Em um artigo titulado “A magia já não é mais um jogo surpreendente”, o jornal vaticano, o L’Osservatore Romano comenta o novo filme da série Harry Potter.

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O artigo do LOR assinala que “a magia já não é mais o surpreendente passatempo dos inícios e as provas por superar, enquanto ao arriscadas e atemorizantes que resultam, já não são mais aventura de crianças, mesmo para os dotados de poderes excepcionais. Agora –como foi visto no episódio anterior– realmente se arrisca a vida e o que está em jogo é maior: impedir que as forças das trevas tomem a dianteira”.

Seguidamente explica que “a psicologia dos personagens toma uma forma mais precisa. No quinto capítulo Harry vivia um período difícil, atormentado por seus sonhos e seus demônios pessoais, pela lembrança de seus pais assassinados por Voldemort. E procurava respostas”.

“Agora –prossegue o artigo– parece não necessitá-las. Não se faz muitas perguntas e sabe que tem uma tarefa que deve cumprir. Confia em Dumbledore, que não o trata mais como um aluno mas sim como um amigo. E é consciente que o mundo mágico não está isento de insídias, junto às quais cresceu no passado”.

O LOR critica logo como, em meio de tudo, aparece constantemente uma referência à “espiritualidade new age”; e que o filme é acusado por alguns de “instigar as jovens à fuga da realidade e instalar neles ilusões de que existem poderes sobrenaturais com os quais podem controlar o mundo segundo o seu  prazer. Em resumo, uma saga deseducativa e inclusive anti-cristã“.

Para o autor do artigo, Gaetano Vallini, na proposta de Rowling “falta uma referência à transcendência, a um desenho providencial no qual os homens vivam suas histórias pessoais e a história tome forma. Assim como é certo que, no mecanismo clássico das fábulas, o protagonista se vê em meio de vivencias nas quais a magia é quase sempre um instrumento nas mãos do mal”.

Vallini assinala logo que neste filme “não se pode dizer que a feitiçaria –neste caso seria melhor falar de magia– seja exposta como um ideal positivo. Ao contrário, parece muito clara a linha de demarcação entre quem faz o bem e quem faz o mal, e a identificação do leitor ou do espectador faz que alguém se dirija aos primeiros. Neste último filme em particular a distinção é um pouco mais clara. Fica claro que fazer o bem é a coisa justa que deve fazer-se; e se compreende que isto leva ao sacrifício”.

O texto considera também que neste filme, fica estigmatizada a “busca espasmódica da imortalidade, da qual Voldemort é o emblema”.

“Na opinião de Vallini, uma das intenções de Rowling é a de desmascarar “o mito de uma razão que pretende ter uma resposta para tudo”, embora certamente, adiciona, “seriam distintas as interpretações que pode dar uma criança ou um adolescente”.

Finalmente manifesta que “é provável que depois de vê-la ou de lê-la, mais que a fascinação pela magia (que aparece somente como um pretexto de animação), permaneçam na memória “as cenas que reclamam valores como a amizade, o altruísmo, a lealdade e o dom de si”.

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O Importante nesta análise é a confirmação clara da percepção de que qualquer obra de arte possui  mensagens que promovem- ou não – valores.

Para nós cristãos é fundamental exercer um  “filtro” daquilo que assistimos e nos expomos,sempre iluminados pelos  valores-cristãos- e por aquilo que acreditamos .São Paulo,a propósito, já nos admoestava dizendo que “tudo nos é licito mas nem tudo nos convém”.

Tem muito lixo por aí com proposta de entretenimento que ingenuamente promovemos, financiando e dando lucro ao pagar o ingresso, poluindo nossa alma e mente com imagens dispensáveis,diálogos que escondem uma visão do mundo anti evangélica e que não acrescentam nada de verdadeiramente consistente.

Ser livre é poder optar pelo bem sem se deixar levar pela pressão social que muitas vezes nos faz sentir incompletos e ” ET´s ” caso não façamos o que TODO MUNDO FAZ…ou assiste.


Entrevista com o Pe. John Wauck

O filme “Anjos e demônios”, apesar de seus incríveis erros baseados na novela de Dan Brown, mostra o enorme interesse que a Igreja Católica suscita, considera um sacerdote que possui um dos blogs mais populares sobre “O Código Da Vinci”.

O Pe. John Wauck, da prelazia pessoal do Opus Dei, nascido em Chicago, professor de literatura e comunicação da fé na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, estudou história da literatura na Universidade de Harvard.

Nesta entrevista ele constata um dado irrefutável sobre este interesse pela Igreja: nunca houve tantos peregrinos em Roma como nos últimos anos.

– Você acha que Dan Brown tem alguma espécie de fixação com a Igreja?

– Pe. Wauck: Às vezes eu me pergunto o que faria Dan Brown sem a Igreja Católica. Quase tudo o que existe de interesse em suas novelas tem relação com o catolicismo. Certamente, não são os seus personagens fictícios nem os diálogos ortopédicos que atraem as pessoas. Isso explica que o principal efeito do “Código Da Vinci” não tenha sido uma diminuição da prática ou das crenças religiosas, e sim um claro aumento do turismo a Roma… e ao Louvre.

A fórmula de Dan Brown para vender livros é oferecer um coquetel de história, arte, religião e mistério; e parece que há um único lugar no mundo atual onde é capaz de encontrar todas essas coisas juntas: em Roma, na Igreja Católica.

Se a história, a beleza e os mistérios sagrados o atraem, também deve atraí-lo a Igreja. Se você se coloca na Praça de São Pedro, em Roma, a poucos metros verá uma necrópole romana, um obelisco egípcio trazido a Roma por Calígula, o túmulo de São Pedro, o lugar do atentado ao seu sucessor João Paulo II, a abóbada da Capela Sistina e a Pietà de Miguelangelo, as Estâncias de Rafael, o baldaquino de Bernini, a maior basílica do mundo e peregrinos procedentes do mundo inteiro. E não se trata de um museu; é uma realidade viva que nos coloca em contato direto com 20séculos de história, desde a antiguidade até nossos dias. Que mais pode pedir um novelista como Dan Brown? Certamente, é difícil encontrar algo semelhante na América suburbana, onde a maioria dos seus leitores mora.

Isto é, se Dan Brown parece fascinado pela Igreja, é preciso reconhecer que não é o único: em Roma existe agora mais peregrinos que nunca. Eles vêm para ver a cidade e para ouvir Bento XVI. E seu interesse não é mera coincidência. Este ano, na Páscoa, 150 mil adultos foram recebidos na Igreja Católica no meu país, Estados Unidos.

– Você acha que a decisão do Vaticano de não permitir filmagens nas igrejas de Roma representa um trato desfavorável com relação aos produtores?

– Pe. Wauck: Moro em Roma desde os 14 anos e nunca vi uma equipe de filmagens de Hollywood em uma igreja. Como regra geral, não se fazem filmes comerciais, sejam ou não piedosos, nas igrejas de Roma. Não se poderia filmar nem sequer “Os 10 mandamentos”. Naturalmente, não haveria por que fazer uma exceção com “Anjos e Demônios”. O trato que este filme recebeu foi o mesmo que se dá a qualquer outro. O resto são historietas do departamento de marketing do filme.

– “Anjos e demônios” pressupõe uma hostilidade natural entre a fé cristã e a ciência moderna. O que você opina sobre isso?

– Pe. Wauck: É relativamente fácil advertir que grande parte da melhor arte do mundo ocidental – música, pintura, literatura, arquitetura -é produto de uma cultura cristã: foi inspirada frequentemente pela fé, quando não diretamente solicitada pela Igreja. Isso parece óbvio. Pois bem, algo similar acontece com a ciência, só que é mais difícil perceber isso.

Pense, por exemplo, nas universidades, que são uma invenção da Igreja. Pense em Copérnico, que era um clérigo católico e que dedicou seu livro sobre o heliocentrismo ao Papa. O calendário que usamos é chamado de calendário gregoriano, pois foi promulgado por um Papa, Gregório XIII, que fez os astrônomos e matemáticos mais destacados da sua época trabalharem nisso. O próprio Galileu sempre foi um católico devoto e suas duas filhas foram freiras. Um dos maiores astrônomos italianos do século XIX foi um sacerdote jesuíta, Ângelo Secchi. O pai da genética moderna, Gregor Mendel, era um monge católico. O autor da teoria do “Big Bang” foi um sacerdote belga, Georges Lemaitre.

Em definitivo, a ideia de que há certa tensão natural entre a ciência e a Igreja,entre a razão e a fé, não tem sentido. Hoje, as pessoas, quando ouvem falar de “ciência” e “Igreja”, pensam imediatamente no processo de Galileu no século XVII. Mas uma percepção mais ampla das coisas obriga a ver este caso tão complicado – frequentemente distorcido por certa propaganda anticatólica – como uma manifesta exceção. Se os críticos da Igreja sempre o trazem à tona, é por um motivo: porque é a única coisa à qual podem se referir. Ou seja, quando ouvimos falar de “ciência” e “Igreja”, deveríamos pensar em Copérnico, Secchi, Mendel e Lemaitre: são estes os casos representativos. Não o é, no entanto, o processo de Galileu.

– Há algum aspecto do livro que tenha lhe parecido interessante?

– Pe. Wauck: Sim. Há uma passagem da novela na qual o heroi, o professor Langdon, da Universidade de Harvard, encontra-se na frente da basílica de São Pedro e os pensamentos que povoam sua mente neste momento – na novela, ele é a voz da autoridade científica – parecem realmente o comercial do catolicismo.

Dá a impressão de que estamos lendo o Catecismo da Igreja Católica, ao invés da novela de Dan Brown. A passagem é esta: “Pedro é a pedra. A fé de Pedro em Deus foi tão firme, que Jesus o chamou de ‘a pedra’, o discípulo incomovível sobre cujos ombros Jesus construiria sua Igreja. Neste lugar, pensou Langdon, na colina do Vaticano, Pedro havia sido crucificado e enterrado. Os primeiros cristãos construíram um pequeno santuário sobre o seu túmulo. À medida que o cristianismo se estendeu, o santuário cresceu, passo a passo, até converter-se nesta basílica colossal. Toda a fé católica havia sido levantada, literalmente, sobre São Pedro. A pedra” (“Anjos e demônios”, cap. 118).

Não daria para fazer um anúncio publicitário gigante no Times Square, mas não está mal.

– Você não acha que com esta entrevista estamos promovendo gratuitamente o filme?

– Pe. Wauck: Quem está promovendo quem? Esta é a questão. Possivelmente, há publicidade nas duas direções, mas se consideramos o tempo, as energias e os milhões de dólares empregados na produção e promoção deste filme, eu diria que nós estamos levando a melhor parte. Isto é, que talvez Deus esteja se servindo de Hollywood para atrair a atenção de alguns sobre as riquezas da fé e da cultura católicas.

Dito isso, devo acrescentar que não tenho a intenção de gastar meu tempo e meu dinheiro vendo este filme, As resenhas do filme “O Código Da Vinci”, feito pela mesma equipe, foram suficientemente sarcásticas como para podermos economizar a visão deste.

Fonte:Zenit