O Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) entrou com uma ação civil pública requerendo que a Sociedade Inteligência e Coração (SIC), dona do Colégio Santo Agostinho, pague indenização por dano moral coletivo por entender que a instituição expôs os alunos “a situação de risco”, ao abordar a “ideologia de gênero” nas aulas.

A reportagem do jornal O Tempo destaca que “a ação solicita valor correspondente às mensalidades e à matrícula do ano de 2017 de todos os alunos matriculados na 3ª a 6ª série do ensino fundamental, das unidades de Belo Horizonte e Nova Lima e Contagem, na região metropolitana.”

Segundo a matéria, “a polêmica começou em julho de 2017, quando mais de 125 pais de alunos do Colégio Santo Agostinho elaboraram uma notificação extrajudicial exigindo que conteúdos relacionados a gênero e sexualidade fossem proibidos em sala de aula. Em novembro do ano passado, os pais dos alunos fizeram uma representação no Ministério Público, questionando a inclusão de “ideologia de gênero” na proposta pedagógica do colégio.”

Naquela ocasião, “os promotores Celso Penna Fernandes Júnior e Maria de Lurdes Rodrigues Santa Gema consideram que houve ‘ensino de matérias, uso de práticas, de material e de dinâmicas indevidos, inadequados ou incompatíveis com a respectiva idade’.”

O Colégio Santo Agostinho soltou uma nota. Leia a íntegra:

Estimada comunidade escolar,

Em 2017, o Colégio Santo Agostinho recebeu uma notificação extrajudicial de um grupo de pais, questionando uma suposta abordagem de temas relacionados a ideologia de gênero em nossa proposta pedagógica. Concomitantemente, esse grupo fez uma representação no Ministério Público Estadual contra a nossa instituição alegando o mesmo tema. Agora, fomos surpreendidos por uma ação judicial proposta pelo Ministério Público sob a falsa alegação de divulgar a “Ideologia de Gênero”.

Cópia dessa ação civil está circulando em grupos de WhatsApp como se fosse algo novo, com suposta condenação definitiva, o que não é verdade. Em relação a isso gostaríamos de esclarecer, novamente, que não contemplamos, em nosso projeto pedagógico, a “Ideologia de Gênero”. A ação judicial contém alegações absurdas, desconectadas da realidade e sem correspondência com a verdade. O Colégio Santo Agostinho já está tomando as medidas judiciais cabíveis, seja para nos defender contra as falsas alegações a nós atribuídas, seja para responsabilizar as pessoas e os agentes que estão divulgando essas mentiras.

A SIC – Sociedade Inteligência e Coração, mantenedora do Colégio Santo Agostinho e de Obras Sociais, está há mais de 84 anos em Minas Gerais. Atende a 8.500 alunos nas unidades do Santo Agostinho e 3.500 alunos em escolas 100% gratuitas. Ao longo de sua história, formou milhares de jovens que hoje estão nas universidades ou atuando no mercado de trabalho nas mais diversas profissões. Todos eles carregam, desde a década de 30, a indelével marca de terem sido estudantes agostinianos.

O Colégio viu a cidade se transformar e consolidou-se como uma instituição forte e com excelente reputação na sociedade mineira, além de ser referência no ensino de qualidade. Nossa história é consistente, carrega tradição, é pautada nos valores cristãos e nos grandes referenciais da civilização. Por lidar com tantas crianças e jovens, nossa conduta prima pelo respeito à diversidade e à pluralidade presentes na nação brasileira.

Consideramos a família o núcleo mais importante na formação da identidade de uma criança. O Colégio Santo Agostinho jamais almejou ocupar as responsabilidades que são da alçada dos pais.

Alguns grupos e indivíduos distorcem a proposta da nossa instituição e tentam nos difamar. Então nos perguntamos: a quem isso pode interessar?

Enfatizamos que o Colégio Santo Agostinho não tem projeto algum sistematizado e arquitetado “para confundir a cabeça das crianças e jovens”, como se alega no referido processo. A escola se ocupa em oferecer meios para que cada um que aqui se inscreve se sinta seguro e acolhido em suas realizações, alegrias, mas também nas suas dores. Não negamos a escuta a quem nos procura. Alguns problemas que chegam até nós são complexos: desemprego dos pais, violência doméstica, automutilação, depressão, entre outros dramas presentes em nossa sociedade. Nem tudo são flores para muitos de nossos jovens. Procuramos atuar sempre junto com as famílias, às quais oferecemos estrutura de atendimento individualizado.

O mundo mudou e a sociedade também. A escola não está incólume a tudo isso. Ela interfere e sofre a interferência do seu entorno. No mar agitado, ela busca o farol; no meio dos ruídos, busca os sinais. A experiência e a tradição nos ajudam a lidar com as contradições, as diferenças, os extremos e as incertezas. A escola não é a inimiga, e tampouco os professores; somos parceiros das famílias na formação humana e cidadã de seus filhos, pautada nos valores cristãos, católicos e agostinianos.

Que os estudantes, ex-estudantes, famílias, professores e funcionários do Colégio Santo Agostinho, com suas vidas e valores possam testemunhar a seriedade e idoneidade dos nossos centros educativos.

Fonte: 247

Um estudo do Pew Research Center divulgado no fim de outubro confirma o que uma observação atenta já previa: existe um racha entre Europa Ocidental e Europa Oriental quando o assunto é a opinião da população sobre o aborto e o casamento gay. Foram entrevistadas quase 56 mil pessoas maiores de idade em 34 países, entre 2015 e 2017.

Na Suécia, por exemplo, 88% da população é favorável ao casamento gay. Os números também são altos na Dinamarca (82%), na Holanda (86%), na Bélgica (82%), na Espanha (77%), no Reino Unido (77%), na Alemanha (75%), na Suíça (75%), na França (73%), na Áustria (72%) e na Noruega (72%).

Do outro lado do continente, o único país da Europa Oriental que pontua mais de 50% da população favorável ao casamento gay é a República Tcheca, com 65%. Na Geórgia e na Armênia, apenas 3% da população é favorável. Na Rússia e na Moldávia, são 5%, e na Ucrânia, 9%. A Sérvia e a Lituânia pontuam 12%. A Hungria, a Grécia, a Romênia e a Bulgária tampouco chegam aos 30%. Na Croácia o índice é de 31% e na Polônia, 32%.

Os países mais divididos em ambas as partes do continente são Portugal (59%), Itália (59%) e Eslováquia (47%). Nenhum país da Europa Oriental permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, enquanto quase todos os países da Europa Ocidental legalizaram a prática.

Se levarmos em consideração apenas a população jovem – entre 18 e 34 anos – o cenário não muda muito. Na Rússia, por exemplo, se 90% da população adulta é contrária ao casamento homoafetivo, esse número chega a 86% quando considerada apenas aquela faixa de idade. Na Polônia, o número cai de 59% para 50% e na Ucrânia de 85% para 82%. Em nenhum país do continente o percentual de jovens contrários ao casamento de pessoas do mesmo sexo é mais expressivo do que aquele considerando toda a população adulta.

Aborto

Quando o tema é aborto, a divisão se mantém, embora de modo um pouco menos marcado do que em relação ao casamento gay. 94% dos suecos e 92% dos dinamarqueses consideram que a prática deve ser legalizada em todos ou na maioria dos casos. Acima de 70%, estão também Finlândia (87%), Bélgica (84%), Holanda (84%), França (81%), Noruega (81%), Reino Unido (81%), Alemanha (76%), Suíça (73%), Áustria (73%) e Espanha (72%).

Na Europa Oriental, cinco países se destacam ao fugir à regra e alinhar-se com os países ocidentais. República Tcheca (84%), Estônia (81%), Bulgária (80%), Hungria (70%) e Eslováquia (70%) têm maiorias bastante expressivas favoráveis ao aborto. A opinião é majoritária também na Sérvia, na Croácia, na Armênia, na Letônia, e na Lituânia.

Os países cuja maioria da população se opõe ao aborto em todos ou na maioria dos casos estão todos na Europa Oriental. Na Geórgia, são 85% da população, e na Moldávia, 79%. Completam a lista Rússia (56%), Ucrânia (55%), Bielorrússia (54%), Polônia (52%) e Grécia (52%). O país ocidental mais contrário ao aborto é Portugal, onde 34% da população concorda que a prática deveria ser ilegal em todos ou na maioria dos casos.

Fonte: Sempre Família

As autoridades da China lançaram uma ofensiva contra as cruzes e outras estruturas da Igreja em três dioceses do país neste mês de outubro, apenas dias depois do Acordo Provisório assinado com o Vaticano para a nomeação de bispos.

Na Diocese de Guizhou, no sudeste do país, em 15 de outubro, as autoridades ordenaram a retirada de algumas estruturas e várias cruzes, por considerá-las uma violação às leis de planejamento. As cruzes tinham sido erguidas como parte de uma peregrinação.

Embora a Igreja tenha pagado uma multa em 20 de outubro, as autoridades indicaram que também confiscarão o dinheiro arrecadado na peregrinação.

UCANews informou que em 12 de outubro, as autoridades também ordenaram destruir duas cruzes na igreja de Luoyang, na Diocese de Henan.

Em 3 de outubro, as autoridades mandaram retirar uma cruz em outra igreja local, porque era muito grande e “podia ser vista de uma estação de trem próxima”.

Posteriormente, em 11 de outubro, uma cruz e uma parede na igreja de Whenzhou, na Diocese de Zhejiang, foram destruídas por cerca de 40 trabalhadores.

Uma fonte anônima disse a UCANews que as cruzes foram retiradas porque isso já tinha sido feito em outros templos de outras confissões religiosas e, portanto, as igrejas católicas não podiam estar isentas da medida.

Um católico de nome John disse que a destruição de cruzes parece ser o início de uma agenda mais ampla para eliminar os símbolos religiosos. “Isso é o cristianismo em conformidade com a sinização. Em outras palavras, em linha com o socialismo”, acrescentou.

As medidas adotadas pelas autoridades chineses responsáveis por essas regiões ocorrem depois que, em 22 de setembro, o Vaticano anunciou a assinatura do Acordo Provisório com a China para a nomeação de bispos.

Graças ao acordo, dois bispos chineses puderam participar do Sínodo dos Jovens que acontece no Vaticano até o dia 28 de outubro. Os prelados aproveitaram a oportunidade para convidar o Papa Francisco para visitar a China.

No voo de regresso de sua viagem à Lituânia, Letônia e Estônia no final de setembro, o Papa Francisco disse aos jornalistas: “Eu sou o responsável” pelo acordo.

Sobre os bispos que não estavam em comunhão com a Igreja até antes do acordo, como Dom Guo Jincai que participa do Sínodo, Francisco disse que “foram estudados caso por caso. Para cada bispo fizeram um expediente e estes expedientes chegaram à minha escrivaninha. E eu fui o responsável por assinar cada caso dos bispos”.

Sobre o acordo, Francisco indicou que “a coisa se faz em diálogo, mas, quem nomeia é Roma, quem nomeia é o Papa. Isto é claro. E rezamos pelos sofrimentos de alguns que não entendem ou que têm em suas costas muitos anos de clandestinidade”.

No dia 26 de setembro, o Pontífice dirigiu uma mensagem aos católicos da China e à Igreja universal na qual solicitou “gestos concretos e visíveis” aos bispos aos quais levantou a excomunhão.

Estão publicadas as “novas medidas” para controlar os sites de atividade religiosa na Internet na China.

É proibido difundir cerimônias religiosas por streaming (ao vivo na internet), orações, pregar e queimar incenso. Quem quiser abrir um site religioso, deve pedir permissão às autoridades e ser julgado moralmente saudável e politicamente confiável. Não é permitido converter nem difundir material religioso. Mas o despertar religioso na China já é incontrolável.

De agora em diante, será proibido evangelizar on-line. A Administração Estatal para os Assuntos Religiosos emitiu regras para as atividades religiosas via internet que proíbem a difusão de cerimônias religiosas por streaming (ao vivo na internet), incluindo a oração, a pregação e até mesmo a queima de incenso.

As novas regras também proíbem alguns conteúdos sensíveis: é proibido postar a menor crítica à liderança do Partido e à política religiosa oficial; promover a participação de menores em cerimônias religiosas, usar a religião para derrubar o sistema socialista.

As novas regras estão publicadas no site de informações jurídicas do governo chinês sob o título “Medidas para a gestão de informações religiosas na Internet”. Ainda estão na forma de minuta, e aguardam comentários do público, mas como quase sempre acontece, o rascunho é na prática o texto definitivo. As “Medidas…” estão divididas em cinco capítulos e contêm um total de 35 artigos. Os cinco capítulos tratam de regras gerais, aprovação de serviços de informações religiosas on-line, da gestão, das responsabilidades legais e algumas disposições suplementares.

Nelas, é estabelecido, por exemplo, que qualquer pessoa que queira abrir um site religioso deve solicitar permissão às autoridades e ser julgada moralmente saudável e politicamente confiável.

Organizações e escolas que recebem a licença podem transmitir suas instruções pela Internet apenas em sua rede interna, onde o acesso só é permitido com nome e senha registrados. As regras enfatizam que tais organizações não podem tentar converter alguém e não podem distribuir textos religiosos ou outro material.

As novas medidas são muito mais restritivas e analíticas em relação às Novas regulamentações sobre as atividades religiosas, implementadas em fevereiro (mas tornadas públicas em setembro de 2017, como rascunho, e em outubro como texto definitivo).

Os Novos Regulamentos (v. os artigos 68 e 45) proibiam conteúdos que “minam” a coexistência de religiões e pessoas não-religiosas, ou que anunciam o extremismo religioso, ou que não apoiam os princípios de independência e autogoverno das religiões. Mas admitiam a distribuição ao público de informações e material religioso, em conformidade com a lei.

As novas “Medidas …” parecem ter sido projetadas para impedir a difusão de ensinamentos religiosos na internet e bloquear o crescente interesse espiritual na sociedade chinesa, onde o despertar religioso já é incontrolável.

Para controlar o tumultuoso crescimento religioso na China, o presidente Xi Jinpingalguns anos atrás lançou uma campanha de “sinicização” para assimilar as religiões na cultura chinesa e, principalmente, para submetê-las à hegemonia do Partido Comunista, tornando-as um instrumento político.

A China é o país com maior presença da Internet, mas também é o local onde as informações on-line estão sujeitas a um dos controles mais eficientes e absolutos.

Fonte: Asia News

Carta do Arcebispo Metropolitano à Igreja em Goiânia

Caros irmãos, caras irmãs

A vida em uma sociedade se constrói tendo como base a sua cultura, pois cada cultura possui um quadro de valores, passados de geração em geração, que formam as pessoas, suas convicções, seu modo de agir e de se relacionar. Os valores de uma determinada cultura se perpetuam de geração em geração,principalmente por meio da autoridade da família, da escola e da Igreja. Essa constatação não deve, porém, nos fazer esquecer que, desde que foi inventada, na década de 1930, a televisão vem se tornando não só um potente meio de comunicação, mas também um eficaz instrumento para influenciar a formação da cultura pois, por meio de seus programas, também propõe valores ou contravalores, que influenciam o modo de viver das pessoas.

Quando, por meio desse canal formativo, são transmitidos bons conteúdos,como às vezes acontece, as pessoas são edificadas e a sociedade se constrói positivamente. Entretanto, esse meio de formação pode se tornar um instrumento eficaz de ideologização e convencimento que termina por produzir um processo de destruição das pessoas e da sociedade. Nos últimos tempos, dois programas da televisão brasileira foram usados para semear confusão e mentira, acabando por ferir a sensibilidade de muitos brasileiros.

O primeiro deles é a série Malhação, da Rede Globo de Televisão. Em um de seus capítulos, dois jovens aparecem ensinando como “não pagar mico quando o assunto é gênero e sexualidade”. Jogando com as palavras “sexo biológico, identidade de gênero, expressão de gênero e orientação sexual” e explicando-as segundo a compreensão da falsária Ideologia de Gênero, os artistas defendem a liberdade sexual e a diversidade, sem qualquer vínculo com a verdade sobre a pessoa, que está expressa no e pelo corpo. Essas ideias acabam por promover o liberalismo das experiências sexuais, sem qualquer vínculo com uma ordem moral, ou seja, terminam defendendo que, em nome da liberdade, no campo da sexualidade tudo é possível.

Infelizmente, os contravalores transmitidos por esse e outros programas televisivos estão atrelados a outros tantos males devastadores, defendidos pela Ideologia de Gênero em todos os seus matizes e propostas. Um deles é a legalização do aborto, que voltou à cena principal em virtude da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 442 (ADPF 442) ajuizada junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Em nome da liberdade, defendem tratar o problema em questão sem considerar que estão em jogo duas vidas a serem protegidas, a da mulher gestante e a do bebê, propondo que se escolha tirar a vida inocente e indefesa do nascituro.

O segundo programa televisivo em questão é a novela bíblica da Record TV, chamada Jesus. Na novela, a Santíssima Virgem Maria, a mãe de Jesus, é apresentada de modo discordante com as afirmações feitas na Sagrada Escritura e na Doutrina da Igreja Católica. Ela é figurada como Mãe de outros filhos, negando a sua Virgindade perpétua, isto é, negando que ela era virgem antes do parto e se manteve virgem durante e depois do parto, sendo Mãe apenas do seu Unigênito, Jesus. Além disso, o modo como Maria se comporta na sua relação com José ofusca a sua pureza e, por isso, fere sua dignidade de Mãe de Deus e Imaculada desde a sua concepção. Esse modo de apresentar Nossa Senhora fere frontalmente a sensibilidade do povo brasileiro, na sua maioria católico e devoto de Nossa Senhora Aparecida.

A televisão deveria servir para a edificação de uma nação, mas infelizmente isso não acontece com frequência. Por isso, convido todos os católicos e pessoas de boa vontade a sermos prudentes e críticos no uso desse instrumento, não assistindo qualquer programa e não aceitando acriticamente as afirmações feitas através desse meio de comunicação. Convido, de modo ainda mais vivo, a sermos rigorosos no discernimento sobre a permissão para o acesso das crianças e dos adolescentes aos programas de televisão. Essas duas etapas da vida, fundamentais na formação do caráter da aquisição dos valores, são as mais vulneráveis ao processo de ideologização que marca o Brasil atualmente. Por isso, devemos cuidar para que nossos filhos, se estritamente necessário, tenham acesso somente a conteúdos que correspondem à verdade sobre o homem e que possam edificá-los na verdadeira fé da Igreja.

Em face aos programas mencionados e a todos os fatos ligados a eles, desejo manifestar minha perplexidade e minha reprovação. Sinto-me no dever de pastor de denunciar e repudiar tudo que fere a verdade sobre o homem e sobre a nossa fé, a fim de que nossas famílias possam ser fortalecidas e possamos construir, juntos, um Brasil melhor, em que elas sejam respeitadas. Rezemos a Jesus e a Nossa Senhora para que nosso país reaja contra esta tentativa de desconstruir o ser humano, tal como a natureza no-lo faz ver e a teologia da criação no-lo ensina.

Goiânia, 10 de agosto de 2018.

Dom Washington Cruz, CP

Arcebispo Metropolitano de Goiânia

Buracos de bala nas paredes, janelas e em imagens de santos da igreja da Divina Misericórdia de Manágua são o testemunho da violenta repressão das forças do governo aos estudantes opositores, em um dos episódios mais violentos da crise política que já deixou mais de 280 mortos em três meses de protestos na Nicarágua.

O dano material mais icônico está na imagem de Cristo, que tem três perfurações de bala, incluindo uma no peito, de onde parecem emanar raios de luz.

“Esta imagem (do Cristo da Divina Misericórdia) foi trazida da Polônia e é uma réplica da original. Agora vai ficar assim, porque estes três buracos representam o sofrimento do povo”, declarou o vigário Erick Alvarado.

Estudantes da Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN) se refugiaram na Igreja no sábado passado, após a desocupação pela força do centro educacional, e ficaram cercados no templo durante cerca de 12 horas, ao lado de sacerdotes e jornalistas, sob o fogo das forças governamentais.

O incidente deixou dois mortos e dezenas de feridos.

“Isto (os danos) vai ficar como lembrança de tudo o que vivemos”, declarou Alvarado, que narrou os momentos de terror que passou ao lado dos estudantes.

A igreja da Divina Misericórdia, próxima à UNAN, ficou lotada nesta sexta-feira, durante a jornada de orações e jejum convocada pela Igreja católica a favor do diálogo entre governo e oposição.

Foi a primeira missa de desagravo após o ataque e no momento em que o presidente Daniel Ortega acusa os bispos – mediadores do diálogo – de “golpistas” comprometidos com uma “conspiração” contra o governo.

“Foi uma noite de terror. As duas da madrugada cortaram a energia e ficamos no escuro, e todos se jogaram no chão por medo dos tiros…”, recordou Alvarado.

“Temi por minha vida, em certo momento pensei que era meu último dia”, disse o padre Alvarado, que apenas olhava a imagem do Cristo crucificado e rezava com o rosário em suas mãos.

“Jamais pensei que poderiam atacar uma Igreja, a casa de Deus”, comentou Alvarado, que conseguiu sair do local após 12 horas de cerco, graças à mediação do cardeal Leopoldo Brenes e de organismos de direitos humanos.

Aleteia

 

 

 

A Igreja Católica denunciou uma nova agressão contra a Nicarágua, após um grupo de desconhecidos ter incendiado a sede da Cáritas, em meio a uma crise que deixou mais de 351 mortos, em protestos contra o presidente Daniel Ortega.

“Incêndio registrado tarde da noite nos escritórios da Cáritas, no município de Sébaco (norte). Rechaçamos este e outros fatos que durante as últimas semanas prejudicaram o povo nicaraguense e a igreja”, informou a Diocese de Matagalpa em suas redes sociais.

A Igreja Católica e seus mais altos representantes, que participam no diálogo nacional entre o Governo e a sociedade civil para buscar uma saída para a crise, sofreu diversos tipos de agressões por parte de grupos situacionistas, desde a deflagração social de abril passado.

O ataque mais recente foi ontem contra o veículo em que viajava o bispo de Estelí(norte), o nicaraguense Abelardo Mata, por um grupo de parapoliciais que se mantinham postados na estrada que conduz de Manágua a Masaya, denunciou um magistrado de um Tribunal de Apelações.

O mais comentado ocorreu na Paróquia da Divina Misericórdia, ao sul de Manágua, que durante 13 horas, neste final de semana, foi atacada com armas de guerra pelas “forças combinadas” do Governo, por servir de abrigo a estudantes universitários que fugiam das balas e que acabou em duas mortes.

“Recordamos que tais atos não contribuem para a paz e unicamente prejudicam e aumentam o estado de crise em que vive o país. Além disso, a Igreja sempre, apesar dos obstáculos, destacamentos e ameaças, continuará acompanhando o povo”, reiterou aDiocese de Matagalpa.

No último dia 9 de junho, forças situacionistas e parapoliciais, encapuzadas e fortemente armadas, invadiram a basílica de Diriamba para agredir o núncio Stanislaw Waldemar Sommertag, o cardeal Leopoldo Brenes, o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, e outros dois sacerdotes, enquanto resgatavam os paramédicos das ameaças desse grupo.

A sede da Cáritas, localizada a 101 km ao norte de Manágua, foi incendiada por homens em motocicletas e encapuzados, segundo as testemunhas.

O clero nicaraguense tem sofrido todo o tipo de ofensas através das redes sociais por pessoas que defendem Ortega, e que consideram que os sacerdotes estão contra o seu Governo.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) responsabilizou o Governo da Nicarágua por “assassinatos, execuções extrajudiciais, maus-tratos, possíveis atos de tortura e detenções arbitrárias cometidas contra a população majoritariamente jovem do país”.

As denúncias da CIDH são apoiadas pelo Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos e pela maioria do Congresso Permanente da Organização de Estados Americanos (OEA), mas o Governo nicaraguense nega. A Nicarágua atravessa uma crise sociopolítica, a mais sangrenta desde os anos 1980, com Ortega também como presidente.

Os protestos contra Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, começaram no dia 18 de abril passado, por algumas falidas reformas da seguridade social e se tornaram uma exigência de renúncia do mandatário, após onze anos no poder, com acusações de abuso e corrupção.

Religión Digital

País vive o pior banho de sangue desde a guerra civil. Protestos contra o Governo já deixaram um saldo de 351 mortos.

A Nicarágua terminou a semana mergulhada em uma nova onda de protestos contra o Governo de Daniel Ortega. Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas para pedir a destituição do ex-guerrilheiro sandinista.

O país está mergulhado em sua pior crise política desde o final da guerra civil de 1990. A repressão praticada pelo Governo de esquerda a manifestações contra seu mandato já deixou desde 19 de abril deste ano um saldo de 351 mortos, sendo 306 civis e 22 menores de 17 anos. Os dados da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPHD) também apontam que 261 pessoas estão, neste momento, desaparecidas ou sequestradas. Ortega nega as acusações e afirma que os protestos são uma cortina de fumaça para as ‘intenções da direita’, que quer tirá-lo do poder.

A onda de protestos começou no final de abril, quando multidões começaram a tomar as ruas contra as reformas impostas por decreto pelo sandinista para a Previdência Social. Eles se opunham à mudança que reduzia as aposentadorias em 5% e aumentava as contribuições das empresas e dos trabalhadores para resgatar o Instituto Nicaraguense de Seguridade Social (INSS). Após três dias de dura repressão aos atos, dez pessoas já haviam sido mortas pelas forças militares, policiais e paramilitares, grupos irregulares armados que defendem o Governo.

Ao longo dos dias, os protestos não davam sinais de que iriam recuar. E se juntavam ao descontentamento de nicaraguenses da região do Caribe, onde milhares de camponeses se opõem ao Governo por conta da entrega da concessão ao empresário chinês Wang Jing da construção um Canal Interoceânico, um projeto visto como ameaça a milhares de famílias da região. Igreja e empresários se juntaram aos pedidos da população e exigiam a revogação da reforma.

Em 22 de abril, após cinco dias de intensos atos, Ortega finalmente voltou atrás e cancelou a Reforma da Previdência. Ao menos 41 pessoas haviam morrido, segundo os dados da época do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos. Mas os protestos não recuaram. A forte repressão gerou um imenso mal-estar e desencadeou novas ações, que exigiam a paz no país e o fim do regime sandinista. Em 29 de abril, centenas de milhares de pessoas foram às ruas convocados pela Igreja. Ao lado dos bispos, familiares dos assassinados na repressão contra os manifestantes e milhares de camponeses.

Em 13 de maio, confrontos na cidade de Masaya, que começaram no bairro indígena de Monimbó, voltaram a levantar o terror da repressão. Moradores relatavam que os grupos paramilitares estavam armados com fuzis Kalashnikov e disparavam impunemente, apesar da presença da polícia. Em Manágua, capital do país, estudantes se entrincheiravam na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua e na Universidade Politécnica, mesmo depois de terem sido atacados por forças do Governo, num saldo de 2 mortos e pelo menos 16 feridos. A cifra de mortos já passava de 50.

Mais dispersos, os protestos continuaram. Até esta nova onda de protestos mais recente, em 10 de julho, Ortega intensificou a repressão e ao menos 17 pessoas morreram em 24 horas no país. Dois dias depois, o país mergulhou em novos protestos de grande magnitude. E a conta de mortos já atingia 365 pessoas, segundo Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPHD).

Ortega afirma que não deixará o poder e acusa os políticos de direita de orquestrarem os protestos para retirá-lo do poder. Para ele, os protestos contra seu Governo são um reflexo de que “o demônio está mostrando as unhas”. O esquerdista, por sua vez, é acusado pelos seus opositores de querer se perpetuar ao poder a qualquer custo. Ele está há 11 anos à frente do país, ao lado de sua mulher, que é vice-presidente. Sua última vitória, em 2016, foi contestada pela oposição, que a acusou de fraudulenta. Mas Ortega soube se segurar ao poder por meio de alianças pragmáticas. Se aproximou da Igreja ao encampar políticas “pró-família”, como leis rigorosas contra o aborto. E organizou uma agenda pró-mercado, para aproximar o empresariado. “Uma sofisticada estratégia — alimentada até recentemente pela farta ajuda econômica da Venezuela — que deixou a oposição dividida e desorganizada”, analisa Oliver Stuenkel, professor adjunto de Relações Internacionais na FGV em São Paulo.

Com o aumento da repressão, as forças que se aglutinaram a seu favor foram se rompendo ao longo do caminho. Ele recebeu sinais claros da Igreja de que deveria deixar o poder. Mesmo sinal que recebeu do empresariado. A Organização dos Estados Americanos (OEA) apoiou nesta semana um documento crítico à repressão no país em que se afirma que estão sendo cometidas “práticas de terror, com detenções em massa e assassinatos”, conforme adiantou o jornal Folha de S.Paulo.

A ação se soma a um pedido feito no início deste mês pelo alto-comissário das Nações Unidas para os direitos humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, para que o país ponha fim à violência e desmobilize os indivíduos armados pró-Governo. E também à sanções unilaterais já impostas pelos Estados Unidos. Novas sanções poderiam ser um peso muito grande para o país, de economia frágil e altamente dependente de uma Venezuela em crise.

Fonte: El País

O bispo de Estelí, Juan Abelardo Mata, sofreu um atentado a tiros, neste domingo, do qual saiu ileso, conforme informou um colaborador do religioso, que apontou que a vítima buscou refúgio na casa de um familiar.

A agressão por parte de efetivos parapoliciais ocorreu no setor da localidade de Nindirí, no departamento (província) de Masaya, a uns 30 quilômetros ao sudeste de Manágua, capital da Nicarágua, onde Mata presidiu uma missa, acrescentou Roberto Petray, em declarações ao canal de televisão 100% Noticias.

Quase simultaneamente, na próxima Catarina, o sacerdote Jairo Velásquez foi atacado a golpes, por efetivos parapoliciais, quando estava na casa paroquial da igreja Santa Catalina, informou José Alberto Velásquez, irmão do religioso.

No caso de Mata, um dos cinco bispos que atuam como mediadores e avalistas no Diálogo Nacional entre governo oposição, no marco da violenta crise que afeta a Nicarágua, os parapoliciais dispararam contra a caminhonete na qual se deslocava, apontou Petray.

“Eles não se aproximaram, apenas alvejaram o carro”, apontou Petray, destacando que o bispo se refugiou na casa de um familiar, em Nindirí. O veículo recebeu impactos de bala em vidros e pneus, informou.

O arcebispo de Manágua e presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua(CEN), cardeal Leopoldo Brenes, lamentou a agressão e exortou os nicaraguenses a manter as orações pelos bispos.

“Agradecemos a todos por estar preocupados com ele. Peço de todo o coração que continuemos orando imensamente pelos bispos e sacerdotes para que possam cumprir a missão encomendada sob a proteção de Nossa Senhora do Carmo”, disse em um comunicado.

O bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, um firme crítico do governo nicaraguense presidido por Daniel Ortega, confirmou, na rede social Twitter, que Mata não foi atingido pelas balas.

“Acabo de falar com dom Juan Abelardo Mata. Após um incidente sofrido em Nindirí, graças a Deus estão bem e fora de perigo”, tuitou Báez.

Por sua parte, o irmão do sacerdote agredido em Catarina, citado pelo jornal local El Nuevo Diario, relatou que, além de bater no religioso, os agressores causaram danos materiais na casa paroquial.

“Ele me disse que lhe bateram (…), está intimidado e não pode falar muito. Eu lhe perguntei se queria que eu fosse até ele e me disse que não, depois, perguntei-lhe se estava cercado de policiais e me disse que sim”, informou José Alberto Velásquez, que acrescentou:  “disse-me que levaram o seu tablet e um servidor de seu computador”.

Além disso, fez um chamado aos grupos parapoliciais para que se abstenham de agredir o sacerdote e de atacar a Igreja.

“Por favor, desistam de perseguir a igreja, deixem o meu irmão. Ele está lá, com seus fiéis, não existe motivo para que agridam as pessoas. Lá (no templo) não há armas, apenas as batinas e os santos”, destacou.
    
As agressões se somaram a fatos violentos que vários sacerdotes, até mesmo alguns bispos, sofreram na semana passada.

Os acontecimentos deste domingo vieram um dia depois que, em uma Mensagem Pastoral, a CEN afirmou que a violação aos direitos humanos que vem sendo registrada na Nicarágua, no marco da violenta crise sociopolítica deflagrada há quase três meses, não tem precedente.

Houve um aumento da repressão e a violência efetivadas por forças policiais, grupos paramilitares e civis pró-governamentais armados contra manifestantes opositores, conforme denunciaram, no texto, os 10 integrantes da CEN.

São ações extremamente condenáveis como as agressões a religiosos, jornalistas, e defensores dos direitos humanos, assim como ataques a templos católicos, advertiram.

A mensagem foi emitida em razão de que, no marco de um ataque de aproximadamente 18 horas de duração – da tarde da sexta-feira até a manhã de sábado -, grupos paramilitares dispararam, reiteradamente e em rajadas, armas de alto calibre contra a sede da Universidade Nacional autônoma da Nicarágua (UNAN) de Manágua, baleando vários dos aproximadamente 100 estudantes no interior e matando a dois. O ataque à UNAN se dá no marco da crise sociopolítica deflagrada no dia 18 de abril, por causa de um falido decreto presidencial que pretendia reformar o sistema de aposentadorias do Instituto Nicaraguense de Seguridade Social (INSS).

Retirado o decreto, o protesto generalizado se centrou na massiva exigência popular de que Ortega e sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo, renunciem a seus respectivos cargos, uma demanda que o casal governante se nega a acatar.

Religión Digital

O Pavilhão dos Padres’, do jornalista Guillaume Zeller, fala sobre o campo de Dachau, onde sacerdotes católicos foram exterminados pelos nazistas.

Primeiro a ser inaugurado e um dos últimos a ser fechado, o campo de concentração de Dachau, a 17 quilômetros a noroeste de Munique, na Baviera, foi um dos mais terríveis laboratórios de tortura e morte do nazismo de Adolf Hitler. Em 12 anos de funcionamento, entre 22 de março de 1933 e 29 de abril de 1945, abrigou milhares de prisioneiros políticos da Alemanha e de países ocupados.

Opositores ao regime, combatentes da resistência, religiosos de vários credos, comunistas, homossexuais, deficientes e judeus superlotaram os 30 pavilhões erguidos em uma antiga fábrica de munição, para se tornarem modelo de outros centros de detenção. Heinrich Himmler fez ali um estágio, antes de se tornar o poderoso e cruel executor da política racial nazista. Também passaram por lá outros líderes do projeto de extermínio, como Adolf Eichmann e Rudolf Hoss.

A partir de 1938, começaram a chegar a Dachau os primeiros sacerdotes católicos. Do total de 2.720 enviados para o campo, 1.034 foram assassinados até 1945, no fim da 2.ª Guerra Mundial. Desembarcaram sucessivamente padres vindos da Áustria, de outras cidades da Alemanha, da antiga Checoslováquia, da França e de outros países, principalmente da Polônia. É a história desses prisioneiros que o jornalista Guillaume Zeller conta no livro O Pavilhão dos Padres, publicado em 2015 em Paris e lançado agora no Brasil pela editora Contexto. Zeller é diretor do Canal+, rede de televisão francesa, e autor do livro Oran, 5 Juillet 1962, sobre a guerra na Argélia.

É um relato preciso, com nomes, datas, depoimentos e descrições dos sofrimentos impostos aos prisioneiros. Dois deles, Pierre Metzger e Gérard Pierré, sobreviventes do pavilhão 26, onde se concentravam os sacerdotes, encabeçam a lista de agradecimentos do autor às pessoas que colaboram para a edição de ‘O Pavilhão dos Padres’. Além transcrever depoimentos sobre o horror de Dachau com chocante realismo, Zeller faz uma análise das relações da Igreja Católica com o nazismo, desde antes de Hitler conquistar o controle do partido e da Alemanha, em 5 de março de 1933. Os bispos alemães apoiaram o regime de início, mas mudaram de posição ao avaliar os riscos de sua ideologia.

O Vaticano assinou uma concordata com a Alemanha, quatro meses depois, com a pretensão de evitar um endurecimento do governo nazista. A Igreja recebeu garantias de respeito e liberdade, desde que renunciasse a qualquer atividade política.

Sacerdotes foram presos e torturados por terem protegido judeus. Na Noite dos Cristais, quando os nazistas invadiram residências e depredaram lojas de judeus, padre Bernhard Lichtenberg declarou na igreja Santa Edwiges de Berlim: “Lá fora, a sinagoga está ardendo, mas também é uma casa de Deus.” Detido em outubro de 1941, morreu em 5 de novembro de 1943, durante sua transferência para Dachau. Em 1994, foi reconhecido “Justo entre as Nações” pelo memorial de Yad Vashem, o Museu do Holocausto de Jerusalém.

Na Itália, invadida pelos alemães em julho de 1943, após a derrota do fascismo de Mussolini, 28 padres foram deportados. O frade dominicano Giuseppe Girotti foi mandado para Dachau, onde morreu, por ter protegido judeus, fornecendo-lhes documentos falsos e esconderijos. Também foi considerado “Justo entre as Nações” em Israel e seu decreto de beatificação foi assinado pelo papa Francisco em março de 2013.

A Congregação para as Causas dos Santos estuda vários casos de beatificação e canonização de religiosos do campo de Dachau. Alguns deles poderiam canonizados e juntar-se ao polonês São Maximiliano Kolbe e à alemã Santa Edith Stein, judia convertida, mártires do campo de Aushwitz, na Polônia.

Fonte:  O Estado de S. Paulo

Muitos dizem que vivemos em uma era pós-moderna que rejeitou a metafísica. Isso não é completamente verdade. Nós vivemos em uma era pós-moderna que promove uma metafísica alternativa. Conforme eu explico em When Harry became Sally (“Quando Harry se tornou Sally”, obra sem edição em português), no centro do momento transgênero há ideias radicais sobre o ser humano – em particular, que as pessoas são o que afirmam ser, apesar das evidências contrárias. Um menino transgênero seria um menino, não simplesmente uma menina que se identifica como um menino. É compreensível o motivo pelo qual ativistas fazem esse tipo de afirmação. Um argumento sobre as identidades transgênero será muito mais persuasivo se levar em consideração quem alguém é, não somente como alguém se identifica. E, assim, a retórica do momento transgênero atinge asserções ontológicas: as pessoas são do gênero que preferem. Essa é a alegação.

Ativistas do movimento transgênero não admitem que essa é uma afirmação metafísica. Como não querem debater no nível filosófico, disfarçam suas teses como sendo questões científicas e médicas. E eles já conquistaram diversas associações profissionais a favor de sua causa. A Associação Americana de Psicologia, em um panfleto intitulado “Respostas às suas perguntas sobre pessoas transgênero, identidade de gênero e expressão de gênero”, diz que “transgênero é um termo ‘guarda-chuva’ para pessoas cuja identidade de gênero, expressão de gênero ou comportamento não estão em conformidade com o que é tipicamente associado ao sexo que lhes foi designado no nascimento”. Perceba a linguagem politizada: o sexo de uma pessoa é “designado no nascimento”. Em 2005, até mesmo a “Campanha por Direitos Humanos” se referia ao “sexo de nascimento” e “sexo físico”.

A frase “sexo designado no nascimento” é preferida pelos ativistas porque dá espaço para defender que a “identidade de gênero” seria a base real do sexo de uma pessoa. Em declaração durante o julgamento, na Carolina do Norte, sobre a lei estadual de 2016 que busca suspender os “banheiros unissex” (exigindo que os usuários frequentem o banheiro de acordo com o sexo que consta na sua certidão de nascimento), a médica Deanna Adkins afirmou que, de uma perspectiva médica, “o que determina apropriadamente o sexo é a identidade de gênero”. Adkins é professora na Escola de Medicina da Universidade Duke e diretora do Centro Duke para Cuidados de Gênero de Crianças e Adolescentes (que abriu em 2015). Adkins argumenta que a identidade de gênero não apenas seria a base escolhida para a determinação do sexo, mas também “a única determinante do sexo” apoiada pelos médicos. Qualquer outro método é “má ciência”, ela diz. “É contra a ciência médica usar cromossomos, hormônios, órgãos reprodutivos internos, genitálias externas ou características sexuais secundárias para sobrepor a identidade de gênero para propósitos de classificar alguém como masculino ou feminino.”

Essa é uma afirmação impressionante, não apenas porque o argumento recentemente era que gênero seria apenas uma construção social, enquanto o sexo seria uma realidade biológica. Agora, militantes afirmam que a identidade de gênero é uma questão de destino, enquanto o sexo biológico é a construção social.

Adkins não diz se ela pretende aplicar esta regra a todas as espécies de mamíferos. Por que o sexo deveria ser determinado diferentemente em humanos do que em outros mamíferos? E, se a ciência médica crê que a identidade de gênero determina o sexo em humanos, o que isso significa para o uso de medicamentes que possuem efeitos diferentes em homens e mulheres? A dose correta de substâncias depende do sexo do paciente ou da sua identidade de gênero?

Mas o que é exatamente essa “identidade de gênero”, tida como o verdadeiro determinante do sexo? Adkins define como “a sensação interna de um indivíduo de pertencer a um gênero em particular, como masculino ou feminino”. Perceba a função da palavra “como”, implicando que as opções não são necessariamente limitadas a masculino e feminino. Outros ativistas são mais exatos ao admitir que a identidade de gênero não precisa ser restrita à escolha binária de masculino ou feminino, mas pode incluir os dois ou nenhum. A Associação Americana de Psicologia, por exemplo, define “identidade de gênero” como “a sensação interna de uma pessoa em ser masculino, feminino ou outra coisa”.

Adkins defende que ser transgênero não é uma doença mental, mas simplesmente “uma variação normal de desenvolvimento”. E ela afirma, ainda, que profissionais médicos e de saúde mental especializados em disforia de gênero estão de acordo com essa visão.

Catecismo transgênero

Essas noções sobre sexo e gênero estão agora sendo ensinadas para crianças pequenas. Ativistas criaram gráficos apropriados para crianças com este propósito, como o “Boneco Genderbread” (trocadilho com os biscoitos de gengibre, chamados em inglês de “gingerbread”, e a palavra “gender”, gênero). O boneco ( veja abaixo) ensina que, quando se trata de sexualidade e gênero, as pessoas têm cinco características diferentes, cada uma delas seguindo um espectro.

 

 

Há a “identidade de gênero” que é “como você, na sua mente, define o seu gênero, baseado em como você se ajusta (ou não) com o que entende serem as opções de gênero”. O gráfico lista “4 (de infinitas)” possibilidades de identidade de gênero: “estado de mulher”, “estado de homem”, “dois espíritos” ou “genderqueer” (“gênero queer”, que incluiria infinitas expressões de gênero e sexualidade).

A segunda característica é “expressão de gênero” que é “a forma como você apresenta o gênero através de suas ações, vestimentas e comportamento”. Além do “feminino” e “masculino”, as opções são “machão” (butch), “mocinha” (femme), “andrógino” ou “gênero neutro”.

Em terceiro está o sexo biológico definido como “as características físicas de sexo com as quais você nasce e se desenvolve, incluindo a genitália, formato do corpo, tom de voz, hormônios, cromossomos, etc.”.

As duas características finais tratam da orientação sexual: “sexualmente atraído por” e “romanticamente atraído por”. As opções incluem “Mulheres/Fêmeas/Feminilidade” e “Homens/Machos/Masculinidade”. O que parece um tanto binário.

O Boneco Genderbread tenta localizar essas cinco características no corpo: identidade de gênero no cérebro, atração romântica e sexual no coração, sexo biológico na pélvis e expressão de gênero em todo o corpo.

O Boneco apresentado aqui é a versão 3.3, que incorpora ajustes feitos em resposta a críticas de versões anteriores. Mas mesmo este desenho viola o dogma atual. Alguns ativistas reclamaram que o boneco parece masculino demais.

Uma falha mais séria aos olhos de muitos ativistas é o uso do termo “sexo biológico”. A revista Time recebeu críticas para a mesma transgressão em 2014 após publicar um perfil de Laverne Cox, “a primeira pessoa assumidamente trans” a aparecer na capa.

 

Pelo menos, os membros da Time ganharam crédito por tentar serem “bons aliados, explicando o que muitos veem como uma questão complicada”, escreveu Mey Rude em um artigo intitulado Está na hora de as pessoas pararem de utilizar a construção social do ‘sexo biológico’ para defender a sua transmisoginia”. (Está difícil acompanhar o momento transgênero.) Mas a Time foi julgada culpada por utilizar “uma compreensão simplista e desatualizada da biologia para perpetuar ideias perigosas sobre mulheres trans” e falhar em reconhecer que o sexo biológico “não é algo com o qual realmente nascemos, é algo que médicos ou nossos pais nos designam no nascimento”.

Hoje, “aliados” que gozam de boa reputação na causa transgênero não utilizam o Boneco Genderbread em suas salas de aula, mas optam pelo “Unicórnio do Gênero”, criado pela ONG Recursos Educacionais Trans para Estudantes (TSER, na sigla em inglês). Ele tem uma forma corporal que não parece masculina ou feminina e, ao invés de um “sexo biológico”, ele tem um “sexo designado no nascimento”. Essas são mudanças significativas em relação ao Boneco e foram feitas para que o novo gráfico pudesse “representar melhor a distinção entre gênero, sexo designado no nascimento e sexualidade”.

De acordo com a TSER, “sexo biológico é uma palavra ambígua que não possui uma escala e nenhum significado além de ser relacionado a algumas características sexuais. Ele também é prejudicial para pessoas trans. Ao invés desse termo, preferimos ‘sexo designado no nascimento’, que fornece uma descrição mais precisa do que o sexo biológico pode estar tentando comunicar”. O “Unicórnio do Gênero” é provavelmente o gráfico que as crianças encontrarão nas escolas. Esses são os dogmas com os quais eles serão catequizados e terão de professar a outros.

Enquanto militantes afirmam que as possibilidades para a identidade de gênero são amplas – homem, mulher, ambos, nenhum –, eles também insistem que a identidade de gênero é inata ou estabelecida em uma idade precoce e, depois disso, imutável. O médico George Brown, professor de psiquiatria e membro do conselho diretivo da “Associação Profissional Mundial para a Saúde Transgênero” (WPATH, na sigla em inglês), afirmou três vezes à corte federal na Carolina do Norte que a identidade de gênero “é normalmente estabelecida muito cedo na vida, entre dois e três anos de idade”. Dirigindo-se à mesma corte, Deanne Adkins defendeu que “evidências sugerem fortemente que a identidade de gênero é inata ou fixada nos primeiros anos de vida e que, além disso, a identidade de gênero tem uma forte base biológica”. (Em nenhum momento ela citou fontes ou pesquisas para tais afirmações).

Contradições transgênero

Se as afirmações apresentadas nesse ensaio parecem confusas, não se sinta sozinho. O pensamento de militantes da causa transgênero é confuso e cheio de contradições internas. Eles nunca reconhecem estas contradições. Em vez disso, de forma oportunista, confiam em qualquer afirmação que lhes seja útil naquele momento.

Atenção: estou falando sobre ativistas do movimento trangênero. A maior parte das pessoas que sofrem de disforia de gênero não é militante e, muitos deles, rejeitam as afirmações dos ativistas. Muitos até foram vítimas de ativistas, como eu mostro em meu livro. Muitos que sentem angústia sobre o seu sexo corporal sabem que eles não são realmente do sexo oposto e não desejam fazer a “transição”. Eles querem receber ajuda para encontrarem a própria identidade e aceitar o seu eu corporal. Eles não acham que as suas sensações de disforia de gênero definem a realidade.

Mas os ativistas da causa transgênero acham. Independentemente de se identificarem como “cisgênero” ou “transgênero”, os militantes promovem uma visão de mundo altamente subjetiva e incoerente.

Por um lado, eles afirmam que o verdadeiro “eu” é algo diferente do corpo físico, em uma nova forma de dualismo gnóstico e, ao mesmo tempo, eles aceitam uma filosofia materialista em que apenas o mundo material existe. Eles dizem que gênero é puramente uma construção social enquanto afirmam que uma pessoa pode estar “presa” no gênero errado. Eles dizem que não há diferenças significativas entre um homem e uma mulher e ainda assim baseiam-se em rígidos estereótipos sexuais para argumentar que “identidade de gênero” é real, enquanto a personificação humana não é. Eles afirmam que a verdade é o que a pessoa diz que é, e ainda assim acreditam que há um verdadeiro eu a ser descoberto dentro da pessoa. Eles promovem um individualismo expressamente radical em que as pessoas são livres para fazer o que quiserem e definir a verdade como quiserem, mas ao mesmo tempo eles tentam impiedosamente forçar a aceitação da ideologia transgênero.

É difícil ver como essas posições contraditórias podem ser combinadas. Se forçarmos demais qualquer lado da ideologia transgênero, toda a estrutura se desmonta. Mas aqui estão algumas questões que podemos colocar:

Se o gênero é uma construção social, como a identidade de gênero pode ser inata e imutável? 

Como a identidade de alguém pode ser fruto de uma construção social determinada biologicamente no útero?

Como a identidade de alguém pode ser imutável a respeito de uma construção social constantemente em transformação? 

E se a identidade de gênero é inata, como ela pode ser “fluida”? 

O desafio para militantes é oferecer uma definição plausível de gênero e identidade de gênero que seja independente do sexo corporal.

Há um gênero binário ou não? De alguma forma, ele existe e não existe, de acordo com ativistas do movimento transgênero. Se as categorias de “homem” e “mulher” são objetivas o suficiente para que as pessoas se identifiquem com elas e sejam homens ou mulheres, como pode o gênero também ser um espectro, onde as pessoas podem se identificar como ambos, nenhum ou algo intermediário?

O que significa ter uma sensação interna de gênero? Como se sente o gênero? Que significado nós podemos dar ao conceito de gênero ou sexo – e assim, que “sensação” interna podemos ter do gênero – além do corpo de um sexo particular? Além do fato de possuir um corpo masculino, como “se sente” ser um homem? Além do fato de possuir um corpo feminino, como “se sente” ser uma mulher? Como se sente ser ambos, homem e mulher, ou ser nenhum? O desafio para os ativistas do movimento é explicar como são essas sensações e como alguém pode saber se ele ou ela “se sente” como do sexo oposto, ou nenhum, ou ambos.

Mesmo que ativistas trans pudessem responder essas perguntas sobre sensações, isso ainda não abordaria a questão da realidade. Por que sentir-se como um homem – o que quer que isso signifique – faz de alguém um homem? Por que nossas sensações determinam a realidade na questão do sexo, mas em mais nada? Nossas sensações não determinam nossa idade ou altura. E poucas pessoas aceitam a reivindicação de Rachel Dolezal de se identificar como uma mulher negra, visto que ela claramente não é. Se aqueles que se identificam como transgêneros são do sexo com os quais eles se identificam, por que isso não se aplica a outros atributos ou categorias de ser? E as pessoas que se identificam como animais ou pessoas fisicamente aptas que se identificam como deficientes? Todas essas identidades percebidas internamente determinam a realidade? Se não, por que não? E essas pessoas deveriam receber tratamento médico para transformar seus corpos de acordo com suas mentes? Por que aceitar a “realidade” transgênero, mas não a realidade “transracial”, “trans-espécie”, “trans-deficiente”? O desafio para ativistas é explicar por que o sexo “real” de uma pessoa é determinado por uma “identidade de gênero” interna, mas a idade, altura, raça e espécie não são determinadas por um senso interno de identidade.

É claro, um militante da causa transgênero poderia responder que uma “identidade” é, por definição, apenas um senso interno de si. Mas, se esse é o caso, a identidade de gênero seria apenas uma revelação de um segredo, de como alguém se sente. Dizer que alguém é transgênero, então, diz apenas que a pessoa tem sensações de que ele ou ela é do sexo oposto. A identidade de gênero, entendida assim, não tem nenhuma relação com o significado de “sexo” ou qualquer outra coisa. Mas ativistas da causa afirmam que a “identidade de gênero” percebida internamente por uma pessoa é o “sexo” daquela pessoa. O desafio para ativistas é explicar como a simples sensação de ser masculino ou feminino (ou ambos, ou nenhum) faz de alguém masculino ou feminino (ou ambos, ou nenhum).

Ideólogos trans ignoram evidências contrárias e interesses concorrentes; depreciam práticas alternativas e buscam abafar vozes céticas e acabar com qualquer discordância. O movimento tem de continuar remendando e escorando suas crenças, policiando os fiéis, coagindo os hereges e punindo os apóstatas porque assim que seus furiosos esforços fraquejarem por um momento ou alguém os rebater, toda a farsa é exposta

Identidade de gênero pode soar muito como identidade religiosa, que é determinada por crenças. Mas essas crenças não determinam a realidade. Alguém que se identifica como um cristão acredita que Jesus é Cristo. Alguém que se identifica como muçulmano acredita que Mohammed é o último profeta. Mas Jesus é ou não é Cristo, e Mohammed é ou não é o Último Profeta, independentemente do que qualquer um acredita. Então, também, uma pessoa é ou não um homem, independentemente do que qualquer um – incluindo a própria pessoa – acredita. O desafio para ativistas do movimento transgênero é apresentar um argumento que justifique por que as crenças de transgêneros devem determinar a realidade.

Determinar a realidade é o centro da questão e aqui, também, nós encontramos contradições. Por um lado, ativistas querem a autoridade da ciência enquanto fazem afirmações metafísicas, dizendo que a ciência revela a identidade de gênero como sendo inata e imutável. Por outro, eles negam que a biologia é destino, insistindo que as pessoas são livres para ser quem desejam ser. Qual deles é o correto? A nossa identidade de gênero é biologicamente determinada e imutável ou autocriada e mutável? Se é o primeiro caso, como explicamos pessoas cuja identidade de gênero muda com o tempo? Essas pessoas têm um senso de gênero errado em um momento ou outro? E se a identidade de gênero é autocriada por que algumas pessoas devem aceitá-la como realidade? Se somos livres para escolher a nossa própria realidade de gênero por que alguns impõem a sua ideia de realidade sobre outros apenas porque eles se identificam como transgênero? O desafio para militantes é articular alguma concepção de verdade que possa fundamentar a forma como compreendemos o bem comum e como a sociedade deveria ser ordenada.

Conforme eu documento de forma aprofundada em When Harry Became Sally, as afirmações de ativistas do movimento transgênero são confusas porque elas são filosoficamente incoerentes. Ativistas confiam em afirmações contraditórias de acordo com o discurso necessário no momento para avançar em suas posições, mas a sua ideologia segue evoluindo, e até mesmo aliados e organizações LGBT podem ficar para trás conforme o “progresso” acontece. No centro da ideologia está a radical afirmação de que sensações determinam a realidade. A partir dessa ideia surgem demandas extremas para a sociedade lidar com afirmações subjetivas da realidade. Ideólogos trans ignoram evidências contrárias e interesses concorrentes; depreciam práticas alternativas e buscam abafar vozes céticas e acabar com qualquer discordância. O movimento tem de continuar remendando e escorando suas crenças, policiando os fiéis, coagindo os hereges e punindo os apóstatas porque assim que seus furiosos esforços fraquejarem por um momento ou alguém os rebater, toda a farsa é exposta. É isso que acontece quando seus dogmas são tão contrários às verdades diárias, óbvias e simples. Um futuro transgênero não é “o lado certo da história”, e ainda assim militantes convenceram os mais poderosos setores de nossa sociedade a concordar com suas demandas. Embora as argumentações dos ativistas sejam manifestamente falsas, será preciso um trabalho real para impedir que tais ideias perigosas se espalhem.

Ryan T. Anderson é fundador e editor da Public Discourse. Ele é autor do livro When Harry became Sally: Responding to the Transgender Moment, do qual esse ensaio foi adaptado.

©2018 Public Discourse. Publicado com permissão. Original em inglês. Via Jornal Gazeta do Povo

Autora: Cristiane Lasmar

As mensagens feministas dirigidas aos meninos devem ser entendidas como parte de um projeto político e ideológico mais amplo, o programa de ataque à masculinidade está em curso em praticamente todos os países ocidentais.

Vou me concentrar aqui no modo como esse programa é posto em prática na educação das crianças, começando por esclarecer quais são as disposições infantis que estou chamando de “masculinas” e que o projeto feminista tanto se esforça por neutralizar.

Sabemos que, durante a vida intrauterina, o cérebro dos meninos é banhado por uma quantidade muito maior de testosterona do que o das meninas, e que isso determina, em ampla medida, a forma masculina de estar no mundo. Não é difícil perceber, por exemplo, que, em média, os meninos desenvolvem a coordenação ampla antes das meninas, ao passo que estas se antecipam no desenvolvimento da linguagem e da coordenação fina. E que, desde a mais tenra idade, a maioria dos meninos manifestam mais interesse imediato por objetos do que por pessoas, preferem brinquedos que possuem barulho e movimento, e mostram-se ávidos por brincadeiras que envolvam exploração, confronto corporal e dispêndio explosivo de energia.

A maior propensão dos meninos a recorrer à violência física para resolver conflitos também faz parte desse pacote. Quem os educa tem, portanto, diante de si, a importante tarefa de ajudá-los a mitigar e canalizar o seu potencial agressivo para formas de ação civilizadas e socialmente produtivas. Esse esforço de culturalização das disposições naturais masculinas é absolutamente necessário e jamais houve sociedade que deixasse de realizá-lo. Mas o que vem acontecendo no Ocidente contemporâneo é algo sem precedentes. Temos reprimido, em nossos meninos, todo tipo de comportamento que manifeste vigor combativo e espírito abertamente competitivo, sufocando assim traços essenciais de sua masculinidade. Em suma, os meninos estão sendo impedidos de ser meninos plenamente. E, quando resistem, seu modo de ser é problematizado, estigmatizado. Em muitos casos, chega a ser tratado como algo patológico.

É verdade que não se pode culpar a “ideologia de gênero” por absolutamente tudo. Alguns fatores sociológicos também contribuem para esse cerco à masculinidade. Um deles é a intensificação do padrão de vida urbano. A residência em apartamentos, a impossibilidade de brincar na rua ou em quintais, em contato íntimo com a natureza, assim como o fato das crianças precisarem estar sob a vigilância constante de um adulto, tudo isso restringe as suas possibilidades de experimentar situações não premeditadas de aventura, competição e confronto.

A oportunidade de se movimentar amplamente ficou restrita à prática de esportes em clubes e academias, ou seja, a eventos de curta duração, atividades rotinizadas e supervisionadas diretamente por professores e instrutores, sem uma liberdade real. Em muitos casos, porém, nem isso é concedido aos meninos. Uma boa parte das crianças vive a triste realidade do sedentarismo absoluto. Durante o tempo em que não estão na escola, ficam paralisadas diante das telas dos aparelhos eletrônicos, assistindo por horas a fio às aventuras de personagens virtuais que lutam, correm e se arriscam. Tudo o que lhes resta é o exercício vicário da masculinidade.

Outro fator importante que concorre para esse processo é a dinâmica própria da escola. Por seu caráter universalista e homogeneizante, a escola moderna não pode permitir a expressão plena das individualidades dos alunos, e precisa mantê-los quietos pelo maior período de tempo possível. Além disso, com o fenômeno da judicialização crescente das relações sociais, as escolas têm se tornado alvo potencial de processos por parte dos pais, o que leva os gestores a tentar reduzir o risco de acidentes a zero, aprofundando o controle sobre a corporalidade exuberante dos meninos. Eles não podem brincar de luta, envolver-se em competições espontâneas e, em muitos casos, não são nem mesmo autorizados a correr no recreio. Devem ficar sentados por horas a fio, mimetizando a duras penas o comportamento das meninas, que, embora mais conversadeiras, são, em geral, mais maduras e capazes de se manter quietas e concentradas quando necessário. Por serem mais empáticas, elas também têm mais facilidade para desenvolver relações de cumplicidade com os professores.

Além de não possuírem meios para dar expressão às suas necessidades de movimento, ação e competição, os meninos ainda recebem poucos estímulos imaginativos na escola. Os professores são, em sua maioria, mulheres, e os currículos escolares têm se distanciado cada vez mais da sensibilidade masculina típica. Pensemos, por exemplo, na nova onda de desenvolver nos alunos “competências sócio- emocionais”. Não é preciso ser PHD em desenvolvimento infantil para saber que esse tipo de conteúdo será, já de saída, muito mais atraente para as meninas, as quais têm mais facilidade e desenvoltura para falar de seus próprios sentimentos, e gostam de fazê-lo. Não obstante, a matéria é introduzida como se atendesse a uma necessidade geral e irrestrita, e sem nenhuma consideração relativa às diferenças entre os sexos. É claro que isso não ocorre por desconhecimento ou descaso. O objetivo é exatamente o de transformar a sensibilidade dos meninos, da mesma forma como acontece com a seleção da literatura a ser trabalhada em sala de aula. Onde estão as histórias de batalhas, aventuras e heroísmo que tanto encantam a imaginação masculina? Foram substituídas por narrativas politicamente corretas e eivadas de ideologia de gênero.

Em condições normais, esses dois fatores de cerco à masculinidade – a vida urbana e a dinâmica escolar – poderiam ser relativamente contornados pela adoção de estratégias de compensação e adaptação por parte da família e da própria escola. Porém, as chances de se encontrar caminhos alternativos que beneficiem os meninos têm sido limitadas pela interferência de um terceiro fator, que é dentre todos o mais perverso, justamente por impedir o ajuste dos outros dois. Refiro-me à influência nefasta do discurso feminista que apresenta o modo de ser masculino como potencialmente “tóxico”, como algo de que os homens precisam se livrar, para o bem das mulheres e para o seu próprio bem. Nesse ponto, já não estamos mais falando de um constrangimento à masculinidade criado por circunstâncias históricas e sociológicas, e sim de um juízo de valor ideológico e politicamente interessado.

O discurso da “masculinidade tóxica” já se embrenhou em todos os níveis da atividade educacional, impregnando a visão de mundo de boa parte das famílias e de quase todos os gestores e agentes escolares. Em seu nome, os meninos têm sido submetidos a um processo de desvirilização de amplas consequências individuais e sociais. Um exemplo é a redução significativa de suas chances de sucesso escolar. Ao exercer tamanha pressão sobre a masculinidade, a educação atual coloca os meninos em notória desvantagem acadêmica em relação às meninas. Eles são os campeões nos índices de suspensão, expulsão e reprovação. Entre a população menos favorecida economicamente, essa situação tem resultados cruéis. Diminui as chances de mobilidade social e, em casos de maior vulnerabilidade, pode levar à marginalização e à exclusão social.

Do ponto de vista individual, abafar a expressão da sensibilidade natural dos meninos e impedir que ela se desenvolva em formas socialmente legítimas e valorizadas, significa despersonalizá-los e restringir as suas perspectivas de vida.

Do ponto de vista coletivo, significa deixar de prepará-los para assumir as suas responsabilidades futuras como cidadãos e pais de família. Em muitas ocasiões cruciais, e para certas atividades específicas permanentes, uma comunidade precisa contar com a energia viril, do mesmo modo como uma família precisa contar com um homem que seja capaz de assumir riscos e obrigações pesadas para provê-la e protegê-la. É nas situações de calamidade, nos eventos de emergência, e no enfrentamento das ameaças externas, que nos damos conta do quanto a força física, a intrepidez e a objetividade masculinas são predicados imprescindíveis e admiráveis. Como escreveu C. Hoff Sommers, no livro já citado: “A história nos ensina que a masculinidade sem moralidade pode ser letal. Mas quando a masculinidade é imbuída de moralidade, ela se torna poderosa e construtiva, e uma dádiva para as mulheres (grifo meu). ”

Mas os promotores da “ideologia de gênero” não estão preocupados com nada disso. O que nós percebemos como um problema sério, para eles é o corolário de um projeto que foi laboriosamente posto em prática ao longo de cinco décadas e cujos efeitos começam a se tornar mais visíveis agora. O cenário que temos hoje diante de nossos olhos – meninos pressionados em sua masculinidade, meninas confusas em relação à sua feminilidade – vem sendo idealizado, planejado e executado desde o início da segunda onda feminista nos anos 60, quando as universidades, as escolas e os meios de comunicação começaram a ser ocupados por agentes dedicados à pauta da desconstrução.

Em suma, o projeto de desvirilização dos meninos é a outra face do projeto de desfeminilização das meninas. As meninas são convencidas de que a sua feminilidade as transforma em vítimas dos homens. Ressentidas, elas se desfeminilizam para competir com eles. Os meninos são convencidos de que a sua masculinidade os torna algozes das mulheres. Culpados pela dor que alegadamente lhes causariam, eles se desvirilizam para tentar agradá-las. E, desse modo, chega-se mais perto da desestruturação da família heterossexual monogâmica, por meio do ataque a um de seus principais fundamentos, a complementariedade entre os sexos.

Um vídeo produzido pela página polonesa idź Pod Prąd tem feito sucesso nas redes sociais. Postado em 5 de fevereiro, o vídeo já teve mais de 650 mil visualizações e 6,9 mil compartilhamentos apenas na página que o postou e traz o depoimento de várias mulheres polonesas contra o feminismo.

“O feminismo tira do homem a oportunidade de ser forte, guiar o caminho e proteger a mulher. E tira da mulher as suas características naturais, como graciosidade, beleza, sensibilidade e o direito de ser frágil. O feminismo força a mulher a provar que pode ser igualzinha aos homens”, diz umas das mulheres que aparecem na produção.

Uma mulher diz que “é maravilhoso pedir ajuda a meu marido e saber que sempre posso contar com ele”. “Não consigo imaginar uma situação em que eu precise proteger meu esposo. Ser esposa e futura mãe faz com que eu me sinta realizada”, diz outra. “Desenvolva suas paixões, respeite a si mesma, respeite o seu corpo e, acima de tudo, comece a pensar”.

“Deus criou você de um jeito tão lindo. Deixe assim”, diz outra mulher. “Uma mulher não tem que mudar nada. Ela sabe que é uma mulher. Não sente falta de nada”. Outra afirma que o feminismo “é não-feminino”.

“O feminismo é idiota. É contra o bom senso”, diz outra participante. “Acho que hoje em dia as mulheres perderam a sua feminilidade, porque tentam se colocar no lugar dos homens”, afirma outra. O vídeo promove o slogan “Sou uma mulher, #NãoUmaFeminista”.

Página

A página idź Pod Prąd, que significa “Contra a corrente”, diz que oferece “pontos de vista que estão em conflito com as opiniões comumente promovidas”. “O mais importante, no entanto, é que queremos descrever a realidade não da perspectiva da teologia, dos dogmas ou do ensino variável das igrejas, mas com base na Palavra de Deus, a Bíblia”, diz o texto de apresentação da página.

“Deus não encaminhou as Sagradas Escrituras para a casta dos sacerdotes ou professores de teologia. Ele os escreveu como uma carta endereçada diretamente a você!”, diz o texto. “Por muitos anos em nossa terra natal, a noção de cristão foi fortemente desacreditada”, o que se deve, segundo a página, à ação de “fariseus religiosos” que ostentam o título de cristãos.

“Gostaríamos de dizer que não estamos interessadas no mundo projetado pelas feministas. Pouco nos importam a ideologia de gênero, as teorias queer, o ecologismo e suas outras ideias esquerdistas. Não queremos que nos digam o que devemos ser”, diz o texto que acompanha o vídeo. “É hora de mostrar às feministas que a sua ideologia é estúpida e danosa para todas as mulheres. É hora de mostrar às mulheres normais que há milhões de nós”.

Fonte: Sempre Família

Assista ao vídeo (em polonês)