A Igreja Católica sempre condenou a prática da escravidão junto aos imperadores. E numa prova incontestável de que sempre promoveu a igualdade e liberdade dos escravos, chegou a ter como Papa um ex-escravo: Papa São Calisto, ano 217.

Abaixo veremos alguns documentos e citações que provam que ao longo da história a Igreja sempre combateu essa prática.

1- Carta do Papa João VIII

Em uma Carta do Papa João VIII, datada de setembro de 873 e dirigida aos Príncipes da Sardenha, ele diz:

Há uma coisa a respeito da qual desejamos admoestar-vos em tom paterno; se não vos emendardes, cometereis grande pecado, e, em vez do lucro que esperais, vereis multiplicadas as vossas desgraças. Com efeito; por instituição dos gregos, muitos homens feitos cativos pelos pagãos são vendidos nas vossas terras e comprados por vossos cidadãos, que os mantêm em servidão. Ora consta ser piedoso e santo, como convém a cristãos, que, uma vez comprados, esses escravos sejam postos em liberdade por amor a Cristo; a quem assim proceda, a recompensa será dada não pelos homens, mas pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isto exortamo-vos e com paterno amor vos mandamos que compreis dos pagãos alguns cativos e os deixeis partir para o bem de vossas almas” (Denzinger-Schönmetzer, Enquirídio dos Símbolos e Definições nº 668).

2- Carta do Papa Pio VII para Napoleão Bonaparte e para Dom João VI

O Papa Pio VII enviou uma Carta ao Imperador Napoleão Bonaparte da França, em protesto contra os maus tratos a homens vendidos como animais, onde dizia:

“Proibimos a todo eclesiástico ou leigo apoiar como legítimo, sob qualquer pretexto, este comércio de negros ou pregar ou ensinar em público ou em particular, de qualquer forma, algo contrário a esta Carta Apostólica” (citado por L. Conti, “A Igreja Católica e o Tráfico Negreiro”, em ‘O Tráfico dos Escravos Negros nos séculos XV-XIX”. Lisboa 1979, p. 337).

O mesmo Sumo Pontífice se dirigiu a D. João VI de Portugal nos seguintes termos:

“Dirigimos este ofício paterno à Vossa Majestade, cuja boa vontade nos é plenamente conhecida, e de coração a exortamos e solicitamos no Senhor, para que, conforme o conselho de sua prudência, não poupe esforços para que… o vergonhoso comércio de negros seja extirpado para o bem da religião e do gênero humano”.

3- Bula “Veritas Ipsa” do Papa Paulo III

No início do século XVI o dominicano Domingos de Minaja viajou da América Espanhola a Roma, a fim de relatar ao Papa Paulo III (1534-1549) os abusos ocorrentes com relação aos índios. Em conseqüência, o Pontífice escreveu a“Veritas Ipsa” (1537), onde condena Bula a escravidão:

“O comum inimigo do gênero humano, que sempre se opõe as boas obras para que pereçam, inventou um modo, nunca dantes ouvido, para estorvar que a Palavra de Deus não se pregasse as gentes, nem elas se salvassem. Para isso moveu alguns ministros seus que, desejosos de satisfazer as suas cobiças, presumem afirmar a cada passo que os índios das partes ocidentais e meridionais e as mais gentes que nestes nossos tempos tem chegado à nossa notícia, hão de ser tratados e reduzidos a nosso serviço como animais brutos, a título de que são inábeis para a Fé católica, e, com pretexto de que são incapazes de recebê-la, os põem em dura servidão em que têm suas bestas, apenas é tão grande como aquela com que afligem a esta gente. Pelo teor das presentes determinamos e declaramos que os ditos índios a todas as mais gentes que aqui em diante vierem a noticia dos cristãos, ainda que estejam fora da fé cristã, não estão privados, nem devem sê-lo, de sua liberdade, nem do domínio de seus bens, e não devem ser reduzidos a servidão”.

Neste texto, merece atenção especial a menção de índios e “das mais gentes”, que são os africanos.

Essa Bula de Paulo III teve grande efeito, tanto assim que a 30 de julho de 1609 El-Rey promulgou lei que abolia por completo a escravidão indígena: “Declaro todos os gentios daquelas partes do Brasil por livres, conforme o direito e seu nascimento natural, assim os que já foram batizados e reduzidos a nossa Santa fé católica, como os que ainda servirem como gentios, conforme a pessoas livres como são”.

4- Breve “Commissum Nobis” Papa Urbano VIII

Em 24 de abril de 1639, o Papa Urbano VIII (1623-1644) publicou o Breve “Commissum Nobis”, incutindo a liberdade dos índios da América. No seu Breve, o Papa ordenava, sob pena de excomunhão reservada ao Pontífice, que ninguém prendesse, vendesse, trocasse, doasse ou tratasse como cativos os índios da terra. Dispunha ainda que a ninguém seria lícito ensinar ou apregoar o aprisionamento dos mesmos. Por causa disso, revoltaram-se os colonos no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Santos e no Maranhão, o que ocasionou a perseguição e a expulsão dos Jesuítas dessas regiões, onde só puderam voltar tempos depois.

5- Junta em defesa dos índios – D. Pedro Leitão

O segundo bispo do Brasil, D. Pedro Leitão, assinou em 30 de de julho de 1566 na Bahia, com o Governador Mem de Sá e o Ouvidor Dr. Brás Fragoso, uma junta em defesa dos índios; defendia-os contra os abusos dos brancos e dava maior apoio aos aldeamentos instaurados pelos jesuítas.

6- Sermões do Padre Antônio Vieira

O famoso Pe. Antônio Vieira (1608-1697), por vezes considerado por maus intencionados como aliado dos senhores da terra contra os escravos, na verdade assumiu posição de censura aberta aos patrões. Disse ele:

“Saibam os pretos, e não duvidem, que a mesma Mãe de Deus é Mãe sua… porque num mesmo Espírito fomos batizados todos nós para sermos um mesmo corpo, ou sejamos judeus ou gentios, ou servos ou livres” (Sermão XIV).

“Nas outras terras, do que aram os homens e do que fiam e tecem mulheres se fazem os comércios: naquela (na África) o que geram os pais e o que criam a seus peitos as mães, é o que se vende e compra. Oh! trato desumano, em que a mercancia são homens! Oh! mercancia diabólica, em que os interesses se tiram das almas alheias e as riscos são das próprias! “ (Sermão XXVII).

7- Papa Gregório XVI

O Papa Gregório XVI (1831-1846) em 3 de dezembro de 1839 disse: “Admoestamos os fiéis para que se abstenham do desumano tráfico dos negros ou de quaisquer outros homens que sejam “.

8- Papa Leão XIII aos Bispos do Brasil

O Papa Leão XIII, disse na Carta “In Plurimis”, em 5 de maio de 1888 aos bispos do Brasil:

“E profundamente deplorável a miséria da escravidão a que desde muitos séculos está sujeita uma parte tão pequena da família humana”.

Fonte AQUI

A palavra “santo” vem do latim sanctus. Durante os primeiros séculos da Igreja, esse título foi dado gratuitamente a todos aqueles, principalmente mártires, que eram conhecidos publicamente por sua santidade.

Em 1588, a Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano foi oficialmente criada para ajudar a regulamentar este título e ser mais seletiva em relação ao processo de canonização formal.

Poucas pessoas tiveram tempo de analisar até mesmo esses vários séculos de santos e chegar a uma lista de santos oficialmente canonizados.

Mas, afinal, é possível saber quantos santos existem? Especialistas dizem que há entre 1.000 e 8.000 santos reconhecidos pela Igreja Católica. No entanto, isso pode não incluir o grande número de pessoas canonizadas nas últimas décadas.

Por exemplo, São João Paulo II canonizou 482 santos, o Papa Bento XVI canonizou 45 e o Papa Francisco, 893. Estes números são muitas vezes elevados devido às canonizações “massivas”, como a canonização de 800 mártires italianos pelo Papa Francisco em 2013.

Por outro lado, a maioria das pessoas concorda que o número de “santos” é impossível de calcular, pois o termo também pode se referir a todas as pessoas que estão no Céu.

Alguns estudiosos afirmam que houve pelo menos 100 bilhões de nascimentos desde o início da existência humana. Quantas dessas pessoas estão no Céu é uma questão de especulação, e nenhum de nós saberá definitivamente isso até o fim de nossas vidas na Terra.

O que importa é que todos são chamados à santidade e devem se esforçar para se tornarem santos. A santidade é alcançável para qualquer um que deseje um relacionamento íntimo com Jesus e possa ser alcançado em qualquer profissão ou vocação na terra.

Fonte: Aleteia

Embora o homem tenha desenvolvido modalidades esportivas com bola desde a antiguidade, parece que foi durante a Idade Média que o tênis surgiu. 

Segundo a tradição, a partir do século XI, os monges do Reino da França buscavam combater a ociosidade do tempo livre entre as orações e o trabalho e começaram a brincar com bolas improvisadas e enroladas, como as que fazemos com meias hoje em dia. Eles costumavam instalar uma corda para delimitar os dois campos (uma espécie de rede). 

Logo os cânones, sacerdotes e até os bispos se entregaram ao emocionante jogo. Diz-se que eles até tiravam o hábito para não atrapalhar os movimentos.

O novo esporte rapidamente atravessou os muros dos mosteiros e ganhou adeptos na França e, depois, na Inglaterra. Chamava-se “jogo da palma”, já que consistia em golpear a bola com a palma da mão. Entretanto, durante o Renascimento, a modalidade se desenvolveu. Foi quando surgiu a raquete (um termo de origem árabe, que se refere à palma da mão). Na época, ela era feita com um cano longo, uma corda de tripa de ovelha entrelaçada e bastões de madeira. 

Este antigo jogo de tênis foi dando origem ao esporte que conhecemos hoje. Quando o jogador sacava com a palma da mão, ele costumava gritar “Tenez!”. Em francês antigo, o imperativo do verbo “defender” é “Tenèts!”. 

Quando os ingleses tomaram o jogo emprestado, ouviam o comando “Tenèts!” e o adaptavam ao inglês “tenis”.  

Portanto, todos os entusiastas do tênis podem agradecer a esses monges engenhosos que, sem saber, deixaram-nos uma herança que não é somente espiritual. 

Cientistas da Universidade de Basileia (Suíça) identificaram a carta privada cristã mais antiga que se conhece, do início do século III, e nomeada “P.Bas. 2.43”, indica um comunicado divulgado pela instituição.

A carta, datada do ano 230 depois de Cristo, oferece informação sobre o mundo dos primeiros cristãos do Império Romano e é mais antiga do que todos os testemunhos documentais cristãos previamente conhecidos do Egipto-romano.

O texto inscrito em papiro revela que em princípios do século III os cristãos já se encontravam longe das cidades do interior egípcio, onde assumiram funções de liderança política e na sua vida quotidiana não se distinguiam no ambiente pagão.

Desta forma, a informação põe em causa a ideia que normalmente associa os primeiros cristãos do Império Romano a povos excêntricos e perseguidos.

O papiro, há mais de cem anos propriedade da Universidade de Basileia, inclui uma carta de Arrianus enviada ao seu irmão Paulus e “destaca-se”, segundo o comunicado da universidade, de outras cartas oriundas do Egito greco-romano pela sua fórmula de saudação final: “Rezo para que estejas bem, ´no Senhor´”, usando uma ortografia abreviada no final.

O uso desta abreviatura, estamos a falar do chamado ´nomen sacrum´, não deixa dúvidas sobre o sentimento cristão do autor”, disse Sabine Huebner, professora de História Antiga da Universidade de Basileia.

Paulo é um nome muito raro na altura e podemos deduzir que os pais mencionados na carta já eram cristãos e que decidiram dar ao filho o nome do apóstolo, 200 anos depois de Cristo”, explicou Huebner.

A carta proporciona também detalhes sobre as origens sociais desta família cristã primitiva: os dois irmãos eram filhos jovens educados da elite local, terratenentes e funcionários.

Não é surpreendente que os primeiros cristãos também tenham participado na vida quotidiana romana. E também usufruíram dos mesmos prazeres que os seus concidadãos não cristãos”, afirmou à agência Efe Sebastian Ristow, do Instituto Arqueológico da Universidade de Colonia (Alemanha).

O fato de apenas uma parte dos primeiros cristãos ter vivido de uma forma “verdadeiramente ascética” está documentado, acrescentou.

O papiro provém da povoação de Theadelphia (Egito) e pertence ao Heroninos, o maior arquivo de papiro da época romana.

A Universidade de Basileia foi uma das primeiras universidades de língua alemã e a primeira na Suíça alemã a criar uma coleção de papiros própria, no início do século XX.

Na altura, o estudo de textos em papiros era uma disciplina florescente e esperava-se ganhar com ela informações sobre a evolução do cristianismo primitivo.

Fonte: TVi 24

Neste domingo é o Domingo de Páscoa, o dia em que celebramos a Ressurreição do Senhor.

A questão é simples: houve um ponto na história em que Jesus Cristo estava morto e, em seguida, um ponto em que ele estava vivo novamente? SIM!

Sobre essa questão, a evidência é muito forte: Jesus literalmente ressuscitou dos mortos.

1. O argumento da fraqueza de Cristo

É importante observar o modo como a história é contada no Novo Testamento. Não se trata de um “mito da ressurreição”, como a história da Fênix.

Jesus não é apresentado como uma figura mítica todo-poderosa que triunfa sobre os inimigos. Ele parece, na verdade, fragilizado. “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice”, diz ele. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”, gritou.

Depois da crucificação, não foi a figura heróica de Jesus que brilhou entre seus seguidores, mas a fraqueza. Os Apóstolos só voltaram porque algo realmente extraordinário aconteceu: o líder derrotado deles ressuscitara dos mortos.

2. O argumento da fraqueza dos Apóstolos

Se os apóstolos estavam inventando uma religião, eles não o fizeram da maneira como a maioria dos fundadores de novas religiões fazem. Eles não pareciam grandiosos, nem dignos de respeito. Eles mais pareciam vítimas de um desastre.

Longe de nos mostrar uma comunidade tomada por uma exaltação mística, os Evangelhos nos apresentam discípulos desmoralizados (parecendo tristes) e assustados, diz o Catecismo. Eles não tinham acreditado nas santas mulheres que voltaram do sepulcro. ‘Quando Jesus se manifestou aos onze na tarde de Páscoa, ele censurou-lhes sua incredulidade e dureza de coração.

Se eles estavam fundando uma religião, eles estavam fazendo algo errado, pois estavam justamente dando às pessoas razões para não acreditar neles.

3. A transformação de Saulo

Além dos Doze, temos o caso de São Paulo. Ele passou de perseguidor zeloso a pregador zeloso depois de ver Cristo vivo. Esta transformação extraordinária – de alguém escandalizado com a mensagem cristã transformando-se em seu principal líder – só faz sentido tendo Cristo ressuscitado.

Paulo retorna à sua história pessoal sobre a ressurreição mais de uma vez, e até mesmo quando está sendo julgado. Isso alimenta sua fé; faz toda a diferença para ele. Ele até diz: Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vã e vã é nossa fé (1 Coríntios 15, 14).

Ele apostou tudo na ressurreição e nos convidou a fazer o mesmo.

4. Nenhum debate na Igreja Primitiva

A Igreja Primitiva debateu muitos tópicos, até mesmo a natureza da ressurreição, mas não o fato da ressurreição em si. Isso é um fato.

No relato de João, quando ele e Pedro entraram na tumba vazia, veem ali os lençóis do sepultamento, e o lenço que cobria a cabeça enrolado num lugar separado. Para João, essa visão demonstra que Jesus não fora levado embora, não tinha ressurgido como Lázaro. Algo novo acontecera. Diz o Evangelho: ele viu e acreditou.

5. A fé dos mártires

Os cristãos, desde os primeiros dias da Igreja até os nossos dias, estão dispostos a morrer por sua convicção de que Cristo ressuscitou dos mortos. Para eles, a ressurreição não é um sonho doce ao qual eles se entregam, mas uma dura realidade pela qual sofrem e morrem.

Ele foi verdadeiramente ressuscitado dentre os mortos, seu Pai o erguendo, assim como da mesma maneira seu Pai levantará aqueles que acreditarem nele por meio de Jesus Cristo, disse o mártir Inácio. Ele foi dilacerado por leões no ano 108 por acreditar nisso.

Aquele que o ressuscitou dentre os mortos também nos levantará, se fizermos a sua vontade, e andarmos em seus mandamentos, e amarmos o que ele amou, escreveu o mártir Policarpo. Ele foi queimado na fogueira em 155 por suas crenças.

6. Os diferentes relatos

Os escritores dos evangelhos incluíam diferentes detalhes e materiais de diferentes fontes – todos os quais mencionam o fato da ressurreição. Temos a história de Emaús, Tomé provando que Jesus ainda tinha feridas, a história de Maria Madalena e muito mais. Essas histórias atestam o mesmo fato da ressurreição.

Os céticos da Bíblia apontam as discrepâncias entre os vários relatos, enquanto os defensores da Bíblia mostram como eles podem coexistir.

O ponto mais importante é muitas vezes esquecido: a experiência de pessoas diferentes sobre o mesmo evento, não um esforço consciente de um grupo para inventar algo.

7. As testemunhas oculares

Em sua carta aos Coríntios, que muitos estudiosos datam de cerca de 53 d.C., São Paulo falou de como Cristo apareceu, vivo, a 500 pessoas de uma só vez. Se não fosse verdade, seria impossível fazer essa afirmação tão logo após o ocorrido.

Quando Paulo fala sobre a ressurreição outras vezes, há dois fatos que são importantes para ele: que o túmulo estava vazio e que Jesus apareceu para muitos. Ambos são argumentos convincentes pois, caso fossem falsos, seria fácil para o público desacreditar.

8. Relatos históricos não cristãos

Há, na verdade, um pouco de evidência sobre a existência de Jesus em fontes tão antigas como Tácito, Plínio o Jovem, Josefo, o Talmud Babilônico e o grego Luciano de Samosata. Todos eles mencionam vários aspectos da vida de Jesus.

Josefo, historiador judeu, escreveu uma história no ano 93 que menciona que Jesus foi crucificado e apareceu vivo depois para seus seguidores. Embora o texto seja questionado por alguns estudiosos, existem várias versões que retêm o fato essencial de Jesus morrer e, de alguma forma, ressurgir vivo.

Tácito também menciona Jesus, citando sua crucificação como tendo se provado incapaz de deter a “superstição” do cristianismo. O ponto assinalado por Tácito é importante. Afinal, por que a crucificação de Jesus não acabaria com seu movimento religioso? Porque Ele ressuscitou dos mortos.

9. Jesus não morreu novamente

As evidências não só confirmam a ressurreição de Jesus, mas também confirmam sua alegação final, que Ele é divino.

Outros retornaram da morte breve em nosso próprio tempo e da morte mais longa nas histórias do Novo Testamento. A ressurreição de Cristo é essencialmente diferente, diz o Catecismo. Em seu corpo ressurgido, Ele passa do estado de morte para outra vida além do tempo e do espaço. Na ressurreição de Jesus, seu corpo está cheio do poder do Espírito Santo: ele compartilha a vida divina em seu estado glorioso, pelo que São Paulo pode dizer que Cristo é “o homem celeste”.

Jesus ressuscitou para nunca mais morrer.

10. O surgimento de uma religião histórica

O cristianismo se espalhou e cresceu apesar da perseguição, não por causa do poder ou da personalidade dos Apóstolos ou das regalias da fé – os Apóstolos eram fracos e havia penalidades, não regalias – mas por causa da experiência da ressurreição dos primeiros cristãos.

O fato histórico da ressurreição de Cristo, em seu corpo glorificado, é o alicerce de toda dimensão da fé católica.

Algumas considerações:

  • Como poderíamos cada um de nós encontrar Jesus, embora não estivéssemos vivos quando ele andava pelas ruas da Palestina? Porque Ele ressuscitou dos mortos e vive hoje.
  • Como podemos ter nossos pecados perdoados na confissão? Porque depois da ressurreição Ele soprou sobre os Apóstolos e deu-lhes o poder de perdoar os pecados.
  • Por que temos esperança no Céu? Porque Jesus ressuscitou e o abriu para nós.

Na Páscoa não celebramos um mito ou um grande símbolo. Celebramos o evento histórico que é a base de toda a nossa esperança, alegria e felicidade.

Jesus Cristo ressuscitou verdadeiramente. Nossa fé não é em vão.

Autor Tom Hoopes

Jesus é Deus?

Você já encontrou uma pessoa que é o centro das atenções onde quer que vá? Alguma característica misteriosa e indefinível o distingue de todas as outras pessoas. Pois foi isso que aconteceu dois mil anos atrás com Jesus Cristo. Porém não foi simplesmente a personalidade de Jesus que cativou aqueles que o ouviam. Aqueles que puderem ouvir suas palavras e observar sua vida nos dizem que existia algo em Jesus de Nazaré que era diferente de todas as outras pessoas.

A única credencial de Jesus era ele mesmo. Ele nunca escreveu um livro, comandou um exército, ocupou um cargo político ou teve uma propriedade. Normalmente ele viajava se afastando somente alguns quilômetros do seu vilarejo, atraindo multidões impressionadas com suas palavras provocativas e seus feitos impressionantes.

Ainda assim, a magnitude de Jesus era óbvia para todos aqueles que o viram e ouviram. E enquanto a maioria das grandes personalidades históricas desaparece nos livros, Jesus ainda é o foco de milhares de livros e controvérsias sem paralelos na mídia. Grande parte dessas controvérsias envolvem as afirmações radicais que Jesus fez sobre si mesmo, afirmações que espantaram tanto seus seguidores quanto seus adversários.

Foram principalmente as afirmações únicas de Jesus que fizeram com que ele fosse considerado uma ameaça pelas autoridades romanas e pela hierarquia judaica. Embora fosse um estranho sem credenciais ou força política, em apenas três anos Jesus foi capaz de mudar a história dos mais de 20 séculos seguintes. Outros líderes morais e religiosos influenciaram a história, mas não como o filho de um carpinteiro desconhecido de Nazaré.

Qual era a diferença de Jesus Cristo? Ele era apenas um homem de grande valor ou era algo mais?

Essas perguntas nos levam ao cerne do que Jesus realmente era. Alguns acreditam que ele era simplesmente um grande professor de moral, já outros pensam que ele foi simplesmente o líder da maior religião do mundo. Porém muitos acreditam em algo muito maior. Os cristãos acreditam que Deus nos visitou em forma humana, e acreditam que há evidências que provam isso.

Após analisar com cuidado a vida e as palavras de Jesus, C.S. Lewis, antigo cético e professor de Cambridge, chegou a uma espantosa conclusão, que alterou o rumo de sua vida. Então quem é Jesus de verdade? Muitos dirão que Jesus foi um grande professor de moral. Ao analisarmos mais cuidadosamente a história do homem que causa mais controvérsias em todo o mundo, primeiramente devemos perguntar: será que Jesus foi simplesmente um grande professor de moral?

Grande professor de moral?

Mesmo os membros de outras religiões acreditam que Jesus foi um grande professor de moral. O líder indiano Mahatma Gandhi falava muito bem sobre a integridade e as palavras sábias de Jesus.[1] Da mesma forma, o estudioso judeu Joseph Klausner escreveu, “Admite-se mundialmente… que Cristo ensinou a ética mais pura e sublime… que joga nas sombras os preceitos e as máximas morais dos mais sábios homens da antiguidade.”[2]

O Sermão do Monte de Jesus foi considerado o maior de todos os ensinamentos sobre ética humana já feito por uma pessoa. De fato, muito do que conhecemos atualmente como “direitos iguais” é resultado dos ensinamentos de Jesus. O historicista Will Durant, que não é cristão, disse a respeito de Jesus: “Ele viveu e lutou persistentemente por ‘direitos iguais’, e nos tempos modernos teria sido mandado para a Sibéria. ‘O maior dentre vós será vosso servo’ é a inversão de toda a sabedoria política, de toda a sanidade.”[3]

Muitos, como Gandhi, tentaram separar os ensinamentos de Jesus sobre ética de suas afirmações a respeito de si mesmo, acreditando que ele era simplesmente um grande homem que ensinava grandes princípios morais. Essa foi a abordagem de um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos, o presidente Thomas Jefferson, que editou uma cópia do Novo Testamento retirando as partes que considerava que se referiam à divindade de Jesus e deixando as partes a respeito do ensinamento morais e éticos.[4] Jefferson carregava consigo essa versão editada do Novo Testamento, reverenciando Jesus como o maior professor de moral de todos os tempos.

De fato, as memoráveis palavras de Jefferson na Declaração de Independência tiveram como base os ensinamentos de Jesus de que toda pessoa é de imensa e igual importância perante Deus, independente de sexo, raça ou status social. O famoso documento diz: “Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis…”.

Mas Jefferson não respondeu uma pergunta: Se Jesus afirmou incorretamente ser Deus, ele não poderia ter sido um bom professor de moral. No entanto, Jesus de fato afirmou sua divindade? Antes de observarmos o que Jesus afirmou, precisamos analisar a possibilidade de ele ter sido simplesmente um grande líder religioso?

Grande líder religioso?

Surpreendentemente, Jesus jamais afirmou ser um líder religioso. Ele nunca se envolveu com políticas religiosas ou promoveu agressivamente suas causas, além de atuar quase sempre fora de locais religiosos.

Ao comparar Jesus com outros grandes líderes religiosos, uma notável distinção aparece. Ravi Zacharias, que cresceu na cultura hindu, estudou religiões do mundo todo e notou uma diferença fundamental entre Jesus Cristo e os criadores de outras grandes religiões. “Em todos esses, existe uma instrução, um modo de viver. Não é Zaratustra quem você consulta, é Zaratustra quem você escuta. Não é Buda que o liberta, são as Nobres Verdades que o instruem. Não é Maomé que o transforma, é a beleza do Corão que o lisonjeia. No entanto, Jesus são somente ensinou ou expôs sua mensagem. Ele era a sua própria mensagem”.[5]

A verdade na afirmação de Zacharias é ressaltada pelas diversas vezes nos Evangelhos em que os ensinamentos de Jesus foram simplesmente “Venha a mim”, “Siga-me” ou “Obedeça-me”. Além disso, Jesus deixou claro que sua principal missão era perdoar os pecados, algo que somente Deus poderia fazer.

Em As maiores religiões do mundo, Huston Smith apontou: “Somente duas pessoas surpreenderam tanto seus contemporâneos a ponto de provocarem a pergunta ‘O que é ele?’ em vez de ‘Quem é ele?’. Essas duas pessoas foram Jesus e Buda. As respostas de Jesus e Buda para essa pergunta foram exatamente opostas. Buda disse claramente que ele era um simples mortal, e não um deus, quase que como se estivesse prevendo futuras tentativas de adoração. Jesus, por outro lado, afirmou… ser divino.”[6]

E isso nos leva à questão do que Jesus realmente afirmou sobre si mesmo: Jesus afirmou ser divino?

Jesus afirmou ser Deus?

Então o que convence muitos estudiosos de que Jesus afirmou ser Deus? O autor John Piper explica que Jesus reivindicou poderes que pertenciam exclusivamente a Deus.

“… os amigos e inimigos de Jesus ficavam espantados constantemente com suas palavras e ações. Ao andar pelas estradas, aparentando ser uma pessoa qualquer, ele virava e dizia coisas como “Antes de Abraão nascer, Eu Sou” ou “Quem me vê, vê o Pai”. Ou, com muita calma, depois de ser acusado de blasfêmia, ele dizia: ‘O Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados’. Para os mortos ele simplesmente dizia ‘Apareçam’ ou ‘Ergam-se’. E eles obedeciam. Para as tempestades ele dizia ‘Acalmem-se’. E para um pedaço de pão ele dizia ‘Transforme-se em mil refeições’. E tudo acontecia imediatamente”.[7]

Mas o que Jesus realmente queria dizer com tais afirmações? É possível que Jesus tenha sido meramente um profeta como Moisés, Elias ou Daniel? Mesmo uma leitura superficial dos Evangelhos nos mostra que Jesus afirmou ser mais do que um profeta. Nenhum outro profeta fez afirmações desse tipo sobre si mesmo, de fato nenhum outro profeta jamais se colocou no lugar de Deus.

Alguns dizem que Jesus jamais disse explicitamente “Eu sou Deus”. É verdade que ele jamais disse exatamente as palavras “Eu sou Deus”. No entanto, Jesus também nunca disse explicitamente “Eu sou um homem” ou “Eu sou um profeta”. Ainda assim, Jesus foi sem dúvida humano, e seus seguidores o consideravam um profeta como Moisés ou Elias. Assim, não podemos rejeitar o fato de que Jesus era uma divindade somente pelo fato dele não ter dito exatamente essas palavras, assim como não podemos dizer que ele não era um profeta.

De fato, as afirmações de Jesus sobre si mesmo contradizem a noção de que ele era simplesmente um grande homem ou um profeta. Em mais de uma ocasião, Jesus chamou a si mesmo de Filho de Deus. Quando questionado se acreditava na possibilidade de Jesus ter sido o Filho de Deus, o vocalista da banda U2, Bono, respondeu:

“Não, não é improvável para mim. Veja bem, a resposta secular para a história de Cristo é sempre esta: ele era um grande profeta, claramente uma pessoa muito interessante e com muitas coisas a dizer, assim como outros grandes profetas como Elias, Maomé, Buda ou Confúcio. Porém na verdade Cristo não deixava você fazer isso. Ele não o isentava das responsabilidades. Cristo dizia: ‘Não, não estou dizendo que sou um professor, não me chame de professor. Não estou dizendo que sou um profeta. … Estou dizendo que sou a encarnação de Deus’. E as pessoas dizem: Não, não, por favor, seja apenas um profeta. Um profeta nós podemos aceitar.”[8]

Antes de analisarmos as afirmações de Jesus, é importante entendermos que essas afirmações foram feitas no contexto da crença judaica em um único Deus (monoteísmo). Nenhum Judeu fiel acreditaria em mais de um único Deus. E Jesus acreditava no Deus único, orando para seu Pai como “o único Deus verdadeiro”.[9]

Mas na mesma oração, Jesus falou sobre ter sempre existido com seu Pai. E quando Filipe pediu a Jesus para que ele lhe mostrasse o Pai, Jesus disse: “Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai.”[10] Assim a pergunta é: “Jesus afirmava ser o Deus hebraico que criou o universo?

Jesus afirmou ser o Deus de Abraão e Moisés?

Jesus continuamente fazia referência a si mesmo de formas que confundiam seus ouvintes. Como aponta Piper, Jesus fez uma afirmação audaciosa, “Antes de Abraão nascer, EU SOU.”[11] Ele falou a Marta e a outros ao seu redor: “EU SOU a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá.”[12] Da mesma forma, Jesus fazia afirmações como, “EU SOU a luz do mundo”[13], “EU SOU o único caminho para Deus”[14]ou “EU SOU a ‘verdade’[15]. Essas e muitas outras de suas afirmações começavam coma as palavras sagradas para Deus, “EU SOU” (ego eimi).[16] O que Jesus quis dizer com tais afirmações e qual é a importância do termo “EU SOU”?

Mais uma vez, precisamos voltar ao contexto. Nas Escrituras Hebraicas, quando Moisés perguntou a Deus Seu nome na sarça ardente, Deus respondeu: “EU SOU”. Ele estava revelando a Moisés que Ele era o único Deus atemporal e que sempre existiu. Incrivelmente, Jesus estava usando essas palavras sagradas para descrever a si mesmo. A questão é: “Por que”?

Desde os tempos de Moisés, nenhum praticante do judaísmo jamais se referiria a si mesmo ou a qualquer outra pessoa usando “EU SOU”. Com resultado, as afirmações de “EU SOU” de Jesus enfurecerem os líderes judaicos. Certa vez, por exemplo, alguns líderes explicaram a Jesus por que estavam tentando matá-lo: “Porque você é um simples homem e se apresenta como Deus”.[17]

O uso do nome de Deus por parte de Jesus deixou os líderes religiosos muito enfurecidos. A questão é que esses estudiosos do Antigo Testamento sabiam exatamente o que ele estava dizendo: ele afirmava ser Deus, o Criador do universo. Somente essa afirmação poderia ter resultado na acusação de blasfêmia. Ao ler o texto, é claro entender que Jesus afirmava ser Deus, não simplesmente por suas palavras, mas também pelas reações a essas palavras.

C.S. Lewis inicialmente considerava Jesus um mito. Porém esse gênio da literatura, que conheci os mitos muito bem, chegou à conclusão de que Jesus tinha de ter sido uma pessoa real. Além disso, conforme Lewis investigava as evidências sobre Jesus, ele se convenceu que Jesus não somente era real, mas também era diferente de qualquer outro homem da história. Lewis escreveu:

“E aí que vem o verdadeiro choque. Entre esses judeus, de repente surge um homem que começa a falar como se Ele fosse Deus. Ele diz perdoar os pecados. Ele diz que Ele sempre existiu. Ele diz que Ele está vindo para julgar o mundo no final dos tempos”.[18]

Para Lewis, as afirmações de Jesus eram simplesmente muito radicais e profundas para terem sido feitas por um simples professor ou líder religioso. (Para um exame mais profundo da afirmação de Jesus sobre a divindade, veja “Jesus afirmou ser Deus?”)

Que tipo de Deus?

Alguns dizem que Jesus afirmava ser apenas uma parte de Deus. Porém a ideia de que todos nós fazemos parte de Deus e de que dentro de nós está a semente da divindade simplesmente não é um sentido possível para as palavras e ações de Jesus. Tais pensamentos são revisionistas e não condizem com seus ensinamentos, suas crenças e com o entendimento de seus ensinamentos por parte de seus discípulos.

Jesus ensinou que ele era Deus do modo que os judeus entendiam Deus e que as Escrituras Hebraicas retratavam Deus, e não do modo que o movimento da Nova Era entendia Deus. Nem Jesus nem seu público conheciam Star Wars, então quando falavam de Deus, eles não estavam falando de forças cósmicas. Trata-se simplesmente de uma má história para redefinir o que Jesus queria dizer com o conceito de Deus.

Lewis explica:

Vamos esclarecer isso. Entre panteístas, como os indianos, qualquer pessoa poderia dizer que é parte de Deus, ou um com Deus… Porém este homem, por ser judeu, não poderia dizer que era esse tipo de Deus. Deus, em seu idioma, significava Estar fora do mundo, aquele que criou o mundo e era infinitamente diferente de qualquer outra coisa. Ao entender isso, você verá que o que esse homem disse, de forma muito simples, foi a coisa mais chocante jamais dita por um homem.[19]

Com certeza existem aqueles que aceitam Jesus como um grande professor, porém ainda recusam chamá-lo de Deus. Como deísta, sabemos que Thomas Jefferson não tinha problemas para aceitar os ensinamentos morais e éticos de Jesus e ao mesmo tempo rejeitar sua divindade.[20] Porém como já dito, se Jesus não era quem afirmava ser, então é preciso analisar outras possibilidades, nenhuma das quais faria dele um grande professor moral. Lewis disse: “Estou tentando impedir que qualquer um diga a coisa mais insensata, que as pessoas dizem frequentemente, sobre Ele: ‘Aceito Jesus como um grande professor moral, porém não aceito as afirmações de que ele era Deus’. É exatamente isso que não podemos dizer”.[21]

Em sua missão em busca da verdade, Lewis sabia que não era possível aceitar as duas identidades de Jesus. Ou Jesus era quem ele afirmava ser, a encarnação de Deus, ou suas afirmações eram falas. Se fossem falsas, Jesus não poderia ter sido um grande professor moral. Ele estaria mentindo de propósito ou teria sido um lunático com um complexo de Deus.

Jesus poderia estar mentindo?

Mesmos os maiores críticos de Jesus raramente o chamaram de mentiroso. Essa classificação não é compatível com os grandes ensinamentos sobre moral e ética de Jesus. Mas se Jesus não era quem afirmava ser, devemos pensar na possibilidade de que ele estava intencionalmente enganando a todos.

Uma das mais conhecidas e influentes obras políticas de todos os tempos foi escrita por Nicolau Maquiavel em 1532. Eu seu clássico, O príncipe, Maquiavel exalta o poder, o sucesso, a imagem e a eficiência acima da lealdade, da fé e da honestidade. De acordo com Maquiavel, não há problemas em mentir quando isso visa um fim político.

Poderia Jesus Cristo ter construído todo seu império com base em uma mentira simplesmente para obter poder, fama ou sucesso? De fato, os inimigos judeus de Jesus constantemente tentavam o expor como uma fraude ou um mentiroso. Eles o bombardeavam de perguntas, tentando fazer com que ele cometesse erros ou se contradissesse. Ainda assim, as respostas de Jesus eram de uma incrível consistência.

Assim, a questão que temos que fazer é: o que poderia motivar Jesus a tornar toda sua vida uma mentira? Ele ensinava que Deus não aceitava mentiras e hipocrisia, assim ele não poderia estar fazendo isso para agradar ao seu Pai. Ele certamente não mentiu em benefício de seus seguidores, uma vez todos, com exceção de um, foram martirizados em vez de renunciar seu Senhor (consulte “Os apóstolos acreditavam que Jesus era Deus?”  Assim, nos restam apenas duas possíveis explicações, ambas as quais são problemáticas.

Benefício

Muitas pessoas mentiram em prol de ganhos pessoais. De fato, a motivação da maioria das mentiras é o benefício que as pessoas veem nelas. O que Jesus poderia querer ganhar ao mentir sobre sua identidade? A resposta mais óbvia seria o poder. Se as pessoas acreditassem que ele era Deus, ele teria um poder imenso (é por isso que muitos líderes antigos, como os imperadores romanos, afirmavam ser de origem divina).

O problema dessa explicação é que Jesus evitava qualquer tentativa de ser colocado no poder, em vez de castigar aqueles que abusam de tal poder e vivem suas vidas em busca dele. Além disso, ele estendia suas mãos para os rejeitados (prostitutas e leprosos), aqueles sem poder, criando uma rede de pessoas cuja influência era menor do que zero. De uma maneira que só pode ser descrita como bizarra, tudo aquilo que Jesus fez e disse ia em direção complemente oposta ao poder.

Se a motivação de Jesus era o poder, ele aparentemente teria evitado a cruz a todo custo. Ainda assim, em diversas ocasiões, ele disse a seus discípulos que a cruz era seu destino e sua missão. Como morrer em uma cruz romana poderia conceder poder a alguém?

A morte, obviamente, trás a devida atenção a qualquer coisa. E enquanto muitos mártires morreram em prol das causas que acreditavam, poucos estiverem dispostos a morrer por mentiras conhecidas. Com certeza todas as esperanças de ganhos pessoais de Jesus teriam acabado na cruz. Ainda assim, até seu último suspiro, ele não abriu mão de afirmar que era o único Filho de Deus. O estudioso do Novo Testamente, J. I. Packer, aponta que este título expressa a divindade pessoal de Jesus.[22]

Um legado

Então se Jesus não mentia em benefício próprio, talvez suas afirmações radicais fossem falsas a fim de deixar um legado. Porém a possibilidade de ser espancado e pregado em uma cruz teria rapidamente acabado com o entusiasmo da grande maioria das pessoas.

Aqui está outro fato assombroso. Se Jesus tivesse simplesmente rejeitado a afirmação de ser Filho de Deus, ele jamais teria sido condenado. Foi sua afirmação de ser Deus e sua relutância a rejeitá-la que fizeram com que ele fosse crucificado.

Se aumentar sua credibilidade e reputação histórica foi o que motivou Jesus a mentir, é preciso explicar como um filho de carpinteiro, proveniente de um pobre vilarejo da Judéia, pode ter previsto os eventos futuros que tornariam seu nome tão conhecido e importante no mundo todo. Como ele poderia saber que sua mensagem sobreviveria? Os discípulos de Jesus tinham fugido e Pedro o negou, o que não é exatamente a melhor ideia para deixar um legado religioso.

Os historicistas acreditam que Jesus mentiu? Estudiosos analisaram a vida e as palavras de Jesus para descobrir se há qualquer evidência de falhas em sua personalidade moral. De fato, mesmo os maiores céticos ficam espantados com a pureza ética e moral de Jesus.

De acordo com o historicista Philip Schaff, não há evidências, tanto na história da igreja quanto na história secular, de que Jesus tenha mentido sobre qualquer coisa. Schaff argumentou: “Como, em nome da lógica, senso comum e experiência, um homem enganador, egoísta e depravado poderia ter inventado e mantido de forma consistente, do início ao fim, a personalidade mais pura e nobre da história, com o mais perfeito ar de verdade e realidade?”[23]

Aceitar a possibilidade de que Jesus era um mentiroso iria em direção oposta a tudo aquilo em prol de que Jesus ensinou, viveu e morreu. Para a maioria dos estudiosos, essa opção simplesmente não faz sentido. Ainda assim, para negar as afirmações de Jesus, é preciso uma explicação. E se as afirmações de Jesus não são verdadeiras, e ele não estava mentindo, a única opção restante é de que ele estava enganando a si mesmo.

Jesus poderia estar enganando a si mesmo?

Albert Schweitzer, ganhador do Prêmio Nobel em 1952 por seus trabalhos humanitários, tinha suas próprias ideias sobre Jesus. Schweitzer chegou à conclusão de que a insanidade era a base das afirmações de Jesus de ser Deus. Em outras palavras, Jesus estava errado em suas afirmações, porém ele não mentiu intencionalmente. De acordo a teoria de Schweitzer, Jesus estava iludido de forma a acreditar que ele era o Messias.

Lewis avaliou cuidadosamente essa possibilidade. Ele deduziu que se as afirmações de Jesus não fossem verdadeiras, então ele era louco. Lewis argumenta que alguém que afirmou ser Deus não seria um grande professor moral. “Ou ele seria um lunático do mesmo nível de uma pessoa que diz ser um ovo cozido ou seria o Diabo do Inferno”.[24]

A maioria das pessoas que estudou a vida e as palavras de Jesus o reconhece como uma pessoa extremamente racional. Embora sua vida tenha sido permeada de imoralidade e ceticismo pessoal, o renomado filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712–78) reconheceu a personalidade elevada e a presença de espírito de Jesus, declarando: “Quando Platão descreveu seu homem justo imaginário… ele descrever exatamente a personalidade de Cristo. … Se a vida e a morte de Sócrates são as de um filósofo, a vida e a morte de Jesus Cristo são as de um Deus”.[25]

Bono conclui que “louco” é a última coisa que alguém pode pensar de Jesus.

“Assim o que lhe resta é que Cristo era quem Ele dizia ser ou era totalmente louco. E quando digo louco, digo louco como Charles Manson… Eu não estou brincando. A ideia de que toda a história da civilização em mais da metade do planeta foi completamente alterada por um lunático, para mim isso não pode ser verdade…”[26]

Então, Jesus era um mentiroso ou um lunático, ou era o Filho de Deus? Será que Jefferson estava certo ao classificar Jesus como “somente um professor moral”, negando sua divindade? É interessante que o público de Jesus, tanto crentes como inimigos, nunca o consideraram como um simples professor moral. Jesus causou três reações principais nas pessoas com que teve contato: ódio, terror ou adoração.

As afirmações de Jesus Cristo nos forçam a escolher. Como disse Lewis, nós não podemos categorizar Jesus simplesmente como um grande líder religioso ou um grande professor moral. O ex-cético nos desafia a nos decidir a respeito de Jesus, dizendo:

“Você precisa se decidir. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou é um louco ao algo ainda pior. Você pode calá-lo por Ele ser um louco, você pode cuspir Nele e matá-lo como um demônio ou ajoelhar-se perante Ele e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas não vamos considerar besteiras arrogantes dizendo que Ele era um grande professor moral. Ele não nos deu essa possibilidade. Não era esse seu objetivo”.[27]

Em Cristianismo Puro e Simples, Lewis explora diversas possibilidades a respeito da identidade de Jesus, concluindo que ele é exatamente quem ele afirmava ser. Sua análise cuidadosa da vida e das palavras de Jesus levou esse grande gênio da literatura a renunciar seu o ateísmo e se tornar um Cristão comprometido.

A grande questão da história da humanidade é “quem é o verdadeiro Jesus Cristo”? Bono, Lewis e muitos outros chegaram à conclusão de que Deus visitou a terra em forma humana. Mas se isso é verdade, nos esperaríamos que ele estivesse vivo atualmente. E é exatamente isso seus seguidores acreditam.

Fonte original AQUI

Notas finais

1.  Quoted in Robert Elsberg, ed., A Critique of Gandhi on Christianity (New York: Orbis Books, 1991), 26 & 27.

2.  Joseph Klausner, Jesus of Nazareth (New York: The Macmillan Co., 1946), 43, 44.

3.  Will Durant, The Story of Philosophy (New York: Washington Square, 1961), 428.

4.  Linda Kulman and Jay Tolson, “The Jesus Code,” U. S. News & World Report, December 22, 2003, 1.

5.  Ravi Zacharias, Jesus among Other Gods (Nashville, TN: Word, 2000), 89.

6.  Peter Kreeft and Ronald K. Tacelli, Handbook of Christian Apologetics (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1994), 150.

7.  John Piper, The Pleasures of God (Sisters, OR: Multnomah, 2000), 35.

8.  Bono, quoted in, Timothy Keller, The Reason for God (New York: Penguin Group Publishers, 2008), 229.

9.  John 17:3.

10. John 14:9

11. John 8:58.

12. John 11:25

13. John 8:12

14. John 14:6

15. Ibid.

16. For the meaning of “ego eimi.” See, http://www.y-jesus.com/jesus_believe_god_2.php

17. John 10:33

18. C. S. Lewis, Mere Christianity (San Francisco: Harper, 2001), 51.

19. Lewis, Ibid.

20. A Deist is someone who believes in a standoffish God—a deity who created the world and then lets it run according to pre-established laws. Deism was a fad among intellectuals around the time of America’s independence, and Jefferson bought into it.

21. Lewis, 52.

22. J. I. Packer, Knowing God (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1993), 57.

23. Philip Schaff, The Person of Christ: The Miracle of History (1913), 94, 95.

24. Lewis, 52.

25. Schaff, 98, 99.

26. Bono, Ibid.

27. Lewis, 52.

Compreender alguns dos principais dados históricos que cercam a ressurreição fornecerá base para este evento cristão divisor de águas. O Novo Testamento não se esquiva de apresentar vários detalhes importantes.

Esses fatos bem evidenciados são tão fortemente atestados que os estudiosos crentes e não-crentes são virtualmente unânimes em reconhecê-los e aceitá-los. Devido a limitações de espaço, poderemos apresentar brevemente apenas algumas dessas considerações.

Primeiro

A morte de Jesus por crucificação é um pré-requisito para qualquer consideração da ressurreição de Jesus. A crucificação é facilmente um dos fatos históricos mais seguros do Novo Testamento. Muitas razões explicam a unanimidade acadêmica sobre este ponto.

A crucificação de Jesus é relatada em uma infinidade de fontes independentes de autores cristãos e não-cristãos. Estudiosos, incluindo os céticos, contaram aproximadamente uma dúzia de fontes relevantes que atestam a ocorrência deste evento.

Além disso, a crucificação não é algo que os primeiros crentes teriam inventado. Em 1 Coríntios 1:23, Paulo destaca este mesmo ponto, reconhecendo que este evento é uma pedra de tropeço para os judeus e loucura para os gentios [não judeus].

De acordo com Deuteronômio 21:23 (cf. Gl 3:13), os judeus acreditavam que aqueles que foram pendurados em uma árvore (incluindo vítimas de crucificação) foram amaldiçoados por Deus. Para os gentios, era loucura adorar um homem que havia sofrido uma morte tão desonrosa, normalmente reservada aos piores criminosos.

Então olhe para a cena em si. David Strauss, um comentarista radical liberal da Alemanha do século XIX, argumentou que seria quase impensável alguém crer que Jesus poderia ter sobrevivido ao processo de crucificação, ressuscitado na tumba sem assistência médica ou alimento, e rolado a pesada pedra da entrada do túmulo – tudo depois de ter sido severamente espancado.

Então Ele teria que andar quilômetros em pés que tinham acabado de ser perfurados com pregos, para não mencionar a ferida do lado dele [costela], administrada [por uma lança] para garantir a sua morte.

Como estaria Jesus quando os discípulos o viram pela primeira vez? Em Sua necessidade desesperada de atenção médica, incluindo a limpeza de Suas feridas, Ele provavelmente estaria mancando, parecendo pálido, doentio, suando fortemente, assim como caído e agarrando Seu lado ferido.

Ele provavelmente teria reaberto pelo menos algumas das feridas que então teriam sangrado novamente através de Suas vestes. Nesta forma horrível, Ele poderia ter convencido os discípulos que Ele estava apenas um pouco vivo, mas definitivamente não que Ele tivesse conquistado o túmulo e estivesse vivo para sempre em um corpo recém-ressuscitado!

Em suma, Ele estaria vivo, mas absolutamente não como o Príncipe da Vida ressuscitado! Se esse cenário de desmaio tivesse ocorrido, os discípulos teriam mais provavelmente procurado um médico para Jesus, em vez de proclamarem a Ele como o Senhor ressurreto!

Para resumir essa distinção crucial: se Jesus estivesse pouco vivo, qualquer um poderia dizer rapidamente que Ele não havia sido ressuscitado com sucesso. Sem a ressurreição, não haveria cristianismo. Assim, a hipótese do desmaio ou da aparente morte nunca teria dado origem ao ensino da ressurreição.

Por outro lado, Jesus deve ter realmente morrido, pois o cristianismo não teria nascido da hipótese da aparente morte.

Segundo

Existem numerosos textos independentes que atestam as experiências dos testemunhos oculares dos discípulos .Neste artigo, nos limitaremos ao mais importante: 1 Coríntios 15: 3. Paulo começa este famoso capítulo sobre a ressurreição, lembrando os coríntios do que ele “entregou” a eles como “primeira importância” durante sua visita no início dos anos 50 dC.

A maioria dos estudiosos acredita que Paulo recita aqui um credo ou tradição cristã primitiva que começa com o verso 3. Ele fornece uma lista de alguns dos que viram Jesus: Pedro, os doze, os quinhentos, Tiago, o irmão de Jesus e todos os apóstolos.

Terceiro

Os estudiosos concordam amplamente que Paulo recebeu essa tradição durante sua viagem a Jerusalém apenas três anos após sua conversão. Em Gálatas 1: 18-19, Paulo descreve o encontro com o irmão de Pedro e Jesus, Tiago (ambos mencionados no credo).

Os estudiosos também concordam que essa tradição quase certamente existia antes da conversão de Paulo. Como tal, datando a aparição de Paulo na estrada de Damasco para cerca de dois anos depois de Jesus ter sido crucificado, a tradição seria ainda mais cedo, com a recepção de Paulo sendo geralmente datada dentro de cinco anos após a morte de Jesus.

Esta é uma incrível fonte de informação logo após o evento em si, atestando as experiências de testemunhas oculares, tanto por indivíduos como por grupos, do Jesus ressuscitado.

Em quarto lugar 

Tiago, o irmão cético de Jesus, foi convertido depois que ele teve certeza de que ele também havia visto o Jesus ressuscitado. Há várias razões para a aceitação por parte dos acadêmicos deste evento.

O ceticismo de Tiago é atestado por mais de uma fonte independente de evangelho, em Marcos (3:21; 6: 2–6) e novamente em João 7: 5. Além disso, o evangelho de Marcos é geralmente visto como o mais antigo. O fato de que os próprios irmãos de Jesus não terem acreditado inicialmente nEle é obviamente outro fato embaraçoso, mas foi incluído porque foi historicamente preciso.

Dada a proeminência de Tiago na igreja primitiva, é improvável que seu ceticismo fosse inventado do zero, devido à sua natureza altamente contraproducente. Não obstante, Tiago se tornou um “pilar” da igreja primitiva em Jerusalém, e Paulo registra a aparição de Jesus em 1 Coríntios 15: 7.

O estudioso crítico Reginald H. Fuller achou os argumentos em torno da conversão de Tiago tão fortes que escreveu: “Pode-se dizer que se não houvesse registro de uma aparição a Tiago, o irmão do Senhor no Novo Testamento, teríamos que inventar um para dar conta da sua conversão pós-ressurreição”.

Quinto

O precursor da igreja primitiva, Paulo, também se converteu quando estava convencido de que o Jesus ressuscitado havia aparecido para ele. Paulo nos fornece seus próprios relatos de sua conversão, como ele foi transformado de um aterrorizador da igreja para ser um seguidor comprometido de Jesus e mártir por sua fé (1 Cor. 9: 1; 15: 8-10; Gl. 1:12 –16, 22–23, Fp 3: 6–7).

Além dos próprios escritos de Paulo, Atos relata sua conversão três vezes distintas (Atos 9: 1–19; 22: 3–16; 26: 9–20). Isso significa que o relato da conversão de Paulo vem de outra testemunha ocular, bem como de uma fonte inicial e independente.

Além disso, tanto Paulo como Atos descrevem as várias perseguições que ele subsequentemente sofreu como resultado de sua conversão (por exemplo, 2 Coríntios 11: 23-29; Filipenses 1: 12-14; Atos 13:50).

Por essas razões, entre outras, a esmagadora maioria dos acadêmicos de diversas origens teológicas pensa que esses cinco fatos são historicamente seguros. Teorias naturalistas, como a aparente morte de Jesus, falharam consistentemente em explicar adequadamente esses pontos.

A ressurreição de Jesus é apoiada por fatos excepcionalmente fortes, e isso deve encorajar os cristãos a crescerem e terem ainda mais confiança em sua fé.

Por: Benjamin C. Shaw
C. S Lewis Institute

A Catedral de Notre Dame por inteiro era uma obra de arte em si mesma: seu estilo gótico, vitrais magníficos, gárgulas, órgão imponente e outras obras de arte e esculturas dentro e fora da igreja.

Contudo, os católicos de todo o mundo estavam especialmente preocupados com as três relíquias de Cristo que eram mantidas na catedral entre seus tesouros, e que estão especialmente em nossos corações e mentes durante a Semana Santa: a coroa de espinhos, um dos cravos com os quais Cristo fora crucificado, e um pequeno pedaço da cruz do Senhor no Calvário.

Embora as relíquias dos santos sejam altamente valorizadas, as relíquias de Jesus Cristo são as mais importantes para nós como cristãos, particularmente porque são peças de sua Paixão.

A “boa notícia” em meio à dor desta tragédia é que tanto as relíquias quanto a maioria das obras de arte da catedral estão seguras (ironicamente, ontem, 15 de abril, foi também o dia mundial da arte), incluindo as famosas estátuas dos 12 apóstolos da fachada, e as gárgulas, que haviam sido retiradas da catedral na semana passada como parte de um processo de restauração que estava em andamento.

A túnica do rei São Luís IX, outro tesouro, também está segura. São Luís foi o último monarca europeu a liderar uma Cruzada para recuperar Jerusalém, e conseguiu salvar vários tesouros religiosos da Terra Santa no século XIII.

A coroa de espinhos passou por várias mãos antes de chegar à monarquia francesa. Luís IX construiu a Sainte Chapelle no século XIII como local para alojar a relíquia para a veneração dos fiéis, a pouca distância da Catedral de Notre Dame.

Durante a Revolução Francesa, a relíquia foi mantida na Biblioteca Nacional; finalmente chegou a Notre Dame em 1801. Ela é mantida em um tubo de cristal circular, e atualmente está sem seus espinhos, porque eles foram quebrados e distribuídos para várias igrejas (dois deles são encontrados na Basílica de São Pedro, em Roma).

O cravo veio do Santo Sepulcro, e de acordo com relatos históricos, alguns cristãos em Jerusalém o deram ao imperador Carlos Magno no ano de 799.

Estas relíquias de Cristo geralmente não estão à vista dos turistas, mas a coroa é exibida para os fiéis em Paris na primeira sexta-feira de cada mês às 15 horas, momento da morte de Cristo, e na Sexta-Feira Santa por um período mais longo.

Este ano será diferente. Ainda não se sabe onde essas relíquias estarão localizadas enquanto Notre Dame for reconstruída, e não foi anunciado se elas serão exibidas em outra igreja nesta Sexta-feira Santa.

Ao padre Fournier, capelão dos bombeiros de Paris, é o que temos de agradecer por ter entrado na catedral em chamas para salvar a coroa de espinhos e o Santíssimo Sacramento, arriscando a própria vida para salvar essas relíquias icônicas e esse inestimável tesouro da nossa religião.

A foto do herói:

Fonte: Aleteia

O mundo inteiro voltou seus olhos para a França esta semana. Uma catedral pegou fogo! Toda a preocupação humanista que se viu na mídia secular não é capaz de atingir a dimensão deste incidente; é preciso olhá-lo com os olhos da Fé. Porque uma catedral não é um monumento histórico: é um símbolo sagrado, é uma síntese da humanidade, é algo tão caro ao mundo que conhecemos que se pode até mesmo dizer — como ouvimos nos últimos dias — que uma catedral é um arquétipo da própria civilização.

Na segunda-feira santa, à tarde, caíram-me como uma bomba as notícias sobre o incêndio de Notre-Dame. Nas imagens que me chegavam pela internet eu não via apenas um prédio antigo que queimava: era toda a civilização em chamas, abandonada ao descaso, caindo aos pedaços, desmoronando sob os nossos olhares impotentes. O primeiro sentimento, quase imediato, quase instintivo, foi, assim, o de tristeza. Por tudo o que perdemos, pela tragédia que se abateu sobre nós.

À tristeza seguiu-se — confesso-o embaraçado — o desespero. Primeiro porque parecia que tudo iria cair, que o fogo iria destruir tudo, que a incompetência e a impiedade dos homens iriam colocar tudo a perder. O tempo passava e a catedral queimava e parecia que não iria restar pedra sobre pedra; quando a flecha da torre desmoronou — e nós o vimos quase ao vivo pela internet –, parecia que, com ela, todo o edifício viria abaixo.

E, depois, havia o sentido simbólico por trás de tudo, maior, muito maior do que o telhado centenário que ruía: era a própria Fé Católica que se consumia e virava cinzas no coração da Filha Primogênita da Igreja. Era como se os Céus nos estivessem mandando um recado, e a destruição de Notre-Dame fosse uma terrível e providencial metáfora da destruição do Catolicismo no mundo.

Até porque Notre-Dame era, desde há muito, uma sobrevivente. Olhávamos para aquele edifício, ainda que não o soubéssemos verbalizar, com um misto de reverência e admiração: no contraste entre a Paris medieval e a França moderna, qualquer um podia perceber que aquele mundo não mais existia. Notre-Dame estava lá, encrustada no meio da cidade, no coração da Île-de-France, inundada de turistas, como uma testemunha silenciosa de um tempo áureo há muito perdido nas brumas da História. Por aqui passou uma raça de homens superiores, a velha catedral nos dizia, e os seus arcos e ogivas vertiginosos se impunham ao homem moderno como vestígios de um tempo de glória. E quando os católicos já há muito se haviam calado, aquelas pedras medievais permaneciam ecoando ao mundo as glórias do Deus Altíssimo.

Como não enxergar na queda da catedral a mais perfeita e lógica decorrência natural do abandono da Fé nas almas?

E, no entanto, a vigília espiritual em que imediatamente nos pusemos fez aquele desespero arrefecer. O passar das horas nos deu notícia de que nem tudo caiu na Sé de Paris; poder-se-ia até mesmo dizer que caiu muito pouco, somente o telhado, apenas o pináculo. O espetáculo era terrível para quem via de fora; por dentro, no entanto, a Catedral sobrevivia.

Toda a estrutura da Igreja resistiu ao fogo, assim como o altar-mor, com a Pietà ladeada por dois reis de França, Luís XIII e Luís XIV. Foi preservada também a maior parte dos vitrais, estátuas, púlpitos, mesmo os bancos. O órgão não foi destruído. A majestosa rosácea — cujos vidros coloridos, segundo se ouviu dizer, foram fabricados pelos antigos alquimistas — também continua lá. Por fora, a destruição parecia total. Mas apenas por fora. Apenas parecia.

E tudo isso, apesar de toda a dor, de toda a tragédia, nos encheu de esperança. O incêndio nos revelou algo de mais profundo sobre a nossa história, sobre as nossas raízes: é que nós tendemos a aquilatar as coisas pela estatura do nosso tempo. Aquele fogo que nós vimos segunda-feira teria reduzido a pó qualquer coisa construída nas últimas décadas; mas ele não pôde ombrear-se ao gênio da antiga Cristandade. Pensávamos que Notre-Dame fosse tão frágil quanto um Shopping Center; contudo, a velha catedral se mostrou tão inquebrantável quanto a Fé dos que a construíram. Vimos o fogo, e Notre-Dame havia caído; entramos por seus pórticos, e Notre-Dame estava de pé.

E, assim, aquele simbolismo funesto que entrevíamos à primeira vista se inverte por completo, dando lugar a um alento de esperança: no interior do templo sagrado, no coração da catedral, a Cruz permanece de pé, refulgente, mesmo em meio ao fogo e à destruição. A Fé Católica fincada um dia no coração da França é firme, é forte, como as paredes juncadas de gárgulas que resistem a incêndios: afinal de contas, não vimos os franceses, muitos deles jovens!, cantando e rezando de joelhos diante do incêndio? Essa manifestação espontânea de Fé, em meio à impiedade generalizada das nossas metrópoles, não é um milagre tão portentoso quanto os vitrais de Notre-Dame resistindo ao fogo?

As catedrais legadas por nossos antepassados são mais fortes do que acreditamos. E mais forte, muito mais sólida do que as paredes de pedra, é a Fé Católica pela qual os mártires verteram o seu sangue e de cuja vivacidade os santos deram testemunho com a própria vida. O que recebemos do passado é mais duradouro do que aquilo que encontramos no presente. Notre-Dame resistiu ao fogo no centro da França; como seria possível que a Fé Católica não sobrevivesse aos assaltos do mundo no coração dos franceses? Não é a Fé da Igreja muito mais indestrutível do que as antigas catedrais? Se estas resistem aos séculos, como poderia aquela vir a perecer?

Obrigado, Notre-Dame! A Semana Santa iniciou com a catedral em chamas. Que saibamos discernir os sinais dos céus. Que possamos nos arrepender e fazer penitência por nossos pecados; que possamos seguir os passos de Nosso Senhor. Com os olhos fitos na Ressurreição d’Aquele que venceu o mundo. Com a certeza de que as portas do Inferno não prevalecerão jamais contra a Igreja.

Fonte Original AQUI

Mit brennender Sorge (“Com preocupação ardente”) Sobre a Igreja e o Reich alemão é uma encíclica do Papa Pio XI , emitida durante a era nazista de 10 de março de 1937 (mas com data do Domingo de Paixão , 14 de março).  Escrita em alemão, não no latim comum, foi contrabandeado para a Alemanha por medo de censura e lido nos púlpitos de todas as igrejas católicas alemãs em um dos domingos mais movimentados da Igreja, o Domingo de Ramos. (21 de março daquele ano).

A encíclica condenou as violações do acordo Reichskonkordat de 1933 , assinado entre o Reich alemão e a Santa Sé . 

Condenou a ” confusão panteísta “, o ” neopaganismo”, o “mito da raça e do sangue” e a idolatria do Estado. Continha uma vigorosa defesa do Antigo Testamento com a crença de que ele preparava o caminho para o Novo .

 A encíclica afirma que a raça é um valor fundamental da comunidade humana, que é necessária e honrosa, mas condena a exaltação da raça, ou o povo, ou o estado, acima de seu valor padrão a um nível idólatra. 

A encíclica declara “que o homem, como pessoa, possui direitos que ele detém de Deus e que qualquer coletividade deve proteger contra a negação, a supressão ou a negligência”. O nacional-socialismo, Adolf Hitler e o partido nazista não são mencionados no documento. O termo “Governo do Reich” é usado.

O esforço para produzir e distribuir mais de 300.000 cópias da carta era inteiramente secreto, permitindo que padres em toda a Alemanha lessem a carta sem interferência.  A Gestapo invadiu as igrejas no dia seguinte para confiscar todas as cópias que pudessem encontrar, e as impressoras que haviam impresso a carta foram fechadas. 

Segundo o historiador Ian Kershaw , uma intensificação da luta geral contra a igreja começou por volta de abril em resposta à encíclica. Scholder escreveu: “as autoridades estaduais e o Partido reagiram com raiva e desaprovação. Não obstante, a grande represália que se temia não veio.

A concordata permaneceu em vigor e, apesar de tudo, a intensificação da batalha contra as duas igrejas que então começaram permaneceu dentro dos limites comuns. “. O regime restringiu ainda mais as ações da Igreja e assediou os monges com processos judiciais encenados.

Embora Hitler não seja mencionado na encíclica, ele se refere a um “profeta louco” que algumas alegações se referem ao próprio Hitler.( Fonte Wikipédia)

 Carta Encíclica
“Mit Brennender Sorge”

 

Í N D I C E

Introdução. (1-2)
A concordata. (3-10)

Genuína fé em Deus. (11-19)
Genuína fé em Jesus Cristo. (20-23)
Genuína fé na Igreja. (24-29)
Genuína fé no primado. (30)

Não adulterar noções e termos sagrados. (31-38)
[Revelação (32), Fé (33), Imortalidade (34), Pecado original (35),
A Cruz de Cristo (36), Humildade (37), Graça (38).]
Doutrina e ordem moral. (39)
Reconhecimento do direito natural. (40-43)

À juventude. (44-49)
Aos sacerdotes e religiosos. (50-51)
Aos fiéis leigos. (52-54)

Conclusão. (55-59)

_____________

 

CARTA ENCÍCLICA

 

Aos Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos e
outros Ordinários em paz e comunhão com a Sé
Apostólica, sobre A situação da Igreja Católica
no Reich Germânico
.

 

PIO PAPA XI
Veneráveis Irmãos: Saúde e Bênção Apostólica.

 

Introdução.
1. Com viva ânsia e admiração sempre crescente vimos observando, desde muito tempo, a via dolorosa da Igreja e o progressivo acirramento da opressão dos fiéis que lhe ficaram devotados em espírito e obra; e tudo isto em um país e em meio do povo a quem São Bonifácio levou, um dia, a luminosa e alegre mensagem de Cristo e do reino de Deus.
2. Esta Nossa ânsia não foi aliviada pelas relações que os Reverendíssimos Representantes do Episcopado, como é de seu dever, Nos fizeram conforme a verdade, visitando-Nos durante a Nossa enfermidade. A par de muitas notícias — que Nos foram um consolo e conforto — sobre a luta sustentada por seus fiéis por motivo da religião, não puderam, não obstante o amor a seu povo e pátria e o cuidado de externar um juízo bem ponderado, passar em silêncio inumeráveis outros acontecimentos tristes e reprováveis. Quando ouvíamos suas relações com profunda gratidão a Deus pudemos exclamar com o Apóstolo do amor: Não conheço satisfação maior do que esta, de ouvir que meus filhos andam no caminho da verdade (3 Jo 4). Mas a franqueza que corresponde à grave responsabilidade de Nosso ministério Apostólico, e a decisão de apresentar-vos a Vós e ao mundo cristão inteiro a realidade em toda sua crueza, exigem também que acrescentemos: Não temos maior ânsia nem aflição pastoral mais cruel do que quando ouvimos: muitos abandonam o caminho da verdade (cf. 2 Ped 2,2).
A concordata.
3. Quando Nós, Veneráveis Irmãos, no verão de 1933, a pedido do governo do Reich, aceitamos reencetar a negociação de uma Concordata, à base de um projeto elaborado há vários anos, e chegamos assim a um solene acordo que vos trouxe satisfação a todos Vós, fomos movidos da solicitude impendiosa de salvaguardar a liberdade da missão salvadora da Igreja na Alemanha e de assegurar a salvação das almas a ela confiadas, e, ao mesmo tempo, do sincero desejo de prestar um serviço de interesse capital ao pacífico desenvolvimento e bem-estar do povo alemão.
4. Apesar de muitas e graves preocupações, chegamos então, não sem esforço, à determinação de não negar o Nosso consentimento. Queríamos poupar aos Nossos fiéis, aos Nossos filhos e Nossas filhas da Alemanha, segundo as possibilidades humanas, as tensões e tribulações que, em caso contrário, certamente deviam ter esperado, dadas as condições dos tempos. E queríamos demonstrar pelo fato a todos que Nós, procurando só a Cristo e o que pertence a Cristo, não negamos a ninguém — caso ele mesmo não a despreze — a mão pacífica da Madre Igreja.

 

5. Se a árvore da paz, que plantamos em terras da Alemanha com intenção pura, não produziu os frutos por Nós almejados no interesse do vosso povo, não haverá no mundo inteiro homem que, tendo olhos para ver e ouvidos para ouvir, possa atribuir ainda hoje a culpa à Igreja e ao seu Supremo Chefe. A experiência dos anos passados põe em claro as responsabilidades, e revela as maquinações que já desde o começo nada intentavam senão uma luta até ao aniquilamento.

 

6. Nos sulcos, em que Nos esforçamos por lançar a semente da verdadeira paz, outros espargiram — como o inimicus homo da Sagrada Escritura (Mt 13,25) — a erva má da desconfiança, da discórdia, do ódio, da difamação, de uma aversão profunda, oculta e aberta, contra Cristo e sua Igreja, desencadeando uma luta que se alimentou de mil fontes diversas e se serviu de todos os meios. Sobre eles e unicamente sobre eles e seus fautores, ocultos ou abertos, recai a responsabilidade, se no horizonte da Alemanha aparecem, não o arco-íris da paz, mas as nuvens ameaçadoras de dissolventes lutas religiosas.

 

7. Veneráveis Irmãos, não Nos cansamos de apresentar aos governantes, responsáveis pela sorte da vossa nação, as consequências que necessariamente derivariam da tolerância ou, pior ainda, da fomentação daquelas correntes. Fizemos tudo para defender a santidade da palavra solenemente dada, a inviolabilidade das obrigações livremente contraídas, contra teorias e práticas que, oficialmente admitidas, deveriam sufocar toda confiança e desvalorizar intrinsecamente toda palavra dada, também para o futuro. Se vier o momento de expor aos olhos do mundo estes Nossos esforços, todos os bem intencionados saberão onde procurar os tutores da paz e onde seus perturbadores. Quem quer que tenha conservado na sua alma um resquício de amor da verdade e no seu coração uma sombra de senso de justiça, deverá admitir que nos anos difíceis e cheios de casos notáveis que seguiram à Concordata, cada uma das Nossas palavras e ações teve por norma a fidelidade aos acordos sancionados. Mas deverá também reconhecer, com estupor e íntima repulsa, como doutro lado tornou-se regra ordinária dar aos pactos outro sentido, iludi-los, desvirtuá-los e finalmente violá-los mais ou menos abertamente.

 

8. A moderação que não obstante tudo isto Nós até agora demonstramos não foi inspirada por cálculos de interesses terrenos, nem tão pouco por fraqueza, mas simplesmente pela vontade de não arrancar, com a herva má, também boas plantas; pela decisão de não pronunciar publicamente um juízo antes que os ânimos estivessem maduros para reconhecer a inelutabilidade; pela determinação de não negar definitivamente a fidelidade de outros à palavra dada, antes que a dura linguagem da realidade tivesse rasgado os véus, com que se soube e ainda se procura mascarar, conforme um plano preestabelecido, o ataque à Igreja. Ainda hoje, quando a luta aberta contra as escolas confessionais, protegidas pela Concordata, e o aniquilamento da liberdade de voto daqueles que têm direito à educação católica, manifestam, num campo particularmente vital da Igreja, a trágica seriedade da situação e uma pressão espiritual jamais vista dos fiéis, a solicitude paternal pelo bem das almas nos aconselha a não perder de vista as perspectivas porquanto fracas que ainda possam existir de uma volta à fidelidade aos pactos e a um acordo justificável.

 

9. Acedendo aos pedidos dos Reverendíssimos Membros do Episcopado, não Nos cansaremos, também no futuro, de defender o direito violado, junto ao governo de vosso povo — sem cuidado do sucesso ou fracasso do momento presente — obedecendo unicamente à Nossa consciência e Nosso Ministério Pastoral, e não cessaremos de Nos opor a uma mentalidade que procura, com aberta ou oculta violência, sufocar o direito, garantido por documentos.

 

10. No entanto, o fim desta carta é outro, Veneráveis Irmãos. Como Vós Nos tendes visitado amavelmente em Nossa doença, assim voltamos Nós hoje a Vós e, por Vosso intermédio, aos fiéis católicos da Alemanha, que, como todos os filhos atribulados e perseguidos, estão muito perto do coração do Pai comum. Nesta hora, em que sua fé é provada, como ouro genuíno, no fogo da tribulação e perseguição, insidiosa ou aberta; em que eles são rodeados de mil formas de organizada opressão da liberdade religiosa; em que a impossibilidade de obter informações conformes à verdade e de defender-se com meios normais muito os abate, eles têm um duplo direito a uma palavra de verdade e encorajamento moral por parte daquele a cujo primeiro predecessor o Salvador dirigiu esta compendiosa palavra: Rezei por ti, para que tua fé não vacile, e tu, por tua vez, fortifica os teus irmãos (Lc 22,32).

 

Genuína fé em Deus.

 

11. Antes de tudo, Veneráveis Irmãos, cuidai que a fé em Deus, primeiro e insubstituível fundamento de toda a religião, continue a ser pura e inteira nas regiões da Alemanha. Não pode considerar-se crente em Deus o que usa o nome de Deus retoricamente, mas só quem une a esta veneranda palavra a genuína e digna noção de Deus.

 

12. Quem com imprecisão panteística identifica Deus com o universo, materializando Deus no mundo e divinizando o mundo em Deus, não pertence aos verdadeiros fiéis.

 

13. Nem é tal quem, de acordo com uma pretensa concepção precristã do antigo germanismo, coloca em lugar do Deus pessoal o fado sinistro e impessoal, negando a sabedoria divina e sua providência, a qual “com força e suavidade domina duma extremidade da terra à outra” (Sab 8,1), e tudo dirige a um bom fim. Um tal homem não pode pretender ser enumerado entre os verdadeiros crentes.

 

14. Se a raça e o povo, se o Estado e uma sua determinada forma, se os representantes do poder estatal ou outros elementos fundamentais da sociedade humana possuem, na ordem natural, um posto essencial e digno de respeito — quem, no entanto, os destaca desta escala de valores terrenos, elevando-os à suprema norma de tudo, também dos valores religiosos, e divinizando-os com culto idólatra, inverte e falsifica a ordem, criada e imposta por Deus, está longe da verdadeira fé em Deus e de uma concepção de vida conforme a ela.

 

15. Volvei, Veneráveis Irmãos, a atenção ao vezo crescente, que se manifesta em palavras e escritos, de abusar do três vezes santo nome de Deus qual rótulo sem sentido para um produto mais ou menos arbitrário de pesquisas e aspirações humanas. Esforçai-vos que tais aberrações encontrem, entre vossos fiéis, merecida e pronta repulsa. Nosso Deus é o Deus pessoal, transcendente, todo-poderoso, infinitamente perfeito, um na trindade das pessoas e trino na unidade da essência divina, criador do universo, senhor, rei e último fim da história do mundo, o qual não admite, nem pode admitir outras divindades a seu lado.

 

16. Este Deus tem dado seus mandamentos de maneira soberana, mandamentos independentes do tempo e do espaço, de país ou raça. Como o sol de Deus resplende indistintamente sobre todo o gênero humano, assim a sua lei não conhece privilégios nem exceções. Governantes e governados, coroados e não-coroados, grandes e pequenos, ricos e pobres dependem igualmente de sua palavra. Da totalidade de seus direitos de Criador promana essencialmente a sua exigência a uma obediência absoluta da parte dos indivíduos e de quaisquer sociedades. E esta exigência de obediência absoluta se estende a todas as esferas da vida, nas quais as questões morais exigem o acordo com a lei divina e, com isto mesmo, a harmonização das mutáveis leis humanas com o complexo das imutáveis ordens divinas.

 

17. Somente espíritos superficiais podem cair no erro de falar de um Deus nacional, de uma religião nacional, e empreender a tola tentativa de captar nos limites de um só povo, na estreiteza de uma só raça, Deus, Criador do mundo, rei e legislador dos povos, diante de cuja grandeza as nações são pequenas como gotas de água que caem dum balde (Is 40,15).

 

18. Os bispos da Igreja de Cristo, “constituídos a favor dos homens naquelas coisas que se referem a Deus” (Heb 5,1), devem vigiar que não se espalhem entre os fiéis tão perniciosos erros a que costumam seguir práticas ainda mais perniciosas. Pertence ao seu sagrado ministério de fazer todo o possível, a fim de que os mandamentos de Deus sejam considerados e praticados quais obrigações inconcussas de uma vida moral e ordenada, seja particular ou seja pública; que os direitos da Majestade divina, o nome e a palavra de Deus não sejam profanados (Tito 2,5); que as blasfêmias contra Deus, em palavras, escritos ou figuras, numerosas, quiçá, como a areia do mar, sejam reduzidas a silêncio; que diante do espírito revoltoso e arrogante dos que negam, ultrajam e odeiam a Deus não enlanguesça a prece expiatória dos fiéis, que sobe, qual incenso, a toda hora ao trono do Altíssimo, retendo a sua mão vingadora.

 

19. Agradecemos, Veneráveis Irmãos, a vós, a vossos sacerdotes e a todos os fiéis que, na defesa dos direitos da divina Majestade contra um provocante neo-paganismo, apoiado infelizmente por personagens influentes, tendes cumprido e cumpris o vosso dever de cristãos. Este agradecimento é particularmente íntimo e unido a uma admiração reconhecida por aqueles que, no cumprimento deste seu dever, foram julgados dignos de suportar por amor de Deus sacrifícios e sofrimentos.

 

Genuína fé em Jesus Cristo.

 

20. A fé em Deus não se manterá por muito tempo pura e incontaminada, se não se apoia na fé em Jesus Cristo. “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem alguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,27). A vida eterna é esta: que te conheçam a ti como um só Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste (Jo 17,3). Ninguém, pois, pode dizer: Creio em Deus, e isto basta para minha religião. A palavra do Redentor não nos permite subterfúgios deste quilate. “Todo aquele que nega o Filho, também não reconhece o Pai; aquele que confessa o Filho, reconhece o Pai” (1 Jo 2,23).

 

21. Em Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, apareceu a plenitude da revelação divina. “Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio de seu Filho” (Heb 1,1 ss.). Os livros sagrados do antigo testamento são todos palavra de Deus, parte orgânica de sua revelação. De acordo com o desenvolvimento gradual da revelação sobre eles pousa o crepúsculo do tempo que devia preparar o pleno meio-dia da revelação. Em umas partes fala-se da imperfeição dos homens, da sua fraqueza e do pecado, como não podia ser diversamente em se tratando de livros de história e legislação. Ao lado das coisas belas e nobres, falam da tendência superficial e material que diversas vezes invadiu o povo do antigo testamento, depositário da revelação e das promessas de Deus. Mas a toda a vista, não cegada pelos preconceitos e paixões, não pode senão raiar mais luminosa, não obstante a fraqueza humana de que trata a história bíblica, a luz divina do caminho da salvação, que, finalmente, triunfa de todas as fraquezas e pecados.

 

22. E justamente neste fundo, muitas vezes escuro, a pedagogia divina da salvação se alarga em perspectivas, que, ao mesmo tempo, dirigem, admoestam, sacodem, elevam e tornam felizes. Unicamente a cegueira e soberba pode fechar os olhos diante dos tesouros de salutares ensinamentos, contidos no antigo testamento. Quem pois quer ver banida da Igreja e da escola a história bíblica e os sábios ensinamentos do antigo testamento, blasfema a palavra de Deus, blasfema o plano de salvação do Todo-poderoso e arvora em juiz dos planos divinos um angusto e estreito pensar humano. Ele nega a fé em Jesus Cristo, aparecido na realidade de sua carne, que tomou a natureza humana de um povo que devia depois pregá-lo na cruz. Nada compreende do drama mundial do Filho de Deus, que ao crime de seus algozes opôs, qual sumo sacerdote, a ação divina da morte salvadora e fez assim encontrar o antigo testamento o seu cumprimento, o seu fim e a sua sublimação em o novo testamento.

 

23. A revelação que culminou no evangelho de Jesus Cristo é definitiva e obrigatória para sempre, não admite apêndices de origem humana e, menos ainda, sucedâneos ou substituições e “revelações” arbitrárias que alguns palradores modernos quiseram derivar do assim chamado mito do sangue e da raça. Desde que Cristo, o Ungido do Senhor, cumpriu a obra da redenção, quebrando o domínio do pecado e merecendo-nos a graça de nos tornarmos filhos de Deus, já nenhum outro nome foi dado aos homens, sob o céu, pelo qual nós devemos ser salvos, senão o nome de Jesus (At 4,12). Ainda que um homem possua todo saber, todo poder e todo o domínio material da terra, não pode pôr outro fundamento, senão o que foi posto por Cristo (1 Cor 3,11). E quem, com sacrílego desconhecimento da diversidade essencial entre Deus e a criatura, entre o Homem-Deus e o simples homem, ousasse pôr ao lado de Cristo ou, o que é pior ainda, acima dele e contra ele, um simples mortal, fosse ele o mais perfeito de todos os tempos, saiba que é um profeta de quimeras, a quem pavorosamente assentam as palavras da Escritura: “Aquele que habita no céu zombará deles” (Ps 24).

 

Genuína fé na Igreja.

 

24. A fé em Jesus Cristo não se conservará pura e incontaminada se não for sustentada e defendida pela fé na Igreja, coluna e fundamento da verdade (1 Tim 3,15). Cristo próprio, Deus bendito eternamente, levantou esta coluna da fé; o seu mandamento de escutar a Igreja (Mt 18,17) e de ouvir, através as palavras e os mandamentos da Igreja, as suas próprias palavras e mandamentos (Lc 10,16), vale para os homens de todos os tempos e de todos os países. A Igreja, fundada pelo Salvador, é a única para todos os povos e todas as nações.

 

25. Sob sua cúpula, que levanta seus arcos como o firmamento sobre o universo inteiro, encontram lugar e asilo todos os povos e todas as línguas, e podem desenvolver-se todas as propriedades, qualidades, missões e funções que foram assinadas por Deus Criador e Salvador aos indivíduos e à sociedade humana. O amor maternal da Igreja é bastante largo para ver no desenvolvimento, conforme à vontade de Deus, destas particularidades e funções peculiares, antes a riqueza da variedade que o perigo de cisão; alegra-se pelo elevado nível espiritual dos indivíduos e povos. Vê, com alegria e ufania maternais, nas suas genuínas atuações, frutos de edificação e progresso, que abençoa e promove todas as vezes que o pode de boa consciência. Mas sabe também que a esta liberdade foram assinalados limites pela lei da divina Majestade, que quis e fundou esta Igreja como unidade inseparável nas suas partes essenciais. Quem atentar contra esta unidade inseparável, arrebata à Esposa de Cristo um dos diademas com que o próprio Deus a coroou. Submete o edifício divino, que pousa sobre fundamentos eternos, ao exame e transformação de arquitetos a que o Pai celeste não concedeu poderes para tanto.

 

26. A divina missão, que a Igreja cumpre entre os homens, e deve cumprir por meio de homens, pode ser dolorosamente obscurecida pelo elemento humano, quiçá humano demais, que, em certos tempos, viceja como herva má entre o trigo do reino de Deus. Quem conhece a palavra do Redentor sobre o escândalo e os que o dão, sabe como a Igreja e todo indivíduo deve julgar o que foi e o que é pecado. Mas quem, fundando-se sobre estes lamentáveis contrastes entre fé e vida, entre palavras e ação, entre atitude exterior e interior de alguns — e fossem eles muitos — esquece, ou conscientemente passa em silêncio este imenso cabedal de genuíno esforço pela virtude, o espírito de sacrifício, o amor fraterno, o heroísmo de santidade de tantos membros da Igreja, manifesta uma cegueira injusta e reprovável. E quando depois se vê que esta rígida norma com que ele julga a Igreja odiada, é posta de lado se se trata de outras sociedades que lhe são mais acessíveis por interesse ou sentimento, manifesta-se então que, aparentando-se ofendido no seu pretenso senso de purismo, se assemelha com os que, conforme a palavra incisiva do Salvador, veem a palha no olho do irmão, mas não percebem a trave no próprio. Ainda que não seja pura a intenção dos que fazem da ocupação com o humano na Igreja sua vocação ou até um baixo negócio, e ainda que o poder dos portadores da dignidade eclesiástica que se funda em Deus não dependa de sua elevação humana e moral, não há época, nem indivíduo, nem sociedade que não devia seriamente examinar a consciência, purificar-se inexoravelmente, renovar profundamente seu sentir e proceder. Em Nossa Encíclica sobre o sacerdócio e a Ação Católica temos, com suplicante insistência, atraído a atenção de quantos pertencem à Igreja, e sobretudo dos eclesiásticos, religiosos e leigos que colaboram no apostolado, sobre o sagrado dever de estabelecer entre fé e conduta a harmonia exigida pela lei de Deus e pedida com incansável solicitude pela Igreja.

 

27. Também hoje repetimos com funda gravidade: não é suficiente pertencer à Igreja de Cristo. É necessário ser em espírito e verdade membro vivo desta Igreja. E tais são somente os que estão na graça do Senhor e continuamente andam em sua presença, seja na inocência ou seja na penitência sincera e operosa. Se o apóstolo das gentes, “o vaso de eleição”, castigava o seu corpo, para que não sucedesse que, tendo pregado aos outros, ele mesmo viesse a ser réprobo, pode então haver para os outros, em cujas mãos é colocada a guarda e dilatação do reino de Deus, caminho diverso do da íntima união do apostolado e da santificação própria? Só assim se demonstrará aos homens de hoje e, em primeiro lugar, aos inimigos da Igreja, que o sal da terra e o fermento do cristianismo não se tornou ineficaz, mas é poderoso e capaz de trazer renovamento e rejuvenescimento aos que estão na dúvida e no erro, na indiferença e perplexidade espiritual, no relaxamento da fé e afastamento de Deus, de que eles — admitam ou o neguem — precisam mais que nunca. Uma cristandade, em que todos os membros vigiem sobre si mesmos, que repila toda tendência puramente exterior e mundana, que se atenha seriamente aos mandamentos de Deus e na ativa caridade do próximo, poderá e deverá ser exemplo e guia do mundo profundamente enfermo que procura esteio e direção, se se não quer que sobrevenha um desastre indizível e uma catástrofe inimaginável.

 

28. Toda reforma genuína e duradoura teve propriamente origem no santuário, de homens inflamados e movidos de amor de Deus e do próximo. Eles, por sua grande generosidade de corresponder a todos os apelos de Deus e pô-los em prática antes de tudo em si próprios, cresceram em humildade e, com a segurança de quem é chamado por Deus, iluminaram e renovaram seu tempo. Onde o zelo da reforma não brota do puro manancial da integridade pessoal, mas foi efeito da explosão de impulsos apaixonados, em vez de iluminar ofuscou, em vez de construir destruiu, e foi bastas vezes ponto de partida de erros mais funestos do que o mal a que queriam ou pretendiam remediar. Certamente, o Espírito de Deus sopra onde quer (Jo 3,3), ele pode suscitar das pedras os executores de seus desígnios (Mt 3,9; Lc 3,8), e escolhe os instrumentos de sua vontade de acordo com os seus planos, e não os dos homens. No entanto, ele, que fundou a Igreja e a chamou à vida no dia de Pentecostes, não destrói a estrutura fundamental da salutar instituição, por ele próprio querida. Quem é movido do espírito de Deus por isto mesmo possui uma atitude exterior e interior respeitosa para com a Igreja, nobre fruto da árvore da cruz, dom do Espírito do Pentecostes ao mundo tão necessitado de guia.

 

29. Em vossas regiões, Veneráveis Irmãos, se elevam, em coro, vozes sempre mais fortes que incitam a separar-se da Igreja. E entre os seus pioneiros encontram-se homens que, por sua posição oficial, procuram produzir a impressão de que esta debandada da Igreja e, por conseguinte, infidelidade a Cristo-Rei, seja uma prova particularmente evidente e meritória de sua fidelidade ao regime presente. Com pressões, ocultas ou abertas, intimidações, perspectivas de desvantagens econômicas, profissionais, civis ou de outra espécie, o apego à fé dos católicos e, especialmente, de algumas classes de funcionários públicos, é submetido a uma violentação tanto ilegal quanto desumana. Toda Nossa compaixão de pai e mais profundo pesar, aos que tão caro pagaram o seu apego a Cristo e à Igreja. Mas aqui já se chegou ao ponto onde está em jogo o fim último e mais alto, a salvação ou perdição, e logo o único caminho de salvação que resta aos crentes é o caminho de um generoso heroísmo. Quando o tentador ou opressor se lhe aproxima com as insinuações traidoras de sair da Igreja, então não poderá senão contrapor-lhe, ainda que ao preço dos mais graves sacrifícios terrenos, a palavra do Salvador: “Vai-te, Satanás, porque está escrito: O Senhor teu Deus adorarás, e a ele só servirás” (Mt 4,8; Lc 4,8). À Igreja, ao invés, dirá: Tu, que és minha Mãe desde os dias de minha primeira infância, meu conforto na vida, minha advogada na morte, apegue-se-me a língua às fauces, se eu, cedendo a lisonjas ou ameaças, traísse as promessas do batismo. Aos que opinam poder conciliar com o externo abandono da Igreja a fidelidade interna a ela, seja lembrada a palavra do Salvador: “Quem me nega diante dos homens, eu o renegarei diante de meu Pai que está no céu” (Lc 12,9).

 

Genuína fé no primado.

 

30. A fé na Igreja não se manterá pura e incontaminada se não se apoiar na fé no Primado do Bispo de Roma. No mesmo momento, em que Pedro, prevenindo os outros apóstolos e discípulos, professou a sua fé em Cristo, Filho de Deus vivo, o anúncio da fundação de sua Igreja, da única Igreja, sobre Pedro, a rocha (Mt 16,18), foi a resposta de Cristo, recompensa de sua fé e profissão. A fé em Cristo, na Igreja e no Primado estão por isto em sagrado liame de interdependência. Uma autoridade legítima e legal é sobretudo um vínculo de unidade e fonte de forças, defesa contra o esfacelamento e a desagregação, garantia do porvir. E isto se verifica, no sentido mais alto e mais nobre, onde, como no caso da Igreja, a esta autoridade é prometida a assistência sobrenatural do Espírito Santo e o seu apoio invencível. Se homens, que nem são unidos na sua fé em Cristo, vos seduzem e lisonjeiam com o fantasma duma “Igreja nacional alemã”, sabei que isto não é outra coisa senão renegar a única Igreja de Cristo, numa apostasia manifesta do mandado de Cristo de evangelizar todo o orbe, o que só uma igreja universal pode realizar. O desenvolvimento histórico de outras igrejas nacionais, a sua petrificação espiritual, a sua sufocação e escravização pelos poderes leigos mostram a desolante esterilidade que, com inelutável certeza, atinge o ramo separado da videira vital da Igreja. Quem opõe a estes errôneos desenvolvimentos, desde o começo, seu pronto e inexorável não, rende serviço, não só à pureza de sua fé, mas também à saúde e força vital de seu povo.

 

Não adulterar noções e termos sagrados.

 

31. Veneráveis Irmãos, tende um ouvido particularmente atento, quando noções religiosas são desvirtuadas de seu sentido genuíno e aplicadas a significações profanas.

 

32. Revelação, em sentido cristão, significa a palavra de Deus aos homens. Usar este mesmo termo para sugestões provenientes do sangue e da raça, para irradiações da história de um povo, é, em todo caso, causar desorientação. Estas falsas moedas não merecem passar do tesouro linguístico do fiel cristão.

 

33. A fé consiste em ter por verdade o que Deus revelou e impõe a crer por intermédio da Igreja. É “uma demonstração das coisas que não se veem” [Heb 9,1]. A confiança alegre e ufanosa no porvir do próprio povo, cara a todos, significa bem outra coisa que a fé em sentido religioso. Usar uma pela outra e pretender com isso ser reconhecido como “crente” por um cristão convicto, é um vão jogo de palavras, uma consciente confusão de termos, ou pior ainda.

 

34. A imortalidade, em sentido cristão, é a sobrevivência do homem depois da morte terrena, como ser individual, para a eterna recompensa ou o eterno castigo. Quem com a palavra imortalidade não quer indicar senão uma sobrevivência coletiva na continuidade do próprio povo, para um porvir de indeterminada duração neste mundo, perverte e falsifica uma das verdades fundamentais da fé cristã e abala os fundamentos de qualquer concepção religiosa que exija uma ordem moral universal. Quem não quiser ser cristão, renuncie ao menos a querer enriquecer o vocabulário de sua incredulidade com o patrimônio linguístico cristão.

 

35. O pecado original é a culpa hereditária, própria, se bem que não pessoal, de cada um dos filhos de Adão, que nele pecaram (Rom 5,12), é a perda da graça e, por conseguinte, da vida eterna, acompanhada da concupiscência que cada qual deve sufocar e domar por meio da graça, da penitência, da luta e do esforço moral. A paixão e morte do Filho de Deus remiu o mundo do maldito apanágio da morte e do pecado. A fé nesta verdade, feita hoje objeto de baixo ludíbrio dos inimigos de Cristo em vossa pátria, pertence ao depósito inalienável da religião cristã.

 

36. A cruz de Cristo, também se seu só nome se tornou para muitos loucura e escândalo, é para o cristão o sinal sagrado da redenção, a bandeira da grandeza e força moral. Na sua sombra vivemos. No seu amplexo morremos. Sobre a nossa campa estará a anunciar a nossa fé, testemunho de nossa esperança que está na vida eterna.

 

37. A humildade no espírito do evangelho e a imploração do auxílio de Deus harmonizam bem com a própria dignidade, com a confiança em si mesmo e o heroísmo. A Igreja de Cristo, que, em todos os tempos, até nos que nos estão mais próximos, conta mais confessores e mártires heróis que qualquer outra sociedade moral, não tem necessidade de receber, nesta matéria, ensinamentos sobre o sentimento e ação heroicas. Ao apresentar tolamente a humildade cristã como aviltamento e mesquinhez, a repugnante soberba destes inovadores se torna ridícula a si própria.

 

38. Graça, em sentido lato, pode chamar-se tudo que a criatura recebe do Criador. Graça, no sentido cristão da palavra, compreende as provas sobrenaturais do divino amor, as mercês e obras de Deus pelas quais eleva o homem a esta íntima comunhão de sua vida, que o novo testamento chama de filiação divina. “Considerai que amor nos mostrou o Pai: que sejamos chamados filhos de Deus e que o sejamos na realidade” (1 Jo 3,1). O repúdio desta elevação sobrenatural à graça, por motivo de uma pretensa particularidade do caráter germânico, é uma aberta declaração de guerra a uma verdade fundamental do cristianismo. Equiparar a graça sobrenatural aos dons naturais é violentar a linguagem criada e santificada pela religião. Os pastores e guardas do povo de Deus farão bem em opor-se a este furto sacrílego e a este trabalho de desnorteamento dos espíritos.

 

Doutrina e ordem moral.

 

39. Sobre a fé em Deus, genuína e pura, se alicerça a moralidade do gênero humano. Todas as tentativas de separar a doutrina da ordem moral da base granítica da fé, para reconstruí-la sobre a areia movediça de normas humanas, levam, cedo ou tarde, indivíduos e nações à decadência moral. O insensato que diz no seu coração: “Não há Deus” (Ps 13, 1 ss.) resvalará na corrupção moral. E estes insensatos, que presumem separar a moral da religião, são hoje legião. Não enxergam ou não querem enxergar que, banindo o ensino confessional clara e determinadamente cristão da escola e educação, impedindo-o de contribuir à formação da sociedade e vida pública, se aventuram por caminhos de empobrecimento e decadência moral. Nenhum poder corretivo do estado, nenhum ideal puramente terreno, porquanto alto e nobre, poderá substituir, por muito tempo, os mais profundos e decisivos estímulos que provêm da fé em Deus e Jesus Cristo. Se ao que é chamado às mais altas renúncias, ao sacrifício de seu pequeno eu em bem da comunidade, se toma o apoio que lhe vem do eterno e divino, da fé elevante e consoladora naquele que premeia todo o bem e castiga todo o mal, então o resultado final para inumeráveis homens não será fidelidade ao dever, mas muitas vezes deserção. A observância fiel dos dez mandamentos de Deus e dos preceitos da Igreja, não sendo os últimos senão regulamentos derivados das normas do Evangelho, é para todo o indivíduo uma incomparável escola de disciplina orgânica, de revigoramento moral e formação do caráter. É uma escola que muito exige; mas não acima das forças. Deus misericordioso, quando como legislador ordena: “Tu deves”, dá, com sua graça, a possibilidade de executar sua ordem. Deixar, pois, inutilizadas energias morais de tão poderosa eficácia, ou obstruir-lhes conscientemente o caminho no campo da instrução pública, é obra de irresponsáveis, que tende a produzir a deficiência religiosa no povo. Confundir a doutrina moral com opiniões humanas, subjetivas e mutáveis no tempo, em vez de ancorá-la na santa vontade de Deus e seus mandamentos, iguala a escancarar as portas às forças dissolventes. Portanto, promover o abandono das eternas diretivas de uma doutrina moral para a formação das consciências, para o nobilitamento de todas as esferas da vida e todos os regulamentos, é atentado pecaminoso contra o porvir do povo, cujos tristes frutos amargurarão as gerações futuras.

 

Reconhecimento do direito natural.

 

40. É um característico nefasto do tempo presente querer separar não só a doutrina moral, mas ainda os fundamentos do direito e de sua administração, da verdadeira fé em Deus e das normas da revelação divina. Nosso pensamento se volve aqui ao que se sói chamar o direito natural, que o dedo do mesmo Criador gravou nas tábuas do coração humano (Rom 2,14 ss), e que a razão humana, sã e não obscurecida por pecados e por paixões, pode nelas decifrar. À luz das normas deste direito natural, todo direito positivo, seja qual for seu legislador, pode ser aquilatado no seu conteúdo ético e, por conseguinte, na sua força ordenativa e obrigatoriedade de cumprimento. Estas leis humanas, que contrastam insoluvelmente com o direito natural, são afetadas de erro original, não sanável nem por constrangimento nem por desdobramento de força externa. Segundo este critério, julgue-se o princípio: “Direito é aquilo que é útil à nação”. Certamente, a este princípio pode dar-se um sentido justo, se se entende que aquilo que é moralmente ilícito jamais será realmente vantajoso ao povo. Entretanto, já o antigo paganismo compreendeu que, para ser justa, esta frase deve ser invertida e soar: “Jamais alguma coisa é vantajosa, se ao mesmo tempo não é moralmente boa, e não por ser vantajosa é moralmente boa, mas por ser moralmente boa é vantajosa” (Cícero, De officiis 3,33). Este princípio, destacado da lei ética, significaria, no que concerne à vida internacional, um eterno estado de guerra entre as nações. Na vida nacional desconhece, confundindo interesse e direito, o fato fundamental que o homem, enquanto pessoa, está de posse de direitos, concedidos por Deus, que devem ser defendidos contra toda investida da comunidade que os queira negar, abolir e interceptar-lhes o exercício. Desprezando esta verdade, perde-se de vista que o verdadeiro bem comum, em última análise, é determinado e conhecido mediante a natureza do homem, com seu harmonioso equilíbrio entre o direito pessoal e o liame social, como também do fim da sociedade determinado pela mesma natureza humana. A sociedade é estimada pelo Criador como meio para o pleno desenvolvimento das faculdades individuais e sociais, das quais o homem há de se valer, ora dando ora recebendo para seu bem e o do próximo. Também os valores mais universais e mais altos que só podem ser realizados não pelo indivíduo, mas pela sociedade, têm, por vontade de Deus, como último fim, o desenvolvimento e perfeição do homem natural e sobrenatural. Quem se afasta desta ordem, abala as pilastras sobre que repousa a sociedade, e põe em perigo sua tranquilidade, segurança e existência.

 

41. O crente possui um direito inalienável de professar sua fé e de praticá-la na forma que a ela convém. As leis que suprimem ou tornam difícil a profissão e prática desta fé estão em oposição com o direito natural.

 

42. Os pais conscienciosos e conscientes de sua missão educativa têm, antes de qualquer outro, o direito essencial à educação dos filhos que Deus lhes deu, segundo o espírito da verdadeira fé e de acordo com seus princípios e prescrições. Leis ou outras semelhantes disposições que, na questão escolar, não respeitam a vontade dos pais ou a tornam ineficaz pelas ameaças ou violências, estão em contradição com o direito natural e em sua íntima essência são imorais.

 

43. A Igreja, cuja missão é vigiar e interpretar o direito natural, não pode fazer outra coisa senão declarar serem efeito de violência e, portanto, privadas de todo o valor jurídico, as inscrições escolásticas feitas recentemente, em uma atmosfera de notório tolhimento de liberdade.

 

À juventude.

 

44. Representante daquele que no evangelho disse a um jovem: Se queres entrar na vida eterna observa os mandamentos (Mt 19,17), dirigimos uma palavra particularmente paterna à juventude.

 

45. De mil bocas hoje se repete aos vossos ouvidos um evangelho que não foi revelado pelo Pai do céu. Milhares de penas escrevem a serviço de um pseudo-cristianismo que não é o cristianismo de Cristo. Imprensa e rádio inundam-vos diariamente com produções de conteúdo inimigo da fé e de Deus, e, sem consideração e respeito, atacam tudo o que vos é sagrado e santo.

 

46. Sabemos que muitíssimos dentre vós, por seu apego à fé e à Igreja e por pertencerem a uma associação religiosa, garantidos pela Concordata, deveram e devem atravessar períodos trevosos de falta de compreensão, de suspeitas, de invectivas, de acusação de antipatriotismo, de múltiplas desvantagens profissionais e sociais. E bem sabemos como muitos desconhecidos soldados de Cristo se acham em vossas fileiras, que com o coração confrangido mas a fronte elevada suportam sua sorte e acham conforto no só pensamento de que sofrem afrontas pelo nome de Jesus (At 5,41).
47. E hoje, que ameaçam novos perigos e novas compressões, dizemos a esta juventude: Se alguém vos quisesse anunciar um evangelho diverso daquele que haveis recebido, sobre os joelhos de uma piedosa mãe, dos lábios de um pai crente, na doutrina de um educador fiel a Deus e à sua Igreja, seja ele anátema (Gál 1,9).

 

48. Se o Estado organiza a juventude em associação nacional obrigatória para todos, então, resguardados sempre os direitos das associações religiosas, os jovens têm o direito óbvio e inalienável, e com eles os pais responsáveis por eles diante de Deus, de exigir que ela seja purgada de toda tendência hostil à fé cristã e à Igreja, tendência que até recentíssimo passado, e ainda presentemente, acorrenta os pais crentes em insolúvel conflito de consciência, pois que não podem dar ao Estado o que deles é exigido em nome do Estado, sem tomar a Deus o que pertence a Deus.
49. Ninguém cogita em pôr à juventude da Alemanha pedras de tropeço no caminho que a deverá conduzir à atuação de uma verdadeira unidade nacional e fomentar um nobre amor pela liberdade e um inabalável devotamento à pátria. Ao que Nos opomos e Nos devemos opor é ao contraste querido e sistematicamente atiçado, mediante o qual se separam estas finalidades educativas das religiosas. Por isto, dizemos a esta juventude: Cantai os vossos hinos de liberdade, mas não vos esqueçais que a verdadeira liberdade é a liberdade dos filhos de Deus. Não permitais que a nobreza desta insubstituível liberdade se emaranhe nos laços servis do pecado e da concupiscência. Ao que canta o hino de fidelidade à pátria terrestre não é lícito tornar-se desertor e traidor pela infidelidade a seu Deus, à sua Igreja e sua pátria eterna. Muito vos falam de uma grandeza heroica, contrapondo-a voluntária e falsamente à humildade e paciência evangélica, mas por que vos ocultam que há também um heroísmo na luta moral? e que a conservação da pureza batismal representa uma ação heroica que deveria ser apreciada devidamente no campo religioso e natural? Falam-vos das fragilidades na história da Igreja, mas por que vos ocultam os grandes feitos que a acompanham através dos séculos, os santos que produziu, a vantagem que adveio à cultura ocidental da união vital entre esta Igreja e vosso povo? Falam-vos muito de exercícios desportivos, que, usados numa bem entendida medida, dão vigor físico, o que é um benefício para a juventude. Mas a eles é assinalada, muitas vezes, hoje, uma extensão que não tem em conta nem a formação integral e harmoniosa do corpo e espírito, a conveniente cultura da vida familiar, nem o mandamento de santificar o dia do Senhor. Com uma indiferença que toca às raias do desprezo tira-se ao dia do Senhor seu caráter sagrado e recolhido, que tanto corresponde às melhores tradições alemãs. Esperamos confiadamente dos jovens alemães católicos que eles, no difícil ambiente das organizações obrigatórias do Estado, reivindiquem explicitamente o dia do Senhor, que o cuidado de robustecer o corpo não os faça esquecer sua alma imortal, que não se deixem vencer pelo mal, mas procurem vencer o mal com o bem (Rom 12,21), que considerem como sua altíssima meta a de conquistar a coroa da vitória no estádio da vida eterna (1 Cor 9,24, s.).
Aos sacerdotes e religiosos.
50. Uma palavra de particular reconhecimento, de exortação, dirigimos aos sacerdotes da Alemanha, aos quais, em submissão aos seus bispos, compete a missão de, em tempos difíceis e circunstâncias duras, mostrar à grei de Cristo os caminhos retos, em doutrina e exemplo, e dedicação e paciência apostólica. Não vos canseis, filhos diletos e participantes dos divinos mistérios, de seguir o eterno sumo sacerdote Jesus Cristo no amor e ofício de bom samaritano. Andai sempre em conduta imaculada diante de Deus, disciplinando e aperfeiçoando-vos, em amor misericordioso para com todos que vos são confiados, especialmente os que perigam, fraquejam e vacilam. Sede guias dos fiéis, apoio dos atribulados, mestres dos que estão em dúvida, consoladores dos aflitos, desinteressados assistentes e conselheiros de todos. As provas e sofrimentos, por que passou o povo no período após-guerra, não passaram sem deixar traços em sua alma. Deixaram tensões e amarguras que só lentamente se cicatrizarão e serão superadas pelo espírito de amor desinteressado e operoso. Este amor, arma indispensável ao apóstolo, especialmente no mundo presente, agitado e revolto, Nós o desejamos e imploramos para vós de Deus em medida copiosa. O amor apostólico, se não vos faz esquecer, vos fará ao menos perdoar muitas imerecidas amarguras, que no vosso caminho de sacerdotes e pastores de almas são mais numerosas que em qualquer outro tempo. Este amor inteligente e misericordioso aos errantes e aos mesmos maldizentes não significa, no entanto, nem de modo algum pode significar, renúncia de proclamar, de fazer valer e defender a verdade e de aplicá-la livremente à realidade que vos rodeia. O primeiro e mais óbvio dom de amor do sacerdote ao mundo é de servir à verdade, a verdade toda inteira, desmascarar e confutar o erro, seja qual for sua forma, disfarce e arrebique. A renúncia a isto não seria somente uma traição a Deus e vossa santa vocação, mas delito contra o verdadeiro bem-estar de vosso povo e vossa pátria. A todos os que mantiveram a seus bispos a fidelidade prometida na ordenação, aos que nos cumprimento de seu ofício pastoral deveram e devem suportar dores e perseguições — alguns até serem encarcerados e enviados aos campos de concentração — vale o agradecimento e elogio do Pai da cristandade.
51. E o nosso agradecimento paterno se estende igualmente aos religiosos de ambos os sexos: um agradecimento unido a uma participação íntima pelo fato que, em consequência de medidas contra Ordens e Congregações religiosas, muitos foram arrancados do campo de sua atividade bendita, que lhes era tão cara. Se alguns falhavam e se mostravam indignos de sua vocação, as suas falhas, condenadas também pela Igreja, não diminuem os méritos da esmagadora maioria dos que por desinteresse e voluntária pobreza se esforçaram por servir com plena dedicação a seu Deus e seu povo. O zelo, a fidelidade, o esforço de perfeição, a operosa caridade do próximo e a prontidão de socorrer destes religiosos, cuja atividade se desenvolve na cura pastoral, nos hospitais e escolas, são e continuam a ser uma gloriosa contribuição ao bem-estar particular e público. A eles um tempo futuro mais tranquilo renderá justiça melhor que o presente turbulento. Confiamos que aos superiores das comunidades as provações e dificuldades sejam ensejo de, por zelo redobrado, uma vida espiritual aprofundada, santa fidelidade à vocação e genuína disciplina regular, implorar do Altíssimo novas bênçãos e nova fertilidade para o duro campo de seu trabalho.

 

Aos fiéis leigos.

 

52. Diante de Nossos olhos está a turba magna de Nossos diletos filhos e filhas, a que os sofrimentos da Igreja na Alemanha e os próprios nada tiraram de sua dedicação à causa de Deus, nada de seu terno afeto ao Pai da cristandade, nada de sua obediência aos bispos e sacerdotes, nada de sua alegre prontidão de continuar, também no futuro, venha o que vier, fiéis ao que hão crido e recebido como preciosa herança de seus avós. Com coração comovido enviamos-lhes a Nossa saudação de pai.

 

53. Em primeiro lugar aos membros das associações católicas que extremamente e a preço de sacrifícios muitas vezes dolorosos se mantiveram fiéis a Cristo, e jamais estiveram dispostos de largar os direitos que uma solene Convenção havia garantido à Igreja e a eles.

 

54. Uma saudação particularmente afetuosa aos pais católicos. Os seus direitos e deveres na educação dos filhos que Deus lhes deu estão, na hora presente, no ponto central de uma luta como mais grave e fatal não pode ser imaginada. A Igreja de Cristo não pode começar a gemer e chorar só quando os altares são espoliados e mãos sacrílegas ateiam as chamas aos santuários. Quando se procura profanar o tabernáculo da alma da criança, santificada pelo batismo, com uma educação anticristã, quando é arrancada deste templo vivo de Deus a lâmpada da fé e é substituída pelo fogo fátuo de um sucedâneo de fé que nada tem de comum com a fé da cruz — então a profanação espiritual está próxima e é dever de todo o crente separar claramente a sua responsabilidade daquela da parte adversa e conservar sua consciência livre de toda colaboração pecaminosa nesta nefasta destruição. E quanto mais os inimigos se esforçam por negar ou disfarçar seus negros desígnios, tanto mais necessária se torna uma desconfiança vigilante e uma vigilância desconfiada, estimulada por amargas experiências. A conservação formalista de uma instrução religiosa, inspecionada e manietada por gente incompetente, no ambiente de uma escola que em outros ramos da instrução trabalha sistemática e ostensivamente contra a mesma religião, já não pode apresentar o título justificativo ao fiel cristão, a fim de que aprove uma tal escola, deletéria para a religião. Sabemos, diletos pais católicos, que não é de falar, em vista de vós, de tal consentimento e sabemos que uma livre votação secreta entre vós equivaleria a um esmagador plebiscito em favor da escola confessional. E por isto, não cansaremos, nem no futuro, de francamente lançar em rosto das autoridades responsáveis a ilegalidade das medidas violentas tomadas até agora e de reclamar o dever de permitir a livre manifestação da vontade. Entretanto, não vos esqueçais: nenhum poder da terra pode libertar-vos de vínculo de responsabilidade querido por Deus, que vos une com vossos filhos. Nenhum dos que hoje oprimem o vosso direito à educação e pretendem substituir-se a vós nos vossos deveres de educadores, poderá responder por vós ao Juiz eterno quando vos fizer a pergunta: Onde estão os que vos dei? Oxalá todos estejais na possibilidade de responder: Não perdi nenhum dos que me destes (Jo 18,19).

 

Conclusão.

 

55. Veneráveis Irmãos! estamos certos que as palavras que dirigimos a vós, e por vosso meio aos católicos do Reich germânico, nesta hora decisiva encontrarão no coração e ação de Nossos filhos fiéis um eco que corresponda à solicitude amorosa do Pai comum. Se há coisa que imploramos ao Senhor com particular fervor é que Nossas palavras cheguem ao ouvido e coração dos que já começaram a deixar-se prender pelas lisonjas e ameaças dos inimigos de Cristo e seu santo Evangelho, e os façam refletir.

 

56. Temos pesado cada palavra desta Encíclica na balança da verdade e do amor. Não queríamos com silêncio inoportuno tornar-Nos culpado de não ter esclarecido a situação, nem com rigor excessivo de haver endurecido os corações dos que, estando submetidos à Nossa responsabilidade de Pastor, não são menos objeto de Nosso amor, por caminharem nas veredas do erro e estarem afastados da Igreja. Ainda que muitos destes, conformados com os hábitos do ambiente, não tenham senão palavras de infidelidade, ingratidão e até de injúria, pela casa paterna abandonada e pelo próprio pai, ainda que se esqueçam quão precioso é o que alijaram — virá o dia em que o horror que sentirão do afastamento de Deus e de sua indigência espiritual pesará sobre estes filhos hoje desgarrados, e a saudade os reconduzirá ao Deus “que alegrou sua juventude”, e à Igreja, cuja mão materna lhes mostrou o caminho ao Pai do céu. Apressar esta hora é o objeto de Nossas incessantes preces.

 

57. Como outras épocas da Igreja, também esta será o anúncio de novos progressos e purificação interna, quando a fortaleza na profissão da fé e a prontidão em suportar os sacrifícios da parte de Cristo serão bastante grandes para contrapor à força material dos opressores da Igreja a adesão incondicionada à fé, a esperança inconcussa, ancorada no eterno, a força vencedora da operosa caridade. O sagrado tempo da quaresma e Páscoa, que prega recolhimento e penitência e faz voltar os olhos do cristão mais que nunca sobre a cruz, mas também sobre os esplendores da ressurreição, seja para todos e para cada um de vós uma ocasião que saudareis com alegria e de que vos prevalecereis com ardor para encher a alma toda com o espírito heroico, paciente e vitorioso que irradia da cruz de Cristo. Então os inimigos da Igreja — estamos seguros disto — que acreditam ter chegado a sua última hora, reconhecerão que cedo demais rejubilaram e muito cedo a quiseram sepultar. Então virá o dia em que em vez de prematuros hinos de triunfo dos inimigos de Cristo, se elevará ao céu dos corações e lábios dos fiéis o Te Deum da libertação: um Te Deum de ação de graças ao Altíssimo, um Te Deum de júbilo, porque o povo alemão, também em seus membros errantes, terá reencontrado o caminho de volta à religião; com uma fé purificada pelos sofrimentos, dobrará de novo o joelho diante do Rei dos tempos e da eternidade, Jesus Cristo, e se cingirá para a luta contra os negadores e destruidores do ocidente cristão, em união com os homens bem intencionados das outras nações, a cumprir a missão que lhes assinalaram os planos do Eterno.

 

58. Ele, que perscruta coração e rins (Sl 7,10), Nos é testemunha que não temos aspiração mais íntima que a do restabelecimento da verdadeira paz entre a Igreja e o Estado na Alemanha. Mas se sem culpa Nossa a paz não vier, a Igreja de Deus defenderá os seus direitos e liberdade, em nome do Todo-poderoso, cujo braço também hoje não foi abreviado. Cheios de confiança nele “não cessamos de orar e pedir” (Col 1,19) por vós, filhos da Igreja, a fim de que os dias das tribulações sejam abreviados e vós sejais encontrados fiéis no dia da provação; e também aos opressores e perseguidores o Pai de toda luz e toda misericórdia conceda a hora de Damasco, para si e os muitos que com eles têm errado e erram.

 

59. Com esta súplica no coração e lábios, Nós vos damos, como penhor do divino auxílio, como apoio nas vossas decisões difíceis e cheias de responsabilidade, como robustecimento nas lutas, como conforto nos sofrimentos, a Vós bispos, pastores de vosso povo fiel, aos sacerdotes, aos religiosos, aos apóstolos leigos da Ação Católica e todos os vossos diocesanos, e não em último lugar, aos doentes e encarcerados, com paternal amor a bênção apostólica.

Dado no Vaticano, no domingo da Paixão, 14 de março de 1937.

PIO XI, PAPA.

_____________

Papa PIO XI, Encíclica “Mit Brennender Sorge, de 14 de março de 1937. Tradução de Frei Frederico Vier, O.F.M.

Fonte: Coleção Documentos Pontifícios – 133, Petrópolis: Vozes, 1961, 30p.

Endereço breve desta transcrição: http://goo.gl/woymU3

Publicado originalmente na internet pelo blog Acies Ordinata.

O Vaticano falsificou secretamente as certidões de batismo para permitir que muitos judeus emigrassem como católicos.

O que documenta a ação direta do Papa Pacelli são os documentos encontrados pelo historiador Michael Hesemann nos arquivos de Santa Maria dell`Anima, igreja nacional alemã em Roma. Em um telegrama original enviado pelo comando alemão em Berlim ao quartel general das SS de Romaem que ordenava a prisão de 8.000 judeus romanos a serem levados ao campo de trabalho de Mauthausen. Depois de uma intervenção papal, não foram detidos 8.000, mas pouco mais de 1.000.

Está documentada a ação pessoal e direta de Pio XII para frear as detenções dos judeus em Roma no dia 16 de outubro de 1943. Quando as prisões terminaram, o Papa Pacelli enviou um representante ao local em que estavam detidos para pedir libertação dos mil judeus que haviam sido presos, mas não foi permitido o ingresso.

O Papa ordenou que os judeus de Roma recebessem hospitalidade nas propriedades da Igreja e nas casas católicas, suspendendo as normas claustrais de modo que os homens pudessem ser admitidos nos conventos e as mulheres nos mosteiros de toda a Europa. Ele literalmente escondeu 7.000 judeus em um dia.

“Provavelmente, o Papa Pacelli salvou mais judeus do que todos os líderes políticos e religiosos do mundo juntos”. Gary Krupp, presidente da Pave the Way Foundation, comenta que “é hora de reconhecer o Papa Pio XII pelo que ele realmente fez e não pelo que ele não disse”. E acrescenta: “Pelo que eu vi e conheci, o papa é, sem dúvida, o maior herói da Segunda Guerra Mundial. Pio XII não foi o Papa de Hitler. Ao contrário, era um homem que Hitler queria matar”.

Além disso, o futuro Pio XII se aproveitou de sua influência para que o então representante da Organização Sionista Mundial Nachum Sokolov fosse recebido pessoalmente pelo Papa Bento XV para falar de uma pátria judaica na Palestina. Em 1926, Dom Pacelli exortou os católicos alemães a apoiar o Comitê Pró-Palestina, que apoiava os assentamentos judeus na Terra Santa.

Os documentos, que podem ser baixados no site da fundação, incluem um manuscrito de uma freira, datado de 1943, que explica detalhadamente as instruções recebidas do papa, assim como uma lista de judeus protegidos. Um outro documento é um relatório do US Foreign Service do cônsul norte-americano em Colônia, que informa sobre o “novo Papa” em 1939. O diplomata se mostrou surpreso pela “extrema aversão” de Pacelli contra Hitler e o regime nazista, e pelo seu apoio aos bispos alemães na sua oposição ao nacional-socialismo, mesmo às custas da supressão das Juventudes Católicas Alemãs.

Em um documento datado de 1938, o então secretário de Estado Eugenio Pacelli se opõe ao projeto de lei polonês que declarava como ilegal o sacrifício kosher, visto que essa lei “significaria uma grave perseguição contra o povo judeu”.

Durante a guerra, Pio XII escreveu um telegrama ao então regente da Hungria, o almirante Miklós Horthy, para que evitasse a deportação dos judeus, e estes concordaram, pelo qual se estima que tenham sido salvas 80 mil vidas. Ao governo brasileiro, ele pediu que aceitasse 3.000 “não arianos”.

Em um testemunho, o general Karl Wolff fala detalhadamente do plano de Hitler de atacar o Vaticano e sequestrar o papa. Havia espiões no Vaticano, e franco-atiradores alemães a 200 metros das janelas papais. A própria limitação das declarações públicas do papa, que suscitou muitas críticas contra ele, é explicada pelo aumento das penas nos campos de concentração, testemunhada por ex-prisioneiros, todas as vezes que as autoridades eclesiásticas falavam contra o regime nazista.

Estão documentados muitos exemplos das ações diretas e do ministério pastoral de Eugenio Pacelli para salvar os judeus da tirania nazista. Há provas da “direta intercessão de Pacelli para defender os judeus da Palestina dos turcos otomanos em 1917 e do seu encorajamento para instituir uma pátria judaica na Palestina em 1925.

Além disso, o Papa Pio XII teve um papel ativo na oposição a Hitler. Entre as testemunhas do que Pio XII fez em favor dos judeus durante o Holocausto, está também a prova da ordem que o papa deu para hospedar os judeus nos conventos.

No Memorial das Religiosas Agostinianas do Mosteiro das SS. Quattro Coronati de Roma, de 1943, está escrito: “Chegadas a este mês de novembro, devemos estar prontas para prestar serviços de caridade de forma totalmente insuspeita. O Santo Padre Pio XII, de coração paterno, sente em si todos os sofrimentos do momento. Infelizmente, com a entrada dos alemães em Roma, ocorrida em setembro, iniciou uma guerra implacável contra os judeus que querem exterminar mediante atrocidades sugeridas pela mais obscura barbárie”.

“Nessas dolorosas circunstâncias – lê-se ainda no Memorial –, o Santo Padre quer salvar os seus filhos, também os judeus, e ordena que, nos mosteiros, se deve hospitalidade a esses perseguidos, e as clausuras também devem aderir ao desejo do Sumo Pontífice, e, a partir do dia 4 de novembro, nós hospedamos, até o dia 6 de junho posterior, as pessoas aqui listadas… “. No Memorial, conta-se que, “para a quaresma, os judeus também vinha ouvir as pregações, e o senhor Alfredo Sermoneta ajudava na igreja”.

E ainda: “Com a guerra terminada, falava-se da bondade do Santo Padre que havia ajudado e salvo tantos judeus, assim como jovens e famílias inteiras”. Isso confirma o compromisso pessoal e institucional de Pio XII para proteger e salvar os judeus perseguidos. Falta a cópia escrita da ordem de Pio XII, porque, em uma situação de guerra, com a cidade ocupada pelos nazistas, uma pessoa prudente não publica uma ordem, mas manda mensageiros de confiança para comunicar as vontades do Santo Padre. Teria sido imprudente e perigoso escrever uma ordem que poderia cair nas mãos erradas e pôr em perigo a vida de muitos.

Além disso, foi organizado um grupo de sacerdotes que, sob as ordens da Secretaria de Estado, andavam de uma casa religiosa a outra, batendo também nas universidades, seminários, escolas, paróquias, para pedir que abrissem os conventos e organizassem uma rede de assistência.

No fim da guerra, foram cerca de 150 as casas religiosas, mosteiros e paróquias que salvaram milhares de judeus da morte certa. Pio XII e a Igreja Católica salvaram a vida de centenas de milhares de judeus em toda a Europa.

A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no Vatican Insider

Daqui a um ano o Vaticano abrirá o Arquivo secreto relativo ao pontificado de Pio XII. Isso foi anunciado pelo Papa Francisco durante a audiência aos membros do Arquivo Secreto Vaticano, recebidos na Sala Clementina do Palácio Apostólico. “Anuncio a minha decisão de abrir para a consulta dos pesquisadores o material de arquivo relativo ao pontificado de Pio XII, até sua morte, ocorrida em Castel Gandolfo em 9 de outubro de 1958″, declarou solenemente o Pontífice.

“Eu decidi que a abertura dos Arquivos Vaticanos para o pontificado de Pio XII terá lugar em 2 de março de 2020, exatamente um ano após o 80º aniversário da eleição à Cátedra de Pedro de Eugênio Pacelli. Assumo esta decisão – explica Papa – depois de ter ouvido a opinião dos meus colaboradores mais próximos, com espírito sereno e confiante”.

O Papa afirma estar “confiante que a séria e objetiva pesquisa histórica saberá avaliar sob a correta luz, com crítica apropriada, momentos de exaltação daquele Pontífice e, sem dúvida, também momentos de grande dificuldade, de atormentadas decisões, de humana e cristã prudência, que a alguns pareceram reticência, mas que, na verdade, foram tentativas, humanamente também muito controversas, para manter acesa, nos períodos de mais densa escuridão e de crueldade, a chama das iniciativas humanitárias, da diplomacia escondida, mas ativa, da esperança em possíveis boas aberturas dos corações”.

Papa Francisco, anunciando a abertura dos documentos sobre o pontificado de Pio XII mantidos no Arquivo secreto Vaticano, destacou que “a Igreja não tem medo da História, aliás, a ama e gostaria de amá-la mais e melhor, como a ama Deus! Assim, com a mesma confiança de meus antecessores, abro e confio aos pesquisadores este patrimônio documental”.

Para o Papa, “a figura do Pontífice, que esteve conduzindo o Barca de Pedro em um momento entre os mais triste e sombrios do século XX, agitado e em muitos lugares dilacerado pelo último conflito mundial, com o subsequente período de reorganização das Nações e reconstrução pós-conflito, esta figura já foi investigada e estudada em muitos dos seus aspectos, por vezes discutida e até mesmo criticada, ao que parece, com algum preconceito ou exagero”.

Hoje, ressalta novamente o Papa, “é oportunamente reavaliada e, aliás, colocada na luz correta por suas poliédricas qualidades: pastorais, em primeiro lugar, mas, também, teológicas, ascéticas e diplomáticas.”

********

Com a abertura do arquivo sobre o Pontificado, é possível compreender melhor suas decisões, inclusive as mais polêmicas. Andrea Riccardi, historiador do cristianismo e fundador da Comunidade de Santo Egídio, um dos maiores especialistas sobre a vida do Papa Pacelli, não tem dúvida sobre isso.

Quão importante é tornar esses documentos públicos?

A decisão do Papa é muito positiva. Havia a hipótese de abrir o arquivo somente até 1945, mas eu era absolutamente contra, porque é necessário tomar todo o Pontificado, como estabeleceu Francisco.

O que você acha da expectativa que se cria em torno da abertura do arquivo?

Há muito medo pelo que os documentos contêm. Além disso, a discronia entre o trabalho dos historiadores contemporâneos e a abertura dos arquivos não ajudou a Santa Sé, porque se trabalhou com documentos secundários.

O que a Igreja deveria temer?

Nada, claro. Com Pio XII nos deparamos com um problema muito particular: a questão da guerra e dos silêncios diante das atrocidades nazistas, a Shoah. Mas estou convencido de que a imagem que surgirá dará uma história concreta, a percepção dos protagonistas destes eventos e explicará os motivos das decisões. Além do mais, a partir de 1965, Paulo VI iniciou a publicação das “Atas e documentos da Santa Sé sobre o período da Segunda Guerra Mundial”, motivo pelo qual já tivemos um gostinho do que os documentos podem conter.

Quais são os efeitos que eles poderiam ter?

O amor dos documentos reduzirá os “scoops”. Mas vai precisar de um grande e sério trabalho.

O Papa, no anúncio, disse que “a Igreja ama a história”: o que você acha?

O discurso do Pontífice torna concreta a relação entre a Igreja e a história, porque a Igreja é história e o cristianismo é uma religião histórica. A Igreja é a história do povo de Deus e, portanto, seus documentos são importantes. Mas isso não significa que devamos enfrentá-la teologicamente, porque essa história é em si mesma preciosa para a própria Igreja.

Como você interpreta a reação do mundo hebraico, que manifestou, com exceções, satisfação e otimismo cauteloso?

Em primeiro lugar, uma premissa: a ideia de negar o acesso a um arquivo não causa uma boa impressão àqueles que têm perguntas sobre a história. É por isso que a decisão do Vaticano de negar o acesso aos arquivos, explicada com o problema da catalogação, nunca me pareceu correta, porque não é do interesse da história nem da Igreja.

Alguns dos meus interlocutores me disseram: “Mas desta maneira virão à tona as recomendações”; mas as recomendações já vieram à luz, estão nos arquivos diocesanos. Fico impressionado com o favor do mundo judaico, porque no fundo tem os problemas bem conhecidos com relação a Pio XII. Mas, ao mesmo tempo, sei que o mundo judaico tem o cuidado de “fazer história” de maneira concreta e documentada.

O que poderá aparecer?

Um patrimônio histórico de valor inestimável: o nascimento da Democracia Cristã, o grande papel de Giovanni Battista Montini, futuro Paulo VI, e sua transferência para Milão, que foi considerada como um afastamento, mas que acabou se revelando uma preparação para o papado. Aparecerá também o papel de Roncalli, futuro João XXIII, núncio durante a guerra e na França.

Quais são os textos pelos quais está aguardando?

Os documentos sobre os nove meses de ocupação alemã em Roma. Porque naquela época o Vaticano e Pio XII tiveram um grande papel, no sentido de que ajudaram milhares de pessoas, judeus e não judeus, a se esconderem, e esse fato foi decisivo na história de Roma. Em certo sentido, fizeram um “jogo” com o comando alemão, tranquilizando-o e, por outro lado, transformaram todos os espaços religiosos em lugares de asilo. E foi um jogo não apenas generoso, mas também inteligente.

 Fonte: Vatican Insider

Manuscrito mais antigo de  “Silent Night”, escrito pelo Rev. Joseph Mohr. (Foto: Salzburg Museum)

Uma canção de Natal – provavelmente a mais famosa – está comemorando 200 anos. Na véspera do Natal de 1818, na Igreja de São Nicolau em Oberndorf, próximo a Salzburgo, “Stille Nacht” (Silent Night, em inglês; Noite Feliz, na versão em português) foi cantada pela primeira vez.

A letra de “Silent Night” foi escrita pelo Rev. Joseph Mohr, um jovem sacerdote em Oberndorf. Ele a escreveu em 1816 como uma reflexão sobre a paz após um verão de violência em Salzburgo. Na véspera de Natal, dois anos depois, ele pediu a seu amigo Franz Xaver Gruber, um professor na cidade vizinha de Arnsdorf e também organista em Oberndorf, para criar uma melodia para o texto. Os dois realizaram “Silent Night” na missa de véspera de Natal. Mohr cantou e Gruber tocou violão, pois o órgão da Igreja não estava funcionando. “Silent Night” foi uma sensação imediata.

A história da origem do canto ficou esquecida por algumas décadas, mesmo com corais tiroleses o tocando por toda Europa. Em Berlim, as pessoas tentaram rastrear sua origem.

Em 1854, a Royal Hofkapelle (Orquestra da Corte) em Berlim entrou em contato com a Arquiabadia de São Pedro em Salzburgo para tentar descobrir quem era o compositor da canção. Pensava-se que o compositor poderia ter sido Johann Michael Haydn (1737-1806), irmão mais novo de Joseph Haydn.

Nesta época, Felix Gruber, filho de Franz Xaver Gruber, fazia parte do coral da Arquiabadia de São Pedro. Ele direcionou a consulta da Royal Hofkapelle ao seu pai. Franz Xaver Gruber, ao se dar conta da importância da música, escreveu uma declaração sobre ela, a qual chamou de “Authentic Origination of the Composition of the Christmas Carol ‘Silent Night'” (Origem Autêntica da Composição do Canto de Natal ‘Silent Night’, em tradução livre), e a enviou a Berlim. O Museu Stille Nacht em Hallein, perto de Salzburgo, casa onde Franz Xaver Gruber viveu por 28 anos, mantém dois rascunhos desta carta, documentando assim a criação do hino.

O canto já foi traduzido para cerca de 300 línguas. A primeira tradução para o inglês apareceu na cidade de Nova York em 1851.

Em 29 de setembro de 2018, algumas exposições em Salzburgo e oito cidades vizinhas comemoraram seu bicentenário. A exposição no Museu de Salzburgo reúne documentos e artefatos relacionados à canção, como cópias da carta de Gruber e as primeiras partituras.

A primeira sala do museu, a Sala de Natal, mostra como o advento e o Natal foram comemorados na região. Na sala seguinte se encontram caixas de música, vinis e a versão da canção por Bing Crosby, bem como as versões de Mahalia Jackson e da Trapp Family Singers. Um guia no museu explica que a gravação de Bing Crosby havia sido a canção mais vendida de todos os tempos, desde sua apresentação em 1948 até 1997, quando o tributo “Candle in the Wind” de Elton John à Princesa Diana o superou.

Outra sala mostra a história da canção em filmes; entre eles estão “das Unsterbliche Lied” de 1934; “The Legend of Silent Night” de 1968; “Merry Christmas” de 2005; e “Stille Nacht” de 2012 (A Canção Imortal; A Lenda da Noite Silenciosa; Feliz Natal; Noite Silenciosa, em tradução livre).

A canção foi usada para animar os soldados reunidos para a trégua de Natal na Primeira Guerra Mundial, em 1914. Em 1941, Franklin D. Roosevelt e Winston Churchill foram até a varanda da Casa Branca e se juntaram à multidão cantando o hino.

A exposição de Salzburgo também mostra como a canção foi usada para fins comerciais e de propaganda. Uma distorção horripilante mudou as palavras para dizer que nesta “Stille Nacht, Heilige Nacht, Alles ruht, Einer wacht … Adolph Hitler führt uns zu Größe, zu Ruhm und zum Glück… ” (“Noite Silenciosa, Noite Santa, Tudo está Calmo, Alguém se Acorda … Adolf Hitler nos conduz à grandeza, ao Reconhecimento e à Fortuna…”, em tradução livre). As homenagens também incluem um engradado de cervejas com cada um dos seis versos da canção em uma garrafa.

A última sala da exposição é um lugar de silêncio com uma placa dizendo “Laut Sein ist cool! Ainda Sein Auch” (‘É bacana fazer barulho. Mas também ficar em silêncio’, em tradução livre). Esta bela canção de Natal traz serenidade com a sua calma melodia e meigas palavras, “Durma na paz celestial!”.

Outras referências

Silent Night: A Companion to the Song, por Thomas Hochradner e Michael Neureiter (eds.) (Salzburg: Verlag Anton Pustet, 2018).

“All Is Calm: The Christmas Truce of 1914” por Peter Rothstein, é um musical à capela sobre o momento em que soldados inimigos saíram das trincheiras e se abraçaram para celebrarem juntos o Natal, uma trégua dos horrores da guerra.

Fonte: America