagres, mas estes não são compatíveis com a ciência”, destacou.

Apesar de suas posições contra a existência de Deus, o professor da Universidade de Cambridge já esteve no Vaticano em 2008 para participar de um congresso semelhante sobre a origem do universo e a evolução das espécies.

A reportagem é de Miguel Pérez Pichel e publicada por ACI Prensa, 26-11-2016. A tradução é de André Langer.

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Fidel Castro, formado em instituições educativas jesuítas, rejeitou a Igreja Católica após a Revolução Cubana de 1959 e, por duas décadas, não reuniu com os bispos. Mas depois ele concedeu uma longa entrevista a um frade brasileiro, Frei Betto, e a partir de então deu-se uma proximidade maior entre a Igreja e o Estado cubano – assim como passou haver sinais tentadores de que Fidel estivesse buscando reconciliar-se com sua fé católica.

Quando Frei Betto conheceu Fidel Castro em 1980 na capital nicaraguense de Manágua, os dois tiveram uma longa conversa sobre a liberdade religiosa em Cuba. Esta conversa levou à escrita de um famoso livro, que ajudou a pavimentar o caminho para uma reaproximação entre Igreja e o Estado e, por fim, a visita do Papa João Paulo II.

O livro revelou a complexa relação de Fidel com a religião católica de sua infância, em Cuba da década de 1940, onde, quando criança, estudou com padres jesuítas espanhóis em uma escola privada de elite numa cidade ao sul da ilha, Santiago.

Frei Betto, dominicano simpatizante da Teologia da Libertação e da Revolução Cubana, disse a Fidel em Manágua que o seu Estado comunista tinha, na verdade, três opções: ele poderia ser hostil à Igreja Católica – caso em que ele simplesmente estaria favorecendo o embargo americano imposto ao país –, ele poderia ser indiferente à Igreja ou poderia postar-se em diálogo com as igrejas e outras religiões.

Fidel Castro aceitou que a terceira opção era a certa, e admitiu que não se encontrava com um bispo católico havia 16 anos. Embora o governo revolucionário nunca tivesse rompido com a Santa Sé, ele era, com efeito, um Estado confessional – oficialmente ateu.

No decurso da década de 1980, o líder conduziu lentamente a Revolução em direção ao reconhecimento da presença da Igreja Católica em Cuba, reunindo-se com bispos e permitindo, senão a liberdade religiosa, pelo menos a liberdade de culto.

Quando Frei Betto em 1985 publicou Fidel e a religião, só em Cuba vendeu 1,3 milhão de exemplares e ajudou a estabelecer um novo diálogo sobre a fé na ilha.
O livro revelava que Fidel fora profundamente marcado por uma infância católica e que havia sido criado por uma mãe fervorosa que rezava diariamente e acendia velas aos santos, bem como por tios e tias igualmente devotos.

Aos cinco anos, Fidel foi enviado a Santiago de Cuba por seu pai distante, onde estudou em uma escola dos Irmãos de La Salle (os irmãos lassalistas) e, mais tarde, com jesuítas espanhóis no prestigioso Colégio de Dolores, onde morou e que se tornou para ele numa espécie de família substituta. “Eram pessoas que tinham um grande interesse em seus alunos, em seu caráter e comportamento”, disse Fidel ao Frei Betto. “Eram rigorosos e exigentes”.

A Fidel Castro os jesuítas – pessoas “incomparavelmente superioras”, como ele os descreveu – ensinaram a ter fibra, disciplina e compromisso, traços que mais tarde lhe serviriam bem na Serra Maestra, a cordilheira que durante anos foi usada como base guerrilheira para a preparação à revolução que acabaria por derrubar o ditador Fulgencio Batista.

O livro de Frei Betto mostrou que o rompimento dele com a Igreja era essencialmente de ordem política. Ele considerava a Igreja Católica dos anos 40 e 50 uma instituição socialmente ‘reacionária’ que defendia a ordem social vigente e que, aos olhos de Fidel, tolerava e justificava as grandes desigualdades e injustiças de sua época.

Contudo, os guerrilheiros que ele liderou na década de 1950 não eram, na maioria, ateus: eles até mesmo tinham um capelão, designado pelo bispo para batizar os bebês nascidos em Sierra Maestra e para enterrar os revolucionários mortos. (O Papa João XXIII inclusive autorizou o capelão, Guillermo Sardiña, a usar uma batina verde-oliva.)

Mas na medida em que a revolução se tornava ateia e comunista, e na medida em que o clero se voltava contra ela, na política binária de Fidel a Igreja era inimiga da revolução. Muito embora, como mais tarde ele insistiria, a revolução nunca fora (diferentemente, digamos, no México) antirreligiosa e nenhum sacerdote fora morto pelo Estado comunista, a repressão impingida foi brutal.

Em 1961, Fidel teve fechada sua antiga escola e os jesuítas foram expulsos do país. O clero foi reduzido a apenas 200 em toda a ilha, e frequentar a missa passou a ser visto como um ato subversivo.

A entrevista de Frei Betto paira constantemente sobre a questão da ruptura de Fidel com o catolicismo, e implicitamente indaga sobre se ele teria sido um revolucionário anticlerical caso tivesse tido a sua formação católica após o Concílio Vaticano II e [após a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano] de Medellín.

Essa pergunta nunca fica, na verdade, respondida. Mas Frei Betto demonstra um Fidel que com uma visão de Igreja essencialmente da década 1950; traz também a animação dele para com os desenvolvimentos ocorridos desde a década seguinte, sobretudo com a tentativa de aproximação da análise social marxista com o Evangelho em alguns ambientes de Teologia da Libertação.

A publicação de Fidel e a religião ajudou a superar parcialmente a profunda hostilidade entre católicos e marxistas, e fez com que os próprios cubanos iniciassem um diálogo sobre fé e revolução.

Após da queda da União Soviética, a Constituição de 1992 declarava que Cuba não era mais oficialmente um Estado ateu e a liberdade de culto foi restaurada. Nas terríveis dificuldades que se seguiram à perda de 5 bilhões de dólares em subsídios soviéticos – ironicamente os cubanos chamam isto de “o período especial” –, a Igreja tornou-se novamente uma presença significativa; o número de clérigos dobrou de tamanho.

Embora Fidel tivesse mantido a Igreja, como todas as instituições da ilha, sob forte controle (os seminários e as casas religiosas em Cuba contavam com grandes parcelas de informantes do governo), ele aos poucos veio a considerá-la um parceiro, em vez de inimiga. Porém jamais se livrou da suspeita de ser o catolicismo um rival, um organismo socialmente conservador com ambições políticas que precisavam ser mantidas em xeque.

Um desenvolvimento importante ocorreu na visita de João Paulo II em janeiro de 1998, pontífice que exortou Cuba a abrir-se ao mundo e vice-versa, pedindo democracia e direitos humanos ao mesmo tempo criticando duramente o embargo americano.

Em sua biografia papal intitulada “Testemunho de esperança: a biografia do Papa João Paulo II” [Bertrand Editora],  George Weigel lembra que Fidel, nesta visita, “combinou uma deferência marcante para com o papa juntamente com uma propaganda política antiamericana contínua”, ao mesmo tempo parecendo a alguns observadores “como um homem que queria, de alguma forma, ir ao confessionário, à única pessoa no mundo a quem seu ego lhe permitiria se confessar”.

A visita foi acompanhada por gestos significativos como a libertação de 100 prisioneiros e a restauração do Natal como feriado. Mas a visita fez inicialmente pouca diferença nas relações entre a Igreja e o Estado. Foi só em 2002 que o regime finalmente convidou os 13 bispos da ilha para conversar.

Depois disso, as conversas entre a Igreja e o Estado tornaram-se muito mais fluidas e foram aceleradas a partir de 2008 com Raúl Castro. Aos poucos, a Igreja emergia como o maior agente da sociedade civil e o principal provedor social não estatal em Cuba, conquistando uma autonomia significativa apesar de controles rígidos.

Em tudo isso, a fé pessoal de Fidel permaneceu um mistério. No entanto, abundavam rumores quanto a uma reaproximação do líder com a religião que recebera na infância.

Nas vésperas da visita do Papa Bento XVI, houve rumores de que Fidel estaria procurando um retorno à Igreja. O jornal La Repubblica citou uma figura de alto escalão do Vaticano segundo o qual Fidel estava no final de suas forças e que “neste último período ele se aproximou mais da religião e de Deus”.

O jornal também citou a filha de Castro, Alina, que pareceu confirmar a informação. “Fidel se aproximou mais da religião: ele redescobriu Jesus no fim de sua vida. Isso não me surpreende porque o pai foi criado pelos jesuítas”.

Se Fidel recebeu Bento XVI em 2012, nunca foi tornado público, e não houve rumores de uma conversão quando Francisco encontrou-se com o adoentado Fidel de 89 anos em 2015 durante 40 minutos, num momento informal em que ambos claramente desfrutaram o momento – a julgar pelas fotos divulgadas pelo filho de Fidel, Alex.

Os presentes que o papa deu almejaram claramente ajudar a El Comandante a fazer as pazes com o seu passado. Enquanto o líder cubano deu a Francisco um exemplar de sua entrevista ao Frei Betto, Fidel e a religião, o papa deu a Fidel vários livros, inclusive alguns escritos pelo padre italiano Alessandro Pronzato, cujo primeiro livro (de 1965) intitula-se “As fronteiras da misericórdia”.

O papa também lhe deu um livro e um CD de homilias do padre jesuíta Amando Llorente, sacerdote espanhol que lecionou a Fidel Castro na infância na década de 1940 e que permaneceu em contato com ele mesmo depois de este ter deixado a escola. Llorente estava entre os que Fidel expulsara em 1961, e que, de Miami, revelou certa vez que o líder cubano havia dito que era um pai substituto.

Esse lado mais bondoso e vulnerável de Fidel – o filho solitário que sentia a falta do pai, que se voltava para a piedade de sua mãe enquanto dirigia-se para política revolucionária – raramente foi visto em público, mas talvez Francisco o tenha percebido.

Os presentes do papa eram textos adequados, pode-se dizer, para um homem que olhava em retrospectiva uma vida e uma carreira política caracterizadas por um gênio carismático, mas carente de misericórdia, especialmente para com aqueles que foram vistos como seus opositores.

O progresso da alma de Fidel desde então está, em geral, envolto em mistério, exceto por um artigo tentador – para não dizer divagante – que ele escrevera recentemente para o Granma, jornal comunista oficial de Cuba.

Intitulado “O destino incerto da espécie humana”, o artigo de 9 de outubro observa como “há muito mais qualidades nos princípios religiosos do que os que são unicamente políticos” e que também “muitas das obras artísticas mais inspiradas nasceram de mãos de pessoas religiosas”. Ao notar que as grandes realizações da ciência não excluem teorias do Deus que cria o universo, o artigo de Fidel reconhece a importância das religiões para a humanidade.

O texto mostra pelo menos que a religião era um tema que perpassava seus pensamentos nestes últimos momentos de sua vida.

Ele conclui dizendo que conhece bastante sobre Jesus Cristo pelo que lhe ensinaram as escolas jesuítas e lassalistas, e de como se lembra das histórias bíblicas de Adão e Eva, da Noé e a Arca, bem como “do maná que caía do céu quando pela seca ou outras causas havia escassez de alimentos”.

Eis uma história interessante a se pontuar na Bíblia, sendo um exemplo onde as necessidades do povo não foram satisfeitas pelo livre mercado nem pelo planejamento central socialista, mas pela providência de um criador benigno.

Ele acrescenta: “Tratarei de transmitir em outro momento mais algumas ideias sobre este singular problema”.

Ele jamais tentou, e a fé de suas horas finais irá provavelmente permanecer, para sempre, um mistério.

Austen Ivereigh, doutor em filosofia pela Universidade de Oxford, publicado por Crux, 26-11-2016.

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“O único Deus que existe e que faz sentido adorar é a imagem exaltada do próprio Eu. Não é este o retrato do homem hipermoderno?”. O convite à reflexão é do psicanalista italiano Massimo Recalcati.

Sem Deus, afinal, o homem moderno se concebe inevitavelmente como deus de si mesmo e, por coerência, como um ser sem limites. Massimo Recalcati prossegue: “Ele age como um deus do hedonismo, que julga cada experiência de renúncia como coisa sem sentido. ‘Por que não?’ é a sua máxima moral, que chuta violentamente a moral ‘inútil’ do amor sacrificial pelo próximo”.

Se existe apenas esta vida, a verdadeira liberdade é a ausência de qualquer limite, de qualquer privação.

Recalcati menciona, a este propósito, o Marquês de Sade. “Não existe pecado”, escreveu o marquês em 1782, quando estava na prisão de Vincennes; só existem “necessidades pré-ordenadas pela natureza ou consequências inevitáveis” (cf. “Diálogo entre um padre e um moribundo”). Na mesma linha, hoje, o filósofo ateu Joel Marks repete: “Não existem ‘pecados’ literais no mundo porque não existe literalmente Deus, nem, portanto, toda a superestrutura religiosa que incluiria categorias como o pecado e o mal. Nada é literalmente certo ou errado porque não existe nenhuma moralidade”.

Para o Marquês de Sade, que foi perpetrador em série de estupros e de violências (o “sadismo” recebeu esse nome precisamente em sua “honra”), não faz sentido impor limites à busca do prazer porque o prazer é o principal impulso da nossa natureza animal pré-determinada. As paixões e os prazeres desenfreados, escreveu, “nada mais são que os meios de que se serve a natureza para levar o homem a realizar os desígnios que ela tem para ele” (cf. “A filosofia na alcova”).

O filósofo católico Roberto Timossi comenta: “Se Deus não existe, então não há substâncias espirituais; só há matéria sensível e, portanto, o prazer corporal é o único verdadeiro propósito da existência humana. Para o Marquês de Sade, não se pode ser ateu e não ser imoral” (cf. “No signo do nada”). O hedonismo é, assim, o único valor verdadeiro, porque, sem Deus, quaisquer limitações à própria satisfação representam um fracasso da autorrealização do deus-homem.

Sempre nos intrigou a posição filosófica de Sade porque a consideramos, talvez, a mais coerente para quem quer viver prescindindo totalmente de Deus: não existe nenhum bem, nenhum mal, nenhuma inexplicável e contraditória moral laica. Somente o Eu, que busca a satisfação contínua dos seus impulsos, dos seus instintos, e que vive de acordo com eles – até porque todo gesto altruísta, que olha para além de si mesmo, pressupõe um valor no outro que não pode subsistir razoavelmente numa visão do homem como mero resultado imprevisto do acaso cego da seleção natural. Tanto que o marquês escreveu: “O destino de uma mulher é ser como uma cadela ou uma loba: ela deve pertencer a todos os que a quiserem” (cf. “A filosofia na alcova”). É o ser humano reduzido ao animal, perfeitamente em sintonia com as tentativas do neo-darwinismo reducionista.

O Marquês de Sade, embora seja hoje celebrado em Paris com mostras ditas culturais, foi claramente um louco criminoso. Mas o interessante é que o princípio teórico da sua posição existencial é a expressão de um ateísmo radical e, no fim das contas, coerente com seu próprio absurdo: o único sentido desta vida sem sentido só pode ser a busca desenfreada e sem limites da própria sanha implacável de prazer. “O que seria a vida do próximo diante da lei absoluta do prazer?”, pergunta, adequadamente, Massimo Recalcati. “Nada. O único Deus que existe e que faz sentido adorar é a imagem exaltada do próprio Eu. Não há próximo algum, a não ser o próprio Eu”.

“Quando o ateísmo pedir mártires, diga: o meu sangue está pronto!”, escreveu Sade em 1797 (cf. “Nouvelle Justine“). No entanto, até mesmo o “divino marquês”, depois de ter realizado plenamente todas as suas perversões, viria a reconhecer o real fundamento da sua existência: “o nada”, declarou ele no “Diálogo entre um padre e um moribundo”.

O nada é a única alternativa a Deus. Não há meio termo.

Aleteia

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Conheço muitos ateus. Gente da melhor qualidade e gente não tão boa assim, como em qualquer conjunto de indivíduos. Só recentemente, porém, passei a encontrar ateus militantes, engajados na tarefa de menosprezar e investir contra as crenças alheias.

Ora, toda militância pressupõe o desejo de concretizar algum objetivo. O que pretende a militância ateia?

1º) Dar sumiço à ideia de Deus. Provocar e proclamar a falência total dos órgãos divinos, como fez o ensandecido Nietzsche.

2º) Eliminar as religiões para produzir uma humanidade nova, sob o senhorio do barro de que somos feitos.

Outro dia, nosso talentoso Luiz Fernando Veríssimo escreveu uma crônica cujo eixo expositivo firmava-se na ideia de que Deus é uma hipótese. Fiquei a pensar. Se Deus é hipótese, mera conjetura, um olhar em volta de nós mesmos revelará, então, a indispensável existência de um nada (quase escrevo esse nada com “n” maiúsculo) criador de quanto vejo. E seremos levados a atribuir a esse insignificante nada um verdadeiro frenesi criador. Surgirá, então, quem afirme que esse nada deu origem a tudo em seis dias e que no sétimo descansou sobre uma almofada de nuvens. Outros, mais em conformidade com o cientificismo do século 21, sustentarão que esse poderosíssimo nada, no exato milissegundo do Big Bang, de um até então inexistente tempo, fez explodir pequena bolinha de coisa nenhuma e… pronto! – estava criado o Universo. Onde? Onde? No imenso e absoluto vazio no qual o nada preexistia. Bum!

É interessante constatar, portanto, que ambos, tanto os crentes em Deus quanto os ateus não prescindem, para suas convicções, de algum ato de fé. Ou em Deus, ou no nada. Os primeiros partem dessa fé para as respectivas opções religiosas. Elas levam à oração, ao encontro do sentido da vida, ao consolo dos aflitos, ao repouso da alma. No caso dos cristãos, ao conhecimento do amor de Deus, à encarnação de Jesus, ao Divino que irrompe docemente no humano e na História, aos sacramentos, à meditação, ao perdão, à misericórdia. Levam, também, aos tesouros guardados onde não os corroem as traças. E, ainda, ao amor ao próximo e ao inimigo, ao luminoso exemplo dos grandes santos, a um precioso conjunto de verdades, princípios e valores que, entre outras coisas, compõe o cerne do moderno constitucionalismo. O leitor acha que é muita coisa? Pois isso tudo é apenas uma “palhinha”. Há mais livros escritos sobre essa pauta do que a respeito de qualquer outro assunto de interesse humano.

A adesão vital ao hipotético nada, por sua vez, leva a coisa alguma. Ou por outra, leva o ser humano a deixar-se conduzir por um vórtice que se esgota em si mesmo. Organizado em militância, como vejo acontecer, compõe uma nova igreja, a igreja do non credo a que já me referi. Tal religião religa seus crentes a um hipotético nada onde não há perdão nem salvação. A fé no nada não mobiliza sequer um fio de cabelo. A esperança no nada é o próprio desespero. E tudo acaba sob sete palmos de terra. Se houver algum resíduo perceptível de espírito, algo assim como um ainda latejante fragmento de consciência, que disponham dele os vira-latas. Como é grande o prejuízo nessa escolha!

Jornal Zero Hora.

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Sumário:

• Não há dúvida de que o estrelato de Francisco não diminuiu
• É um momento de bonança para o catolicismo em muitos lugares, mas não no Ocidente
• Não é novidade: o popular João Paulo II não conseguiria reverter o declínio no número de fiéis no longo prazo
• Francisco terá de descobrir como aproveitar o seu sinal distintivo pessoal

Alguns dados surgiram recentemente e, tomados juntos, eles confirmam uma realidade inquietante para o Papa Francisco: a sua popularidade não parece estar se traduzindo em um entusiasmo notavelmente maior na Igreja que ele lidera.

Na semana passada, agências noticiosas informaram que as nove contas no Twitter do pontífice haviam alcançado um total de 26 milhões de seguidores em todo o mundo, representando um crescimento impressionante para contas papais, criadas recentemente. (Em 2012, criaram-se contas no Twitter em inglês, italiano e francês sob a liderança de Bento XVI; em pouco tempo outros idiomas foram acrescidos.)

Estes 26 milhões, a propósito, incluem 411 mil pessoas que seguem o papa em latim, dando a entender que os rumores da morte deste idioma eram exagerados. O TechnoAndroid, sítio eletrônico italiano que acompanha as tendências digitais, também informou que, em 2015, uma das hashtags mais usadas no Twitter foi #PapaFrancesco.

Tudo isso mostra que o ‘estrelado’ do pontífice não diminuiu.

Por outro lado, a União dos Ateus e Agnósticos Racionais informou, no começo de janeiro, que a demanda para o formulário que a instituição fornece para permitir que alguém se retire oficialmente da Igreja Católica alcançou o ponto mais alto de todos os tempos no ano de 2015, com 47.726, 4% acima que o ano anterior.

A Itália reconheceu legalmente um procedimento coloquialmente conhecido de “desbatismo” em 1999, exigindo que as paróquias alterem os seus registros quando alguém submete uma carta em que pede pela remoção de suas informações dos cadernos batismais.

Esta associação ateia está crescendo em toda a Itália, abrindo recentemente uma filial em Barletta-Andria-Trani, no sudoeste do país, marcando a sexta província na qual ela se faz presente. Na terça-feira (12 de jan.), a sua filial em Ravenna protestou contra uma decisão tomada pela cidade de Russi em alocar mais de 1 milhão de dólares em fundos públicos para escolas administradas pela Igreja.

Com certeza, um número de deserções menor que 48 mil no período de um ano dificilmente pode ser considerado uma crise. Isso também com certeza não acontece apenas na Igreja Católica, sendo um mal-estar europeu geral das religiões institucionais.

A Igreja da Inglaterra, por exemplo, informou recentemente que a participação nos seus cultos alcançou o nível mais baixo de toda a história, levando o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, a refletir a respeito das dificuldades de se ministrar em uma cultura cada vez mais anticristã.

É igualmente verdadeiro que, embora o catolicismo pode estar em crise no Ocidente, o mesmo não acontece em todos os lugares. Vivemos um momento de bonança para a Igreja na África subsaariana, por exemplo, onde ela cresceu quase 7 mil por cento ao longo do século XX.

Não obstante tudo isso, a Itália é o quintal do papa e é aí onde poder-se-ia esperar que o “efeito Francisco” se fizesse mais palpável.

Em outras partes do mundo, as tentativas de encontrar evidências quantificáveis empiricamente na fé e prática católica devido ao Papa Francisco, em geral, não tiveram sucesso.

Oito meses depois da eleição de Francisco em 2013, o Pew Forum não encontrou impacto algum nos EUA, e um estudo mais recente do Pew Study descobriu que o catolicismo está perdendo mais membros no citado país do que ganhando, e isso num ritmo mais rápido do que qualquer outra denominação – tendência que o fascínio pelo papa não foi possível de deter.

A questão de fundo é que, embora as pessoas podem gostar de Francisco, isso nem sempre é o suficiente para mantê-las na Igreja ou trazê-las de volta.

Para complicar um pouco mais as coisas: para cada não católico ou ex-católico que Francisco possa vir a alcançar com o seu estilo despojado, existe um “ainda católico” que ele pode afastar.

Fomos lembrados disso nestas últimas semanas, quando no Ano Novo os italianos estiveram tuitando, mandando mensagens de textos, postando na internet uma suposta “mensagem de Ano Novo de Francisco” intitulada “Jamais desista da felicidade”. O texto continha frases do tipo autoajuda, tais como “use as suas lágrimas para irrigar a sua tolerância” e “use suas mágoas para moldar a sua paciência”.

O caso em torno desta mensagem é que ela sublinha o quão apeladora a figura do papa pode ser às pessoas e o quão ávido elas se encontram a ouvir o que ele tem a dizer.

No entanto, quando se soube que era uma brincadeira, o escritor católico italiano Bonifacio Borruso rapidamente sugeriu que Francisco não pode culpar ninguém senão a si mesmo pelo fato de as pessoas terem feito algo assim, posto se tratar do tipo de nonsense ao estilo nova era que fomos levados a esperar dele.

Tais católicos que assumem este tipo de pensamento geralmente não abandonam a Igreja, mas podem entrar em um tipo de exílio interior tão preocupante a um papa quanto as suas próprias saídas.

Com certeza, a questão fundamental de um pontífice jamais vai ser a parcela católica no mercado da fé. Conforme certa vez disse Bento XVI, ao falar sobre as perdas de fiéis às igrejas evangélicas pentecostais no Brasil: “A estatística não é a nossa divindade”.

Só para constar: dificilmente esse problema é uma novidade. São João Paulo II foi uma das figuras mais populares do planeta por quase 27 anos, mas o seu status de estrela não fez muita diferença no declínio a longo prazo dos fiéis nos países ocidentais.

Conforme certa vez disso o falecido cardeal italiano Roberto Tucci: “Tenho a impressão de que as pessoas gostam do cantor, não da música”.

Por outro lado, Francisco usou a sua homilia na Festa da Epifania, em 6 de janeiro, para pedir por um renovado espírito missionário.

“Anunciar o Evangelho de Cristo não é uma opção que podemos fazer entre muitas”, disse ele, “nem é uma profissão”. Em vez disso, anunciar o Evangelho “é a sua própria natureza”.

Claramente, ele não estava falando sobre vencer campeonatos de popularidade, mas sim em trazer as pessoas de volta à igreja.

Nesse sentido, um desafio que o pontífice pode enfrentar em 2016 é o de descobrir como o seu sinal distintivo pessoal poderá ser “remanejado”, por assim dizer, a fim de ter um maior valor missionário direto na Igreja.
Caso contrário, o dizer de Tucci sobre o dilema de João Paulo II – as pessoas acolhendo o cantor, mas não sua música – pode acabar fazendo parte da caracterização do papado de Francisco também.

John L. Allen Jr – Crux

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A hematologista canadense Jacalyn Duffin estava observando no microscópio “uma célula letal de leucemia”.

Olhando para a data do exame, concluiu: “Fiquei persuadida de que o paciente cujo sangue estava examinando tinha que ter morrido”.

Entretanto, o paciente estava bem vivo.

A hematologista não sabia: ela estava participando da investigação de um milagre.

Duffin, 64, é também uma prestigiosa historiadora, tendo presidido a Associação Americana de História da Medicina e a Sociedade Canadense de História da Medicina, além de ser catedrática dessa disciplina na Queen’s University, de Kingston, Canadá.

O fato se deu em 1986 e foi o seu primeiro contato com as canonizações da Igreja.

A amostra de medula fora tirada de uma jovem de 30 anos ainda viva. Estudava-se a veracidade do milagre no contexto do processo de canonização da primeira santa canadense, Maria Margarida d’Youville (1701-1771), fundadora das irmãs da Caridade, elevada à honra dos altares 14 anos depois.

O paradoxal do evento é que naqueles tempos em que os processos de canonização eram exigentes, a Igreja tendia a descartar o caso enquanto milagroso.

Existia a possibilidade de a cura ser atribuída à quimioterapia. Porém, “os especialistas em Roma aceitaram reconsiderar a decisão se uma testemunha ‘cega’ (sem saber do quê nem de quem se tratava) reexaminasse as amostras”, narrou a Dra. Jacalyn.

Ela lavrou um laudo sem saber para o quê. “Nunca tinha ouvido falar do processo de canonização e não podia saber que a decisão requeria tanta deliberação científica”, disse ela.

Pois a hematologista é ateia e não se interessava pela religião, nem pela do marido que é judeu.

Até que um dia ela foi convidada a testemunhar diante de um tribunal eclesiástico. Posteriormente, como seu laudo foi decisivo, convidaram-na para assistir à cerimônia na Praça de São Pedro.

“De início eu duvidei em ir, eu não queria ofender as religiosas, porque eu sou ateia e meu marido é judeu.

“Mas acabamos indo, vendo que elas estavam felizes de nos incluir na cerimônia.

“Tampouco podíamos renunciar ao privilegio de testemunhar o reconhecimento do primeiro santo de nosso país”.

Ela ganhou também um exemplar da Positio, documento decisivo de cada processo de canonização. E ali viu que estavam incluídos seus trabalhos e observações.

A ateia levou uma surpresa: “subitamente compreendi entusiasmada que meu trabalho médico estava nos arquivos vaticanos, e a historiadora que há em mim começou a querer saber de outros milagres incluídos em canonizações do passado”.

E foi assim que acabou estudando 1.400 milagres apresentados para a canonização de centenas de santos nos últimos quatro séculos.

Ela publicou um primeiro livro com suas conclusões: “Medical Miracles” [Milagres médicos].

Depois escreveu um segundo livro sobre dois santos mártires do século IV cuja devoção cresce notavelmente nos EUA e no Canadá: “Medical Saints. Cosmas and Damian in a Postmodern World” [Santos médicos: São Cosme e São Damião no mundo pós-moderno], publicado em 2013 pela Universidade de Oxford.

A Dra. Jacalyn ainda é ateia, mas escreveu: “os ateus honestos devem admitir que acontecem fatos cientificamente inexplicáveis” e “a hostilidade de certos jornalistas procede de seu próprio sistema de crenças: como para eles Deus não existe, logo não pode existir nada sobrenatural.

“Mas, se os doentes atribuem sua cura a Deus pela mediação dos santos, por que é que deve prevalecer outro sistema de crenças (o incrédulo) sobre o dos doentes? “

Essa pretensão revela o abismo, socialmente admitido, entre acreditar na ciência e maravilhar-se diante do inexplicável”.

E acrescentou: “Os milagres acontecem e com maior frequência do que acreditamos”.

O testemunho da Dra. Jacalyn, independente de suas convicções pessoais, é um tributo ao rigor da Igreja na hora de examinar as curas sobrenaturais.

Dos 1.400 milagres analisados, ela concluiu que “as doenças que acabam sendo curadas por milagres foram diferentes segundo a época, mas, em todas as ocasiões, tratava-se das que mais desafiavam a ciência médica”.

Fonte: Ciência confirma Igreja.

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  • Ateu vem da palavra grega “atheos”, ou seja, aqueles que negam (“a”) a existência de Deus (“Theos”). Ateu, portanto, é todo aquele que não acredita em Deus, ou seja, em um ser superior. É uma atitude de descrença perante a afirmação religiosa de que existem divindades e que elas exercem influência no universo e na conduta humana. Porém, dentre esses, existem aqueles que militam pela causa da não existência de Deus e aqueles que simplesmente negam a existência d’Ele por não achar provas racionais para tal. Esses últimos estão na linha dos agnósticos, que negam o Senhor, porque Sua existência não pode ser provada. Hoje, no mundo, por volta de 749,2 milhões de pessoas se dizem não crentes, ou seja, 11% da população. O país mais ateu do mundo em porcentagem é a Suécia com 85% de Ateus. O Brasil se encontra entre as populações mais religiosas com 76% de crentes (pessoa que acredita em alguma forma de religiosidade).

    Todavia, se formos a fundo na questão do ateísmo, vamos ver que a verdadeira descrença em seres superiores é bem rara. Na verdade, desde sempre, o ser humano é marcado pela religiosidade, a tal ponto que, na arqueologia, a diferença fundamental entre restos mortais de primatas e seres humanos é a presença de religiosidade através de sinais de ritos religiosos nos ossos humanos (sacrifícios) e nos utensílios que eles usavam. Embora a propaganda pós- iluminista e midiática insista em querer enganar as pessoas no sentido de que a razão e a fé são antagônicas, na verdade “a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade” (São João Paulo II).

    Grandes cientistas religiosos

    É curioso observar que a maior parte dos grandes cientistas é de religiosos como, por exemplo, Nicolau Copérnico († 1543), fundador da cosmovisão moderna; Newton († 1727), fundador da física teórica clássica; Ampére († 1836), que descobriu a lei fundamental da corrente elétrica, Gaus († 1855), importante matemático alemão; Darwin († 1882), criador da teoria da evolução; Albert Einstein († 1955), fundador da física contemporânea e da teoria da relatividade; Millikan († 1953), físico ganhador do prêmio Nobel de 1923; Plank († 1947), fundador da física quântica e Nobel em 1918; Erwin Schrödinger († 1961), criador da mecânica ondulatória e ganhador do prêmio Nobel de 1933; Wernher von Brown († 1977), americano criador dos foguetes espaciais.

    Após essa lista de crentes, poderíamos fazer outra de famosos ateus, anticlericais, que se converteram em seu leito de morte, como Voltaire.

    É difícil achar um verdadeiro ateu

    A verdade é que muitos que negam ou desprezam Deus e a religião, tantas vezes buscam o transcendente (ser ou força superior) de outras formas. Penso que seja bem difícil achar um verdadeiro ateu. Não é coincidência que, enquanto cresce o ateísmo no mundo, crescem outras formas mais ou menos veladas de busca de transcendência, como a fixação por ETs, a atração pelo mórbido, como os zumbis e outros. Coisas ainda mais sutis revelam a busca de “algo a mais”, como o endeusamento na ciência pelo cientificismo, a absolutização do prazer no consumismo e até o uso e abuso de drogas entorpecentes que trazem sensações transcendentais.

    Nessas formas veladas de transcendência podemos ver o risco que o ateísmo pode representar para a sanidade pessoal e social. Daí, é muito fácil cair em ideologias grotescas como o comunismo, o nazismo, o feminismo radical e a moderna ideologia de gênero, ou até as formas bizarras de religiosidade e superstições, que pautam suas crenças em forças ocultas de objetos, mantras, astros e animais.

    O ateísmo é um opção religiosa

    Importante notar que o ateísmo, na verdade, ele não deixa de ser uma opção religiosa. Se para os ateus é impossível provar racionalmente a existência de Deus, é preciso dizer que o inverso é verdadeiro. Ninguém pode provar que Deus não existe. Se não existe uma definição racional ou científica definida, tudo fica no plano da fé: eu acredito ou não. Fica claro que o ateísmo tem uma configuração religiosa e isso se evidencia entre os ateus que militam pela causa ateia como se fosse realmente uma religião que quer “converter adeptos”.

    Querendo ou não, mesmo que se negue, o amor e o transcendente são a marca mais profunda do ser humano. A busca da beleza e do amor, impossível aos animais, mostra que o homem anseia por algo superior e, como Santo Agostinho, lembrando de seus tempos de paganismo, muitos poderão dizer: “Tarde Te amei, ó beleza tão antiga e tão nova… Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Assim, longe de Ti, me detinha nas criaturas que nada seriam, se em Ti não existissem”.

    Fonte: Canção Nova

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É a Suécia. Lá, 85% da população não tem nenhuma crença ou não acredita em Deus.

Esse foi o resultado da pesquisa Ateísmo: Taxas e Padrões Contemporâneos, do sociólogo norte-americano Phil Zuckerman. Segundo ele, os suecos aprendem sobre cada uma das religiões na escola e são livres para escolher seguir ou não uma delas. E isso se repete na maioria dos países com alto índice de ateísmo. Vale lembrar que o estudo engloba ateus, agnósticos e não-crentes em Deus e o ranking é baseado na porcentagem populacional de cada país.

  • Enquanto os ateus negam a existência de Deus, os agnósticos garantem não ser possível provar a existência divina.

Crer ou não crer? – Os números da religião e do ateísmo no mundo

Suécia: 85%

  • População: 8,9 milhões
  • Ateus: 7,6 milhões

Vietnã: 81%

  • População: 82,6 milhões
  • Ateus: 66,9 milhões

O budismo e o taoísmo, religiões comuns por lá, são vistos como uma tradição, e não crença.

Dinamarca: 80%

  • População: 5,4 milhões
  • Ateus: 4,3 milhões

Um levantamento da ONU aponta que países com boa taxa de alfabetização tendem a ser mais descrentes.

Noruega: 72%

  • População:4,5 milhões
  • Ateus: 3,2 milhões

Japão: 65%

  • População: 127 milhões
  • Ateus:82 milhões

Em 2008, o pesquisador britânico Richard Lynn concluiu que países com alto QI são mais ateus. É o caso da população japonesa, que mantém a média 105 – uma das mais altas já registradas.

República Tcheca: 61%

  • População: 10 milhões
  • Ateus: 6,2 milhões

Finlândia: 60%

  • População: 5,2 milhões
  • Ateus: 3,1 milhões

França: 54%

  • População: 60,4 milhões
  • Ateus: 32,6 milhões

Coreia do Sul: 52%

  • População: 48,5 milhões
  • Ateus: 25,2 milhões

Crenças no mundo

  1. Cristianismo: 33,3% ou 2 bilhões de pessoas (católicos: 16,8%; protestantes: 6%; ortodoxos: 4%; anglicanos: 1,2%)
  2. Outras: 23%
  3. Islamismo: 22,4% ou 1,2 bilhão de pessoas
  4. Hinduísmo: 13,7% ou 900 milhões de pessoas
  5. Budismo: 7,1%
  6. Sikhismo: 0,3%
  7. Judaísmo: 0,2%

Ateísmo por idade

  1. 18 e 34 anos – 54%
  2. 35 e 49 anos – 24%
  3. 50 a 64 anos – 15%
  4. 65 anos – 7%

Países com maior número de ateus

  1. 181,8 milhões de chineses são ateus – A China ocupa o 36º lugar no ranking de países com mais percentual de ateus (14%). Em números absolutos, porém, é onde vivem mais pessoas sem crença.
  2. Japão: 82 milhões.
  3. Rússia: 69 milhões.
  4. Vietnã: 66 milhões.
  5. Alemanha: 40 milhões.
  6. França: 32 milhões.
  7. Eua: 26,8 milhões.
  8. Inglaterra: 26,5 milhões.
  9. Coreia do Sul: 25 milhões.

Os mais fiéis – Países cuja maioria da população tem alguma crença:

  1. Itália: 90% (53 milhões)
  2. Filipinas: 80% (75 milhões)
  3. México: 76% (96 milhões)
  4. Brasil: 73% (137 milhões)

Ateísmo por sexo

  1. Homens: 56%
  2. Mulheres: 44%

Ateus no mundo – 749,2 milhões (11% da população mundial)

Na ciência – 50% dos cientistas têm alguma religiosidade. Entre eles, 36% acreditam em Deus. Ateus: 10%. Cristãos: 2%.

Fontes: Pesquisas de Phil Zuckerman (2007), Richard Lynn (2008) e Elaine Howard Ecklund (2010), ONU, adherents.com, American ReligiousIdentification Survey, The Pew Research Center, Gallup Poll, The New York Times, Good, Nature, Live Science e Discovery Magazine.

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Nessa semana, durante o programa Otto e Mezzo, do canal italianoLa7, apresentado por Lilli Gruber, o jornalista Gianluigi Nuzzi, na tentativa de propagandear a venda do seu novo livro – que contém, como ele reiterou várias vezes, “notícias importantes que não podem ser escondidas”, e até algumas transcrições de gravações clandestinas da voz do papa em encontros confidenciais de trabalho –, continuou, muitas vezes estimulado pela jornalista e pelo vaticanista Raffaele Luisi, a repetir: “Eu defendo o papa… Meu livro ajuda o papa … Eu escrevi o livro para defender a obra reformadora do papa”.

O “mantra” foi repetido como se os telespectadores fossem um bando de idiotas, e tudo isso, não fosse o fato de que a história de que falamos é muito série, seria de rir. Nuzzi, hoje defensor do papa, construiu a sua fama de jornalista investigativo atacando o papa e a Igreja sistematicamente e nem sempre com a verdade e quase sempre mexendo em águas turvas.

Nada no seu jornalismo investigativo, sempre baseado em documentos roubados (e essa parece ser sua especialidade) foi construído se não sempre usando “fontes” muito especiais que – como ele insistiu ontem – ele sabe proteger… Uma pena que ele não disse que essas suas fontes acabam, sistematicamente, na prisão.

Nuzzi e os presentes no programa em questão nunca pronunciaram a palavra “roubados” ou, melhor, “documentos roubados”, mas essa era uma das questões a serem discutidas e analisadas, também para entender de que tipo de jornalismo estamos falando quando se abusa da palavra “investigação”.

Por fim, o ateu devotíssimo, comprometido agora em uma cruzada em favor do papa e especialmente na promoção comercial da sua nova obra (que, aliás, é realmente a única coisa que importa nessa história) disse que o seu jornalismo investigativo serve para combater a corrupção e denunciar ‘os males do Vaticano’, e ele disse isso com tanta segurança que, às vezes, parecia que ele tinha descoberto o “jornalismo taumatúrgico”.

Seria interessante saber que feridas e males ele curou graças aos seus livros, começando por aqueles sofridos pelas suas fontes que foram presas, investigadas, processadas e condenadas.

Luis Badilla – Site Il Sismografo

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Não é exatamente uma novidade que a produção artística – música, artes plásticas, artes cênicas, cinema, literatura, etc. – dos nossos dias pode ser comparada, no geral, a uma imensa montanha de lixo. Qualquer pessoa com um senso estético mais ou menos educado, e um bocadinho de sensibilidade artística, sente-se, ao transitar pelo mundo das artes de hoje, como se estivesse no meio de um lixão.

Isso não significa, entretanto, que absolutamente tudo que seja produzido hoje seja nocivo ou repulsivo. Adotar essa postura seria vestir a casaca de um elitismo que, na melhor das hipóteses, pode ser chamado de bocó. Com um pouco de paciência e perseverança, é possível encontrar coisas que são positivamente surpreendentes. Mesmo autores de obras mais ou menos descartáveis podem produzir peças de qualidade e nos inspirar reflexões importantes sobre a vida, o Universo e tudo o mais (como diria Douglas Adams).

Eu sou, desde a adolescência, fã da banda inglesa Black Sabbath. Eu gosto das músicas, gosto das melodias, gosto tanto da voz de bêbado chorão de Ozzy Osbourne quanto da voz possante de Ronnie James Dio (os dois melhores vocalistas da banda, na minha modesta opinião). Também admito, porém, que muitas das músicas da banda não são, do ponto de vista humano, aproveitáveis: falam de coisas superficiais e supérfluas com uma pitada de ocultismo aqui e ali. Isso não me faz gostar menos da banda, mas me faz ter um posicionamento crítico sobre ela.

Em 2013, a banda lançou um novo álbum, intitulado “13”. A primeira música a ser divulgada, em formato de single, foi “God Is Dead?”. A música lembra um pouco a primeira fase da banda, quando as músicas eram mais lentas e cadenciadas, buscando criar uma atmosfera sombria. Composta a seis mãos – Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler, três dos quatro fundadores da banda –, a música ganhou o Grammy na categoria Best Metal Performance em 2014. Do ponto de vista melódico, não é exatamente uma obra-prima, nem mesmo se comparada com outras músicas da banda. Ainda assim, “God Is Dead?” é uma das melhores músicas já compostas pelo Black Sabbath, e a razão disso se encontra na letra da música.

O título da canção remete imediatamente ao celebre aforismo 125 de “A Gaia Ciência”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche:

Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste ato não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu ato mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste ato, de uma história superior a toda a história até hoje!

A música trata da crise de um homem que vive em tempos ímpios – em nossos dias, para ser mais claro. O eu lírico da canção se depara com o deserto existencial a seu redor, com a degeneração generalizada do homem e do mundo, e questiona se, de fato, Deus está morto.

Rivers of evil run through dying land
Swimming in sorrow
They kill, steal, and borrow
There is no tomorrow
For the sinners will be damned.
Ashes to ashes
You cannot exhume a soul
Who do you trust when corruption and lust,
creed of all the unjust,
Leaves you empty and unwhole?

Rios de maldade correm pela terra moribunda
Nadando em tristeza
Eles matam, roubam e tomam
Não há amanhã
Pois os pecadores serão condenados.
Cinzas às cinzas
Você não consegue exumar uma alma
Em quem você confia quando a corrupção e a luxúria,
Credo de todos os injustos,
Deixam-no vazio e incompleto?

Apesar de tudo dizer a ele que Deus está, de fato, morto, há um impulso vital que brota de sua alma e que o faz resistir, em última instância, a aceitar que Deus esteja morto. Mesmo assim, percebe-se que essa luta se dá de maneira intensa: a letra deixa entrever que, desde sempre, ele foi ensinado a acreditar que não há Deus.

But still the voices in my head
are telling me that God is dead
The blood pours down
The rain turns red
I don’t believe that God is dead
God is dead

Mas as vozes na minha cabeça
Me dizem que Deus está morto
O sangue verte
A chuva fica vermelha
Eu não acredito que Deus está morto
Deus está morto

Essa música fala ao coração mesmo dos dias que vivemos. Creio que seja improvável encontrarmos na história humana um período em que o sagrado, o transcendente – Deus, em última instância –, tenha sido tão atacado sob os mais diversos rótulos: insegurança, muleta psicológica, patologia mental, obscurantismo, dentre outros. No entanto, o homem possui dentro de si um poço sem fundo, um desejo infinito por um bem que seja infinito. Quando o homem silencia, e se torna capaz de encarar esse poço sem fundo, é impossível não se sentir inquieto, caso encare a coisa de maneira honesta.

Ou Deus está morto e esse anseio profundo do homem por Deus é o pior transtorno psicológico conhecido pela ciência, ou o mundo está errado e Deus não está morto – tertium non datur, não há terceira opção. Essa é a reflexão que a música “God Is Dead?”, do Black Sabbath, induz a quem a ouve com atenção. Responder a essa pergunta é, penso eu, uma tarefa urgente para qualquer um que sinta, mesmo que não consiga enunciá-lo explicitamente, que há algo de errado no mundo em que vivemos.

Autor: Felipe Melo

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Para ele, o encontro com Deus foi imprevisto e imprevisível. Ele era ateu, filho de pais incrédulos, leitor de Diderot e dos iluministas do século XVIII.

Eric-Emmanuel Schmitt, filósofo de formação, dramaturgo de nascimento, escritor prolífico e diretor de cinema é uma das figuras culturais francesas mais conhecidas internacionalmente. Ele contou ao jornal italiano Avvenire (6 de outubro) a história da sua conversão, numa noite de 1989, em pleno deserto de Hoggar, no Saara.

O extraordinário dom de Deus

Schmitt se perdeu da sua comitiva e passou a noite sozinho. Foi assim que aconteceu o encontro com Deus. “Dizer que uma pessoa se converteu é dizer que ela fez uma escolha ativa e voluntária. Devo admitir que isto não representa exatamente o que eu vivi naquela noite no deserto. O que eu recebi foi uma graça e um dom extraordinário. E abri em mim todo o lugar e espaço possível para esse dom. Por isso, quando me chamam de ‘convertido’, eu prefiro ser definido como alguém que recebeu uma revelação”.

“Eu recebi uma revelação”

Esta é “a expressão que me caracteriza melhor, porque ela fala da surpresa do presente que eu recebi. Eu não estava à procura de Deus, nem sabia que Deus estava à minha procura. Recebi como presente algo que eu não estava buscando. Esta revelação, para mim, foi apenas o começo”.

O estudo do Evangelho

Quando voltou à França, o dramaturgo passou a ler vários poetas místicos de diversas religiões. “Após aquela revelação, eu percorri um caminho de descoberta do Evangelho. E houve um trabalho muito ativo da minha parte para entender esse texto cheio de contradições. Nisto eu posso dizer que experimentei uma conversão. Em síntese, portanto: no deserto, uma revelação; com o Evangelho, uma conversão”.

Seguindo os passos de Foucauld

Deve ser coincidência, mas a história dessa revelação é muito similar à que aconteceu com o explorador francês Charles de Foucauld, outro famoso convertido, depois do encontro com Deus no coração do Saara. A partir daquele momento, tornando-se eremita, Foucauld deu início a um grande trabalho de evangelização daquelas terras. “A sua força”, explica Schmitt, “estava em não tentar cristianizar à forçar aquelas pessoas, mas em testemunhar o Evangelho com o exemplo da própria vida. Foi assim que Cristo mesmo fez em seu tempo”.

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