Luís Antônio Giron, na Época

Ao assistir ao filme O Hobbit – uma jornada inesperada, do diretor neozelandês Peter Jackson, senti a mesma alucinação recorrente que tive quando vi os três filmes de O senhor dos Anéis, também de Jackson, no início da década passada. O ambiente concebido pelo escritor inglês J.R.R. Tolkien e recriado em alta tecnologia digital (filmagem em 3D e 48 quadros por segundo) por Peter Jackson é o dos romances da Idade Média, com seus cavaleiros, senhores de territórios fragmentários, o amor cortês, o misticismo ardente e superstições materializadas em seres fantásticos.

Mas voltemos à alucinação. Consigo perceber uma cruz invisível atravessando todas as sequências. A cruz não se encontra estampada nos trajes dos elfos e não está fincada no topo da Montanha Solitária, mas é como estivesse lá, sub-reptícia, uma marca d’água. É como se Tolkien houvesse subtraído o símbolo mais ostensivo do Cristianismo – talvez porque fora utilizado militarmente durante as Cruzadas – para que viessem à tona os valores que a cruz oculta e ofusca.

Assim, o jogo de ausência e presença simbólica da religião no filme e na obra de Tolkien é tão sutil como insidioso. Não apenas Tolkien faz uma defesa dos fundamentos cristãos, como sobretudo enfatiza a beleza e a aura divina do catolicismo. Isso se dá não só porque Tolkien era um católico fervoroso que trabalhou ao abrigo da Universidade Oxford – assim como seu amigo C.S. Lewis, autor das Crônicas de Nárnia, outra manifestação católica sob a forma de alegoria fantástica. Tolkien e Lewis acreditavam na literatura como um estágio necessário para a transformação espiritual da humanidade e sua elevação aos rituais mais belos… que se encontram no Vaticano, cuja origem está na ritualística pomposa do Império Romano.

Tolkien fez o seu catolicismo penetrar no romance O Hobbit (1937) e na sua sequência, a trilogia de romancesSenhor dos Anéis (1954-1955). Embora ele quisesse, no fim das contas, narrar uma boa história, esperava que seus leitores evoluíssem espiritualmente com ela. Dizia que um dos objetos “subcriativos” de seu projeto era “a elucidação da verdade, e o encorajamento da boa moral neste mundo real, através do antigo artifício de exemplificá-las em personificações pouco conhecidas, que podem tender a prová-las”. A citação está no livroEncontrando Deus em O Hobbit (Thomas Nelson, 200 páginas, R$ 29,90), de tolkienólogo Jim Ware, um dos muitos lançamentos “místicos” e de autoajuda (ou autoilusão) na esteira do lançamento do filme de Peter Jackson. Jim Ware diz que garante que o leitor “vai encontrar Deus” ao ler O Hobbit. Talvez isso seja difícil. Mais fácil é encontrar os preceitos da Cúria Romana na saga.

Aqui me permito um desvio sobre a composição das obras, que ajudará a compreender melhor o processo criativo e a crença de Tolkien. O Hobbit é um prelúdio da trilogia do Anel, e nesse sentido mantém um estreito parentesco espiritual e estrutural com a tetralogia operística O Anel dos Nibelungos (1876), de Richard Wagner, com seu prólogo e a saga dos deuses dominados pelo ouro do rio Reno (Wagner foi acusado por Nietzsche de se render ao catolicismo bávaro ao fim da vida).

No ensaio Explorando o universo do Hobbit (Lafonte, 258 páginas, R$ 29,90), o medievalista (como Tolkien) Corey Olsen afirma que Tolkien revisou O Hobbit, pensado inicialmente como um livro infantil, com o objetivo de ampliar a história da Terra-média e inseri-lo na composição final de Senhor dos Anéis. Alterou, por exemplo, o encontro do Gollum com Bilbo Bolseiro, para que o achado do anel ganhasse mais consistência. Na versão original, Bilbo, um depositório inconsciente da ética católica, apossou-se do anel e se despediu do Gollum de maneira amistosa, não sem uma dose de culpa, já que o Gollum não havia notado o furto. Na nova versão, o Gollum percebe-o e jura odiar para sempre o hobbit. O ódio se torna um alicerce para a trama levada adiante pelo sobrinho de Bilbo, Frodo, em O Senhor dos Anéis. Curiosamente, Peter Jackson faz quase a mesma coisa: ele seguiu Tolkien para encaixar O Hobbit como prelúdio a Senhor dos Anéis. Mesmo assim, Jackson desrespeitou a organização da obra para prolongar O Hobbit em três filmes – o que tornou o primeiro longa-metragem arrastado e repleto de flash-backs irritantemente explicativos.

Hobbitt 1 (Foto: Divulgação)

A organização retroativa proposta por Tolkien fornece às aventuras dos hobbits, anões, elfos, trolls, magos e orcs um qualidade arquitetônica. Sua tetralogia como que derrete a ordem perfeita da Catedral de São Pedro no Vaticano para reencenar com suas figuras, alegorias e simbologia uma aventura de revelação em um ambiente alienígena, em uma geografia imaginária.

No mapa de Tolkien ingressam transfigurados os princípios elementares do catolicismo. Assim como a viagem de Gandalf, Bilbo (interpretado no filme pelo ator inglês e católico Martin Freeman) e os 13 anões é uma representação da volta à Terra Prometida (os anões pertencem a um povo valoroso, porém espoliado de seus tesouros pelo dragão Smaug), abençoada por um hobbit bondoso, a história da peregrinação a Mordor e a devolução do anel pode ser lida como uma alegoria do Evangelho encoberta sob o manto da fábula. Pode-se deduzir que O Hobbit é o Velho Testamento; Senhor dos Anéis, o Novo. Todos os volumes da história da Terra-média de Tolkien (Os filhos de HúrinO Silmarilion etc.) compõem uma versão fabulosa e medievalesca da Vulgata Latina, a tradução da Bíblia para o Latim feita por São Jerônimo no século III d.C., considerada o texto oficial das Sagradas Escrituras pelo Vaticano.

Além dessas transposições, é possível identificar quatro aspectos mais evidentes do Catolicismo no enredo de O HobbitSenhor dos Anéis. Em primeiro lugar, Bilbo, um hobbit aparentemente conformista, torna-se o escolhido para viver uma aventura: seguir com os anões à Montanha Solitária, atravessando terras ermas e perigosas, para enganar Smaug e restituir o tesouro e a terra aos seus donos originais. Trata-se, portanto, de uma jornada iniciática. “No final, você não será o mesmo”, avisa Gandalf. Bilbo irá conquistar o anel, ficar rico e atingir a espiritualidade. É o mesmo percurso exigido ao católico, que galga os degraus rumo à perfeição, do batismo à extrema-unção na vida profana e, na sacerdotal, do noviciado à sagração como bispo e até mesmo papa.

Um dos pré-requisitos para Bilbo e amigos seguirem adiante é a obediência. Dessa forma, se fazem presentes a submissão e até mesmo a admiração de todos os personagens “bons” a uma hierarquia imperial, a um poder central liderado pelo Papa, o mandatário direto de Deus na Terra, segundo a Igreja Católica. Como a cruz, não há um papa explícito em O Hobbit, mas Gandalf parece ser o mais próximo de empunhar o cajado e a cruz de São Pedro. Ou Bilbo, a longo prazo.

As virtudes teologais, em terceiro lugar, são o motor da trama de combate ao Mal: Fé, Esperança e Caridade. Bilbo reúne-as como nenhum outro personagens. Mesmo quando tomar para si o anel, usa seu poder para reforçar a fé entre os companheiros de jornada.

Desse modo, quando o objetivo dos justos contra os ímpios está próximo a ser alcançado, contará o quarto e maior elemento católico da história de Tolkien: a Divina Providência. É ela que vem resgatar o herói nos instantes de maior perigo. Como na terra dos orcs, quando águias gigantes salvam os anões liderados por Thórin e Bilbo da morte. As águias simbolizam ali o Espírito Santo, parte da Santíssima Trindade, ao lado do Pai e do Filho. A Divina Providência retornará ao longo de O HobbitSenhor dos Anéis para organizar os reinos caóticos da Terra-média.

Bilbo e companheiros fazem o papel de apóstolos. São soldados de Cristo em uma Cruzada, ainda que sem cruz. Eles conduzem o leitor e o espectador às altas esferas da crença, para assim promover sua conversão por meio da catequese. No entanto, à parte a crença e persuasão doutrinária, o texto de Tolkien consiste em uma peça artística, uma narrativa de ficção, onde as leis da lógica são alteradas. E é na fantasia que o aspecto mais profundo do catolicismo de Tolkien se revela, na crença de que o reino deste mundo é maléfico. Assim, Mordor ou Ereborn, os reinos caóticos deste mundos, não valem a pena ser conquistados, pois o reino está em outro lugar, no plano espiritual e divino. Nem mesmo o Condado do Bolsão, onde moram os hobbits, é recomendável. “Meu reino não é deste mundo”, poderia dizer o mago Gandalf, ecoando Jesus Cristo.

No entanto, apesar de poder ser compreendida como páginas de doutrinação religiosa, a experiência mais enriquecedora é ler e ver O HobbitSenhor dos Anéis como obra de arte literária e cinematográfica. Tolkien parece demonstrar a observação do escritor argentino Jorge Luis Borges, segundo o qual a metafísica (e, por extensão, a religião) deve constituir uma subcategoria da literatura fantástica.

Em um discurso pronunciado no primeiro dia do Congresso que se realiza na Sala do Sínodo no Vaticano com ocasião do 15º aniversário da Exortação Apostólica Ecclesia in America,(foto acima) o Secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL), professor Guzmán Carriquiry, advertiu sobre “o cinzento pragmatismo e a mediocridade” que marca uma forma de cristianismo morno e sem entusiasmo que se vive no continente.

Em sua conferência titulada “A Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in America: profecia, ensinamentos e compromissos”, Carriquiry recordou que ante a tendência crescente de viver a fé com mediocridade, tibieza e ignorância, o documento “Ecclesia in America” recordou longamente “o exemplo dos numerosos santos, heróis, campeões da caridade e mártires para nos recordar o caminho que temos que percorrer hoje os cristãos da América no Terceiro Milênio”.

“Quantos são os cristãos que hoje sepultaram seu batismo sob uma capa de consumismo e indiferença”, disse o Secretário da CAL. “Quantas devoções se vivem sem um autêntico encontro com Cristo nos sacramentos, quantos mix de elementos religiosos sincréticos, o abandono da confissão, a superficialidade na participação eucarística”, adicionou.

Carriquiry destacou que o encontro com Cristo requer de uma radical renovação da catequese –que é o ensinamento da fé– “que tem que ser apresentada em toda sua grandeza, porque existe uma grave ignorância da nossa fé, especialmente nas novas gerações”.

Segundo o professor uruguaio “vivemos esta crise de uma autêntica formação católica que se nota em todos os cristãos, mas especialmente naqueles que têm mais influencia na nossa sociedade”.

“Por isso –adicionou– necessitamos repensar a fundo a formação cristã dos fiéis, seja de iniciação ou reiniciação, para obter uma crescente e sólida formação de pessoas maduras na fé”. Segundo Carriquiry, a referência fundamental para este processo “tem que ser o Catecismo da Igreja Católica, que o Papa Bento XVI colocou no centro deste Ano da Fé”.

Guzmán, um leigo casado com quatro filhos e oito netos que serve no Vaticano há 40 anos, assinalou que “as famílias cristãs necessitam mais ajuda neste serviço fundamental de educar na fé; sobretudo se se considera a extensa rede de escolas e universidades católicas cujos frutos evangelizadores são insuficientes, sobretudo se se tem em conta o investimento humano que implicam”.

“Acredito –acrescentou– que é o momento de reavaliar profundamente o papel da educação católica na América Latina e América do Norte”.

“Espero que este congresso seja ocasião providencial para uma firme e inquebrável comunhão afetiva e efetiva das Igrejas no continente americano, em torno do sucessor de Pedro; para que a Igreja em todo o continente tenha uma presença mais eficaz na vida pública”.

Carriquiry assinalou que esta unidade pode ser ocasião para pôr fim aos preconceitos que existem em alguns norte-americanos que veem nos imigrantes hispanos uma “invasão” que põe em risco o experimento norte-americano; porém assinalou que os hispanos devem a sua vez compreender-se como “uma contribuição providencial à vida nacional com sua produtividade, assim como com seu sentido do sobrenatural”.

“A Igreja Católica respeita a legítima legislação de cada país, mas não pode deixar de considerar os imigrantes de um ponto de vista humano e caridoso”, adicionou.

“Em toda a América, a Igreja só pede e exige o direito à liberdade que corresponde. Não pede nenhum privilégio”, disse Carriquiry, e assinalou que o crescente desprezo à liberdade religiosa “é uma inquietação que compartilha com outros irmãos na fé cristã, como se nota em importantes e históricos pronunciamentos como a Declaração de Manhattan”.

Carriquiry concluiu recordando que na Igreja das Américas vive mais da metade de todos os católicos e, portanto “é impossível ignorar o papel histórico atual e futuro que a esta porção do povo de Deus lhe corresponde. Esse foi o sonho do Beato João Paulo II e é a visão do Papa Bento XVI”.

Blogueiro Jorge Ferraz

Aos que “profetizam” o fim iminente da Igreja Católica por conta da sua recusa obstinada em “abrir-se” às novas exigências (i)morais do mundo moderno, eu recomendo a leitura destes dados recentes sobre a Comunhão Anglicana, do qual traduzo apenas o trecho mais ilustrativo:

Os episcopais já aprovaram tudo o que os “progres” exigem e ainda mais. Repassamos:

– No século XVI, o anglicanismo aceitou o clero casado.
– Em 1930, aceitaram a contracepção. A causa: o clero casado. Davam mal exemplo, tinham poucos filhos (é o que explica um historiador luterano).
– Em 1976, os episcopais aprovaram o “sacerdócio” feminino.
– Em 1989, ordenou-se a primeira bispa episcopal.
– Em 2000, aceitou-se como correto o sexo fora do Matrimônio.
– Em 2003, ordenaram como bispo Gene Robinson, um senhor divorciado de sua esposa, com dois filhos, que vivia «maritalmente» com outro homem (em 2011 ele deixou o cargo, embora continue sendo “lobbista” no clero anglicano. Foi o primeiro bispo homossexual praticante [el primer obispo homosexual activo].
– Em 2006, os episcopais admitiam o matrimônio homossexual.
– Em 2010, presumia-se ordenar em Los Angeles a uma bispa lésbica praticante.
– Em 1 de janeiro de 2011, um bispo episcopal casava (com estardalhaço da mídia) duas sacerdotisas lésbicas, uma das quais a famosa militante abortista Katherine Ragsdale.

Nada disso atraiu pessoas a esta igreja. Perderam um terço de seus fiéis no século XXI: tinham 3,4 milhões em 2001, e só 1,9 em 2012.

A História dá mostras suficientes de que esta religião do bom-mocismo e da última moda não tem condições de atrair os homens que foram criados para Deus. Elas podem até crescer num momento de frenesi inicial, mas é somente isto: pirotecnia vazia, fogo de palha incapaz de perdurar ao longo de uma geração sequer. Os homens não querem ouvir a agenda ideológica do dia nas suas igrejas: se eles quisessem isso, bastar-lhes-ia ligar a televisão – que é mais prática, mais barata e mais interessante. Os homens querem ouvir falar de Deus. E um deus que dissesse uma coisa agora e daqui a pouco dissesse o seu contrário não poderia ser Deus.

Os homens querem nobreza, e não subserviência vil a todas as imoralidades que surgem a cada dia. Ortega y Gasset, n’A Rebelião das Massas, lembra que nobreza implica em deveres: noblesse oblige. Os homens querem um objetivo mais alto para as suas vidas, querem um ideal pelo qual valha a pena lutar, um esforço que lhes permita impôr a marca do seu caráter à sua existência: não querem viver “ao Deus-dará”, como se fossem animais guiados unicamente por instintos e cujo propósito maior é fazer o que lhes é prazeroso e fugir do que lhes aborrece. Não há nobreza em ser guiado pelo amor ao baixo-ventre; e que exemplo melhor da coroação deste ignóbil apetite do que a “religião” que vive de fazer concessões às exigências do mundo?

Alguém citou aqui no blog recentemente umas projeções de que o Brasil poderia se tornar um país com maioria protestante dentro de uns vinte anos. Com a devida vênia, eu discordo dessas previsões: julgo-as, aliás, tão completamente distantes da realidade que só poderiam sair da pena de quem não tem noção nenhuma de religião. O protestantismo no Brasil é somente vácuo do catolicismo. Ao contrário de nações tradicionalmente protestantes, no Brasil só se tem oba-oba: oscilando entre fideísmos grosseiros (neo)pentecostais e progressismos teológicos natimortos, não há raízes no protestantismo tupiniquim.

Parece-me, ao contrário, que o catolicismo voltará a crescer, após uma ou duas gerações perdidas. Colhendo ao acaso as notícias de hoje, recentemente se divulgou a conversão da Leah Libresco, blogueira (ex-)atéia americana que mantêm o Unequally Yoked; e o Twitter do Papa Bento XVI anunciado hoje pela manhã (@Pontifex) já conta agora com mais de 144.000 seguidores. E coisas assim acontecem todos os dias, mesmo na internet!

E quanto à graça de Deus que opera longe dos holofotes virtuais? E quanto ao território duramente conquistado passo a passo na vida quotidiana de tantos católicos (padres principalmente, mas também leigos) que não entra na rede mundial de computadores?

Próximo sábado é dia da Imaculada Conceição e, neste dia, centenas de pessoas Brasil afora irão fazer ou renovar a sua Consagração Total à Santíssima Virgem . Ela, que prometeu em Fátima que o Seu Imaculado Coração triunfaria: estamos aguardando o cumprimento desta promessa, o Reino da Virgem cujo advento é tão certo quanto a aurora. Porque não é de “novidades” que nós precisamos, mas muito pelo contrário: temos sede da Palavra de Deus que é Eterna, que Se encarnou um dia para nos salvar e que, ainda hoje, continua viva e eficaz no seio da Santa Igreja cuja missão é levar a salvação de Deus a toda criatura humana. E cada vez mais as pessoas estão percebendo estas verdades. No meio de tantas confusões, as pessoas estão (re)aprendendo a se voltar para a Igreja, Farol imóvel e seguro a guiar os navegantes pelos mares atribulados desta vida.

Gaudium Press

Não menos fascinante do que desconhecido, o Extremo Oriente é hoje o lar de quase 11% dos católicos do mundo. Segundo os dados do Anuário pontifício de 2010, cerca de 130 milhões de católicos (10,87 %) habitam no continente asiático. Evidentemente esse número é pequeno se comparado à população total da Ásia, na qual vivem 60% da população mundial (4,14 bilhões), e dentro da qual, a ínfima participação católica de 3,05% do total parece ser quase insignificante. Entretanto, essa promissora região do globo apresenta dados muito significativos de crescimento do número de batizados, sob diversos aspectos.

Paulatinamente a Ásia, e sobretudo a África, ganham participação nas quotas relativas de católicos em relação a cada continente. Entre 2000 e 2010 houve variações consideráveis. A África passou de 12,44% em 2000, para 15,55% em 2010 (173 milhões). De 2009 a 2010 a Ásia passou de 10,47 a 10, 87%. Com base em projeções num cenário moderado, em 2050 teremos tantos católicos no Oriente quanto na Europa (18,37% na Ásia e 18,55% na Europa).

Isso não se deve apenas ao fato de que o número de católicos na Ásia cresce (1,98% ao ano) em uma taxa de crescimento superior à da Igreja (1,44%) e da população mundial (1,33%), mas também pela estabilização do número de católicos na Europa, que perde participação no contingente católico para a África e a Ásia devido à baixa taxa de natalidade. Em suma, a África acaba por ganhar o que a Europa perde, porque anualmente nascem 24 milhões de africanos enquanto a população europeia não possui um acréscimo maior que 900 mil pessoas por ano.

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Projetando os dados fornecidos pelas várias edições do anuário pontifício na última década, caso a taxa de natalidade em cada continente continuasse a se reduzir segundo o ritmo atual, pode-se dizer que em 2050 a distribuição de católicos teria relevante participação da África e da Ásia, que alcançaria 41% dos católicos do mundo. Inclusive a América começaria a perder participação relativa no contingente católico para os dois continentes.

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Deve-se acrescentar que diversos países com relevante participação católica terão sua população duplicada até 2050 como é o caso da Nigéria, Tanzânia, do Congo, Quênia, Uganda, Moçambique, Gana, Camarões e Angola.

Crescimento sustentável

A expressão usada no subtítulo é inteiramente aplicável aos casos asiáticos e africanos, onde, de modo diferente ao que foi feito durante o século XIX na América, procurou-se incentivar, sobretudo na Ásia, a formação de um numeroso clero autóctone. Há dados eloquentes que corroboram esse novo horizonte. Entre 2009 a 2010, enquanto ocorreu uma leve flexão na Europa e Oceania, a Ásia ganhou 12 novos bispos e 1.695 sacerdotes. A cifra de novos sacerdotes é mais do que o dobro da África (765), e enormemente superior à Oceania (52) e à América (42). A Europa terminou o ano com 905 sacerdotes a menos. Entre religiosos e diocesanos, havia no ano de 2010 na África 35.611 sacerdotes enquanto que na Ásia são 53.922.

Se o número de religiosos professos diminui na América do Sul (-3,5%) e na América do Norte (-0,9%) e se mantém estável na Europa, eles aumentaram na Ásia em 4,1% ao ano e, na África, 3,1%. Se o número de religiosas diminuiu na Europa, Oceania e América (-2,9%, -2,6% e -1,6% respectivamente) ele cresceu na Ásia e na África em cerca de 2% ao ano. Assim, em 2010 a Ásia somou 160.862 religiosas e a África 63.731. Fenômeno semelhante ocorre com o número de seminaristas maiores: há um decréscimo na Europa (-10.4%) e na América (-1.1%), mas na Ásia há um crescimento de 13%. Nem o PIB chinês cresceu tanto. Assim, na Ásia há 32.677 seminaristas maiores enquanto na África, 25.607.

Como base nesses dados, percebe-se que enquanto a alta taxa de natalidade da África subsaariana proporciona um aumento de participação na quota de católicos no continente, no Oriente verifica-se um crescimento por três razões: grande número de conversões, taxas razoáveis da natalidade e numeroso surgimento de vocações religiosas e presbiterais. Com base nesses dados, parece que o crescimento da Ásia evidencia maior sustentabilidade a longo prazo do que da África, por causa do aumento das vocações sacerdotais e religiosas, que agem entre os fieis católicos como o fermento na massa, como a luz no mundo e o sal da terra (Cf. Mt 5,13-14).

Uma Igreja afro-asiática nasce

Ao longo de 19 séculos a vida da Igreja Católica foi marcante no mundo Europeu, e, sobretudo, às margens do Mediterrâneo. O século XX viu despontar a América como o habitat de quase metade dos católicos do mundo.

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Em 1910, apenas 6% dos católicos moravam na Ásia e na África, enquanto 93% dos católicos habitavam na Europa e na América. Cem anos depois Ásia e África passaram de modestos 6% da população católica mundial para 26%. O século XXI parece ser, de fato, a era em que a América continuará a possuir o maior contingente de católicos, mas se a dinâmica de crescimento continuar na Ásia e na África o século XXI se concluirá com uma maior proporção de católicos no Extremo Oriente que na Europa ou mesmo América do Sul. Que perspectivas pastorais essa realidade latente pode despontar para nosso século? O que o Espírito Santo tem em vista com essas graças de conversão dada ao oriente?

Atualmente a participação relativa da população católica no mundo predomina na América, com relevante participação na Europa, somando ainda 72% dos católicos do mundo, fazendo com que o catolicismo se apresente diante dos orientais como uma característica da cultura ocidental e estabelecendo um tabu cultural por vezes difícil de transpor em certas regiões do Oriente.

No entanto, se compararmos as quotas de 2010 com a distribuição continental da população mundial em 2050, percebe-se que o século XXI parece ser a era da conversão da Ásia, feita não pelos missionários ocidentais, mas pelos próprios orientais. Enquanto Ásia e América, e, sobretudo, a Europa, perdem intensidade na participação relativa devido às baixas taxas de natalidade, ocorre um boom populacional na África.

No tocante aos católicos, em 2050 África e Ásia aumentariam a participação relativa atingindo a quota de 41%, enquanto América e Europa diminuiriam para 58%. Assim, ser católico não significará mais ser ocidental, europeu ou americano. É possível que o século se conclua com uma superação do número de católicos na Ásia e na África em relação à Europa e América devido às baixas taxas de natalidade previstas para a América Latina, que em algumas décadas seriam comparáveis às da Europa.

Com base nesses dados, em 2050 a participação dos católicos no mundo tende a se equiparar à proporção da população distribuída nos continentes.

O século XXI seria então a era da conversão da Ásia tão almejada por São Tomé, São Francisco Xavier e a plêiade inumerável de heróis que entregaram suas vidas pela conversão do oriente?

As catacumbas do século XXI

Nota-se que é justamente em condições adversas que o catolicismo mais cresce no oriente. É certo que há no extremo oriente países nos quais a população é majoritariamente católica como o pequeno Timor Leste, com 88,84% de participação. Filipinas, com 73,8 milhões, possui a terceira maior população católica do mundo depois do Brasil e do México com uma elevada taxa de natalidade. Até a Indonésia, na qual a população não cristã soma 87,7%, possui um contingente 8 de milhões católicos, ou seja, uma população católica maior do que de países ocidentais como Áustria, Suíça ou Paraguai.

A Coreia do Sul sempre foi considerada como lugar de missão no qual o cristianismo era minoritário. O século XXI começa com 29,2% da população coreana confessando o cristianismo. Deste contingente, a maior denominação cristã é a Igreja Católica Romana, com 5,3 milhões (10,3% da população). A Coreia do Norte, sob rígido regime comunista, apresenta dados semelhantes. De fato, o sangue dos mártires coreanos – o país com maior número de mártires oficialmente catalogados – comprou e continua a comprar a conversão de seus conterrâneos. O episcopado coreano projeta terminar a segunda década do século com 20% da população convertida ao catolicismo.

Ao mencionar a situação dos católicos na Coreia do Norte, recorda-se outros países onde os católicos são minoritários, como a Índia, o Vietnã e a China. Mas é precisamente nesses países que o crescimento da Igreja ocorre de modo preponderante. Há na Índia cerca de 17,3 milhões de católicos, mas que representam menos de 1,58% do total da população indiana. Contudo, há regiões da Índia onde os cristãos somam mais de 90% da população. Entre os estados mais populosos, destaca-se Kerala, localizado ao sudoeste da Índia, no qual 33% dos habitantes são católicos. A Igreja Católica é a maior denominação cristã do país.

Na China, a situação entre a Igreja Católica e o governo é tensa. Lá existem 9 milhões de católicos, menos de 1% da população chinesa, mas o governo julga necessário intervir na nomeação dos bispos e procura manter a Igreja Patriótica fiel a Pequim. No entanto, muitos católicos chineses não se definem entre uma e outra parte, sendo muitas vezes contados como pertencente aos dois grupos. O próprio arcebispo da capital do país, Joseph Li Shan, está simultânea e oficialmente contado entre os fieis a Roma e a Pequim. Com a abertura da economia e a ocidentalização do país, pode parecer que haverá passos a caminho da liberdade, mas por outro lado, o governo chinês ainda continua uma política de censura que derroga a liberdade religiosa e procura estimular uma lastimável propaganda com caracteres xenófobos. Pode-se conjecturar que o trampolim de acesso à China pareça ser Taiwan, que oferece liberdade religiosa e mais de 10% de seus habitantes confessam o cristianismo.

Um país no qual a evangelização é difícil, apesar da liberdade religiosa, é o Japão. Lá há 0,5% da população de 127 milhões que são católicos mas, ao que parece, após séculos de perseguição cerrada, a Igreja ainda não assentou bases sólidas nas ilhas nipônicas. Contudo, há 500.000 fieis no Japão, que podem vir a ser os apóstolos de que o país necessita.

Os cristãos da Ásia

Transcendendo do universo católico para os cristãos acatólicos, verifica-se que o número de discípulos de Cristo no Ocidente é muito maior que o número de católicos, especialmente nos países do extremo oriente como China, Coreas, Tailândia, Papua-Nova Guiné e Indonésia. Exceção para essa realidade são as Filipinas (90%) , o Timor Oriental (90%), Vietnã (9%) e Sri Lanka (7,12%), países nos quais a maioria da população cristã se diz católica. Juntos, esses países somam cerca de 20 milhões de católicos. Eis mais um enclave cristão próximo à Indonésia.

A conversão de outros países por outras denominações cristãs não é motivo de preocupação para o catolicismo, visto já se ter tido o exemplo histórico dos povos bárbaros europeus. Antes dos monges e missionários católicos evangelizarem as tribos germânicas ou eslavas, por lá já haviam semeado noções do Evangelho os arianos. Desse mosaico de povos, surgiu o monólito católico medieval que só foi rompido pela pseudoreforma no século XVI. Resta saber se o mesmo processo ocorrido no início da Idade Média se verificaria no século XXI com o Oriente.

Hoje na Ásia, há cerca de 260 milhões de cristãos. Estatísticas oficiais chinesas, que segundo alguns estudiosos não correspondem propositadamente à realidade, apresentam números que variam entre 3 a 5% da população do gigante asiático como cristã (67 milhões de pessoas). No entanto, outras estimativas elevam esse número para 8% ou mesmo 10% (100 milhões) da população chinesa. Outros países asiáticos oferecem a mesma perspectiva: Arábia Saudita (5,5%) Malásia, (11,1%) Hong Kong (11%), Brunei (11%), Indonésia (12,3%), Kuwait (15%), Cingapura (18,3%), Coréia do Sul (29,2%) e Papua-Nova Guiné (96%, dos quais 32,97% diz-se católica).

No Centro da Ásia e no Oriente Próximo também há motivo para esperança. Do mesmo modo, entre os países do Oriente Médio. Deve-se mencionar em primeiro lugar a Armênia onde 93% da população (3,2 milhões) confessa o cristianismo e cerca de 4% da população é católica. No Líbano 39% da população confessa o cristianismo, mas esse número vem diminuindo por causa das emigrações em virtude do terrorismo contra os cristãos. O Cazaquistão já conta com 51% da população cristã de maioria ortodoxa. Na Síria, 8% da população são cristãos ortodoxos, enquanto 2% são católicos.

Desponta ainda outra esperança entre os países petroleiros do Oriente Médio. Os católicos são, em sua maioria, estrangeiros. Os Emirados Árabes Unidos possuem cerca de 250.000 trabalhadores estrangeiros que são católicos, o que representa cerca de 7% da população. No Kuwait filipinos, indianos e libaneses assim como caucasianos de todos os continentes são 6,16% da população. Contudo, na Arábia Saudita não há liberdade religiosa. Hoje 6,6% da população asiática já é cristã, ou seja, cerca de 250 mil de pessoas.

A Igreja cresce nos países pobres

Se é verdade que o crescimento do catolicismo e do cristianismo em geral dá-se sobretudo nos países pobres, aos quais a crítica ateia usa o pejorativo rótulo de Christian Rice (cristãos do arroz), verifica-se que o desenvolvimento humano e econômico não é um obstáculo absoluto para a conversão dos pagãos. Basta lembrar o caso dos Estados Unidos, uma das maiores potências econômicas dos séculos XIX e XX. O catolicismo cresceu de forma paulatina, mas constante, passando de 2% em finais do século XVIII a cerca de 25% no século XXI. Embora a imigração tenha favorecido esse acréscimo, não se deve negligenciar o papel das conversões ao catolicismo no mundo anglo-saxão tal como se dá na Inglaterra em pleno século XXI. Outro exemplo inegável seria o da Coréia do Sul. O crescimento da Igreja Católica anda pari passu com o desenvolvimento socioeconômico. Hoje a Coréia do Sul é um dos países mais desenvolvidos. Assim não se pode dizer que a educação e a riqueza são obstáculos absolutos para a Evangelização.

Estatísticas consultadas

ADOGLA, Eugene Carls. Religiously Remapped. Mapping Religious Trends in Africa. Dataset of Religious Affliliation. 2 ed. Stanford Undergraduate Research Program. 2007.

ANNUARIO PONTIFÍCIO PER L’ANNO 2000. Città Del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2000.

ANNUARIO PONTIFÍCIO PER L’ANNO 2010. Città Del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2010.

CIA. World Factbook 2009. Disponível em: https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/ Acesso: Acesso em: 21 Ago. 2010.

EUROPEAN COMISSION. Eurobarometer. Social values, Science and Technology. Jun. 2005.

PEW RESEARCH CENTER. Global Christianity. A Report on the Size and Distribution of the World’s Christian Population. The Pew Forum on Religion & Public Life. Pew-Templeton Project. Global Religious Futures. 2011.

UNITED NATIONS POPULATION FUND. State of world population 2007. Unleashing the potential of Urban Growth. Thoraya Obaid (Dir.). 2007. Projected populaton (2050).


(MEMS / GGDR / TL)

Rádio vaticano

O músico irlandês Bono, vocalista da banda U2, esteve no Vaticano para agradecer o papel da Igreja Católica na campanha pela redução da dívida dos países pobres (Drop the Debt).

O artista e ativista encontrou-se com o cardeal Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, revelou hoje a Rádio Vaticano.

“A Igreja esteve na linha da frente deste movimento e isso deve ser largamente reconhecido, esteve na vanguarda de um movimento que é também inter-religioso e interdisciplinar”, referiu Bono.

O cantor diz que agora é necessário “comunicar os resultados obtidos” e estudar a melhor forma de o fazer.

O vocalista dos U2 recordou, por outro lado, a visita que realizou anteriormente ao Vaticano, em 1999, (foto) revelando que ainda usa ao peito a cruz de prata que lhe foi então oferecida pelo Papa João Paulo II (1920-2005) e mostrando vontade de se encontrar com Bento XVI.

Estado de S. Paulo

Nos Estados Unidos, não é apenas o presidente Barack Obama que conta com os imigrantes latino-americanos para vencer as eleições na semana que vem. Uma avaliação feita pelo Vaticano aponta que foi justamente a chegada de milhões de imigrantes da América Central e dos países sul-americanos que permite que a Igreja Católica se mantenha relevante

Nesta semana, numa reunião na Santa Sé, Carlos Aguiar Retes, arcebispo mexicano de Tlalnepantla e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), confirmou a avaliação realizada pela Igreja e apontou que esses imigrantes “fortaleceram” o catolicismo numa sociedade originalmente protestante, que estaria se afastando de movimentos religiosos. Para o arcebispo, os imigrantes se transformaram em atores da nova evangelização.

Segundo ele, de cada dois católicos nos Estados Unidos, um é hispânico. Numa mensagem direcionada aos latino-americanos, o Conselho dos Bispos Católicos dos EUA é explícito em apontar que os “hispânicos são um presente e uma bênção para a Igreja e para a sociedade americana”. Para a direção da Igreja, essa população garante hoje a “vitalidade do movimento religioso no país”.

Crescimento

Os dados oficiais do Vaticano apontam que, desde 1960, o número de católicos nos Estados Unidos aumentou 71%. Essa expansão está diretamente relacionada com a chegada dos imigrantes da América Latina, que hoje representam 16% da população do país. Dois terços dos imigrantes latinos nos EUA são católicos.

A própria Igreja admite que teve de se ajustar. Hoje, dos 40 mil padres que atuam nos EUA, pelo menos 3 mil deles são latino-americanos. Outros 1,8 mil realizam missas em espanhol. Dos 273 bispos, 29 são latinos.

Baseado no Censo americano de 2010, a Igreja aponta que esses números podem aumentar. Até 2050, a população latino-americana nos EUA chegará a 30% do total do país, com 132 milhões de pessoas.

No esforço de ganhar legitimidade, a Igreja ainda lançou campanhas para defender os direitos dos imigrantes. Numa carta assinada por mais de 30 bispos americanos e direcionada aos imigrantes há poucos meses, a Igreja garante que lutará por leis mais justas para a população estrangeira e se diz “entristecida” pelo comportamento de “outros irmãos católicos” que estariam dificultando a vida dos latinos.

Diz a carta: “A crise econômica tem tido um impacto em toda a comunidade dos Estados Unidos. Lamentavelmente, algumas das reações diante desse clima de incerteza mostra desdém pelos imigrantes e até os culpam pela crise. Não encontraremos soluções semeando o ódio”.

O Conselho de Bispos dos Estados Unidos preparou um kit que é enviado a todas as paróquias para ajudar padres a explicar para a população local a importância dos imigrantes.

Política

Outro estudo ainda de 2007, da Pew Hispanic Center, já identificava essa tendência. Segundo o levantamento, estava claro que a população de imigrantes “redesenharia” a Igreja Católica nos Estados Unidos nos anos seguintes. Naquele momento, o instituto apontava que um terço dos católicos no país era formado por latinos, mas já alertava que o papel que eleitores latinos teriam na cena política americana seria profundamente influenciado pela sua fé.

“A maioria dos latinos vê a religião como um compasso moral para guiar seu pensamento político e espera o mesmo de seus líderes políticos”, aponta o estudo. “Além disso, a maioria dos latinos vê o púlpito como um lugar apropriado para lidar com problemas políticos e sociais.”

Pelo estudo de 2007, latinos que são evangélicos teriam duas vezes mais inclinação a apoiar o Partido Republicano que os católicos. Já os latinos católicos se identificam mais com o Partido Democrata. Entre aqueles que abandonam o catolicismo, a grande maioria opta pelo secularismo e não por outra religião.

Pesquisa internacional feita pela WIN-Gallup International divulgou uma nova pesquisa global que mostra que o ateísmo está em ascensão, mas 59% da população mundial ainda se descreve como “religiosa”.

Tomados em conjunto, os resultados parecem desbancar dois mitos persistentes sobre a religião global:

  • O ateísmo seria principalmente um fenômeno ocidental. Ao contrário, a Ásia é de longe o continente mais ateu do mundo, sendo que a China sozinha é o lar de dois terços dos cerca de 900 milhões de ateus do planeta.

  • O cristianismo estaria em declínio com relação a outras religiões mundiais, especialmente o Islã. Ao contrário , 9 dos 10 países mais religiosos do mundo são majoritariamente cristãos, e as pessoas que se autoidentificam como cristãs são mais propensas a se descrever como “religiosas” do que os muçulmanos (81% contra 74%).

Os entrevistadores fizeram a mesma pergunta a pessoas de 57 nações: “Independentemente da sua assistência a um lugar de culto, você diria que é uma pessoa religiosa, não religiosa ou um ateu convicto?”.

Segundo a pesquisa, estas são as principais nações ateias do mundo, medidos em termos de porcentagem da população:

  • China: 47
  • Japão: 31
  • República Tcheca: 30%
  • França: 29%
  • Coreia do Sul: 31%
  • Alemanha: 15%
  • Holanda: 14%
  • Áustria: 10%
  • Islândia: 10%
  • Austrália: 10%
  • Irlanda: 10%

Em geral, a pesquisa do WIN-Gallup International conclui que 13% da população mundial é ateia, um aumento de 3% desde 2005. A estimativa de 2012 se traduz em 900 milhões de ateus em todo o mundo. Se 47% do 1,3 bilhão de chineses pensam em si mesmos dessa forma, há 611 milhões de ateus na China sozinha, dois terços do total.

A pesquisa do WIN-Gallup International descobriu que estas são as nações mais religiosas, novamente medidas segundo a porcentagem de população:

  • Gana: 96%
  • Nigéria: 93%
  • Armênia: 92%
  • Fiji: 92%
  • Macedônia: 90%
  • Romênia: 89%
  • Iraque: 88%
  • Quênia: 88%
  • Peru: 86%
  • Brasil: 85%

Todos, exceto o Iraque, são sociedades em que o cristianismo é a tradição religiosa dominante.

Dois são nações tradicionalmente católicas (Peru Brasil), três são tradicionalmente ortodoxas (ArmêniaMacedôniaRomênia), e o restante é uma mistura entre uma variedade de confissões cristãs, embora o catolicismo seja uma presença significativa, como em Gana, na Nigéria e no Quênia.

Como nota de rodapé, oito das 10 nações com as maiores porcentagens de ateus também são tradicionalmente cristãs, mas apenas duas são historicamente católicas (França Irlanda) e nenhuma é ortodoxa.

Em paralelo com outras descobertas, os resultados poderiam sugerir que o catolicismo e a ortodoxia têm resistido às tempestades da modernidade com um sucesso ligeiramente maior do que as versões tradicionais do protestantismo.

A pesquisa também perguntou às pessoas se elas se identificam com uma tradição religiosa, independentemente de serem pessoalmente “religiosas”. As porcentagens das principais tradições em termos de pessoas que também disseram ser “religiosas” são as seguintes:

  • Hindus: 82%
  • Cristãos: 81%
  • Muçulmanos: 74%
  • Judeus: 38%

Com relação aos Estados Unidos, a pesquisa do WIN-Gallup International mostrou um significativo declínio na religiosidade desde 2005. A porcentagem de norte-americanos que se descrevem como “religiosos”, de acordo com a pesquisa, caiu de 73% para 60%, enquanto a parcela que se identifica como ateia passou de 1% para 5%.

Certamente, o momento e a forma como as questões são formuladas podem distorcer os resultados da pesquisa, especialmente em uma pesquisa transcultural. As pessoas também podem interpretar os resultados de várias maneiras. Alguns especialistas dos Estados Unidos, por exemplo, argumentam que o que a pesquisa capta não é uma verdadeira mudança na religiosidade, mas sim o declínio do estigma social associado ao fato de chamar a si mesmo de ateu, ou a admissão em voz alta de não ser religioso.

No entanto, em nível geral, esses resultados podem ajudar a recompor as percepções da situação global – especialmente com relação à situação dos ateus e do cristianismo

Por Luiz Eduardo Cantarelli

Nem todos futuros são para desejar, porque há muitos futuros para se temer. (Pe Antônio Vieira).
Em 1970, os católicos eram 90% dos brasileiros. Hoje, segundo o IBGE, são 64,6%, ou seja, 26%, uma massa de 37 milhões – uma Argentina de gente -, deixou de ser católica. Ao seu estilo, Nelson Rodrigues preconizava na década de 70 que o Brasil seria, no futuro, o maior país de ex-católicos do mundo.

Para onde partem os católicos? Na sua grande maioria, seguem para as, assim chamadas, religiões evangélicas, principalmente para as de cunho pentecostal e autônomas. No último censo, os protestantes subiram de 15% para 22,2%, dentre estes, estão os tradicionais que ficaram patinando nos 4%.

O espiritismo, que na década de 50 pensou-se que seria a religião do Brasil, estancou em 2%.
Os “sem religião” margeiam os 8%, sendo que os 3% restantes estão espalhados nas diversas outras propostas religiosas. Então, basicamente, o funil de saída é para o protestantismo e, daí, parte deles migra para os “sem religião” – o que não quer dizer que se tornam ateus.

Quando estancará o vertedouro de escoamento é uma incógnita, pois vários são os fatores, objetivos e subjetivos interferentes nesse processo, alguns destes relevantes que ouso explicar o movimento.

O primeiro: o “espírito do tempo” que estamos vivenciando, um mundo plural, em que a morte do passado nos revela que tradição não dá mais liga e o individualismo é o senhor da razão. Nesta nova visão de mundo, tem muito pouco valor aquilo em que os antepassados creram e viveram. A experimentação do novo e a curiosidade do desconhecido soam forte em cada um.
Segundo Dr. Flávio Pierucchi, da USP: “Uma sociedade que não precisa mais de Deus para se legitimar, se manter coesa, se governar e dar sentido à vida social, mas que, no âmbito dos indivíduos, consome e paga bem pelos serviços prestados em nome dEle”.

A humanidade já viveu uma experiência parecida em meados do século XIX, com a crise Católica da negação do modernismo, acrescida do movimento milenarista e do sucesso da ciência insipiente, que tudo parecia provar e demonstrar. Naquela trajetória, nasceram o Positivismo, o Espiritismo, o Adventismo, os Mórmons, as Testemunhas de Jeová, a Teosofia, o Exército da Salvação e tantas outras religiões. Eram propostas notadamente anticatólicas, porém, inovadoras e muitas dessas permaneceram no tempo.

Paradoxalmente, podemos considerar o movimento religioso evangélico atual fugaz e consonante com a onda consumista. É fragmentado em milhares de denominações que seguem o discurso do pastor fundador e, na maioria das vezes, com uma adaptação racional e funcional do evangelho às necessidades pessoais – uma forma híbrida de autoajuda.

O segundo:
foi no Brasil que ocorreu em menor espaço de tempo o êxodo rural – o deslocamento de grandes massas de gente do campo para as cidades. Foram 35 milhões de migrantes que incharam as grandes cidades, principalmente nas periferias. Note-se que foi aí que se deu o maior número de conversões. (Antoniazzi). Assim, no impacto da perda de espaços e de valores que norteavam a família, estes se diluíram, influenciando e transformando as gerações que se seguiram. Nesse cenário decomposto, muitas vezes a escolha da religião é motivada pela ocasião.

O terceiro: a quantidade de propostas e igrejas que concorrem no mercado religioso. O espaço sagrado da Igreja, como o católico o qualifica, altera-se no protestantismo – ali, o sagrado é o coração do homem. O espaço físico pode ser oriundo de um açougue, uma funerária ou outro prédio qualquer.

Nessa facilidade de produzir igrejas e congregações, as ofertas são muitíssimas. Associado aos milhares de pequenos movimentos, há a força das “amplas vitrines”, que são as grandes igrejas evangélicas mediáticas, nas quais a maximização dos lucros é a “teologia sonhada”. Fazem uso dos mecanismos de mercado como franquias, cartões de crédito, bancos, etc. Dezenas de milhões de reais são investidos, por mês, na TV, que é concessão do Estado, para apresentar-se em horário nobre, com “milagres” de hora marcada e ao vivo.

De modo descarado, ainda segundo Pierucchi, “o discurso proferido dos fieis para com Deus, que sustentou a civilização judaico-cristã e islâmica desde as origens, agora tem sua direção invertida pela nova cristandade que proclama que Deus é fiel, o fiel é Deus. Investimento seguro, vale dizer”.

O quarto: e o mais relevante, a falta de testemunho, pelos católicos, é o principal motivo alegado para a saída de muitos. Talvez o homem contemporâneo necessite mais do que pregação. Ele precisa de testemunhos reais e tangíveis.

A Igreja Católica é similar a uma arca. Com suas múltiplas espiritualidades, tem lugar para a heterogeneidade, embora também carregue uma contradição interna na qual não mais que 30% dos que se dizem católicos são habituais frequentadores da igreja. Os outros 70% orbitam em torno dela nas necessidades sociais e nos ritos de passagem como: batismo, casamento e velórios. Estes são os católicos nominais que estão incluídos nos citados 64% do IBGE, alguns deles com aversão à religião, mas, por uma tênue teia do passado, se mantêm ligados à Igreja. Outros frequentam novas propostas religiosas/filosóficas que ainda não constam no questionário do Censo e há uma grande parcela de católicos que está aguardando um “insight” com a Transcendência. Muitas vezes a Igreja não sabe lidar com essa realidade. São os que se dizem “católicos não praticantes”. Estes formam o estoque dos futuros ex-católicos. Como dizia D. Eugênio Sales: “O problema da Igreja não são os evangélicos, mas sim os falsos católicos”.

Embora os processos históricos muitas vezes tornem-se arrebatadores e incontornáveis, na visão da hierarquia, a Igreja Católica no Brasil tem se preocupado com o êxodo dos seus fieis. Aperfeiçoa a formação dos sacerdotes, enriquece e alegra os ritos, prioriza a caridade, e o que não se pode providenciar humanamente, a Providência Divina assume. Não obstante, essas atitudes não são suficientes para conter o êxodo católico. O “estrago” será tão grande nas hostes católicas que só no distante futuro poder-se-á avaliá-lo – como aconteceu na percepção histórica da reforma luterana, no século XVI.

O monopólio católico de 500 anos está se desmilinguindo e sendo criada, a partir daí, uma nova força política religiosa contrária às tradições católicas. Resultado desse processo, que não é mais embrionário, pode ser observado nas Minas Gerais, de tradição católica. A principal avenida de entrada de Belo Horizonte, Nossa Senhora do Carmo, passou a se chamar Senhora do Carmo. De notar, também, que a Igreja Assembleia de Deus projeta eleger, este ano, 5.600 vereadores em todo o país, além de investir pesadamente em compra de redes de Rádio e TV (Folha de São Paulo, 22/7).
Interessante observar que nessa Igreja, até a década de 90, ver televisão e ouvir rádio era considerado pecado. Mudaram a doutrina para não perder o “boom” do crescimento. Quem viver, verá!

Mortos, levantai-vos!, preconizava Dom Sebastião Leme em Olinda no início do século XX quando da parcimônia dos católicos frente ao seu isolamento na República nascente. Hoje, poderíamos repetir o discurso. Levantai-vos para conhecer a Igreja; para integrar-se na comunhão dos santos, de que a Igreja é portadora; não vos constrangeis frente a essa tempestade de ofertas de discursos religiosos eloquentes.

Somos testemunhas de milhares de servidores consagrados, bispos, padres, freiras, leigos que se desgastam em vida, como vela no altar, em prol do outro e da Igreja. Se faltam pastores ou estão assoberbados de trabalho, atendamos o apelo bíblico; “sede-vos mesmos”, líderes para evangelizar.  Se somos filhos de uma Igreja que é a genitora de todas as outras, porque estaríamos equivocados? Por acaso, colhe-se maçãs de laranjeiras?

No livro “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental” central de qualquer civilização. Ao longo de dois mil anos, a maneira de o homem ocidental pensar sobre Deus deve-se sem a menor dúvida à Igreja Católica.

Quando perguntaram a G.K Chesterton, escritor inglês, ex-anglicano, porque é que entrou para a Igreja Romana, ele respondeu: Para me libertar dos meus pecados, porque não há outro sistema religioso que ensina as pessoas (se o professam realmente) a libertarem-se dos seus pecados. (Autobiografia, p.280).

O testemunho de Marco Monteiro Grillo, ex-luterano e agora católico convicto: Se uma igreja que remonta a Cristo e aos apóstolos, em que o subjetivismo simplesmente não existe, e onde uma autoridade visível (o magistério) sempre foi e será responsável pela salvaguarda da fé, essa Igreja só pode ser a Igreja Católica Apostólica Romana, essa Igreja que não está sujeita às intempéries da história, nem aos modismos de cada época, nem aos gostos dos fregueses.

Se no futuro os católicos, mesmo sendo 20% da população, forem comprometidos com Cristo e a Igreja dEle, éticos na vida social e em todos os demais sentidos, a Igreja, que são todos, já terá cumprido a sua missão. Os exemplos atraem.
Luiz Eduardo Cantarelli é jornalista – pós-graduado em Ciência da Religião.
Belo Horizonte – Minas Gerais

A Alemanha e diversos países europeus apelaram para um sistema medieval visando salvar a vida de recém-nascidos, acolhendo-os no anonimato.

Trata-se da “Roda dos enjeitados”, ou “Roda da Misericórdia”, ou ainda “Roda dos Expostos”, criada na cidade francesa de Marselha em 1188, durante a Idade Média.

Ela foi largamente usada no Brasil, onde ainda ficam algumas, porém fora de uso. A primeira foi aberta em Salvador em 1734, por determinação real, com o nome de Roda do Asilo do Santo Nome de Jesus. Seu uso se estendeu a todas as cidades importantes do Brasil até o século XX.

Embora o método seja criticado, muitas autoridades europeias reconhecem que todos os anos ele salva as vidas de dezenas de crianças. As críticas obedecem à antipatia visceral contra tudo o que é medieval, ainda quando é benéfico.

A Alemanha adotou o sistema (“Babyklappe” em alemão), visando salvar as vidas dos bebês que morriam de frio abandonados na rua.

Antigamente a Roda funcionava em conventos e hospitais que eram dirigidos por religiosos ou religiosas.

Roda de Misericórdia, Portugal
Roda de Misericórdia, Portugal

De fato, na Idade Média, hospitais, orfanatos e asilos eram mantidos gratuitamente pela Igreja Católica e por confrarias leigas por Ela aprovadas.

Esse bom costume perdurou ainda nos séculos posteriores, sendo muito perseguido e diminuído pelo laicismo de Estado ligado à Revolução Francesa.

Nos séculos penetrados pela doçura da caridade católica, o tratamento dado às criancinhas abandonadas deixa envergonhados os sistemas modernos.

As Rodas eram giratórias, ficavam em locais discretos e a infeliz mãe não era vista. Religiosas e religiosos cuidavam bem das crianças, como se estas fossem o próprio Jesus Cristo. Velavam pela sua saúde, educação, pelo ensino de profissão no caso dos moços e do casamento no caso das moças.

Hoje estão sendo aplicadas melhorias técnicas como um dispositivo automático que toca uma campainha e liga o aquecimento indispensável no frio europeu. Infelizmente, faltam religiosas ou religiosas para atender a essas crianças que são tratadas por funcionários do Estado.

Entretanto, o Comitê das Nações Unidas para os Direitos das Crianças, que jamais ofereceu algum sistema melhor, voltou-se contra o retorno ao sistema medieval.

A ONU, que tanto se tem empenhado pelos direitos humanos dos bandidos, alega que a prática violaria os direitos das crianças ao favorecer um retrocesso à Idade Média!

Roda dos expostos, Viseu
Roda dos expostos, Viseu

Gabriele Stangl, do Hospital Waldfriede, de Berlim, que administra uma “roda salva vidas” de crianças, reagiu com senso humanitário à absurda objeção da ONU. O costume tem o objetivo de evitar o pior: que mães desesperadas abandonem os recém-nascidos no frio.

Se os medievais acertaram melhor, bem-vindos sejam suas invenções e seus progressos.

Segundo Steffanie Wolpert, responsável pela “Babyklappe” de Hamburgo, no ano de 1999, antes do funcionamento da “Roda salva-vidas”, cinco bebês foram abandonados nas ruas, três dos quais morreram de frio.

A Alemanha é o país que tem mais “Rodas” para receber bebês: 99. Hungria, Itália, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Lituânia, Bélgica, Holanda e Suíça também adotaram o sistema.

A caridade cristã inspirou realizações na Idade Média para as quais os homens se voltam hoje à procura de bom senso, humanidade e fé. Os adversários do Catolicismo, obviamente, não gostam de nada disso.

A Igreja na França celebrou no último sábado, 07, a 2ª edição da “Noite das Igrejas”, evento no qual 540 igrejas do país inteiro permaneceram abertas durante toda a noite, promovendo eventos artísticos e espirituais.

O evento foi realizado pelo Serviço Nacional da Pastoral Litúrgica e Sacramental (SNPLS), mas cada grupo pastoral teve liberdade de realizar sua própria iniciativa. A Província de La Rochelle, localizada na parte oeste do terrritório francês, por exemplo, nomeou o evento de “Noites Românicas”.

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Igreja de São Suplício, em Paris

Já na capital francesa, Paris, a igreja de São Sulpício ofereceu aos fiéis leituras de textos religiosos dos séculos XVII e XVIII e concertos de música sacra, que foram seguidos por uma vigília de oração à meia-noite.

Em entrevista ao periódico italiano, Avvenire, o porta-voz da Conferência Episcopal Francesa (CEF), Dom Bernard Podvin, comentou a respeito da importância da iniciativa. “A Igreja ocupa plenamente seu lugar quando se aproxima das pessoas, pois a nossa identidade católica se expressa neste acolhimento”, disse o prelado.

A edição deste ano da “Noite das Igrejas” foi patrocinada pelo renomado ator franco-bitânico Michael Lonsdale, que afirmou: “De noite, a experiência é surpreendente, incomum e rara, e, portanto, ainda mais propícia a uma atmosfera benéfica”. (BD)

Com informações da Rádio Vaticano.

Dom Henrique

A situação da Igreja: uma ameaça, uma chance.

Caro Internatua, saiu o resultado do último censo no tocante à religião no Brasil. Diminuiu o número de católicos, como já era de se esperar. Por todos os lados aparecem análises desse resultado. Em maio de 2006 escrevi sobre este tema. Não mudo uma vírgula do que escrevi naquela época. Cada vez que sai uma nova pesquisa, republico o meu texto, porque é o que penso e me apraz compartilhar com outros esta análise… Aqui vai ela mais uma vez, toda inteira, tal como escrevi em maio de 2006, sem tirar nem pôr!

***

Recente estudo, apresentado na PUC de São Paulo, dá conta que a cada ano, no Brasil, a Igreja católica perde 1% de seus fiéis. Há gente muitíssimo preocupada com isso. É bom mesmo! Gostaria de partilhar com você, caro Visitante, alguns pensamentos sobre esta realidade.

(1) É necessário, antes de tudo, compreender que parte deste fenômeno é típico de nossa época e, neste sentido, não podemos fazer nada para detê-lo. Pela primeira vez na história humana a população mundial é preponderantemente urbana, vivendo num intenso processo de massificação, desenraizamento cultural e despersonalização e pressionada por uma gama desumanizante de informação. Os meios de comunicação, com sua incrível força de penetração, e o excesso de ideias em circulação desestabilizam os valores das pessoas e das sociedades de modo nunca antes imaginado. Esse fenômeno faz com que se perca o sentido e o valor da tradição.

Não faz muito tempo, cada pessoa era situada em relação à sua família à sua comunidade. O indivíduo sabia quem era, de onde vinha, quais seus valores, qual seu universo existencial… Agora, isso acabou: cada um se sente só, numa corrida louca para ser feliz a qualquer custo, iludido, pensando que os valores dos antepassados e do seu grupo só são valores se interessarem a si próprio, individualmente: é verdade o que é verdade para mim; é bom o que realiza meus desejos e expectativas; cada um é a medida do bem e do mal. É triste, mas cada pessoa acha que tem o direito e o dever de começar do zero e “redescobrir a roda”, de fabricar sua receita de felicidade, determinando de modo autônomo o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que não é. Isto é pura loucura, mas é assim! E lá vamos nós, gritando: “Eu tenho o direito de ser feliz; a vida é minha e faço como eu quero. Eu decido o que é certo e o que é errado…”

(2) No tocante à religião, o homem da sociedade consumista e hedonista do Ocidente não está à procura da verdade, mas sim do bem-estar. A sociedade ocidental já não crê que se possa atingir a Verdade e viver na Verdade. Agora há somente a verdadezinha de cada um, feita sob medida: é “verdade para mim” o que me faz sentir bem, o que resolve minhas necessidades imediatas. Religião não é mais questão de aderir à Verdade que dá sentido à existência, mas sim de entrar num grupo que resolva meus problemas afetivos, emocionais, de saúde e até materiais… Religião não é um modo de servir a Deus e nele me encontrar, mas um modo de me servir de Deus para resolver minhas coisas... Como diz o Edir Macedo, a Bíblia é uma ferramenta para se conseguir aquilo que se quer! Vivam RR Soares, Edir Macedo e companhia…

(3) A urbanização violenta e massificante faz com que as pessoas busquem refúgio em pequenos grupos que lhes proporcionem aconchego e segurança. Por isso as seitas atraem tanto: elas criam um diferencial entre mim e o mundo cão; dão-me a sensação de estar livre do monstro da desumanização, do anonimato, da nadificação…

Veja bem, meu Leitor, que contra esta realidade a Igreja não pode fazer muito. A multidão continuará presa das ideias desvairadas dos meios de comunicação; a busca do bem-estar egoístico continuará fazendo as pessoas buscarem a religião como um refúgio e um pronto socorro e, finalmente, a busca de se sentir alguém, fará as pessoas procurarem pequenos grupos nos quais se sintam acolhidas e valorizadas.

Mas, por que este fenômeno atinge sobretudo os católicos?

Por vários motivos:

a) Somos a massa da população brasileira e não temos como dar assistência pastoral personalizada a todos os fiéis. Isso seria praticamente impossível, mesmo que tivéssemos o triplo do número de padres e agentes de pastoral…

b) Historicamente, nossa catequese deixou muito a desejar e nas últimas décadas piorou muito: é uma catequese de ideias vagas, mais ideológica que propositiva, ambígua, que não tem coragem de apresentar a fé com todas as letras… Ao invés, apresenta a opinião desse ou daquele teólogo… Assim, troca-se a clareza e simplicidade da fé católica (como o Catecismo a apresenta) por complicadas e inseguras explicações, fazendo a fé parecer uma questão de opinião e não uma certeza que vem de Deus; algo acessível a especialistas letrados e não aos simples mortais. Céu, inferno, anjos, diabo, purgatório, valor da missa, doutrina moral – cada padre diz uma coisa, cada um acha que pode construir sua verdade… Tudo tende a ser relativizado… Uma religião assim não segura ninguém e não atrai ninguém.Religião é lugar de experimentar a certeza que vem de Deus, não as dúvicas e vacilações dos tateamentos das opiniões humanas. É preciso que as opiniões cedam lugar à certeza da fé da Igreja!

c) No Brasil há, desde os anos setenta, uma verdadeiraanarquia litúrgica, ferindo de morte o núcleo da fé da Igreja. Bagunçou-se de tal modo a liturgia, inventou-se tanta moda, fez-se tanta arbitrariedade, que as pessoas saem da missa mais vazias que o que entraram. A missa virou o show do padre ou o show “criativo e maravilhoso” da comunidade. A missa tornou-se autocelebração… Mas, as pessoas não querem show, criatividade nem bom-mocismo: as pessoas querem encontrar Deus nos ritos sagrados! Hoje, infelizmente, celebra-se com mais respeito e seriedade um culto protestante ou um toque da umbanda que uma missa católica!

No culto não se inventa, na umbanda não se inventa; na liturgia da Igreja do Brasil, o clero se sente no direito absurdo de inventar! Isso é um gravíssimo abuso e uma tirania sobre a fé do povo de Deus! É muita invenção, é muita criatividade fajuta. Bastaria abrir o missal e celebrar com devoção e unção, cumprindo as normas litúrgicas…

d) A Igreja no Brasil, em nome de uma preocupação com o social (que em si é necessária e legítima) descuidou-se dos valores propriamente religiosos e muitas vezes fez pouco da religiosidade popular (quantas vezes se negou uma bênção, uma oração de cura, a administração de um sacramento, uma procissão com a presença do padre, o valor de uma novena e de uma romaria…). Ora, hoje o “mercado” de religião é diversificado: se o padre não sabe falar de Deus, o pastor sabe; se na homilia não se prega a palavra, mas se a instrumentaliza política e ideologicamente, o pastor prega a palavra; se o padre não dá uma bênção, o pastor dá… Infelizmente, às vezes, tem-se a impressão que a Igreja é uma grande ONG, preocupada com um monte de coisas e não muito atenta a pregar Jesus Cristo e a sua salvação… Não se vê muito nossos padres e freiras apaixonados por Cristo e pelo Evangelho. Fala-se muito em valores do Reino, compromisso cristão, etc… Isso não encanta! Quem encanta, atrai, comove, converte e dá sentido a vida é uma Pessoa: Jesus Cristo!

e) Outra triste realidade é o processo de dessacralização. Parece que o clero e os religiosos perderam o sentido do sagrado. Adeus ao hábito religioso, adeus à batina, adeus ao clergyman, adeus à oração fiel e obediente da Liturgia das Horas, adeus ao terço diário (“para que terço?”), adeus ao ethos, isto é, àquele conjunto de realidades, de modo de ser e de viver que fazia com que o povo reconhecesse o padre como padre, o religioso como religioso, a freira como freira.Parece que se faz questão de transgredir, de chocar, de desnortear a expectativa do povo, de negar a identidade… Hoje tudo é ideologizado: a pobreza é “espiritual” e não real, material, concreta; assim também a obediência, a vida mística, a penitência e a mortificação e, muitas vezes, os votos e compromissos… Tem-se, portanto,uma religião cerebral e não encarnada na carne da vida, da existência concreta material… E nada mais anticristão que um cristianismo cerebral…

f) Nossas comunidades são meio frias; nossos padres não têm muito tempo. Não temos leigos capacitados para  da acolhida, que faça com que nossas igrejas estejam abertas e tenham pessoas para ouvir, aconselhar, consolar… Infelizmente, ainda que não queiramos, às vezes a Igreja parece uma grande repartição pública e impessoal… A paróquia somente terá futuro como cadeia de comunidades vivas e aconchegantes, nas quais se façam efetivamente a experiência da proximidade de Deus e dos irmãos…

g) As homilias em nossas missas são chatas e moralizantes: só dizem que devemos ser bonzinhos, justos, honestos… A homilia deveria ser anúncio alegre da Palavra que comunica Jesus e sua salvação, tal como a Igreja sempre creu, celebrou e anunciou. A homilia deve ainda ser fruto de uma experiência de Deus; somente assim reflete um testemunho e não um exercício de propaganda. A fé que devemos anunciar é a fé da Igreja, não nossas teorias e nossas idéias estapafúrdias… Isso desnorteia e destrói a fé do povo de Deus. Por que alguém seria católico se nem os ministros da Igreja acreditam realmente na sua doutrina e na sua moral? Os padres nisso têm uma imensa responsabilidade e uma imensa parcela de culpa!

Sinceramente, penso que o número de católicos diminuirá mais e drasticamente. Mas, não devemos nos assustar. Veja, caro Visitante, e pense:

1. O cristianismo nunca deveria ser uma religião de massa. A fé cristã deve nascer de um encontro pessoal e envolvente com Cristo Jesus. Somente aí é que eu posso abraçar o ser cristão com todas as suas exigências de fé e moral. Nós estamos vendo o fim do cristianismo de massa, que começou com o Edito de Milão, em 313, e com o batismo de Clóvis, rei dos francos, e de todo o seu povo, em 496, na Alta Idade Média. No Brasil, esse cristianismo de massa começou com a colonização e o sistema do padroado. Aí, ser brasileiro e ser católico eram a mesma coisa. Ora, será que no cristianismo pode mesmo haver conversão de massa?

2. A Igreja voltará a ser um pequeno rebanho, presente em todo o mundo, mas com cristãos de tal modo comprometidos com o Evangelho, de tal modo empolgados com Cristo, de tal modo formando comunidades de vida, oração, fé e amor fraterno, que serão um sinal, uma luz, uma opção de vidapara todos os povos da terra. Era isso que os Padres da Igreja desejavam: não que todos fossem cristãos a qualquer custo, mas que os cristãos fossem, a qualquer custo, cristãos de verdade, sal da terra e luz do mundo, entusiasmados por Cristo e por sua Igreja católica.

3. O fato de sermos minoria e mais coerentes com o Evangelho, nos fará diferentes do mundo e redescobriremos a novidade e singularidade do ser cristão. Isso nos fará atraentes para aqueles que buscam com sinceridade a Luz e a Verdade. Por isso mesmo, a Igreja não deve cair em falsas soluções de um cristianismo frouxo e agradável ao mundo, de uma moral ao sabor da moda, de um ecumenismo compreendido de modo torto e de um diálogo interreligioso que coloque Cristo no mesmo nível das outras tradições religiosas.

Ecumenismo e diálogo religioso sim, mas de acordo com a fé católica! O remédio para a crise atual e o único verdadeiro futuro da Igreja é a fidelidade total e radical a Cristo, expressa na adesão total à fé católica.

4. É imprescindível também melhorar e muito a formação dos nossos padres e religiosos. Como está, está ruim. Precisamos de padres com modos de padres e religiosos com modos de religiosos; precisamos de padres e religiosos bem formados humana, afetiva, teológica e moralmente. O padre e o religioso são pessoas públicas e devem honrar a imagem da Igreja e o nome de cristãos; devem saber portar-se ante o mundo, as autoridades e a sociedade. Nisso tem havido grave deficiência no clero e nos religiosos do Brasil…

É importante perceber que, apesar de diminuir o número de católicos, nunca as comunidades católicas foram tão vivas, nunca os leigos participaram tanto, nunca se sentiram tão Igreja, nunca houve tantas vocações. Muitas vezes, os leigos são até mais fervorosos e radicais (no bom sentido) que padres e religiosos. A Igreja está viva, a Igreja é jovem, a Igreja continua encantada por Cristo! O clero e os religiosos deveriam deixar de lado as ideologias, as teorias pouco cristãs e nada católicas defendidas em tantos cursos de teologia e livros muito doutos e pouco fiéis, e serem mais atentos ao clamor do povo de Deus e aos sinais dos tempos – sinais de verdade, que estão aí para quem quiser ver, e não os inventados por uma teologia ideologizada de esquerda!Além disso, é necessário considerar que a Igreja não é nossa: é de Cristo. Ele a está conduzindo, está purificando-a, está levando-a onde ele sabe ser o melhor para que seu testemunho seja mais límpido, coerente e puro. Nós temos os nossos caminhos, Deus tem os dele; temos os nossos planos e modos que, nem sempre, coincidem com os do Senhor. Pois bem, façamos a nossa parte. Deus fará o resto!

Isso é o que eu penso, sinceramente, e com todo o meu coração.

Folha de São Paulo

Entre 1960 e 2010, o Brasil viu a parcela de sua população que se declara católica cair de 93,1% para 64,6%. A queda foi constatada com a divulgação, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de novas informações do Censo 2010.

Em 2000, segundo dados do censo daquele ano, os católicos representavam 73,6% da população. Em seguida vinham evangélicos (15,4%), pessoas sem religião (7,4%), pessoas de outras religiosidades (1,8%), espíritas (1,3%) e umbandistas e candomblecistas (0,3%).

A pesquisa mostra que a queda na proporção de católicos foi acompanhada pelo crescimento dos evangélicos, que em 1960 eram apenas 4% da população e em 2010 alcançaram 22,2%. O número de pessoas sem religião também teve aumento expressivo, passando de 0,6% para 8% nos mesmos cinquenta anos.

No caso dos evangélicos, o crescimento foi puxado pelas igrejas de origem pentecostal, como a Assembleia de Deus ou a Universal do Reino de Deus, que atingiram 13,3% do total da população. Os chamados evangélicos de missão, pertencentes a religiões mais tradicionais, como a luterana e a batista, tiveram menos oscilações.

O censo incluiu uma única pergunta sobre religião (Qual a sua religião ou culto?), que estava no questionário aplicado a parte da população. Para chegar aos resultados nacionais, o IBGE utilizou métodos estatísticos.

Segundo a pesquisa, os católicos somavam 123,3 milhões de pessoas no país em 2010, e os evangélicos, 42,3 milhões. Outras religiões que também foram citadas foram o espiritismo (2,8 milhões), a umbanda (407,3 mil), o candomblé (167,4 mil), o budismo (244 mil), o judaismo (107,3 mil), o islamismo (35,2 mil) e o hinduismo (5,6 mil).

Do total de evangélicos, 7,7 milhões eram de religiões de missão, 25,4 milhões eram de religiões de origem pentecostal e 9,2 milhões de religiões não determinadas — como a pergunta feita pelos recenseadores tinha resposta aberta (ou, seja, não apresentava opções dentre as quais a pessoa tinha que escolher sua resposta), alguns só responderam que a religião era evangélica, sem dar mais detalhes.

Da mesma forma, 15,3 milhões de pessoas disseram não ter religião. Desses, 615,1 mil afirmaram expressamente ser ateus e 124,4 mil, agnósticos.

A visibilidade destes dados aqui: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1112383-populacao-de-baixa-renda-e-maioria-entre-evangelicos.shtml

Paula Bonelli – O Estado de S.Paulo

O arcebispo de São Paulo d. Odilo Scherer - Denise Andrade/AE
Denise Andrade/AE
O arcebispo de São Paulo d. Odilo Scherer

À frente da arquidiocese de São Paulo, d. Odilo Pedro Scherer cuida de cerca de 4,5 milhões de almas católicas e cumpre, com afinco, determinação do papa Bento 16: levar o rebanho a confirmar e redescobrir sua fé. O trabalho envolve liderar as fileiras de bispos e outros sacerdotes, mas também garantir a presença da Igreja na mídia e ocupar espaços públicos – em um campo religioso cada vez mais competitivo. O cardeal, que participa, no fim de maio, do Encontro Mundial das Famílias com o papa, em Milão, acaba de passar 10 dias com 300 bispos na Assembleia-Geral da CNBB. Em conversa com a coluna, não recusou nenhuma pergunta: de eleições (“ajudamos a comunidade a discernir sobre cada candidato”) à recente aprovação de aborto de anencéfalos pelo Supremo (“uma perda para a sociedade”).

Aos 62 anos, d. Odilo foi escolado nos corredores do Vaticano e carrega um blend de sotaques que reúne o original sulista, dialetos em alemão – falados em sua casa, na infância -, italiano e, agora, uma pitada de paulistanês. Na entrevista a seguir, ele revela que padres fazem psicanálise, diz gostar de Chico e Beethoven e explica por que a Teologia da Libertação, ao que parece, se foi para não mais voltar.

Qual o lado bom e o lado ruim de ser arcebispo de SP?

É uma enorme graça de Deus. E, sem dúvida, é motivo de muita alegria receber uma missão tão importante. O lado difícil são os enormes desafios. A arquidiocese de São Paulo é muito grande, e o volume de trabalho também. Além de participar de todas as atividades do universo religioso, é preciso acompanhar a mídia e estar no espaço público e político, seja pela natureza da Igreja, que represento, seja pela vontade das pessoas de ouvir o arcebispo em certos momentos.

O que o senhor sentiu ao receber a notícia de que seria nomeado bispo auxiliar para SP e mais tarde arcebispo?

Eu já tinha 52 anos e trabalhava na Congregação para os Bispos na Santa Sé, por onde passam as nomeações dos bispos. Portanto, sabia o que significava e as implicações do serviço. Senti, evidentemente, o peso da decisão. No momento em que disse “sim, aceito”, senti uma enorme carga de responsabilidade.

Teve medo?

Medo, não. Mas pensei nas implicações e se daria conta.

O senhor já fez terapia? Padres podem fazer?

Eu nunca fiz, mas padres podem, sim, fazer. Por que não? Em algumas situações, é até aconselhado.

Conhece casos de padres que fizeram?

Conheço, mas não vou citá-los. O padre é um ser humano. Pode ter estresse, crise depressiva, disfunção neurológica hereditária, que provoca problemas psicológicos e comportamentais. 

Quando o senhor não está envolvido com as atividades de cardeal-arcebispo, costuma fazer o quê?

Gosto muito de música popular e erudita. Beethoven, Bach e Brahms. Também Chico Buarque, Maria Bethânia… da MPB, gosto de vários cantores. Escuto música quando trabalho, no escritório, enquanto mexo na papelada. Este é um hábito que aprendi no seminário e que trago desde menino. 

Vai ao cinema?

Pouco, infelizmente. Não dá tempo. Mas gosto de ir.

O senhor viu o filme Habemus Papam (ficção sobre um papa que, ao ser eleito, não consegue assumir por causa do peso da responsabilidade), que está em cartaz nos cinemas?

Ainda não. Vou tentar assistir na Itália, no idioma original.

O papa é esperado no Rio para a Jornada da Juventude, em 2013. Qual a importância do evento?

É muito importante, para que apareça o rosto jovem da Igreja. Para que interajam e vejam que há muitos outros jovens, inclusive de outros países, que creem como eles. Também é um momento de se encontrarem com o papa Bento 16.

Quais são os desafios de realizar este evento?

São muitos, de todo o tipo, de ordem logística. Isso não é fácil em um evento para o qual se esperam milhões de pessoas. Está mais por conta da arquidiocese do Rio, que organiza localmente e está trabalhando duro. Estamos organizando, em âmbito nacional, o envolvimento de toda a juventude.

Existe a expectativa de um grande público no Rio?

Existe. O Rio de Janeiro atrai por si mesmo, mas não se vai para lá fazer turismo. A Jornada é momento de viver uma programação intensa, com várias temáticas, em conjunto, pelos participantes. Isso requer bastante esforço e até disposição para enfrentar alguns desconfortos. É evidente que, no fim, por melhor que seja a organização, em algum momento vai falhar. Não é que todo mundo poderá dormir em hotel de quatro estrelas, e é inevitável o congestionamento no trânsito, por exemplo. Mas o pessoal vai na alegria, porque é uma experiência única.

Como manter os jovens envolvidos com o catolicismo e o seu lado erudito?

A Jornada Mundial da Juventude é um modo de despertar isso. Não há como manter o interesse dos jovens, senão pondo-os em contato. Ninguém ama o que não conhece. O encontro é para deixar que a juventude faça suas perguntas, se expresse e perceba também os valores e toda a história da Igreja. Isso faz com que ela se sinta parte da Igreja e não a enxergue como algo distante.

Como se adaptar aos novos tempos sem perder a qualidade do catolicismo?

Este é um enorme desafio, que a Igreja enfrenta há dois mil anos. Estamos vivendo uma virada epocal, semelhante à ocorrida na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, e da Moderna para a Contemporânea. São momentos em que a Igreja tem de reaprender, propondo-se de forma nova, mas mantendo-se idêntica a si mesma. É o que estamos precisando fazer hoje.

A Renovação Carismática é um caminho?

É, mas não o único. Existem muitos outros, bem diversos da Renovação Carismática.

Como, então, frear a perda de fiéis para igrejas pentecostais?

Não há outro modo, senão ajudando os fiéis a se sentirem fortalecidos na própria fé e enraizados na Igreja. Mas a ideia que se passa é que só a Igreja Católica está perdendo fiéis. Outras perdem, porcentualmente, muito mais. Se vocês olharem o censo de 2000 a 2010, verão o quanto a Igreja Universal do Reino de Deus perdeu. Hoje, há uma oferta religiosa muito ampla, e eu diria agressiva. As pessoas, de alguma forma, estão sob pressão para fazer novas escolhas.

Este é um ano de eleições. Na sua opinião, a religião deve influenciar a política?

Não sei se a religião deve influenciar a política, mas as convicções religiosas dos cidadãos repercutem na política. Religião e política não se fundem, não se sobrepõem, mas é muito difícil separar as duas coisas.

Qual a orientação da Igreja Católica para o processo eleitoral deste ano?

A mensagem dos bispos é para que o povo se interesse pela participação política, procure conhecer bem os candidatos. Fiquem atentos à aplicação da lei 9.840, contra a corrupção eleitoral, o abuso do poder econômico e a compra de votos. Enfim, estejam atentos para escolher candidatos idôneos.

A Igreja apoia candidatos?

Não costumamos indicar candidatos, porque é uma questão de escolha livre e consciente de cada um. Recomendamos, também, que o clero não tome posição partidária, pois isso cria divisões. Não escolhemos partidos nem candidatos. Mas ajudamos a comunidade a discernir sobre cada um. E possa escolher aqueles sintonizados com nossas convicções – de justiça social, atendimento das necessidades da população carente, justiça econômica, promoção do desenvolvimento, respeito à dignidade da pessoa e moralidade pública.

Na Itália, sede do Vaticano, e em vários países desenvolvidos, o aborto é legalizado há muitos anos. A Igreja está na contramão da saúde pública?

A legalização do aborto não é a promoção da saúde pública, mas a legalização da morte de seres humanos. Se está na contramão de outras decisões? É possível, mas a Igreja não pode estar na contramão dos princípios básicos da dignidade humana, proclamados pelas nações, pela Constituição brasileira, pela ONU. Nem que todos os países aprovassem a legalização do aborto, a Igreja não poderia aprová-la.

Como o senhor recebeu a aprovação do aborto de anencéfalos pelo STF?


A aprovação não muda a posição da Igreja em relação à questão, que é de respeito pleno à vida daquele ser humano – ainda que seja muito breve. Se isso foi tornado legal, não significa que se tornou moral. Fique claro que não foi a Igreja que perdeu, nem os cristãos, mas a sociedade brasileira. A humanidade perdeu em sensibilidade, em respeito à pessoa e ficou mais endurecida em relação às fragilidades e aos defeitos humanos.

Se não houvesse celibato, haveria mais padres?

Não sei, talvez. É bastante difícil responder a esta pergunta de forma hipotética. Porém, há um fato: em outras igrejas que não têm celibato, também faltam ministros. O problema não é o celibato, mas uma coisa mais profunda, a experiência da fé e o valor da proposta religiosa.

Quais foram e ainda serão as consequências para a Igreja dos casos de pedofilia? Como o senhor os enxerga?

Não é só um problema da Igreja. Mais de 90% dos casos ocorrem embaixo do teto familiar. Lamentavelmente, também ocorreram e ocorrem em ambientes religiosos. Creio que trouxe um grande dano à credibilidade da Igreja, mas também está trazendo grande purificação. E uma atenção também da sociedade para a questão.

Como coibir, de forma prática, a pedofilia na Igreja? Palestra? Terapia?

Não é só na Igreja, é na sociedade como um todo. Como é possível tentar combater isso se, nas escolas, coloca-se camisinha ao alcance de crianças? São um convite a fazer sexo, a promiscuidade, desde cedo. A preocupação é combater a aids, mas não se percebe que ali está se promovendo um monte de outras consequências danosas. Dentro da Igreja, evidentemente estamos muito atentos em fazer uma nova retomada da consciência, respeito aos valores morais e da observância dos mandamentos da Lei de Deus.

A Teologia da Libertação está enfraquecida, mas ainda é lembrada como uma corrente da Igreja preocupada em abolir as injustiças sociais.

Foi um momento da história da teologia. Ela perdeu suas motivações próprias, por causa da ideologia marxista de fundo – materialismo ateu, luta de classes, uso da violência para conquistar objetivos -, que não casa com a teologia cristã. Isso foi percebido pouco a pouco. Talvez tenha tido méritos, por ajudar a recobrar a consciência de questões como justiça social, justiça internacional e a libertação dos povos oprimidos. Mas estes sempre foram temas constantes do ensino da Igreja. E vão continuar a ser.

Ainda há muitos padres da Teologia da Libertação?

Não sei se muitos. Ainda existem simpatizantes, mas já não são tantos assim. 

Nos seminários brasileiros, ainda há bastantes padres da Teologia da Libertação lecionando?

Não, não creio.

O senhor poderia ser eleito papa um dia? Pensa nisso?

Não estou imaginando isso, não. Só um será eleito papa e existem tantos que podem ser escolhidos! É o conclave que decide, não alguém que se propõe ou que diz “quero ser papa” ou “vote em mim, eu vou ser papa”. Isso não existe. Portanto, não passa pela minha cabeça outra coisa além de ser arcebispo de São Paulo.