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Durante séculos a Igreja e os Santos animaram os fiéis ao amor a Eucaristia e inclusive algumas pessoas que entregam sua vida por protegê-la.  Hoje, Solenidade de “Corpus Christi”, apresentamos 10 coisas que todo cristão deveria saber em relação a este grande milagre:

1.- Jesus reunido com seus apóstolos durante a ‘Última Ceia’ instituiu o sacramento da Eucaristia: “Tomai e comei; isto é meu corpo…” (Mt, 26, 26-28). Desta maneira fez que os apóstolos participassem do seu sacerdócio e lhes mandou que fizessem o mesmo em memória d’Ele.

2.- A palavra Eucaristia, derivada do grego eucharistía, significa “Ação de graças” e se aplica a este sacramento porque nosso Senhor deu graças ao seu Pai quando a instituiu. Além disso, porque o Santo Sacrifício da Missa é a melhor maneira de dar graças a Deus pela Sua Bondade.

3.- O Concílio de Trento define claramente: “No Santíssimo Sacramento da Eucaristia está contido verdadeira, real e substancialmente o Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, junto a sua Alma e Divindade. Em realidade Cristo se faz presente integralmente”.

4.- Na Santa Missa, os bispos e sacerdotes transformam realmente o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo durante a consagração.

5.- A Comunhão é receber a Jesus Cristo sacramentado na Eucaristia. A Igreja manda comungar pelo menos uma vez ao ano, em estado de graça, e recomenda a comunhão frequente. É muito importante receber a Primeira Comunhão quando a pessoa chega ao uso da razão, com a devida preparação.

6.- O jejum eucarístico consiste em deixar de comer qualquer alimento ou bebida, ao menos de uma hora antes da Sagrada Comunhão, à exceção da água e dos remédios. Os doentes e seus cuidadores podem comungar embora tenham tomado algo na hora imediatamente antes.

7.- A pessoa que comunga em pecado mortal comete um pecado grave chamado sacrilégio. Aqueles que desejam comungar e estão em pecado mortal não podem receber a Comunhão sem antes receber o sacramento da Penitência, pois, para comungar não basta o ato de contrição.

8.- Frequentar a Santa Missa é um ato de amor a Deus que deve brotar naturalmente de cada cristão. E também é uma obrigação grave guardar os domingos e feriados religiosos de preceito, salvo quando impedido por uma causa grave.

9.- A Eucaristia no Sacrário é um sinal pelo qual Nosso Senhor está constantemente presente em meio do seu povo e é alimento espiritual para doentes e moribundos. Devemos prestar sempre nosso agradecimento, adoração e devoção à real presencia de Cristo reservado no Santíssimo Sacramento.

10.- No Vaticano, o Corpus Christi se celebra na quinta-feira depois da Solenidade da Santíssima Trindade. Mas em várias dioceses é comemorado no domingo posterior à mesma.

ACI

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O Assunto: O Cardeal Joseph Ratzinger, depois Papa Bento XVI, quando Prefeito da S. Congregação para a Doutrina da Fé, escreveu uma exposição sobre a Teologia da Libertação em sua forma extremada, em 18/03/84; partindo das respectivas premissas e realçando os conceitos característicos do sistema, o autor mostra que a Teologia da Libertação não trata apenas de desenvolver a ética social cristã em vista da situação socioeconômica da América Latina, mas revolve todos as concepções do Cristianismo: doutrina da fé, constituição da igreja, liturgia, catequese, opções morais, etc. É de crer que “a gravidade da Teologia da Libertação não seja avaliada de modo suficiente; não entra em nenhum esquema de heresia até hoje existente”; é a subversão radical do Cristianismo, que torna urgente “o problema do que se possa e se deva fazer frente a ela”. É importante que o público esteja consciente de que a Teologia da Libertação não é a extensão das promessas do Cristianismo aos problemas morais suscitados pelas condições socioeconômicas da América Latina, mas é uma nova versão do racionalismo de Rudolf Bultmann e do marxismo, que utiliza a linguagem dogmática e ascética do patrimônio antigo da fé e se reveste de aspectos de mística cristã. O Cardeal Joseph Ratzinger fez uma explanação do que é a Teologia da Libertação. Tal documento é de notável importância, pois deriva de um sábio teólogo encarregado, em Roma, precisamente da Congregação que acompanha a fé e os desvios da fé em nossos dias.

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Introdução

Para esclarecer a minha tarefa e a minha intenção, com relação ao tema, parecem-me necessárias algumas observações preliminares:

1) A teologia da libertação é fenômeno extraordinariamente complexo. É possível formar-se um conceito da teologia da libertação segundo o qual ela vai das posições mais radicalmente marxistas até aquelas que propõem o lugar apropriado da necessária responsabilidade do cristão para com os pobres e os oprimidos no contexto de uma correta teologia eclesial, como fizeram os documentos do CELAM, de Medellin e Puebla.

Neste nosso texto, usaremos o conceito “teologia da libertação” em sentido mais restrito: sentido que compreende apenas aqueles teólogos que, de algum modo, fizeram própria a opção fundamental marxista. Mesmo aqui existem, nos particulares, muitas diferenças que é impossível aprofundar nesta reflexão geral. Neste contexto, posso apenas tentar pôr em evidência algumas linhas fundamentais que, sem desconhecer as diversas matrizes, são muito difundidas e exercem certa influência mesmo onde não existe teologia da libertação em sentido estrito.

2) Com a análise do fenômeno da teologia da libertação torna-se manifesto um perigo fundamental para a fé da Igreja. Sem dúvida, é preciso ter presente que um erro não pode existir se não contém um núcleo de verdade. De fato, um erro é tanto mais perigoso quanto maior for a proporção do núcleo de verdade assumida. Além disso, o erro não se poderia apropriar daquela parte de verdade, se essa verdade fosse suficientemente vivida e testemunhada ali onde é o seu lugar, isto é, na fé da Igreja. Por isso, ao lado da demonstração do erro e do perigo da teologia da libertação, é preciso sempre acrescentar a pergunta: que verdade se esconde no erro e como recuperá-la plenamente?

3) A teologia da libertação é um fenômeno universal sob três pontos de vista:

  1. a) Essa teologia não pretende constituir-se como um novo tratado teológico ao lado dos outros já existentes; não pretende, por exemplo, elaborar novos aspectos da ética social da Igreja. Ela se concebe, antes, como uma nova hermenêutica da fé cristã, quer dizer, como nova forma de compreensão e de realização do cristianismo na sua totalidade. Por isto mesmo muda todas as formas da vida eclesial: a constituição eclesiástica, a liturgia, a catequese, as opções morais;
  1. b) A teologia da libertação tem certamente o seu centro de gravidade na América Latina, mas não é, de modo algum, fenômeno exclusivamente latino-americano. Não se pode pensá-la sem a influência determinante de teólogos europeus e também norte-americanos. Além do mais, existe também na Índia, no Sri Lanka, nas Filipinas, em Taiwan, na África – embora nesta última esteja em primeiro plano a busca de uma “teologia africana”. A união dos teólogos do Terceiro Mundo é fortemente caracterizada pela atenção prestada aos temas da teologia da libertação;
  1. c) A teologia da libertação supera os limites confessionais. Um dos mais conhecidos representantes da teologia da libertação, Hugo Assman, era sacerdote católico e ensina hoje como professor em uma Faculdade protestante, mas continua a se apresentar com a pretensão de estar acima das fronteiras confessionais. A teologia da libertação procura criar, já desde as suas premissas, uma nova universalidade em virtude da qual as separações clássicas da Igreja devem perder a sua importância,
  1. O Conceito de Teologia da Libertação e os Pressupostos de sua Gênese

Essas observações preliminares, entretanto, já nos introduziram no núcleo do tema. Deixam aberta, porém, a questão principal: o que é propriamente a teologia da libertação? Em uma primeira tentativa de resposta, podemos dizer: a teologia da libertação pretende dar nova interpretação global do Cristianismo; explica o Cristianismo como uma práxis de libertação e pretende constituir-se, ela mesma, um guia para tal práxis. Mas assim como, segundo essa teologia, toda realidade é política, também a libertação é um conceito político e o guia rumo à libertação deve ser um guia para a ação política.

“Nada resta fora do empenho político. Tudo existe com uma colocação política” (Gutierrez). Uma teologia que não seja “prática (o que significa dizer “essencialmente política”) é considerada “idealista” e condenada como irreal ou como veículo de conservação dos opressores no poder. Para um teólogo que tenha aprendido a sua teologia na tradição clássica e que tenha aceitado a sua vocação espiritual, é difícil imaginar que seriamente se possa esvaziar a realidade global do Cristianismo em um esquema de práxis sócio-político de libertação. A coisa é, entretanto, mais difícil, já que os teólogos da libertação continuam a usar grande parte da linguagem ascética e dogmática da Igreja em chave nova, de tal modo que aqueles que lêem e que escutam partindo de outra visão, podem ter a impressão de reencontrar o patrimônio antigo com o acréscimo apenas de algumas afirmações um pouco estranhas, mas que, unidos a tanta religiosidade, não poderiam ser tão perigosas. Exatamente a radicalidade da teologia da libertação faz com que a sua gravidade não seja avaliada de modo suficiente; não entra em nenhum esquema de heresia até hoje existente. A sua colocação, já de partida, situa-se fora daquilo que pode ser colhido pelos tradicionais sistemas de discussão. Por isto tentarei abordar a orientação fundamental da teologia da libertação em duas etapas: primeiramente é necessário dizer algo acerca dos pressupostos que a tornaram possível; a seguir, desejo aprofundar alguns dos conceitos base que permitem conhecer algo da estrutura da teologia da libertação. Como se chegou a esta orientação completamente nova do pensamento teológico, que se exprime na teologia da libertação? Vejo principalmente três fatores que a tornaram possível.

1) Após o Concílio, produziu-se uma situação teológica nova:

  1. a) Surgiu a opinião de que a tradição teológica existente até então não era mais aceitável e, por conseguinte, se deviam procurar, a partir da Escritura e dos sinais dos tempos, orientações teológicas e espirituais totalmente novas;
  1. b) A idéia de abertura ao mundo e de compromisso no mundo transformou-se frequentemente em uma fé ingênua nas ciências; uma fé que acolheu as ciências humanas como um novo evangelho, sem querer reconhecer os seus limites e problemas próprios. A psicologia, a sociologia e a interpretação marxista da história foram considerados como cientificamente seguras e, a seguir, como instâncias não mais contestáveis no pensamento cristão;
  1. c) A crítica da tradição por parte da exegese evangélica moderna, especialmente a de Bultmann e da sua escola, tornou-se uma instância teológica inamovível que barrou a estrada às formas até então válidas da teologia, encorajando, assim, também novas construções.

2) A situação teológica assim transformada coincidiu com uma situação da história espiritual também ela modificada. Ao final da fase de reconstrução após a segunda guerra mundial, fase que coincidiu pouco mais ou menos com o término do Concílio, produziu-se no mundo ocidental um sensível vazio de significado, ao qual a filosofia existencialista ainda em voga não estava em condições de dar alguma resposta. Nesta situação, as diferentes formas do neomarxismo transformaram-se em um impulso moral e, ao mesmo tempo, em uma promessa de significado que parecia quase irresistível à juventude universal. O marxismo, com as acentuações religiosas de Bloch e as filosofias dotadas de rigor científico de Adorno, Harkheimer, Habernas e Marcuse, ofereceram modelos de ação com os quais alguns pensadores acreditavam poder responder ao desafio da miséria no mundo e, ao mesmo tempo, poder atualizar o sentido correto da mensagem bíblica.

3) O desafio moral da pobreza e da opressão não podia mais ser ignorado, no momento em que a Europa e a América do Norte atingiam uma opulência até então desconhecida. Este desafio exigia evidentemente novas respostas, que não se podiam encontrar na tradição existente até aquele momento. A situação teológica e filosófica mudada convidava expressamente a buscar a resposta em um cristianismo que se deixasse regular pelos modelos da esperança, aparentemente fundados cientificamente, das filosofias marxistas.

  1. A Estrutura Gnoseológica Fundamental da Teologia da Libertação

Esta resposta se apresenta totalmente diversa nas formas particulares de teologia da libertação, teologia da evolução, teologia política etc. Não pode, pois, ser apresentada globalmente. Existem, no entanto, alguns conceitos fundamentais que se repetem continuamente nas diferentes variações e exprimem intenções comuns de fundo.

Antes de passar aos conceitos fundamentais do conteúdo, é necessário fazer uma observação acerca dos elementos estruturais da teologia da libertação. Para tal, podemos retomar o que já afirmamos acerca da situação teológica mudada após o Concílio. Como já disse, leu-se a exegese de Bultmann e da sua escola como um enunciado da “ciência” sobre Jesus, ciência que devia obviamente ser considerada como válida. O “Jesus histórico” de Bultmann, entretanto, apresentava-se separado por um abismo (o próprio Bultmann fala de Graben, fosso) do Cristo da fé. Segundo Bultmann, Jesus pertence aos pressupostos do Novo Testamento, permanecendo, porém, encerrado no mundo do judaísmo. O resultado final dessa exegese consistiu em abalar a credibilidade histórica dos Evangelhos: o Cristo da tradição eclesial e o Jesus histórico apresentado pela ciência pertencem evidentemente a dois mundos diferentes. A figura de Jesus foi erradicada da sua colocação na tradição por ação da ciência, considerada como instância suprema; deste modo, por um lado, a Tradição pairava como algo de irreal no vazio, e, por outro, devia-se procurar para a figura de Jesus uma nova interpretação e um novo significado. Bultmann, portanto, adquiriu importância não tanto pelas suas afirmações positivas quanto pelo resultado negativo da sua crítica: o núcleo da fé, a cristologia, permaneceu aberto a novas interpretações porque os seus enunciados originais tinham desaparecido, na medida em que eram considerados historicamente insustentáveis. Ao mesmo tempo, desautorizava-se o Magistério da Igreja, na medida em que o consideravam preso a uma teoria cientificamente insustentável e, portanto, sem valor como instância cognoscitiva sobre Jesus. Os seus anunciados podiam ser considerados somente como definições frustadas de uma posição cientificamente superada.

Além disso, Bultmann foi importante para o desenvolvimento posterior de uma segunda palavra-chave. Ele trouxe à moda o antigo conceito de hermenêutica, conferindo-lhe uma dinâmica nova. Na palavra “hermenêutica” encontra expressão a ideia de que uma compreensão real dos textos históricos não acontece através de uma mera interpretação histórica; mas toda interpretação histórica inclui certas decisões preliminares. A hermenêutica tem a função de “atualizar”, em conexão com a determinação de dado histórico. Nela, segundo a terminologia clássica, se trata de uma “fusão dos horizontes” entre “então” [“naquele tempo”] e o “hoje”. Por conseguinte, ela suscita a pergunta: o que significa o então (“naquele tempo”), nos dias de hoje? O próprio Bultmann respondeu a esta pergunta servindo-se da filosofia de Heidegger e interpretou, deste modo, a Bíblia em sentido existencialista. Tal resposta, hoje, não apresenta mais interesse algum; neste sentido, Bultmann foi superado pela exegese atual. Mas permaneceu a separação entre a figura de Jesus da Tradição clássica e a idéia de que se pode e se deve transferir essa figura ao presente, através de uma nova hermenêutica.

Neste ponto, surge o segundo elemento, já mencionado, da nossa situação: o novo clima filosófico dos anos sessenta. A análise marxista da história e da sociedade foi considerada, nesse ínterim, como a única dotada de caráter “científico”; isto significa que o mundo é interpretado à luz do esquema da luta de classes e que a única escolha possível é entre capitalismo e marxismo. Significa, além disso, que toda a realidade é política e que deve ser justificada politicamente. O conceito bíblico do “pobre” oferece o ponto de partida para a confusão entre a imagem bíblica da história e a dialética marxista; esse conceito é interpretado com a ideia de proletariado em sentido marxista e justifica também o marxismo como hermenêutica legítima para a compreensão da Bíblia. Ora, segundo essa compreensão, existem, e só podem existir, duas opções; por isso, contradizer essa interpretação da Bíblia não é senão expressão do esforço da classe dominante para conservar o próprio poder. Gutierrez afirma: “A luta de classes é um dado de fato e a neutralidade acerca desse ponto é absolutamente impossível”. A partir daí, torna-se impossível até a intervenção do Magistério eclesiástico: no caso em que este se opusesse a tal interpretação do Cristianismo, demonstraria apenas estar ao lado dos ricos e dos dominadores e contra os pobres e os sofredores, isto é, contra o próprio Jesus, e, na dialética da história, aliar-se-ia à parte negativa.

Essa decisão, aparentemente “científica” e “hermeneuticamente” indiscutível, determina por si o rumo da ulterior interpretação do Cristianismo, seja quanto às instâncias interpretativas, seja quanto aos conteúdos interpretados. No que diz respeito às instâncias interpretativas, os conceitos decisivos são: povo, comunidade, experiência, história. Se até então a Igreja, isto é, a Igreja Católica na sua totalidade, que, transcendendo tempo e espaço, abrange os leigos (sensus fidei) e a hierarquia (Magistério), fora a instância hermenêutica fundamental, hoje tal instância passou a ser a “comunidade”. A vivência e as experiências da comunidade determinam agora a compreensão e a interpretação da Escritura. De novo, pode-se dizer, aparentemente de maneira muito científica, que a figura de Jesus, apresentada nos Evangelhos, constitui uma síntese de acontecimentos e interpretações da experiência de comunidades particulares, onde no entanto a interpretação é muito mais importante do que o acontecimento, que, em si, não é mais determinável. Essa síntese original de acontecimento e interpretação pode ser dissolvida e reconstruída sempre de novo: a comunidade “interpreta” com a sua “experiência” os acontecimentos e encontra assim sua “práxis”. Esta ideia, podemos encontrá-la em modo um tanto diverso do conceito de povo, com o qual se transformou a acentuação conciliar da idéia de “povo de Deus” em mito marxista. As experiências do “povo” explicam a Escritura. “Povo” torna-se, assim, um conceito oposto ao de “hierarquia” e em antítese a todas as instituições indicadas como forças da opressão.

Afinal, é “povo” quem participa da “luta de classes”; a “igreja popular” acontece em oposição à Igreja hierárquica. Por fim, o conceito de “história” torna-se instância hermenêutica decisiva. A opinião, considerada cientificamente segura e irrefutável, de que a Bíblia raciocine em termos exclusivamente de história da salvação, e, portanto, de maneira antimetafísica, permite a fusão do horizonte bíblico com a idéia marxista da história que procede dialeticamente como autêntica portadora de salvação; a história é a autêntica revelação e, portanto, a verdadeira instância hermenêutica da interpretação bíblica. Tal dialética é apoiada, algumas vezes, pela pneumatologia. Em todo caso, também esta última, no Magistério que insiste em verdades permanentes, vê uma instância inimiga do progresso, dado que pensa “metafisicamente” e assim contradiz a “história”. Pode-se dizer que o conceito de história absorve o conceito de Deus e de revelação. A “historicidade” da Bíblia deve justificar o seu papel absolutamente predominante e, portanto, deve legitimar, ao mesmo tempo, a passagem para a filosofia materialista-marxista, na qual a história assumiu a função de Deus.

III. Conceitos Fundamentais da Teologia da Libertação

Com isto, chegamos aos conceitos fundamentais do conteúdo da nova interpretação do Cristianismo. Uma vez que os contextos nos quais aparecem os diversos conceitos são diferentes, gostaria de citar alguns deles, sem a pretensão de esquematizá-los. Comecemos pela nova interpretação da fé, da esperança e da caridade. Com relação à fé, por exemplo, J. Sobrino afirma: a experiência que Jesus tem de Deus é radicalmente histórica. “A sua fé converte-se em fidelidade”. Por isso Sobrino substitui fundamentalmente a fé pela “fidelidade à história” (fidelidad a la historia, 143-144). Jesus é fiel à profunda convicção de que o mistério da vida do homem… é realmente o último… (144). Aqui se produz aquela fusão entre Deus e história que dá a Sobrino a possibilidade de conservar para Jesus a fórmula de Calcedônia, ainda que com um sentido completamente mudado; pode-se ver como os critérios clássicos da ortodoxia não são aplicáveis à análise dessa teologia. Ignacio Ellacuria, na capa do livro sobre este assunto, afirma: Sobrino “diz de novo… que Jesus é Deus, acrescentando, porém, imediatamente, que o Deus verdadeiro é somente aquele que se revela historicamente em Jesus e nos pobres, que continuam a sua presença. Somente quem mantém unidas essas duas afirmações, é ortodoxo…”.

A esperança é interpretada como “confiança no futuro” e como trabalho pelo futuro; com isso ela é subordinada novamente ao predomínio da história das classes. “Amor” consiste na “opção pelos pobres”, isto é, coincide com a opção pela luta de classes. Os teólogos da libertação sublinham com força, diante do “falso universalismo”, a parcialidade e o caráter partidário da opção cristã; tomar partido é, segundo eles, requisito fundamental de uma correta hermenêutica dos testemunhos bíblicos. Na minha opinião, aqui se pode reconhecer muito claramente a mistura entre uma verdade fundamental do Cristianismo e uma opção fundamental não cristã que torna o conjunto tão sedutor: o sermão da montanha é, na verdade, a escolha por parte de Deus a favor dos pobres. Mas a interpretação dos pobres no sentido da dialética marxista da história e a interpretação da escolha partidária no sentido da luta de classes é um salto “eis allo genos” (grego: para outro gênero), no qual as coisas contrárias se apresentam como idênticas.

O conceito fundamental da pregação de Jesus é o de “reino de Deus”. Este conceito encontra-se também no centro das teologias da libertação, lido, porém, no contexto da hermenêutica marxista. Segundo J. Sobrino, o reino não deve ser compreendido espiritualmente, nem universalmente, no sentido de uma reserva escatogicamente abstrata. Deve ser compreendido em forma partidária e voltado para a práxis. Somente a partir da práxis de Jesus, e não teoricamente, é possível definir o que seria o reino: trabalhar na realidade histórica que nos circunda para transformá-la no reino (166). Aqui ocorre mencionar também uma idéia fundamental de certa teologia pós-conciliar que impulsionou nessa direção. Muitos apregoaram que, segundo o Concílio, se deveriam superar todas as formas de dualismo: o dualismo de corpo e alma, de natural e sobrenatural, de imanência e transcendência, de presente e futuro. Após o desmantelamento desses dualismos, resta apenas a possibilidade de trabalhar por um reino que se realize nesta história e em sua realidade político-econômica. Mas justamente dessa forma deixou-se de trabalhar pelo homem de hoje e se começou a destruir o presente, a favor de um futuro hipotético: assim produziu-se imediatamente o verdadeiro dualismo.

Neste contexto, gostaria de mencionar também a interpretação, impressionante e definitivamente espantosa, que Sobrino dá da morte e da ressurreição. Antes do mais, ele estabelece, contra as concepções universalistas, que a ressurreição é, em primeiro lugar, uma esperança para aqueles que são crucificados; estes constituem a maioria dos homens: todos aqueles milhões aos quais a injustiça estrutural se impõe como uma lenta crucifixão (176 e seguintes). O crente, no entanto, participa também do senhorio de Jesus sobre a história, através da edificação do reino, isto é, na luta pela justiça e pela libertação integral, na transformação das estruturas injustas em estruturas mais humanas. Esse senhorio sobre a história é exercitado ao se repetir o gesto de Deus que ressuscita Jesus, isto é, dando novamente vida aos crucificados da história (181). O homem assumiu o gesto de Deus, e aqui a transformação total da mensagem bíblica se manifesta de maneira quase trágica, se se pensa em como essa tentativa de imitação de Deus se desenvolveu e se desenvolve ainda.

Gostaria de citar apenas alguns outros conceitos: o êxodo se transforma em uma imagem central da história da salvação; o mistério pascal é entendido como um símbolo revolucionário e, portanto, a Eucaristia é interpretada como uma festa de libertação no sentido de uma esperança político-messiânica e da sua práxis. A palavra redenção é substituída geralmente por libertação, a qual, por sua vez, é compreendida, no contexto da história e da luta de classes, como processo de libertação que avança. Por fim, é fundamental também a acentuação da práxis: a verdade não deve ser compreendida em sentido metafísico; trata-se de “idealismo”. A verdade realiza-se na história e na práxis. A ação é a verdade. Por conseguinte, também as ideias que se usam para a ação, em última instância são intercambiáveis. A única coisa decisiva é a práxis. A práxis torna-se, assim, a única e verdadeira ortodoxia. Desta forma, justifica-se um enorme afastamento dos textos bíblicos: a crítica histórica liberta da interpretação tradicional, que aparece como não científica. Com relação à tradição, atribui-se importância ao máximo rigor científico na linha de Bultmann. Mas os conteúdos da Bíblia, determinados historicamente, não podem, por sua vez, ser vinculantes de modo absoluto. O instrumento para a interpretação não é, em última análise, a pesquisa histórica, mas, sim, a hermenêutica da história, experimentada na comunidade, isto é, nos grupos políticos, sobretudo dado que a maior parte dos próprios conteúdos bíblicos deve ser considerada como produto de tal hermenêutica comunitária.

Quando se tenta fazer um julgamento geral, deve-se dizer que, quando alguém procura compreender as opções fundamentais da teologia da libertação, não pode negar que o conjunto contém uma lógica quase incontestável. Com as premissas da crítica bíblica e da hermenêutica fundada na experiência, de um lado, e da análise marxista da história, de outro, conseguiu-se criar uma visão de conjunto do cristianismo que parece responder plenamente tanto às exigências da ciência, quanto aos desafios morais dos nossos tempos. E, portanto, impõe-se aos homens de modo imediato a tarefa de fazer do Cristianismo um instrumento de transformação concreta do mundo, o que pareceria uní-lo a todas as forças progressistas da nossa época. Pode-se, pois, compreender como esta nova interpretação do Cristianismo atraia sempre mais teólogos, sacerdotes e religiosos, especialmente no contexto dos problemas do terceiro mundo. Subtrair-se a ela deve necessariamente aparecer aos olhos deles como uma evasão da realidade, como uma renúncia à razão e à moral. Porém, de outra parte, quando se pensa o quanto seja radical a interpretação do Cristianismo que dela deriva, torna-se ainda mais urgente o problema do que se possa e se deva fazer frente a ela [até aqui Joseph Ratzinger].

À guisa de comentário[1], parece oportuno salientar os seguintes pontos:

1) A Teologia da Libertação não é um novo tratado teológico ao lado de outros já existentes, mas é uma nova interpretação do Cristianismo, que revira radicalmente as verdades da fé, a constituição da Igreja, a liturgia, a catequética e as opções morais.

2) Todos os valores e toda a realidade são consideradas do ponto de vista político. Uma teologia que não seja essencialmente política é encarada como fator de conservação dos opressores no poder.

3) A dificuldade de se perceber esse caráter subversivo da Teologia da Libertação está, em grande parte, no fato de que os seus arautos continuam a usar a linguagem ascética e dogmática da Igreja, embora em chave nova. Isto dá aos observadores a impressão de que estão diante do patrimônio da fé acrescido de algumas afirmações religiosas que não podem ser perigosas.

4) A gravidade da Teologia da Libertação não é suficientemente avaliada; não entra em nenhum esquema de heresia até hoje existente.

5) O cristão não pode ser, de forma alguma, insensível à miséria dos povos do Terceiro Mundo. Todavia, para acudir cristãmente a tal situação, não lhe é necessário adotar um sistema de pensamento que é anticristão como a Teologia da Libertação; existe a Doutrina Social da Igreja, desenvolvida pelos Papas desde Leão XIII até João Paulo II de maneira cada vez mais incisiva e penetrante. Se fosse posta em prática, eliminaria graves males de que sofrem os homens, sem disseminar o ódio e a luta de classes [Até aqui o texto transcrito de F. Aquino. Teologia da libertação, p. 9-22].

Refletindo[2]

Penso que uma das maiores provas do erro da “teologia” da libertação é que ela, que tanto enaltece a “práxis”, na verdade defende algo que é impossível na prática, ou seja, um “paraíso na terra” onde todos seriam felizes, caso os “pobres” efetivamente tivessem o poder nas mãos. Tal concepção não leva em conta o fato de que os homens são pecadores, e que a pobreza material ou a condição de “oprimidos” não os torna santos nem desapegados – e, portanto, não os torna capazes de renunciar ao proveito pessoal em função de um proveito comunitário onde tudo seria de todos. A história comprova a impossibilidade de realizar tal ideal na prática.

O “pobre” que se vê no poder passa a agir da mesma forma que aqueles a quem, antes, censurava – e, geralmente, age até de forma mais tirana e cruel. Uma verdadeira atitude de caridade e desapego só existe nos santos, capazes de renunciar totalmente à própria vontade e ao próprio interesse em função, precisamente, de uminteresse sobrenatural (a pérola preciosa do Evangelho), que é Deus e a vida eterna em união com Deus. Ninguém renuncia aos bens mundanos quando justamente estes são exaltados e valorizados, mas somente quando valoriza e prioriza outra coisa diferente deles.

A teologia da libertação, ao menosprezar a primazia da vida eterna e o conceito transcendente de Deus, só faz dificultar – se não tornar impossível – um desapego e solidariedade autênticos. Qualquer iniciativa em defesa dos direitos humanos que precise ser defendida em detrimento dos valores sobrenaturais, como se estes fossem prejudiciais ao homem, não tem por fonte um verdadeiro amor ao homem.

Para aprofundamento:

AQUINO, Felipe. Teologia da libertação. 2ª ed. Lorena: Cléofas, 2003.

BETTENCOURT, Pe. Estêvão Tavares. Curso de Doutrina Social da Igreja. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1992, p. 197-204 (há ainda o livrete do mesmo autor com o título Teologia da libertação).

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Instrução Libertatis nuntius (1984) e Instrução Libertatis conscientia (1986). Disponível, respectivamente, em:

http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19840806_theology-liberation_po.html

http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19860322_freedom-liberation_po.html

RANGEL, Paschoal. Teologia da libertação: juízo crítico e busca de caminhos. 2ª ed. Belo Horizonte: O Lutador, 1989 (um dos mais bem documentados estudos brasileiros sobre o assunto

 

[1] Comentários de D. Estêvão Bettencourt, OSB (Nota de Refletindo).

[2] Reflexão de Margarida Hulshof, revisora de Refletindo.

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Eu era protestante durante vinte anos antes de me converter ao catolicismo. Eu fiz muitas pessoas deixarem a Igreja Católica. Minha fórmula para os católicos deixarem a Igreja em geral era composta de três etapas.

Passo 1: Convidar os católicos a terem uma experiência de conversão em um ambiente protestante.

Muitas igrejas fundamentalistas, evangélicos e carismáticos têm programas dinâmicos para os jovens, intensos ofícios religiosos toda quarta-feira e domingo à tarde e pequenos grupos  de estudos bíblicos. Além disso, eles patrocinam cruzadas, seminários e concertos especiais. Os católicos, convidados por um amigo protestante, podem assistir a um ou mais desses eventos sem deixarem sua participação nas missas de domingo em sua paróquia local.

A maioria da doutrina protestante é simples, se arrependerem de seus pecados e seguir a Cristo na fé. Além disso, salientam a importância de uma relação pessoal com Jesus e a recompensa da vida eterna. A maioria dos católicos que frequenta estes eventos não está acostumada a ouvir tais desafios diretos a abandonar o pecado e seguir a Cristo. Consequentemente, muitos católicos experimentam uma verdadeira conversão.

Isto é, devemos louvar o fervor protestante, colocando para promover conversões.

Os líderes católicos devem aumentar as oportunidades para as pessoas  terem um ambiente católico.

A razão é simples: há cerca de cinco em cada dez pessoas adotam as crenças na qual experimentou sua conversão. Esta percentagem é ainda maior para aqueles com conversões profundas ou experiências carismáticas graças aos protestantes. (Acredite em mim, eu sei muito bem, me formei em uma escola da Assembléia de Deus e fui ministro da juventude em duas igrejas carismáticas).

Pastores, líderes da juventude, e ministros leigos estão bem cientes de que as experiências de conversão em ambientes protestantes muitas vezes causam a adesão a fé e a igreja protestante.

Questões importantes:

•Por que existem tantos líderes católicos que não têm conhecimento disto?

•Por que são tão indiferentes a um processo que tirou centenas de milhares de católicos da Igreja?

Passo 2: “Dê a conversão a uma interpretação protestante”.

A conversão  genuína é uma das experiências de vida mais preciosas, comparável ao casamento ou o nascimento de uma criança. A conversão desperta uma fome profunda de Deus. Os ministros protestantes eficazes treinam seus trabalhadores para que deem seguimento a  esse vivo desejo espiritual.

Antes de uma cruzada em um estádio, ele capacita seus trabalhadores por  seis semanas. Ele mostra como apresentar uma interpretação protestante da experiência de conversão fazendo uso seletivo de versículos da Bíblia.

A citação escolhida, é claro, João 3.3, o verso sobre “nascer de novo”: “. Jesus lhe respondeu: Eu lhe asseguro, se alguém não nascer de novo, não poderá  ver o reino de Deus”.

Ele está usando a técnica semelhante a ”touch and go” que é usada em treinamento de pilotos para pousos e decolagens. Jogamos João 3,3 brevemente para mostrar que era necessário nascer de novo para a vida eterna. Logo a conversão era descrita em termos de nascer de novo. Fazíamos uma abordagem rápida antes de ler João 3.5 que enfatiza a necessidade de nascer da água e do Espírito.

Eu nunca disse a eles que por 20 séculos as Igrejas ortodoxas e católicas, ecoando os ensinamentos unânimes dos Padres da Igreja, entendia esta passagem  como  referência  ao sacramento do batismo! E, obviamente, nunca dizia a citação de Tito 3.5 (“Nos salvou … pela regeneração pelo batismo e renovação pelo do Espírito Santo”) como referência paralela à João 3: 5.

Na minha experiência como um protestante, todos os católicos que tiveram uma conversão em um ambiente protestante não tinham firme conhecimento da fé católica.

Em vinte anos de ministério protestante, eu nunca conheci um católico que sabia que João 3: 3-8 descreve o sacramento do batismo. Não foi muito difícil convencê-los que ignoraram os sacramentos e ao mesmomtempo a igreja que os enfatizavam.

O livro de Provérbios diz:

  “Quem advoga sua causa, por primeiro, parece ter razão; sobrevém a parte adversa, que examina a fundo “(18:17).

Católicos que não têm uma base bíblica para as suas crenças nunca ouvem o resto da história. Meu uso seletivo da escritura fazia parecer que a  perspectiva protestante tinha  todas as luzes seguras. Ao longo do tempo, esta abordagem unilateral das escrituras fazia os católicos rejeitarem sua fé católica.

Passo 3: “Acusar a Igreja Católica de negar a salvação pela graça.”

Os católicos geralmente consideram que os protestantes que fazem  proselitismo são intolerantes. Isto é injusto e impreciso; uma profunda caridade vigoriza seu fervor equivocado.

Só havia uma razão que me fazia levar  que os católicos deixassem a sua Igreja; pensava que estavam indo para o inferno. Eu pensava que a Igreja Católica negava a salvação pela graça; Eu sabia que qualquer um que acreditava nisso não ganharia o Céu.

Eu usei Efésios 2,8-9 para convencer os católicos, que era essencial para deixar a Igreja: “Porque fostes salvos pela graça mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; Não vem das obras, para que ninguém se glorie. “

Primeiro, dizia “a Bíblia indica que a salvação é pela graça e não pelas obras. Certo? ” A resposta foi sempre sim.

 Então dizia “a Igreja Católica ensina que a salvação é pelas obras. Certo? ” (Eu nunca conheci um católico que não dissesse sim. Absolutamente todos os católicos que conheci durante meus 20 anos de ministério confirmou minha ideia errada de que o catolicismo ensinava que a salvação era pelas obras e não pela graça).

Finalmente, lhes dizia “a Igreja Católica está sendo fiel ao inferno quando eles negam que a salvação é pela graça. Melhor parte de uma igreja que ensina o que é o verdadeiro caminho para o céu “.

Como também fazia uma rápida revisão do livro de Efésios, eu raramente citava versículo 10 que diz:

“Com efeito, somos obras sua criados em Cristo Jesus para as boas obras, que Deus de antemão preparou para que nós praticássemos.”

Preste muita atenção ao Evangelho que pregam nos estádios, na televisão e no rádio. Nove em cada dez vezes enfatizam Efésios 2,8-9, mas nunca mencionam o versículo

“Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus.
Não provém das obras, para que ninguém se glorie.
Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos”.

O Catolicismo ensina e acredita na mensagem completa de Efésios 2, 8-10, sem equívocos ou cerceando a verdade.

Por vinte séculos da Igreja Católica fielmente ensinou que a salvação é pela graça.

Pedro, o primeiro Papa disse:

“Mas nós acreditamos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus” (Atos 15, 11).

O Catecismo da Igreja Católica, totalmente endossado pelo Papa João Paulo II, diz: “Nossa justificação vem da graça de Deus” (No. 1996).

O protestantismo começou quando Martinho Lutero declarou que somos justificados (feitos justos) pela fé. Quando tratava para que os católicos deixassem a Igreja, eu não me dava conta que Martinho Lutero acrescentou a palavra “somente” à sua tradução de Romanos 3:28 para  provar sua doutrina. (A palavra “apenas” não é encontrada em qualquer tradução contemporânea protestante em inglês de Romanos 3, 28).

Eu não percebi que o único lugar na Bíblia que a menção de ”fé somente” no contexto da salvação é em São Tiago 2,24, onde a idéia de somente fé é explicitamente refutada:

    “Você vê como o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé.”

Este versículo era perturbador, mas eu o ignorei ou deturpei  para significar outra coisa  que o versículo e seu contexto claramente ensina.

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Quem é Steve Wood?

Ex-diretor do Instituto Bíblico da Flórida, ex-pastor de uma igreja evangélica interdenominacional. Ele também estava servindo em Costa Mesa na Igreja Evangélica “El Calvario” ao fazer os seus estudos em um instituto da Assembléias de Deus. Ele trabalhou em projetos de evangelização da juventude; Foi líder de ministérios evangélicos na prisão; organizou o Instituto de estudo bíblico para adultos. Em seguida, fez estudos de pós-graduação no famoso Seminário Evangélico de Teologia de Massachusetts Gordon-Conwell.

Entre outras coisas em seu testemunho de conversão Steve diz: “Quanto mais eu estudava os primeiros séculos da igreja primitiva  mais eu percebia que se assemelhava a Igreja Católica.Estudar mais os “primeiros padres da Igreja” e examinar mais a Bíblia. Mas houve uma confusão em mim. Para piorar as coisas, eu descobri que dois dos meus colegas do seminário mais inteligentes e anti-católicos começaram também a pensar em se tornarem católicos. “Um dia, quando estava pregando” , continuou Steve dizendo:” Eu senti o Senhor me dizendo: “Agora ou nunca”. Se no meio de tudo isso eu dava um passo à fé eu reconhecia a verdade que eu ia perder tudo. Perder o meu emprego como pastor, eu não poderia sustentar a minha família, era a minha carreira e meu chamado. Eu tinha passado 20 anos me preparando para ser um ministro protestante e Deus me disse :. Faça isso agora … e eu fiz ”

“Pedi desculpas à minha congregação reunida. Os líderes “anciãos” me seguiu. Eu lhes disse que não podia continuar enganando a mim mesmo. Minha peregrinação à Igreja que Cristo fundou: A Católica, já tinha começado. Então: eu orei mais, estudei mais, conheci a plenitude e cheguei. A plenitude de um relacionamento pessoal com Cristo é ter uma relação pessoal também com o corpo de Cristo, a Sua Igreja (1 Cor 12) Católica.

Fonte: Amor mariano

Pastor se converte à Igreja Católica após 20 anos em igrejas evangélicas

Em Março faz exatamente 20 anos do meu batismo na Igreja Assembleia de Deus. Foi em 27 de Março de 1994, domingo, na igreja sede da Assembleia de Deus no Brás (Ministério em Madureira, hoje mais conhecida como AD Brás).

Foi um momento marcante em minha vida, eu estava vivendo uma linda experiência de conversão e aquele ato batismal era o cumprimento de uma decisão tomada poucos meses antes, quando aceitei a Jesus como meu Salvador. Sempre fui apaixonado pelo Evangelho desde criança, quando ganhei minha primeira Bíblia aos sete anos, poderia até ver isso como uma vocação sacerdotal.

Passados estes vinte anos eu vivo novamente a experiência da conversão, mas desta vez minha fé me trouxe de volta à Igreja Católica Apostólica Romana. 

No período em que estava na Assembleia de Deus participei de grupos de mocidade, fui professor de Escola Bíblica Dominical e cursei Teologia(Básico) pela EETAD, curso que deixei pela metade para viver o meu sonho de trabalhar em uma emissora de rádio.

Por um período de sete anos eu apresentei um programa chamado “Jovens Para Cristo”, que era patrocinado pelos membros da igreja. Neste período eu trabalhei como funcionário desta emissora até o seu fechamento pela Anatel em 2002. Após o fechamento da emissora de rádio, passei por um período de depressão e me afastei da igreja.

Meses depois eu, por conta própria, decidi procurar uma igreja diferente para frequentar, um misto de vergonha e orgulho me impediu de retornar à minha antiga congregação. Deste tempo, até aqui, fui membro de três igrejas diferentes, passei por altos e baixos na minha fé. Apesar de sucessivas decepções, aconteceu a maior dádiva da minha vida, conheci a moça que hoje é minha esposa e mãe de meu filho. Deus me abençoou com uma família maravilhosa.

Nestes últimos anos desenvolvi diversas atividades ministeriais, especialmente voltadas para a evangelização de jovens, também ministrei cursos para formação de lideres e obreiros. Até que cheguei ao pastorado, fui pastor auxiliar pelo período de um ano e pastor titular por outro período de um ano em uma congregação que inaugurei junto ao ministério do qual fazia parte.

Pouco depois do nascimento de nosso filho, por motivos alheios à minha vontade, renunciei à direção da igreja que pastoreava e meses depois entendi que deveria abrir mão do ministério pastoral. Era dia 12 de Outubro de 2012 eu preguei o meu último sermão na igreja sede da igrea que congregava e sabia que não retornaria mais a um púlpito na condição de pastor.

Tudo que eu sempre almejei e alcancei, deixei pra trás, somente restou em meu coração a ardente paixão pelo Evangelho e minha vida consagrada a Cristo. Ao longo desta experiência muita dor, angústia e lágrimas derramadas.

Talvez, nesse ponto, você esteja se perguntando o motivo de atitudes tão drásticas, tão radicais. Tais motivos, claro existem, mas decidi não falar sobre tais assuntos no momento. 

Reencontro com o catolicismo

Fui criado católico, fui batizado, fiz a primeira comunhão, mas aos 18 anos, nenhum destes fundamentos fazia o menor sentido pra mim. Na adolescência fiz parte de movimentos ligados à “Teologia da libertação” e com o passar do tempo fui me afastando da igreja. Aos 18 anos aceitei ao convite de um amigo e fui com sua família a um culto da Assembleia de Deus, fiquei maravilhado com aquela atmosfera. Nunca havia sentido uma sensação tão boa,eu me senti tocado por Deus e aceitei seguir aquele caminho.

De modo algum eu quero invalidar este processo de conversão. Foi uma experiência real, verdadeira e produziu frutos em minha vida.

Porém, não é segredo para ninguém que a expansão do Protestantismo no Brasil, especialmente o ramo pentecostal, se deu por conta de uma visão anti-católica que, baseada em textos bíblicos, proclamava a verdadeira salvação por meio apenas de igrejas pertencentes a este seguimento. Igreja Católica era sinônimo de idolatria e o Papa, o próprio Anti-cristo.

Passei a ver o catolicismo como uma religião idólatra e anti-bíblica. Por anos tive esta visão e convicção.

No auge da rede social Orkut, entrei em uma comunidade de debates entre católicos e evangélicos. A comunidade “Debate Católicos e Evangélicos” carinhosamente chamada de “DC&E” congregava um número interessante de pessoas tanto católicos quanto evangélicos, ali tínhamos debates teológicos de grandeza magistral, mas também exemplos extremistas de fundamentalismo religioso, de ambas as partes.

Logo em minha primeira participação na comunidade entrei em um tópico que debatia algo sobre as Escrituras, fui logo confrontando e declarando de que adiantava debater sobre a Bíblia e não acreditar, nem fazer o que ela mandava.

Naquele dia eu levei a maior surra de interpretação bíblica, apanhei até cansar de um católico chamado Paulo, mais conhecido como Confrade. Eu não tinha argumentos, mesmo sendo um leitor ativo da Bíblia, me considerando apto a debater as Escrituras, eu fui calado pela sabedoria e conhecimento daquele rapaz. Derrotado, pedi perdão pelo equívoco…

Passei e estudar com mais afinco o catolicismo, seus costumes, o Magistério, a Tradição, os dogmas, especialmente os ligados a Maria, mãe do Mestre.

O efeito disso foi a anulação do sentimento anti-catolicismo adquirido e o início de uma fase de fraternidade e aprendizado. Porém, nunca concebi a ideia de me tornar católico novamente. Deste período de debates surgiram amizades, encontros, como o da foto abaixo.

Esta imagem abaixo é um registro histórico de um dos orkontros realizados pelos membros da comunidade. Este foi o primeiro em São Paulo, havendo outros no Rio de Janeiro e algumas outras cidades do Brasil.

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A comunidade foi fundamental para renovar a minha mente. Passei a enxergar a Igreja Católica com a Igreja de Cristo, todo protestante deve entender que, sem ela, o Evangelho não nos alcançaria.

No entanto foram necessários alguns anos para que eu entendesse que deveria regressar à Igreja mãe. Foram necessárias várias decepções, muitas frustrações, para poder abrir o meu coração e conceber que meu lugar é na Igreja Católica.

Após renunciar ao pastorado e à direção de uma igreja, eu me desigrejei. Não queria mais saber de templos e religião institucionalizada.

Decidi romper com a religião. Eu tinha a minha fé, acreditava em Deus e viveria para fazer o bem e por minha família. Não queria mais vínculo com denominação alguma, minha religião era Cristo, e pronto.

Iniciei o projeto deste blog [Compartilhando a Graça], compartilhando textos com amigos do Facebook. Comecei a escrever sobre a fé cristã, postar reportagens e notícias sobre os cristianismo, inclusive algumas polêmicas e escândalos.

Até que um belo dia escrevi o texto Castel Gandolfo: Onde o Papa passa as férias. Isso foi no dia 11 de Janeiro de 2013, no início da noite.

Foi uma noite mal dormida, pois sonhei com o Papa Bento XVI e a ideia de ser novamente um católico. Cheguei a comentar com minha esposa: “… e se eu voltasse para Igreja Católica?”

A ideia se transformou em desejo, e o desejo, decisão. Eu comecei a compartilhar isso com meu amigo Marcio Araújo, mais um remanescente da “DC&E”, e desde então ele tem me ajudado. Márcio é dono da página Beleza da Igreja Católica e tem sido um grande incentivador da minha jornada. Pouco tempo depois criei a página Francisco, o Papa da humildade, fiquei maravilhado com a mensagem cristocêntrica do Papa, só faltava conferir se a Igreja correspondia a tamanho entusiasmo.

Comecei a participar da Missa, mas mantive a discrição. No início ia para observar, mas, com o passar do tempo, eu já estava envolvido de corpo e alma. Um determinado dia marquei uma reunião com o padre Douglas, pároco da nossa região. O recebi em minha casa para um café da manhã e conversamos bastante.

Foi muito especial, contei a ele minha história e tenho recebido o seu apoio e instrução, iniciei o curso de Crisma a pouco dias em uma classe de Catequese voltada para os adultos. Estou vivendo intensamente este processo de conversão, aprendendo a viver esta fé milenar em sua plenitude.

Se alguém tiver alguma pergunta a me fazer ou comentário específico, por favor envie email paraatusturquete@hotmail.com ou me adicione no Facebook:https://www.facebook.com/atusturquete

Não responderei a anônimos e nem tenho a intenção de fazer comentário agressivos à fé de quaisquer. 

Fonte: Compartilhando a Graça

Serge-Abad-Gallardo

Serge Abad-Gallardo foi membro da maçonaria durante mais de 25 anos, chegou a ser mestre de 14º grau. Depois de uma peregrinação ao Santuário de Lourdes tudo mudou e começou seu caminho de conversão, que logo o levou a escrever um livro. Na entrevista ao grupo ACI ele explica também a relação que existe entre o demônio e a organização.

“Fiz parte da maçonaria e pensei que tinha que escrevê-lo primeiro para me entender mais e depois para contar às pessoas. Cada pessoa tem a liberdade para fazer o que ela quiser, mas na maçonaria não se fala francamente”, relata o autor do livro “Por que deixei de ser maçom”, editado apenas em espanhol.

“Através do meu livro quero demonstrar que o catolicismo e a maçonaria não podem ser praticados juntos”, explica o ex-maçom.

Serge é arquiteto e entrou na loja maçônica através um amigo, tentando encontrar nela as respostas às perguntas mais profundas do homem.

“Eu não pensava deixar a maçonaria. Tive alguns problemas sérios na minha vida e me perguntava qual a resposta que a maçonaria poderia me dar a esses problemas, porém não encontrei nenhuma resposta. Entretanto no caminho com Cristo sim as encontrei”, afirmou.

Abad-Gallardo contou que o caminho para deixar a Maçonaria foi difícil: “durante um ano ou ano e meio estava convencido que tinha encontrado a fé e não sabia se deveria permanecer na maçonaria, esse podia ser um lugar onde falaria aos maçons do Evangelho. Mas conversando com um sacerdote, ele me explicou que não adianta tentar falar-lhes da Palavra de Deus, porque eles não estavam dispostos a escutar”.

Após os repetidos comentários anticlericais de vários altos graus da Maçonaria, Serge não podia ficar calado e defendia a Igreja. Além das críticas à Igreja e ao Papa descobriu que no ritual do início do ano maçônico “se dava glória a Lúcifer”. “Eles não dizem que se trata do diabo, mas usam a etimologia da palavra e dizem que é ‘o portador de luz’”, explica o espanhol ao grupo ACI.

Algo parecido também ocorreu quando viu que entre os altos graus da maçonaria elogiam a serpente do livro do Gênesis, a mesma que tentou a Adão e Eva cometerem o pecado original. “Dizem que a serpente trouxe a luz e o conhecimento que Deus não queria conceder ao homem. Isto é uma perversão muito grave”, declara.

Conforme afirma Serge: “entre a maçonaria e o demônio há uma relação, mas não é tão direta. A maioria dos maçons não percebem a influência do demônio nos rituais maçônicos. Eles pensam, com a melhor das intenções, que estão trabalhando pela ‘Felicidade da Humanidade’ ou pelo ‘Progresso da Humanidade’, isto é, “não existe um culto abertamente ao diabo, mas elogiam com palavras e devemos perceber, o quanto é perigoso para um católico estar dentro de uma sociedade assim”.

O ex-maçom relata: “embora poucos mações saibam claramente da relação que a maçonaria tem com o demônio, cumprem estes ritos sabendo perfeitamente o que estão fazendo. Mas, segundo minha experiência, a maioria deles não percebem”, “não devemos esquecer que o demônio é o ‘pai da mentira'”.

Conforme explica, esta relação indireta com o demônio se manifesta de muitas maneiras, mas todas confluem em afastar as pessoas que entram na maçonaria da fé e especialmente da Igreja Católica. “A maçonaria tenta convencer que a fé e a Igreja são superstições e obscurantismo”, recordou Serge.

Nesse sentido Serge Abad-Gallardo também explica: “o ritual maçônico influi na mente, no subconsciente e na alma das pessoas. O maçom olha para os símbolos e os rituais maçônicos como fossem verdades profundas e esotéricas”.

Apesar de que “na maçonaria não existam ritos diretamente satânicos, estas cerimônias constituem uma porta de entrada para o demônio”.

Uma das palavras secretas e sagradas dos mestres maçons, conforme explica Serge, é “Tubalcaïn”, traduzida como “descendente direto de Caim”. “Já sabemos o que ele, Caim, fez. Ele foi inspirado pelo demônio a matar o seu irmão por ciúmes e ele é o modelo para os mestres maçons”, afirma Serge.

“Os rituais não mudaram, somente tiveram pequenas mudanças. De fato, nos Altos Graus, é onde se encontra as referências mais esotéricas e ocultas, por volta do ano 1800, 70 anos depois que nasceu a Maçonaria em 1717”.

Nessa relação entre a maçonaria e o satanismo, Serge indica ao grupo ACI: “a maioria dos maçons estão iludidos por palavras altruístas e mentirosas e por isso não percebem a relação entre ambos”.

De fato, explica que numa das tábuas maçônicas, isto é, um trabalho escrito e apresentado por um maçom, é explicado que “quem fundou o satanismo moderno foi o americano Anton Szantor Lavey, um irmão (maçom) que fundou em 1966 a Igreja de Satanás que atualmente é a principal organização satânica e de modelo para as demais”.

“A maçonaria afasta de Cristo. Porque embora fale-se sobre Jesus Cristo no 18º grau dos Altos Graus maçônicos, não há nada a ver com o Jesus Cristo da Igreja Católica, pois o mencionam como um sábio ou filósofo qualquer”, insiste.

“Existem maçons que vão ainda mais longe nesta blasfêmia, pois excluem a divindade a Cristo e dizem que ele foi o primeiro maçom, um homem iniciado. Explicam que José e Jesus foram carpinteiros. E que a palavra ‘carpinteiro’ é a etimologia da palavra ‘arquiteto’ e todos os maçons, especialmente nos Altos Graus são Grandes Arquitetos”, afirmou Serge.

Fazendo menção ao tema: “na maçonaria acreditam no ‘Grande arquiteto do Universo’, querem que acreditemos que este é o mesmo Deus do catolicismo, mas não é verdade. Às vezes conseguem enganar os católicos dizendo que ser maçom e ser católico é compatível por esta referência a Cristo”.

Há dois anos Serge largou totalmente a maçonaria, mas afirma que o controle que esta organização tem sobre a sociedade francesa é crescente. “No meu primeiro trabalho o prefeito era maçom, mas ninguém sabia, o diretor do seu gabinete, o encarregado de urbanismo e eu também éramos maçons, e outros dois arquitetos da prefeitura onde trabalhava”, recorda.

“Quando tentaram aprovar a última lei sobre a eutanásia, há um parágrafo que faz menção à ‘sedação profunda’ que é a mesma expressão que aparece numa tábua maçônica de 2004, onde mencionam este tema. Quer dizer, que as leis atuais na França estão sendo feitas nas lojas maçônicas, dez ou quinze anos antes de serem votadas”, conta ao grupo ACI.

Nesse sentido afirma que “na maçonaria não existe fraternidade, nem amizade, porque tudo são redes. Todos ambicionam o poder político, social e econômico”.

Fonte: http://www.acidigital.com/noticia.php?id=28711

Anjos

1. Anjos realmente existem?

Se você professa a fé cristã certamente deve acreditar na existência de anjos. Eles estão presentes no velho e no novo testamento. Coube a um anjo a tarefa dada por Deus de informar para a jovem Maria que ela seria a mãe imaculada de Jesus Cristo. Anjos estão intrinsecamente ligados ao nascimento do cristianismo. É simplesmente impossível do ponto de vista teológico crer em Jesus e não crer em anjos. Um bom católico deve necessariamente acreditar plenamente na existência dos anjos.

2. Qual é a função do anjos dentro da religião judaico-cristã?

Os anjos trazem mensagens de Deus, tanto no velho como no novo testamento. O próprio nome anjo significa “mensageiro” no grego original. Eles também desempenham outros papéis importantes, estando presentes em importantes passagens da Bíblia, ora servindo de proteção e auxílio, ora orientando profetas e santos.

3. Anjos são seres celestiais?

Os anjos celestiais formam o “exército de Deus”. Eles foram criados antes dos seres humanos e compartilhavam da imensa glória de Deus. Quando o Senhor resolveu criar o homem e colocar os anjos para servi-los houve uma reação de um terço dos seres angelicais. Eles se recusaram a servir seres que consideravam inferiores a eles. Essas criaturas angelicais então foram expulsas do céu, caindo nas trevas do inferno. Assim Anjos são seres celestiais pois tiveram origem divina, mas nem todos eles possuem e compartilham a glória de Deus nos tempos atuais.

4. O que são Anjos caídos?

São os anjos que se recusaram a servir o homem após Deus o ter criado. São anjos rebeldes que não aceitaram se submeter as ordens de Deus. Dessa forma caíram em desgraça, sendo jogados no inferno diretamente, enquanto outros foram atirados ao mundo, onde vivem da poeira dos homens. Os anjos caídos eram liderados por Lúcifer, o anjo de luz, que começou a se considerar mais divino do que o próprio Deus. Ao se tornar arrogante e soberbo, perdeu a graça de Deus, caindo nas esferas mais baixas do mundo espiritual.

5. Demônios são Anjos?

Um fato interessante que muitos não param para pensar. Os demônios na verdade nada mais são do que Anjos caídos. O pecado foi introduzido no mundo por essas criaturas. No livro da gênesis acompanhamos como Adão e Eva foram tentados pela serpente e depois que comeram da árvore da vida foram expulsos do paraíso. Assim temos um enredo que deixa claro que desde o começo dos tempos os anjos caídos ou demônios conspiram contra a humanidade.

6. O que são Anjos da Guarda?

São Anjos enviados por Deus para ajudar a cada pessoa durante sua vida. Segundo a doutrina católica cada ser humano tem um anjo da guarda que o acompanha, tentando influenciar em aspectos positivos de sua vida. Os anjos da guarda agem em nossa consciência, se alegrando em nossos acertos e sucessos e se entristecendo quando erramos e cometemos erros graves durante nossa existência terrena. Não há porém um consenso na teologia sobre quando os anjos da guarda entram em nossas vidas. Para alguns eles são enviados em nosso nascimento, já para outros mestres em teologia eles nos são dados por Deus em nosso batismo, quando então recebemos a graça do espírito santo em toda a sua plenitude.

7. O que são Serafins?

Na escala de importância dos seres angelicais existe uma hierarquia. Os anjos mais puros, antigos e cheios da graça de Deus, formam o topo dessa hierarquia e ficam mais próximos de Deus. Os Serafins formam a espécie mais importante da classe angelical. Eles servem diretamente a Deus e por essa razão não entram em contato com os seres humanos. Os Serafins são os anjos que estão ao lado do trono de Deus, o servindo diretamente. Abaixo deles há outras classes de Anjos. Dentre elas apenas Arcanjos e Anjos propriamente ditos servem ao homem comum diretamente justamente por estarem em classes mais baixas da hierarquia dos anjos.

8. Qual é a natureza de um Anjo?

Um anjo é um ser puramente espiritual que nunca teve uma existência material. Ao contrário do que muitos pensam, seres humanos comuns jamais podem se tornar anjos quando entram na vida espiritual, pois são duas criaturas diversas da criação de Deus. Os anjos foram criados antes do surgimento da humanidade e não compartilham da mesma origem. Assim como um Anjo não pode nascer como um ser humano, esse também não pode subir aos céus na forma angelical.

9. Lúcifer ou Satanás era um Anjo de Luz?

Sim, de acordo com a longa tradição que remonta ao surgimento do judaísmo, Lúcifer ou Satanás, era um dos mais luminosos e gloriosos Serafins de Deus. Seu nome significa a Luz da Manhã. Em determinado momento de sua existência ele começou a se considerar tão supremo e maravilhoso que passou a se considerar até mesmo melhor do que o próprio Deus. Prepotente e tomado de arrogância, começou a se considerar o ser mais maravilhoso da criação. Isso acabou traçando o destino de sua trágica existência. Renegado por Deus, caiu nas trevas de seu próprio inferno.

10. Quantos são e quais os nomes dos principais Anjos?

A bíblia cita poucos nomes de Anjos. Os mais conhecidos são Gabriel, Miguel e Rafael. Isso porém não esgota o tema pois tradições antigas listam centenas de nomes de anjos, alguns acabaram se tornando bem populares. A Cabala judaica, por exemplo, procura não apenas estudar os anjos, como também listar todos os nomes conhecidos até hoje pela humanidade. Esses nomes porém não são chancelados pela Igreja Católica. Tampouco há como saber quantos anjos existem no universo. Isso faz parte dos mistérios de Deus. Para a doutrina da Igreja não importa seus nomes, mas sim a missão que desempenham, ajudando os homens em sua longa caminhada pela vida.

Autor: Pablo Aluísio.

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Faltavam dez minutos para a uma da tarde, na sexta-feira, 31 de outubro. Eu estava segurando a minha mão da minha mãe quando ela deu seu último suspiro e partiu deste mundo.

Barbara Gordon tinha nascido na pobreza, mas pôde superá-la. Ficou viúva ainda jovem, mas superou esse revés também. Durante os últimos 30 anos, ela viveu um profundo sofrimento físico: teve de lutar contra uma infecção viral no coração, que exigiu um transplante; outros problemas de saúde destruíram os seus rins; o diabetes a limitava cada vez mais; e uma variedade de outras doenças a acompanhou continuamente. No meio de todo este sacrifício, ela irradiava a alegria, a paz e a coragem que vem do relacionamento pessoal permanente com Jesus Cristo. E foi através d’Ele que ela superou tudo, inclusive na hora da morte.

Como seu filho, foi um privilégio, para mim, ficar ao seu lado para reconfortá-la e amá-la até o fim. E foi um privilégio, também, ficar ao lado dela como católico; como o católico que a minha mãe não era. Ela, assim como o meu falecido pai, era ministra protestante evangélica. Os três filhos tinham todos se reconciliado com a Igreja em algum momento da vida adulta. Embora respeitasse as nossas escolhas, porém, a nossa mãe permaneceu fora da fé católica até o término da vida terrena.

Mesmo assim, o seu falecimento me trouxe uma nova apreciação do ensino da Igreja sobre a morte e sobre a dignidade da pessoa humana, especialmente no final da vida, bem como dos ritos que confortam a pessoa que está morrendo e também as que permanecem aqui depois de presenciarem a sua partida.

Uma semana antes do falecimento da minha mãe, eu tinha recebido um telefonema do diretor médico da casa de repouso onde ela vivia desde o ano passado. Ele explicou que, em sua opinião e na da equipe de enfermagem, mamãe estava começando o processo de “transição”, que ele descreveu como o movimento interior que a levava da luta pela vida para a aceitação da morte. Ele nos recomendou interná-la, para que ela pudesse contar com bons cuidados paliativos.

Conversamos com a equipe da clínica alguns dias depois deste conselho. Explicamos que estávamos preparados para deixar a natureza seguir o seu curso, mas que não queríamos acelerar a morte da nossa mãe nem privá-la de recursos vitais como água e comida. Em outras palavras, queríamos que ela ficasse confortável, mas não desejávamos nenhuma espécie de eutanásia. A equipe do hospital ficou visivelmente aliviada. Eles nos contaram que, muitas vezes, têm de lidar com pedidos para “acelerar as coisas” ou administrar “golpes químicos de misericórdia”, dando um fim não natural a um processo natural.

Ao tomar a decisão final como católico, eu pude me amparar na extensa doutrina da Igreja sobre o final da vida. Esse tesouro me ajudou a entender e vencer os perigos morais envolvidos nas distinções entre os cuidados ordinários e extraordinários, a gestão da dor e a sedação terminal, a utilidade e a necessidade. Contei com um embasamento moral e filosófico para avaliar os particulares da situação da minha mãe. Contei também com uma linguagem moral finamente matizada, essencial para esclarecer as minhas dúvidas e para comunicar as minhas conclusões aos profissionais médicos.

Além disso, os ensinamentos da Igreja me desafiaram em todos os momentos a verificar as minhas motivações, incluindo a minha reação emocional ao fato de ver a minha mãe morrendo diante dos meus olhos. Com o aconselhamento provado da Igreja, eu pude desenvolver uma objetividade essencial na minha tomada de decisões, sem nunca abandonar a identificação empática com a minha mãe e os profundos laços de amor filial e de responsabilidade para com ela. A Igreja me ajudou a ver o que estava acontecendo, mas também o que deveria acontecer para que a minha mãe tivesse uma morte santa e cristã e para que eu saísse dessa experiência com a consciência serena.

Durante a última semana de vida terrena da minha mãe, nós rezamos, cantamos e lemos para ela as sagradas escrituras, especialmente os seus salmos favoritos. Como ela cumpria as condições do cânon 844.4, que trata do sacramento da unção dos enfermos para os não católicos, eu pedi que o meu pároco lhe desse o sacramento e ele nos atendeu. Durante toda a semana, ficamos muito atentos ao pessoal clínico para nos certificar de que eles cumpririam os nossos desejos e os dela.

Alguns poucos instantes depois que a minha mãe faleceu, eu levantei as mãos, olhei para cima e imaginei o seu espírito se elevando e me observando lá do alto. “Espero que eu tenha deixado você orgulhosa, mãe”, sussurrei. “Eu vou encontrar você lá no céu!”. Uma grande paz tomou conta de mim, confirmando que eu tinha ajudado a dar a ela uma partida digna do seu batismo, da sua confissão de fé e do seu destino final. E eu tenho que agradecer à Igreja por essa graça.

Os dias que se seguiram foram preenchidos pelas diversas tarefas necessárias a um funeral, enterro, notificações… Como sempre, eu busquei refúgio na santa missa da manhã, cujas palavras assombrosas e familiares da liturgia ganharam para mim um novo significado: “Lembrai-vos também dos nossos irmãos e irmãs que morreram na esperança da ressurreição e de todos os que partiram desta vida: acolhei-os junto a vós na luz da vossa face”.

Minha mãe tinha pedido um funeral privado e simples, numa casa mortuária, seguido do enterro. Meus irmãos e eu não chamamos ministros protestantes, pois, sem a Eucaristia, consideramos que não há realmente nenhuma necessidade. Em vez disso, lemos um salmo e uma passagem da Primeira Carta aos Tessalonicenses. Cantamos um hino e dissemos as nossas palavras de despedida e de homenagem a ela diante do pequeno grupo de familiares mais próximos. Um pouco depois, à beira do túmulo, eu senti que precisávamos de algo mais: voltei para a igreja e rezei uma oração pelo descanso eterno dos fiéis defuntos.

“Em vossas mãos, Pai das misericórdias, recomendamos a nossa irmã Barbara, na esperança segura e certa de que, juntamente com todos os que morreram em Cristo, ela ressuscitará com Ele no último dia. Senhor Misericordioso, voltai-vos a nós e atendei as nossas preces: abri as portas do paraíso para a vossa serva e ajudai a nós, que aqui permanecemos, a consolar-nos uns aos outros com as garantias de fé, até que todos nos encontremos em Cristo e estejamos convosco e com a nossa irmã para sempre. Nós vo-lo pedimos por Cristo, nosso Senhor”.

Mais uma vez, a sabedoria da Igreja se manifestou. A linguagem formal e poética desta prece, muito mais do que as minhas palavras jamais poderiam ter conseguido, manifestou para todos os presentes, católicos e não católicos, a singela despedida que Barbara Gordon certamente gostaria de ter tido. E foi assim que a minha mãe terrena se foi, enquanto a Santa Mãe Igreja permanece, para nos confortar e nos consolar, para nos ensinar e nos alimentar. Eu lhe sou, por isso, eternamente grato.

Autor: Mark Gordon

espiritosespiritismo

Certa vez, tive uma cliente (sou engenheiro civil) que contratou- me para fazer os projetos de sua casa. Após alguns dias em contanto conversávamos sobre várias outras coisas que não os projetos. Nestas conversas eu percebia a grande confusão de fé que havia naquela pessoa. Uma hora ela dizia-se católica e falava de missas, novenas, da bíblia. Outra hora ela dizia-se, também, espírita, frequentando inclusive os centros e sendo ativa nas obras filantrópicas.

Em outro momento, em conversa breve com o marido dela, sobre outros projetos, o mesmo perguntou-me se eu era espírita, ao que respondi que não, pois sou católico. Ele também, confusamente como a esposa, disse que não havia impedimento de confessar as duas fés, que na mente dele são uma só: a cristã.

A confusão destas e de outras pessoas que já encontrei nesta vida não é por eles serem espíritas ou por eles serem católicos, mas na afirmação de serem “católicos e espíritas”. Isto é, por lógica, impossível e tentarei mostrar a seguir os motivos dessa impossibilidade.

O objetivo deste texto não é mostrar quem está certo, ou se alguém está certo, mas mostrar que essas doutrinas são tão opostas que é ilógico acreditar-se em ambas.

Nas apresentações das duas doutrinas serão utilizados o Catecismo da Igreja Católica (CIC) e transcrições do site da Federação Espírita do Brasil (FEB), disponível em http://www.febnet.org.br e do site www.forumespirita.net, acessados em 12/10/2012, dentre outros que forem citados.

1 –  Jesus é Deus?

Para o catolicismo, Jesus é, inquestionavelmente, Deus. Tal doutrina tornou-se Dogma após os concílios de Nicéia (325 d.C.) e Constantinopla (381), quando foram debatidas as doutrinas arianas sobre a divindade de Cristo. Ário (daí o nome arianismo) afirmava que Deus criou a Cristo e, portanto, este não poderia ser Deus (COLLINS, M. e PRICE M. A. História do Cristianismo – 2000 anos de fé. Edições Loyola. São Paulo, 2000 – pg. 60).

Nos concílios mencionados, a Igreja finalmente resolveu a questão sobre a divindade de Jesus e a tornou artigo de fé  católica, constando assim no credo niceno-constantinopolitano:

      • Creio em um só Senhor, Jesus Cristo… Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeirogerado, não criado,consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus (CIC, pg. 58).

Para o espiritismo, Jesus não é Deus. Tal doutrina ensina que:

      • Jesus é o guia e modelo para toda a Humanidade. E a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus. A moral do Cristo, contida no Evangelho, é o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela Humanidade (FEB).
      • O Espiritismo apenas admite o seu caráter humano, e isso em nada pode ser tomado como absurdo. Rejeitando o dogma da divindade de Jesus, o Espiritismo nega somente o que resultou da elaboração de mentes humanas (ratificada apenas no Concílio de Nicéia, em 325 d.C.) na composição de uma teologia que expressa, nesse particular como em muitos outros, uma posição contrária ao pensamento do próprio Cristo, uma vez que ele mesmo se coloca em posição de inferioridade em relação a Deus, subordinado a Ele, e se declarando como Seu enviado (Forumespirita).

Vê-se, portanto, que o que se crê no catolicismo é exatamente o oposto do que se crê no espiritismo. Este diz daquele que sua doutrina a respeito da divindade de Jesus resultou da elaboração de mentes humanas. E continuam os espíritas:

      • Os conceitos de Deus e Jesus são no Espiritismo diferentes dos de outras doutrinas. Jesus é um dos filhos de Deus. Um entre os Cristos do Universo que cuidam dos mundos. Não foi Deus que veio à Terra encarnado, mas Jesus, um dos seus mais competentes auxiliares. http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=2963.

Como mostrado, o catolicismo ensina exatamente o contrário: Jesus É O DEUS ENCARNADO (descido dos céus, como reza o Credo).

Quem está certo? Quem está errado? Como dito, não  é objetivo deste texto debater isto, mas cumprindo seu objetivo, mostra-se aqui o primeiro paradoxo do “católico-espírita”: Afinal, você crê que Jesus é Deus, como ensina o catolicismo, ou crê que Jesus não é Deus, como ensina o espiritismo?

É contra a razão crer-se em duas afirmações contrárias. Portanto, é da mesma forma contra a razão dizer-se católico-espírita.

2 –  Deus é trino?

O catolicismo ensina que Deus é um só em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. É o que os católicos chamam de Santíssima Trindade. Complementando o Credo exposto na pergunta anterior, o catolicismo diz no mesmo Credo, a respeito da terceira pessoa da Trindade:

      • Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filhoe com o Pai e o Filho é adorado e glorificado. Ele que falou pelos profetas (CIC, pg. 59).

Afirma ainda o catolicismo sobre a Trindade:

      • A Trindade é Una. Não professamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas: “a Trindade consubstancial”. As pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada uma delas é Deus por inteiro: “O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza. Cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina. (CIC, 253).

Da pergunta anterior, já se conclui que Deus não é trino para o espiritismo, uma vez que, para esta doutrina, Jesus não é Deus. Ela diz ainda que:

      • “O Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra” (FEB).
      • 312 – Como interpretar a afirmativa de João: – “Três são os que fornecem testemunho no céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo?”  João referia-se ao Criador, a Jesus, que constituía para a Terra a sua mais perfeita personificação, e à legião dos Espíritos redimidos e santificados que cooperam com o Divino Mestre, desde os primeiros dias da organização terrestre, sob a misericórdia de Deus. http://www.institutoandreluiz.org/textos_espiritas.html

Portanto, para o espiritismo, com doutrina oposta à católica, Deus não é trino. Afirma ainda que, o Espírito Santo, que no catolicismo é uma das pessoas da Trindade, portanto Criador junto com o Pai e o Filho, adorado da mesma forma que Eles, é, na verdade, a legião dos Espíritos redimidos e santificados, fazendo o espiritismo o que Cristo disse do Consolador, que para o catolicismo é a Terceira Pessoa da Trindade.

Como crer que Deus é Trino e não é Trino ao mesmo tempo? Como acreditar no catolicismo e no espiritismo ao mesmo Tempo? Como dizer-se católico-espírita?

3 – A Queda

Para o catolicismo, Deus criou anjos (seres espirituais) e homens (seres carnais e espirituais) sendo bons em sua natureza, mas que se tornaram maus por sua própria iniciativa.

Sobre a queda dos anjos, diz o Catecismo:

      • A Escritura fala de um pecado desses anjos. Esta queda, consiste na opção livre destes espíritos criados que rejeitaram radical e irrevogavelmente a Deus e seu Reino (CIC, 392).
      • É o caráter irrevogável de sua opção, e não uma deficiência da misericórdia divina, que faz com que o pecado dos anjos não possa ser perdoado. Não existe arrependimento para eles depois da queda, como não existe para os homens após a morte (CIC, 393).

Sobre a queda do homem, diz o Catecismo:

      • O homem, tentado pelo Diabo (um anjo decaído) deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado daí em diante será uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade (CIC, 397).
      • Constituído em um estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente divinizado por Deus na glória. Pela sedução do Diabo, quis ser como Deus, mas sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus. Adão e Eva perdem de imediato a graça da santidade original. A harmonia com a criação está rompida. Por causa do homem a criação está submetida à servidão da corrupção. O homem voltará ao pó do qual é formado. A morte entra na história da humanidade (CIC, 398, 399 e 400).
      • Todos os homens estão implicados no pecado de Adão. São Paulo afirma: pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores. Como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado a morte, assim a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram (CIC, 402).
      • O gênero humano inteiro é em Adão como um só corpo de um só homem. Em virtude desta unidade do gênero humano, todos os homens estão implicados no pecado de Adão, como todos estão implicados na justiça de Cristo… Adão havia recebido a santidade e a justiça originais não exclusivamente para si, mas para toda a natureza humana. Ao ceder ao Tentador, Adão e Eva cometem um pecado pessoal, mas este pecado afeta a natureza humana que vão transmitir em um estado decaído. É um pecado que será transmitido por propagação à humanidade inteira, isto é, pela transmissão de uma natureza humana privada da santidade e da justiça originais. E é por isso que o pecado original é denominado pecado de maneira analógica: é um pecado contraído e não cometido, um estado e não um ato (CIC, 404).

Diferentemente do catolicismo, o espiritismo ensina que:

      • Os Espíritos são criados simples e ignorantes. Evoluem, intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade (FEB).

Assim, não houve a Queda da humanidade, e, portanto, na contramão do que ensina o catolicismo, não houve o Pecado Original que é transmitido a todo o gênero humano.

Os dons preternaturais que a humanidade perdeu com a Queda, na doutrina católica, nunca existiram para a doutrina espírita. Para estes, os Espíritos são criados simples e ignorantes.

A Queda é uma das doutrinas centrais do catolicismo, o que explica, inclusive, a encarnação do Cristo. Oras, se não se acredita na Queda, não pode dizer-se católico. Quem assim o faz, certamente o faz por ignorância, por não saber o que se ensina numa doutrina e noutra.

É a Queda que explica o mal no mundo para o catolicismo. Para o espiritismo, é o carma que os espíritos ignorantes trazem de vidas passadas.

Se houve a Queda ou se os espíritos são criados simples e ignorantes, não é este texto quem responderá. Mas é impossível afirmar que houve E que não houve a Queda.

Impossível mesmo é ser católico-espírita.

4 – Para que serviu o sacrifício de Cristo?

Para o catolicismo, Cristo veio trazer a verdadeira religião, ou seja, e verdadeira via de ligação do homem decaído a Deus. Por isto, a Igreja afirma que:

      • Retomando a expressão de São João (O Verbo se fez carne), a Igreja denomina “Encarnação” o fato de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para realizar nela a nossa salvação (CIC, 461).
      • Este projeto divino de salvação mediante a morte do Servo, o Justo, havia sido anunciado antecipadamente na Escritura como um mistério de redenção universal, isto é, de resgate que liberta os homens da escravidão do pecadoCristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras (CIC, 601).
      • Os pecados dos homens, depois do pecado original, são sancionados pela morte. Ao enviar seu próprio Filho na condição de escravo, condição de uma humanidade decaída e fadada à morte por causa do pecado, Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus (CIC, 602).
      • A morte de Cristo é ao mesmo tempo o sacrifício pascal, que realiza a redenção definitiva dos homens, pelo cordeiro que tira o pecado do mundo, e o sacrifício da Nova Aliança, que reconduz o homem à comunhão com Deus, reconciliando-o com ele pelo sangue derramado por muitos para a remissão dos pecados (CIC, 613).

É, portanto, para o catolicismo, a morte de Cristo, verdadeira religião e única forma de ligação do homem decaído pelo pecado a Deus.

O espiritismo sequer se considera religião, embora o seja, pois religião (do latim religare) é um conjunto de doutrinas e/ou ritos sob os quais o crente está submetido a fim de agradar a Deus (é o que se pretende no espiritismo quando este ensina doutrinas para que o homem de espírito simples e ignorante evolua até ser puro espírito cumprindo assim a vontade de Deus). O espiritismo diz dele mesmo que:

      • “O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.” Pode e deve ser estudado, analisado e praticado em todos os aspectos fundamentais da vida, tais como: científico, filosófico, religioso, ético, moral, educacional, social (FEB).

 Talvez daí, achem alguns que podem ser católicos e espíritas, pois o espiritismo pode ser estudado, analisado e praticado dentro da religião, inclusive, o catolicismo, uma vez que ele se define como uma ciência. Difícil mesmo, como mostrado até aqui e como o será mais adiante, é conviver racionalmente com tantas contradições destas duas opostas doutrinas.

Já que o espiritismo não se diz religião, apesar de sê-lo, voltemos à pergunta “para que serviu o sacrifício de Cristo?”. No catolicismo, viu-se que este serviu para remir a humanidade que foi desligada de Deus pela Queda original. Esta religação (religião) foi feita pelo Cristo, por meio de seu puro sangue “derramado em favor de muitos para a remissão dos pecados”. Esta doutrina é tão fundamental ao católico que, o centro da vida litúrgica católica é a Santa Missa, ou seja, a renovação do Sacrifício de Cristo. É o que os católicos celebram, ao menos, todos os domingos.

Opostamente ao que diz o catolicismo, o espiritismo ensina que:

      • Os judeus acreditavam em sacrifícios de animais para a expiação de pecados (ler o Levítico). Esses holocaustos visavam o resgate de pecados pessoais e também de pecados coletivos. Mas não eram somente os judeus, praticamente todos os povos antigos praticavam sacrifícios. É imbuído desse pensamento que o profeta Isaías, ao receber do plano espiritual superior a visão profética, compreende o sacrifício futuro do Messias: como um cordeiro que será sacrificado em resgate coletivo. E essa mesma ideia será retomada pelos apóstolos principalmente Paulo, o que é bastante compreensível visto que no seu tempo ainda se realizavam sacrifícios no templo de Jerusalém. 
      • Assim sendo, o sacrifício de Jesus foi necessário apenas como um meio de chegar ao coração de pessoas ainda nos estágios da barbárie e da violência e que ainda não compreenderiam uma salvação sem um holocausto, apesar dos vários esclarecimentos da espiritualidade superior nas mesmas páginas do Antigo Testamento, exortando a substituírem-se os holocaustos pela prática do amor ao próximo, ensinamento que logicamente não foi compreendido. http://jeflemos.wordpress.com. O Sacrifício de Jesus e a Reencarnação.

Ou seja, como o homem não conseguiria, pelo estado evolutivo em que se encontrava, compreender uma salvação sem sacrifício, foi necessário que o Cristo morresse. Apenas isto.

É o que consta também em http://www.ceismael.com.br/artigo/sacrificio-e-espiritismo.htm:

      • De acordo com os cânones religiosos, Jesus é o Espírito mais elevado que já reencarnou neste Planeta de provas e expiações. Pode-se dizer que era médium de Deus. Tinha a missão de dirigir os destinos da Terra. Para isso, era preciso mudar o nível mental dos seus habitantes. Por isso, não perdeu nenhuma oportunidade de nos passar um ensinamento, para que pudéssemos adentrar em uma nova forma de vida, a verdadeira vida, ou seja, a vida espiritual. A Sua morte na Cruz representa o móvel da redenção da Humanidade. Por isso, dizemos que Ele é o “Mestre por excelência: ofereceu-se-nos por amor, ensinou até o último instante de sua vida, fez-se o exemplo permanente em nossos corações e nos paroxismos da dor, pregado no madeiro ignominioso, perdoou-nos as defecções de maus aprendizes”.

De forma mais contraditória ao catolicismo:

Creia você no que quiser. Mas crer que o sangue de Jesus remiu os pecados do mundo e ao mesmo tempo crer que ele não remiu passa a ser, após esta leitura, desonestidade intelectual. Não acreditar no sacrifício redentor de Cristo e ir à Missa é tão surreal quanto um militante comunista ir lanchar no Mc Donalds. Não consigo crer que quem assim age saiba de verdade o que está fazendo, ou do que está participando.

5 – Ressurreição ou reencarnação?

Assim diz o Credo católico: “Creio na ressurreição da carne” ou “Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”.

Com este artigo de fé, o catolicismo ensina que o homem, tendo sido separado espiritualmente de sua carne por ocasião da morte, haverá de unir-se a ela por ocasião da segunda vinda de Cristo.

A fé católica na ressurreição dos mortos está embasada primeiramente na fé que eles têm a respeito da ressurreição de Jesus que ressurgiu dos mortos ao terceiro dia de sua morte na cruz. Para eles, Cristo ressuscitou na carne, num corpo glorioso, não mais sujeito às leis naturais. Crêem os católicos que terão seus corpos também transformados, como o Cristo, quando da ressurreição dos mortos Naquele dia.

O Catecismo diz o seguinte a respeito da ressurreição de Cristo:

      • A Ressurreição de Jesus é a verdade culminante de nossa fé em Cristo, crida e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada, juntamente com a cruz, como parte essencial do Mistério Pascal. “Cristo ressuscitou dos mortos; por sua morte venceu a morte; aos mortos deu a vida” (CIC, 638).
      • Jesus ressuscitado estabelece com seus discípulos relações diretas em que estes o apalpam e com Ele comem. Convida-os com isto a reconhecer que Ele não é um espírito, mas sobretudo a constatar que o corpo ressuscitado com o qual Ele se apresenta a eles é o mesmo que foi martirizado e crucificado, pois ainda traz marcas de sua paixão. Contudo, este corpo autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as propriedades novas de um corpo glorioso: não está mais situado no espaço e no tempo, mas pode tornar-se presente a seu modo, onde e quando quiser, pois sua humanidade não pode mais ficar presa à terra, mas já pertence exclusivamente ao domínio divino do pai (CIC, 645).
      • Cristo, primogênito dentre os mortos, é o princípio de nossa própria ressurreição, desde já pela justificação de nossa alma, mais tarde pelavivificação de nosso corpo (CIC 651 e 658).

E sobre a ressurreição dos homens, diz:

      • Cremos firmemente – e assim esperamos – que, da mesma forma que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos, e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre com Cristo ressuscitado e que Ele os ressuscitará no último dia. Como a ressurreição de Cristo, também a nossa será obra da Santíssima Trindade: Se o espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também aos vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós (CIC, 989).
      • Como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou, e, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também a vossa fé. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram (1 Cor 15,12-14.20).
      • Pela morte, a alma é separada do corpo, mas na ressurreição Deus restituirá a vida incorruptível ao nosso corpo transformado, unindo-o novamente à nossa alma. Assim como Cristo ressuscitou e vive para sempre, todos nós ressuscitaremos no último dia (CIC, 1016).

O espiritismo não crê na ressurreição da carne, como o crê o catolicismo. Aquele ensina que:

      • Os Espíritos reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento. Os Espíritos evoluem sempre. Em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem. A rapidez do seu progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição (FEB).
      • Chega enfim um dia em que o espírito, após haver percorrido o ciclo de suas existências planetárias e ser purificado por seus renascimentos e suas migrações através os mundos, vê cerrar a série de suas encarnações e se abrir a vida espiritual definitiva, a verdadeira vida da alma, onde o mal, a sombra e o erro estão banidos. Então, as últimas influências materiais se esvaneceram. A calma, a serenidade e a segurança profunda substituíram as aflições e as inquietudes de outrora. A alma atingiu o termo de suas provas; está assegurada de não mais sofrer (forumespirita).

Em complemento à questão 4, a Santa Missa é o Memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Oras, crê-se no catolicismo que Cristo ressuscitou na carne e que, também na carne, ressuscitará os membros da Igreja que alcançarem a salvação. Como conformar esta doutrina católica à doutrina da reencarnação?

Você, “católico-espírita”, pode explicar a si mesmo como uma pessoa pode vir a ressuscitar na carne e tornar-se espírito puro?

Pode explicar a si mesmo como é possível ressuscitar de uma vez por todas e reencarnar tantas vezes?

Pode dizer como é possível crer que o homem vive uma vez só, sendo julgado quando morre e ao mesmo tempo crer que não há julgamento definitivo, pois o homem reencarna tantas vezes até atingir a perfeição espiritual?

Consegue agora concluir que não há possibilidade lógica de crer no catolicismo e no espiritismo ao mesmo tempo? E que, portanto, não é possível ser católico e espírita?

Ou ressuscitaremos na carne ou reencarnaremos até tornamo-nos puros espíritos, libertando-nos da carne. Que as duas coisas ocorram é contra a razão.

6 – O mundo espiritual

Para o catolicismo, ao morrer o homem entra em juízo particular diante de Deus, quando é julgado merecedor da felicidade eterna, que é a visão beatífica de Deus, ou da condenação eterna, longe da fonte da felicidade, pelas escolhas livres que fez em vida.

O catolicismo ainda ensina que as almas dos salvos que morreram em pecados veniais, portanto, que não receberam o sacramento da reconciliação e nem fizeram perfeita contrição antes da morte, passam por um estado de purificação antes de entrarem no céu.

Há, portanto, para o catolicismo, três estados em que a alma humana se encontra após a morte: céu, inferno e, temporariamente, o purgatório.

Também ensina esta religião que a Igreja, que é o corpo de Cristo, existe em três realidades distintas: a Igreja militante, formada pelos batizados que ainda vivem na terra; a Igreja padecente, formada pelos salvos que ainda se encontram no purgatório, e pela Igreja triunfante, formada pelos que já gozam da glória eterna e têm a visão beatífica de Deus.

Assim diz o catecismo sobre o céu, o purgatório e o inferno:

      • morte põe fim à vida do homem como tempo aberto ao acolhimento ou à recusa da graça divina manifestada em Cristo (CIC, 1021).
      • Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do momento da morte, num juízo particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja por meio de uma purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do céu, seja para condenar-sede imediato para sempre (CIC, 1022).
      • Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificadosvivem para sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, porque o vêem tal como Ele É, face a face (CIC, 1023).
      • Essa vida perfeita com a Santíssima Trindade, essa comunhão de vida e de amor com Ela, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados, é denominada “o Céu”. O céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva (CIC, 1024).
      • Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu. A Igreja denomina Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados (CIC, 1030 e 1031).
      • Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Elecontra nosso próximo ou contra nós mesmos… Morrer em pecado mortal, sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é deste estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra “inferno”(CIC, 1033).
      • O ensinamento da Igreja afirma a existência e a realidade do inferno. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofrem as penas do inferno, o fogo eterno. A pena principal do inferno consiste naseparação eterna de Deus, o único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira. Deusnão predestina ninguém ao inferno, para isso é preciso uma aversão voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim(CIC, 1035 e 1037).

Sobre a Igreja e a comunhão dos santos, o Catecismo diz:

      • Até que o Senhor venha em sua majestade… alguns dentre os seus discípulos peregrina na terra; outros, terminada esta vida, são purificados; enquanto outros são glorificados, vendo claramente o próprio Deus trino e uno, assim como É (CIC, 954).
      • união dos que estão na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo de maneira alguma se irrompe; pelo contrário, segundo a fé perene da Igreja, vê-se fortalecida pela comunicação dos bens espirituais (CIC, 955).
      • Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo, dos que são peregrinos na terra, dos defuntos que estão terminando a sua purificação, dos bem-aventurados do céu, formando, todos juntos, uma só Igreja, e cremos que nesta comunhão o amor misericordioso de Deus e de seus santos está sempre à escuta de nossas orações (CIC, 962).

Para o espiritismo, não existe a Igreja triunfante, padecente e militante, como o crê o catolicismo. Os espíritas crêem que:

      • Além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados. Eles estudam, trabalham e desenvolvem diversas atividades no mundo espiritual (FEB).
      • Os Espíritos são as almas dos homens que já perderam o corpo físico. A exemplo do que observamos na Humanidade encarnada, o conhecimento que eles têm é correspondente ao seu grau de adiantamento moral e intelectual. A morte é uma passagem para a vida espiritual e não dá valores morais ou de inteligência a quem não os tem (FEB).
      • Os Espíritos pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição que tenham alcançado: Espíritos Puros, que atingiram a perfeição máxima; Bons Espíritos, nos quais o desejo do bem é o que predomina; Espíritos Imperfeitos, caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas paixões inferiores (FEB).
      • espírito adiantado está liberto de todas as necessidades corporais. A alimentação e o sono não têm para ele nenhuma razão de ser. Ele deixa para sempre, ao sair da Terra, as vãs inquietações, os sobressaltos e todas as quimeras que envenenam a existência aqui em baixo. Osespíritos inferiores levam com eles, para o lado de lá do túmulo, seus hábitos, suas necessidades e suas preocupações materiais. Não podendo se elevar acima da atmosfera terrestreeles voltam para compartilhar da vida dos humanos, misturar-se em suas lutas, em seus trabalhos e em seus prazeres. Suas paixões e seus apetites, sempre despertos, super excitados pelo contínuo contacto da humanidade, os sobrecarregam, e a impossibilidade de os satisfazer torna-se para eles uma causa de torturas (fórumespirita).

Oras, se não há a Igreja nos três estados, como crê o catolicismo, também não há a comunhão dos santos e nem a intercessão entre eles. E se não se crê nestas coisas, certamente não se é católico, pois são artigos de fé do Credo católico.

E se, no catolicismo crê-se no inferno como condenação eterna, no espiritismo crê-se exatamente o oposto:

      • Interroguem seu bom senso, sua razão, e perguntem se uma condenação perpétua por alguns momentos de erro não seria a negação da bondade de Deus? Que é, com efeito, a duração da vida, fosse ela de cem anos, com relação à eternidade? Eternidade! Compreendem bem essa palavra? Sofrimentos, torturas sem fim, sem esperança, por algumas faltas! Seu julgamento não recusa um tal pensamento? Que os antigos tivessem visto no mestre do universo um Deus terrível, ciumento e vingativo, se concebe; na sua ignorância, emprestaram à divindade as paixões dos homens; mas esse não é o Deus dos cristãos, que coloca o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas na categoria das primeiras virtudes: poderia Ele mesmo falhar nas qualidades das quais fez um dever? Não há contradição em lhe atribuir a bondade infinita e a vingança infinita? Vocês dizem que antes de tudo Ele é justo, e que o homem não compreende sua justiça; mas a justiça não exclui a bondade, e Ele não seria bom se consagrasse a penas horríveis e perpétuas, a maior parte de suas criaturas. Poderia Ele impor aos seus filhos a justiça como uma obrigação, se não lhes tivesse dado os meios de a compreender? Além disso, não é uma sublime justiça, unida à bondade, fazer depender dos esforços do culpado para se melhorar a duração das penas? Aí está a verdade destas palavras: «A cada um segundo as suas obras».
      • O paraíso e o inferno não existem em lugares circunscritos: eles representam o estado de consciência do Espírito segundo o bem ou o mal que realizou.
      • Nenhuma pena é eterna. Não depende senão da vontade do Espírito melhorar sua condição  ( O Evangelho Segundo o Espiritismo).

Diz-se então no espiritismo que não pode haver condenação eterna por ser esta uma negação da bondade de Deus, o qual não poderia, por tornar-se terrível, ciumento e vingativo, conceber uma condenação perpétua por alguns momentos de erropor algumas faltas. Para o catolicismo, a condenação eterna não é dada por Deus, mas conquistada pelo próprio homem que, com sua liberdade de escolha (livre arbítrio), resolve dizer não ao amor de Deus e, portanto, acabando por dizer não à felicidade eterna e ao fim para o qual sua alma foi criada, estando sua alma eternamente condenada ao que o catolicismo chama de inferno, ausência total de Deus. Não é por erros ou por faltas, mas pela resposta que se deu livremente ao chamado de Deus.

As duas religiões têm doutrinas bem diferentes, hein? E mais uma vez, repetindo que não é objetivo deste texto dizer qual das duas está correta, ou se há uma correta, pergunto: Como duas doutrinas tão opostas podem ser comportadas dentro de um mesmo cérebro?

Como crer-se racionalmente no catolicismo e no espiritismo ao mesmo tempo?

Como dizer-se católico e espírita?

7 – A fé e as obras.

No catolicismo crê-se que a salvação se conquista pela fé  em Cristo e no que ensina Sua Igreja, No entanto, está fé  é complementada pelas obras, afim de que não seja uma fé  morta. Segundo São Tiago, somos justificados pelas obras e não somente pela fé, complementando o que diz São Paulo que somos salvos pela graça mediante a fé, e isto não vem de nós, é dom de Deus.

O católico crê ainda que os méritos que ele possa conquistar estão submetidos aos méritos de Cristo, o qual é responsável, através da graça, pela oportunidade do fiel exercer a Caridade.

Segundo o Catecismo:

      • O mérito do homem diante de Deus, na vida cristã, provém do fato de que Deus livremente determinou associar o homem à obra de sua graçaA ação paternal de Deus vem em primeiro lugar por seu impulso, e o livre agir do homem, em segundo lugar, colaborando com Ele, de sorte que os méritos das boas obras devem ser atribuídos à graça de Deus, primeiramente, e só em segundo lugar ao fiel. O próprio mérito do homem cabe, aliás, a Deus, pois suas boas ações procedem, em Cristo, das inspirações e do auxílio do Espírito Santo (CIC, 2008).
      • Os méritos de nossas obras são dons da bondade divina. A graça veio primeiro; agora se entrega aquilo que é devido… Os méritos são dons de Deus (CIC, 2009).

Sobre as virtudes teologais:

      • A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, o homem livremente se entrega todo a Deus. O justo viverá pela fé. A fé viva age pela caridade. (CIC, 1814).
      • Mas é morta a fé sem obrasPrivada da esperança e do amor (caridade), a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um membro vivo de seu corpo (CIC, 1815).
      • A caridade (diferente da filantropia) é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus (CIC, 1822).
      • “Se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria”. A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes teologais:“Permanecem a fé, a esperança e a caridade. A maior delas, porém, é a caridade (CIC, 1826).

Que não se confunda, pois, superioridade com suficiência. Assim como a fé, sem obras é morta e “não une plenamente o fiel a Cristo”, a Caridade, sem a fé e a esperança, é mera filantropia e da mesma forma não os une. Por isto ensina o Concílio de Trento (1543-1563):

      • 795. Embora tenha ele morrido por todos (2 Cor 5, 15), não obstante nem todos recebem o benefício de sua morte, mas somente aqueles aos quais é comunicado o merecimento de sua Paixão. Porque assim como os homens de fato não haveriam de nascer na injustiça, se não tivessem tido origem em Adão – pois, por meio dele e em conseqüência desta origem contraem na conceição a injustiça que lhes é própria– assim também jamais seriam justificados, se não renascessem em Cristo [cân. 2 e 10]. Pois é por este renascimento, em virtude do mérito da Paixão, que a graça, por meio da qual são justificados, lhes é concedida. Por este benefício o Apóstolo exorta a rendermos sempre graças ao Pai, que nos fez dignos de participar da sorte dos santos na luz (Col 1, 12) e nos tirou do poder das trevas e nos transferiu ao reino de seu amado Filho, no qual temos redenção e remissão dos pecados (Col 1, 13 s).
      • 796. Nestas palavras se descreve a justificação do pecador, como sendo uma passagem daquele estado em que o homem, nascido filho do primeiro Adão, [passa] para o estado de graça e de adoção de filhos (Rom 8, 15) de Deus por meio do segundo Adão, Jesus Cristo, Senhor Nosso. – Esta transladação, depois da promulgação do Evangelho, não é possível sem o lavacro da regeneração [cân. 5 sobre o Batismo] ou sem o desejo do mesmo, segundo a palavra da Escritura: se alguém não tiver renascido da água e do Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus (Jo 3, 5).
      • 800. Assim, ninguém pode ser justo, senão aquele a quem se comunicam os merecimentos da Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas isto assim sucede nesta justificação do pecador, precisamente pelo fato de o amor de Deus se difundir pelo Espírito Santo, por forçados merecimentos desta sagrada Paixão, nos corações (Rom 5, 5) dos que são justificados, aderindo-lhes intimamente [cân. 11]. Por isso, na justificação é infundido no homem por Jesus Cristo, a quem está unido, ao mesmo tempo, tudo isto: fé, esperança e caridade. Porque a fé nem une perfeitamente com Cristo, nem faz membro vivo de seu corpo, se não se lhe ajuntarem a esperança e a caridade. Daí a razão de se dizer com toda a verdade: a fé, sem obras, é morta (Tgo 2, 17 ss) e ociosa [cân. 19];
      • 810. Não se deve, todavia, omitir o seguinte: Embora na Sagrada Escritura se atribua tão grande valor às boas obras, que Cristo prometeu: Quem oferecer um copo de água fresca a um destes pequeninos, em verdade não ficará sem a sua recompensa (Mt 10, 14); e o Apóstolo testifique: O que presentemente é para nós uma tribulação momentânea e ligeira, produz em nós um peso de glória (2 Cor 4, 17);contudo, longe esteja o cristão de confiar ou se gloriar em si mesmo e não no Senhor (l Cor l, 31; 2 Cor 10, 17), cuja bondade é tanta para com todos os homens, que ele quer que estes seus próprios dons se tornem merecimentos deles [cân. 32].

Portanto, para o católico, a salvação e os meios para adquiri-la são exclusivamente fruto da graça divina, seja a fé, seja a esperança, seja a caridade, unidos à livre escolha do homem em acolhê-los.

No espiritismo, não são necessárias fé e obras como meios de salvação, como ensina o catolicismo.

No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capitulo XV, Allan Kardeck (pai do espiritismo) ensina que a salvação depende exclusivamente da caridade:

      • “Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não  há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor (pg. 251).

Negando inclusive o dogma católico de que “Fora da Igreja não há salvação” Allan Kardeck ensina que só as obras podem elevar o espírito a um nível superior, independente da fé do mesmo.

O Concílio de Trento ainda elaborou alguns cânones sobre o que se crê hoje no espiritismo, mesmo tendo tal concílio, ocorrido séculos antes desta nova “religião:

      • 811. Cân. 1. Se alguém disser que o homem pode ser justificado perante Deus pelas suas obras, feitas ou segundo as forças da natureza, ou segundo a doutrina da Lei, sem a graça divina [merecida] por Jesus Cristo — seja excomungado. [cfr. n° 793 s].
      • 820. Cân. 10. Se alguém disser que os homens são justificados sem a justiça de Cristo, pela qual ele mereceu por nós; ou que é por ela mesma que eles são formalmente justos — seja excomungado [cfr. n° 795, 799].

A Igreja, ainda ensina que os sacramentos, para os cristãos, são NECESSÁRIOS à salvação (CIC, 1129). Como acreditar nisto e, ao mesmo tempo, crer que a salvação é alcançada somente pelas obras, por mérito próprio?

Como ser salvo? Só pela fé, como ensinam os protestantes? Só pelas obras, como ensinam os espíritas? Por ambas, como ensinam os católicos?

Este texto não tem razão de ser senão para responder a outra pergunta: Como crer, ao mesmo tempo, que a salvação é exclusivamente pelas obras e que também é necessária a fé em complemento às obras?

Você percebe que não há como, racionalmente, crer nas duas doutrinas?

Acreditas que fora da Igreja não há salvação ou que fora da caridade não há salvação?

A resposta que dás te diz em que crês. E no que crês, deves concordar que não é num catolicismo-espírita.

8 – Os Espíritas e a Igreja

Em 1953 a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil reafirmou o que afirmara em 1915 e em 1948:

“Os espíritas devem ser tratados, tanto no foro interno como no foro externo, como verdadeiros hereges e fautores de heresias, e não podem ser admitidos à recepção dos sacramentos, sem que antes reparem os escândalos dados, abjurem o espiritismo e façam a profissão de fé.”

Segundo a Lei da Igreja, “chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção do batismo, de qualquer verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela” (CDC cân . 751).

Ora, “o herege incorre automaticamente em excomunhão” (CDC cân . 1364 §1), ou seja, deve ser excluído da recepção dos sacramentos (cân . 1331 §1), não pode ser padrinho de batismo (cân . 874), nem de crisma (cân . 892) e não pode casar na Igreja sem licença especial do bispo (cân . 1071) nem ser membro de associação ou irmandade católica (cân . 316).

Oras, se por excomunhão, não se é mais católico, uma vez que o membro é desligado do corpo de Cristo, como pode afirmar-se católico-espírita. Este termo é tão pejorativo quanto “católicas pelo direito de decidir”.

Para a Igreja não há católico-espírita. Espero que após a leitura destas doutrinas tão opostas, tenhas chegado à mesma conclusão.

Conclusões

Nota-se, pelo exposto (e são só algumas contradições doutrinárias, muitas outras foram identificadas durante minhas leituras de escritos espíritas e católicos) que o espiritismo e o catolicismo não têm muito (para não dizer “nada”) em comum. Pelo contrário, estas religiões caminham na contramão uma da outra, e o que segue na contramão, ou seja, na direção oposta, não leva ao mesmo lugar, mas a um lugar totalmente oposto e distante um do outro.

Portanto não dá para ser católico e espírita. 

Como disse Chesterton: “O que conclui, cala”. Concluo aqui.

Por Erimar Pontes

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Todos os cristãos se baseiam na tradição e não apenas na Bíblia

A tradição é importante.

Como declaração sobre as bases da doutrina da Igreja, este comentário pode não soar muito surpreendente. Aliás, ele é bastante óbvio para os fiéis católicos e ortodoxos. Mas ele também evoca um grande paradoxo que existe no pensamento de uma numerosa e influente parcela dos cristãos do mundo inteiro: os evangélicos. Por mais surpresos e até chocados que eles possam ficar ao ouvir ou ler isto, o fato é que os evangélicos são muito mais católicos do que eles imaginam.

Os evangélicos se orgulham do alicerçar a sua fé somente na Bíblia. Este, afinal, é o núcleo da doutrina da “sola scriptura”, proposta pela reforma protestante. Se você acompanhar um debate evangélico, verá que esta questão não demora quase nada para surgir: “Onde é que esta afirmação consta na Bíblia? Indique o capítulo e o versículo”.

E aí é que está o problema. Os evangélicos acreditam de modo irrenunciável em doutrinas centrais da fé que não podem se basear simplesmente na escritura, pois se desenvolveram na tradição da Igreja. Depois de formulada uma crença, caso se queira, é possível pinçar versículos bíblicos para ampará-la, mas nunca se chegaria a essas posições doutrinárias por meio das escrituras sozinhas.

O exemplo mais óbvio é a própria Trindade, que os evangélicos consideram uma crença fundamental para qualquer cristão. No entanto, ela não aparece explicitamente na Bíblia. A sua única base bíblica é aquilo que ficou conhecido como “os parênteses joaninos”, uma menção abertamente trinitária feita em 1 Jo 5, 7-8, passagem consagrada no texto da Bíblia do rei James, de 1611. Mas os estudiosos sabem há séculos que aquelas palavras foram inseridas muito tardiamente no texto original. Nenhum escritor sério as cita hoje como autênticas.

Deixar esses parênteses de lado não gera dificuldade alguma para quem acredita na Trindade, que é uma doutrina muito arraigada na tradição da Igreja. A doutrina foi abraçada pelos cristãos no segundo século, em especial por padres apostólicos como Inácio e Justino Mártir. Falar de tradição da Igreja não significa, é claro, que tais figuras inventaram doutrinas para satisfazer os seus próprios propósitos obscuros. Ao contrário, como os teólogos católicos e ortodoxos sempre destacaram, a Igreja foi e é guiada pelo Espírito Santo. Sem essa crença no poder da tradição contínua, porém, como é que se poderia justificar a própria doutrina da Trindade?

Sem tradição da Igreja, sem Trindade.

Também é fundamental para os evangélicos a crença na encarnação de Cristo. O Novo Testamento nos permite formar ideias, é claro, sobre a divindade de Cristo e sobre o fato de Ele ter se tornado homem. No entanto, basear-se nesses textos bíblicos deu aos primeiros crentes uma enorme margem de manobra no tocante ao entendimento de qual seria a relação entre o humano e o divino. Cristo era literalmente Deus caminhando sobre a terra em forma humana? Ou será que a divindade “desceu” sobre Jesus em algum momento da sua vida terrena, presumivelmente no batismo, para depois abandoná-lo na hora da crucificação? Os cristãos discutiram sobre essas doutrinas complexas ao longo de séculos e só as estabeleceram no Concílio de Calcedônia, no ano de 451. Em outras palavras, trata-se uma doutrina definida por meio do debate no seio da Igreja, com base na escritura e na tradição, sob a orientação do Espírito Santo.

Sem tradição da Igreja, sem doutrina da Encarnação.

Os protestantes sempre tiveram a Igreja primitiva em alta estima. Ilustres estudiosos evangélicos publicaram obras sobre os primeiros padres. Em língua inglesa, por exemplo, a editora evangélica IVP apresentou uma série maravilhosa de volumes sob o título “Ancient Christian Commentary on Scripture” [“Comentários do cristianismo primitivo sobre as escrituras”]. Dito isso, os evangélicos ainda rejeitam o uso da sabedoria da Igreja dos primeiros séculos para estabelecer a doutrina.

Mas suponhamos que eles reconheçam a realidade e admitam que as doutrinas fundamentais, como a da Trindade, estão de fato fundamentadas na tradição da Igreja primitiva. E como é que eles definem o significado desse “primitiva”? Eles veem a obra do Espírito Santo ainda em ação antes do Concílio de Niceia, em 325, ou estendem esse período até o de Calcedônia, em 451, como é necessário caso queiram aceitar a Encarnação? E se aceitarem também as ideias de Santo Agostinho como dotadas de autoridade, isso nos leva a considerar que a etapa da história da Igreja considerada como primitiva se estende até o quinto século.

Se os evangélicos se aventuram pelo quarto e pelo quinto séculos, porém, significa que há, diante deles, uma Igreja “perturbadoramente” medieval e até católica. Tratava-se de uma Igreja hierárquica, com ideias já sólidas sobre a constituição do clero e com regras definidas sobre o celibato clerical e sobre o monaquismo. A partir do segundo século, além disso, as ideias sobre o papel da Virgem Maria na história da Redenção foram se tornando cada vez mais populares e tradicionais na Igreja. Essas ideias, por acaso, seriam menos dotadas de autoridade do que outras doutrinas como a da Trindade?

Então, por que não Maria?

Os evangélicos, creio eu, deveriam ser mais explícitos quanto à sua visão da tradição. Ao abordar este ponto, eu não estou pretendendo colocar os evangélicos contra a parede, mas sugerir que nós, cristãos de todos os matizes, já estamos muito mais próximos da unidade doutrinária do que se costuma imaginar.

Fonte: Aleteia

neanderthals-rabbits

Blogueiro Jorge Ferraz

Certas verdades são bastante óbvias para serem problematizadas. É bastante evidente que homens são criados à imagem e semelhança de Deus e, únicos seres no mundo sensível dotados de inteligência e vontade, possuem uma dignidade intrínseca que os coloca a uma distância virtualmente infinita dos animais irracionais – inclusive dos coelhos. É óbvio, portanto, que não são coelhos os seres humanos em geral e nem muitíssimo menos os católicos em particular.

Uma outra coisa que é evidente para além de toda a evidência é que a Igreja Católica possui uma doutrina peculiar e bem conhecida a respeito da contracepção, segundo a qual – na conhecida formulação da Humanae Vitae – é “de excluir toda a ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento das suas conseqüências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação” (HV 14). E à Igreja, Mestra infalível em Fé e Moral, pode-se até acusar de ser pretensiosa; jamais, no entanto, de ser incoerente consigo mesma. Admitindo que a um observador externo seja legítimo perguntar se o ensinamento católico é verdadeiro ou falso, uma sua característica ninguém pode negar: ele é incomodamente constante.

Causou certo frisson a última declaração do Papa Francisco, segundo o qual católicos não devem se reproduzir como coelhos. Ora, trata-se de verdadeira evidência. É lógico que os católicos não devem se reproduzir “como coelhos”, e sim como filhos de Deus – a quem foi dirigido aquele mandato de “crescei e multiplicai-vos”. Não foi aos coelhos que Deus ordenou encher a terra e a submeter, e sim aos homens! Cumpre, pois, a estes procriar como convém à sua dignidade – que é muito maior, repita-se, do que a dos coelhos.

Ainda, simplesmente não é possível aos católicos reproduzirem-se como os simpáticos leporídeos. Isso porque, como disse Chesterton em certa ocasião, um homem nunca age igual a um animal: ou age de modo muito superior a ele, quando se comporta como homem; ou, então, muito inferior a ele, quando se esquece de sua dignidade e age de maneira irracional, instintiva, animalesca. Os seres humanos, portanto, jamais se reproduzem como animais: caso se esqueçam de que são homens, então agirão de maneira muito mais baixa, vil e degradante do que os pobres coelhos. E uma das formas de se esquecerem de que são homens está, precisamente, na busca irresponsável e egoísta pelo prazer venéreo em si mesmo, que é marca registrada dos dias de hoje. Um homem que viva praticando relações sexuais “casuais” e sem compromisso está agindo muito mais como um animal no cio do que outro, que tenha com a sua esposa um número de filhos maior do que a nossa sociedade decadente julga “conveniente”.

Houve quem pensasse que, com a sua declaração sobre coelhos, o Papa Francisco estivesse a legitimar de algum modo o controle de natalidade. Tal é insustentável por um sem-número de razões. Em primeiro lugar, como disse um santo – recente! – da Igreja, “são criminosas, anti-cristãs e infra-humanas, as teorias que fazem da limitação da natalidade um ideal ou um dever universal ou simplesmente geral” – e o Papa, que já se disse outras vezes “filho da Igreja”, sabe perfeitamente disso.

Em segundo lugar, a doutrina da Igreja a respeito da natalidade encontra-se, por excelência, na citada Humanae Vitae de Paulo VI. E o que já disse o Papa Francisco a respeito do seu predecessor? Em duas ocasiões recentes:

1. No “Encontro das Famílias praticamente da véspera (sexta, 16 de janeiro): “Num período em que se propunha o problema do crescimento demográfico, [Paulo VI] teve a coragem de defender a abertura à vida na família. (…) Mas ele olhou mais longe: olhou os povos da terra e viu esta ameaça da destruição da família pela falta de filhos. Paulo VI era corajoso, era um bom pastor e avisou as suas ovelhas a propósito dos lobos que chegavam. Que ele, lá do Céu, nos abençoe nesta tarde! O nosso mundo tem necessidade de famílias sãs e fortes para superar estas ameaças. As Filipinas precisam de famílias santas e cheias de amor para proteger a beleza e a verdade da família no plano de Deus e servir de apoio e exemplo para as outras famílias. Toda a ameaça à família é uma ameaça à própria sociedade”.

2. No próprio vôo onde foi feita a declaração “polêmica” dos coelhos (tradução do Fratres, aqui): “O que eu quero dizer sobre Paulo VI é que a verdadeira abertura à vida é condição para o sacramento do matrimônio. Um homem não pode dar o sacramento para a mulher, e a mulher dar para ele, se eles não estão em concordância neste ponto de estarem abertos à vida. […] Mas o que eu queria dizer era que Paulo VI não era muito antiquado, mente fechada. Não, ele era um profeta que com isso nos disse para tomarmos cuidado com o neo-malthusianismo que vem chegando. Era isso o que eu queria dizer”.

Ora, quem é Paulo VI? É o Papa da condenação ao controle de natalidade. O que é “abertura à vida”? É a atitude de um casal receber generosamente os filhos que a Divina Providência julgar por bem lhe confiar. O que é “neo-malthusianismo”? É a doutrina que prega uma superpopulação atual, com a consequente necessidade de reduzirmos as nossas taxas de natalidade. Como é possível, então, que um Papa que louva o campeão da causa católica anti-contracepção, que relembra aos casais que eles devem – sob pena de nulidade matrimonial! – estar dispostos a receber os filhos que Deus lhes enviar, que manda tomar cuidado com a estória de que estamos vivendo em uma superpopulação a nos exigir controle de natalidade – como é possível, em suma, que um homem desses esteja, justo ele!, fazendo coro aos inimigos da Igreja e condescendendo à mentalidade antinatalista que ele próprio, por todos os flancos, se esmera em desconstruir? Que sentido isso faz?

Em terceiro lugar, no seio da própria entrevista concedida no vôo, apenas por duas vezes o Papa Francisco fala em números de filhos:

  • “Conheci uma mulher há alguns meses numa paróquia que estava grávida de sua oitava criança, que tinha tido sete cesárias. Mas ela quer deixar 7 filhos órfãos? Isso é tentar a Deus.”
  • “Eu acho que o número de 3 filhos por família que você mencionou – me faz sofrer – eu acho que é o número que os especialistas dizem ser importante para manter a população “indo”. Três por casal. Quando isso diminuiu, o outro extremo acontece. Ouvi dizer, não sei se é verdade, que em 2024 não haverá dinheiro para pagar pensionistas por causa da queda na população.”

Ou seja, se existisse algum limite concreto que o Papa estivesse tentando determinar para os católicos – coisa que não há e nem pode haver; mas o imaginemos, para argumentar – tal seria um limite mínimo de três, e não máximo de nada. Ora, isso vai muito longe do que o mundo pagão entende por “responsabilidade” familiar!

Em quarto lugar, por fim, porque há não muito tempo – há menos de um mês – o Papa Francisco dirigiu um discurso à Associação Nacional das Famílias Numerosas. Ora, trata-se de pronunciamento com um objetivo específico e previamente preparado; portanto, a mais mínima honestidade intelectual há de reconhecer ser ele mais fidedigno – para entender o pensamento do Papa a respeito da natalidade católica – do que as sabatinas feitas num voo de retorno após uma viagem de uma semana na Ásia. E, no citado discurso, é possível ler – entre outras coisas – o quanto segue:

  • [O]s filhos e as filhas de uma família numerosa são mais capazes de comunhão fraterna desde a primeira infância. Num mundo muitas vezes marcado pelo egoísmo, a família numerosa é uma escola de solidariedade e de partilha; e destas atitudes beneficia toda a sociedade.
  • A presença das famílias numerosas é uma esperança para a sociedade.
  • Portanto espero, também pensando na baixa taxa de natalidade que desde há tempos se regista na Itália, uma maior atenção da política e dos administradores públicos, a todos os níveis, a fim de dar o apoio previsto a estas famílias. Cada família é célula da sociedade, mas a família numerosa é uma célula mais rica, mais vital, e o Estado tem todo o interesse em investir nela!
  • A este propósito, são João Paulo II escrevia: «As famílias devem crescer na consciência de serem protagonistas da chamada política familiar e assumir a responsabilidade de transformar a sociedade: de outra forma, as famílias serão as primeiras vítimas daqueles males que se limitaram a observar com indiferença» (Exort. ap. Familiaris consortio, 44).

Esta é, em suma, a posição de Paulo VI, de S. João Paulo II, de S. Josemaría Escrivá, do Papa Francisco, a respeito do “controle de natalidade”. Esta é a resposta de generosidade que somos chamados a dar ao mundo. Esta é a vida que a Igreja nos chama a viver. E a viveremos, por mais que se levantem contra nós as forças do mundo.

Quanto aos coelhos, que incendiaram a polêmica, há (pelo menos) duas possíveis comparações a respeito deles que é possível fazer. Por um lado, podem simbolizar o sexo irresponsável, animalesco, no cio, fugaz, instintivo: e, neste sentido, é preciso repetir fortemente, com o Papa Francisco, que evidentemente não podemos – ninguém pode! – procriar como coelhos! No entanto, os coelhos também são símbolo universal da fertilidade, de uma prole numerosa, de filhos como rebentos de oliveira ao redor de uma mesa – de uma mesa cheia de crianças. E, neste outro sentido, é preciso ter a coragem de dizer, ousadamente, com os santos, com os Papas, com a Igreja, contra quem quer que seja, che, sì, siamo tutti conigli – somos todos coelhos. Apraza a Deus que o sejamos.

Fonte: http://www.deuslovult.org/2015/01/20/siamo-tutti-conigli/

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Rita Líbano Monteiro: todos os filhos foram planejados.

O Papa Francisco disse que os católicos “não devem procriar como coelhos”. As declarações não surpreendem Rita Líbano Monteiro. Apesar de católica e mãe de seis filhos, faz questão de acentuar: “Não se é melhor católico por se ter muitos filhos.”

Para Francisco, os bons católicos “não devem procriar como coelhos”. Numa conferência de imprensa no avião que o transportou das Filipinas para Roma, o líder da Igreja Católica recusou a ideia de que os casais católicos devem ter o maior número de filhos possível, mas sublinhou que é contra a contracepção artificial.

Noel e Rute Asseiceiro, católicos e pais de cinco filhos, não vêem na mensagem de Francisco nada “contra as famílias numerosas e muito menos contra os métodos naturais”. Aliás, concordam: “Somos humanos e não somos coelhos. Os coelhos não conseguem ponderar.”

Rita Líbano Monteiro, 46 anos, administrativa e financeira de uma comunidade terapêutica, em Lisboa,Portugal,também não podia estar mais de acordo. “Os meus filhos foram tão planejados que o último até é adotado.” Usa os métodos naturais – pratica a abstinência sexual com o marido, durante os períodos férteis. “Quando isto é feito com generosidade, não é um peso para a vida do casal. Os períodos de abstinência até ajudam a que os outros se vivam mais intensamente.”

Para esta católica, as afirmações do Papa não são alheias à viagem às Filipinas, que reúne metade dos católicos da Ásia e onde o Papa foi confrontado com a realidade de milhares de crianças abandonadas nas ruas por pais que não as conseguem sustentar. As declarações do líder da Igreja Católica surgem depois de um jornalista lhe perguntar o que diria a uma família católica que tem mais filhos do que economicamente lhe é possível, mas a quem a Igreja proíbe de fazer contracepção.

O que o Papa disse é que “a abertura à vida é uma condição do sacramento do matrimônio, mas isso não significa que os católicos devam fazer crianças em série”: “Falei com uma mulher, grávida do seu oitavo filho, depois de sete cesarianas, e disse-lhe: ‘Você quer deixar órfãs sete crianças’”. A mulher respondeu que confiava em Deus. “Deus deu-te os meios para seres responsável”, disse-lhe o Papa.

Para Rita Líbano Monteiro, “o que está em causa é a paternidade responsável”, de que é “completa defensora”: “Os nossos filhos nunca foram fruto de azares ou acidentes.” Para esta católica, “não há contradição entre uma família numerosa e uma paternidade responsável”, desde que cada casal avalie as condições e seja “generoso”: “Se calhar, tendo os mesmos rendimentos base, com seis filhos não se tem o mesmo nível de vida do que só com um.”

“Comicidade da expressão”

O que tem, afinal, de original a declaração do Papa? O padre, teólogo e professor de Filosofia na Universidade de Coimbra, Anselmo Borges, destaca a “comicidade da expressão”: “Lembro-me de ter usado essa expressão numa aula: ‘Se pensam que os católicos são obrigados a reproduzir-se como coelhos, estão muito enganados’.”

Também para a teóloga e professora universitária, Teresa Toldy, a novidade não é teológica: “O que é novidade é a forma como diz, a linguagem. Dito de forma clara. Outros papas nunca disseram isto assim, [Francisco] utiliza uma linguagem que faz toda a diferença. As pessoas percebem o que ele diz. Não precisam de um dicionário de teologia.”

São declarações “importantes”: “A Igreja nunca disse para as pessoas se reproduzirem como coelhos. Mas isso entrou muito na mentalidade das pessoas, diz Toldy.

Fonte: Público, Portugal.

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Um pedaço de papiro que conserva várias citações bíblicas sobre a Eucaristia foi descoberto pela Doutora Roberta Mazza, investigadora do John Rylands Research Institute da Universidade de Manchester, no Reino Unido. O documento se refere ao Sacramento sob o nome de “Maná do Céu” e ao que parece era conservado em um relicário e portado por seu autor como uma proteção espiritual. A origem do texto é uma vila do Egito e o papiro data do Século VI.

Segundo a Dra. Mazza, o autor da peça cortou uma parte do documento, escreveu atrás a oração e então “havia dobrado o papiro para conservá-lo em um relicário ou pendente. Esta é a razão pela qual o recibo de impostos no exterior foi danificado e desbotou”.

Para a especialista, este uso poderia ser comum entre os crentes, que haviam adaptado a Fé Cristã ao costume dos povos egípcios de portar orações pagãs como proteção de diversos perigos.O papiro foi encontrado pela investigadora enquanto examinava milhares de fragmentos de documentos históricos não publicados que estão guardados nos cofres da Biblioteca John Rylands, segundo informou a Universidade de Manchester. Através de uma análise com técnicas de imagens espectrais, se logrou determinar que o texto devoto foi escrito no verso de um documento comercial certificado pelo cobrador d e impostos da Vila de Tertembuthis, na zona rural da antiga cidade de Hermoupolis.

Este documento combina de maneira criativa várias passagens do Novo e do Antigo Testamento em relação com o Sacramento da Eucaristia, ao que chama “Maná do Céu” segundo o Samo 23. Também faz referência ao relato da instituição da Eucaristia no capítulo 26 do Evangelho segundo São Mateus e outros textos da Sagrada Escritura. O manuscrito também é uma mostra da apropriação e valorização dos textos sagrados por parte do comum da povoação, já que o autor parece ser um residente de uma vila sem aparente relação com o sacerdócio ou o estudo acadêmico.

É duplamente fascinante”, comentou a investigadora ao referir-se ao autor do texto, “porque claramente conhecia a Bíblia, mas cometeu muitos erros: algumas palavras estão mal escritas e outras estão em ordem equivocada. Isto sugere que escreva a partir de seu coração ao invés de estar copiando”. Isto oferece uma perspectiva nova sobre a extensão do cristianismo na época. “É bastante emocionante”, expressou a Dra. Mazza. “Graças a esta descoberta, agora pensamos que o conhecimento da Bíblia estava mais arraigado no Egito do século VI que o que pensávamos previamente”.

Vários acadêmicos da Universidade de Manchester celebraram a descoberta e destacaram o trabalho dos investigadores e a contribuição que as bibliotecas fazem na preservação do conhecimento ao redor do mundo.

O texto completo do papiro é:

“Temam todos que dominam a terra. Conheçam suas nações e povos que Cristo é nosso Deus. Porque Ele falou e eles chegaram a existir, Ele deu a ordem e foram criados; Ele pôs tudo sob nossos pés e nos salvou de nossos inimigos. Nosso Deus preparou uma mesa sagrada no deserto para o povo e deu o maná da nova aliança para comer, o Corpo imortal do Senhor e o Sangue de Cristo derramado por nós para o perdão dos pecados”. (GPE/EPC)

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Nesta quarta-feira durante a Audiência Geral, o Papa Francisco falou sobre o Sínodo Extraordinário sobre a Família celebrado em outubro, evento no qual os bispos falaram “com a liberdade que há na Igreja” e onde ninguém pôs em discussão “as verdades fundamentais” do matrimônio.

O Papa Francisco quis referir-se publicamente ao processo que se seguiu na redação do documento, assim como ao que se viveu realmente na Sala Sinodal entre os participantes.

O Pontífice ressaltou que “nenhuma intervenção colocou em discussão as verdades fundamentais do Sacramento do Matrimônio, isso é: a indissolubilidade, a unidade, a fidelidade e a abertura à vida”.

O Papa explicou que pediu aos Padres sinodais “para falar com franqueza e coragem e escutar com humildade”, por isso “não houve censura prévia”. “Cada um podia, mais ainda, devia dizer aquilo que tinha no coração, aquilo que pensava sinceramente”.

O Santo Padre reconheceu que “falaram forte, sim, é verdade”, mas destacou também que esta é “justamente a liberdade que há na Igreja”.

O Pontífice reconheceu que “sempre, quando se procura a vontade de Deus, em uma assembleia sinodal, há diversos pontos de vista e há a discussão”, mas “isto não é uma coisa ruim”.

Depois da Relação inicial do Cardeal Peter Erdö (relator geral do Sínodo), “houve um primeiro momento, fundamental, no qual todos os padres sinodais puderam falar e todos escutaram”, o que, para o Papa “era edificante”.

Segundo o Papa, todas as intervenções foram coletadas para elaborar um rascunho, a “Relação depois da discussão”, que também foi desenvolvida pelo Cardeal e se articulou em três pontos: a escuta do contexto e dos desafios da família; o olhar fixo em Cristo e o Evangelho da família; o confronto com as perspectivas pastorais.

Sobre esta primeira proposta de síntese se desenvolveu a discussão nos grupos divididos por idioma e “no fim do seu trabalho, apresentou um relatório e todos os relatórios dos grupos foram publicados”. “Tudo foi dado, para a transparência para que se soubesse o que acontecia”, assegurou o Papa.

O processo continuou com uma comissão que examinou todas as sugestões que surgiram dos grupos linguísticos e “se realizou o Relatório final” que “buscou acolher o fruto das discussões nos grupos”. Finalmente, “foi aprovada uma Mensagem final do Sínodo, mais breve e mais de divulgação”.

“Tudo aconteceu ‘cum Petro et sub Petro’, isso é, com a presença do Papa, que é garantia para todos de liberdade e de confiança, garantia da ortodoxia. E no fim com a minha intervenção dei uma leitura sintética da experiência sinodal”

À continuação explicou qual é o processo a seguir agora de cara ao novo Sínodo do próximo outubro. “O Relatório final (…)foi publicado ontem e enviado às Conferências Episcopais, que será discutido em vista da próxima Assembleia”.

O Papa Francisco recordou que o documento foi publicado “com as perguntas dirigidas às conferências episcopais e assim se torna justamente Lineamenta do próximo Sínodo”.

Para o Pontífice, “o Sínodo não é um parlamento” já que “a estrutura não é parlamentar, é totalmente diferente: o Sínodo é um espaço protegido para que o Espírito Santo possa obrar”.

Neste último Sínodo “não houve confronto entre facções”, mas “um confronto entre os bispos, que veio depois de um longo trabalho de preparação e que agora prosseguirá em um outro trabalho, para o bem das famílias, da Igreja e da sociedade”

Além disso, o Papa agradeceu pelo trabalho da imprensa, embora durante o Sínodo “muitas vezes a visão da mídia era um pouco no estilo de crônicas esportivas, ou políticas: falava-se muitas vezes de dois times, pró e contra, conservadores e progressistas, etc.”.

O Sínodo Extraordinário sobre a Família se celebrou no Vaticano entre os dias 5 e 19 de outubro deste ano. A próxima XIV Assembleia Geral Ordinária acontecerá entre os dias 4 e 25 de outubro de 2015 sobre o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.
 

Fonte: ACI