Um médico da Irlanda do Norte assegurou que coletou as assinaturas de 911 profissionais de saúde da região que se recusarão a realizar abortos, após a nova medida que ampliou as causas para essa prática.

Andrew Cupples, clínico geral da Irlanda do Norte, coletou as assinaturas para uma carta que enviou ao Secretário da Irlanda do Norte no mês passado. O texto, assinado pelos médicos, enfermeiras e parteiras, manifesta a oposição às novas leis sobre o aborto e exige fortes proteções à objeção de consciência para garantir que aqueles que se opõem ao aborto possam optar por não realizá-lo nem ajudar com o procedimento, informou o jornal ‘The Independent’.

“Centenas de profissionais de saúde na Irlanda do Norte se recusarão a participar de serviços de aborto. Existem até pessoas que planejam se retirar do serviço de saúde se forem forçadas a participar em abortos”, mencionou Dr. Cupples a ‘The Independent’.

“Também existem pessoas em obstetrícia, ginecologia e parteiras que estão preocupadas com as consequências de se recusarem a receber capacitação em temas de aborto, pois poderiam ser obrigadas a fazê-lo ou admoestadas por seus empregadores ou por um organismo profissional”, disse.

No início da semana passada, a legislatura delegada da Irlanda do Norte não conseguiu bloquear as mudanças nas leis de aborto e casamento homossexual aprovadas pelo Parlamento Britânico, que tem autoridade para governar a área na ausência de uma assembleia local em funcionamento.

Anteriormente, o aborto só era permitido na região nos casos em que a vida da mãe estava em perigo ou se havia um sério risco de danos permanentes à sua saúde física e mental se chegasse ao final da gravidez.

O aborto é legal no resto do Reino Unido até a 24ª semana desde 1967. A pressão para legalizar o aborto na Irlanda do Norte cresceu depois que em 2018 o referendo legalizou o aborto na República da Irlanda.

A lei na República da Irlanda permite que os médicos que têm objeções de consciência sobre o aborto se abstenham de participar do procedimento, no entanto, os médicos que se opõem ao aborto devem encaminhar as mulheres aos médicos que o realizarão.

Documentos do Departamento de Saúde da República da Irlanda no início deste ano mostraram que os serviços de aborto são limitados em nove das 19 maternidades do país, em parte devido aos objetores de consciência.

Pelo menos 640 médicos clínicos gerais na Irlanda assinaram uma petição, em novembro passado, objetando a nova obrigação de encaminhar pacientes a outros médicos para abortos.

A maioria dos 2.500 médicos de clínica geral da República da Irlanda não está disposta a realizar abortos. Somente entre 4 e 6% dos médicos disseram que participariam do procedimento.

Dr. Cupples mencionou a ‘The Independent’ que está mais preocupado com as parteiras e outros profissionais que não têm “proteção” sob a nova lei de aborto na Irlanda do Norte.

As pautas emitidas pelo Parlamento da Grã-Bretanha para os profissionais de saúde na Irlanda do Norte em relação aos novos regulamentos sobre o aborto estabelecem que “qualquer pessoa que tenha uma objeção de consciência ao aborto pode expor isso ao seu empregador”, informou a BBC.

Também assinala que, na Inglaterra e no País de Gales, os médicos podem se opor a participar de um aborto em temas “funcionais”, mas ainda são obrigados a participar de qualquer tarefa administrativa ou relacionada à assistência médica.

Essas pautas se aplicam até o final de março, quando será concluída uma consulta pública de 12 semanas e o governo da Irlanda do Norte emitirá protocolos oficiais para profissionais de saúde sobre o aborto na região.

Fonte: ACI

Nos últimos anos tem havido um pequeno movimento – principalmente na Europa – segundo o qual os indivíduos procuram ser “desbalizados” e removidos do registro batismal das igrejas. Trata-se de uma maneira formal de “renunciar” ao sacramento do Batismo, cortando completamente os laços com a Igreja Católica.

Mas o Batismo pode ser anulado?

O Catecismo da Igreja Católica afirma que:

“Incorporado em Cristo pelo Batismo, o batizado é configurado com Cristo. O Batismo marca o cristão com um selo espiritual indelével da sua pertença a Cristo. Esta marca não é apagada por nenhum pecado, embora o pecado impeça o Batismo de produzir frutos de salvação. Ministrado uma vez por todas, o Batismo não pode ser repetido”(Catecismo da Igreja Católica, 1272).

Isso significa que, mesmo que uma pessoa peque contra Deus, renunciando a Ele de maneira oficial, esse ato nunca pode apagar a marca espiritual deixada pelo batismo.

O Catecismo acrescenta:

“O Espírito Santo nos marcou com o selo do Senhor (‘caráter de Dominicus’) ‘para o dia da redenção.’ ‘O batismo de fato é o selo da vida eterna’. O cristão fiel que ‘manteve o selo ‘até o fim, permanecendo fiel às exigências de seu batismo, poderá partir desta vida’ assinalada com o sinal da fé ‘”(CCC 1274).

O selo do Batismo não garante uma “passagem” para o céu, mas marca para sempre a alma de uma pessoa e ela será julgada por Deus, de acordo com esse selo.

Com isto em mente, um pastor não é capaz de remover uma pessoa de seu registro batismal. É também por isso que uma pessoa nunca pode ser batizada pela segunda vez. Desde que o primeiro Batismo seja válido, um católico que renuncie oficialmente a sua fé não precisa ser batizado pela segunda vez para ser readmitido no rebanho. A recepção fiel do sacramento da Confissão (juntamente com a plena satisfação de qualquer tipo de penitência ligada a esses pecados) tem o poder de eliminar todos os pecados e restaurar a inocência batismal da pessoa.

Ateus e satanistas que se arrependem de seus pecados são bem-vindos de volta ao rebanho de Jesus Cristo e não precisam ser batizados novamente.

Deus é muito paciente e, mesmo quando nos afastamos de nossas promessas batismais, ele nunca para de nos perseguir. Cabe a nós nos permitir sermos encontrados por Deus e aceitar seu amor em nossas vidas.

Autor: Philip Kosloski

Se há 50 anos você se encontrasse em uma das pequenas localidades do interior da Holanda, dificilmente poderia se perder. A única coisa que você precisava fazer era olhar para cima, encontrar a torre da igreja, e você sempre encontraria o caminho de volta. Porque a igreja – literalmente – estava no coração da localidade.

Nas comunidades rurais, a igreja também era um ponto central da vida. A missa dominical, as festas católicas, os casamentos e os funerais: a igreja era o lugar onde todos se encontravam e compartilhavam as notícias do dia. O pároco, assim como outros voluntários da igreja, visitavam regularmente os idosos, e os concertos que o coro da igreja dava eram frequentados por muitos dos moradores.

As coisas mudaram

Em muitas localidades holandesas, a igreja ainda pode ser encontrada no coração do vilarejo, o bar local ainda tem muitos visitantes, e dentro e em volta da escola de Ensino Fundamental católica as vozes de crianças brincando ainda podem ser ouvidas. Mas, se você falar com os moradores, perceberá rapidamente que muitas das suas comunidades mudaram rapidamente na última década.

A igreja não é mais o ponto central de encontro da comunidade. Muitas vezes ela até fechou as suas portas, devido ao número decrescente de fiéis. Aqueles que ainda frequentam a igreja geralmente são velhos; a geração mais jovem não sente mais a necessidade de ir à missa dominical.

Na era de ouro do catolicismo holandês, a situação era completamente diferente. Nos anos 1960, 55% dos 2,7 milhões de católicos holandeses ainda iam à missa regularmente, segundo o centro de pesquisa holandês KASKI.

O número de fiéis tem diminuído desde então. No ano 2000, em média, 439.000 católicos foram à igreja durante os fins de semana. Em 2017, esse número caiu para 157.900 pessoas: apenas 6% de todos os católicos holandeses.

Fechamento de igrejas

Ao longo das últimas décadas, muitas igrejas na Holanda foram fechadas, devido à diminuição do número de participantes, aos altos custos de manutenção e à falta de padres. Mesmo assim, essa é apenas a ponta do iceberg.

Em uma entrevista a um jornal local no ano passado, o cardeal holandês Wim Eijkpreviu que, na Arquidiocese de Utrecht, 285 igrejas precisavam ser fechadas, o que significa que, no ano de 2030, apenas 15 igrejas ainda estarão abertas na arquidiocese.

Joris Kregting, um pesquisador do KASKI, também prevê que as dioceses prosseguirão muito mais rapidamente com o fechamento de igrejas. Ele discorda, no entanto, com a previsão de Eijk, pensando que o processo será um pouco mais lento.

“Não podemos dizer exatamente quais igrejas serão fechadas, não temos uma previsão dos números anuais das diferentes paróquias, mas, se se observarmos o número de igrejas fechando e o número de fiéis, achamos que se pode esperar razoavelmente que, em 2030, apenas 45 igrejas estarão abertas na arquidiocese de Utrecht”, disse Kregting.

Diferenças entre dioceses

De acordo com Kregting, nem todas as dioceses holandesas fecharão suas igrejas no mesmo ritmo. Ele acha que uma razão importante para isso são as políticas diferentes em cada diocese. A Arquidiocese de Utrecht e a Diocese de Den Bosch (no sul; no papel, a maior diocese da Holanda em termos de população) são as principais representantes do processo de fechamento de igrejas.

“Já está claro onde as igrejas fecharão rapidamente. Algumas dioceses decidiram por um extenso processo de fusão de paróquias, enquanto outras estão olhando mais para a cooperação entre paróquias”, explicou Kregting em entrevista à Katholiek Nieuwsblad.

Outra razão importante para essas políticas diferentes, segundo Kregting, é a situação financeira das paróquias em cada diocese. Na Diocese de Roermond, no sul, por exemplo, as igrejas não estão sendo fechadas tão rapidamente, porque a Igreja ainda é culturalmente importante para muitas pessoas.

“Na Holanda, as pessoas ainda tendem a dar mais dinheiro para a Igreja do que para outras instituições. Esse pode ser um fator importante ao decidir manter uma igreja aberta por mais algum tempo”, disse Kregting.

Questões complexas e difíceis surgem em uma localidade quando se fala em fechar a igreja local. Qual é a melhor decisão: restaurar a igreja, demoli-la, vendê-la ou talvez remodelá-la e transformá-la em um centro comunitário? Quem vai pagar? E o que acontecerá com o prédio, no fim das contas?

De acordo com uma pesquisa recente realizada pelo jornal holandês Trouw, uma em cada cinco igrejas holandesas – tanto protestantes quanto católicas – não são mais usadas como igreja. Muitas delas foram remodeladas e transformadas em um centro cultural ou comunitário, ou ainda transformadas em apartamentos.

Pesquisa da Katholiek Nieuwsblad

Que efeitos o fechamento de uma igreja tem em uma localidade? A vida católica nesses vilarejos está desaparecendo junto com a igreja? E quais são as consequências do fechamento de uma igreja para as tradições da localidade, o envolvimento dos voluntários e a solidariedade entre os moradores?

Ainda há muito que não sabemos sobre isso. Portanto, a Katholiek Nieuwsblad está atualmente realizando uma extensa pesquisa, com o apoio financeiro do Dutch Journalism Fund. Realizando entrevistas com especialistas e acadêmicos, pesquisando dados e fazendo documentários curtos em localidades onde as igrejas fecharão em breve, a revista católica holandesa está tentando oferecer uma imagem mais clara de um problema crescente entre os holandeses e a comunidade católica internaciona

A reportagem é de Michiel van de Kamp, publicada por Katholiek Nieuwsblad/Crux.

Olivier Roy  é professor de ciência política no Instituto Universitário Europeu de Florença. Em seu último livro, o cientista político explica a relação complexa que a Europa tem hoje com o cristianismo.

Ainda se pode falar de uma Europa cristã?

A Europa continua a perceber-se como cristã. Mas a secularização levou a uma profunda descristianização. Desde 1968, a Europa experimenta uma importante mudança antropológica que separa profundamente os valores da sociedade daqueles do cristianismo. A verdadeira descristianização não é tanto o colapso da prática quanto a referência a uma nova antropologia centrada no desejo individual, totalmente contrário ao cristianismo. Por outro lado, e é o verdadeiro paradoxo, em todos os países, com exceção da Inglaterra, a maioria dos europeus continua a se definir cristã. Mas isso não tem mais nada a ver com fé. Pelo contrário, há uma total ignorância dos elementos básicos do cristianismo.

O discurso sobre a identidade cristã não seria um sinal de um retorno do religioso?

Minha tese é que aqueles que reivindicam para si uma identidade cristã sem se referir aos valores cristãos acelera a descristianização. Precisamente aqueles que querem promover as raízes cristãs não pregam absolutamente um retorno à fé, eles mesmos não são praticantes. Isso não tem nada a ver com a religião. Os defensores do populismo estão muito longe dos valores cristãos, eles também são filhos dos movimentos de 1968. O populismo de hoje não é um retorno à ordem moral. Se retoma elementos da cultura católica é para se opor ao Islã. Isso levou os episcopados, italiano, polonês ou alemão, a se distanciarem dos partidos que pediam, por exemplo, que fossem recolocados os crucifixos em lugares públicos. E, em definitiva, sua expulsão do espaço público como religião.

Mas a religião não precisa de uma relação com a cultura?

Sim. E hoje, a distância entre a comunidade de fé e a cultura é grande, é um divórcio. Bento XVI e João Paulo II foram muito claros sobre isso. E, no entanto, a Igreja Católica continua a valorizar essa relação entre cultura e fé. Hoje na Europa se vive uma crise cultural muito mais que uma crise religiosa. E algumas religiões, como o salafismo e o evangelismo, exploram essa desculturação geral. O divórcio da cultura é muito mais doloroso para o catolicismo. Diante dessa cultura que se tornou tão estranha para ele, seu problema é saber como se situar na sociedade.

Os europeus precisam de referências morais. Eles não precisam de um guia. Estamos em uma sociedade em que não há mais debate sobre valores, mas apenas sobre normas, de maneira conflituosa. Mas o ser humano não pode prescindir de valores espirituais

Você indica três possíveis atitudes: o fechamento sobre si mesmo, a luta política ou o retorno a determinados valores.

A minha experiência italiana permitiu-me discutir com os responsáveis de comunidades católicas de leigos, como Sant’Egidio, os Focolares ou Comunhão e Libertação. Eles não negam ter se tornado uma minoria na Itália. Mas, e nisso seguem o ensinamento do Papa Francisco, explicam que o catolicismo deve parar de intervir no âmbito da normatividade, da lei. Em vez disso, deve proclamar em voz alta os valores.

A “reconquista religiosa” não é possível. Porque passaria por uma revisão das normas (aborto, casamento homoafetivo, etc.) e só pode fazer isso baseando-se nos populistas. Mas, como eu disse, estes últimos podem aceitar uma aliança estratégica, mas quanto às normas eles também são filhos dos 1968, e não voltarão atrás. Dizendo isso de forma mais cínica: a Igreja Católica não está mais em condições de impor a norma. Se a impuser, será com a intermediação dos populistas que desacreditarão a mensagem.

Em meu livro cito o padre Paolo Dall’Oglioque encontrei dois meses antes de seu desaparecimento e que me impressionou muito. Ele me disse: “Não devemos parecer como legisladores, devemos parecer como profetas”. Os europeus precisam de referências morais. Eles não precisam de um guia. Estamos em uma sociedade em que não há mais debate sobre valores, mas apenas sobre normas, de maneira conflituosa. Mas o ser humano não pode prescindir de valores espirituais. Quando se esquece a transcendência do debate público, se corre o risco de ela voltar pela janela sob formas perigosas: niilismo (teoria apocalíptica, transumanismo) ou radicalismo religioso violento.

No final do livro, você defende a necessidade de que as sociedades europeias e os valores cristãos sejam reencontrados.

Precisamos repensar o projeto europeu em toda a sua genealogia. São na maioria os cristãos que fundaram a União Europeia. Não é uma questão de retornar a um cristianismo de fachada, mas a um determinado espírito do cristianismo. A Igreja deve retomar o magistério moral e não propor um programa para legisladores. Não deve fazer “lobby” político.

Fonte: La Croix, 11-01-2019.

O governo da Hungria deixou de financiar e credenciar universidades para seus programas de mestrado e doutorado em estudos de gênero, porque esta disciplina “é uma ideologia e não uma ciência”.

Assim afirmou recentemente o vice-primeiro-ministro do país, Zsolt Semjén, o qual disse que os estudos de gênero de pós-graduação “não são um negócio (ensiná-los) nas universidades”, porque são “uma ideologia, não uma ciência” e a exigência do mercado para os graduados em estudos de gênero era “quase nenhuma”.

“Ninguém quer contratar um especialista em gênero”, disse Semjen.

De acordo com a mídia húngara 444.hu, o primeiro ministro Viktor Orbán emitiu um decreto na sexta-feira, 12 de outubro, eliminando os estudos da lista de programas de pós-graduação aprovados.

Os estudantes que já estão matriculados poderão continuar, mas não aceitarão novos alunos, confirmou o governo.

A medida afeta as universidades Eötövs Lóránd, com sede em Budapeste, e a Universidade de Europa Central, fundada pelo multimilionário financista George Soros.

Este último expressou em 16 de outubro “sua forte oposição à eliminação dos estudos de gênero da lista de programas de mestrados credenciados na Hungria”.

Entretanto, o chefe de gabinete do primeiro-ministro Orbán, Gergely Gulyas, disse em agosto que “o governo húngaro tem a opinião clara de que as pessoas nascem homens ou mulheres”. “Conduzam suas vidas como acharem melhor, mas o Estado húngaro não quer gastar fundos públicos em educação relacionados a este tema”, acrescentou.

Em março de 2017, o secretário de Estado da Educação, Bence Rétvári, assegurou que os “estudos de gênero, como o marxismo-leninismo, poderiam ser mais considerados como uma ideologia do que uma ciência, por isso é questionável se alcança o nível para o ensino universitário”.

Fonte: ACI

Representante no Sínodo de uma rede mundial de empresas, a jovem belga Marguerite-Marie Le Hodey (foto acima) também traz a voz dos jovens distantes da Igreja.

Quando a Associação Mundial de Empresas Familiares propôs que ela fosse ao Sínodo dos jovens, Marguerite-Marie Le Hodey refletiu a resposta por quase um mês, dando a resposta apenas uma semana antes da abertura. Recém-formada em Direito Internacional, ela representaria aquela rede internacional que, desde o Sínodo sobre a família, trabalha com o Vaticano sobre a responsabilidade social das empresas.

Só que, embora nascida em uma família de empresários da imprensa em que o catolicismo desempenha um papel importante, a jovem se define agnóstica. “A única na sala”, garante, contando que perdeu a fé aos 7 ou 8 anos de idade. “Talvez por ter estado muito imersa nela”, reconhece simplesmente.

A jovem belga de 23 anos levou algum tempo para compartilhar a sua trajetória com os bispos presentes. “Enquanto estávamos na primeira parte, mais antropológica, as coisas andavam”, diz. Mas quando, em um segundo tempo, o Sínodo abordou os temas da vocação e do discernimento, as coisas se tornaram mais difíceis no grupo de trabalho anglófono, em que já haviam sido estabelecidas relações de confiança entre os participantes de todas as idades.

“Então, eu tomei a palavra para explicar a minha trajetória e levei 5-10 minutos para explicar por que não tenho mais fé, por que gostaria de crer, mas não creio”, resume essa moça que tinha um tio bispo na França.

Alguns se admiraram ao escutá-la, mas a maioria reagiu bem. “Eles ficaram muito impressionados: tive bons resultados”, conta Marguerite-Marie Le Hodey com entusiasmo.

Certamente, mais de um participante precisava desse testemunho que veio daqueles jovens distantes de uma Igreja que não sabe mais ir ao seu encontro. Mas a jovem agnóstica também reconhece como os diálogos do Sínodo a enriqueceram.

“Entre os jovens, somos apenas dois europeus não italianos, o que nos obriga a não nos fecharmos no nosso ponto de vista e a descobrir realidades muito diferentes em outros lugares, por exemplo, sobre a secularização”, observa, interessada também devido ao seu compromisso com as relações internacionais.

La Croix

O Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee, em francês) publicou nesta semana um estudo que mostra que seis a cada dez crianças nasceram fora do casamento na França em 2017, um recorde europeu. No total, 59,5% dos nascimentos não seguiram a lógica matrimonial

O número de nascimentos fora do casamento se multiplicou por dez desde os anos 1960 – em 1965, eles eram apenas 5,9%. Já em 2007, essa taxa subiu para 50,7%.

Os dados apontam que a frequência é maior nos departamentos e regiões ultra-marítimas (83,6%), no oeste (72,3%) e no centro (75,9%) da França. Já em Paris, apenas 47% dos pais não estavam casados na hora do nascimento.

Esse é o caso de apenas alguns países da União Europeia, como Portugal (52,8%), Espanha (45,9%), Reino Unido (47,7%), Bélgica (49%), ou Alemanha (35%). No extremo oposto estão a Grécia, com apenas 9,4% de casais que não se casaram antes de terem um filho, seguida por Croácia (18,9%), Chipre (19,1%) e Polônia (25%).

A evolução dos costumes foi acompanhada pela legislação francesa, que, desde 2016, não estabelece em seu Código Civil a distinção entre crianças “legítimas” (pais casados) e “naturais” ou “ilegítimas”.

Antes dos anos 1980, os casais também não esperavam o casamento para ter uma criança, mas era frequente a “regularização da situação” ao propor um matrimônio durante a gravidez

Uma parcela da sociedade francesa, que não aprova as profundas mudanças de comportamento no país, pede um retorno dos hábitos tradicionais. Isto é: que somente os casais heterossexuais tenham acesso à troca de alianças e também que ela ocorra antes da concepção dos filhos.

Criada durante o debate da adoção da lei que permitia o matrimônio aos casais homossexuais, o movimento Manif pour tous (“Manifestação para todos”, em oposição a “Casamento para todos”) mobiliza os franceses mais conservadores e também é contra o aborto, prática legal na França.

Fonte G1

Os católicos na Alemanha são 28,2% da população (23.311.321 pessoas), distribuídos em 10.191 paróquias (em 2016 eram 10.280) e acompanhados por 13.560 sacerdotes (300 a menos em comparação com 2016). Esses são os dados estatísticos de 2017 divulgados no dia 20 de julho pelo Escritório de Imprensa da Conferência Episcopal Alemã (DBK).

Há 3.308 diáconos, 3.238 referentes pastorais e 4.557 referentes paroquiais. Em 2017, 2.647 pessoas passaram a fazer parte da Igreja, 6.685 voltaram a fazer parte dela, 167.504 pessoas a abandonaram.

“Há um grande potencial de ser comunidade, mesmo que caia a participação nos sacramentos: o Katholikentag de Münster demonstrou a força do cristianismo”, disse o padre Hans Langendörfer, secretário-geral da DBK, comentando os dados. Prova disso são os 50 mil jovens que participarão da peregrinação dos coroinhas a Roma.

As estatísticas dizem que 9,8% participam da missa, mas o sistema usado “não detecta os fiéis que, se não todos os domingos, vão à missa muitas vezes”, nem que as igrejas estão cheias no Natal e na Páscoa.

Como o número de sacerdotes cai, o Pe. Langendörfer informou que “as dioceses estão fazendo inúmeras mudanças estruturais”, mas que geram “mudanças drásticas” também na vocação sacerdotal. O número de “pessoas que nos deixaram em 2017 dói”: “Queremos entender por que as pessoas na Igreja não encontram a orientação para a sua vida e a sua fé, e que mudanças são possíveis, também em termos de credibilidade”.

 

Fonte: Servizio Informazione Religiosa

Mary McAleese, que foi a presidente da Irlanda entre 1997 e 2011, declarou recentemente que não vai participar do Encontro Mundial das Famílias, com o Papa Francisco, agendado para os dias 22 a 26 de agosto em Dublin.

Em entrevista ao Irish Times, o principal jornal do país, ela disse que o evento será apenas uma “manifestação política” voltada ao “reforço da ortodoxia“.

Além disso, ela opinou que, ao batizar crianças pequenas, a Igreja está criando “pequenos recrutas em obrigação vitalícia de obediência”, o que, a seu ver, seria “uma violação aos direitos humanos“. Disse ela:

“Você não pode impor obrigações às pessoas com apenas duas semanas de idade (…) Vivemos agora uma época em que temos o direito à liberdade de consciência, à liberdade de crença, à liberdade de opinião, à liberdade religiosa e à liberdade de mudar de religião. A Igreja Católica ainda tem que abraçar esse pensamento”.

Aplicando a mesma falta de lógica a outros contextos, poderíamos ampliar essa lista de declarações infundadas e afirmar, com igual leviandade e tergiversação, que os pais também violam os direitos humanos ao darem carne a seus filhos sem saber se eles um dia não vão preferir virar veganos; ao levá-los a um estádio ou ao teatro sem saber se eles um dia não vão declarar que o futebol é o ópio do povo e as artes pervertem os costumes; ao vesti-los com a roupa xis sem saber se eles um dia não vão tachar essas vestes de imposição cultural opressiva; ao medicá-los com remédios da indústria farmacêutica sem saber se um dia eles não vão preferir tratamentos exclusivamente homeopáticos, e um longo etcétera de possibilidades análogas.

O fato de as crianças serem criadas conforme as convicções religiosas dos pais não as impede de, ao crescerem, optar por outras formas de viver a espiritualidade – ou mesmo por nenhuma, caso assim decidam. Não faz o menor sentido proibir os pais de criarem os seus filhos de acordo com as suas crenças e conforme o seu discernimento, desde que, obviamente, essa criação não implique qualquer ilegalidade ou patente abuso. Existe alguma comprovação científica ou pelo menos algum indício sério de que batizar um filho venha a constituir um abuso de qualquer espécie? Não.

Em 16 de junho de 2018, durante um evento em Dublin, a ex-presidente também afirmou que tinha votado a favor do aborto no referendo de 25 de maio. A respeito da declaração de um bispo irlandês de que os católicos que votaram a favor precisariam se confessar, ela retrucou que o seu voto “não foi um pecado“.

Apesar das incoerências, Mary McAleese se diz católica praticante. Ela é licenciada em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e publicou em 2012 um livro intitulado “Quo Vadis? Collegiality in the Code of Canon Law” (Quo Vadis? A Colegialidade no Código de Direito Canônico).

Como ela própria está demonstrando com seus atos e palavras, o batismo não suprime a liberdade humana de confirmá-lo ou rejeitá-lo: o fato de ter sido batizada quando criança não a impediu de exercer hoje o “direito” de proferir as mais descabeladas e apelativas acusações contra a fé que diz ter – e que, ao mesmo tempo, deseja proibir.

Aleteia

Essa interrogação e as variações e implicações que dela derivam são respondidas agora por uma nova pesquisa longa e precisa realizada pelo Pew Research Center, entre abril e agosto de 2017, e tornada pública no original em inglês nos últimos dias.

O Pew Research Center é um think tank estadunidense, com sede em Washington, que fornece informações sobre problemas sociais, opinião pública e tendências demográficas sobre os Estados Unidos e o mundo em geral. Realiza sondagens de opinião pública, pesquisas demográficas, análises de conteúdo das mídias e outras pesquisas no campo das ciências sociais empíricas.

O texto que aqui publicamos é uma síntese elaborada pelo próprio centro e é tirada de um relatório acompanhado no original por inúmeros gráficos ilustrativos.

****

A Europa ocidental, berço do protestantismo e historicamente sede do catolicismo, tornou-se uma das regiões mais seculares do mundo. Embora a grande maioria dos adultos afirme que recebeu o batismo, hoje muitos deles não se definem como cristãos. 

Porém, na maioria dos casos, os adultos entrevistados se consideram cristãos de fato, mesmo que raramente frequentem a Igreja.

A pesquisa mostra que os cristãos não praticantes (como são definidas no relatório as pessoas que se declaram como cristãs, mas que participam nas funções religiosas apenas algumas vezes por ano) representam a cota mais ampla da população na região em questão.

Em todos os países, exceto na Itália, são mais numerosos do que os cristãos praticantes (ou seja, aqueles que participam das funções religiosas pelo menos uma vez por mês). Os cristãos não praticantes são mais numerosos do que aqueles que não se reconhecem em nenhuma religião (ou seja, pessoas que se identificam como ateias, agnósticas ou “de nenhuma religião em particular”) na maioria dos países incluídos na pesquisa.

Com a palavra, os dados

O estudo do Pew Research Center, realizado sobre mais de 24.000 entrevistas telefônicas com adultos selecionados aleatoriamente, incluindo cerca de 12.000 cristãos não praticantes, revela que a identidade cristã continua sendo uma marca significativa na Europa ocidental, mesmo entre aqueles que raramente frequentam a Igreja.

Não se trata simplesmente de uma identidade “nominal” sem relevância prática. Ao contrário, o ponto de vista dos cristãos não praticantes sobre a religião, a política e a cultura é muitas vezes diferente do dos cristãos praticantes e/ou adultos que não se reconhecem em nenhuma religião.

A identidade cristã na Europa ocidental, de fato, está associada a opiniões mais negativas em relação aos imigrantes e às minorias religiosas. No geral, aqueles que se professam cristãos, frequentam a igreja ou não, são mais propensos a expressar opiniões negativas contra os imigrantes, assim como aos muçulmanos e aos judeus, em comparação com aqueles que não se reconhecem em nenhuma religião.

Por exemplo, 63% dos cristãos praticantes na Itália afirmam que o Islã é fundamentalmente incompatível com a cultura e os valores italianos, opinião compartilhada por 51% dos cristãos não praticantes. Entre os adultos que não se reconhecem em nenhuma religião, ao contrário, a porcentagem de entrevistados que considera que o Islã é fundamentalmente incompatível com a cultura e os valores do próprio país é inferior (29%).

Na Europa, observa-se uma distribuição análoga em relação às limitações para o vestuário das mulheres muçulmanas em público: os cristãos são mais propensos do que as pessoas com “nenhuma religião” a afirmar que as mulheres muçulmanas deveriam poder não usar qualquer indumentária religiosa.

Os cristãos praticantes, os cristãos não praticantes e as pessoas que não se reconhecem em nenhuma religião também diferem em termos de atitude em relação ao nacionalismo.

Os cristãos não praticantes são menos propensos do que os cristãos praticantes a expressar pontos de vista nacionalistas. Porém, são mais propensos do que os entrevistados com “nenhuma religião” a afirmar que a própria cultura é superior às outras e que é necessário ter pais de um país para compartilhar sua identidade nacional (por exemplo, é necessário ter uma tradição familiar espanhola para ser realmente espanhóis).

Na Itália, por exemplo, a maioria dos cristãos praticantes (57%) concorda com a afirmação “os meus compatriotas não são perfeitos, mas a nossa cultura é superior às outras”. Esse percentual cai para 49% entre os cristãos não praticantes, mas, contudo, permanece superior aos 14% dos italianos adultos que não se reconhecem em nenhuma religião que compartilha esse ponto de vista.

Imigrantes e minorias

A pesquisa, que foi realizada após uma escalada dos fluxos migratórios dirigidos à Europa e provenientes de países de maioria muçulmana, fez muitas outras perguntas sobre a identidade nacional, o pluralismo religioso e a imigração.

A maioria dos europeus ocidentais se declara disposta a aceitar muçulmanos e judeus no seu bairro e na própria família, e, em grande parte, não concorda com as afirmações negativas sobre esses grupos. Além disso, no geral, o número de entrevistados que afirmam que os imigrantes são honestos e trabalham duro é maior do que os da opinião contrária.

No entanto, existe um modelo que emerge de modo claro e coerente: os cristãos, tanto praticantes quanto não praticantes, são mais propensos do que os adultos que não se reconhecem em nenhuma religião na Europa ocidental a expressar opiniões desfavoráveis em relação aos imigrantes e às minorias e pontos de vista nacionalistas.

Há também outros fatores que estão fora da identidade religiosa e que estão intimamente ligados a essas posições. Por exemplo, o nível de educação mais alto e o conhecimento direto de uma pessoa muçulmana tendem a se associar a uma maior abertura em relação à imigração e às minorias religiosas.

Além disso, a identificação com a direita política está fortemente conectada com posições anti-imigração. Dito isso, mesmo empregando técnicas estatísticas para levar em conta esses e muitos outros fatores, incluindo idade e sexo, os europeus ocidentais que se identificam como cristãos são mais inclinados a expressar sentimentos negativos sobre os imigrantes e sobre as minorias religiosas do que aqueles que não se reconhecem em nenhuma religião.

Pontos de divergência

Os cristãos não praticantes, os cristãos praticantes e os adultos que não se reconhecem em nenhuma religião mostram outros pontos divergência importantes nessa área geográfica:

– embora afirmando não acreditar em Deus “como descrito na Bíblia”, muitos cristãos não praticantes tendem a acreditar em algum outro poder superior ou força espiritual. Pelo contrário, a maioria dos cristãos praticantes afirmam acreditar na descrição bíblica de Deus. E uma clara maioria dos adultos que não se reconhecem em nenhuma religião não acredita em nenhum tipo de poder superior ou força espiritual no universo.

os cristãos não praticantes tendem a expressar posições mais positivas do que negativas em relação às Igrejas e a outras organizações religiosas, declarando que desempenham uma função socialmente útil, ajudando os pobres e fortalecendo os laços dentro das comunidades. Suas atitudes em relação às instituições religiosas não são favoráveis como as dos cristãos praticantes, mas, em comparação com os europeus que não se reconhecem em nenhuma religião, os cristãos não praticantes são mais propensos a afirmar que as Igrejas e as outras organizações religiosas contribuem positivamente com a sociedade.

– a grande maioria dos cristãos não praticantes, como aquela das pessoas que não se reconhecem em nenhuma religião na Europa ocidental, é favorável ao aborto legal e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os cristãos praticantes são mais conservadores sobre essas questões, embora, dentro desse segmento, haja um apoio substancial (em alguns países, majoritário) ao aborto legal e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

– quase todos os cristãos praticantes que são pais ou tutores de menores (com menos de 18 anos) afirmam criá-los de acordo com os princípios cristãos. Entre os cristãos não praticantes, um percentual ligeiramente inferior, que ainda representa a imensa maioria, afirma criar os próprios filhos como cristãos. Por outro lado, os pais que não se reconhecem em nenhuma religião geralmente criam seus filhos sem religião.

Esses são alguns dos principais resultados da nova pesquisa do Pew Research Center. O estudo, financiado pelo The Pew Charitable Trusts e pela John Templeton Foundation, faz parte de um projeto maior do Pew Research Center voltado a compreender a mudança religiosa e o seu impacto nas sociedades em todo o mundo.

Fonte: Settimana News

Alguma coisa estava errada com os pinguins, como são chamados os alunos do jardim de infância c, em um subúrbio arborizado ao sul de Estocolmo.

Os meninos eram barulhentos e mantinham contato físico. Eles gritavam e batiam. As meninas choramingavam para serem colocadas no braço. O grupo de crianças entre um e dois anos de idade, em outras palavras, dividia-se em linhas de gênero tradicional. E nesta escola, isso não estava certo.

Seus professores tiraram os carrinhos e bonecas da sala. E colocaram os meninos para tomar conta da cozinha de brinquedo. Eles fizeram as meninas praticamente gritarem: “Não!”

Os pesquisadores podem ainda estar divididos sobre se as diferenças de gênero estão enraizadas em nosso DNA ou na cultura, mas muitas das pré-escolas financiadas pelo governo da Suécia estão fazendo o que podem para desconstruí-las. O currículo estadual recomenda que os professores e os diretores adotem seus papéis como engenheiros sociais, pedindo-lhes que neutralizem os tradicionais papéis e padrões de gênero”.

Em muitos jardins de infância da Suécia, é normal que professores evitem se referir ao gênero de seus alunos. As brincadeiras são organizadas de uma maneira que evitem as crianças se classifiquem por gênero. Um pronome de gênero neutro, “hen”, foi introduzido em 2012 e foi rapidamente absorvido na cultura sueca.

Como exatamente esse método de ensino afeta as crianças ainda é incerto. Uma das poucas tentativas de avaliação do método por especialistas, publicada em 2017 na revista acadêmica Journal of Experimental Child Psychology, concluiu que alguns comportamentos desaparecem quando os alunos frequentam as chamadas pré-escolas “de gênero neutro”.

Por exemplo, as crianças nessas escolas não mostram uma forte preferência por colegas do mesmo gênero, e são menos propensas a fazer suposições baseadas em estereótipos. No entanto, os cientistas não encontraram qualquer diferença na tendência das crianças de notar gênero, sugerindo que isso possa estar sob influência genética.

Em uma recente sexta-feira no jardim de infância Seafarer, em Hammarbyhojden, Elis Sttoresund, a especialista em gênero da escola, sentou-se curvada sobre uma planilha com dois professores, revisando seus progressos em relação aos objetivos de gênero.

“Quando estamos desenhando”, disse Melissa Esteka, 31 anos, um dos professores, “vemos que as meninas – elas desenham muito – elas desenham garotas com muita maquiagem e longos cílios. É muito claro que elas são meninas. Então perguntamos, ‘garotos não têm cílios?’ E elas respondem, ‘Sabemos que não é assim na vida real’”.

Elis, 54 anos, assentiu concordando. “Elas estão tentando entender o que é ser uma menina”.

O experimento da Suécia sobre pré-escolas com neutralidade de gênero começou em 1996, em Trodje, uma pequena cidade próxima ao Mar Báltico. O homem que começou tudo isso, Ingemar Gens, era um jornalista que se interessava em antropologia e teoria de gênero. Recém-nomeado como “especialista em igualdade de oportunidades” no distrito, Gens queria derrubar a norma estoica e insensível da masculinidade sueca.

Ele começou um programa que foi chamado de estratégia de gênero compensatória em dois jardins de infância. Meninos e meninas eram separados durante parte do dia e treinados em aspectos associados ao outro gênero. Os meninos massageavam os pés uns dos outros. As meninas eram levadas para passear descalças na neve e estimuladas a abrir a janela e gritar.

A estratégia de separar meninos e meninas foi posteriormente deixada de lado em favor de uma abordagem “neutra em relação ao gênero” com a intenção de silenciar as diferenças. Ainda assim, o espírito do experimento de Gens havia se espalhado por meio do governo. Em 1998, a Suécia acrescentou uma nova linguagem ao seu currículo nacional exigindo que todas as pré-escolas “neutralizassem os tradicionais papéis e padrões de gênero” e encorajassem as crianças a explorar “fora das limitações dos papéis estereotipados de gênero”. E a adoção das práticas varia muito.

Os tradicionalistas organizaram protestos ocasionais, queixando-se de lavagem cerebral liberal. O Partido Democratas da Suécia, de extrema-direita, que ganhou cerca de 13% dos votos em 2014, prometeu reverter o ensino que “busca mudar o comportamento e a identidade de gênero de todas as crianças e jovens”.

Mas as políticas de igualdade de gênero contam com o apoio dos maiores partidos da Suécia, os Social-Democratas, de centro-esquerda, e os moderados de centro-direita.

Em Trodje, a primeira leva de crianças em idade pré-escolar a frequentar jardins de infância de gênero neutro está agora na casa dos 20 anos.

Elin Gerdin, 26 anos, fez parte do primeiro grupo e disse que há momentos em que sua educação infantil ressurge para ela.

Os amigos de Elin começaram a ter bebês e postam fotos deles no Facebook, envoltos em azul ou rosa, no primeiro ato de classificação da sociedade. Ela diz a eles, sinceramente, que eles estão cometendo um erro. Isso lhe parece uma responsabilidade.

“Somos um grupo de crianças que crescerá e terá filhos, e vamos falar com eles sobre isso”, disse ela. “Não é fácil mudar toda uma sociedade”.

No jardim de infância Seafarer, em uma manhã recente, as crianças saíam de volumosos trajes de neve. Debaixo do seu, Otto, um robusto garoto de 3 anos, usava um vestido.

Otto prefere usar vestidos porque gosta do jeito que eles se movimentam quando ele gira, e isso não o torna incomum aqui. Até agora, ninguém na vida de Otto disse a ele que os meninos não usam vestidos, segundo sua mãe, Lena Christiansson. E ela gostaria que isso continuasse pelo maior tempo possível.

Essa expectativa se tornou cada vez mais comum, disse Elis.

Agora, os pais nos perguntam: ‘O que você está fazendo em relação a gênero?'”, contou Elis. Ela está disponível para confrontar os conflitos na sala de aula: quando os meninos do grupo de crianças de 3 anos se recusaram a pintar ou dançar, e o grupo ameaçou se dividir em linhas de gênero, ela foi chamada para resolver o problema e persuadir os meninos a participar de maneira igualitária.

Izabell Sandberg, que dá aula para os “pinguins” no jardim de infância Seafarer, notou uma mudança em uma menina de 2 anos cujos pais a deixaram usar meias-calças e vestidos rosa-claros. A garota se concentrou em ficar limpa. Se outra criança pegasse seus brinquedos, ela choramingava.

“Ela aceitava tudo”, disse Izabell. “E eu pensei como isso era atrelado ao estereótipo de ‘menininha’. Era como se ela estivesse se desculpando por ocupar espaço”.

Até que, numa manhã recente, a mesma menina colocou um chapéu e arrumou sacolas, preparando-se para partir em uma expedição imaginária. Quando uma colega de classe tentou sair com uma de suas sacolas, ela estendeu a mão e gritou: “Não!”. Era algo que a menina e Izabell estavam praticando.

Em março, a menina tornou-se tão barulhenta que ela abafou os meninos da turma, disse Izabell. No final do dia, ela estava toda bagunçada. Segundo a professora, os pais da garota não ficaram contentes e relataram que a filha havia se tornado traquina e desafiadora em casa.

Mas Izabell tem muita experiência explicando a missão para os pais.

“Isso é o que fazemos aqui, e não vamos parar”, disse ela. 

Estadão via New York Times

Números estatísticos de um estudo conjunto do Instituto Católico de Paris e da St. Mary’s Catholic University, em Twickenham, região metropolitana de Londres, sobre a filiação religiosa de jovens com idade de 16 a 29 anos na Europa terão, sem dúvida, uma forte impressão nos participantes do encontro pré-sinodal que acontece nesta semana em Roma.

Em doze dos 21 países europeus estudados, mais Israel, a maioria dos jovens diz não ter religião. Este número sobe para 91% na República Tcheca.

Esta queda na filiação religiosa, que não deve ser confundida com a crença em Deus, forma uma das principais conclusões deste estudo estatístico.

O estudo baseou-se em informações coletadas pelas últimas duas sondagens feitas pela European Social Survey em 2014 e 2016.

Os autores fundamentam os resultados em subamostragens de várias centenas de jovensentre 16 e 29 anos de cada país, analisando suas crenças e práticas religiosas.

No entanto, estas amostras foram às vezes bastante limitadas em tamanho, o que significa que é preciso ter cautela na hora de considerar as conclusões alcançadas.

Assim, na França, 64% declararam-se viver sem uma religião em comparação com os 23% que se disseram católicos e os 10% que se identificaram como muçulmanos.

Todavia, uma outra pesquisa conduzida pela agência OpinionWay e encomendada pelo jornal La Croix em julho de 2016, com base numa amostragem muito maior e mais representativa, descobriu que 42% dos jovens entre 18 e 30 anos descreviam-se como católicos enquanto 47% diziam não ter religião.

Mas claro está que as referências religiosas estão em queda acentuada.

Crenças religiosas de jovens entre 16 e 29 anos na Europa e em Israel

“O que observamos é a situação de um declínio geral na prática religiosa”, disse o professor Stephen Bullivant, teólogo e sociólogo da religião da St. Mary’s University e um dos autores do estudo.

A frequência semanal à igreja está extremamente baixa com apenas quatro países – a saber: a Polônia (39%), Israel (26%), Portugal (20 %) e a Irlanda (15%) – tendo números de frequência acima dos 10% entre os jovens.

Por outro lado, há sete países em que mais da metade das pessoas envolvidas no estudo disse que nunca participar de cerimônias religiosas. (República Tcheca, Países Baixos, Reino Unido, Bélgica, França e Hungria).

Não obstante, os resultados não foram uniformes. Os bastiões católicos tradicionais resistiram à secularização de maneira mais forte do que as principais nações luteranase anglicanas.

Pondo de lado a Polônia, que é uma exceção com uma população de 82% de católicos, Portugal e Irlanda igualmente demonstraram um nível invejável de dinamismo. (A Itália não esteve entre os países pesquisados.)

“Muitas vezes se diz que a Irlanda está no processo de completa descristianização e que os jovens não vão mais à igreja”, afirmou Bullivant.

“Isso é verdade se olharmos para estes números ao longo do tempo, mas hoje, comparado com o restante da Europa, os jovens irlandeses ainda são extraordinariamente religiosos”, indicou.

A pesquisa também mostra que a religiosidade é mais forte entre pequenas minorias cristãs que não são afetadas por pressões sociais ou questões identitárias.

O exemplo mais notável aqui é a República Tcheca. Embora os católicos sejam um setor bastante pequeno da população (7%), os jovens católicos representam 24% dos que frequentam a missa pelo menos uma vez por semana e 48% dos que rezam semanalmente.

“O exemplo tcheco ilustra aquilo que Bento XVI chamou de ‘minorias criativas’”, disse Bullivant, que acha que o cenário tcheco prefigura os cenários da França e Espanha no médio prazo.

Este tipo de cristianismo de “pertença” em oposição a um cristianismo “cultural”, que está diminuindo, também aparece em menor grau no Reino Unido, nos Países Baixos e na França.

“As comunidades católicas são menores, mas, num reflexo majoritário, as pessoas estão mais comprometidas”, falou o teólogo François Moog, reitor da Faculdade de Educação no Instituo Católico de Paris.

“A pertença religiosa está se tornando cada vez mais existencial e engajadora. A transmissão pela família está mais forte assim como está o apoio entre os membros da comunidade”, explicou.

“Por outro lado”, segundo Moog, “estas minorias têm dúvidas sobre o modo deles de ser cristão hoje e sobre como se expressar no espaço público. Na França, vários livros recém-lançados abordam este tema”.

La Croix International

Números mostram que uma maioria de jovens adultos em 12 países não tem religião, com os tchecos sendo os menos religiosos.

A marcha da Europa em direção a uma sociedade pós-cristã está nitidamente ilustrada numa pesquisa que mostrou que uma maioria de jovens em uma dezena de países não segue religião alguma.

Um estudo com os jovens de 16 a 29 anos descobriu que a República Tcheca é o país menos religioso na Europa, com 91% deste grupo etário dizendo não ter nenhuma filiação religiosa. Entre 70 e 80% dos jovens adultos na Estônia, Suécia e nos Países Baixos também se classificam como não religiosos.

O país mais religioso é a Polônia, onde 17% dos jovens adultos se definem como não religiosos, seguido pela Lituânia com 25%.

70% dos jovens do Reino Unido se identificam como sem religião. O gráfico mostra como os jovens de 16 a 29 anos se identificam em termos religiosos.

No Reino Unido, apenas 7% dos jovens adultos se identificam como anglicanos, número abaixo dos 10% que se categorizam como católicos. Os jovens muçulmanos, 6%, estão próximos de ultrapassar os que se consideram parte da Igreja estabelecida do país.

Estes números estão publicanos no relatório intitulado “Europe’s Young Adults and Religion” [Os jovens adultos da Europa e a religião], de Stephen Bullivant, professor de teologia e sociologia da religião na St Mary’s University, em Londres. Os números se baseiam em dados tirados da Pesquisa Social Europeia 2014-2016.

Segundo se lê no texto do relatório, a religião está “moribunda”. Com algumas “notáveis exceções, os jovens adultos estão cada vez mais deixando de se identificar como religiosos e de praticar a sua religião”.

A tendência é a de estes números ficarem mais acentuados no futuro. “O cristianismo como padrão, como norma, se foi, e é provável que se foi de modo permanente – ou pelo menos para os próximos 100 anos”, escreveu Bullivant.

Mas houve também variações significativas. “Os países que são próximos uns dos outros, com fundos culturais e histórias parecidos, têm perfis religiosos amplamente diferentes”.

59% dos jovens no Reino Unido nunca frequentaram cerimônias religiosas. O gráfico mostra a frequência a templos religiosos, fora de ocasiões especiais, entre os jovens de 16 e 29 anos.

Os dois países mais religiosos (a Polônia e a Lituânia) e os dois menos religiosos (a República Tcheca e a Estônia) são Estados pós-comunistas.

A tendência da filiação religiosa se repetiu quando se perguntou aos jovens sobre a prática religiosa. Somente na Polônia, em Portugal e na Irlanda mais de 10% dos jovens disseram frequentar cerimônias religiosas pelo menos uma vez por semana.

Na República Tcheca, 70% dizem que nunca foram à igreja ou a algum outro local de adoração, e 80% diz que nunca rezam. No Reino Unido, na França, Bélgica, Espanha e Países Baixos, entre 56 e 60% disseram nunca ir à igreja, e entre 63 e 66% falaram que nunca rezam.

Entre os que se identificam como católicos, houve uma grande variação nos níveis de comprometimento. Mais de 80% dos jovens poloneses dizem que são católicos, com cerca da metade indo à missa pelo menos uma vez por semana. Na Lituânia, onde 70% dos jovens adultos dizem ser católicos, somente 5% afirmam ir à missa semanalmente.

Quase dois terços dos jovens do Reino Unido nunca rezam. O gráfico mostra a frequência de oração, fora das cerimônias religiosas, entre os jovens de 16 e 29 anos.

Segundo Bullivant, muitos jovens europeus “serão batizados e, depois, nunca entrarão numa igreja novamente. As identidades religiosas culturais simplesmente não estão sendo passadas adiante de pais para filhos”.

Os números concernentes ao Reino Unido explicam-se parcialmente pelo alto índice de imigração, acrescentou o autor o relatório. “Um em cada 5 católicos no Reino Unidonão nasceu aqui”.

“E sabemos que o índice de natalidade dos muçulmanos é mais alto do que a população geral, e eles possuem índices de retenção [religiosa] muito mais elevados”.

Na Irlanda, houve um declínio significativo na religiosidade ao longo dos últimos 30 anos, mas comparado a qualquer outro lugar da Europa ocidental, ele ainda parece bastante religioso”, explicou Bullivant.

“O novo cenário padrão é ‘sem religião’, e os poucos que são religiosos se veem como nadando contra a maré”, completou.

“Em 20 ou 30 anos, as igrejas tradicionais/predominantes estarão menores, mas as poucas que restarem serão altamente comprometidas”.

Harriet Sherwood – The Guardian, 21-03-2018