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Gualtiero Bassetti, natural da Toscana, arcebispo metropolitano de Perugia, participa do Sínodo porque Francisco o nomeou como Padre sinodal. Ele está entre os cardeais italianos mais próximos de Jorge Mario Bergoglio.

Eminência, por que uma parte da Igreja se opõe à abertura do papa sobre a Eucaristia aos divorciados recasados?

Como eu venho de Marradi e sou um toscano de alma, gostaria de lhe perguntar, com uma brincadeira, de qual Sínodo estamos falando: do da mídia ou do da Igreja Católica? O Sínodo se ocupa da família, da sua vocação, da sua beleza, das suas feridas e da sua capacidade de ainda ser o fundamento da sociedade.

Este Sínodo é um dom para a humanidade inteira, um lugar de debate e certamente não é uma sala parlamentar, como disse o papa, ou um talk show de televisão. Sentimos sobre nós, ao contrário, todo o peso dessa reflexão. Mas o jugo torna-se leve com Jesus Cristo ao lado. O sopro do Espírito Santo não falta e não faltará! Aliás, ele vem depois de 35 anos desde o último Sínodo para a família. De 1980 até hoje, um tsunami varreu a sociedade inteira, e nós, como pastores e como padres, temos o dever de cuidar das famílias.

Qual a profundidade da fissura na Igreja entre os conservadores e os progressistas, ou é uma interpretação jornalística errada?

Relatar as divisões, verdadeiras ou supostas, dentro da Igreja é desde sempre um assunto de grande sucesso na opinião pública. Na realidade, sempre houve uma pluralidade de pontos de vista na Igreja, sobre os mais variados assuntos. Temos testemunhos disso nos Evangelhos e nas cartas de São Paulo.

Mas a unidade da Igreja é uma realidade que vai além das divisões de que você fala. É a realização do testamento de Jesus: ut omnes unum sint, “para que todos sejam um”. Portanto, eu deixaria as “sínteses”, os “progressistas” e os “conservadores” para os políticos e para a sua digníssima atividade. A este Sínodo, ao contrário, foi pedido que se fale com parrésia. É o estilo do Papa Francisco, que pediu um debate franco e aberto. Talvez nunca como agora se tinha realizado um Sínodo tão debatido.

Creio firmemente que todos os Padres sinodais estão aqui com a única intenção de oferecer um serviço para a família em um dos momentos mais difíceis da sua história. Como disse o Santo Padre no domingo de manhã em São Pedro, o que se precisa é “uma Igreja que educa ao amor autêntico, capaz de tirar da solidão, sem esquecer a sua missão de Bom Samaritano da humanidade ferida”.

O que o senhor pensou quando leu a história do padre polonês Charamsa, que declarou a sua homossexualidade e se apresentou à imprensa com o seu companheiro?

Esse fato, para mim, foi uma fonte de grande sofrimento. Tanto para as pessoas envolvidas quanto pelo modo em que foi tornado público. A homossexualidade é uma coisa muito séria e complexa para ser tratada em uma coletiva de imprensa em uma enoteca às vésperas do Sínodo. Esse tipo de saídas públicas não fazem bem a ninguém. As minhas orações, como sempre, continuarão sendo dirigidas a todos. Mas o silêncio e o discernimento, nestes casos, são mais do que um conselho fraterno.

A Igreja pode acolher os casais homossexuais e os divorciados recasados sem comprometer a doutrina?

A Igreja acolhe as pessoas, todas, sem exceção, a exemplo de nosso Senhor, que não desprezou o fato de se aproximar da pecadora ou do publicano. Mas a Igreja tem uma Palavra sua a anunciar, o seu caminho que leva ao Pai a indicar. É um itinerário exigente, que requer contínua conversão e que vale para todos! Muitas pessoas homossexuais vivem na Igreja serenamente, sem dramas. Também para as pessoas divorciadas e recasadas se podem imaginar serviços e tarefas que as faça se sentir membros de uma comunidade, apesar do peso de um matrimônio fracassado.

O senhor acredita que o papel na política dos bispos italianos é justamente menos eficaz do que no passado ou a Igreja deve influenciar as decisões do governo italiano?

Os bispos não fazem política, mas anunciam o Evangelho, e a Igreja não é e nunca foi o sindicato dos católicos. Os católicos, porém, tem uma missão: a de serem o sal da terra. Eles têm algo a oferecer ao mundo. Ou seja, eles têm uma visão altíssima do homem e do mundo. Eles pensam que ambos são dons que devem ser protegidos e preservados com o máximo cuidado.

Na base de tudo, está o conceito de pessoa, porque Deus se fez homem. Quando falamos de cristianismo, não estamos nos referindo a um ideal ou a uma filosofia, mas nos referimos sempre a um fato: ao mistério da Encarnação. Deus se encarnou e veio entre os pobres e foi reconhecido primeiramente pelos pastores, isto é, pelos últimos, pelos rejeitados da sociedade. Jesus nasce como um descarte em uma estrebaria de Belém e certamente não no Hotel Garden de Jerusalém. E, além disso, como um refugiado, vai para o Egito.

Por isso, os católicos têm uma visão do mundo a oferecer para a política, que se baseia na valorização da dignidade humana em todos os momentos da existência e que parte dos mais fracos: os pobres, os migrantes, os concebidos, as crianças, as famílias, os trabalhadores temporários, os desempregados, os escravos modernos, os povos em guerra. E, depois, como consequência, a liberdade religiosa, a liberdade de educação, a paz, uma economia justa, um Estado não opressivo.

A reportagem é de Carlo Tecce, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 06-10-2015.

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O papa Francisco afirmou hoje, diante dos participantes no sínodo dos bispos, que a doutrina da Igreja Católica sobre o casamento não será alvo de discussão durante a atual assembleia, que decorre no Vaticano até dia 25.

O pontífice, cuja intervenção na 14.ª assembleia ordinária do sínodo dos bispos não estava prevista para hoje, falou depois de a ala mais ‘conservadora’ da Igreja Católica ter manifestado grandes preocupações perante uma eventual autorização de comunhão para pessoas divorciadas ou recasadas.

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou que o papa, que falou à porta fechada, disse aos bispos que “a doutrina sobre o casamento não tinha sido abordada na anterior assembleia”, realizada no ano passado e que deu origem ao documento de trabalho que está a ser debatido na atual reunião.

A questão da readmissão plena dos divorciados e daqueles que voltaram a casar surgiu como um dos assuntos mais polémicos do sínodo.

A Igreja Católica considera o casamento como um compromisso indissolúvel, mas uma ala mais liberal tem defendido um possível regresso destas pessoas ao seio da comunidade católica, com base numa avaliação individual de cada caso.

O porta-voz da Santa Sé frisou, no entanto, que os bispos foram relembrados pelo papa Francisco que este tema não devia ser o único foco de discussão desta reunião, que irá prolongar-se durante as próximas três semanas.

Em agosto passado, o papa sublinhou, durante uma audiência pública com peregrinos no Vaticano, a necessidade da Igreja Católica saber integrar os casais divorciados ou recasados.

“Estes batizados, que estabeleceram uma nova relação depois da dissolução do seu matrimónio sacramental, precisam de um acolhimento fraterno e atento, no amor e na verdade, estas pessoas não foram excomungadas, e não podem ser tratadas como tal, elas fazem sempre parte da Igreja”, frisou então o papa Francisco.

Com cerca de 360 participantes, a 14.ª assembleia ordinária do sínodo dos bispos tem como temas centrais os desafios, a vocação e a missão das famílias católicas no mundo atual, assuntos analisados ao longo de 147 artigos do documento de trabalho, apresentado em junho à imprensa.

Missa de 7º dia

A Igreja ensina que se deve rezar pelos mortos, para que se livrem, o quanto antes, das penas do purgatório (Não a culpa, pois todo pecado tem como consequência: A Culpa e a Pena – Portanto o purgatório não é para a culpa que foi perdoada, mas para as penas que se instalaram na alma, e precisam ser purificadas para poderem entrar no céu )

DETALHE: Quem está no purgatório já está com a salvação garantida , pois condenados e réprobos não vão para o Purgatório, mas para o inferno.E a justiça de Deus é perfeita, pois assim está escrito:  Mateus 5,26: “Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares até o último centavo”

A DOUTRINA SOBRE O PURGATÓRIO É BÍBLICA:

A purificação é necessária para adentrar ao céu: Hb 12,14; Ap 21,27.

Agonia temporária: 1Cor 3,15; Mt 5,25-26.

Cristo pregou para seres espirituais: 1Pd 3,19.

É um estado intermediário de purificação: Mt 5,26; Lc 12,58-59.

É uma realidade entre o céu e a terra: Mt 18,23-25; Lc 23,42; 2Cor 5,10; Fl 2,10; Ap 5,2-3.23.

Graus de expiação dos pecados: Lc 12,47-48.

Alguns pecados são perdoados e outros não serão perdoados nem aqui nem no mundo vindouro: Mt 12,32.

Nada de impuro pode entrar no céu: Ap 21,27.

Salvação, mas como pelo fogo: 1Cor 3,15.

Sofrimento extra: 2Sm 12,14; Cl 1,24.

1)- A missa de sétimo dia se fundamenta no texto do livro dos Macabeus, da bíblia SEPTUAGINTA, que foi a bíblia usada pelos primeiros Cristãos,os apóstolos e o próprio Cristo.Neste livro deuterocanônico, Judas Macabeu ordena que se façam sacrifícios no Templo de Jerusalém pelas almas de seus soldados que haviam morrido numa batalha, por terem pecado levemente contra Deus:

“Santo e salutar pensamento este de orar pelos mortos. Eis porque ofereceu um sacrifício expiatório pelos defuntos, para que fossem livres dos seus pecados” (II Macab. 12, 41-46).

2)- A narração do livro do Gênesis (2, 2), mostra que Deus levou sete dias para criar o mundo e, quanto terminou, vendo que era bom, perfeito, descansou. Portanto, no paralelismo desta passagem com a missa do sétimo dia, simboliza que aquela pessoa, após cumprir sua missão nesta terra, poderá agora também descansar.Observamos que várias destas referências bíblicas estão relacionadas diretamente com as cerimônias fúnebres e com os tipos de comportamentos nesta categoria de evento, como, por exemplo, o ato de chorar, jejuar e fazer penitências, além de lamentações e reações agressivas. Comportamentos ainda detectáveis nestas ocasiões.

3)- Quanto aos relatos bíblicos sobre os rituais da morte, o livro do Gênesis descreve que quando morreu Jacó, um dos patriarcas do Antigo Testamento, “fizeram um funeral grandioso e solene e José guardou por seu pai um luto por sete dias” (Gn, 50, 10).

4)- O primeiro livro de Samuel afirma que, por ocasião da morte do rei Saul, seus comparsas guerreiros, numa cerimônia fúnebre, queimaram seu corpo e depois enterraram os ossos debaixo de uma árvore, fazendo um jejum de sete dias (1 Sm, 31, 13).

5)- Outras duas passagens bíblicas que refere a morte e seus sete dias posteriores estão nos livros de Judite e Eclesiástico. O primeiro afirma que, quando morreu Judite, a heroína do povo hebreu, os israelitas fizeram luto por sete dias (Jd 16, 24) e o livro do Eclesiástico afirma que “o luto pelo morto duram sete dias” (Eclo, 22, 11).

Dessa maneira, ganha respaldo bíblico a crença de que é necessário ficar de luto durante sete dias para eliminar as interferências da morte na vida dos familiares e, com isso, diluir a dor. A devoção católica convencionou encerrar esse ciclo com a referida cerimônia, chamada de missa do sétimo dia.

Desse modo, um refinamento do simbolismo do número sete, adaptado ao costume que se formou em torno dessa cerimônia fúnebre, confere ao fiel católico a confiança de que seu ente querido, com a prática desse ritual de oferenda da alma a Deus no sétimo dia da morte, adentra a uma vida de perfeição.

O costume, em toda a Igreja Católica, sempre foi o de rezar Missa pelos mortos logo após o seu falecimento, no mesmo dia do sepultamento. Era a chamada Missa de corpo presente, ou Missa rezada diante do cadáver da pessoa pela qual se oferecia a Missa.

Aqui no Brasil, se arraigou o costume de rezar a Missa no sétimo dia após o falecimento, portanto, a missa de 7 dia é um ritual BRASILEIRO, não é uma pratica seguida em outros países, nem consta do Missale Romano ou do Oficio de Defuntos.

Na liturgia da Igreja usa-se a missa chamada de corpo presente, que antes se chamava de Requiem, apos a qual se seguia o sepultamento.

O ritual da missa de 7 dia é exclusivo do Brasil, vem dos tempos coloniais quando não existiam estradas, nem aviões, nem carros nem ônibus, nem trens, capazes de trazer um parente do defunto de uma distancia grande até o local do velório.

O Brasil é um país gigantesco, assim, e dadas as condições climáticas desse país tropical, o defunto é enterrado no máximo em 24 horas.

Então, para celebrar a memoria do morto e para dar tempo de todos os familiares e amigos que estavam distantes chegarem, marcava-se uma missa uma semana após o enterro, para que todos pudessem se encontrar, dar os pesames, chorar, se confortarem mutuamente e enfim, celebrar a memoria do ente querido que morreu.

Nas primeiras comunidades cristãs, o dia da morte era chamado de dieis natalis, dia de nascimento para a vida eterna. A fé na ressurreição era tão firme que o desaparecimento de um ente querido não deixava as pessoas abatidas. A certeza da vida eterna se sobrepujava ao sofrimento e à dor pelo vazio experimentado.

Havia uma esperança intensa: A pessoa, parente ou amigo falecido, estava “viva” porque, mergulhada na Ressurreição de Cristo, tinha alcançado a comunhão com o Pai. Na ocasião do sepultamento da pessoa falecida, a comunidade reunida realizava as exéquias, isto é, fazia as orações que celebravam a esperança cristã na vida eterna, proclamavam a ressurreição de Jesus Cristo, pediam pela passagem do falecido ao céu e serviam de conforto para os parentes enlutados.

O ponto central das exéquias era a Santa Missa. O Catecismo da Igreja Católica, no número 1689, considera a Eucaristia “o coração da realidade pascal da morte cristã”. E, repetindo as palavras do ritual de exéquias, diz: “Na Eucaristia, a Igreja expressa sua comunhão eficaz com o finado. Oferecendo ao Pai, no Espírito Santo, o sacrifício da morte e ressurreição de Cristo, ela pede para que o fiel falecido seja purificado de seus pecados e de suas consequências e seja admitido à plenitude pascal do Banquete do Reino”.

A celebração eucarística, portanto, significa não só comunhão com Cristo, mas com o “Corpo Ressuscitado”, isto é, com os que pertencem a Cristo, vivos ou falecidos.

Enquanto para os cristãos a morte era início de uma vida junto a Deus, para os pagãos ela era o início de uma viagem para a escuridão. Como provisões para a viagem, eram deixados alimentos sobre o túmulo dos falecidos. 

Fonte: Beraka

anulacion-religioso

Foram dois os motu proprios recentemente publicados pelo Papa Francisco “sobre a reforma do processo canônico para as causas de declaração de nulidade do matrimônio”: Mitis et misericors Iesus e Mitis Iudex Dominus Iesus.

Os dois têm a mesma data – 15 de agosto de 2015 – e o mesmo objeto – as mudanças no processo de nulidade matrimonial. São dois porque o primeiro deles altera os cânones do Código das Igrejas Orientais e, o segundo, os do Codex Iuris Canonici vigente na Igreja latina. Um só, portanto, é o propósito da dupla publicação, havendo dois documentos porque duplo é o regime jurídico da Igreja Católica: oriental e ocidental.

Os documentos se propõem a facilitar o processo pelo qual se obtém a declaração de nulidade matrimonial. Atenção que as palavras são aqui importantes: processo, i.e., meio, procedimento, o que significa que não houve nenhuma modificação substantiva no tema, nenhuma (aliás impossível) alteração doutrinária, nenhuma mudança de posição da Igreja no que se refere ao assunto; declaração, i.e., um documento de natureza — como o próprio nome diz — meramente declaratória (e não constitutiva), que se limita a fazer uma afirmação a respeito da realidade sem a alterar de nenhuma maneira; e nulidade, e não anulação, ou seja, uma qualidade já desde o início presente no Matrimônio tentado, e não uma que se lhe confere ao fim do processo canônico.

Relembrando as aulas de teologia sacramental: todo Sacramento, para ser válido — i.e., para existir — precisa de três coisas: forma, matéria e ministro. Não é qualquer forma, senão apenas a forma adequada; nem qualquer matéria, mas somente a matéria válida; nem tampouco qualquer ministro, senão só o ministro capaz. Faltando uma dessas três coisas, então o Sacramento, por mais que exteriormente pareça, não é Sacramento de verdade.

O exemplo da Eucaristia é talvez o mais claro e ajude a enxergar o que se está querendo dizer aqui: todo mundo sabe que, para a Eucaristia ser válida — ou seja, para o pão e o vinho realmente se transformarem no Corpo e no Sangue de Cristo — é preciso que as palavras da Consagração sejam proferidas por um sacerdote validamente ordenado. Ou seja: se um sujeito que não é padre chegar numa igreja, paramentar-se corretamente, subir ao altar, proferir todas as orações e realizar todos os gestos previstos no Missal, pegar a hóstia e disser “isto é o Meu corpo”, o cálice e afirmar “este é o cálice do Meu sangue”, elevá-los, enfim, fizer tudo de modo exatamente igual a como um padre de verdade faria, ninguém que esteja observando “de fora” vai perceber, mas o pão vai continuar sendo pão e, o vinho, vinho. Não vai ocorrer a transubstanciação. Não vai ter havido o Sacramento.

O que se quer dizer é isto: todo sacramento é um sinal sensível de uma graça invisível, mas nem todo sinal sensível é um sacramento! A Hóstia, ainda que seja do tipo com o qual estamos acostumados — o disco branco, de espessura fina, geralmente ornado com símbolos cristãos –, ainda que esteja sobre o altar, ainda que seja elevada por um homem paramentado como sacerdote católico, ainda assim, se o homem não for um sacerdote validamente ordenado então ela vai continuar sendo apenas pão. Não é porque a coisa parece um sacramento que ela é um sacramento de verdade. E isto, que é fácil ver no Sacramento da Eucaristia, vale para todo Sacramento da Igreja Católica.

Até para o Matrimônio, e aqui chegamos ao ponto. Assim como é possível que uma hóstia não seja o Corpo de Cristo mesmo que, externamente, ela pareça ter sido consagrada, da mesma maneira é possível que um casal vivendo maritalmente não forme um Matrimônio Católico ainda que, externamente, os dois pareçam ter se casado. Da mesma forma como é possível que a Hóstia não tenha sido validamente consagrada, é possível que o Matrimônio não tenha sido validamente contraído — e ao Matrimônio inválido nós chamamos nulo. E ao procedimento que a Igreja emprega para investigar se, de fato, aquela situação que parece um casamento é realmente um Matrimônio Sacramental chama-se comumente de processo de nulidade, e foi isto que o Papa Francisco alterou recentemente.

Há somente algumas poucas razões pelas quais se pode imaginar que a Eucaristia tenha sido nula: ou o padre era um falso sacerdote, ou a hóstia era feita de alguma coisa outra que trigo (digamos, mandioca), ou o sacerdote queria não consagrar no momento em que proferiu as palavras da Consagração; além dessas hipóteses é difícil imaginar outras muito diferentes. O Matrimônio, por ser um contrato jurídico, é um pouco mais complicado. A partir do cânon 1073 do Código de Direito Canônico encontra-se uma longa lista de razões pelas quais um Matrimônio pode ser invalidamente contraído — i.e., não existir. À guisa de exemplificação:

  • não podem contrair matrimônio válido os homens antes dos dezesseis anos completos nem a mulher antes dos catorze também completos (Cân.1083);
  • os que tenham recebido ordens sacras também não conseguem casar (Cân. 1087);
  • não podem casar os que possuem parentesco em linha reta, em qualquer grau (Cân. 1092);
  • aqueles que “por causas de natureza psíquica não podem assumir as obrigações essenciais do matrimônio” também são incapazes de o contrair (Cân. 1095);
  • quem é enganado acerca de “qualidade da outra parte que, por sua natureza, possa perturbar gravemente o consórcio da vida conjugal” também não casa validamente (Cân. 1098);
  • é também “inválido o matrimônio celebrado por violência ou por medo grave (…) para se libertar do qual alguém se veja obrigado a contrair matrimônio” (Cân. 1103);
  • se o sacerdote que vai assistir o Matrimônio não é o pároco, então precisa de delegação, sob pena de o matrimônio não ser validamente contraído (Cân. 1108);
  • etc.

Qualquer uma dessas situações, presentes no momento em que se celebrava o Matrimônio, são capazes de fazer com que ele tenha sido inválido; há que se verificar, por exemplo, se o impedimento estava presente, se podia ser dispensado, se de fato o foi. É para responder a estas perguntas que existe o procedimento de investigação de nulidade matrimonial dentro da Igreja Católica. Ele não tem nada a ver com mudar a realidade do casamento — se o casamento foi válido então ele permanecerá válido para sempre e, se foi inválido, também nunca será um matrimônio até que os defeitos sejam sanados –, mas sim com conhecer a verdadeira natureza de uma união exteriormente parecida com um casamento católico (como, insista-se na comparação que parece elucidativa, uma hóstia não-consagrada é exteriormente parecida — indistinguível até — de uma que seja o Corpo do Senhor).

Em suma, à semelhança do que ocorre com a Eucaristia, também o Matrimônio pode ser inválido. Estes “casamentos” nunca foram casamentos antes da atual reforma do Papa Francisco, e continuariam sem o ser ainda que nada tivesse mudado nos processos de nulidade.

Portanto,

i) todo casamento validamente contraído é indissolúvel (há a exceção do privilégio petrino para os matrimônios ratos e não consumados, mas não cabe entrar em detalhes aqui; até porque os casos aos quais ele é aplicável — onde não houve consumação, i.e., conjunção carnal — são por si mesmos excepcionais);

ii) nem tudo o que externamente parece um casamento é um casamento de verdade;

iii) é através do “processo canônico para as causas de declaração de nulidade do matrimônio” que a Igreja se pronuncia a respeito da validade ou nulidade de um Matrimônio;

iv) um casamento que tenha sido nulo jamais existiu;

v) a existência ou inexistência do vínculo matrimonial é independente do processo pelo qual a sua nulidade é conhecida (i.e., um casamento nulo é nulo ainda que nunca venha a receber uma sentença de nulidade, e inversamente um matrimônio verdadeiro é verdadeiro matrimônio ainda que o processo canônico afirme ter ele sido inválido).

Não há lugar para a dissolução do vínculo conjugal por poder terreno algum: isto a Igreja sabe muito bem. Desde Cristo até os tempos de Henrique VIII, e de lá até os dias de hoje, e até a consumação dos séculos. Mas há, sim, espaço para a investigação honesta e sincera a respeito da verdade das coisas. Não cabe falar em “dissolver” se o vínculo já não existe em primeiro lugar. As mudanças recentes feitas pelo Papa Francisco dizem respeito aos meios de investigação daquela nulidade capaz de fazer com que nunca tenha havido Matrimônio de verdade. Nem todo mundo que vive junto está realmente casado; e reconhecê-lo em nada atinge a indissolubilidade do casamento verdadeiro.

Jorge Ferraz, Blogueiro Católico.

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Exorcistas do Vaticano (The Vatican Tapes) e Exorcismo no Vaticano (The Vatican Exorcisms) estão no mesmo patamar de classificação: não são filmes ruins, mas péssimos! Lançados em 2015, o primeiro teve certa divulgação, inclusive está em alguns cinemas; o segundo, nem aos cinemas chegou, pois foi lançado para locação e compra digital neste ano, já que é de 2012.

O primeiro, quase um “thriller-terror” – se assim podemos chamar – com estrelas de renome, como Kathleen Robertson, Michael Peña, Djimon Hounsou, Dougray Scott, e John Patrick Amedori, baseado na história de Chris Morgane Christopher Borrelli. De acordo com alguns críticos, “tem pouco exorcismo, zero Vaticano e nenhum susto”. E isso tudo é fato!

O segundo, um pseudo-documentário, apresenta os relatos do cineasta Joe Marino, quando passou na Itália para realizar um documentário sobre exorcismo e a presença demoníaca nas pessoas. “Ele descobriu e registrou casos perturbadores: missas negras, rituais pagãos e exorcismos, revelando estranhas verdades sobre os segredos do Vaticano. Um lugar onde o sagrado e o profano sempre viveram juntos. Não há cenas cortadas, não existem efeitos especiais o que existe apenas, é a verdade sobre o diabo.”

Filmes assim, tentam (mesmo sendo fictícios) encontrar algo de errado dentro do Vaticano (pois neste, o próprio poster diz que o mal mora lá), além de falar que uma garota sumiu lá dentro dizendo que ela realizava orgias sexuais com pessoas lá de dentro. Esses tipos de películas tendem a conquistar o público pela polêmica que o mesmo traz e não por o conteúdo ser verdadeiro ou falso. A curiosidade é que alimenta as expectativas.

Sobre filmes de exorcismos, já falamos demoradamente em outra publicação. Mas esta aqui merece a ênfase a respeito do ritual em si que, em ambos os filmes, são bem aquém do que se previa e se prevê nos livros para tal coisa. Tudo bem que, em se tratando de filmes, temos que dar o desconto da parte romântica-ficcional que todo roteirista implanta.

Porém, como são filmes que tratam erroneamente da nossa Mãe, a Igreja, procurando mais uma vez denigrir sua imagem, vamos à apologética, nos referindo aos principais focos, sem contar spoilers, com as referências a alguns dos documentos do Magistério da Igreja a respeito dos Exorcismos e do seu Ritual.

Para começar, o Padre Paulo Ricardo, por meio de sua equipe, nos alerta que os “filmes de terror” – mesmo os mais equilibrados – geralmente inculcam nas pessoas um temor bobo e vazio. Zumbis não existem, assassinos em série não chegam para todos, e demônios, por sua vez, não saem por aí querendo possuir todo o mundo. Eles estão, é verdade, “como um leão a rugir, à procura de quem devorar” (1Pd 5, 8).

Hoje, quando se põe em dúvida a realidade demoníaca, é necessário fazer referência (…) à fé constante e universal da Igreja e à sua maior fonte: o ensinamento de Cristo”, diz o documento Fé Cristiana y Demonología, da Congregação para a Doutrina da Fé. “Com efeito, a existência do mundo demoníaco se revela como um dado dogmático na doutrina do Evangelho e no coração da fé vivida.”

O mesmo Padre Paulo Ricardo, em uma recente homilia diária, nos ensina que “as pessoas que não acreditam na existência do Demônio, têm também dificuldade de avaliar o que é que significa realmente se liberto por Cristo.”

Em referência aos exorcismos em si, também nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, no número 1673 que:

Quando a Igreja pede publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objeto seja protegido contra a ação do Maligno e subtraído ao seu domínio, fala-se de exorcismo. Jesus praticou-o e é d’Ele que a Igreja obtém o poder e encargo de exorcizar. Sob uma forma simples, faz-se o exorcismo na celebração do Batismo. O exorcismo solene, chamado “grande exorcismo”, só pode ser feito por um presbítero e com licença do bispo. Deve proceder-se a ele com prudência, observando estritamente as regras estabelecidas pela Igreja. O exorcismo tem por fim expulsar os demônios ou libertar do poder diabólico, e isto em virtude da autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja. Muito diferente é o caso das doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência médica. Por isso, antes de se proceder ao exorcismo, é importante ter a certeza de que se trata duma presença diabólica e não duma doença.

A respeito do sacerdote que tem a prerrogativa de exorcizar, diz o Cânon 1172 do Direito Canônico:

“Ninguém pode legitimamente exorcizar os possessos, a não ser com licença especial e expressa do Ordinário do lugar. Esta licença somente seja concedida pelo Ordinário do lugar a um presbítero dotado de piedade, ciência, prudência e integridade de vida.”

Já o Youcat, no número 273:

o que é apresentado como ‘Exorcismo’ nos filmes de Hollywood não corresponde geralmente à Verdade de Jesus e da Igreja. […] No exorcismo está em questão a defesa contra a tentação e a opressão, e a libertação do poder do mal.

Bom, aparentemente, tudo isso é muito claro para nós… Mas, para a indústria cinematográfica, parece que não é bem assim. O que ela pretende, a cada novo filme desse tipo, é mostrar o quanto as pessoas são curiosas a respeito da sua própria fé, no que se refere à existência e presença do Demônio. O cinema brinca demais com o que não deve e muito menos com o que não conhece, mas apenas especula.

Por se tratar de especulações, então, inventam cenas e rituais que não estiveram presentes nos livros de exorcismos anteriores ao Concílio Vaticano II e muito menos nos posteriores a ele. Não bastasse isso, ainda se fantasia com certos poderes paranormais que possessos aparentam possuir.

No fundo, o que se pretende é provar a fé dos padres que executam os exorcismos, elevando infantilmente quase que ao mesmo patamar de uma doença física, este mal que é espiritual. Para se falar do Demônio é preciso crer em sua existência. Um ateu, como o cineasta Joe Marino se apresenta[va] não é capaz de compreender o que se passa na vida de quem é ou está possuído pelo Mal. Prova clara disso é o que a mídia, em geral, divulgou em relação ao “exorcismo” feito pelo Papa Francisco, quando impôs as mãos sobre um enfermo, na Praça de São Pedro, no dia 21 de Maio de 2013.

Se o que era pretendido com os filmes era apenas o lucro, com o seu fracasso, mostra-se claramente o quão carente de referenciais religiosos o suficiente para se falar de algo tão caro à nossa fé: salvação das almas. Não à toa, já no sacramento do batismo é feito o primeiro exorcismo da vida de todo cristão, professando a fé católica (o Creio) e renunciando ao Demônio, “autor e princípio de todo pecado”.

Apesar de os trailers serem muito bem feitos, não compensa nem perdermos tempo expondo-os e nem suas fichas técnicas. Isso deixamos por conta e risco de cada leitor.

O Demônio existe e ele está no meio de nós! Para a Igreja não é um “tabu” falar de Exorcismos. O fato é que não se deve mexer com o que não se conhece! Creiamos nisso e não necessitaremos de alimentar a nossa imaginação com filmes como esses, que não compensam gastar um centavo sequer para assisti-los.

(Projeções de Fé)

FranciscoVueloPapal_AlanHoldrenACIPrensa_130715Diante das repercussões na mídia das últimas medidas anunciadas pelo Vaticano em relação ao perdão do aborto e aos processos de nulidade matrimonial, o Bispo de Palmares (PE), Dom Henrique Soares da Costa, advertiu que o mundo quer “pautar a fé dos católicos, inventando um Papa que não existe”.

“É de um sensacionalismo vergonhoso e desinformado o modo como os meios de comunicação noticiam alguns fatos na vida da Igreja”, postou em sua página no Facebook, na terça-feira 8.

Sobre o caso mais recente, que diz respeito ao documento publicado pela Santa Sé, na terça-feira, 8, que traz os elementos da reforma estabelecida para o processo de nulidade matrimonial, Dom Henrique esclareceu que a Igreja não anula casamentos, como declarado por meios de comunicação.

Após a divulgação do documento, diferentes veículos da mídia publicaram chamadas como “Papa simplifica procedimentos para anulação de casamentos”, “Reforma do Papa Francisco permitirá anular casamento em 45 dias”, “Papa Francisco facilita e barateia anulação de casamento na Igreja”.

Em uma de suas postagens, Dom Henrique recordou: “a Igreja não anula matrimônios. Cristo não lhe deu este poder!”.

Ele explicou que a Igreja apenas reconhece “que, sob certas condições, não houve realmente matrimônio. Aí, então, declara-se a nulidade daquele matrimônio que diante de Deus nunca existiu!”.

“O matrimônio rato e consumado, todo nos conformes, continua e continuará indissolúvel e a Igreja sobre isto nada pôde fazer porque o seu Senhor e Mestre não lhe concedeu esta autoridade! Diante de Cristo todos somos discípulos: um só é o Mestre, um só o Guia, um só o Senhor!”, afirmou.

O Bispo de Palmares sublinhou que as medidas tomadas pelo Papa são para que os processos de reconhecimento de nulidade sejam mais ágeis. Segundo ele, já se vinha buscando há algum tempo maneira de simplificar esses processos, sem macular a indissolubilidade do matrimônio.

“Resumindo: o Papa nada fez de extraordinário ou contrário à fé da Igreja”, disse.

O prelado recordou, também, a abordagem feita pela mídia em relação à carta do Papa Francisco para o Ano da Misericórdia, através da qual o Santo Padre concede “a todos os sacerdotes no Ano Jubilar a faculdade de absolver do pecado de aborto a quantos o cometeram e, arrependidos de coração, pedirem que lhes seja perdoado”.

Dom Henrique escreveu: “Primeiro a tolice de que agora o aborto seria um pecado menos grave para os católicos. Conversa! O aborto é pecado gravíssimo, é pecado mortal! Não entre na Vida quem tira a vida de um inocente!”.

O Bispo explicou que “normalmente, o perdão para este tipo de pecado depende de algumas normativas dos Bispos” e que, no Ano da Misericórdia, o Papa permitiu que qualquer padre possa perdoar este pecado.

“Foi um belo gesto do Papa, exprimindo a largueza do perdão do Senhor para os que se arrependem sinceramente de pecado tão grave”, assinalou.

Dom Henrique Soares concluiu lançando um alerta a todos os católicos. “Nunca nos esqueçamos: a Igreja é de Cristo, não de um Papa! O Papa é o primeiro guardião e testemunha da fé da Igreja, juntamente com os Bispos em comunhão com ele! Os católicos recordem sempre isto e estejam em paz!”.

divorciados

No amor e na verdade

As manchetes ribombam mundo afora: Papa quer que divorciados casados de novo não sejam tratados como excomungados! Papa pede que divorciados não sejam tratados como excomungados! Papa: divorciados que casam novamente ‘não são excomungados’! Dir-se-ia alguma revelação fantástica, alguma novidade inaudita; trata-se, no entanto, do lugar-comum mais comezinho, que certamente todas as pessoas saberiam se tivessem prestado atenção em suas aulas de catequese – e que, com toda a certeza, os correspondentes de religião dos jornais tinham e têm obrigação de o saber de cor, se quiserem fazer jus ao trabalho que se propõem a fazer.

É evidente que os divorciados não estão “excomungados” (ao menos não pelo fato de serem divorciados recasados) e nem nunca o estiveram. Os adúlteros sempre foram merecedores das mais ásperas censuras, é fato, mas não me consta que tenham sido em alguma época fulminados de excomunhão – e, certamente, não o eram até ontem (ao contrário do que as manchetes dão a entender!), antes de a imprensa alardear como se fosse a maior novidade do mundo aquilo que os católicos sempre souberam.

Simplificando as coisas (uma vez que a similaridade entre as palavras “comunhão [eucarística]” e “excomunhão” pode levar a crer que não poder participar da comunhão eucarística é o mesmo que estar excomungado), existem dois tipos de pessoas: as que fazem parte da Igreja Católica e as que não fazem parte da Igreja Católica. A “excomunhão” é uma pena mediante a qual o sujeito, que fazia parte da Igreja, é d’Ela expulso e a Ela deixa de pertencer. Portanto, quem é excomungado não faz parte da Igreja Católica. Por não fazer parte da Igreja Católica, evidentemente, não pode participar dos Sacramentos, como não o podem um herege protestante, um pagão ou um ateu.

As pessoas que fazem parte da Igreja Católica – e aqui, por definição, está-se falando daquelas que não estão excomungadas – dividem-se entre as que estão em estado de graça e as que não estão em estado de graça. O estado de graça é a situação de amizade com Deus que se adquire com o batismo, se perde com o pecado mortal e se recupera com a confissão sacramental; portanto, quem comete pecado mortal e não se confessa não está em estado de graça. O adultério é pecado mortal. Os divorciados recasados estão em adultério. Logo, os divorciados recasados, enquanto não se confessarem, estão em pecado mortal, não estão em estado de graça.

Certos sacramentos – chamados sacramentos “de vivos” – exigem o estado de graça para serem licitamente recebidos. Exemplo máximo desta espécie de sacramentos é o Sacramento da Eucaristia, do qual S. Paulo falou que comia e bebia a própria condenação quem O comesse e bebesse indignamente. A recepção da Santíssima Eucaristia – a comunhão sacramental – exige o estado de graça. Quem está em pecado mortal não pode, portanto, comungar. Adultério é pecado mortal. Os divorciados recasados estão em adultério. Os divorciados recasados não estão em estado de graça e, portanto, não podem comungar.

Nem todo mundo que não pode comungar não o pode por não fazer parte da Igreja Católica! Quem não é católico (p.ex., quem está excomungado) não pode comungar, é evidente; mas quem não está em estado de graça, mesmo sendo católico, também não pode se aproximar da comunhão eucarística. Os divorciados recasados não podem comungar por conta deste segundo motivo. Não pelo primeiro. É óbvio.

Que isso não se trata de novidade nenhuma é coisa bastante fácil de se mostrar. Abra-se, por exemplo, a Sacramentum Caritatis. Exortação pós-sinodal, escrita há apenas oito anos. Ora, isso é já no terceiro milênio; não é crível que a realidade familiar contemporânea seja substancialmente diferente daquela de 2007. Pois bem. Lá, na década passada, um Sínodo dos Bispos já discutiu o “problema” da admissão dos divorciados recasados ao Sacramento da Eucaristia – que, hoje, quer-se fazer acreditar que é uma discussão importantíssima e inédita em vinte e um séculos de Cristianismo. Um Sínodo dos Bispos, dizia-se, já o discutiu um dia desses. E decidiu (negrito meu):

O Sínodo dos Bispos confirmou a prática da Igreja, fundada na Sagrada Escritura (Mc 10, 2-12), de não admitir aos sacramentos os divorciados re-casados, porque o seu estado e condição de vida contradizem objectivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja que é significada e realizada na Eucaristia. Todavia os divorciados re-casados, não obstante a sua situação, continuam a pertencer à Igreja, que os acompanha com especial solicitude na esperança de que cultivem, quanto possível, um estilo cristão de vida, através da participação na Santa Missa ainda que sem receber a comunhão, da escuta da palavra de Deus, da adoração eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo franco com um sacerdote ou um mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos filhos (Sacramentum Caritatis, 29).

Ora, dizer que os divorciados recasados «continuam a pertencer à Igreja» é a mesmíssima coisa que dizer que eles «não são excomungados». O que Bento XVI disse há oito anos, o Papa Francisco repetiu-o agora. À época, a mídia fez um escarcéu porque o Papa dissera que o divórcio era ‘una piaga’; hoje, a mídia faz uma festa para ocultar que o Papa disse que é preciso acolher os divorciados recasados no amor e na verdade.

No amor e na verdade! A expressão se encontra na catequese pontifícia (o itálico é meu): «é necessário um fraterno e atento acolhimento, no amor e na verdade, para com os batizados que estabeleceram uma nova convivência depois do fracasso do matrimônio sacramental». Amor na verdade. Lembra alguma coisa?

«A caridade na verdade, que Jesus Cristo testemunhou com a sua vida terrena e sobretudo com a sua morte e ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira». Assim se inicia um outro documento de Bento XVI, a encíclica Caritas in Veritate. Tudo bem, é uma encíclica social. Mas veja-se se a introdução não serve como uma luva para as presentes celeumas a respeito de divorciados e acesso aos sacramentos:

Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultaneamente a luz da razão e a da fé, através das quais a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade: identifica o seu significado de doação, acolhimento e comunhão. Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada chegando a significar o oposto do que é realmente (Caritas in Veritate, 3).

E ainda, a se grafar em faixas enormes a serem estendidas a cada vez que alguém vier falar em dar a comunhão aos divorciados recasados:

Um cristianismo de caridade sem verdade pode ser facilmente confundido com uma reserva de bons sentimentos, úteis para a convivência social mas marginais. Deste modo, deixaria de haver verdadeira e propriamente lugar para Deus no mundo (CV 4).

Eis, portanto, o que significa acolher «na verdade» – e outra coisa não é possível fazê-lo significar. Não dentro da Igreja de Nosso Senhor – Aquela que, «fundada sobre Cristo, não obstante as inúmeras tempestades e os nossos muitos pecados, permanece fiel ao depósito da fé no serviço, porque a Igreja não é dos Papas, dos Bispos, dos padres e nem mesmo dos fiéis; é só e unicamente de Cristo» (Papa Francisco na homilia de 29/06/2011).

Decerto o mundo, inimigo da Igreja, havia de tentar obscurecer a mensagem do Evangelho; decerto a mídia anticlerical haveria de tentar semear a confusão. Não é a primeira vez, nem será a última. O que importa aos homens é permanecer firmes na Verdade, e não dar ouvidos às opiniões levianas que saem na mídia. Porque a Igreja, que não é nem mesmo dos Papas, muito menos o é da imprensa. Muito menos o é das reivindicações da moda. Por mais que rujam os demônios, a Igreja é e vai continuar sempre sendo «só e unicamente de Cristo». E, por mais que se tente, ninguém será capaz de vencer a força desta verdade.

Fala-se muito em como a Igreja deveria se portar; ninguém quer ouvir como a Igreja ensina que os homens devem proceder. Não engrossemos o coro dos primeiros. Ouvir a voz da Igreja outra coisa não é que ouvir a voz de Cristo. E felizes – mil vezes felizes! – os que, ouvindo esta Doutrina, puserem-na em prática.

Jorge Ferraz, Blogueiro Católico

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Em síntese: O protestantismo se apresenta hoje em dia sob centenas de modalidades, muitas vezes divergentes entre si. Todavia repousa sobre linhas básicas, devidas aos respectivos fundadores no século XVI: Lutero, Calvino, Melanchton, Knox… Essas linhas são:

1) a justificação pela fé sem as obras;

2) a Bíblia como única fonte de fé, sujeita ao “livre exame”;

3) a negação de intermediários entre Deus e o crente.

Estes princípios serão, a seguir, expostos e avaliados.

* * *
O protestantismo representa uma realidade assaz complexa, ou seja, o bloco de aproximadamente 400.000.000 de cristãos que não pertencem nem à Igreja Católica, cujo Pastor visível reside em Roma como sucessor do Apóstolo Pedro, nem às comunidades cristãs orientais (ortodoxa, nestoriana e monofisita), comunidades que se separaram do tronco primordial em etapas sucessivas desde o século V até o século XI.

O iniciador do movimento protestante é Martinho Lutero, que, a partir de 1517, quis reformar o Credo e as instituições cristãs, e por isto se afastou da Igreja dando início ao Luteranismo. Ao lado deste, enumeram-se:

– o Calvinismo (que absorveu o Zwinglianismo ou a reforma de Ulrich Zwingli em Zürich, Suíça), movimento afim ao de Lutero, empreendido por Calvino em Genebra, Suíça,– e o Anglicanismo, reforma semelhante oriunda na Inglaterra. Distinguem-se 1) a High Church, Alta Igreja, que conserva muitos elementos do Catolicismo e pretende ser a ponte entre Catolicismo e Protestantismo propriamente dito, e 2) a Low Church, Baixa Igreja, fortemente impregnada de princípios doutrinários do Protestantismo. Os anglicanos mais radicais emigraram para os Estados Unidos onde têm dado origem a novas e novas divisões.

Estas três denominações (Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo) representam o que se pode chamar “Igrejas protestantes tradicionais”, todas iniciadas no séc. XVI (os Anglicanos nem sempre aceitam a designação de “protestantes”, embora, por seus princípios doutrinários, se filiem ao Protestantismo).

Destes três grandes troncos do Protestantismo derivaram-se centenas de sociedades menores, são reformas da reforma, dissidências da dissidência: metodistas, batistas, congregacionais, quakers, Ciência Cristã, Mórmons, Adventistas, Testemunhas de Jeová…

Esses múltiplos grupos protestantes autônomos professam credos diferentes, chegando alguns a negar a própria Divindade de Cristo; o liberalismo doutrinário predomina entre eles. Contudo podem-se enunciar três grandes teses como características dos diversos tipos de Protestantismo: 1) a justificação pela fé sem as obras; 2) a Bíblia como única fonte de fé, interpretada segundo o “livre exame”; 3) a negação de intermediários entre Deus e o crente.

1. TRÊS PONTOS CAPITAIS

a) A justificação pela fé sem as obras

Lutero considerava esta tese como central dentro da sua Teologia: “artigo do qual nada se poderá subtrair, ainda que o céu e a terra venham a desmoronar” (Artigos de Schmakalde, 1537).

Qual o significado de tal proposição e donde lhe vem a sua importância no Protestantismo?

A resposta não é difícil; deriva-se da situação psicológica em que o reformador se achou em certa fase de sua vida. Lutero fez-se frade agostiniano, mais movido pelo medo (tendo escapado à fulminação por um raio, prometeu entrar no convento) do que por autêntica vocação. No claustro, experimentou a concupiscência, à qual opôs penitência e ascese. Sentindo, porém, continuamente as más tendências em sua natureza, entrou em angustiosa crise: queria libertar-se da concupiscência, mas não o conseguia… Um belo dia julgou ter encontrado a solução: apelando para São Paulo (principalmente para a epístola aos Romanos), começou a ensinar que a concupiscência é realmente invencível; por conseguinte é inútil procurar dominá-la mediante penitência e boas obras. Nem Deus requer isto do homem; basta aceitar Cristo como Salvador, isto é, crer com confiança que Deus Pai, em vista dos méritos de Jesus, não leva em conta os pecados do indivíduo; a fé confiante (“fiducial”), independentemente de boas obras, faz que Deus nos recubra com o manto dos méritos de Cristo, declarando-nos justos. Tal declaração é meramente jurídica ou extrínseca, não afeta o interior da natureza humana; esta, mesmo depois de “justificada”, nada pode fazer para obter a salvação eterna, pois se acha como que aniquilada pelo pecado, reduzida à categoria de instrumento inerte nas mãos de Deus ou de serra nas mãos do carpinteiro (assim se formula a famosa tese do “servo arbítrio” de Lutero).

Neste quadro de idéias, vê-se que não se pode falar de cooperação do homem com a graça de Deus, nem de méritos. Lutero e Calvino reconheciam que a caridade nasce da fé, como a maçã provém da macieira, mas (acrescentavam) não são a caridade e suas obras que importam (ou ao menos… que importam em primeiro lugar); o crente pode estar certo da salvação eterna em qualquer fase da sua vida, desde que mantenha a sua fé confiante. Donde o famoso adágio de Lutero: “Pecco fortiter, sed fortius credo. – Peco intensamente, mas ainda mais intensamente creio” (carta a Melanchton, 1s de agosto de 1521); com estas palavras, o reformador não recomendava o pecado, mas queria dizer que a simples confiança no Salvador ainda tem mais peso no processo de salvação do que a culpa do homem. Calvino, do qual muito se inspiraram os presbiterianos e batistas, acentuou ao extremo estas idéias, afirmando que Deus predestina infalivelmente para a salvação eterna, de sorte que, se o homem não perde a sua fé, pode ter certeza de que chegará à bem-aventurança celeste (donde se deriva para o crente um grande reconforto).

b) A Bíblia, única fonte de fé, sujeita ao “livre exame”

A inovadora tese da justificação pela fé fiducial encontrou fundamento numa revisão nas fontes da Revelação cristã. Estas são a Palavra de Deus, que nos vem por dois canais: a Escritura Sagrada e a Tradição oral apregoada pelo magistério da Igreja. Resolveram, pois, rejeitar a Tradição ou o magistério, para só dar crédito à Palavra escrita ou à Bíblia. Esta, para o protestante, tudo contém; é, por si mesma, clara em tudo que concerne à salvação eterna.

Calvino se exprime a respeito em termos muito fortes:

“Quanto à objeção que os católicos nos fazem, perguntando-nos de quem, donde e como temos a convicção de que a Escritura provém de Deus, é semelhante à questão de quem quisesse saber como aprendemos a distinguir a luz das trevas, o branco do negro, o doce do amargo. A Escritura, com efeito, tem seu modo de se manifestar, modo tão notório e seguro que se compara à maneira como as coisas brancas e negras manifestam sua cor e as coisas doces e amargas manifestam o seu sabor” (Institution Chrétienne 17§ 3).

Para ajudar a pessoa a ler e entender a Bíblia, o Espírito Santo dá seu testemunho interior, iluminando a mente e dirigindo o coração. Em conseqüência, cada crente tem o direito de “deduzir” da Bíblia as verdades que ele, em seu bom senso, julgue haverem sido a ele ensinadas pelo Espírito Santo.

Assim o Protestantismo atribui ao indivíduo uma prerrogativa que ele nega à Igreja visível e hierárquica: esta pode errar no seu ensinamento, corrompendo o depósito da fé (apesar das promessas de Cristo, seu Fundador); toca, por conseguinte, a cada cristão, guiado pelo Espírito Santo, encontrar de novo a Palavra de Deus perdida pela Igreja…

A reação do crente protestante contra o magistério eclesiástico é, aliás, típica expressão da mentalidade da Renascença: no séc. XVI o homem criou, sim, uma consciência nova dentro de si, tendente a pôr em xeque qualquer tipo de autoridade, para mais exaltar o indivíduo. “O que rejeito,absolutamente, é a autoridade”, escrevia Alexandre Vinet (1797-1847), chefe do movimento dito “da Igreja Livre” na Suíça ocidental calvinista. O Evangelho, para Lutero, devia ser não somente uma escola de obrigações, mas também uma via de libertações (entre as quais, a libertação frente à autoridade religiosa visível).

c) A negação de intermediários entre Deus e o crente

O Protestantismo dá valor decisivo à atitude do indivíduo diante de Deus; segundo a teologia reformada, é a fé subjetiva nos méritos de Cristo que garante a salvação. Em conseqüência, pouca margem aí resta para se conceberem dons de Deus que permaneçam extrínsecos ao indivíduo e a este comuniquem os méritos do Salvador. Em outros termos: não têm cabimento canais transmissores da graça, como sejam ritos e práticas a serem administrados por uma sociedade visível (a Igreja) e por uma hierarquia de ministros oficialmente instituída. Para o protestante, entre o homem justificado pela fé e Deus, não há Sacerdote senão o Senhor Jesus invisível, que está nos céus (a prolongação da Encarnação através da Igreja e dos sacramentos é depreciada): também não há outro Mestre senão o Espírito Santo, que fala nas Escrituras e no íntimo de cada crente, sem se servir de algum magistério visível e objetivo.
Note-se, em particular, a repercussão destas idéias nos conceitos de sacramento e Igreja.

O número dos sacramentos foi notavelmente diminuído pelos doutores do Protestantismo. Dentre os sete tradicionais, Calvino chegou a admitir dois apenas: o Batismo e a Ceia. Quanto à função dos sacramentos, os reformadores nos diriam que estes não são portadores da graça, mas apenas sinais que, lembrando as promessas da benevolência divina, excitam a fé (ou confiança) nessas promessas; estimulada por tais sinais, é a fé que produz a santificação do crente. Os sacramentos portanto não exercem, como se diz em linguagem teológica, causalidade nem física nem moral no processo de santificação; a sua influência fica limitada ao setor psicológico (recordam a palavra de Deus…).

No Calvinismo, torna-se mesmo impossível que a graça esteja associada a algum sinal objetivo, pois ela só é dada aos predestinados; a quem não pertença ao número destes, não adianta recorrer a algum rito sensível. Lutero, um pouco menos inovador neste ponto, afirmava que o Batismo confere a santidade, mas só o faz mediante a fé: “Não o sacramento, mas a fé no sacramento é que justifica. – Non sacramentum, sed fides in sacramento iustificat”, escrevia o reformador ao Cardeal Caetano. O Zwinglianismo empalidecia ainda mais o papel dos sacramentos, reduzindo-os a meros testemunhos da fé capazes de unir os homens entre si: pelos sacramentos, ensinava Zwingli, o crente atesta e comprova à Igreja a sua fé, sem que da Igreja receba sequer o selo ou a comprovação da fé.

A prevalência do indivíduo sobre a coletividade se exprime com não menor clareza no conceito protestante de Igreja. Esta, conforme os reformadores, não é um corpo visível, mas sociedade invisível; só uma coisa impede que alguém a ela pertença: o pecado. Quem não se deixa contaminar por este, torna-se membro da igreja, independentemente dos quadros externos nos quais os crentes professam a sua fé. Em geral, dizem os protestantes que a Igreja visível se corrompeu e extinguiu no séc. IV, sob o Imperador Constantino, dada a colaboração do Estado e da Igreja, pois então se introduziram nos mais íntimos redutos do Cristianismo doutrinas e costumes pagãos. Subsiste, porém, a Igreja invisível, a qual continua a vida da comunidade primitiva de Jerusalém. Ora seria essa Igreja invisível que vai tomando corpo nas denominações protestantes a partir do séc. XVI…

Se agora se pergunta como é governada a Igreja invisível, toca-se uma questão árdua para o Protestantismo: este, de um lado, rejeita o Papado e, de outro lado, afirma que todos os fiéis são sacerdotes. Em conseqüência, não restam critérios muito seguros para se constituir o governo da Igreja… Donde a multiplicidade de soluções: há denominações protestantes dirigidas por seus “bispos” (tais são o epíscopalismo anglicano, o metodismo…), bispos, porém, que são mais mentores dos crentes do que sacerdotes ou ministros dos meios de santificação; há-as também dirigidas por presbíteros (o presbiterianismo, por exemplo), e há as dirigidas por meros delegados da coletividade ou da congregação (congregacionalismo, que reproduz o sistema democrático no setor religioso). Vários grupos protestantes não concebem mesmo dificuldade em admitir a autoridade mais ou menos absoluta dos governos civis, no que diz respeito à vida temporal da Igreja (o que resulta em secularização da face visível do Cristianismo).

Expostas sumariamente as três características da teologia protestante, incumbe-nos agora analisar o seu significado.

2. Qual a visão católica a respeito dessas posições protestantes?

a) A justificação pela fé sem as obras

Não há dúvida, a Escritura ensina que a remissão dos pecados é gratuitamente outorgada aos homens pelos méritos de Jesus Cristo (cf. Rm 5,8s); o homem não pode merecer o perdão, mas tem que o aceitar contritamente, crendo no amor de Deus e entregando-se humilde a esse amor. Contudo a Escritura ensina outrossim que o perdão concedido por Deus não é mera fórmula jurídica em virtude da qual não nos seria mais levado em conta o pecado, pecado que, apesar de tudo, ficaria inamovível a contaminar a alma. Não; justificação, segundo as Escrituras, é regeneração (cf. Jo 3,3.5; Tt 3,5), elevação à dignidade de filhos de Deus não nominais apenas, mas reais (cf. 1 Jo 3,1), de modo a nos tornarmos consortes da natureza divina (cf. 2Pd 1,4), capazes de produzir atos que imitem a santidade do Pai Celeste (cf. Mt 5,48). Se, por conseguinte, Deus, ao nos perdoar as faltas, nos concede uma nova natureza, está claro, conforme as Escrituras mesmas, que as obras boas que estejam ao alcance desta nova natureza, devem pertencer ao programa de santificação do cristão; elas se tornam condição indispensável para que alguém consiga a vida eterna. Deus não pode deixar de exigir tais obras depois de nos haver concedido o princípio capaz de as produzir.

É óbvio que essas obras boas não constituem o pagamento dado pelo homem em troca da graça de Deus, nem são algo que a criatura efetue independentemente dos méritos de Cristo Salvador, mas são os frutos necessários da ação de Deus (ou da graça) no homem regenerado, são concretizações dos méritos do Salvador; na verdade, é Cristo quem vive no cristão e neste exerce seu influxo vital, como a cabeça nos seus membros e como o tronco da videira nos seus ramos (cf. Gl 2,20; Jo 15,1s).
São Paulo, na epístola dos Romanos, tanto inculca a justificação pela fé sem as obras, porque tem em vista a primeira conversão ou a conversão do pecador a Deus (claro está que esta não pode ser o resultado de obras meritórias prévias). São Tiago, porém, que visa propriamente ao desabrochar da vida cristã após a conversão, inculca fortemente a necessidade das boas obras (por isto a epístola de Tiago muito desagradava a Lutero, que quis negar a sua canonicidade).

Quanto à concupiscência que permanece no cristão por toda a vida, ela não constitui pecado enquanto o indivíduo não lhe dá consentimento; por muito intensa que seja, a graça do Redentor é certamente capaz de triunfar sobre ela. O fato de que a Escritura a chama “pecado” (cf. Rm 7,20), explica-se por estar a concupiscência intimamente ligada ao pecado como conseqüência deste.
De resto, na vida cotidiana os protestantes valorizam altamente as boas obras; falam então linguagem muito semelhante à dos católicos.

b) A Bíblia e o livre exame

Visto que a S. Escritura teve origem após a pregação oral e como eco da pregação oral dos Profetas e dos Apóstolos, entende-se que a Tradição (transmissão) oral seja necessário critério de interpretação da Bíblia Sagrada. O valor da Tradição se explica pelo fato de que a Revelação oral antecedeu a redação das Escrituras nem foi, por inteiro, consignada nos livros sagrados (os autores sagrados nunca tiveram a intenção de confeccionar um manual completo dos ensinamentos revelados; ver Jo 20,30s; 21,24s); donde se vê quão alheio é ao espírito mesmo da Bíblia interpretá-la independentemente da corrente de doutrinas dentro da qual a Escritura se originou, se conservou e sempre se transmitiu.

Ao que foi dito ainda se pode acrescentar a menção de algumas conseqüências do princípio do livre exame (é pelos frutos que se conhece a árvore!).

Os próprios reformadores e seus discípulos, desejando exaltar a autoridade das Escrituras, tornaram-se deturpadores da Palavra de Deus. Foi, sim, em nome do Antigo Testamento que Lutero permitiu a bigamia a Filipe de Hessen. É em nome das Escrituras que os fundadores de seitas vão ensinando teses fantasistas e contraditórias sobre a data do fim do mundo (tenham-se em vista os Adventistas, as Testemunhas de Jeová, alguns grupos pentecostais). Em nome do livre exame da Bíblia os críticos protestantes têm rejeitado inteiras seções ou até livros escriturísticos; chegam a negar a Divindade de Cristo (o primeiro autor que negou a plena veracidade dos Evangelhos foi o protestante H. S. Reimarusf 1768).

De resto, verifica-se que as comunidades de crentes, tendo abandonado a venerável Tradição transmitida desde os inícios do Cristianismo, ainda, e apesar de tudo, seguem uma tradição,… tradição evidentemente humana, a que deu início tal ou tal fundador de seita. Criou-se em cada denominação de “reformados” uma tradição particular ou uma via própria de interpretação da Bíblia.
É a rejeição de todo magistério munido da autoridade do próprio Deus que gera instabilidade nas comunidades protestantes, ocasionando a criação de novas e novas denominações. A razão destas múltipas reformas não será o fato de que nenhuma delas é realmente guiada pelo Espírito Santo, mas todas são obra meramente humana? Aliás o próprio Lutero já verificava em seus tempos: “Há tantos credos quantas cabeças há”.

Alexandre Vinet, já citado, afirmava, por sua vez, no século passado:

“Para mim, o Protestantismo é apenas um ponto de partida; a religião fica muito além dele… A reforma será uma exigência permanente dentro da Igreja; ainda hoje a reforma está por se fazer”.
A experiência de 400 anos mostrou que se volta contra os próprios irmãos separados o princípio com que estes quiseram outrora impugnar os católicos: “Mais vale obedecer a Deus do que aos homens” (At 5,29).

c) A negação de intermediários entre Deus e o crente

Esta posição acarreta, como dizíamos, a negação de várias instituições que se tornaram clássicas no Cristianismo: os sacramentos concebidos como canais da graça, a intercessão dos Santos, o sacerdócio oficial e hierárquico, a visibilidade da Igreja, etc.
Seguem-se três observações aptas a mais evidenciar o erro radical contido no princípio protestante:
a) a rejeição dos sacramentos e do sacerdócio hierárquico contradiz à lei geral que Deus sempre quis observar nas suas relações com o homem: assim como na plenitude dos tempos o Senhor atingiu a criatura mediante o mistério da Encarnação, assim antes e depois desta Ele veio e vem sob sinais sensíveis; principalmente no Novo Testamento a dispensação das graças conserva a estrutura da Encarnação: os sacramentos e sacramentais são matéria consagrada que prolonga e desdobra a estrutura do Verbo Encarnado. Como o corpo de Jesus recebeu outrora a vida divina e a comunicou aos homens seus contemporâneos, assim os elementos corpóreos (água, pão, vinho, óleo, palavras e gestos do homem…) vêm a ser, nos sacramentos, os canais que contêm e transmitem a graça de Deus; não os poderíamos reduzir à categoria de meros estimulantes da memória, vazios de conteúdo sobrenatural, sem quebrar a harmonia do plano da salvação.

b) Nos desígnios de Deus, a santificação do homem sempre foi concebida comunitariamente, em oposição a qualquer individualismo. O Criador houve por bem, no início da história, incluir todos os homens no primeiro Adão; quis outrossim restaurar todos conjuntamente em Cristo; conseqüentemente santifica-nos hoje por meio de uma comunidade, que é a Igreja, caracterizada por sinais objetivos e por um ministério visível, fora do qual ninguém pode pretender encontrar o Cristo. – Exaltando o indivíduo a ponto de relegar para plano secundário a comunidade, o Protestantismo vem a ser autêntico produto da mentalidade subjetivista e antropocêntrica do Renascimento.

c) A Reforma pretende corresponder à Igreja primitiva, anterior à corrupção que “paganizou” o Evangelho… Esta pretensão é tão vã que os mestres protestantes se têm visto obrigados a fazer recuar constantemente o período da “grande corrupção”: ao passo que os primeiros reformadores a colocavam no séc. IV, outros foram retrocedendo até os tempos de S. Cipriano (+ 258), S. Ireneu (+ cerca de 202), Clemente Romano (+ 102?) ou até a geração apostólica. O famoso crítico Harnack (+ 1930) chegava a dizer que já os Apóstolos perverteram o Evangelho de Cristo – o que é evidentemente absurdo, pois não conhecemos o Evangelho de Cristo senão através da pregação e dos escritos dos Apóstolos; Harnack, porém, era obrigado a proferir tal contra-senso, porque reconhecia claramente que a Igreja Católica atual corresponde fielmente à Igreja primitiva ou, como dizia ele, que “Cristianismo, Catolicismo e Romanismo constituem uma identidade histórica perfeita” (Theologische Literaturzeitung, 16 jan. 1909).

Fonte: Revista Pergunte e Responderemos

http://www.pr.gonet.biz/per-verit-big.php?nrev=397

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Chamou muito a atenção dos meios de comunicação o pensamento conclusivo, nesse domingo, do Papa Francisco sobre a Lua que não brilha com luz própria no seu discurso de boas-vindas a Quito, no Equador.

O papa disse: “Amigos todos, começo com expectativa e esperança os dias que temos pela frente. No Equador, está o ponto mais próximo do espaço exterior: é o Chimborazo, chamado, por isso, como o lugar ‘mais perto do Sol’, da Lua e das estrelas. Nós, os cristãos, identificamos Jesus Cristo com o Sol e a Lua com a Igreja. E a Lua não tem luz própria. E, se a Lua se esconde do Sol, torna-se escura. O Sol é Jesus Cristo. E, se a Igreja se afasta e se esconde de Jesus Cristo, torna-se escura e não dá testemunho. Que nestes dias torne-se mais evidente para todos a proximidade do Sol que nasce do alto” (Lc 1, 78) e que sejamos um reflexo da sua luz, do seu amor”.

Repropomos um texto do cardeal Jospeh Ratzinger, em que ele reflete sobre essa imagem da Lua e do Sol, a Igreja e Jesus.

O artigo foi publicado no sítio Il Sismografo, 06-07-2015. 

Eis o texto.

Uma Igreja que, contra toda a sua própria história e a sua própria natureza, seja considerada apenas politicamente não tem sentido algum, e a decisão de permanecer nela, se for puramente política, não é leal, mesmo que se apresente como tal.

Mas, diante da situação atual, como se pode justificar a permanência na Igreja? Em outras palavras: a escolha em favor da Igreja, para ter sentido, deve ser espiritual. Mas sobre quais motivos ela pode se assentar hoje?

Gostaria de dar uma primeira resposta recorrendo a uma nova comparação e a uma observação anterior. Dissemos que, nos nossos estudos, já nos aproximamos de tal forma da Igreja que não conseguimos mais discernir as linhas gerais, nem vê-la no seu conjunto. Aprofundemos esse pensamento, remetendo-nos a um exemplo, com o qual os Padres alimentaram a sua meditação sobre o mundo e sobre a Igreja.

Eles explicaram que, no mundo material, a Lua é a imagem daquilo que a Igreja representa para a salvação do mundo espiritual. Aqui, é retomado um antigo simbolismo constantemente presente na história das religiões (os Padres nunca falaram de “teologia das religiões”, mas a implementaram concretamente); nele, a Lua, como símbolo da fecundidade e da fragilidade, da morte e da caducidade das coisas, mas também da esperança no renascimento e na ressurreição, era a imagem, “patética e, ao mesmo tempo, consolante” [1], da existência humana.

O simbolismo lunar e o telúrico muitas vezes se fundem. Na sua fugacidade e no seu renascimento, a Lua representa o mundo terreno dos homens, este mundo que é continuamente condicionado pela necessidade de receber e que obtém a própria fecundidade não de si mesmo, mas do Sol; representa o próprio ser humano, que se expressa na figura da mulher, que concebe e é fecunda por força da semente que recebe.

Os Padres aplicaram o simbolismo da Lua à Igreja sobretudo por duas razões: pela relação Lua-mulher (mãe) e pelo fato de que a Lua não tem luz própria, mas a recebe do Sol, sem o qual ela seria completamente escura.

A Lua resplandece, mas a sua luz não é dela, mas de outro [2]. É trevas e, ao mesmo tempo, luz; mesmo sendo por si só escura, ela dá esplendor em virtude de outro do qual reflete a luz. Precisamente por isso, ela simboliza a Igreja, que também resplandece, embora por si só seja escura; não é luminosa em virtude da própria luz, mas do verdadeiro Sol, Jesus Cristo, de modo que, embora sendo apenas terra (a Lua nada mais é do que outra terra), é igualmente capaz de iluminar a noite da nossa distância de Deus – “A Lua narra o mistério de Cristo” [3].

Os símbolos não devem ser forçados; a sua eficácia está totalmente naquela imediaticidade plástica que não se pode enquadrar em esquemas lógicos. No entanto, nesta nossa época de viagens ao espaço, é espontâneo aprofundar essa comparação, que, confrontando a concepção física com a simbólica, enfatiza melhor a nossa situação específica em relação à realidade da Igreja.

A sonda lunar e o astronauta descobrem a Lua apenas como terra rochosa e desértica, como montanhas e como areia, não como luz. Com efeito, ela é em si mesma apenas deserto, areia e rochas. No entanto, por mérito de outros e em função de outros ainda, ela também é luz e como tal permanece mesmo na era dos voos espaciais. Portanto, ela é aqui que, em si mesma, não é. Embora pertencendo a outros, essa realidade também é sua. Existe uma verdade física e uma simbólico-poética, uma não elimina a outra.

Não seria essa, talvez, uma imagem exata da Igreja? Quem a explora e a escava com a sonda espacial descobre apenas deserto, areia e terra, as fraquezas do homem, a poeira, os desertos e as alturas da história. Tudo isso é seu, mas não representa ainda a sua realidade específica.

O fato decisivo é que ela, mesmo sendo apenas areia e rochas, também é luz por força de outro, do Senhor: aquilo que não é seu é verdadeiramente seu e a qualifica mais do que qualquer outra coisa; ou melhor, a sua característica é justamente a de não valer em si mesma, mas apenas por aquilo que nela não é seu, por existir em algo que está fora dela, de ter uma luz, que, embora sendo sua, constitui toda a sua essência. Ela é “lua” – misterium lunae – e, como tal, interesse às pessoas que creem porque justamente isso exige uma constante escolha espiritual.

Como o significado contido nessa imagem parece-me de importância decisiva, antes de traduzi-lo em afirmações de princípio, prefiro esclarecê-lo melhor com outra observação.

Depois da tradução da liturgia da missa, ocorrida após a última reforma, recitando o texto prescrito, eu encontrava todas as vezes uma dificuldade, me parece esclarecer ainda mais o assunto do qual estamos nos ocupando. Na tradução doSuscipiat, diz-se: “Receba o Senhor por tuas mãos este sacrifício (…) para nosso bem e de toda a santa Igreja”. Eu sempre fui tentado a dizer “e de toda a nossa santa Igreja”.

Reaparece aqui todo o nosso problema e a mudança que foi operada nesse último período. No lugar da sua Igreja, entrou a nossa e, com ela, as muitas Igrejas; cada um tem a sua. As Igrejas se tornaram empresas nossas, das quais nos orgulhamos ou nos envergonhamos, pequenas e inumeráveis propriedades privadas dispostas uma ao lado da outra, Igrejas apenas nossas, nossa obra e propriedade, que nós conservamos ou transformamos à vontade. Por trás da “nossa Igreja” ou até da “vossa Igreja” desapareceu a “sua Igreja”.

Mas é precisamente e apenas esta que interessa; se ela não existe mais, a “nossa” também deve abdicar. Se fosse apenas a nossa, a Igreja seria um supérfluo brinquedo de criança.

Notas:

1. M. Eliade, Die Religionen und das Heilige, Salzburg, 1954, p. 215 [trad. it., Trattato di storia delle religioni, Boringhieri, Torino 1954, p. 192]. Cfr. o capítulo inteiro: Mond und Mondmystik, pp. 180-216 [trad. it cit., pp. 158-192 (La luna e la mistica lunare)].

2. Cfr. H. Rahner, Griechische Mythen in christlicher Deutung, Darmstadt, 1957, pp. 200-224 [trad. it., Miti greci nell’interpretazione cristiana, Il Mulino, Bologna 1971, 189-197]; Id., Symbole der Kirche, Salzburg 1964, pp. 89-173 [trad. it., L’ecclesiologia dei Padri. Simboli della Chiesa, Paoline, Roma 1971, pp. 145-229]. É interessante a observação segundo a qual a ciência antiga discutiu longamente sobre a questão se a Lua tinha ou não luz própria. Os Padres da Igreja defenderam a tese negativa, que se tornou comum, enquanto isso, assim como a interpretação em sentido teológico-simbólico (cfr. especialmente p. 100 [trad. it., L’ecclesiologia dei Padri, cit., 161ss.).

3. Ambrosius, Exameron IV 8, 32, CSEL 32, 1, p. 137. Z 27ss. [trad. it, I sei giorni della creazione, in Opera omnia di Sant’Ambrogio 1, Ambroniana – Città Nuova, Milano-Roma 1979, 231], Rahner, Griechische Mythen, cit., p. 201 [trad. it. cit., p. 192].

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Em tempos de crise financeira, aumenta – e muito – o trabalho celestial de Santa Edwiges, a padroeira dos endividados! Neste exato momento, não é difícil imaginar a santa recebendo orações de várias cidades do país, e tudo ao mesmo tempo. Mas como uma simples serva de Deus, que não é onisciente, pode escutar todas essas súplicas?

Os santos no Céu podem ouvir nossas súplicas porque Deus permite e o quer. Deus basta a Si mesmo, e não precisa de criatura alguma para nada, mas ELE QUER PRECISAR. Assim, é bastante razoável que os membros do Corpo de Cristo participem de Seus divinos dons, especialmente aqueles membros que alcançaram elevado grau de santidade, e por isso estão mais perfeitamente unidos a Deus.

Jesus mesmo garantiu isso:

“Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas…” (João 14,12)

Só Deus é onisciente. Portanto, os santos falecidos não possuem o conhecimento pleno sobre todas as coisas do Universo, nem ouvem tudo o que as pessoas pensam ou falam. Mas, conforme a vontade e os planos de Deus, aos santos é dada a permissão de ouvir o clamor dos fiéis que invocam seus nomes, seja este clamor elevado com a voz ou com o simples pensamento.

“Convenhamos que os mortos ignoram o que acontece na terra, pelo menos no momento em que ocorrem. (…) Certamente, não ficam sabendo de tudo, mas apenas aquilo que lhe for autorizado saber e que têm necessidade de saber. (…)

“As almas dos mortos também podem conhecer alguns acontecimentos aqui da terra por revelação do Espírito Santo, acontecimentos estes cujo conhecimento seja necessário. E isto não se restringe somente a fatos passados ou presentes, mas também futuros. É assim que os homens – não todos, mas apenas os profetas – conheceram durante sua vida mortal, não todas as coisas, mas apenas aquelas que a Providência Divina julgava bom lhes revelar.”

– Santo Agostinho, “O cuidado devido aos mortos”

Esse dom, é bom lembrar, não é exclusivo dos santos falecidos: até mesmo na terra alguns cristãos tiveram o dom da visão dado por Deus, o dom de ver a necessidade de outras pessoas, mesmo pessoas desconhecidas e que estavam em lugares muito distantes. Por exemplo: a visão que Paulo teve do macedônio pedindo ajuda, suplicando o anúncio do Evangelho em sua terra (Atos 16).

Viver a devoção aos santos de forma verdadeiramente católica, sem superstições perniciosas, é importantíssimo em nossa caminhada de santidade. É a vivência do grande mistério da comunhão dos fiéis com Deus e uns com os outros! Por meio dessa intercessão fraterna, todos os membros do Corpo de Cristo participam da mediação do único mediador, Jesus Cristo.

Fonte: O CATEQUISTA

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“Foi mais um sinal de abertura para as famílias modernas”, comentou William Bonner, no Jornal Nacional. Não, não foi. O Papa Francisco não está introduzindo nenhuma doutrina nova na Igreja. Se o Jornal Nacional tivesse feito uma simples consulta a qualquer estudioso da doutrina católica, saberia que tal orientação existe há pelo menos 100 anos!

Mas a grande mídia, ao menos quando o assunto é catolicismo, parece muitas vezes optar por fazer o papel de Chacrinha: está aí pra confundir, não pra explicar.

Na Audiência Geral do dia 24 de junho, o Papa Francisco disse que “há casos em que a separação é inevitável; às vezes, pode-se tornar até moralmente necessária”. Ele nada mais fez do que relembrar o que o atual Código de Direito Canônico já prevê, desde 1983:

Cân. 1153 — § 1. Se um dos cônjuges provocar grave perigo da alma ou do corpo para o outro ou para os filhos, ou de algum modo tornar a vida comum demasiado dura, proporciona ao outro causa legítima de separação…”

E o Código de Direito Canônico anterior a esse, de 1917 , promulgado pelo Papa Bento XV, já decretava que é legítima a necessidade de SEPARAÇÃO DE CORPOS em casos específicos, em que a convivência com o marido ou a mulher chegou a um ponto inaceitável de humilhação ou violência. Isso está registrado no capítulo VII, artigo II.

Notem também que, tanto em 1917 quando no Código atual, os casais separados permanecem unidos pelo vínculo indissolúvel do matrimônio. Ou seja, conforme Jesus ensinou, se se unirem a outra pessoa, cometem adultério. Então, que fique claro: quando a Igreja fala em “separação”, ela não se refere de modo algum a “nulidade” ou ao fim dos laços matrimoniais, que só se desfazem com a morte do marido ou da mulher.

Façamos a caridade de espalhar a verdade aos nossos irmãos, que acabam dando crédito às notícias pintam o nosso Papa como um sujeito que está aí para negar a Tradição da Igreja e introduzir nela uma nova doutrina. Infelizmente, a versão da TV e dos jornais é a que prevalece, mas temos a obrigação de fazer a nossa parte.

O mundo precisa saber que a Igreja jamais aprovará o divórcio, pois não pode voltar as costas para o que o próprio Cristo ensinou. 

Fonte: A Catequista

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Andrzej Duda, presidente da Polônia, esteve presente na Missa do dia de Ação de Graças celebrada pelo Cardeal Kazimierz Nycz, arcebispo de Varsóvia. Num dado momento, já depois da consagração, o vento forte fez com que uma Hóstia consagrada voasse do altar e fosse parar ao chão. Nesse momento, o presidente polaco levantou-se, genuflectiu e apanhou a Hóstia.

1

De todas as autoridades presentes nos primeiros bancos, o presidente polaco foi o único a reagir. Os seus guarda-costas, que no princípio não entenderam o que se passava, aproximaram-se para ver o que fazia o presidente.

2

Além de apanhar a Hóstia do chão, tapou-a com as mãos e entregou-a ao Cardeal Nycz, que A recebeu com a reverência devida a Jesus sacramentado.

3

Aos 42 anos de idade, Andrzej Duda acabou de ganhar as eleições na Polónia, defendendo uma política de apoio à família e à natalidade, através de medidas sociais. Isto enquanto declara guerra aos contraceptivos, ao aborto e à fecundação in vitro.