Um documento exibido no Brasil no canal da TV cabo Discovery Channel , afirma ter identificado o túmulo onde foram enterrados Jesus Cristo, seus pais, Maria e José, e Maria Madalena.
Esse documentário apresentado no inicio deste ano na época da quaresma, voltou a ser apresentado nestes dias,claro, por causa do natal..
Intitulado The Lost Tomb of Jesus (O Túmulo Perdido de Jesus), o documentário foi produzido por James Cameron, director do filme Titanic, e pelo arqueólogo Simcha Jacobovici para o canal, com três anos de preparação. No entanto, a comunidade científica ironizou o seu conteúdo, classificando-o como “falso” e “apenas um chamariz publicitário para um futuro livro a ser lançado pelo cineasta”.
O suposto túmulo, do qual originou o documentário, foi encontrado em 1980 no subúrbio de Talpiot, em Jerusalém. Na ocasião, os arqueólogos encontraram dez caixões (repositórios de ossos) e três crânios. Em alguns dos esquifes havia inscrições que foram traduzidas como “Jesus, filho de José”; “Judá, filho de Jesus”; “Mariamne”; “Maria”; “José” e “Mateus”. Testes de DNA nos resíduos dos ossos verificaram que não havia parentesco entre os ossos de Jesus e de Mariamne. Com isso, Cameron concluiu que ambos só poderiam ocupar a mesma tumba se fossem casados. Além disso, passou a defender que Mariamne seria o nome verdadeiro de Maria Madalena. Em outras palavras, o documentário de Cameron e Jacobovici tenta relacionar os nomes encontrados aos da família da Jesus e argumenta que Jesus e Maria Madalena foram casados e tiveram um filho (Judá).
Após o lançamento do documentário a comunidade científica no Brasil e no exterior manifestou-se contrária aos argumentos de Cameron e Jacobovici. Em opinião unânime, especialistas afirmam serem absurdas as teorias apresentadas. Sem considerar a tentativa de colocar em dúvida a ressurreição de Cristo, os arqueólogos afirmam que, histórica e arqueologicamente, é impossível Cameron e Jacobovici provarem tais fatos.
Comunidade científica ironiza
Historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos principais especialistas brasileiros sobre a vida de Jesus, André Chevitarese afirma que é preciso encarar com muito ceticismo o anúncio da descoberta da suposta tumba de Cristo. Segundo ele, Jesus seria virtualmente invisível para um arqueólogo de hoje. Em entrevista ao site G1, Chevitarese explica que “não só ele (Jesus), como quase toda a primeira e segunda geração de cristãos eram pessoas periféricas, gente muito simples, de origem rural, que seriam incapazes de deixar restos materiais claros de si mesmos” por não terem condições financeiras de terem uma tumba como a de Cameron mostrou.
Sendo assim, os ossários apresentados por Cameron,como o local do último descanso de Jesus, sua mãe Maria e sua suposta esposa Maria madalena, estaria muito acima das possibilidades financeiras de alguém como Ele. A decoração em alguns dos ossários aponta para uma família da classe média alta, e não para camponeses da Galileia.
Para o professor Chevitarese, é preciso ficar sempre com um pé atrás diante de um anúncio como esse. “A impressão é que se está diante de um fenómeno: uma emissora de TV simplesmente querendo criar polémica em torno do tema. Qualquer trabalho científico sério precisa trabalhar com hipóteses, que podem ser testadas ou refutadas. O problema é que, nessas belíssimas teorias que são criadas, a resposta já vem pronta e os factos simplesmente são forçados a se encaixar na conclusão desejada”, critica o historiador. Na entrevista, Chevitarese comparou esse tipo de esforço à trama do romancista Dan Brown no livro O Código Da Vinci.
Segundo André Chevitarese, o túmulo de onde vieram os ossários, achado em 1980 num subúrbio de Jerusalém, não é o primeiro a conter a inscrição “Jesus, filho de José”. Outro ossário com esses dizeres veio à tona em 1926, e causou os mesmos rumores, até que se percebeu que era extremamente comum entre os judeus do primeiro século dC pessoas com o nome de Jesus e filhos de algum José.
Amos Kloner, arqueólogo israelita que descobriu a tumba em 1980 e a documentou como a sepultura de uma família judaica, está convicto de que não há provas para sustentar a tese de que o túmulo é de Jesus.
Em entrevista à agência de notícias France Press, Kloner, que é professor do Departamento de Arqueologia e estudos da Terra de Israel na Universidade de Bar-llan, em Tel Aviv, enfatiza que não há possibilidade de se apropriar de uma história religiosa e transformá-la em algo científico. “Insisto no facto de que é uma tumba comum no século I antes de Cristo”, disse Kloner, acrescentando que “os nomes eram uma coincidência e o filme é uma bobagem”.
Em relação à tese em que Jesus e Maria Madalena podem ter tido um filho chamado Judá, Kloner ridiculariza, afirmando que não há registos históricos disso e, portanto, é impossível de ser provada. Kloner enfatiza que não há possibilidade de o túmulo pertencer à família de Jesus. Segundo ele, Maria e José não poderiam ter uma tumba familiar em Jerusalém. “Eles eram uma família paupérrima. Posso dizer positivamente que não aceito a identificação como pertencendo à família de Jesus em Jerusalém. Não aceito, nem historicamente, nem arqueologicamente”, afirmou o arqueólogo durante a entrevista.
De acordo com o especialista, existem muitos nomes populares e comuns no primeiro século antes de Cristo, inclusive Jesus e José. Kloner afirmou que, das 900 tumbas encontradas num espaço de 4Km na cidade velha de Jerusalém na mesma época, o nome de Jesus foi encontrado 71 vezes, e que “Jesus, filho de José” também foi encontrado muitas vezes.
Outro conhecido arqueólogo israelita, Dov Ben Meir, que escavou durante anos as ruínas da velha Jerusalém, também rejeitou os argumentos utilizados por Cameron e Jacobovici e disse que eles “não passam de tolice”. O professor L. Michael White, da Universidade do Texas, também diz ter dúvidas sobre a veracidade da descoberta. Segundo ele, é uma forma de tentar vender documentários. “Uma série de testes rígidos deveriam ser conduzidos antes que um ossário ou uma inscrição possa ser apresentado como antiga. Não é arqueologicamente sensato. Isso é uma fanfarra”, conclui.
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Veja posição Católica sobre esse assunto.
Declaração do presidente da Conferência Episcopal do Peru
Publicamos a declaração emitida por Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, O.F.M., arcebispo metropolitano de Trujillo e presidente da Conferência Episcopal Peruana, sobre a suposta tumba de Jesus, com o título «Uma fantasia arqueológica».
1. Nos últimos dias o canal Discovery Channel,realizou um documentário apresentando como novidade o descobrimento, realizado há 27 anos (1980), de uma câmara mortuária em Talpiot – Jerusalém, a mesma que continha 10 urnas de pedra com restos ósseos e inscrições dos nomes dos possivelmente enterrados ali e que pertencem ao segundo Templo.
2. A novidade deste documentário está em que afirma que este lugar seria a tumba de Jesus de Nazaré e sua família, identificando as seis inscrições que contêm estas urnas com os nomes de Jesus de Nazaré, sua mãe Maria, Maria Madalena, e alguns parentes chamados Mateus, Josá e Judá, atrevendo-se a afirmar que este último seria «o filho de Jesus».
3. Mas o pretender que este lugar contenha os restos mortais da família de Jesus não é um fato novo. Isso tem sido desmentido por falta de sustentação inclusive científica, tal como expressa um dos mais destacados arqueólogos israelenses, Amos Kloner, membro da Universidade Bar-Ilan e arqueólogo oficial do Distrito de Jerusalém, que supervisionou as escavações deste descobrimento em 1980, descobertas pelo arqueólogo Yosef Gat. Kloner tem dito que isso é «somente uma farsa publicitária, um excelente material para um filme de televisão, mas totalmente sem sentido, algo absolutamente impossível». Esclarece, além disso, que «a afirmação de que a tumba (de Jesus) foi encontrada não está baseada em nenhuma prova e é só uma manobra para vender» e assinalou ademais que a nova produção da Discovery era meramente uma renovada tentativa de criar controvérsia no mundo cristão com o fim de obter maiores lucros.
4. Ao lado da inconsistência da prova arqueológica sobre esse tema, totalmente contestada por arqueólogos israelenses, aparece novamente, como no caso do Código Da Vinci, o desejo de negar a divindade de Jesus Cristo e o fato de sua ressurreição através de um argumento de ficção apresentado como científico; pelo que este documentário se converte em uma nova edição do infrutífero e permanente ataque aos fundamentos da fé católica e cristã ao longo da história.
5. Ante este documentário nós, católicos, devemos reafirmar nossa fé em Jesus Cristo , Único Salvador do Mundo, que morreu na cruz e ressuscitou por nossa Salvação, fato histórico que fundamenta nossa fé e a vida da Igreja, e também convido os homens de boa vontade a buscar sempre a verdade histórica, diferenciando-a das novas manifestações de ficção arqueológica ou científica a que nos estão acostumando alguns meios de comunicação.
6. São Paulo diz: «Se Cristo não ressuscitou, vossa fé é vã… mas não! Cristo ressuscitou dentre os mortos…» (1Cor. 15, 17.20).
7. Por outro lado, todos os estudos críticos sobre a primitiva comunidade cristã têm demonstrado que na verdade profunda das narrações da Ressurreição de Jesus Cristo se dá uma historicidade incontestável.
8. Devemos perguntar-nos Por que os meios de comunicação têm tanto interesse em pôr em sua mira Jesus?, evidentemente porque Jesus, no profundo da cultura do Ocidente e não somente do Ocidente, constitui um ponto de referência tão decisivo e importante que tudo o que o afeta nos afeta.