Se por acaso uma criança perguntar aos seus pais o porquê do sol brilhar, a resposta mais rápida pode ser dizer-lhe que o sol brilha para nos dar luz ou para ajudar as plantas crescer. Subentendida nesta resposta, no entanto, está a suposição de propósito e design. A pergunta assume que o sol foi colocado lá por um motivo, e que a sua luz tem um propósito intencional – e não que os benefícios da sua luz são uma coincidência marginal dum processo natural.
Uma resposta mais analítica pode ser dizer que o sol brilha devido a um processo de fusão nuclear que produz prótons e ondas de luz tão intensas que eles chegam à Terra em quantidades suficientes para serem vistas. Claro que esta resposta explica o “como” o sol brilha, mas não explica o “porquê”.
O facto das crianças parecerem estar construídas para fazerem perguntas em torno do “porquê”, e o fato de pessoas de todas as áreas parecerem construídas para atribuir propósito e design às coisas do mundo natural é revelador.
A sabedoria ateísta convencional declara que “todos nós nascemos ateus” – isto é, que nenhuma pessoa nasce a acreditar em Deus. Por outro lado,os cristãos sempre acreditaram no “sensus divinitatis“, isto é, um sentido de Deus inerente. Mais tarde, o teólogo Cristão Alvin Plantinga alegou que a crença em Deus é “propriamente básica“, isto é, que acreditar em Deus é tão fundamental como acreditar que nós existimos ou que o mundo externo e real – coisas que nós já acreditamos quando nascemos.
Este conceito de sensus divinitatis está a receber confirmação por parte duma fonte pouco provável, nomeadamente, das pesquisas científicas.
Os estudos que estão a ser levados a cabo estão a mostrar de modo gradual que a crença em Deus – ou algum outro aspecto geral do teísmo – pode estar embutida na própria essência das suposições humanas desde o momento de nascimento, e permanecer intacto, mesmo junto dos ateus.
No seu estudo de 2004 com o título de “Are Children ‘Intuitive Theists”, a Psicóloga Deborah Kelemen reuniu uma vasta gama de pesquisas que sugeriam que, começando na sua infância, as crianças têm uma suposição de que o mundo à sua volta foi criado, de que existe um propósito, e que as coisas dentro do mundo natural têm um design intencional. Assim diz Kelemen: …embora as crianças não sejam totalmente indiscriminadas, elas exibem no entanto um viés geral que as leva a tratar os objectos e os comportamentos como existindo com um propósito, (Kelemen, 1999b, 1999c, 2003; but see Keil, 1992) e estão, de forma geral, inclinadas a olhar para os fenómenos naturais como intencionalmente criados, embora seja por parte dum agente não-humano.(Evans, 2000b, 2001; Gelman & Kremer, 1991).
No ano de 2011, num estudo de Oxford com o título de “Humans ‘predisposed’ to believe in gods and the afterlife“, foi apurado que, através de toda a variedade de culturas, as pessoas não só estão instintivamente mais inclinadas para a crença em Deus, mas também numa natureza dualista – isto é, que os seres humanos são, ao mesmo tempo, seres físicos e seres não-físicos.
Os pesquisadores salientaram que o seu projecto não tinha como objectivo provar a existência de Deus ou algo que se pareça, mas apenas e só verificar se conceitos tais como deuses e o Além eram totalmente ensinados, ou se eram expressões básicas da natureza humana.
O estudo apurou que, independentemente da cultura, os instintos humanos tendiam a ser os mesmos quando o tópico eram os conceitos de Deus e do Além. Tal como a pesquisa de Kelemen, este estudo analisou as suposições fundamentais das crianças pequenas.
Foi perguntado às crianças se a sua mãe saberia o que se encontrava dentro duma caixa que ela não conseguia ver. As crianças com três anos acreditavam que a sua mãe e Deus sempre saberiam o que se encontrava dentro das caixas, mas quando as crianças atingiam os 4 anos de idade, as crianças começavam a entender que as suas mães não era omnipresentes e nem omniscientes. No entanto, as crianças podem continuar a acreditar em seres sobrenaturais omniscientes e omnipresentes, tais como um deus ou deuses.
Também os adultos foram examinados para ver que tipo de crenças instintivas eles poderiam ter.
Experiências envolvendo adultos …. sugerem que pessoas das mais variadas culturas instintivamente acreditam que alguma parte da sua mente, alma ou espírito, continua a existir depois da morte.
Acreditem ou não, este experiência alargou-se também até à secção ateísta da população. Num estudo de 2011 com o título de “Anger toward God: Social-cognitive predictors, prevalence, and links with adjustment to bereavement and cancer“, pessoas que se identificam como ateístas foram testadas com imagens e palavras relacionadas com Deus. Em um número estatisticamente significativo, estas imagens e palavras desencadearam sentimentos de raiva. Raiva não contra a religião ou contra as religiões mas contra Deus.Mais ainda, estudos sugeriram que até os cientistas ou os altamente racionais, quando forçados a responder rapidamente perguntas relativas ao “porquê”, tenderão a dar respostas que sugerem intencionalidade e design na natureza (e não um processo mecânico). Neil Degrasse Tyson, cientista popular e a voz da imensamente bem sucedida série “Cosmos”, expressou sua frustração em relação ao termo “Ateu”:
…. é estranho que a palavra “Ateu” exista. Eu não jogo golfe. Existe alguma palavra para os não-jogadores de golfe? Será que os não-jogadores de golfe se reúnem e avançam com estratégias? Existe alguma palavra para os não-practicantes de esqui? Será que eles se encontram e falam do facto de não practicarem esqui? Eu não consigo fazer isso. Não me consigo reunir com outras pessoas para discutir o porquê de ninguém que está na sala acreditar em Deus.
No entanto, esta pesquisa pode sugerir o porquê do termo “Ateu” ser necessário. Segundo o Professor Roger Trigg, Co-Director do projecto, Este projecto sugere que a religião não se limita a ser algo peculiar que algumas poucas pessoas fazem ao Domingo, em vez de irem jogar golfe. Conseguimos reunir um corpo de evidências que sugerem que a religião é um facto comum na natureza humana através de todas as sociedades.
Isto sugere que as tentativas de se suprimir a religião são muito provavelmente de curta duração visto que o pensamento humano parece enraizado em conceitos religiosos, tais como a existência de agentes sobrenaturais ou deuses, e a possibilidade de vida para além da morte ou antes da vida.
Por Joel Furches
Fonte: – http://exm.nr/1Kjkyvj