É o episódio dos discípulos de Emaús, narrado pelo evangelista Lucas, o fio condutor do Documento Final do Sínodo dos Jovens.

Lido na Sala alternando vozes do relator geral, cardeal Sérgio da Rocha, e os secretários Especiais, padre Giacomo Costa e padre Rossano Sala, juntamente com Dom Bruno Forte, membro da Comissão para a Redação do texto, o documento é complementar ao ‘Instrumentum laboris’ do Sínodo, do qual toma a subdivisão em três partes.

Acolhido com aplausos, o texto – disse o cardeal Sérgio Da Rocha – é “o resultado de um verdadeiro trabalho de equipe” dos Padres Sinodais, juntamente com os outros participantes no Sínodo e “em modo particular os jovens.”

O Documento, portanto, recolhe as 364 formas, ou emendas, apresentadas. “A maior parte delas – acrescentou o Relator geral – foi precisa e construtiva”. Todos os parágrafos do texto foram aprovados com pelo menos dois terços dos votos.

Em primeiro lugar, portanto, o Documento Final do Sínodo olha para o contexto em que vivem os jovens, destacando os pontos de força e desafios. Tudo parte de uma escuta empática que, com humildade, paciência e disponibilidade, permite de dialogar realmente com os jovens, evitando “respostas pré-concebidas e receitas prontas”.

Os jovens, de fato, querem ser “ouvidos, reconhecidos, acompanhados” e querem que sua voz seja “considerada interessante e útil no campo social e eclesial”. A Igreja nem sempre teve essa atitude, reconhece o Sínodo: muitas vezes sacerdotes e bispos, sobrecarregados por muitos compromissos, lutam para encontrar tempo para o serviço da escuta.

Daí a necessidade de preparar adequadamente também leigos, homens e mulheres, capazes de acompanhar as jovens gerações. Diante de fenômenos como a globalização e a secularização, além disso,  os jovens movem-se em direção a uma redescoberta de Deus e da espiritualidade e isso deve ser um estímulo para a Igreja, para recuperar a importância do dinamismo da fé.

Outra resposta da Igreja às questões dos jovens vem do setor educacional: as escolas, as universidades, as faculdades, os oratórios, permitem uma formação integral dos jovens, oferecendo ao mesmo tempo um testemunho evangélico de promoção humana.

Em um mundo onde tudo está conectado – família, trabalho, tecnologia, defesa do embrião e do migrante – os bispos definem como insubstituível o papel desempenhado pelas escolas e universidades onde os jovens passam muito tempo.

As instituições educacionais católicas, em particular, são chamadas a enfrentar a relação entre a fé e as demandas do mundo contemporâneo, as diferentes perspectivas antropológicas, os desafios técnico-científicos, as mudanças nos costumes sociais e o compromisso com a justiça. Também a paróquia tem o seu papel: “Igreja no território”, é preciso um repensar na sua vocação missionária, pois muitas vezes resulta pouco significativa e pouco dinâmica, especialmente na área da catequese.

O documento sinodal se concentra então no tema dos migrantes, “paradigma do nosso tempo”,  como um fenômeno estrutural, e não uma emergência transitória. Muitos migrantes são jovens ou menores desacompanhados, fugindo da guerra, violências, perseguição política ou religiosa, desastres naturais, pobreza e acabam se tornando vítimas de tráfico, drogas, abusos psicológicos e físicos.

A preocupação da Igreja é acima de tudo em relação a eles – diz o Sínodo – na ótica de uma autêntica promoção humana que passa pela acolhida de refugiados, e seja ponto de referência para tantos jovens separados de suas famílias de origem. Mas não só: os migrantes – recorda o Documento – são também uma oportunidade de enriquecimento para as comunidades e sociedades em que chegam e que podem ser revitalizados por eles.

Ressoam, portanto, os verbos sinodais “acolher, proteger, promover, integrar” indicados pelo Papa Francisco para uma cultura que supere a desconfiança e o medo. Os bispos também pedem mais empenho em garantir àqueles que não desejam migrar, o direito de permanecer em seu próprio país. A atenção do Sínodo também se dirige àquelas Igrejas ameaçadas em sua existência, pela emigração forçada e pelas perseguições sofridas pelos fiéis.

Bastante ampla, também, a reflexão sobre os “diversos tipos de abuso” (de poder, econômicos, de consciência, sexuais) feitos por alguns bispos, sacerdotes, religiosos e leigos: nas vítimas – lê-se no texto – eles provocam sofrimentos que “podem ​​durar toda a vida e aos quais nenhum arrependimento pode colocar remédio”.

Daí o apelo do Sínodo ao “firme compromisso com a adoção de rigorosas medidas de prevenção que impeçam o repetir-se, a partir da seleção e da formação daqueles a quem serão confiadas tarefas de responsabilidades e educativas”. Por conseguinte, será necessário extirpar as formas – como a corrupção e o clericalismo – sob as quais estes tipos de abusos estão enraizados, contrastando também a falta de responsabilidade e transparência com que muitos casos foram geridos.

Ao mesmo tempo, o Sínodo se diz agradecido a todos aqueles que “têm a coragem de denunciar o mal sofrido”, porque ajudam a Igreja a “tomar consciência do que aconteceu e da necessidade de reagir com decisão”. “A misericórdia, de fato, exige a justiça”. Mas não devem porém ser esquecidos os numerosos leigos, sacerdotes, pessoas consagradas e bispos que a cada dia se dedicam, com honestidade, a serviço dos jovens, os quais podem verdadeiramente oferecer “uma ajuda preciosa” para uma “reforma de dimensão epocal” nesta área.

Outros temas presentes no Documento dizem respeito à família, principal ponto de referência para os jovens, primeira comunidade de fé, “Igreja doméstica”: o Sínodo chama a atenção, em particular, ao papel dos avós na educação religiosa e na transmissão da fé, e alerta para o enfraquecimento da figura paterna e  para aqueles adultos que assumem estilos de vida “juvenis”. Além da família, para os jovens, a amizade com os colegas é muito importante, pois permite a partilha da fé e a ajuda recíproca no testemunho.

O Sínodo concentra-se também em algumas formas de vulnerabilidade vividas pelos jovens em vários setores: no trabalho, onde o desemprego torna as jovens gerações pobres, minando a sua capacidade de sonhar; as perseguições até a morte; a exclusão social por motivos religiosos, étnicos ou econômicos; as deficiências.

Diante dessa “cultura de descarte“, a Igreja deve lançar um apelo à conversão e à solidariedade, tornando-se uma alternativa concreta às situações de dificuldade. Na frente oposta, não faltam áreas onde o comprometimento dos jovens consegue se expressar com originalidade e especificidade: por exemplo, o voluntariado, a atenção às questões ecológicas, o compromisso na política com a construção do bem comum, a promoção da justiça, pela qual os jovens pedem à Igreja “um compromisso firme e coerente”.

Também o mundo do esporte e da música oferece aos jovens a possibilidade de expressarem-se da melhor forma: no primeiro caso, a Igreja convida a não subestimar a potencialidade educacional, formativa e inclusiva da atividade esportiva; no caso da música, por outro lado, o Sínodo fala sobre sobre seu “ser recurso pastoral” que interpela também a uma renovação litúrgica, porque os jovens têm o desejo de uma “liturgia viva”, autêntica, alegre, momento de encontro com Deus e com o comunidade.

Os jovens apreciam celebrações autênticas em que a beleza dos sinais, o cuidado da pregação e o envolvimento da comunidade falem realmente de Deus”: portanto, precisam ser ajudados a descobrir o valor da adoração eucarística e a compreender que” a liturgia não é puramente expressão de si mesma, mas ação de Cristo e da Igreja”.

As jovens gerações, ademais, querem ser protagonistas da vida eclesial, colocando seus talentos e assumindo responsabilidades. sujeitos ativos da ação pastoral, eles são o presente da Igreja, devem ser encorajados a participar na vida eclesial, e não impedidos com autoritarismo. Em uma Igreja capaz de dialogar de uma forma menos paternalista e mais sincera, de fato, os jovens sabem ser muito ativos na evangelização de seus coetâneos, exercendo um verdadeiro apostolado, que deve ser apoiado e integrado na vida da comunidade.

Deus fala à Igreja e ao mundo por meio dos jovens, que são um dos “lugares teológicos” onde o Senhor está presente. Portadora de uma santa inquietude que a torna dinâmica – lê-se na segunda parte do Documento – a juventude pode estar “mais à frente dos pastores” e isso deve ser acolhida, respeitada, acompanhada. Graças a ela, de fato, a Igreja pode se renovar, sacudindo “o peso e a lentidão”. Assim, o chamado do Sínodo para o modelo de “Jesus jovem entre os jovens” e ao testemunho dos santos, entre os quais estão muitos jovens, profetas da mudança.

Outra “bússola segura” para a juventude é a missão, dom de si que leva a uma felicidade verdadeira e duradoura: Jesus, de fato, não tira a liberdade, mas a liberta, porque a verdadeira liberdade só é possível em relação à verdade e à caridade. Intimamente relacionado com o conceito de missão, está aquele da vocação: cada vida é vocação em relação com Deus, não é fruto do acaso ou um bem privado para gerir por conta própria – afirma o Sínodo – e cada vocação batismal é um chamado para todos para a santidade. Para isso, cada um deve viver a própria vocação específica em cada área: a profissão, a família, a vida consagrada, o ministério ordenado e o diaconato permanente, que representa um “recurso” a ser ainda desenvolvido mais plenamente.

Acompanhar é uma missão para a Igreja a ser realizada em um nível pessoal e de grupo: em um mundo “caracterizado por um pluralismo sempre mais evidente e por uma disponibilidade de opções cada vez mais ampla,” buscar junto com os jovens um percurso voltado a fazer escolhas definitivas é um serviço necessário. Os destinatários são todos os jovens: seminaristas, sacerdotes ou religiosos em formação, noivos e recém-casados ​​envolvidos. A comunidade eclesial é um lugar de relações e contexto em que na celebração eucarística se é tocados, instruídos e curados pelo próprio Jesus. O Documento Final enfatiza a importância do Sacramento da Reconciliação na vida de fé e encoraja os pais, professores, lideranças, animadores, sacerdotes e educadores a ajudar os jovens, por meio da da Doutrina Social da Igreja, a assumir responsabilidades no âmbito profissional e sócio-político. O desafio em sociedades cada vez mais interculturais e plurirreligiosas, é indicar na relação com a diversidade uma oportunidade para a comunhão fraterna e o enriquecimento mútuo.

O Sínodo, portanto, promove um acompanhamento integral centrado na oração e no trabalho interior que valorize também a contribuição da psicologia e da psicoterapia, quando abertas à transcendência. “O celibato pelo Reino” – é a recomendação – deve ser entendido como um “dom a ser reconhecido e verificado na liberdade, alegria, gratuidade e humildade”, antes da escolha definitiva. Que se invista e aposte em acompanhadores de qualidade: pessoas equilibradas, de escuta, fé, oração, que tenham se deparado com as próprias fraquezas e fragilidades, e sejam por isto acolhedoras “sem moralismos e falsas indulgências”, sabendo corrigir fraternalmente, longe de comportamentos possessivos e manipuladores. “Esse profundo respeito – lê-se o texto – será a melhor garantia contra os riscos de plágio e abusos de qualquer tipos”.

“A Igreja é o ambiente para discernir e a consciência – escrevem os Padres sinodais – é o lugar onde se colhe o fruto do encontro e da comunhão com Cristo”: o discernimento, por meio de “um regular confronto com um diretor espiritual”, apresenta-se portanto como o sincero trabalho de consciência”, “pode ser entendido somente como autêntica forma de oração” e “requer a coragem de empenhar-se na luta espiritual”. Banco de prova das decisões assumidas é a vida fraterna e o serviço aos pobres. De fato, os jovens são sensíveis à dimensão da diakonia.

Maria Madalena, primeira discípula missionária, curada das feridas, testemunha da Ressurreição é o ícone de uma Igreja jovem. Dificuldades e fragilidades dos jovens “nos ajudam a ser melhores, seus questionamentos – lê-se – nos desafiam, as críticas nos são necessárias porque muitas vezes através deles a voz do Senhor nos pede conversão e renovação”. Todos os jovens, mesmo aqueles com diferentes visões de vida, nenhum excluído, estão no coração de Deus. Os Padres ressaltam o dinamismo construtivo da sinodalidade, ou seja, o caminhar juntos: o final da Assembleia e o Documento final são apenas uma etapa porque as condições concretas e as necessidades urgentes são diferentes entre países e continentes. Daí o convite às Conferências Episcopais e às Igrejas particulares para prosseguir no processo de discernimento com o objetivo de elaborar soluções pastorais específicas.

“Sinodal” é um estilo para a missão que exorta a passar do “eu” ao “nós” e a considerar a multiplicidade de rostos, sensibilidades, origens e culturas diferentes. Neste horizonte são valorizados os carismas que o Espírito dá a todos, evitando o clericalismo que exclui muitos dos processos de decisão e a clericalização dos leigos, que freia o ímpeto missionário.

Que a autoridade – são os votos – seja vivida a partir de uma perspectiva de serviço. Sinodal seja também a abordagem ao diálogo inter-religioso e ecumênico destinado ao conhecimento recíproco e à superação de preconceitos e estereótipos, e a renovação da vida comunitária e paroquial, para que encurte as distâncias jovens-igreja e mostre a íntima conexão entre fé e experiência concreta de vida. Formalizado o pedido diversas vezes feito na Aula para instituir, em nível de Conferências Episcopais, um “Diretório de pastoral da juventude em chave vocacional”, que possa ajudar os responsáveis diocesanos e os agentes locais a qualificar a sua educação e ação com e para os jovens”, contribuindo  a superar uma certa fragmentação da pastoral da Igreja. Reiterada ainda a importância da JMJ, bem como a dos centros da juventude e oratórios, que precisam no entanto ser repensados.

Há alguns desafios urgentes que a Igreja é chamada a enfrentar. O Documento Final do Sínodo aborda a missão no ambiente digital: parte integrante da realidade cotidiana dos jovens, “praça” em que eles passam muito tempo e se encontram facilmente, um lugar irrenunciável para alcançar e envolver os jovens também nas atividades pastorais, a web apresenta luzes e sombras.

Se por um lado permite o acesso à informação, ativa a participação sociopolítica e a cidadania ativa, por outro apresenta um lado obscuro – a assim chamada dark web – em que se encontram a solidão, a manipulação, a exploração, a violência, cyberbullying, pornografia. Daí o convite do Sínodo para habitar o mundo digital, promovendo o seu potencial comunicativo em vista do anúncio cristão e a “impregnar” de Evangelho as suas culturas e dinâmicas.

Faz-se votos de que sejam criados Escritórios e organismos para a culturae a evangelização digital que, além de “favorecer a troca e e a disseminação de boas práticas, possam gerenciar sistemas de certificação de sites católicos, para conter a disseminação de notícias falsas (fake news) sobre a Igreja”, emblema de uma cultura que “perdeu o sentido da verdade”, encorajando a promoção de “políticas e instrumentos para a proteção dos menores na web”.

Então, o Documento enfoca o tema do corpo, da afetividade, da sexualidade: diante de desenvolvimentos científicos que levantam questionamentos éticas, de fenômenos como a pornografia digital, o turismo sexual, a promiscuidade, exibicionismo online, o Sínodo recorda às famílias e às comunidades cristãs da importância de fazer descobrir aos jovens que a sexualidade é um dom. Muitas vezes a moral sexual da Igreja é percebida como “um espaço de juízo e condenação”, enquanto os jovens buscam “uma palavra clara, humana e empática” e “expressam um explícito desejo de confronto sobre as questões relativas à diferença entre identidade masculina e feminina, à reciprocidade entre homens e mulheres, à homossexualidade”.

Os bispos reconhecem a dificuldade da Igreja em transmitir no atual contexto cultural “a beleza da visão cristã da corporeidade e da sexualidade”: é urgente buscar “modalidades mais adequadas, que se traduzam concretamente na elaboração de caminhos formativos renovados”. “É preciso propor aos jovens uma antropologia da afetividade e da sexualidade capaz de dar o justo valor à castidade” para o crescimento da pessoa, “em todos os estados de vida”. Nesse sentido, é pedido que se preste atenção à formação de agentes pastorais que sejam críveis e maduros do ponto de vista afetivo-sexual.

O Sínodo constata ademais a existência de “questões relativas ao corpo, à afetividade e à sexualidade que necessitam de uma elaboração antropológica, teológica e pastoral mais aprofundada, a ser realizada nas modalidades e níveis mais convenientes, daqueles locais aos mais universais.  Entre estes emergem aqueles relacionados à diferença e harmonia entre identidade masculina e feminina e às inclinações sexuais”.

“Deus ama cada pessoa pessoas e assim faz a Igreja renovando seu compromisso contra qualquer discriminação e violência com base sexual”. Da mesma forma – prossegue o Documento – o Sínodo “reafirma a determinante relevância antropológica da diferença e reciprocidade homem-mulher e considera redutivo definir a identidade das pessoas com base unicamente na sua orientação sexual”.

Ao mesmo tempo, recomenda-se “favorecer” os “caminhos de acompanhamento na fé, já existentes em muitas comunidades cristãs”, de “pessoas homossexuais”. Nestes caminhos as pessoas são ajudadas a ler sua própria história; a aderir livremente e responsavelmente ao próprio chamado batismal; a reconhecer o desejo de pertencer e contribuir para a vida da comunidade; a discernir as melhores formas para que isso se realize. Desta forma, se ajuda a cada jovem, nenhum excluído, a integrar cada vez mais a dimensão sexual na própria personalidade, crescendo na qualidade das relações e caminhando para o dom de si”.

Entre outros desafios apontados pelo Sínodo, encontra-se também a questão econômica: o convite dos Padres é o de investir tempo e recursos nos jovens com a proposta de oferecer a eles um período para o amadurecimento da vida cristã adulta, que “deveria prever uma separação prolongada de ambientes e relações habituais”.

Além disso, enquanto se faz votos de um acompanhamento antes e depois do casamento, se encoraja a criação de equipes educativas, que incluam figuras femininas e casais cristãos, para a formação de seminaristas e consagrados, também com o objetivo de superar tendências ao clericalismo. Atenção especial é pedida à acolhida dos candidatos ao sacerdócio, que às vezes ocorre “sem um conhecimento adequado e uma releitura aprofundada da própria história”: “a instabilidade relacional e afetiva, e a falta de raízes eclesiais são sinais perigosos. Negligenciando a normativa eclesial a este respeito – escrevem os Padres sinodais – constitui um comportamento irresponsável, que pode ter consequências muito graves para a comunidade cristã”.

“As diversidades vocacionais – conclui o Documento Final do Sínodo sobre os jovens – inserem-se no único e universal chamado à santidade. Infelizmente o mundo está indignado com os abusos de algumas pessoas da Igreja, antes que animados pela santidade de seus membros”. Por isso a Igreja é chamada a “uma mudança de perspectiva”: por meio da santidade de tantos jovens dispostos a renunciar à vida em meio a perseguições para permanecerem fiéis ao Evangelho, pode renovar seu ardor espiritual e seu vigor apostólico.

Por fim, como recordação do Sínodo dos Jovens, o Santo Padre deu a todos os participantes um painel de bronze em baixo-relevo, representando Jesus e o jovem discípulo amado. É uma obra do artista italiano Gino Giannetti, cunhada pela Casa da Moeda do Estado da Cidade do Vaticano, emitida em apenas 460 exemplares.

Fonte: Vatican News

Durante as primeiras duas semanas do encontro dos bispos em Roma (que acontece do dia 3 até o dia 28 de outubro), cerca de duzentas pessoas compartilharam breves reflexões de quatro minutos sobre como a vida é em seus países, dando voz às suas preocupações e prioridades.

Porém, na quinta-feira, houve uma pessoa que falou que acabou sendo citada quase que integralmente pelo papa Francisco durante sua missa matinal diária.

“Um bispo de um dos países onde há perseguição contou sobre um menino católico que foi levado por um grupo que odeia a Igreja, um grupo de fundamentalistas. Ele foi agredido e colocado dentro de uma cisterna onde o grupo encheu com lama até o seu pescoço [e perguntaram]: ‘Diga pela última vez: você desiste de Jesus Cristo?’ – ‘Não!’. Jogaram uma pedra e mataram o menino,” disse Francisco.

Ele se referia aos relatos feitos na quarta-feira pelo Arcebispo John Barwa de Cuttack-Bhubaneswar (foto acima) na Índia, na a assembleia geral do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional.

Barwa contou a história de Rajesh Digal, um jovem catequista que foi assassinado por um grupo hindu fundamentalista enquanto voltava pra casa no dia 26 de agosto de 2008, na região de Kandhamal no leste da Índia.

A arquidiocese de Barwa possui uma grande população de dalits, os “intocáveis” do antigo sistema de castas indiano, bem como os “tribais”, membros das populações indígenas marginalizadas do país. O próprio arcebispo Barwa é um tribal.

Em 2008, um líder religioso hindu foi assassinado na área e os cristãos foram culpados, culminando no pior surto de violência direcionada aos cristãos do século XXI até aquela época. A maneira pela qual muitos perderam suas vidas foi inimaginavelmente grotesca. Houve mais violência do que na Bíblia ou no martirológio cristão primitivo.

“Mesmo que a maioria dos hindus sejam pessoas pacíficas e maravilhosas, os radicais fundamentalistas plantaram esse ódio e essa violência. Mataram jovens, estupraram coletivamente de mulheres e meninas, sendo uma delas era minha sobrinha,” disse Barwa ao Crux em uma entrevista na sexta-feira.

A sobrinha de Barwa é uma freira católica que foi estuprada durante o período de violência.

Recontando a história de Digal, Barwa disse que os fundamentalistas tentaram forçar o menino a se converter e, quando foi enterrado até o pescoço, perguntaram se ele desistiria de Jesus Cristo. “Ele fechou os olhos, olhou e disse ‘Não!’ E o homem largou a pedra em sua cabeça,” disse Barwa. “Ele silenciosamente deu testemunho ao Deus da vida. E essa é só uma das histórias. Existem tantas histórias poderosas de fé.”

Ainda assim, disse ele, essa opressão falhou ao tentar interromper o crescimento da fé. A comunidade está “crescendo,” disse ele. Segundo o arcebispo, cada vez mais pessoas estão entrando para a cristandade, e o número de vocações ao sacerdócio e à vida religiosa está crescendo.

Barwa estava presente quando o papa deu sua homilia.

“É como no famoso livro O pequeno príncipe, que diz, ‘foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.’ Foi o tempo que dedicamos à Deus que o fez tão importante, e será o que tempo que dedicamos aos jovens que fará com que eles se tornem importante para nós,” disse ele.

No total, 101 cristãos foram mortos nos dias de violência na Índia, e muitos outros morreram enquanto tentavam encontrar refúgio numa floresta local. Por pertencerem aos dalits e aos tribais, muitos sequer têm certidão de nascimento, por isso o governo constantemente se recusa a reconhecer que foram assassinados. Em muitos casos, membros de famílias foram forçados a testemunhar seus entes queridos sendo esquartejados ou queimados vivos.

Ainda assim, a Igreja e o arcebispo Barwa não se esquecem. Ele organizou uma equipe para coletar essas histórias e abriu uma causa para que a Igreja os reconheça como mártires, ou seja, que foram mortos pelo ódio à fé. Ele crê que o processo de coletar informação se conclua em dezembro. Quando estiver pronto, ele o enviará ao Vaticano para que a Igreja canonize essas pessoas.

“Mas não está nas minhas mãos … Deus tem seu tempo. Eu farei meu trabalho, e Deus decidirá,” disse ele.

Francisco há muito tempo expressa seu interesse em visitar a Índia e é algo que as conferências de bispos locais desejam, mas o clima político atual tem impedido que isso aconteça.

De qualquer modo, se esse dia chegar, Barwa espera que a viagem do pontífice inclua uma parada em Kandhamal, onde a violência eclodiu em 2008.

“Se ele vir, será a maior bênção de todas para nós, mas acredito que ele não virá,” disse ele, citando problemas de segurança entre outros obstáculos logísticos.

Mesmo assim, se o pontífice viesse, disse ele, “seria inacreditável, divino.”

Fonte: Crux

Praticamente todos os participantes do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens, que acontece entre 3 e 28 de outubro, disseram que a presença dos 30 e poucos jovens representantes dentro do salão alterou a dinâmica habitual deste evento. Está mais flexível, mais informal, mais animada e, acima de tudo, mais estridente.

Os jovens, segundo os participantes, demonstram imediatamente de quais discursos eles gostam ao aplaudir ou até mesmo gritar como um público de estúdio nas filmagens de um reality show americano.

Por esse padrão, um tópico no meio de todos se destaca, o que pode não ser uma surpresa uma vez que os sínodos são sempre um aprendizado sobre as realidades da Igreja global: a perseguição anticristã.

As duas maiores aclamações públicas feitas pelos jovens até agora foram para um jovem iraquiano e um arcebispo indiano, ambos contando histórias diretas de sofrimento e perseguição por causa da fé no século XXI.

Safa Al Alqoshy, um católico caldeu de Bagdá, falou durante a segunda semana do sínodo. Ele descreveu o sofrimento dos cristãos em seu país nas mãos do Estado Islâmico e outras formas de radicalismo jihadista.

“É muito importante observar que não há apenas perseguição através de morte, há uma perseguição psicológica, por sentimentos. Você sente que está sozinho, que não tem apoio”, disse ele em entrevista ao Crux logo após seu discurso no sínodo.

Quinta-feira passada, o arcebispo John Barwa de Cuttack-Bhubaneswa, descreveu os horrores de um massacre anticristão que se desenrolou no distrito de Kandhamal em 2008, que deixou mais de 100 pessoas mortas.

Ele contou a história de Rajesh Digal, um jovem catequista que foi assassinado por fundamentalistas hindus no dia 26 de agosto de 2008. Os fundamentalistas tentaram forçar Digal a se converter, disse Barwa, e, quando o enterraram na lama até o pescoço. Um homem perguntou se ele já tinha desistido de Jesus Cristo.

“Ele fechou os olhos antes de olhar para ele e dizer: ‘Não!’ Então, o homem jogou uma pedra na sua cabeça”, disse Barwa.

Barwa também falou com Crux em uma entrevista logo após sua palestra no sínodo. Uma mulher da minoria tribal, há muito tempo oprimida, da Índia, que é sobrinha de Barwa e freira católica, foi estuprada por uma gangue durante o massacre.

O que deve se tirar do fato de que estes são os dois discursos que, até agora, mais pareceram agitar as pessoas e gerar altas expressões de solidariedade e apreciação?

Primeiro, que, nesse sentido, o Sínodo dos Bispos é semelhante a qualquer outra aglomeração aleatória de pessoas nos dias de hoje. Na medida em que, o que uma vez chamei de “guerra global contra os cristãos”, continua não sendo apenas a história cristã mais dramática do nosso tempo, mas a menos contada.

Na investida do ISIS no Iraque e na Síria, a ideia de cristãos como vítimas de perseguição se tornou deprimentemente familiar. No entanto, o desconhecimento da escala global do flagelo é provavelmente o que tornou o relato de Barwa da Índia tão convincente. Estatisticamente falando, a Índia está entre os lugares mais perigosos do mundo para ser cristão nos dias de hoje, com uma média de um ataque físico a cada dois dias.

No geral, a estimativa mais baixa para o número de novos mártires cristãos a cada ano, no início do século XXI, é de cerca de 7.000 a 8.000, enquanto a estimativa mais alta está próxima de 100.000. (A precisão é notoriamente elusiva devido à dificuldade de obter contagens em zonas de conflito e de debater sobre o que conta como violência “anticristã”.)

De qualquer maneira, segundo estes números, um novo mártir surge a cada hora ou a cada cinco minutos. Mesmo à parte da preocupação cristã, isso é uma crise de direitos humanos de proporções assombrosas.

Se a má notícia é a ignorância, aqui está a boa: assim que as pessoas se conscientizam do que está acontecendo, elas querem ajudar.

O bispo Frank Caggiano, de Bridgeport, por exemplo, um dos prelados americanos que participam do sínodo, disse que se sentia inspirado a pensar em maneiras pelas quais sua diocese, que tem bastante recursos, poderia ajudar – talvez gerando relações com paróquias em partes do mundo onde os cristãos são alvos, por exemplo, ou oportunidades para envolver seus jovens em projetos de serviço direto para igrejas que estão sofrendo.

Essa é apenas a resposta de um bispo, mas mostra um movimento mais amplo de corações e mentes no sínodo em resposta às histórias dos novos mártires dos dias atuais.

Por fim, essas histórias são também um lembrete para que o sínodo não se prenda em problemas menores enquanto algumas igrejas correm risco existencial.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux

O cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, analisa as mudanças que afetaram a linguagem dos jovens.

Entre os temas que afetam à crucial relação entre a Igreja e os jovens, um aspecto não secundário e recordado durante o Sínodo de bispos, diz respeito à linguagem das novas gerações. Ao Vatican News o Cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura, explicou que esse tipo de linguagem “adquiriu novas gramáticas expressivas e é necessário – como acontece com um idioma diferente – tentar aprender sua sintaxe, estilo e modalidades”.

As formas da linguagem dos jovens

A linguagem dos jovens, afirma o cardeal Ravasi, se expressa principalmente de três formas.

A primeira modalidade refere-se à frase que é essencial, não subordinada. Essa linguagem, explica o cardeal, manifesta-se também através do símbolo, da imagem. E finalmente, se expressa através da virtualidade, que também é uma realidade porque constitui um vínculo entre as pessoas, embora muito diferente do tradicional.

A linguagem dos jovens e as parábolas de Jesus

Jesus, lembra o cardeal Ravasi, já usou as duas primeiras formas da linguagem usadas pelos jovens. Por um lado, “usa aquilo que os estudiosos, os exegetas chamam de ‘loghion’, que é a frase essencial e sintética: Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus.” Em grego – ele afirma – existem apenas 50 caracteres. “A parábola – diz então o cardeal Ravasi – não é nada além da representação televisiva, visual, de um evento que permite ao espectador entrar nesse horizonte.”

Info-obesidade

Outro traço característico da linguagem dos jovens é a virtualidade “A Igreja – observa o presidente do Conselho Pontifício para a Cultura – deve, em primeiro lugar, reconhecer que ao lado da linguagem tradicional existe uma nova linguagem, que não exclui a anterior, mas que certamente é dominante e é aquela da informática.” Essa linguagem tem “limites inclusive mais pesados do que a anterior”: fala-se explicitamente – recorda o cardeal Ravasi – em “info-obesidade, ou seja, o uso excessivo da virtualidade”. Pessoas irreconhecíveis

O uso excessivo das informações “transforma a pessoa e a torna irreconhecível”. “Vamos pensar, por exemplo – diz o cardeal Ravasi – nas fake news e até mesmo na agressividade na web: as telas das mídias sociais são muitas vezes aterrorizantes porque a pessoa não está mais na ‘dieta’ normal da palavra, do significado e da mensagem, mas está totalmente envolvida por esse novo horizonte”.

Mudando a linguagem

Neste cenário também há grandes vantagens: “A comunicação – conclui o cardeal Ravasi – torna-se muito mais rica, os dados oferecidos são maiores”. “Portanto, a mensagem evangélica deve ser expressa através desse caminho como Paulo fez, quando mudou a linguagem e os símbolos que eram próprios do Evangelho e do mundo hebraico, e introduziu o grego e a reflexão”.

Vatican News

A mensagem é do Papa Francisco, proferida durante a abertura da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, publicada por Santa Sé, 03-10-2018.

Eis o discurso. 
Prezadas Beatitudes, Eminências, Excelências,
Amados irmãos e irmãs, Queridos jovens!

Ao entrar neste Auditório para falar dos jovens, já se sente a força da sua presença, que exala positividade e entusiasmo capazes de invadir e alegrar não só este Auditório, mas toda a Igreja e o mundo inteiro.

Por isso mesmo, não posso começar sem vos dizer obrigado! Obrigado a vós que estais presentes; obrigado a tantas pessoas, que ao longo dum caminho de preparação de dois anos – aqui na Igreja de Roma e em todas as Igrejas do mundo –, trabalharam com dedicação e paixão para nos fazer chegar a este momento. De coração, obrigado ao Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo, aos Presidentes Delegados, ao Cardeal Sérgio da Rocha, Relator Geral; ao Bispo D. Fabio Fabene, Subsecretário, aos Oficiais da Secretaria Geral e aos Assistentes; obrigado a todos vós, Padres sinodais, Auditores, Auditoras, peritos e consultores; aos Delegados Fraternos; aos tradutores, aos cantores, aos jornalistas. De coração, obrigado a todos pela vossa participação ativa e fecunda.

Um sentido obrigado merecem os dois Secretários Especiais, o padre jesuíta Giacomo Costa, e o padre salesiano Rossano Sala, que trabalharam com generoso empenho e abnegação.

Desejo também agradecer vivamente aos jovens que neste momento estão conectados conosco e a todos os jovens que fizeram ouvir, de muitos modos, a sua voz. Agradeço-lhes por terem querido apostar que vale a pena sentir-se parte da Igreja ou entrar em diálogo com ela; vale a pena ter a Igreja como mãe, como mestra, como casa, como família, capaz – não obstante as fraquezas humanas e as dificuldades – de fazer resplandecer e transmitir a mensagem sem ocaso de Cristo; vale a pena agarrar-se à barca da Igreja que, mesmo através das tempestades implacáveis do mundo, continua a oferecer a todos refúgio e hospitalidade; vale a pena colocar-se à escuta uns dos outros; vale a pena nadar contracorrente e aderir a valores altos, como a família, a fidelidade, o amor, a fé, o sacrifício, o serviço, a vida eterna.

A nossa responsabilidade aqui, no Sínodo, é não os desmentir; antes, é demonstrar que têm razão em apostar: verdadeiramente vale a pena, verdadeiramente não é tempo perdido!

E, de modo particular, agradeço a vós, queridos jovens presentes! O caminho de preparação para o Sínodo ensinou-nos que o universo juvenil é tão variado que não pode estar aqui totalmente representado, mas vós sois seguramente um sinal importante daquele. A vossa participação enche-nos de alegria e esperança.

O Sínodo que estamos vivendo é um momento de partilha. Assim, no início do percurso da Assembleia sinodal, a todos desejo convidar a falarem com coragem e parresia, isto é, aliando liberdade, verdade e caridade. Só o diálogo nos pode fazer crescer. Uma crítica honesta e transparente é construtiva e ajuda, ao contrário das bisbilhotices inúteis, das murmurações, das ilações ou dos preconceitos.

À coragem de falar deve corresponder a humildade de escutar. Como dizia aos jovens na Reunião Pré-sinodal, «se [alguém] falar de algo que não gosto, ainda o devo ouvir melhor; pois cada um tem o direito de ser ouvido, como cada um tem o direito de falar». Esta escuta aberta requer coragem para tomar a palavra e fazer-se voz de tantos jovens no mundo que não estão presentes. É esta escuta que abre espaço ao diálogo. O Sínodo deve ser um exercício de diálogo, antes de mais nada entre os que participam nele. E o primeiro fruto deste diálogo é cada um abrir-se à novidade, estar pronto a mudar a sua opinião face àquilo que ouviu dos outros. Isto é importante para o Sínodo. Muitos de vós já prepararam, antes de vir, a sua intervenção – e agradeço-vos por este trabalho –, mas convido a sentir-vos livres para considerar aquilo que preparastes como um projeto provisório aberto a eventuais acréscimos e alterações que o caminho sinodal possa sugerir a cada um. Sintamo-nos livres para aceitar e compreender os outros e, consequentemente, para mudar as nossas convicções e posições: é sinal de grande maturidade humana e espiritual.

O Sínodo é um exercício eclesial de discernimento. Franqueza no falar e abertura na escuta são fundamentais para que o Sínodo seja um processo de discernimento. O discernimento não é um slogan publicitário, não é uma técnica organizativa, nem uma moda deste pontificado, mas um procedimento interior que se enraíza num ato de fé. O discernimento é o método e, simultaneamente, o objetivo que nos propomos: baseia-se na convicção de que Deus atua na história do mundo, nos acontecimentos da vida, nas pessoas que encontro e me falam. Por isso, somos chamados a colocar-nos à escuta daquilo que nos sugere o Espírito, segundo modalidades e direções muitas vezes imprevisíveis. O discernimento precisa de espaços e tempos próprios. Por isso estabeleço que, durante os trabalhos tanto na assembleia plenária como nos grupos, depois de cada cinco intervenções se observe um tempo de silêncio – cerca de três minutos – para permitir que cada um preste atenção às ressonâncias que as coisas ouvidas suscitam no seu coração, para aprofundar e apreender o que mais o impressiona. Esta atenção à interioridade é a chave para se efetuar o percurso reconhecer, interpretar e escolher.

Sejamos sinal duma Igreja à escuta e em caminho. A atitude de escuta não se pode limitar às palavras que trocaremos entre nós nos trabalhos sinodais. O caminho de preparação para este momento destacou uma Igreja «com déficit de escuta» inclusive para com os jovens, que muitas vezes se sentem não-compreendidos pela Igreja na sua originalidade e, por conseguinte, não aceites pelo que são verdadeiramente e, às vezes, até rejeitados. Este Sínodo possui a ocasião, a tarefa e o dever de ser sinal da Igreja que se coloca verdadeiramente à escuta, que se deixa interpelar pelas solicitações daqueles que encontra, que não tem uma resposta pré-confeccionada sempre pronta. Uma Igreja que não escuta mostra-se fechada à novidade, fechada às surpresas de Deus, e não poderá ser credível, especialmente para os jovens, os quais, em vez de se aproximar, afastar-se-ão inevitavelmente.

Deixemos para trás preconceitos e estereótipos. Um primeiro passo rumo à escuta é libertar as nossas mentes e os nossos corações de preconceitos e estereótipos: quando pensamos já saber quem é o outro e o que quer, então teremos verdadeiramente dificuldade em escutá-lo seriamente. As relações entre as gerações são um terreno onde preconceitos e estereótipos pegam com facilidade proverbial, a ponto de muitas vezes nem nos darmos conta disso. Os jovens são tentados a considerar ultrapassados os adultos; os adultos são tentados a julgar os jovens inexperientes, a saber como são e sobretudo como deveriam ser e comportar-se. Tudo isto pode constituir um forte obstáculo ao diálogo e ao encontro entre as gerações. A maioria dos presentes não pertence à geração dos jovens, pelo que devemos claramente ter cuidado sobretudo com o risco de falar dos jovens a partir de categorias e esquemas mentais já superados. Se soubermos evitar este risco, então contribuiremos para tornar possível uma aliança entre gerações. Os adultos deveriam superar a tentação de subestimar as capacidades dos jovens e de os julgar negativamente. Uma vez li que a primeira menção deste fato remonta a 3000 a.C., tendo sido encontrada num vaso de barro da antiga Babilônia, onde está escrito que a juventude é imoral e que os jovens não são capazes de salvar a cultura do povo.

Por sua vez, os jovens deveriam superar a tentação de não prestar ouvidos aos adultos e considerar os idosos «coisa antiga, passada e chata», esquecendo-se que é insensato querer partir sempre do zero, como se a vida começasse apenas com cada um deles. Na realidade, apesar da sua fragilidade física, os idosos permanecem sempre a memória da nossa humanidade, as raízes da nossa sociedade, o «pulso» da nossa civilização. Desprezá-los, abandoná-los, fechá-los em reservas isoladas ou então ignorá-los é índice de cedência à mentalidade do mundo que está a devorar as nossas casas a partir de dentro. Negligenciar o tesouro de experiências que cada geração herda e transmite à outra é um ato de autodestruição.

Por conseguinte, é preciso, por um lado, superar decididamente o flagelo do clericalismo. De fato, a escuta e o abandono dos estereótipos são também um forte antídoto contra o risco do clericalismo, ao qual uma assembleia como esta, independentemente das boas intenções de cada um de nós, está inevitavelmente exposta. O clericalismo nasce duma visão elitista e excludente da vocação, que interpreta o ministério recebido mais como um poder a ser exercido do que como um serviço gratuito e generoso a oferecer; e isto leva a julgar que se pertence a um grupo que possui todas as respostas e já não precisa de escutar e aprender mais nada. O clericalismo é uma perversão e é raiz de muitos males na Igreja: destes devemos pedir humildemente perdão e sobretudo criar as condições para que não se repitam.

Mas, por outro lado, é preciso curar o vírus da autossuficiência e das conclusões precipitadas de muitos jovens. Diz um provérbio egípcio: «Se não houver um idoso na tua casa, compra-o, porque ser-te-á de proveito». Repudiar e rejeitar tudo o que foi transmitido ao longo dos séculos leva apenas àquele perigoso extravio que está, infelizmente, a ameaçar a nossa humanidade; leva ao estado de desilusão que invadiu os corações de gerações inteiras. A acumulação das experiências humanas ao longo da história é o tesouro mais precioso e fiável que as gerações herdam uma da outra; sem nunca esquecer a revelação divina, que ilumina e dá sentido à história e à nossa existência.

Que o Sínodo desperte os nossos corações! O momento presente, mesmo da Igreja, aparece carregado de canseiras, problemas, pesos. Mas a fé diz-nos que é também o kairos no qual o Senhor vem ao nosso encontro para nos amar e chamar à plenitude da vida. O futuro não constitui uma ameaça que devemos temer, mas é o tempo que o Senhor nos promete para podermos experimentar a comunhão com Ele, com os irmãos e com toda a criação. Precisamos de reencontrar as razões da nossa esperança e sobretudo de as transmitir aos jovens, que estão sedentos de esperança. Como justamente afirmava o Concílio Vaticano II, «podemos legitimamente pensar que o destino futuro da humanidade está nas mãos daqueles que souberem dar às gerações vindouras razões de viver e de esperar» (Const. past. Gaudium et spes, 31).

O encontro entre as gerações pode ser extremamente fecundo para gerar esperança. Assim no-lo ensina o profeta Joel naquela que considero – lembrei-o também aos jovens da Reunião Pré-sinodal – ser a profecia dos nossos tempos: «Os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões» (3, 1).

Não há necessidade de sofisticados raciocínios teológicos para demonstrar o nosso dever de ajudar o mundo atual a caminhar para o reino de Deus, sem falsas esperanças e sem ver apenas ruínas e problemas. De fato São João XXIII, referindo-se a pessoas que avaliam os factos sem objetividade suficiente nem prudente discernimento, afirmava: «Nos tempos atuais, não veem senão prevaricações e ruínas; vão repetindo que a nossa época, em comparação com as passadas, tem piorado; e comportam-se como quem nada aprendeu da história, que é também mestra da vida» (Discurso na abertura solene doConcílio Vaticano II, 11 de outubro de 1962).

Assim, não nos deixemos tentar pelas «profecias de desgraças», não gastemos energias a «contabilizar falências e recordar amarguras», mantenhamos o olhar fixo no bem que «muitas vezes não faz barulho, não é tema dos blogs nem chega às primeiras páginas» dos jornais, nem nos assustemos «diante das feridas da carne de Cristo, sempre infligidas pelo pecado e, não raramente, pelos filhos da Igreja» (cf. Discurso aos Bispos recentemente nomeados que participaram no curso promovido pelas Congregações para os Bispos e para as Igrejas Orientais, 13 de setembro de 2018).

Esforcemo-nos, pois, por procurar «frequentar o futuro» e por fazer sair deste Sínodo não só um documento – que geralmente é lido por poucos e criticado por muitos – mas sobretudo propósitos pastorais concretos, capazes de realizar a tarefa do próprio Sínodo, que é fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer a esperança, estimular confiança, faixar feridas, entrançar relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender um do outro, e criar um imaginário positivo que ilumine as mentes, aqueça os corações, restitua força às mãos e inspire aos jovens – a todos os jovens, sem excluir nenhum – a visão dum futuro repleto da alegria do Evangelho.

Por Jason Evert

Alguém no colégio me disse que não era saudável ficar sem se masturbar, e que isso a longo prazo podia fazer mal ao meu corpo. Isso é verdade?

Isso é um mito. Não há um “aumento” constante de “pressão” que venha fazer mal ao indivíduo se ele não se masturbar. Da próxima vez que ouvir alguma coisa do tipo, peça para a pessoa que mostre a pesquisa médica que dá suporte ao que ele está dizendo.

Se a evidência científica mostra alguma coisa, mostra que a masturbação é prejudicial tanto para homens quanto para mulheres. Se você já teve alguma aula de psicologia, provavelmente aprendeu sobre o cachorro da experiência de Pavlov. Ele era um cientista , e nesse experimento ele tocava um sino toda vez que estava prestes a alimentar o seu cachorro. Ao fazer isso, o cachorro passou a associar o sino com a comida, e começava a salivar com o som do sino. Isso é conhecido como resposta condicionada.

A mente humana pode ser treinada do mesmo modo. De fato, o centro de prazer do cérebro é a parte mais facilmente treinável da mente humana. Esse centro é chamado de Núcleo Pré-óptico Medial (NPM), e quando o corpo experimenta grande prazer, como no clímax sexual, essa parte do cérebro é recompensada. De acordo com uma pesquisa do Dr. Douglas Weiss (1), quando uma pessoa experimenta excitação sexual, o cérebro libera endorfinas que ajudam a treinar o NPM a associar prazer o que a pessoa estiver experimentando no momento do prazer, com o que ela estiver fazendo, olhando, cheirando, etc. Inconscientemente, a pessoa forma uma ligação entre o prazer sexual e uma particular imagem, cheiro, ou pessoa.

Essa ligação é posteriormente solidificada pela liberação de um neuropeptídeo chamado oxitocina, durante o prazer sexual. Isso também cria um vínculo entre as pessoas durante o ato sexual. Se uma pessoa estiver sozinha, ainda assim cria um vínculo mental com o que estiver fantasiando sobre. O mecanismo de vínculo é prejudicado pelo sexo casual (2). Essa descoberta científica lança novas luzes sobre as palavras de São Paulo: “Não sabeis que aquele que se une a uma prostituta torna-se com ela um só corpo? Pois está dito: ‘Os dois serão uma só carne’… Fugi da devassidão. Em geral, todo pecado que uma pessoa venha a cometer é exterior ao seu corpo. Mas quem pratica imoralidade sexual peca contra seu próprio corpo” (1 Cor 6, 16-18).

Quando uma pessoa experimenta um clímax sexual enquanto se masturba e fantasia outra pessoa em sua imaginação, ele está treinando seu cérebro para ser estimulado com as imagens de fantasia de sua própria mente. Se é isso que o cérebro de um homem ou de uma mulher passa a identificar como causa de prazer sexual, então onde fica a futura esposa ou o futuro esposo um dia? Eles não são fantasia, são seres humanos reais. Portanto, ao invés de ser capaz de usufruir de prazer com a pessoa real no leito matrimonial, o indivíduo treinado pela masturbação pode se sentir compelido a encontrar estímulo em fantasias interiores, mesmo enquanto tenta fazer amor com a esposa. Homens e mulheres podem procurar o adultério, boates para “adultos”, pornografia, ou uma luxúria desordenada um pelo outro, a fim de satisfazer seus “desejos”. Frequentemente, especialmente para os homens, o hábito da masturbação continua, na tentativa de lidar com as “necessidades” sexuais. Isso se torna um câncer no casamento.

Agora, isso não significa que você está condenado a um casamento com problemas, caso já tenha experimentado prazer sexual com alguém que não seu esposo ou esposa. Entretanto, isso quer dizer que você terá obstáculos a vencer, que as pessoas sem esse “passado” não terão. O cérebro pode ser “re-treinado”, mas vai levar tempo, de acordo com a profundidade do hábito que se formou.

Isso nos mostra que o plano de Deus para nossa sexualidade está estampado em nossa anatomia. Se as pessoas viverem de acordo com a verdade de Deus, seus corpos irão associar o prazer sexual com a figura do esposo ou esposa. Deus projetou nossos corpos para garantir a atração fisiológica entre um casal. Suas mentes foram treinadas dessa maneira. Como diz a Bíblia: “Preserva tua água para ti e não sejam teus sócios os estranhos. Seja bendita a tua fonte e alegra-te com a esposa da tua juventude: corça querida e gazela graciosa, suas carícias te inebriem em todo o tempo, e te alegres sempre no seu amor” (Provérbios, 5, 17-19).
_____________________________

(1) Douglas Weiss, M.D. “The Final Freedom” (Forth Worth, Texas: Discovery Press, 1998). (2) Eric J. Keroack, M.D., FACOG and Dr. John R. Diggs Jr., M.D., “Bonding Imperative”, a special report from the Abstinence Clearinghouse Medical Council. 

Trecho do livro: “If You Really Loved Me”, de Jason Evert (San Diego, Catholic Answers, 2003), págs. 124-126.

Papa Francisco teve uma conversa franca e aberta com um grupo de jovens franceses da diocese de Grenoble-Vienne, quando falou de diversos temas, em respostas às perguntas a ele dirigidas: Igreja, vocações, pobreza, sexualidade.

Os males que afligem a Igreja, proximidade com os pobres, vocações, sexualidade, compromisso dos cristãos na sociedade. A audiência de ontem do Papa Francisco aos jovens da Diocese de Grenoble-Vienne -cujo conteúdo foi divulgado nesta terça-feira pela Sala de Imprensa – transforma-se em um diálogo franco e aberto, mas acima de tudo paterno. O Papa respondeu perguntas a adolescente de 14 anos até jovens de 27.

Selecionamos algumas perguntas:

Sexualidade e mensagem da Igreja hoje

Matthieu: Santo Padre, meu nome é Mathieu, tenho 16 anos e meus amigos, no ensino médio, me fazem perguntas sobre eventos atuais em que a Igreja é duramente criticada, como a homossexualidade ou a pedofilia. Eu respondo a eles o que os animadores me ensinaram, mas no fundo eu não acredito realmente nisso …

Rémy: Santo Padre, meu nome é Rémy, tenho 14 anos e esta é minha pergunta: como atualizar, hoje, a mensagem da Igreja para que eu possa compreendê-la e retransmiti-la para jovens que não necessariamente acreditam?

Papa Francisco responde:

Não é fácil para mim responder em francês a esta sua pergunta: Eu direi uma palavra, uma palavra que é o segredo para transmitir a mensagem da Igreja: proximidade, proximidade. O que isso significa? Significa, antes de mais nada, fazer o que Deus fez com o seu povo. No livro de Deuteronômio, Deus diz assim ao povo: “Qual povo tem os seus deuses tão próximo deles, como vocês?” Deus se fez próximo de seu povo. Mas isso não terminou aí. Ele queria estar tão próximo que ele se fez um de nós, homem. Essa proximidade cristã é o primeiro passo: na verdade, é “o ambiente”, o clima no qual a mensagem cristã deve ser transmitida. A mensagem cristã é uma mensagem de proximidade.

Então, sobre effatà: antes de falar, ouvir. O apostolado da “orelha”: ouvir, ouvir. “E depois, padre, fala?” Não, pare. Antes de falar, fazer. Certa vez, um jovem universitário me fez essa pergunta: “Eu tenho muitos amigos na universidade que são agnósticos, o que devo dizer a eles para que se tornem cristãos?”. Eu disse: a última coisa que você tem que fazer é dizer coisas. A última. Primeiro você tem que fazer, e eles verão como você lida com a vida. Eles irão perguntar a você: “Por que você está fazendo isso?” E então ali você pode falar. O testemunho antes da palavra. Este é o contesto da mensagem cristã. Ecouter, faire, e depois dizer, falar.

Além disso, a mensagem cristã não pode ser transmitida “em poltrona”: ela está sempre em caminho. Sempre. Se você não se colocar em caminho, não será capaz de transmiti-la. Jesus esteve três anos em caminho. Parecia que ele vivia na estrada. No caminho, sempre, fazendo alguma coisa. No caminho. Ouvir, testemunhar, responder às perguntas, mas em caminho. Um jovem que não se coloca em caminho é um jovem aposentado aos vinte anos de idade. É ruim se aposentar aos vinte anos! Eu não sei… Respondi à sua pergunta ou não? Sim? Vamos em frente…

Solidariedade e caridade na Igreja

Gabriel: Bom dia Santo Padre. Eu sou Gabriel, tenho 21 anos. Com os jovens do departamento de Isère, somos animados pelo desejo de nos colocar a serviço dos pobres que nos cercam. Pessoalmente, acho difícil viver a solidariedade na Igreja: preciso estar acompanhado e orientado a viver a caridade de maneira concreta.

Clara-Marie: Santo Padre, meu nome é Clara-Marie e tenho 16 anos. Minha pergunta: o que se pode esperar de nós, jovens cristãos, para viver concretamente essa caridade?

Papa Francisco responde:

Os dois têm o mesmo tema. Os pobres estão no centro do Evangelho. Quando eu era seminarista e jovem padre na América Latina, era o tempo de 68; vocês também conheceram. O que mais importava era a guerrilha, o trabalho político … E se um padre fazia um trabalho com os pobres, esse padre era “comunista”. Porque a situação política era assim … Parecia que o único grupo que se aproximava dos pobres e lutava por justiça eram os comunistas. É ao contrário: o Evangelho, o Evangelho coloca os pobres no centro. Antes ainda, coloca a pobreza no centro. Se você não tem uma pobreza de espírito, você não será um bem-aventurado, um bom cristão. É a primeira das bem-aventuranças: os pobres, os pobres de espírito. Depois, aproximar-se dos pobres, mas não de cima para baixo. É lícito olhar para uma pessoa de cima para baixo apenas quando você se inclina para levantá-la. Em outras situações, não é permitido olhar para uma pessoa de cima para baixo. Ir aos pobres no mesmo nível, servir os pobres porque eles são a imagem de Cristo. E quando digo pobre, digo pobres de tudo: também os pobres de saúde, os doentes; os pobres de dinheiro; os pobres de cultura; os pobres que caíram nos vícios, na dependência. Quantos de seus companheiros estão nas drogas, por exemplo: são pobres, pobres do Evangelho. “Mas não, o que está na droga tem muito dinheiro e uma família rica, aquele não é um homem pobre”. Não, ele é um homem pobre, é um pobre. Aproxime-se do pobre para servi-lo. Aproxime-se do pobre para levantá-lo. Mas levantá-lo junto, ajoelhando-se e pegando-o. Quando você toca a doença de um homem pobre, você está tocando as feridas de Cristo. Isso é um pouco “o sentido dos pobres na Igreja”. Ça va bien?

Incompreensões com a sexualidade e o corpo

Thérèse: Bom dia, Santo Padre, meu nome é Thérèse, tenho 24 anos. Várias vezes, na minha vida pessoal, confidenciei com pessoas maiores sobre problemas de amor e sexualidade. Cada vez, me encontrava diante de uma falta de atenção e compreensão; tive a sensação de não ser ouvida. Acho que isso acontece porque somos a primeira geração que fala e que, especificamente, fala sobre esses temas.

Manon: Meu nome é Manon e tenho 16 anos. Repentinamente, esses tópicos se tornam complicados; se ouve tudo de alguém, se vê tantas coisas, há tantas opiniões diferentes … Em geral, se sente perdido. Como se posicionar em uma sociedade em que o corpo está dessacralizado?

Papa Francisco responde:

A sexualidade, o sexo, é um dom de Deus. Nada de tabus. É um dom de Deus, um dom que o Senhor nos dá. Tem dois propósitos: amar e gerar vida. É uma paixão, é o amor apaixonado. O verdadeiro amor é apaixonado. O amor entre um homem e uma mulher, quando é apaixonado, leva você a dar vida para sempre. Sempre. E a dá-la com o corpo e a alma. Quando Deus criou o homem e a mulher, a Bíblia diz que os dois são a imagem e semelhança de Deus. Ambos, não somente Adão ou somente Eva, mas ambos. E Jesus vai mais longe e diz: por isto o homem, e também a mulher, deixará seu pai e sua mãe e se unirão e serão … uma só pessoa? … uma identidade? … uma só fé do matrimônio? … Uma só carne: esta é a grandeza da sexualidade. E se deve falar sobre a sexualidade assim. E se deve viver a sexualidade assim, nesta dimensão: do amor entre homem e mulher por toda a vida. É verdade que as nossas fraquezas, nossas quedas espirituais nos levam a usar a sexualidade fora desse caminho tão bonito, do amor entre o homem e a mulher. Mas caíram, como todos os pecados. A mentira, a ira, a gula … São pecados: pecados capitais. Mas esta não é a sexualidade do amor: é a sexualidade “coisificada”, separada do amor e usada para se divertir. É interessante como a sexualidade é o ponto mais bonito da criação, no sentido de que homem e mulher são criados à imagem e semelhança de Deus, e a sexualidade é a mais atacada pela mundanidade, pelo espírito do mal. Diga-me: você viu, por exemplo – eu não sei se há em Grenoble – mas você viu uma indústria da mentira, por exemplo? Não. Mas uma indústria da sexualidade separada do amor, você viu isso? Sim! Tanto dinheiro é ganho com a indústria da pornografia, por exemplo. É uma degeneração comparada ao nível em que Deus a colocou. E com este comércio se ganha muito dinheiro. Mas a sexualidade é grande: protejam sua dimensão sexual, sua identidade sexual. Protejam-na bem. E preparem-na para o amor, para inseri-la nesse amor que irá acompanhá-los por toda a vida. Eu vou contar uma coisa para vocês, e depois vou contar uma outra. Na Praça [São Pedro] uma vez – saúdo as pessoas na Praça – havia duas pessoas grandes, idosas, que celebravam o sexagésimo aniversário de casamento. Estavam radiantes! E eu perguntei: “Brigaram muito?” – “Bem, às vezes …” – “E vale a pena isto, o matrimônio?” – E estes dois, que me olhavam, olharam um para o outro e, em seguida, voltaram o olhar novamente para mim, e eles tinham os olhos molhados, e me disseram: “Estamos apaixonados”. Depois de 60 anos! E depois eu queria dizer isso a vocês: uma vez um idoso – muito idoso, com a esposa velho – disse-me: “Nós nos amamos tanto, tanto, e às vezes nos abraçamos. Nós não podemos fazer amor na nossa idade, mas nós nos abraçamos, nos beijamos … Esta é a verdadeira sexualidade. Nunca separá-la do lugar tão lindo do amor. É preciso falar assim da sexualidade. Ça va?

Cristãos em diminuição num mundo secularizado

Emilie: Eu tenho outra pergunta, Santo Padre: em seus inícios, a Igreja era onipresente na sociedade, era um modelo a seguir. Hoje, a sociedade evoluiu e a França é um país secular em que o número de cristãos diminuiu fortemente. A Igreja ainda tem seu lugar? E para que serve? É por isso que lhe pergunto, Santo Padre: por que se envolver em uma instituição que às vezes me parece sem sentido e sem colocação?

Papa Francisco responde:

Sua pergunta é muito realista, muito realista. Isso me faz pensar em um fã de futebol que é contratado por uma equipe e a equipe começa a cair, cair, cair e se pergunta: como eu fico nesse time? Talvez ele diga: não, não, mudo de equipe. Se ele não tem uma grande paixão por esse time, mas tem uma paixão pelo futebol, ele escolhe outro time que joga melhor. Muda de time, muda de instituição. Mas pertencer à Igreja, antes de tudo, não é pertença a uma instituição, é pertença à pessoa, a Jesus. No Domingo de Ramos, Jesus estava em triunfo; quando ele fez a multiplicação dos pães queriam fazê-lo rei – uma bela instituição aquela! – mas na Sexta-feira Santa estava crucificado. Trata-se de seguir Jesus, não seguir as consequências de Jesus. Nem as consequências sociais: se a Igreja é grande ou pequena … não, mas Jesus. Segui-lo nos momentos tranquilos, quando a Igreja floresce; e segui-lo no momento em que a Igreja está em crise. Tome a história da Igreja: com a Igreja foi assim. A Igreja não foi levada adiante pelas grandes organizações, grandes partidos políticos, grandes instituições … Não. A Igreja foi levada em frente pelos santos. E no dia de hoje serão os santos a levá-la em frente, não nós, nem mesmo o Papa. Não, os santos. Eles abrem caminho diante de nós. E por que os santos? Porque eles seguem Jesus, a fé não é uma ideia: é um encontro com Jesus. Eu faço votos que este encontro acompanhe você por toda a vida.

A vocação de cada um

Pauline: Bom dia, Santo Padre, meu nome é Pauline e tenho 27 anos. Ouvindo os testemunhos, como acompanhar a vocação de cada um neste contexto?

Papa Francisco responde:

A vocação é um dom de Deus e devemos custodiá-la. Você se referiu às vocações sacerdotais, à vida religiosa ou a todas as vocações?

A jovem responde que se referia às vocações religiosas e sacerdotais. O Papa então prossegue:

O Senhor chama. E a pessoa chamada diz: “Eu quero ser freira, quero ser padre, quero ser religiosa …”. E começa um caminho, para ser acompanhado com normalidade. Normalidade. Eu tenho medo dos seminaristas que fazem isso [que assumem uma “pose”], eu tenho medo, porque eles não são normais. Você quer ser padre? Você deve ser um homem verdadeiro que segue em frente. Você quer ser freira? Você deve ser uma mulher madura que segue em frente. Nunca renegar a humanidade. Que sejam normais, porque o mal que faz um padre neurótico é terrível! E o mal que pode fazer uma freira neurótica é terrível! Acompanhá-los na normalidade: primeiro. Segundo: acompanhá-los na fé. Que cresçam na fé, em compreender a beleza de Deus, em compreender o caminho de Jesus, e que sua vida mude na relação com a oração. Terceiro: acompanhá-los na pertença comunitária. Um padre isolado da comunidade não está certo: ele é um “solteirão”. Solteirão é quem não se casa e fica velho. O que não se casa e toda a vida permanece sozinho. Célibataire, mas eu disse uma palavra mais forte. Não, o sacerdote não deve ser um “solteirão” isolado, ele deve ser um padre. A paternidade: educá-los na paternidade. E também na fraternidade. O mesmo acontece com a freira: a freira deve aprender a ser mãe de tantas pessoas e a comunidade também. Mas a freira tem uma vantagem em relação ao sacerdote, uma grande vantagem – é por isso que acredito que as freiras são mais importantes que os sacerdotes – neste sentido: elas são o ícone de Maria e da Igreja. É belo! O ícone de Maria. Uma freira é o ícone de Nossa Senhora e da Igreja. Educá-la assim e em comunidade. Ajudá-los a crescer e acompanhá-los”.

 Vatican News

O Papa Francisco acrescentou à lista dos membros do Sínodo, cardeais vindos de 14 países diferentes, bispos de outros 10 países bem como 10 padres que serão membros votantes do encontro.

Os nomeados de Francisco foram anunciados em 15 de setembro e incluem o cardeal canadense Gerald LaCroix, de Quebec, e os cardeais norte-americanos Joseph Tobin, de Newark, Nova Jersey, e Blase Cupich, de Chicago.

O sínodo acontecerá de 3 a 28 de outubro no Vaticano, com o tema “Jovens, Fé e o Discernimento Vocacional”.

O Papa também nomeou como membros votantes do sínodo o padre Robert Stark, diretor do Escritório do Ministério Social da Diocese de Honolulu, e o jesuíta canadense Michael Czerny, subsecretário do Vaticano para Migrantes e Refugiados.

O cardeal canadense Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos e o cardeal norte-americano Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, serão membros do sínodo em virtude de seus cargos no Vaticano.

A Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos elegeu como seus delegados ao sínodo o cardeal Daniel DiNardo de Galveston-Houston, presidente da conferência, o arcebispo José Gomez, de Los Angeles, vice-presidente da conferência, O bispo Frank Caggiano de Bridgeport, Connecticut e o Bispo Auxiliar Robert Barron, de Los Angeles.

Eles também elegeram o arcebispo Charles Chaput, da Filadélfia, mas este é listado pelo Vaticano como um membro automaticamente, já que faz parte do conselho permanente do Sínodo.

Os bispos da Igreja Católica Maronita elegeram o bispo Abdallah Elias Zaidan, da paróquia Nossa Senhora do Líbano de Los Angeles, como membro sinodal. Os bispos da Igreja Católica Ucraniana elegeram o Bispo Bryan Bayda de Saskatoon, Saskatchewan.

A Conferência dos Bispos Católicos do Canadá elegeu o arcebispo Luc Cyr de Sherbrooke, Quebec, bispo auxiliar de Montreal, Thomas Dowd, bispo Lionel Gendron de Saint-Jean-Longueuil, Quebec, e o bispo Stephen Jensen, de Prince George, na Colúmbia Britânica.

A União dos Superiores Gerais elegeu 10 membros do sínodo – oito sacerdotes e dois irmãos religiosos – incluindo o Irmão Robert Schieler, superior geral dos Irmãos De La Salle, e o Pe. Michael Brehl, superior geral dos Redentoristas.

Francisco também nomeou dezenas de “colaboradores” e “observadores” para o sínodo, incluindo 30 mulheres e vários jovens. Eles participam das discussões do Sínodo, mas não votam nas propostas finais dadas ao Papa.

Os participantes dos EUA incluem: Jonathan Lewis, secretário assistente para Ministério pastoral e preocupações sociais na arquidiocese de Washington, Pe. Robert Panke, reitor do Seminário São João Paulo II em Washington, Irmã Briana Santiago, membro dos Apóstolos da Vida Interior, que participou do fórum de jovens pré-sínodo em março, Yadira Vieyra, pesquisadora e assistente de imigração em Chicago e a Irmã Sally Hodgdon, superiora geral das Irmãs de São José de Chambéry.

Dois jovens filiados à televisão Salt and Light do Canadá também foram nomeados observadores. Eles são Emilie Callan, que foi delegado para a reunião pré-sinodal e Julian Paparella, estudante de teologia.

Para ver o elenco completo dos participantes do Sínodo, clique aqui

Uma organização nacional de pesquisa diz ter encontrado um aumento significativo no ateísmo entre a chamada Geração Z – jovens nascidos entre 1999 e 2015.

Barna Group divulgou os resultados de uma pesquisa mostrando que a porcentagem da Geração Z que se identifica como ateu é o dobro da população adulta dos EUA. Barna chama a Geração Z de a primeira geração verdadeiramente “pós-cristã”.

“Mais do que qualquer outra geração antes dela, a Geração Z não declara uma identidade religiosa”, diz o grupo de pesquisa. “Eles podem ser atraídos para coisas espirituais, mas com um ponto de partida muito diferente das gerações anteriores, muitos dos quais receberam uma educação básica sobre a Bíblia e o cristianismo”.

A porcentagem de adolescentes que se identificam como ateus é o dobro da população geral (13% contra 6% de todos os adultos), relata Barna.

Enquanto isso, a proporção de cada geração que se identifica como cristã vem caindo. Enquanto 75% dos Baby Boomers, aqueles que nasceram nos anos após a Segunda Guerra Mundial até a metade da década de 1960, são Protestantes ou Católicos, apenas 59% daqueles na Geração Z, que estão agora entre 13 e 18 anos de idade, dizem que são cristãos.

Em sua pesquisa, Barna se concentrou em barreiras: o que estaria mantendo os adolescentes de hoje afastados da religião que seus irmãos mais velhos, pais e avós adotaram? A existência do mal é um dos pontos.

“Adolescentes, junto com jovens adultos, são mais propensos do que os americanos mais velhos a dizer que o problema do mal e do sofrimento é um problema para eles”, diz Barna. “Parece que os jovens de hoje, como tantos ao longo da história, lutam para encontrar um argumento convincente para a existência do mal e de um Deus bom e amoroso”.

Outras questões que parecem ser obstáculos são a verdade, o conflito entre a religião e a ciência, e a falta de aceitação da diversidade nas congregações religiosas.

Mais de um terço da Geração Z (37%) acredita que não é possível saber com certeza se Deus é real, em comparação com 32% de todos os adultos. “Para muitos adolescentes, a verdade parece relativa, na melhor das hipóteses e, na pior das hipóteses, totalmente irreconhecível”, segundo o relatório. Mas, entre os adolescentes que frequentam a igreja, 49% dizem que “a igreja parece rejeitar muito do que a ciência nos diz sobre o mundo”, de modo que, no campo da ciência, o relativismo não parece ter tanta influência.

A hipocrisia e a falta de tolerância surgem como queixas entre os não frequentadores da igreja. No entanto, entre os da Geração Z que frequentam a igreja, as percepções de um local de culto tendem a ser mais positivas do que negativas:

“A maioria dos adolescentes religiosos diz que a igreja ‘é um lugar para encontrar respostas para viver uma vida significativa’ (82%) e ‘é relevante para minha vida’ (82%), que ‘eu posso ser eu mesmo na igreja’ (77%) e que ‘as pessoas na igreja são tolerantes com pessoas com crenças diferentes’ (63%). Percepções negativas têm uma moeda significativa, no entanto… Um terço [acha] diz que ‘as pessoas na igreja são hipócritas’ (36%). Além disso, um quarto afirma que ‘a igreja não é um lugar seguro para expressar dúvidas’ (27%) ou que o ensino a que estão expostos é ‘bastante superficial’ (24%)”.

Entre aqueles que dizem frequentar a igreja não é importante para eles – três em cada cinco adolescentes cristãos dizem: “eu acho Deus em outro lugar” (61%).

Aleteia

A Secretaria do Sínodo dos Bispos publicou esta terça-feira (22/05) a tradução oficial do documento final da Reunião pré-sinodal.

A reunião, que teve a participação do Papa Francisco, se realizou em Roma de 19 a 24 de março, com a participação de jovens dos cinco continentes, dos quais inúmeros brasileiros representando dioceses, movimentos, instituições e congregações.

O resultado final está contido neste documento, que expressa o ponto de vista da juventude, sua realidade, ideias e propostas.

O documento será apresentado aos Padres sinodais, que se reunirão em Assembleia em outubro de 2018 sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

Documento final da Reunião Pré-sinodal

Introdução

 

Os jovens de hoje encontram uma série de desafios e oportunidades externas e internas, muitas das quais são específicas de seus contextos individuais e algumas são comuns entre os continentes. À luz disso, é necessário para a Igreja examinar o modo com o qual enxerga os jovens e se compromete com eles, de modo que seja um guia eficaz, relevante e vivificante no decorrer de suas vidas.

Este documento é uma síntese para expressar alguns dos nossos pensamentos e experiências. É importante notar que essas são algumas reflexões dos jovens do século XXI provenientes de diversas religiões e contextos culturais. Neste sentido, a Igreja deve ver essas reflexões não como uma análise empírica de um tempo qualquer no passado, mas como uma expressão de onde nos encontramos, para onde nos direcionamos e como um indicador do que a Igreja deve fazer para caminhar adiante.

É importante, sobretudo, esclarecer os parâmetros deste documento. Não se trata de fazer um tratado teológico nem de estabelecer um novo ensinamento por parte da Igreja. É principalmente um documento que reflete as específicas realidades, personalidades, crenças e experiências dos jovens. Este é destinado aos padres sinodais. É destinado a direcionar os bispos a uma maior compreensão dos jovens; um instrumento de navegação para o próximo sínodo dos bispos sobre os “Jovens, a fé e o discernimento vocacional” em outubro de 2018. É importante que essas experiências sejam vistas e entendidas de acordo com os vários contextos nos quais os jovens estão inseridos.

Essas reflexões surgiram de um encontro de mais de 300 jovens representantes de todo o mundo, reunidos em Roma de 19 a 24 de março de 2018 por ocasião da Reunião Pré-sinodal dos jovens e da participação de 15.000 jovens através dos grupos do Facebook.

Este documento é um resumo de todas as contribuições dos participantes, divididos nos 20 grupos linguísticos e outros 6 grupos através das redes sociais. Esta será uma das fontes que contribuirá com o INSTRUMENTUM LABORIS do Sínodo dos bispos 2018. A nossa esperança é que a Igreja e outras instituições possam aprender com o resultado dessa reunião e escutar a voz dos jovens.

Dito isto, podemos continuar a explorar, com disponibilidade e confiança, os contextos nos quais o jovem está hoje, como ele se percebe em relação aos outros e como nós, como Igreja, podemos acompanhar os jovens para uma compreensão profunda de si mesmos e do lugar que ocupam no mundo.

Parte I – Desafios e oportunidades dos jovens no mundo de hoje.

1) A formação da personalidade.

Os jovens procuram o sentido de si mesmos em comunidades que sejam de sustento, edificantes, autênticas e acessíveis, ou seja, comunidades capazes de valorizá-los. Reconhecemos a existência de contextos que podem ajudar no desenvolvimento da própria personalidade, entre os quais a família ocupa uma posição privilegiada. Em muitas partes do mundo, o papel dos idosos e a reverência aos antepassados são fatores que contribuem com a formação da nossa identidade. Porém, isso não é um dado universalmente compartilhado, visto que os modelos da família tradicional estão em declínio em vários lugares. Isso traz sofrimento também para os jovens. Alguns se afastam das tradições familiares, esperando serem mais originais do que aquilo que consideram “parado no passado” ou “fora de moda”. Por outro lado, em alguns lugares do mundo, os jovens procuram sua identidade permanecendo apegados às suas tradições familiares, esforçando-se para serem fiéis ao modo no qual cresceram.

A Igreja, então, precisa sustentar melhor as famílias e a sua formação. Isso é significativamente importante nos países em que não há liberdade de expressão, onde aos jovens – especialmente aos menores – não é permitido participar da vida da Igreja; por isso devem ser formados na fé por suas próprias famílias, em seus lares.

O sentido de pertença é um fator significativo na formação da própria identidade. A exclusão social é um fator que contribui para a perda da autoestima e da identidade, frequente em muitos jovens. No Oriente Médio, muitos jovens se sentem obrigados a se converterem a outras religiões para serem aceitos pelos seus coetâneos e pela cultura dominante que os circunda. Isso é sentido também em comunidades de imigrantes na Europa, que, além disso, sofrem o peso da exclusão social e do abandono de sua identidade cultural para assemelharem-se à cultura dominante. Este é um campo no qual a Igreja precisa projetar e fornecer espaços de cura para nossas famílias em resposta a esses problemas, mostrando que existe espaço para todos.

Além disso, é oportuno observar que a identidade dos jovens também é formada por interações externas e pela pertença a grupos específicos, associações e movimentos ativos até mesmo fora da Igreja. Muitas vezes, as paróquias não são mais lugares de encontro. Reconhecemos também o papel dos educadores e amigos como responsáveis de grupos jovens que podem se tornar bons exemplos. Precisamos encontrar modelos atraentes, coerentes e autênticos. Precisamos de explicações racionais e críticas às questões complexas – as respostas simplistas não são suficientes.

Para alguns, a religião passou a ser considerada uma questão privada. Ás vezes sentimos que o sagrado parece algo separado da vida quotidiana. Muitas vezes, a Igreja parece severa demais e, geralmente, associada a um moralismo excessivo. É frequente, na Igreja, a dificuldade de superar a lógica do “sempre foi assim”. Precisamos de uma Igreja acolhedora e misericordiosa, que tem apreço pelas suas raízes e seus valores, amando a todos, até mesmo aqueles que não seguem o que acreditamos ser a fé “padrão”. Muitos daqueles que buscam uma vida pacífica terminam se dedicando a filosofias ou experiências alternativas.

Outros lugares importantes de pertença dos jovens são grupos como as redes sociais, os amigos e colegas de classe, assim como contextos sociais e o ambiente natural. Esses são lugares que muitos de nós passamos a maior parte do tempo. Frequentemente nossas escolas não nos educam para desenvolvermos um pensamento crítico.

Momentos cruciais para o desenvolvimento da nossa identidade incluem: escolher nossa faculdade, nossa profissão, decidir em que crer, descobrir nossa sexualidade e fazer escolhas definitivas na nossa vida.

Além disso, as experiências eclesiais podem tanto formar quanto influenciar a construção da nossa personalidade e identidade. Os jovens são profundamente interessados em assuntos como a sexualidade, as dependências, os casamentos falidos, as famílias desestruturadas, assim como nos grandes problemas sociais como o crime organizado, o tráfico de pessoas, a violência, a corrupção, abusos, feminicídio e toda forma de perseguição e degradação do nosso meio ambiente. Esses elementos são de profunda preocupação nas comunidades de todo o mundo. Temos medo porque em muitos dos nossos países encontramos instabilidade social, política e econômica.

Para lutarmos contra esses desafios, precisamos de inclusão, acolhimento, misericórdia e cuidado por parte da Igreja, seja como instituição que como comunidade de fé.

(2) Relação com os outros

Os jovens buscam dar sentido a um mundo muito complicado e diversificado. Temos acesso a novas oportunidades para superar as diversidades e as divisões no mundo, mas isso acontece em níveis e realidades diferentes. Muitos jovens são acostumados a ver a diversidade como uma riqueza e consideram um mundo pluralista como uma oportunidade. O multiculturalismo tem o potencial de favorecer um ambiente de diálogo e tolerância. Valorizamos a diversidade de ideias em um mundo globalizado, o respeito pela maneira de pensar do outro e a liberdade de expressão. Ao mesmo tempo, queremos também preservar nossa identidade cultural e evitar a uniformidade e a cultura do descarte. Não devemos temer nossas diversidades, mas valorizar nossas diferenças e tudo aquilo que nos faz únicos. Às vezes, nos sentimos excluídos por sermos cristãos em ambientes sociais que são contra a religião. Temos consciência que precisamos de encontros entre nós e com outros para poder construir laços profundos.

Em alguns países a fé cristã é minoria, enquanto outra religião é dominante. Os países com raízes cristãs têm uma tendência, hoje em dia, a rejeitar gradualmente a Igreja e a religião. Alguns jovens tentam dar um sentido à fé em uma sociedade cada vez mais secularizada, onde a liberdade de consciência e religião está sendo atacada. O racismo, em diferentes modos, é presente nos jovens de diversas partes do mundo. Existe ainda uma oportunidade para a Igreja de propor aos jovens um outro “modo” de viver, mas isso deve ser feito em meio aos contextos sociais muitas vezes complicados.

Dessa forma, é frequentemente difícil para os jovens escutar a mensagem do Evangelho. Isso é ainda mais acentuado em lugares onde infelizmente, mesmo existindo um geral apreço pela diversidade, as tensões sociais fazem parte da realidade. Uma atenção particular deve ser dada aos nossos irmãos e irmãs cristãos que são perseguidos. Recordamos que nossas raízes cristãs são banhadas no sangue dos mártires e, enquanto rezamos pelo fim de todo tipo de perseguição, somos agradecidos por seus testemunhos de fé em todo o mundo. Ainda não existe um consenso unânime em relação à questão dos imigrantes e dos refugiados e muito menos sobre as problemáticas que causam este fenômeno – tudo isso somado ao reconhecimento do dever universal de tutelar a dignidade de cada pessoa humana.

Em um mundo globalizado e inter-religioso, a Igreja precisa não somente de um modelo mas também de uma elaboração sobre as linhas teológicas já existentes para um pacífico e construtivo diálogo com pessoas de outras crenças e tradições.

(3) Os jovens e o futuro

Os jovens sonham com segurança, estabilidade e plenitude. Muitos esperam uma vida melhor para suas famílias. Em muitas partes do mundo, isso significa buscar a segurança pessoal; para outros especificamente quer dizer encontrar um bom trabalho e um certo estilo de vida. Identificar um lugar de pertença é um sonho comum que ultrapassa continentes e oceanos.

Aspiramos melhores oportunidades em uma sociedade que seja coerente e que confie em nós. Buscamos ser escutados, participando ativamente, e não somente espectadores na sociedade. Procuramos uma Igreja que nos ajude a encontrar nossa vocação, em todos os seus significados. Além disso, infelizmente, nem todos acreditamos que a santidade seja algo possível de se alcançar e que seja um caminho para a felicidade. Precisamos revitalizar o sentido de comunidade que nos conduza a um verdadeiro sentido de pertença.

Algumas preocupações práticas tornam nossa vida difícil. Muito jovens experimentaram grandes traumas em vários modos. Muitos ainda sofrem sob o peso de desestabilidades mentais ou deficiências físicas. A Igreja precisa sustentar melhor e prover recursos idôneos para nos assistir em nosso percurso de cura. Em algumas partes do mundo, a única via para se ter um futuro seguro é receber uma instrução universitária ou trabalhar excessivamente. Se, por um lado esse é um padrão comumente aprovado, por outro é importante dizer que nem sempre é possível executá-lo por uma série de circunstâncias nas quais os jovens se encontram. Essa ideia prevalece e tem mudado nosso modo de ver o trabalho. Mesmo diante desta realidade, os jovens afirmam que existe uma dignidade intrínseca ao trabalho. Às vezes, acabamos renunciando aos nossos sonhos. Temos muito medo e alguns de nós pararam de sonhar. Isso se percebe nas muitas pressões socioeconômicas que ameaçam a esperança dos jovens. Acontece então que não temos nem mesmo mais a capacidade de continuar sonhando.

Por esta razão os jovens se comprometem com os problemas de injustiças sociais do nosso tempo. Buscamos a oportunidade de trabalhar e construir um mundo melhor. Com este propósito, a doutrina social da Igreja Católica é, de modo particular, instrumento privilegiado de informação para os jovens católicos que se identificam com essa vocação. Queremos um mundo de paz, com uma ecologia integral unida à uma economia global sustentável. Para os jovens que vivem em regiões instáveis e vulneráveis, existe a esperança e uma expectativa de ações concretas da parte dos governos e da sociedade: acabar com os conflitos, com a corrupção; ter atenção às mudanças climáticas, às desigualdades sociais e à segurança. É importante saber que, independentemente do contexto, todos compartilham a mesma aspiração inata por ideais nobres: paz, amor, confiança, igualdade, liberdade e justiça.

Os jovens sonham com uma vida melhor, mas muitos são obrigados a migrar para encontrar uma melhor situação econômica e ambiental. Desejam a paz e são, em particular modo, atraídos pelo “mito do Ocidente”, assim como é representado pela mídia. Os jovens africanos sonham com uma Igreja local autônoma, que não alimente a dependência, mas que seja uma contribuição viva para suas comunidades. Mesmo com tantos conflitos e ondas de violência, os jovens permanecem cheios de esperança. Em muitos países ocidentais, seus sonhos têm como base o desenvolvimento pessoal e a realização de si.

Em muitos lugares existe uma grande discrepância entre os desejos dos jovens e a sua capacidade de tomar decisões a longo prazo.

(4) Relação com a tecnologia.

Quando nos referimos à tecnologia, é necessário entender o duplo aspecto do seu uso. Se, por um lado, os progressos tecnológicos melhoraram sensivelmente a nossa vida, é igualmente necessário usá-la de maneira prudente. Como em todas as coisas, um uso desregrado pode trazer consequências negativas. Enquanto para alguns a tecnologia tem enriquecido nossas relações, para muitos outros têm gerado uma forma de dependência, tomando o lugar das relações humanas e até mesmo da relação com Deus. Mesmo assim, a tecnologia é considerada parte integrante da vida dos jovens e deve ser entendida como tal. Paradoxalmente, em alguns países, a tecnologia, em particular a Internet, é gratuitamente acessível, enquanto os serviços de necessidades básicas são insuficientes.

O impacto das mídias sociais na vida dos jovens não pode ser desvalorizado. As mídias sociais são parte integrante da identidade dos jovens e do seu modo de viver. Como nunca, os ambientes digitais têm o poder sem precedentes de unir pessoas geograficamente distantes. A troca de informações, ideais, valores e interesses comuns é hoje muito mais possível. O acesso a instrumentos de formação online trouxe novas oportunidades educativas para os jovens que vivem em áreas remotas e fez do conhecimento do mundo algo mais acessível, até mesmo com um só click.

Todavia, a tecnologia tem mostrado uma outra face, aquela de certos vícios. Este perigo se manifesta de diversas formas como isolamento, preguiça, desolação e tédio. É evidente que os jovens de todo o mundo estejam consumindo excessivamente produtos eletrônicos. Embora vivamos em um mundo hiperconectado, a comunicação entre os jovens permanece limitada a grupos de pessoas que pensam como eles. Faltam espaços e oportunidades para que sejam feitas experiências com a diversidade. A cultura destes meios de comunicação em massa tem muita influência na vida e nos ideais dos jovens. O advento das redes sociais trouxe novos desafios em relação à enorme influência que essas mesmas redes têm sobre os jovens.

Frequentemente os jovens tendem a se comportarem nos ambientes online diferente de como se comportam nos ambientes offline. É necessário oferecer uma formação aos jovens de como ter uma vida digital sadia. As relações online podem se tornar desumanas. Os espaços digitais nos deixam cegos para a fragilidade do outro e impedem um olhar profundo. Problemas como a pornografia distorcem a percepção que o jovem tem da sua própria sexualidade. A tecnologia usada deste modo cria uma realidade paralela ilusória, que ignora a dignidade humana.

Outros riscos incluem: a perda de identidade relacionada a uma representação errada da pessoa, uma construção virtual da personalidade e a perda de uma presença social embasada na realidade. Além disso, os riscos a longo prazo incluem: perda de memória, de cultura e de criatividade diante do acesso imediato à informação e a perda de concentração ligada à fragmentação. Além do mais, existe uma cultura ditatorial da aparência.

Falar da tecnologia não se limita a internet. No campo da bioética, a tecnologia traz novos desafios e novos riscos em relação à proteção da vida humana em cada fase. O advento da inteligência artificial e das novas tecnologias como a robótica e a automação coloca em risco muitos trabalhadores, reduzindo as oportunidades de empregos. A tecnologia pode ser nociva à dignidade humana se não é usada com conhecimento e prudência: a dignidade humana deve sempre guiar o uso da mesma.

Oferecemos aqui duas propostas concretas no que toca à tecnologia. Primeiramente, a Igreja, comprometendo-se com um diálogo constante com os jovens, deveria aprofundar sua compreensão da tecnologia de modo a poder nos ajudar a ponderar o seu uso. Além disso, a Igreja deveria considerar a tecnologia – em particular a Internet – como um terreno fértil para a Nova Evangelização. Os resultados dessa reflexão deveriam ser formalizados através de um documento oficial da Igreja. Em segundo lugar, a Igreja deveria voltar sua atenção para o mal da pornografia, incluindo os abusos de menores na rede, o cyberbullismo e os prejuízos que isso traz para a humanidade.

                                                    
(5) A busca de sentido de vida

Muitos jovens não sabem responder à pergunta: “qual o sentido da sua vida?”. Nem sempre conseguem coligar a vida a um sentido transcendental. Vários jovens, perdendo a confiança nas instituições, não se reconhecem mais nas religiões tradicionais e não se definem mais como “religiosos”. Porém, os jovens são abertos à espiritualidade.

Vários lamentam-se que poucos são seus coetâneos que buscam as respostas do sentido de vida em um contexto de fé e de Igreja. Em diversos lugares do mundo, os jovens dão significados às suas vidas através de seus trabalhos e sucessos pessoais. A dificuldade em encontrar estabilidade nesses âmbitos produz insegurança e ansiedade. Muitos são obrigados a migrar em busca de um contexto que lhes permita trabalhar. Outros ainda abandonam suas famílias e cultura devido à instabilidade econômica.

Além disso, outros evidenciam que, embora os jovens se interroguem sobre o sentido de sua existência, isso nem sempre significa que estejam prontos a se dedicarem em maneira decisiva a Jesus ou à Igreja. Hoje a religião não é mais vista como o principal meio através do qual os jovens buscam sentido: dirigem-se, frequentemente, a tendências e ideologias modernas. Os escândalos atribuídos à Igreja – tanto os reais, quanto aqueles percebidos como tais – afetam a confiança dos jovens na Igreja e nas instituições tradicionais por ela representadas.

A Igreja pode ter um papel vital na certificação de que esses jovens não sejam excluídos, mas que se sintam aceitos. Isso acontece também quando buscamos promover a dignidade das mulheres, tanto na Igreja quanto nos contextos sociais mais amplos. Hoje a falta de igualdade entre homens e mulheres é um problema difuso na sociedade. Isso acontece também na Igreja. Existem grandes exemplos de mulheres que realizam um serviço em comunidades religiosas, consagradas, tendo papel de grande responsabilidade na vida dos leigos. No entanto, para algumas jovens esses exemplos não são sempre visíveis. Uma pergunta-chave surge destas reflexões: “quais os lugares em que as mulheres podem prosperar dentro da Igreja e da sociedade?”.

A Igreja pode lidar com esses problemas com um olhar aberto às diversas ideias e experiências.

Geralmente existe uma grande divergência entre os jovens, tanto na Igreja quanto no mundo, em relação aos ensinamentos que são particularmente controversos atualmente. Entre estes encontramos: contracepção, aborto, homossexualidade, convivência, matrimônio e também como o sacerdócio é entendido nas diversas realidades da Igreja. É importante notar que, independentemente do nível de compreensão dos jovens dos ensinamentos da Igreja, ainda existem divergências e um debate aberto entre os próprios jovens sobre essas problemáticas. Consequentemente, muitos gostariam que a Igreja mudasse seus ensinamentos ou, ao menos, que forneça melhores explicações e formação sobre essas questões. Mesmo com este debate interno, os jovens católicos com convicções em contraste com os ensinamentos da Igreja desejam, de toda forma, fazer parte da Igreja. Por sua vez, muitos jovens católicos aceitam estes ensinamentos e encontram neles uma fonte de alegria. Desejam que a Igreja não somente mantenha firme seus ensinamentos, mesmo se impopulares, mas os proclame com ainda mais profundidade.

No mundo, a relação com o sagrado é uma questão complexa. O cristianismo é visto, muitas vezes, como algo que pertence ao passado, e o seu valor ou relevância para nossas vidas não são mais compreendidos. Ao mesmo tempo, em algumas comunidades observa-se uma prioridade ao sagrado enquanto a vida cotidiana é estruturada em torno à religião. Em alguns contextos asiáticos, o sentido de vida pode ser associado a filosofias orientais.

Por fim, muitos de nós desejamos fortemente conhecer Jesus, mas geralmente temos dificuldade de compreender que somente Ele é a fonte de uma verdadeira descoberta de si, pois é na relação com Ele que a pessoa descobre si mesma. Consequentemente, evidenciamos que os jovens pedem testemunhos autênticos: homens e mulheres capazes de expressar com paixão sua fé e relação com Jesus, e ao mesmo tempo, de encorajar outros também a se aproximarem, se encontrarem e se apaixonarem por Jesus.

 PARTE II – FÉ E VOCAÇÃO, DISCERNIMENTO E ACOMPANHAMENTO

É uma alegria e uma responsabilidade sagrada acompanhar os jovens em sua trajetória de fé e discernimento. Os jovens são mais receptivos diante de “uma narrativa de vida” que diante de um abstrato sermão teológico; eles são conscientes e atentos, empenhando-se ativamente no mundo e na Igreja. Por isso, é importante compreender como os jovens percebem a fé, a vocação e os desafios que se apresentam no discernimento.

(6) Os jovens e Jesus

O relacionamento que muitos jovens têm com Jesus é tão variado quanto o número de jovens no mundo. Muitos deles veem Jesus como seu Salvador e Filho de Deus. Ainda, muitas vezes, os jovens encontram a proximidade de Jesus através da Sua Mãe, Maria. Outros, ao contrário, podem não ter tal relação com Jesus, mas o veem mesmo assim como um referencial moral e uma boa pessoa. Muitos jovens percebem Jesus como um personagem histórico, pertencente a uma época e a uma cultura passadas, e por isso, não relevante para as suas vidas. Outros, ainda, percebem Jesus distante de sua experiência humana, distância que para eles é perpetrada pela Igreja. Além disso, as falsas imagens que alguns jovens têm de Jesus muitas vezes os afastam dele. Ideais errôneos de modelos cristãos parecem como algo fora de alcance, assim como os preceitos dados pela Igreja. Por causa disso, o Cristianismo é percebido por alguns como um padrão inalcançável.

Um modo de superar a confusão que os jovens têm a respeito de Jesus compreende um retorno às Escrituras, de modo a poder aprofundar o conhecimento da pessoa de Cristo, da Sua vida, e da Sua humanidade. Os jovens têm a necessidade de encontrar a missão de Jesus, e não aquilo que a eles pode parecer uma expectativa moral inalcançável. Em todo caso, se sentem inseguros sobre como fazer tudo isso. O encontro com Jesus deve ser promovido entre os jovens e a Igreja deve se dirigir a eles.

(7) A Fé e a Igreja

Para muitos jovens, a fé se tornou algo inerente mais à esfera privada do que a um evento comunitário, e as experiências negativas que alguns destes tiveram com a Igreja certamente contribuíram para esta percepção. Muitos jovens se relacionam com Deus em um nível meramente pessoal, afirmando serem “espirituais, mas não religiosos”, ou mesmo concentrando-se somente em uma relação pessoal com Jesus Cristo. Alguns jovens pensam que a Igreja desenvolveu uma cultura na qual se presta mais atenção às instituições do que à pessoa de Cristo. Outros, por sua vez, consideram que os líderes religiosos são distantes, mais preocupados com a dimensão administrativa do que com a criação de uma comunidade; ainda mais, alguns veem a Igreja como uma entidade irrelevante. Como se a Igreja se esquecesse que é constituída por pessoas e não por estruturas. Existem jovens que, ao contrário, experimentam uma Igreja próxima, como no caso da África, da América Latina e da Ásia, assim como em diversos movimentos de escala mundial. Mesmo jovens que não vivem o Evangelho sentem uma ligação com a Igreja. Este sentido de pertença e família sustenta os jovens em seu caminho. Sem esta ligação e ponto de referência comunitário, correm o risco de se encontrarem sós diante de seus desafios. Por outro lado, existem muitos jovens que não percebem a necessidade de serem parte da Igreja e que encontram sentido para sua existência fora dela.

Infelizmente, em algumas partes do mundo, os jovens estão deixando a Igreja em grande número. Entender os motivos deste fenômeno é crucial para poder continuar em frente. Os jovens que não têm ligação com a Igreja, ou que estão distantes dela, o fazem porque experimentaram indiferença, julgamento e rejeição. É possível participar de uma missa e sair sem ter experimentado nenhum sentido de comunidade ou de família enquanto Corpo de Cristo. Os cristãos professam um Deus vivo, mas não obstante a isso, encontramos celebrações e comunidades que parecem mortas. Os jovens são atraídos pela alegria, que deveria ser um sinal distintivo da nossa fé. Desejam ver uma Igreja que seja testemunha viva daquilo que ensina, e que mostre a autenticidade do caminho em direção à santidade, compreendendo a admissão dos erros cometidos e tendo a humildade de pedir perdão. Os jovens esperam que as lideranças da Igreja – consagrados, religiosos e leigos – sejam o mais forte exemplo disso. Saber que os modelos de fé são autênticos, mas também vulneráveis, faz os jovens se sentirem livres para também eles o serem. Não se deseja aqui negar a sacralidade de seus ministérios, mas exercê-los de modo que os jovens possam ser inspirados por eles no caminho para a santidade.

Muitas vezes os jovens têm dificuldade de encontrar um espaço na Igreja no qual possam participar ativamente e ter responsabilidades. Os jovens, a partir de suas experiências, percebem uma Igreja que os considera demasiado jovens e pouco experientes para tomar decisões, e que deles se espera somente erros. Deve existir confiança no fato de que os jovens podem guiar e ser também protagonistas de seu caminho espiritual. Não se trata somente de imitar os mais sábios, mas de assumir verdadeiramente a responsabilidade da própria missão e de vivê-la seriamente. Os movimentos e as novas comunidades na Igreja têm desenvolvido caminhos fecundos não só para a evangelização dos jovens, mas também para legitimá-los a ser os principais embaixadores da fé para os seus coetâneos.

Uma outra percepção de muitos jovens é a falta de clareza acerca do papel das mulheres na Igreja. Se, já de uma parte, é difícil para os jovens terem um sentido de pertença e liderança na Igreja, isso é ainda mais difícil para as mulheres jovens. Por isso, seria de grande ajuda se a Igreja não só afirmasse o papel da mulher, mas que também ajudasse os jovens a explorá-lo e a compreendê-lo sempre mais claramente.

(8) O sentido vocacional da vida

É preciso encontrar uma simples e clara compreensão do significado de vocação, que seja capaz de dar destaque ao sentido do chamado, da missão, do desejo e da aspiração em persegui-la. Um significado capaz de torná-la um conceito com o qual os jovens possam relacionar-se neste momento de suas vidas. O termo “vocação” foi por vezes apresentado como um conceito meramente intelectual, entendido por muitos como fora de alcance. Os jovens conseguem entender o sentido de dar um significado à vida e de existir no mundo por uma razão, mas muitos não sabem ligar este sentido à vocação entendida como dom e chamado de Deus.

O termo “vocação” se torna então, nos ambientes eclesiásticos, sinônimo do chamado ao sacerdócio e à vida religiosa. Se, de um lado, estas são santas vocações e dignas de serem celebradas, por outro é importante que os jovens saibam que sua vocação vem da dignidade intrínseca da própria vida e que cada um tem a responsabilidade de discernir ‘quem’ é chamado a ser e ‘o quê’ é chamado por Deus a fazer. Existe uma plenitude própria que é evidenciada em cada vocação para que os jovens possam abrir os seus corações a esta possibilidade.

Os jovens pertencentes às diversas tradições religiosas incluem no termo vocação: a vida, o amor, as aspirações, a busca do próprio lugar no mundo e o modo para contribuir com este, juntamente com as vias para poder deixar um sinal tangível. A ideia geral de que a vocação é um chamado não é clara aos jovens, e por isso é necessária uma maior compreensão da vocação cristã (ao sacerdócio, à vida religiosa, ao apostolado laical, ao matrimônio e à família, etc.) e do chamado universal à santidade.

(9) Discernimento vocacional

Discernir a própria vocação representa um desafio, especialmente à luz dos equívocos inerentes a este termo, porém os jovens o aceitam mesmo assim. Este processo de discernimento pode ser uma aventura que acompanha o caminho da vida. Dito isto, muitos jovens não sabem envolver-se neste processo de discernimento, e isto constitui uma oportunidade para que a Igreja os acompanhe.

São muitos os fatores que influenciam a capacidade de um jovem no momento de discernir a própria vocação: a Igreja, as diferenças culturais, as exigências do trabalho, o mundo digital, as expectativas da família, a saúde mental e o estado de ânimo, ruídos, a pressão dos outros jovens, os cenários políticos, a sociedade, a tecnologia, etc… Passar tempos em silêncio, em introspecção e rezando, assim como lendo a Escritura e aprofundando o conhecimento de si, são oportunidades que poucos jovens de fato desfrutam. É necessária uma melhor introdução a estas práticas. Envolver-se com grupos de oração, movimentos e comunidades construídas sob o interesse comum pode também ajudar os jovens em seu discernimento.

Reconhecemos de modo particular o excepcional desafio que as jovens moças devem enfrentar no momento de discernir a sua vocação e seu espaço na Igreja. Assim como o “sim” de Maria ao chamado de Deus é fundamental na experiência cristã, é necessário dar às mulheres de hoje espaços nos quais possam dizer “sim” à sua vocação. Encorajamos a Igreja a aprofundar a compreensão do papel da mulher e valorizar as jovens, sejam essas leigas ou consagradas, no mesmo espírito de amor que a Igreja tem por Maria, mãe de Jesus.

(10) Jovens e acompanhamento

Os jovens buscam companheiros de caminho, buscam estar em torno de homens e mulheres fiéis que comuniquem a verdade, ao mesmo tempo deixando-os exprimir a sua consciência de fé e de vocação. Tais pessoas não devem ser modelos de fé irrepreensíveis, mas testemunhos vivos, capazes de evangelizar através de suas vidas. São muitos os que podem ser exemplos à altura desta expectativa: podem ser rostos familiares no próprio lar, colegas da comunidade local, ou mártires que testemunham a sua fé doando suas vidas.

Estes guias devem possuir algumas qualidades: ser um cristão fiel e engajado na Igreja e no mundo; buscar constantemente a santidade, não julgar, mas cuidar; escutar ativamente as necessidades dos jovens e responder com gentileza; ser profundamente amoroso e ter consciência de si, saber reconhecer os próprios limites, conhecer a alegria e as dores da vida espiritual.

Uma qualidade de importância primária para os educadores é saber reconhecer-se humano e capaz de compreender os erros: não ser perfeito, mas um pecador perdoado. Acontece muitas vezes que os guias e lideranças são colocados em um pedestal, e sua eventual ‘queda’ pode causar um impacto devastador na capacidade dos jovens de se engajarem na Igreja.

As lideranças não devem conduzir os jovens a ser seguidores passivos, mas caminhar junto deles, deixando-os serem participantes ativos desta viagem. Devem respeitar a liberdade do processo de discernimento de um jovem, fornecendo os instrumentos necessários para o cumprimento adequado deste processo. Um acompanhador deve acreditar de todo o coração na capacidade que um jovem tem de participar da vida da Igreja. Um guia deve cultivar a semente da fé nos jovens, sem nenhuma expectativa de ver os frutos do trabalho, pois este é feito pelo Espírito Santo. Este papel não pode ser restrito aos sacerdotes e religiosos, mas também os leigos deveriam ser legitimados a desenvolvê-lo. Todos estes guias e acompanhadores deveriam poder ser beneficiados por uma boa formação permanente.

Parte III – Atividades formativas e pastorais da Igreja

11) O estilo da Igreja

Hoje os jovens procuram uma Igreja autêntica. Queremos dizer, especialmente para a hierarquia da Igreja que ela deve ser transparente, acolhedora, honesta, convidativa, comunicativa, acessível, alegre e interativa com a comunidade.

Uma Igreja crível é aquela que não tem medo de ser vista como vulnerável. A Igreja deveria ser sincera em admitir os erros passados e presentes e se apresentar como uma Igreja feita de pessoas capazes de erros e incompreensões. A Igreja deveria condenar atos como abusos sexuais e o mau uso do poder e da riqueza. A Igreja deveria continuar a reforçar sua posição em não tolerar o abuso sexual dentro das suas instituições, e assim, reconhecendo-se mais humilde e humana aumentaria, sem dúvida, sua credibilidade entre os jovens do mundo. Se a Igreja agir deste modo, ela se distinguirá das demais instituições e autoridades que, em grande parte, despertam a desconfiança dos jovens.

No mais, a Igreja atrai a atenção dos jovens na medida em que está enraizada em Jesus Cristo. Cristo é a Verdade que faz a Igreja ser diferente de qualquer outro grupo secular com o qual poderíamos nos identificar. Portanto, pedimos que a Igreja continue a proclamar a Alegria do Evangelho guiada pelo Espírito Santo.

Nós desejamos que a Igreja difunda essa mensagem através dos meios modernos de comunicação e expressão. Os jovens têm muitos questionamentos sobre a fé, mas desejam respostas que não sejam aguadas ou que utilizem formulações pré-fabricadas. Nós, a Igreja jovem, pedimos que os nossos líderes falem em termos práticos sobre assuntos controversos como homossexualidade e questões de gênero, dos quais os jovens já conversam livremente sem tabus. Alguns percebem a Igreja como anticientífica, por isso o seu diálogo com a comunidade científica também é importante, já que a ciência ilumina a beleza da criação. Neste contexto, a Igreja deveria também cuidar de questões ambientais, especialmente a poluição. Nós também queremos uma Igreja empática que alcança os que estão às margens, os perseguidos e os pobres. Uma Igreja atrativa é uma Igreja relacional.

12) Jovens Protagonistas

A Igreja deve envolver jovens em seus processos de tomadas de decisão e oferecer-lhes mais funções de liderança. Essas funções devem ser na paróquia, diocese, a nível nacional e internacional, e até em comissões do Vaticano. Nós sentimos fortemente que estamos prontos para sermos líderes, amadurecermos e aprendermos com os membros mais experientes da Igreja, religiosos ou leigos. Nós precisamos de programas de liderança e formação para o desenvolvimento contínuo de lideranças jovens.

Algumas jovens sentem falta de referências femininas dentro da Igreja, com quem também elas desejam contribuir com seus talentos intelectuais e profissionais. Nós também acreditamos que os seminaristas e religiosos deveriam ter uma maior capacidade para acompanhar os jovens.

Além deste maior envolvimento institucional, queremos também ser uma presença alegre, entusiasmada e missionária dentro da Igreja. Nós também expressamos fortemente o desejo de participar como uma voz criativa proeminente. Essa criatividade é frequentemente encontrada na música, liturgia e artes, mas até o momento, esse é um potencial inexplorado, visto que a parte criativa da Igreja vem sendo dominada pelos membros mais velhos.

Existe também o desejo por comunidades fortes, nas quais os jovens partilhem suas lutas e testemunhos uns com os outros. Em muitos lugares, isso já acontece por iniciativas de leigos, movimentos e associações, mas estas têm necessidade de receber maior suporte, oficial e financeiramente.

Os jovens da Igreja querem ter também um olhar para fora. Eles têm paixão por atividades políticas, civis e humanitárias. Eles querem agir como católicos na esfera pública para o aperfeiçoamento da sociedade como um todo. Em todas estas dimensões da vida da Igreja, os jovens desejam ser acompanhados e levados à sério, como membros responsáveis da Comunidade eclesial.

13) Lugares preferenciais

Nós gostaríamos que a Igreja nos encontrasse em lugares onde ela atualmente tem pouca ou nenhuma presença.

Particularmente, desejamos que a Igreja nos encontre nas ruas, onde se encontram pessoas de todos os tipos. A Igreja deve buscar formas novas e criativas de encontrar as pessoas exatamente onde elas vivem, em lugares onde socializam naturalmente: bares, cafés, parques, academias, estádios e outros centros culturais populares. Outros lugares menos acessíveis também deveriam ser considerados, como os ambientes militares, os locais de trabalho e as áreas rurais. De igual modo, nós precisamos da luz da fé em lugares mais desafiantes como orfanatos, hospitais, bairros marginalizados, regiões devastadas pela guerra, prisões, centros de reabilitação e zonas de prostituição.

 
Enquanto a Igreja já nos encontra em escolas e universidades, queremos ver sua presença nestes lugares de maneira mais consistente e eficaz. Os recursos não são desperdiçados quando investidos nessas áreas pois são estes os lugares onde muitos jovens passam grande parte do seu tempo e frequentemente se envolvem com pessoas de várias classes sociais. Muitos já são membros de comunidades paroquiais ou de várias instituições, associações e organizações dentro da Igreja. É indispensável que aqueles que já estão engajados sejam apoiados pela comunidade eclesial para que sejam fortalecidos e inspirados em sua missão de evangelização no mundo.

Assim como podemos ser encontrados em muitos lugares físicos, o mundo digital tem de ser levado em conta pela Igreja. Nós desejamos uma Igreja que seja acessível por meio das mídias sociais assim como outros espaços digitais, para mais facil e efetivamente disponibilizar informações da Igreja, seus ensinamentos, e para favorecer a formação dos jovens.

Em resumo, queremos ser encontrados onde estamos – intelectualmente, emocionalmente, espiritualmente, socialmente e fisicamente.

14) Iniciativas a serem reforçadas

Nós esperamos por experiências que possam aprofundar nossa relação com Jesus no mundo real. Iniciativas bem-sucedidas oferecem-nos uma experiência com Deus. Portanto, concordamos com iniciativas que nos dão um entendimento dos Sacramentos, oração e liturgia, para que possamos partilhar e defender a nossa fé no mundo secularizado.

Os Sacramentos são de grande valor para nós e desejamos conhecer os seus mais profundos significados nas nossas vidas. Isso vale para a preparação para o Matrimônio, o Sacramento da Reconciliação, o Batismo de crianças e assim por diante. Por causa da falta de uma apresentação clara e atrativa daquilo que os sacramentos verdadeiramente oferecem, alguns de nós os recebemos sem valorizá-los adequadamente.

Algumas iniciativas frutuosas são: eventos como a Jornada Mundial da Juventude, cursos e programas de formação, em especial aos que são novos na fé; pastorais sociais, catecismo para jovens, retiros de finais de semana e exercícios espirituais, eventos carismáticos, coros e grupos de oração, peregrinações, iniciativas esportivas cristãs, grupos paroquiais ou diocesanos, grupos de estudo bíblico, grupos universitários cristãos, diferentes aplicativos de fé e a imensa variedade de movimentos e associações dentro da Igreja.

Nós gostamos de eventos grandes e bem organizados, mas não significa que todos os eventos precisam ser de grande porte.  Pequenos grupos locais onde podemos expressar dúvidas e partilhar uma convivência cristã também são primordiais para mantermos a fé. Esses pequenos eventos, nos vários contextos sociais, preenchem a lacuna entre os grandes eventos da Igreja e a paróquia. Reunir-se dessa forma é especialmente importante nos países onde os cristãos são menos aceitos.

Os aspectos sociais e espirituais das iniciativas da Igreja podem ser complementares uns aos outros. Existe também um desejo de um alcance social e de evangelização das pessoas que lutam contra doenças e vícios, assim como o envolvimento em um diálogo com pessoas de diferentes religiões e contextos culturais e socioeconômicos. A Igreja deve reforçar as iniciativas que combatem o tráfico humano e migrações forçadas, assim como o narcotráfico que é especialmente importante na América Latina.

15) Instrumentos a serem usados

A Igreja deve adotar uma linguagem que a torne capaz de se relacionar com os costumes e culturas dos jovens, de modo que todas as pessoas tenham a oportunidade de ouvir a mensagem do Evangelho. Somos apaixonados pelas diferentes expressões da Igreja. Alguns têm um forte entusiasmo pelo “fogo” dos movimentos Carismáticos contemporâneos, que focam na ação do Espírito Santo; outros são atraídos pelo silêncio, meditação e tradições litúrgicas. Todas essas coisas são boas pois nos ajudam a rezar de formas diferentes. Fora da Igreja, muitos jovens vivem uma espiritualidade difícil, mas a Igreja poderia ajudá-los com os instrumentos adequados.

  • Multimídia – A internet oferece à Igreja uma oportunidade de evangelização sem precedentes, especialmente por meio das mídias sociais e dos conteúdos de vídeo online. Como jovens, somos nativos no meio digital e por isso podemos guiar a Igreja neste caminho. Também é um lugar fantástico de encontro e relação com pessoas de outra fé ou sem fé alguma. As séries de vídeos do Papa Francisco são um bom exemplo do potencial de evangelização da internet.
  • Experiências de um Ano (Ano Sabático) – Anos de serviço dentro dos movimentos e obras de caridade dão aos jovens a experiência de missão e espaço para o discernimento. Também criam a oportunidade para a Igreja encontrar os não- crentes e pessoas de uma outra fé. 
  • A Beleza e as Artes – A beleza é universalmente reconhecida e a Igreja tem um belo histórico de evangelizar por meio das artes, como a música, artes visuais, arquitetura, design etc. Os jovens respondem a isto com facilidade e gostam de ser criativos e expressivos.
  • Adoração, Meditação e Contemplação – Nós também apreciamos o contraste do silêncio oferecido pela tradição da Igreja, na Adoração Eucarística e na oração contemplativa. Isto nos afasta dos barulhos constantes da comunicação moderna e assim podemos nos encontrar com Jesus. O silêncio é onde podemos ouvir a voz de Deus e discernir a Sua Vontade para nós. Muitos, mesmo fora da Igreja, também apreciam a meditação, e isto pode ser uma ponte para aqueles que, mesmo não tendo fé, se reconhecem como pessoas espirituais. Pode ser contra-cultural, mas é eficaz.
  • Testemunho – As histórias pessoais de quem fez parte da Igreja são meios eficazes de evangelizar já que experiências pessoais não podem ser contraditas. Testemunhos de cristãos modernos e aqueles perseguidos no Oriente Médio são particularmente fortes sinais da vida plena que se encontra na Igreja. As histórias dos santos são muito relevantes para nós, pois são caminhos rumo à santidade e à plenitude.
  • O processo Sinodal – Ficamos entusiasmados por termos sido levados a sério pela hierarquia da Igreja e sentimos que este diálogo entre os jovens e a Igreja madura é um processo vital e frutuoso. Seria uma pena se a este diálogo não fosse dada a oportunidade de continuar crescendo! Esta cultura de abertura é extremamente saudável para nós.

Ao início deste encontro Pré-Sinodal, e neste espírito de diálogo, o Papa Francisco propôs o seguinte trecho bíblico: “Depois de tudo isso, derramarei o meu espírito sobre todos os viventes. E, então, todos os vossos filhos e filhas falarão como profetas: Os anciãos receberão em sonho suas mensagens e os jovens terão visões” (Joel 3,1).

Números estatísticos de um estudo conjunto do Instituto Católico de Paris e da St. Mary’s Catholic University, em Twickenham, região metropolitana de Londres, sobre a filiação religiosa de jovens com idade de 16 a 29 anos na Europa terão, sem dúvida, uma forte impressão nos participantes do encontro pré-sinodal que acontece nesta semana em Roma.

Em doze dos 21 países europeus estudados, mais Israel, a maioria dos jovens diz não ter religião. Este número sobe para 91% na República Tcheca.

Esta queda na filiação religiosa, que não deve ser confundida com a crença em Deus, forma uma das principais conclusões deste estudo estatístico.

O estudo baseou-se em informações coletadas pelas últimas duas sondagens feitas pela European Social Survey em 2014 e 2016.

Os autores fundamentam os resultados em subamostragens de várias centenas de jovensentre 16 e 29 anos de cada país, analisando suas crenças e práticas religiosas.

No entanto, estas amostras foram às vezes bastante limitadas em tamanho, o que significa que é preciso ter cautela na hora de considerar as conclusões alcançadas.

Assim, na França, 64% declararam-se viver sem uma religião em comparação com os 23% que se disseram católicos e os 10% que se identificaram como muçulmanos.

Todavia, uma outra pesquisa conduzida pela agência OpinionWay e encomendada pelo jornal La Croix em julho de 2016, com base numa amostragem muito maior e mais representativa, descobriu que 42% dos jovens entre 18 e 30 anos descreviam-se como católicos enquanto 47% diziam não ter religião.

Mas claro está que as referências religiosas estão em queda acentuada.

Crenças religiosas de jovens entre 16 e 29 anos na Europa e em Israel

“O que observamos é a situação de um declínio geral na prática religiosa”, disse o professor Stephen Bullivant, teólogo e sociólogo da religião da St. Mary’s University e um dos autores do estudo.

A frequência semanal à igreja está extremamente baixa com apenas quatro países – a saber: a Polônia (39%), Israel (26%), Portugal (20 %) e a Irlanda (15%) – tendo números de frequência acima dos 10% entre os jovens.

Por outro lado, há sete países em que mais da metade das pessoas envolvidas no estudo disse que nunca participar de cerimônias religiosas. (República Tcheca, Países Baixos, Reino Unido, Bélgica, França e Hungria).

Não obstante, os resultados não foram uniformes. Os bastiões católicos tradicionais resistiram à secularização de maneira mais forte do que as principais nações luteranase anglicanas.

Pondo de lado a Polônia, que é uma exceção com uma população de 82% de católicos, Portugal e Irlanda igualmente demonstraram um nível invejável de dinamismo. (A Itália não esteve entre os países pesquisados.)

“Muitas vezes se diz que a Irlanda está no processo de completa descristianização e que os jovens não vão mais à igreja”, afirmou Bullivant.

“Isso é verdade se olharmos para estes números ao longo do tempo, mas hoje, comparado com o restante da Europa, os jovens irlandeses ainda são extraordinariamente religiosos”, indicou.

A pesquisa também mostra que a religiosidade é mais forte entre pequenas minorias cristãs que não são afetadas por pressões sociais ou questões identitárias.

O exemplo mais notável aqui é a República Tcheca. Embora os católicos sejam um setor bastante pequeno da população (7%), os jovens católicos representam 24% dos que frequentam a missa pelo menos uma vez por semana e 48% dos que rezam semanalmente.

“O exemplo tcheco ilustra aquilo que Bento XVI chamou de ‘minorias criativas’”, disse Bullivant, que acha que o cenário tcheco prefigura os cenários da França e Espanha no médio prazo.

Este tipo de cristianismo de “pertença” em oposição a um cristianismo “cultural”, que está diminuindo, também aparece em menor grau no Reino Unido, nos Países Baixos e na França.

“As comunidades católicas são menores, mas, num reflexo majoritário, as pessoas estão mais comprometidas”, falou o teólogo François Moog, reitor da Faculdade de Educação no Instituo Católico de Paris.

“A pertença religiosa está se tornando cada vez mais existencial e engajadora. A transmissão pela família está mais forte assim como está o apoio entre os membros da comunidade”, explicou.

“Por outro lado”, segundo Moog, “estas minorias têm dúvidas sobre o modo deles de ser cristão hoje e sobre como se expressar no espaço público. Na França, vários livros recém-lançados abordam este tema”.

La Croix International

Em 28 de julho de 2013, último dia da viagem apostólica do Papa Francisco ao Brasil, foi celebrada a Missa de encerramento da XXVIII Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Participaram daquela celebração eucarística, também chamada de “Missa de Envio“, cerca de 3,7 milhões de peregrinos.

Número histórico

De todas as edições da JMJ já realizadas no mundo, foi a segunda com mais fiéis reunidos, atrás apenas da edição de 1995 na capital filipina, Manila, com 4 milhões de peregrinos.

A prefeitura do Rio de Janeiro afirmou que a Missa de Envio da JMJ 2013 foi o maior evento já realizado em toda a história da Cidade Maravilhosa do ponto de vista da quantidade de pessoas presentes. E isso considerando grandes shows e festivais internacionais de música ocorridos na cidade, um carnaval que é apelidado de “maior espetáculo da Terra” e um réveillon que é reconhecido entre os mais concorridos do planeta.

O próprio Ministério do Turismo do Brasil informou que a JMJ 2013 trouxe a maior movimentação de turistas da história do país até então.

Quem pagou a conta?

O custo estimado do evento católico foi de R$ 118 milhões. Quem pagou foi a própria Igreja, mediante o seu Comitê Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013. A participação do governo do Estado e da Prefeitura do Rio de Janeiro se concentrou no que já é sua obrigação: a segurança e o atendimento médico das pessoas. O prefeito carioca da época, Eduardo Paesconfirmou este fato em entrevista à Rádio Globo:

“Quem paga pelas despesas da JMJ é o Comitê Organizador Local (COL), criado pela Igreja Católica. Não pagamos pelo palco, pelos shows, pela hospedagem do Papa. Tudo o que tem a ver com a infraestrutura do evento é pago pelo COL da JMJ”.

Paes reafirmou que os governos federal, estadual e municipal devem colocar à disposição da população serviços como saúde e segurança, da mesma forma que o fazem em quaisquer grandes aglomerações de pessoas, como o carnaval, o réveillon e, para citar outro exemplo de evento religioso, a “Marcha para Jesus”, organizada anualmente por denominações evangélicas.

Mesmo assim, houve protestos enviesados: já no primeiro dia de visita do Papa Francisco ao Rio de Janeiro, manifestantes contrários ao que chamavam de “gastos públicos com um evento religioso particular” entraram em conflito com a polícia.

2017-2018: na maior crise da história do Rio, o maior show de fogos da história do Rio

Neste réveillon que deu as boas-vindas a 2018, um Rio de Janeiro onipresente nos noticiários graças ao ápice da crise econômica, política, social e moral que o assola há anos realizou a sua maior queima de fogos de artifício de todos os tempos.

Ao contrário do ano anterior, em que, devido à crise, houve apenas um palco para os shows e 12 minutos de queima de fogos, o réveillon de Copacabana nesta virada de 2017 para 2018, apesar da crise que não apenas prosseguiu como ainda piorou, contou com mais shows que se estenderam pela madrugada: DJ Tucho, Alex Cohen, Ana Petkovic, Belo, Cidade Negra, Frejat, Anitta, DJ Luis Henrique e as escolas de samba Portela e Mocidade Independente de Padre Miguel, vencedoras do carnaval 2017. 12 telões gigantes espalhados pela praia destacavam cenas tanto dos shows quanto da queima de nada menos que 25 toneladas de fogos de artifício, disparados a partir de 11 balsas na baía da Guanabara e que adornaram os céus de Copacabana durante 17 minutos, diante de um público de 2,4 milhões de pessoas, conforme dados divulgados pela Riotur.

Para organizar os shows pirotécnicos de réveillon no Rio de Janeiro, são necessários em média 90 dias de preparação e uma equipe de 1.500 pessoas.

Segundo o presidente da Riotur, Marcelo Alves, o investimento para este réveillon foi de R$ 25 milhões, sendo 82% captados junto à iniciativa privada. Entre os gastos, foram estimados pelo menos 8 milhões de reais com estruturas de palco a serem bancadas pela prefeitura. O BNDES(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) foi um dos “patrocinadores” do evento, com 2 milhões de reais – dinheiro que também é público. Este patrocínio foi dado mediante a Lei Rouanet, criada em 1991 para incentivar projetos culturais e fomentar novos talentos, mas que está continuamente na berlinda por bancar projetos de grandes artistas já consagrados, bem como por acusações de favorecimentos, falta de transparência e adoção de critérios ideológicos favoráveis a projetos alinhados com a assim chamada “agenda da esquerda”.

Vida real

Enquanto isso, o Rio de Janeiro registra hospitais municipais com superlotação, falta de insumos, equipamentos danificados e cidadãos que morrem na fila à espera de um atendimento que não é prestado. Servidores públicos dependem de esmolas de amigos e familiares para sobreviver aos atrasos contínuos no pagamento dos seus salários. Pelo menos duas empresas de ônibus que atendiam ao município deixaram de operar e outras estão em litígio com a prefeitura, aumentando a crise no transporte público da cidade. Os números da violência equivalem aos de países em guerra, com casos frequentes de balas perdidas que matam civis dentro de suas próprias casas e crianças dentro de suas próprias escolas, além de um número recorde de policiais executados. Regiões da cidade são controladas quase inteiramente pelo crime organizado, diante da impotência do Estado e do fracasso das suas políticas de segurança.

Já no primeiro dia deste novo ano, a página inicial dos principais sites de notícias do país estampam: “Rocinha, no Rio, tem intenso tiroteio nas primeiras horas de 2018“.

O atual prefeito, Marcelo Crivella, da Igreja Universal do Reino de Deus, remete a culpa pela falta de recursos, na maior medida, à Olimpíada de 2016. Já o ex-prefeito Eduardo Paes rebate dizendo que “não se contraiu um real de dívida para se construir qualquer estádio para a Olimpíada. Todos já estão pagos”.

Um mês antes de resolver conceder seu “patrocínio” ao réveillon, o BNDES chegou a dizer, pela boca de seu presidente Paulo Rabello de Castro, que “o Rio de Janeiro está em estágio terminal“.

O remédio terá sido queimar fogos durante 17 minutos?

Os jovens católicos sentem-se em sua maioria ouvidos (60%) pela Igreja, mas não compreendidos (54,03%). É o que se depreende de uma pesquisa da qual participaram mais de cinco mil jovens católicos espanhóis e cujos resultados serão enviados ao Sínodo dos Bispos, que será realizado no Vaticano em outubro do próximo ano, e cujo tema central será “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

pesquisa foi elaborada pelo próprio Vaticano e adaptada pelo Departamento de Juventude da Conferência Episcopal Espanhola antes de ser enviada para as dioceses e as congregações religiosas para a coleta das informações. Entre as principais conclusões, a pesquisa destaca que os jovens pedem “mais abertura da Igreja” e que “os acolha sem julgamento”. Eles também pedem que ela “seja mais moderna”, que utilize “uma linguagem de hoje e que não seja excessivamente moralista”. Dos pastores, reclamam mais proximidade, e das celebrações litúrgicas que “sejam mais vivas”.

“Estes dados nos colocam na atitude de perguntar o que estamos fazendo e como o estamos fazendo. Fazemos esforços, mas talvez não sejam os mais apropriados. Nossas propostas podem não chegar aos jovens como pensávamos”, disse Raul Tinajero, diretor do Departamento de Pastoral da Juventude da Conferência Episcopal, durante a apresentação da síntese desta pesquisa, que foi elaborada com as respostas recebidas de 47 dioceses, 12 movimentos, 12 congregações religiosas e dois institutos seculares.

Longe do pessimismo, Tinajero disse que esta análise qualitativa da relação dos jovens com a Igreja destaca a importância de promover “uma pastoral da juventude centrada no acompanhamento pessoal”, já que a maioria “pede mais tempo e pessoas para ouvi-los”. Entre os desafios pendentes, os jovens também enfatizam que a Igreja deve estar mais presente “na rua e nas redes sociais”, porque são “espaços de encontro com os jovens que não frequentam os ambientes eclesiais”.

Durante a apresentação, Tinajero destacou a importância de que a Igreja “tenha centrado sua preocupação nos jovens”. “É nosso momento e temos que aproveitá-lo cem por cento para tentar dar respostas às preocupações dos jovens para o bem da Igreja em geral”.

Fonte: ABC, Espanha.