Com constantes demonstrações de cumplicidade, proximidade e inclusive carinho, o Papa Francisco recebeu o presidente francês, Emmanuel Macron, em sua primeira visita oficial ao Vaticano. Na conversa entre os dois mandatários, dois temas-chave: a situação dos migrantes e refugiados, que batem às portas da Europa, e a refundação do laicismo na França.

O Papa Francisco e o presidente francês Emmanuel Macron se reuniram durante 57 minutos, no Vaticano, na que foi sua primeira entrevista.

Francisco recebeu Macron na sala do Tronetto, a antessala da Biblioteca, onde acontecem as reuniões privadas, com um grande sorriso e lhe dizendo “bem-vindo”, ao que o presidente, em francês, respondeu: “muito obrigado”.

Em seguida, sentados diante da escrivaninha, frente a frente, o Papa aguardou a saída dos jornalistas para começar a reunião e só se escutou que apresentava ao monsenhor que seria o intérprete, explicando que havia estado muitos anos na África.

Macron havia chegado ao Vaticano percorrendo a Avenida da Conciliazione com um comboio de 30 carros, entre veículos oficiais e das forças de segurança e, inclusive, uma ambulância.

Quando chegou ao pátio de San Damaso, foi recebido pelo prefeito da Casa Pontifícia, dom George Gaenswein, que o acompanhou junto com a delegação aos apartamentos pontifícios, percorrendo algumas salas do Palácio Apostólico.

Macron chegou acompanhado de sua esposa, Brigitte, que estava com um vestido preto, cabelo preso e sem véu, fazendo parte da delegação de umas 15 pessoas, com o ministro do Interior, Gérard Collomb, e o titular para Europa e de Assuntos Exteriores, Jean-Yves Le Drian, entre outros.

Depois, tiveram uma longa reunião de quase uma hora, com a ajuda do intérprete. Na sequência, foi realizada a cerimônia de apresentação da delegação e a troca de presentes.

Macron entregou a Francisco uma antiga edição do livro Diário de um pároco de aldeia, de Georges Bernanos, ao passo que o Pontífice lhe presenteou com o medalhão que representa São Martinho de Tours, padroeiro de Buenos Aires.

O Papa se mostrou sempre sorridente e muito cordial com o presidente francês, de quem se despediu segurando suas duas mãos com carinho.

Na sequência, Macron terá uma reunião com o secretário de Estado vaticano, Pietro Parolin, e com o secretário para as Relações com os Estados, Paul Richard Gallagher. Antes do encontro, Macron tomou café da manhã com a comunidade de leigos católicos Santo Egídio, muito envolvida na acolhida a migrantes e organizadora de “corredores humanitários” que traz refugiados sírios para a Europa.

Macron protagoniza uma cruzada diplomática com as novas autoridades italianas, em particular com o ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga (extrema-direita), que defende uma linha dura com os migrantes que tentam chegar às costas italianas, cruzando o Mediterrâneo, e critica a arrogância e o egoísmo da França no tema migratório.

O Papa interpela regularmente aos dirigentes da União Europeia sobre os migrantes, que possuem a obrigação de “acolher, acompanhar, abrigar e integrar”, segundo ele. Na semana passada, avaliou que era necessário “investir de maneira inteligente para lhes dar trabalho e uma educação” em seus países de origem.

Sem dúvida, o laicismo na França esteve entre os temas de conversa durante o encontro de Francisco com Macron.

Em um discurso na Conferência Episcopal da França, em inícios de abril, Macron disse querer “reparar” o “vínculo” entre a Igreja católica e a República francesa, “prejudicado” nos últimos anos, em particular a partir da adoção dos casamentos homossexuais em 2013.

Este discurso despertou numerosas críticas na França, ao passo que o episcopado o qualificou como um discurso que refunda as relações entre os católicos e a República. O presidente francês não escapará da tradição. Deixará o Vaticano com o título de “primeiro e único cônego de honra” da Basílica de São João de Latrão, uma tradição que remonta ao século XVII e ao rei Henrique IV.

O último presidente francês a abraçar esta tradição foi Nicolas Sarkozy, em dezembro de 2007. Naquela oportunidade, provocou polêmica com seu discurso elogiando a fé e as raízes cristãs da França.

 Religión Digital

***

“Considerando tudo isso, Macron se encaixa no perfil para fazer uma combinação perfeita com Francisco, dada sua compreensão da ‘laïcité’ (laicidade ou secularismo, em português), sua educação jesuíta e seu foco no diálogo”, escrevem os jornalistas Claire Giangravè e Christopher White, em artigo publicado por La Croix International, 26-06-2018.

 

Durante séculos a Igreja Católica guardou um lugar especial para a França. Mesmo rolando cabeças de líderes religiosos na guilhotina, em Paris, os pontífices nunca abandonaram o sonho de que a filha pródiga da Igreja retornasse.

Enquanto o presidente francês Emmanuel Macron se prepara para visitar o Vaticano a fim de se reunir com o Papa Francisco nesta terça-feira, a primeira vez para o presidente recém-eleito, a pergunta no ar é: a filha mais velha da Igreja retornou?

Em sua terra natal, Macron é um homem creditado de inclinação religiosa “agnóstica”, se não “transcendente”, aberto não só ao diálogo com os não-católicos de seu país, mas também capaz de falar sua linguagem.

Com 12 anos de idade, o futuro chefe do Estado francês pediu para ser batizado, provocando o que ele chamou de “um profundo despertar espiritual”. Depois ele decidiu se afastar do catolicismo. Macron conheceu sua esposa católica, Brigitte Macron, no colégio jesuíta La Provence.

Considerando tudo isso, Macron se encaixa no perfil para fazer uma combinação perfeita com Francisco, dada sua compreensão da laïcité (laicidade ou secularismo, em português), sua educação jesuíta e seu foco no diálogo. Mesmo assim, por atrás de sua exterioridade acessível – não muito diferente do Papa argentino -, se encontra um pensador político astuto, consciente do equilíbrio delicado que envolve não só a França, mas toda a Europa.

Pesquisas mostram que Macron não era um dos favoritos para o eleitorado católico durante as eleições de abril do ano passado. Este lugar pertencia ao François Fillon, um político inflexivelmente devoto, a quem se creditou reunir o voto da adormecida França católica, a mesma que saiu em massa para protestar contra o aborto.

Depois de Fillon ser desmoralizado devido a um escândalo financeiro na sua família, Macron saiu vitorioso das eleições. No entanto, para ocupar o vazio político deixado por Fillon, o sistema europeu parece estar sedento de um líder no contexto de uma crescente onda populista e nacionalista.

Após sua eleição, Macron fez uma visita simbólica à basílica medieval de Saint-Denisem Paris, casa dos reis da França. Ele já chamou Joana d’Arc de um “símbolo de esperança”, reconheceu o padre francês Jacques Hamel, morto por simpatizantes do ISIS em 2016, como um “mártir”, e prestou tributo ao tenente convertido ao catolicismo Arnaud Jean-Georges Beltrame, que trocou de lugar com um refém durante um ataque terrorista em Trèbes, França.

Macron provou que é aberto ao diálogo com a Igreja, especialmente quando diz respeito à inclusão e ao ambiente, mas enquanto se prepara para enfrentar a questão da imigração, uma parada no Vaticano põe um marco fundamental ao homem que pode ser, ou pelo menos espera ser, o novo rosto da Europa.

Francisco e Macron: mestres do diálogo

Alguns críticos argumentam que o conceito francês de laïcité – uma expressão que descreve a separação entre religião e assuntos do estado – tem às vezes colocado a Igreja para fora da vida pública. 

Em abril, Macron apareceu nas manchetes quando se tornou o primeiro presidente francês a aceitar um convite para falar aos bispos da França no Collège des Bernardins em Paris.

Na exposição, Macron incentivou uma participação robusta de líderes católicos na vida pública, dizendo que sempre devem estar dispostos a fazer perguntas e levantar preocupações – mas sem a expectativa de que sempre terão o resultado desejado.

Suas palavras vieram num momento em que líderes da Igreja monitoram de perto os esforços do governo de Macron em aprovar uma nova legislação bioética que concederia mulheres solteiras e lésbicas o direito de utilizar a fertilização in vitro, coisa que a Igreja espera que não passe.

Apesar dessas diferenças, com frequência Macron se dedicou em conjunto com líderes da Igreja sobre questões bioéticas, incluindo um jantar dado no Élysée Palace, a residência oficial do presidente da França, para discutir questões sobre o fim da vida, particularmente a eutanásia.

“Um presidente da República francesa que não leva em consideração nenhum interesse da Igreja e de seus fiéis, estaria falhando em seu dever”, disse aos bispos em abril – acrescentando, “não há nada mais urgente hoje do que aumentar o conhecimento mútuo dos povos, culturas, religiões; Não há nenhuma outra maneira para que isso aconteça, a não ser conversando cara a cara. Mas também através de livros, compartilhando o trabalho.”

Esse pedido de diálogo tem paralelo com outra conferência ocorrida na França. Em abril de 2016, em Estrasburgo, Francisco se dirigiu ao Parlamento Europeu e apelou a um “novo humanismo” que, segundo ele, só poderia ser feito através do diálogo.

“A alma da Europa é, na verdade, maior do que os conflitos da UE, e é chamada a se tornar um modelo de novas sínteses e de diálogo”, disse Francisco. “A verdadeira face da Europa é vista não em confronto, mas na riqueza das suas diversas culturas e na beleza de seu compromisso com a abertura.”

Macron não provou apenas que pode dialogar com a Igreja na França, mas também que quando se trata do campo político global ele é uma força a ser levada em consideração.

Imigrantes, entre atrito e encontro

A visita de Macron se dará num contexto de tensa situação política. O presidente francês tem batido cabeça com o novo governo italiano e especialmente seu líder, Matteo Salvini, chefe do partido populista e anti-imigração, Liga do Norte.

O atrito recai sobre o Aquarius, um navio impedido de atracar que transportava mais de 600 imigrantes entre as águas da Itália e de Malta no início deste mês. O caso se tornou o pretexto para um debate sobre as responsabilidades de imigrantes na Europa e anulou a posição da Itália na negociação do acordo de Dublin, que regula a divisão de responsabilidades em matéria de imigração entre os estados membros da União Europeia.

Macron não vai visitar qualquer representante do governo italiano (Nota – devido à crise com o navio Life Stile, navegando à deriva lotado de refugiados resgatados no Mediterrâneo, encontrou-se, privadamente, na noite anterior do encontro com Francisco, com o primeiro ministro italiano, Conte, para encontrar uma saída conjunta para a situação), especialmente depois de seus comentários condenando a “lepra” do populismo na UE. Na verdade o presidente francês vai visitar a comunidade de Sant’Egidio, um movimento católico fortemente envolvido, entre outras causas, com a promoção de percursos seguros para os requerentes de asilo, que procuram refúgio na Europa. (Foi a comunidade de Sant’Egidio, por exemplo, que ajudou a acomodar os refugiados sírios que Francisco trouxe consigo de volta a Roma depois de uma viagem em abril de 2016 para a ilha grega de Lesbos).

Ainda assim, apesar da sua retórica, Macron – como sua colega chanceler alemã Angela Merkel – sabe muito bem que uma postura pró-imigrantes na Europa de hoje é um suicídio político.

Uma nova lei de imigração aprovada pela Assembleia Nacional francesa emitiu algumas medidas restritivas contra os requerentes de asilo e duplicaram penas de prisão para imigrantes que entram na França ilegalmente.

Antes da importante reunião com líderes europeus sobre a política de migração nos dias 28-29 de junho, Macron irá passar na Basílica de São João Latrão em Roma, historicamente ligada aos monarcas franceses, onde vai receber seu título como cônego-honorário.

Enquanto o antecessor de Macron, François Hollande, optou por não fazer visita à Basílica, a decisão de Macron para fazê-lo está sendo concebida como o possível começo de uma nova era na relação de seu país com a Igreja e um sinal de que, junto de um título em grande parte simbólico, aguarda um diálogo mais substantivo.

Fonte: IHU

Os políticos podem mudar a lei, mas não podemos mudar a natureza da confissão’.

O arcebispo de Adelaide (foto) afirmou que a Igreja não irá aderir às novas leis que obrigam padres informados sobre abuso infantil dentro do confessionário a relatarem aquilo que ouviram à polícia.

Sob as novas leis definidas para entrar em vigor em outubro no Sul da Austrália, padres que falharem em denunciar abuso de criança à polícia serão multados em até US $10.000 (cerca de R$28 mil, nde).

“Os políticos podem mudar a lei, mas não podemos mudar a natureza da confissão, que é um encontro sagrado entre um penitente, alguém buscando perdão e um padre que representa Cristo”, disse o bispo Greg O’Kelly, arcebispo interino de Adelaide, a rádio ABC Adelaide em 15 de junho.

“Não nos afeta. Temos um entendimento em relação ao sigilo da confissão que é do domínio do sagrado”, continuou.

“O direito canônico estabelece que ‘é absolutamente proibido um confessor trair de alguma forma um penitente em palavras ou em qualquer forma e por qualquer motivo’”, acrescentou.

Bispo O’Kelly disse que a Igreja não tinha sido notificada da mudança até a quinta-feira (14 de junho). A legislação foi sancionada no ano passado.

A lei faz parte da resposta do governo australiano do sul à Comissão Real para Respostas Institucionais a Casos de Abuso Sexual Infantil, lançado pelo procurador-geral Vickie Chapman na terça-feira.

“Onde há provas claras para indiciar um ministro da religião… não se conseguiu cumprir os requisitos de informação obrigatórios. Assim, o assunto precisa ser investigado pelas autoridades, com medidas efetivas – incluindo acusação – tomada conforme a necessidade do caso”, diz um comunicado divulgado pelo porta-voz do departamento do procurador-geral.

A cidade de Camberra deve seguir a decisão da Austrália do Sul após o governo da capital da nação votar para abolir o sigilo do confessionário para casos de abuso infantil a partir de março.

Mark Coleridge, o arcebispo de Brisbane e presidente da conferência de bispos católicos australiano, descreveu a mudança como “prematuro e imprudente, aparentemente motivado por um desejo de penalizar a Igreja Católica, sem considerar devidamente a ramificações da decisão”.

A reportagem é de Rose Gamble, publicada por The Tablet, 

O governo da Austrália vem trabalhando na promulgação de uma lei que obrigaria os sacerdotes católicos a romperem o segredo do sacramento da confissão.

A nova lei é apresentada como um modo de forçar os padres a denunciarem abusadores de crianças. Esta suposta lógica, no entanto, é muito frágil: não garante a segurança das crianças e ainda atropela o direito elementar à liberdade religiosa e de consciência, porque, além de atingir os padres, atinge também os penitentes católicos, que deixariam de ter garantido o segredo daquilo que confessam a Deus mediante o sacerdote. Como se não bastasse, a medida que desvia do governo a responsabilidade principal de zelar pelas crianças e pelo seu bem-estar é na prática infiscalizável, o que a torna inefetiva.

No fim das contas, é apenas mais um dos inúmeros assédios governamentais contra a Igreja no mundo, enquanto medidas realmente eficazes deixam de ser implementadas. A grande maioria dos abusos sexuais, na Austrália e no planeta inteiro, acontece dentro das residências, perpetrada por familiares. O que o governo da Austrália pretende fazer a este respeito?
A Igreja católica vem adotando medidas cada vez mais duras, impulsionadas pela política de tolerância zero dos Papas Bento XVI e Francisco, julgando e condenando de padres até arcebispos por esse crime e por várias outras formas de abuso.
O governo da Austrália tem tomado medidas do mesmo calibre em relação às suas próprias estruturas? E em relação a outros ambientes em que também proliferam abusos sexuais, de poder econômico e de autoridade, como o mundo dos espetáculos, as grandes instituições financeiras, os clubes esportivos, as agências de modelos e as entidades ligadas a outras religiões, para citar apenas alguns exemplos mais notórios?
É evidente que a existência de abusos em outros contextos não reduz em nada a gravidade de cada um dos escândalos que ocorreram e ocorrem dentro da Igreja: eles devem ser rigidamente punidos e coibidos e isto não se discute. O que não é nada evidente é o porquê de haver tanta ênfase em colocar a Igreja na berlinda enquanto outras instituições com escândalos em proporção maior e mais habitual parecem despertar bem menos “preocupação” e “indignação” de governos e da mídia.

Dom Christopher Charles Prowse, arcebispo de Canberra, a capital do país, escreveu em artigo publicado pelo jornal Camberra Times:

“Os padres são obrigados por voto sagrado a manterem o segredo da confissão, já que, sem esse voto, quem estaria disposto a se livrar dos seus pecados?

O governo ameaça a liberdade religiosa ao tentar mudar o sacramento da confissão em vez de melhorar a segurança das crianças. Infelizmente, romper o segredo da confissão não impedirá o abuso e não ajudará em nossos esforços contínuos para melhorar a segurança das crianças nas instituições católicas”.

Entre os membros do poder legislativo, há vários que reconhecem que o arcebispo tem razão.

O deputado Andrew Wall, por exemplo, concorda que a obrigatoriedade de denunciar abusadores à polícia não pode ser estendida ao confessionário, porque isso “interfere significativamente na liberdade de associação de um indivíduo, na liberdade de expressão e na liberdade de direitos religiosos“.

A deputada Vicki Dunne, católica, chega a recordar que o sacerdote que viola o sigilo da confissão incorre em excomunhão automática (“latae sententiae“), que só pode ser levantada pelo Papa.

Aleteia

Os jovens que não creem em Deus nem praticam qualquer religião chegaram, em 2017, a 53,5%, superando pela primeira vez o número daqueles que creem. E em relação ao conjunto da população, um de cada quatro espanhóis não é religioso, segundo o estudo ‘Laicismo em números 2017’, da Fundação Ferrer i Guàrdia.

Este ano, no entanto, o percentual de não crentes caiu 0,8%, mesmo que, de acordo com a diretora da Fundação, Sílvia Luque, isso “não represente propriamente uma mudança de tendência”, segundo declarou à agência Efe, mas um aspecto estatístico, uma vez que de 1980 para cá, a população não religiosa aumentou de forma constante.

Segundo Luque, a diminuição do número de pessoas crentes ocorreu de maneira “marcada” entre 1980 e 2010, uma tendência que teria dado lugar agora a uma “estagnação”, porque “são mudanças lentas”.

“A não religiosidade entre os jovens, sim, continua crescendo, mas seu peso populacional é menor e, portanto, tem menos impacto na estatística geral”, disse Luque.

Jovens se afastam da religião

Atualmente, a idade é um dos fatores que mais incide sobre a probabilidade de professar uma religião: enquanto 53,5% dos com menos de 25 anos não creem, essa proporção diminui para cada faixa etária, até chegar a 6,7% nos maiores de 65 anos.

O relatório também inclui “grandes diferenças” territoriais, já que enquanto 39% dos catalães se declaram não religiosos, apenas 9% de murcianos compartilham essa característica.

A Catalunha é seguida, com maior número de não religiosos, pelo País Basco, as Ilhas Baleares e Navarra, enquanto que seguindo Múrcia, com menor número de não religiosos, estão Aragão, Castela-La Mancha e Extremadura.

“Os territórios mais urbanizados e industrializados mais cedo mostram uma secularização mais avançada, porque as áreas rurais mantiveram mais as tradições, incluindo aquelas de natureza religiosa”, explicou Luque.

Outro dado que se destaca no relatório é o declínio sustentado da importância da religião na vida, que, pela primeira vez em 2014, foi ultrapassada pela política, tendência que perdura até hoje.

No ofício dos ritos de passagem (batismo, casamento e exéquias) também há uma tendência de secularização acentuada, já que a proporção de casamentos civis e religiosos “inverteu-se completamente” em 20 anos: se em 1996, 76,7 % das uniões eram confessionais, agora elas representam apenas 27,5%.

Outra tendência das últimas décadas é o aumento das crianças nascidas de pais não casados, que em 1990 representavam 9,6% e hoje chegam a 44,4%.

Uma faceta que o relatório também analisa é o impacto da religião na educação, e destaca que 18% dos estudantes espanhóis estão matriculados em um centro privado de confissão religiosa, em comparação com 68% dos alunos matriculados em escolas públicas e 14% em uma escola privada laica.

Quanto à opinião sobre o aborto, 79% dos ateus e 72% dos não crentes mostram-se a favor, em comparação com 40% dos católicos e 26% dos crentes de outras religiões, porcentagens que se repetem de maneira similar na avaliação da igualdade do direito de adoção para casais homossexuais.

Os sociólogos Hungría Panadero e Josep Mañé são os autores do relatório, que é publicado anualmente há sete anos para “fazer um Raio-X do laicismo em um sentido amplo”, segundo Luque, incluindo a profissão de fé da população, mas também a análise das relações entre Igreja e Estado.

Fonte: Religión Digital

A cidade de Langon, no Estado de Gironde, como quase toda a França usa um padrão duplo nas questões religiosas. Ao mesmo tempo que permite orações muçulmanas nas ruas às sextas-feiras, fechando ruas e desviando o trânsito para garantir a “liberdade” de seus cidadãos, usa o argumento de Estado laico toda vez que a questão envolve o cristianismo.

Uma animação norte-americana sobre o Natal, chamada “A Estrela do Natal” em francês (por aqui é A Estrela de Belém) foi proibida de ser apresentada para alunos das escolas públicas de Langon. O argumento é que ela era “cristã demais”.

O longa conta a história do nascimento de Jesus pela ótica dos animais que estariam envolvidos na jornada da Sagrada Família até Belém. Mais de 80 alunos de uma escola municipal assistiam ao filme no cinema Le Rio, quando alguns professores pediram que a exibição fosse interrompida, mesmo estando perto do fim.

Ao perceberam diversas menções ao nome de Jesus Cristo, disseram que os alunos não deveriam vê-lo. As crianças foram obrigadas a voltar para casa sem saber o final do filme.

O argumento de alguns professores é que a sinopse e o cartaz do filme não deixavam claro sobre o que era a trama. O material em português diz: “Um pequeno, porém bravo, asno chamado Bo, anseia por uma vida melhor. Um dia ele encontra a coragem de se libertar, e junto de seus novos amigos começa uma jornada. Agora eles seguem uma estrela e acabam se tornando heróis acidentais na maior história já contada”.

O caso chamou atenção da imprensa de toda e Europa, pois é mais um exemplo claro do que vem sendo chamado com frequência cada vez maior de “Cristofobia”.

Esse “secularismo unilateral” da França vem ganhando as manchetes dos jornais após o Tribunal Administrativo, maior instância judicial da França ter ordenado no mês passado que seja removida uma cruz que ornamentava a estátua do papa João Paulo II na cidade de Ploërmel.

O mesmo tribunal ordenou a remoção de um presépio montado em frente à prefeitura da cidade de Béziers no início de dezembro. O argumento é sempre o mesmo, religião não tem lugar em espaços do governo e a religião é uma questão privada, devendo ser mantida dentro dos templos. 

Fonte Le Figaro

Via G Prime

Veja o trailler

O Tribunal Supremo dos Estados Unidos ficou dividido no caso de um confeiteiro que se recusou a fazer um bolo para casamento de homossexuais devido às suas crenças religiosas.

O caso confronta o casal Dave Mullins e Charlie Craig com o chef confeiteiro Jack Phillips, que se recusou a fazer o bolo para a celebração de seu casamento na sua confeitaria “Masterpiece Cakeshop”, em 19 de julho de 2012.

“O direito de todos os profissionais criativos a falar e viver de acordo com suas crenças está em jogo”, disse à CNA – agência em inglês do Grupo ACI – a advogada principal da organização pró-vida e pró-família ‘Alliance Defending Freedom’, Kristen Wagoner, que representou Phillips ante a Corte Suprema.

Wagoner disse que os juízes fizeram perguntas difíceis a ambas as partes e explicou que tanto ela como o Procurador Geral dos Estados Unidos, Noel Francisco, argumentaram ante o Tribunal que forçar Phillips a “esboçar, esculpir e pintar à mão uma mensagem” sobre a união de duas pessoas do mesmo sexo é contrária à sua fé e viola as proteções da Constituição sobre a liberdade de expressão.

“Se uma pessoa apoia ou é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, deveria ter o direito de falar livremente em praça pública e manifestar as suas crenças”, disse.

Em 2012, a Comissão de Direitos Civis do Colorado, uma agência estatal que representa Craig e Mullins durante o processo, afirmou que ao se recusar a fazer o bolo, Phillips havia violado a lei antidiscriminatória do estado.

Isso ocorreu, apesar de que o “casal” pudesse conseguir um bolo em forma de arco-íris em uma confeitaria perto do local de Phillips sem problema algum.

O processo foi decidido a favor dos requerentes em 2013 e um juiz do Colorado ordenou que Phillips recebesse “treinamento antidiscriminatório” e que deveria servir nos casamentos entre pessoas com o mesmo sexo ou deixasse absolutamente de organizar casamentos.

Phillips perdeu as apelações em nível estadual e o Supremo Tribunal do Colorado se recusou assumir o caso. Em junho de 2017, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos fez um acordo em escutá-lo.

O confeiteiro se recusa a fazer outros tipos de bolos que promovem ideias que não estão de acordo com suas crenças, como bolos com mensagens ou desenhos ateus, racistas ou que descriminam o coletivo LGBTI (lésbicas, gays, transexuais, bissexuais e intersexuais).

Ele também se recusa a criar bolos personalizados para outros eventos como Halloween e despedidas de solteiro, que ele considera igualmente contrários à sua fé.

“Embora sirva a todos os que entram na minha loja, assim como muitos outros profissionais criativos, não crio desenhos personalizados para eventos ou mensagens que entrem em conflito com a minha consciência”, explicou Phillips em uma coletiva de imprensa realizada em 5 de dezembro do lado de fora da Corte Suprema.

Desde que começou o processo, Phillips assegurou ter perdido mais de 40% dos seus pedidos, porque já não pode trabalhar nas bodas. Como consequência, perdeu cerca da metade de seus funcionários e agora se esforça para “pagar as suas contas e manter a sua confeitaria de pé”.

Além disso, o confeiteiro informou ter recebido “ameaças de morte” que fizeram com que ele tivesse que procurar a polícia.

“É difícil acreditar que o governo me obrigue a escolher entre manter a minha família e os meus funcionários e violar a minha relação com Deus. Isso não é liberdade. Isso não é tolerância”, disse Phillips.

A Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos apresentou um relatório no qual expressou o seu apoio à liberdade de expressão e à liberdade de religião.

“Rezamos para que o Tribunal continue preservando a capacidade das pessoas viverem a sua fé diariamente, independentemente do seu trabalho. Especialmente os artistas, pois merecem ter a liberdade de expressar ideias ou se recusar a criar certas mensagens de acordo com suas crenças profundamente enraizadas”, disseram os bispos em uma declaração conjunta.

ACI

Supremo Tribunal Federal, julgando uma polêmica em torno do Ensino Religioso nas escolas públicas, decidiu, em placar apertado (6X5), que deve haver aula de religião de matriz confessional nos estabelecimentos de educação de todo o País.

Há três principais modelos de aulas de Ensino Religioso no país. Tal variedade se dá, porque, embora a Lei que prevê o Ensino Religioso seja federal, os Estados e Municípios é que colocam a disciplina em prática.

Vejamos, de forma breve, as três modalidades: a mais disseminada é a chamada de interconfessional. Procura conciliação. Trata dos ensinamentos, valores e símbolos comuns às grandes religiões. Outra é a da neutralidade. Aborda o ensino da religião apenas como fenômeno social e/ou histórico. O terceiro modelo, que está em funcionamento no Rio de Janeiro, desde 2002, é o chamado de pluriconfessional, uma vez que institui a divisão dos alunos de acordo com as suas crenças e cada professor aí trabalha a sua religião. São contratados profissionais competentes indicados pelas próprias entidades religiosas. Este é o modelo preferido pela decisão do STF.

Em comentário, notamos que os dois primeiros modelos parecem despertadores de atenção à primeira vista, mas são falhos. Sim, pois o primeiro, chamado de interconfessional, vem a ser uma mescla de credos mal apresentados, dado que o professor sempre tratará da religião alheia segundo a sua concepção filosófico-religiosa.

O segundo modelo também não satisfaz. Reduz a religião, que supõe a revelação de Deus aos homens, a meras projeções humanas enquadradas nos moldes da história e da sociologia. Mais: não há modo totalmente neutro de ensinar, dado que neutralidade significaria isenção, imparcialidade. Isso é um absurdo lógico, pois o professor de ensino religioso parte de conceitos já formulados que ele tem em mente. Só por se considerar neutro (= nem um nem outro), já está tomando um partido, o dos neutros.

Restaria a terceira opção como louvável, pois oferece a cada um, em um país pluralista, a formação religiosa segundo o credo que o aluno professa. Esse modelo pluriconfessional é apoiado, por exemplo, pela Convenção Nacional das Assembleias de Deus do Brasil. O pastor Ciro Mello, secretário-geral da entidade, diz que é preciso separar uma turma para cada tipo de credo, porque, dificilmente, um professor de formação evangélica conseguirá esconder isso de seus alunos.

Por fim, algo importante, embora à margem do tema principal. Alguns órgãos de imprensa criticaram a decisão do STF, de modo particular a Ministra Carmem Lúcia por desempatar a votação em favor do ensino religioso de modelo confessional. Foi dito, inclusive, que ela leciona em uma Universidade Católica e também – não poderia faltar esse argumento – que a decisão cheira a retrocesso, dado vivermos em um “Estado laico”.

De modo breve, notemos que: 1) a vida da ministra Carmem Lúcia, com suas convicções e atividades, não está em jogo no caso. Ou o dito “Estado laico” livre se tornou, agora, ditador a querer retirar o direito de alguém lecionar, pensar e praticar a fé, de forma privada ou pública? 2) Na verdade – e há muito se vem denunciando essa ideologia –, sob capa de “Estado laico”, tem-se, não raras vezes, um “Estado laicista”, perseguidor da fé.

Quer ele tirar o nome de Deus da esfera pública com todas as consequências daí decorrentes. Na crítica à ministra, arautos do “Estado laico” parecem ter deixado cair a máscara da tolerância e da bonomia, que tanto apregoam, para revelar a face obscura, intolerante, agressiva e muito perigosa do “Estado laicista” que, a todo custo, tenta se implantar no Brasil.

Vanderlei de Lima é eremita na Diocese de Amparo e pós-graduado em Psicopedagogia (Unifia)

bastilha

Afirmar que a Revolução Francesa perseguiu a religião não é de todo correto. Muitos que fazem essa afirmação supõem ou tentam fazer pensar que os revolucionários tinham os nobres planos de construir uma sociedade laica na qual os segmentos religiosos não tivessem privilégios nem fossem relevantes na vida pública. Não é esta a verdade objetiva.

O que os revolucionários realmente tentaram foi substituir as religiões históricas por uma “religião de Estado”, com suas próprias pretensões teológicas, funcionários, elites e privilégios, visando assegurar que os cidadãos se submetessem à lei não apenas no comportamento externo, mas inclusive na consciência e no coração. A lei é que seria “deus”.

Os Estados Gerais convocados por Luís XVI em 1789 se dividiam em três ordens: o clero, a nobreza e o “terceiro estado”. Os dois primeiros tinham 561 representantes em total (291 e 270, respectivamente), enquanto o terceiro estado, cujos representantes eram eleitos pelos franceses do sexo masculino, maiores de 25 anos e que pagassem impostos, contava com 578. O número não era tão importante, em tese, porque o rei desejava manter o voto por segmento e não por indivíduo. O objetivo da convocação era ajudar a monarquia a realizar reformas que melhorassem a situação geral do país, afundado na pobreza.

O clero não era um obstáculo para a política inicial de reformas. Os padres apoiavam as medidas propostas pelo terceiro estado para implantar a separação de poderes, a reunião frequente dos Estados Gerais, a sua supremacia na determinação dos impostos, o reconhecimento das liberdades individuais etc. Mas esse apoio às reformas não era mediante ações radicais: só um quarto dos membros do clero queria a ruptura da ordem vigente e a revolução democrática, enquanto a maioria dos padres defendia uma reforma paulatina e sem ruptura traumática. Apesar dessa atitude de moderação, a tomada da Bastilha em 14 de julho em 1789 e a posterior abolição dos privilégios feudais não foram fatos particularmente alarmantes para os bispos e sacerdotes, que estavam mais preocupados com os resultados da reforma constitucional iniciada por uma nova assembleia. A “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” promulgou a liberdade religiosa, reservando ao Estado o poder de determinar quando as opiniões em matéria de credo eram incompatíveis com a lei.

Esta liberdade teórica, no entanto, teve escassa duração real. Em 12 de julho de 1790, estabeleceu-se a chamada “Igreja constitucional”, que, na prática, imposta por um rápido processo de fundamentalismo estatista, se tornou o único “credo” aceito pelas autoridades. Essa “igreja” tinha organização e funcionamento próprio, decidido pelo Estado. Os sacerdotes católicos foram pressionados a jurar fidelidade às novas normas estatais em matéria de religião e a se desligarem da obediência ao seu bispo e a Roma. Apesar da determinação do Papa Pio VI e da rebelião dos bispos perante a pressão estatal (só quatro cederam à nova ordem), muitos presbíteros, em especial no centro do país, se uniram à “igreja laica” e viraram comissários políticos do Estado em matéria religiosa. A criação desta “igreja” foi celebrada no Campo de Marte, com os oficiantes ataviados em vestes tricolores francesas.

A perseguição contra os católicos que não aceitaram esta situação foi brutal.

Os sacerdotes que se mantiveram católicos foram perseguidos, impedidos de celebrar sacramentos e de pregar e, a partir de 18 de março de 1793, se fossem presos em solo francês, deviam ser executados em menos de 24 horas. Muitos tiveram a pena de morte comutada por um destino tão pavoroso quanto, nas infectas e tristemente célebres prisões da Guiana Francesa.

Ao mesmo tempo, foi cortada a comunicação entre os católicos franceses e o Papa, cujas cartas e documentos não podiam ser divulgados no país sem a aprovação prévia dos órgãos legislativos. A Igreja católica sofreu uma das piores perseguições da história. As crianças não podiam receber o batismo, nem a comunidade podia celebrar a Eucaristia. Só se conseguia oficiar algum sacramento na clandestinidade. Na Bretanha, região que registrou o maior número de sacerdotes contrários à nova “igreja” cismática, os fiéis se reuniam em barcas, longe da costa, ou no interior dos bosques. Aqueles que participavam dessas “reuniões ilegais” corriam o risco ser condenados à morte como inimigos do Estado. Na região bretã foram assassinados cerca de 120.000 católicos por motivos estritamente religiosos: tratava-se de mais de 15% da população.

Enquanto isso, as autoridades revolucionárias determinavam por decreto, sob os impulsos de Robespierre, a existência do “Ser Supremo” e a imortalidade da alma, instaurando a celebração de “festivais do Ser Supremo” a partir de 1794. Antes disso já tinham sido criados templos à “deusa Razão”, usando-se para tanto as igrejas e sinagogas. Em todo momento, o povo era induzido a ligar a sua consciência a uma série de normas políticas e morais ao gosto do poder – um gosto altamente variável e volúvel, diga-se de passagem.

Não foi o caso, portanto, de tentar eliminar a religião pura e simplesmente, nem de desbaratar os privilégios que de fato existiam para alguns setores do clero (e que de fato chegavam a ser extravagantes em certos casos). Foi o caso, isto sim, de um esforço estatal impositivo para transformar o Estado não apenas no máximo ditador da consciência individual, mas em objeto, ele próprio, de devoção pública.

Ainda hoje essas tentativas persistem, com outras estratégias e formatos – e é de extrema importância reconhecer as tentativas do Estado de ocupar o lugar da religião sob o disfarce abstrato e obscuro de uma indeterminada “cidadania” que se intromete no âmbito das consciências.

Marcelo López Cambronero

callosa-de-segura-cruz-696x422

Centenas de moradores do povoado de Callosa de Segura, na cidade de Alicante (Espanha), impediram a retirada da cruz localizada na praça da igreja local, uma medida tomada pelo governo de esquerda que não aguardou a decisão dos tribunais e que aplicou neste caso uma interpretação errada da Lei de Memória Histórica.

Trata-se de uma lei aprovada em 2007, através da qual estabelecem medidas em favor de quem sofreu perseguição ou violência durante os anos da Guerra Civil Espanhola e a ditadura de Francisco Franco.

É uma lei controversa, pois favorece uma ideologia e não a reconciliação dos espanhóis. A norma obriga a retirada de monumentos, símbolos ou nomes de lugares públicos estabelecidos depois da Guerra Civil.

Os monumentos relacionados à Igreja Católica permanecem fora desta lei, mas na verdade isso não foi respeitado, como é o caso desta cruz em Callosa de Segura.

Segundo informa a Associação ‘Abogados Cristianos’, o prefeito de Callosa de Segura, o socialista Fran Maciá, enviou um guindaste no dia 14 de dezembro para retirar a cruz que está na praça de Espanha, ao lado da igreja e em frente à câmara municipal.

No momento que estavam iniciando os trabalhos para retirá-la, tocaram os sinos do templo e centenas de habitantes de Callosa de Segura foram ao local a fim de impedir a sua retirada.

Um homem estacionou o seu carro ao lado do monumento para que o guindaste não pudesse trabalhar e outro grupo de pessoas se acorrentou à cruz a fim de que a Polícia e os Guardas Civis não pudessem desalojá-los. Tudo foi feito de maneira pacifica.

Conforme o prefeito, a cruz viola a Lei de Memória Histórica e, por essa razão, em um conselho do município, seu partido, com o apoio de ‘Esquerra Unida’ e ‘Podemos’ – partidos de esquerda –, aprovaram a sua retirada.

De acordo com informações dos manifestantes, o prefeito havia previsto uma reunião para discutir a retirada da cruz, mas como explicou Maciá, apenas pretendia perguntar ao pároco onde poderiam deixar a cruz após a sua remoção da praça.

A decisão de retirar esta cruz está no tribunal e o julgamento está previsto para novembro de 2017.

Um vereador do Partido Popular interpôs um recurso contencioso a fim de que a decisão do governo municipal fosse derrogada, mas embora solicitassem medidas cautelares para impedir o seu traslado, estas foram rechaçadas.

A associação ‘Abogados Cristianos’ (AEAC), junto com a Plataforma em Defesa da Cruz, fez uma petição em agosto no Change.org, somando mais de 28.500 pessoas e conseguiu impedir a retirada desta cruz.

A AEAC pediu “para que respeitem os cristãos e respeitem a liberdade religiosa, pois até então está bem clara que a única intenção da equipe do governo é retirar uma cruz que carece de qualquer símbolo político”.

ACI

tertio-papa-francesco-web

Publicamos em seguida a Entrevista de Francisco deu ao semanário católico belga “TERTIO”, por ocasião da conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia:

 

No nosso país estamos vivendo um período em que a política nacional quer separar a religião da vida pública, por exemplo, no currículo escolar. É a opinião de que, em tempos de secularização, a religião tem de ser reservada para a vida privada. Como podemos ser ao mesmo tempo Igreja missionária, em saída para a sociedade, e viver a tensão criada por esta  opinião pública?

PAPA – Bem, eu não quero ofender ninguém, mas esta posição é uma postura antiquada. Este é o legado que nos deixou a Ilustração – não é verdade? – onde todo o fato religioso é uma subcultura. É a diferença entre laicismo e laicidade. Falei disto com os franceses. O Vaticano II falou-nos da autonomia das coisas ou dos processos ou das instituições. Há uma laicidade saudável, por exemplo, a laicidade do Estado. Em geral, o Estado laico é bom. É melhor do que um Estado confessional, porque os Estados confessionais acabam mal.

Mas uma coisa é laicidade e outra coisa é laicismo. E o laicismo fecha as portas à transcendência: à dupla transcendência, tanto à transcendência para com os outros como, sobretudo, à transcendência para com Deus. Ou para o que está Mais Além. E a abertura à transcendência faz parte da essência humana. É parte do homem. Não estou falando de religião, estou falando de abertura à transcendência.

Então, uma cultura ou um sistema político que não respeite a abertura à transcendência da pessoa humana, poda, corta a pessoa humana. Ou seja, não respeita a pessoa humana. Isto é mais ou menos o que eu penso. Então, mandar para a sacristia qualquer ato de transcendência é uma assepsia. Ela não condiz com a natureza humana, corta-se à natureza humana boa parte da vida, que é a abertura.

O senhor preocupa-se com a relação inter-religiosa. No nosso tempo convivemos com o terrorismo, com a guerra. Às vezes comenta-se que a raiz das guerras atuais está na diferença entre religiões. O que dizer sobre isto?

PAPA  – Eu acho que, sim, o comentário existe. Mas nenhuma religião como tal pode fomentar a guerra. Porque está nesse caso proclamando um deus de destruição, um deus de ódio. Você não pode fazer a guerra em nome de Deus ou em nome de uma postura religiosa. Não se pode fazer a guerra. Em nenhuma religião. E, portanto, o terrorismo, a guerra, não estão relacionados com a religião. Usam-se deformações religiosas para justificá-la. Isso sim.

Vocês são testemunhas disso, viveram-no na vossa pátria. Mas são deformações religiosas que não constituem a essência do fato religioso. Que é ao contrário amor, unidade, respeito, diálogo, todas essas coisas, mas não nesse aspecto. Ou seja, nisto há que ser taxativos. Em outras palavras, nenhuma religião proclama a guerra pelo fato religioso. Deformações religiosas, sim. Por exemplo, todas as religiões têm grupos fundamentalistas. Todas. Nós também. E daí, elas destroem, a partir do seu fundamentalismo.

Mas esses grupelhos religiosos que deformaram, que “adoeceram” a própria religião, e daí lutam, ou fazem a guerra, ou criam a divisão na comunidade, que é uma forma de guerra. Mas esses são os grupos fundamentalistas que temos em todas as religiões. Há sempre um pequeno grupo…

Outra pergunta de guerra. Comemoramos os 100 anos da primeira Guerra Mundial. O que o senhor diria ao continente europeu do lema pós-guerra “Nunca mais a guerra”?

PAPA  – À Europa falei três vezes: duas em Estrasburgo e uma no ano passado ou neste ano, – não recordo – quando do prêmio Carlos Magno [06 de maio de 2016]. Acho que esse “Nunca mais a guerra” não foi levado a sério, porque depois da primeira veio a segunda, e depois da segunda há esta terceira que estamos vivendo agora, aos pedaços. Estamos em guerra. O mundo está fazendo a terceira guerra mundial: Ucrânia, Oriente Médio, África, Iêmen…

É muito sério. Então, “nunca mais a guerra” da boca para fora, mas ao mesmo tempo fabricamos armas e as vendemos, e as vendemos aos próprios beligerantes. Porque um mesmo fabricante de armas as vende para este e para aquele que estão em guerra um com o outro. É verdade. Há uma teoria econômica que eu nunca tentei verificar, mas eu a li em vários livros: que na história da humanidade, quando um Estado percebia que os seus balanços não fechavam, fazia uma guerra e reequilibrava os seus balanços. Quer dizer, é uma das maneiras de enriquecer mais facilmente. Claro, o preço é muito caro: sangue.

Esse “Nunca mais a guerra” acho que é algo que a Europa disse sinceramente, disse honestamente. Schumann, De Gasperi, Adenauer … disseram-no sinceramente. Mas depois… Hoje em dia há falta de líderes; a Europa precisa de líderes, líderes que sigam adiante… Bem, não vou repetir o que disse nos três discursos.

Existe alguma possibilidade de que o senhor venha à Bélgica para esta comemoração?

PAPA – Não, não está previsto, não. Não está previsto. À Bélgica eu ia a cada ano e meio, quando era provincial, porque lá havia uma associação de Amigos da Universidade Católica de Córdoba. Eu era chanceler [reitor]… Então eu ia lá falar com eles. Eles faziam os seus exercícios [espirituais]. Eu ia para agradecer-lhes. E tomei carinho pela Bélgica. Para mim a mais bela cidade da Bélgica não é a sua, mas Bruges … [ri]

[Entrevistador: Devo dizer-lhe que o meu irmão é jesuíta.

Papa: Ah, é? Não sabia!

Entrevistador: Por isso, apesar de ser jesuíta, é gente boa.

Papa: Eu ia perguntar se ele era católico… (ri e riem)]

Estamos terminando o Ano da Misericórdia. Pode dizer como viveu o ano e o que espera quando o ano tiver terminado?

PAPA  – O Ano da Misericórdia não foi uma ideia que me ocorreu a mim de repente. Vem desde o Beato Paulo VI. Paulo VI tinha feito alguns passos para redescobrir a misericórdia de Deus. Depois, São João Paulo II fundamentou muito isto com três fatos: a encíclica Dives in Misericordia, a canonização de Santa Faustina; e a Festa da Divina Misericórdia na Oitava de Páscoa; e ele morreu na véspera desta festa.

E já aí como que encaminhou a igreja nesse rumo. E eu senti que o Senhor queria isto. Foi, foi… Não sei como se formou a ideia no meu coração até que um belo dia eu disse a Monsenhor Fisichella, que tinha vindo por assuntos do seu dicastério. Eu disse-lhe: “Como eu gostaria de fazer um Jubileu, um Ano Jubilar da Misericórdia”. E ele disse-me: “E por que não?”.

E assim começou o Ano da Misericórdia. É a melhor garantia de que não foi uma ocorrência humana, mas que vem de cima. Creio que o Senhor a inspirou. E evidentemente fez-se muito bem. Por outro lado, o fato de que o Jubileu não era só em Roma, mas em todo o mundo, em todas as dioceses, e dentro de cada diocese, como que mobilizou, movimentou, e as pessoas se mobilizaram muito. Mobilizaram-se muito e sentiram-se chamadas reconciliar-se com Deus, a reencontrar o Senhor, a sentir a carícia do Pai.

O teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer fez a distinção entre a graça barata e a preciosa. O que significa para o senhor a misericórdia barata ou preciosa?

PAPA – A misericórdia é preciosa e barata. Eu não conheço como é o texto de Bonhoeffer, não sei como explica isto. Mas… É barata, porque não se tem que pagar nada: não é preciso comprar indulgências, é puro presente, puro dom; e é preciosa porque é o dom mais precioso. Há um livro, escrito com base numa entrevista que fizeram comigo, cujo título é “O nome de Deus é Misericórdia” e é preciosa porque é o nome de Deus: Deus é misericórdia.

Faz-me lembrar um padre que eu tinha em Buenos Aires, – que ainda celebra missa e trabalha, e tem 92 anos! –  e no início da missa sempre dá alguns avisos. É muito enérgico. Com 92 anos, prega muito bem, as pessoas vão ouvi-lo.

– “Por favor, desliguem os telefones”… e durante a missa, quando começava o ofertório, … [toca] um telefone. Ele parou e disse:

– “Por favor, desliguem o telefone.” E o coroinha que estava ao lado, disse:

– “Padre, é o seu”. E então ele tirou o telefone do bolso e disse:

– “Alô”. (Riem)

Parece-nos que o senhor está indicando o Vaticano nos tempos de hoje. Vai-nos indicando caminhos de renovação na Igreja. A Igreja sinodal… No sínodo, o senhor  explicou a sua visão do futuro. Poderia explicá-lo para os nossos leitores?

PAPA – A “Igreja sinodal”. Tomo esta palavra. A Igreja nasce das comunidades, nasce da base, da comunidade, nasce do batismo, e organiza-se em torno de um bispo que a convoca, lhe dá força. O bispo que é o sucessor dos apóstolos. Esta é a Igreja. Mas em todo o mundo há muitos bispos, muitas igrejas organizadas, e há Pedro.

Então, ou existe uma Igreja piramidal, onde Pedro diz e o que ele diz se faz, ou há uma Igreja sinodal, onde Pedro é Pedro, mas acompanha a Igreja e a faz crescer, a escuta; mais ainda, ele aprende com isso, e vai como que harmonizando, discernindo o que vem das igrejas, e devolve-o. A experiência mais rica disto foram os dois últimos sínodos. Ali todos os bispos do mundo foram ouvidos, com a preparação; todas as igrejas do mundo: as dioceses, trabalharam.

Todo este material veio.  Depois voltou. E voltou uma segunda vez para o segundo sínodo para completar isto. De aí saiu Amoris Laetitia. É surpreendente a riqueza da diferença de matizes. É próprio da Igreja. É a unidade na diversidade. Isso é sinodalidade. Não descer de cima para baixo, mas ouvir as igrejas, harmonizá-las, discernir. Então, há uma exortação pós-sinodal, que é Amoris Laetitia, que é o resultado de dois sínodos, onde toda a Igreja trabalhou, e que o Papa fez sua. Expressa-o de uma forma harmoniosa.

É curioso: tudo o que está lá [na Amoris Laetitia] foi aprovado no sínodo por mais de dois terços dos padres. O que é uma garantia. Uma igreja sinodal significa que este movimento se dá de cima para baixo, de baixo para cima. Mesmo nas dioceses. Mas há uma fórmula latina que diz que as igrejas estão sempre cum Petro e sub Petro (com Pedro e sob Pedro). Pedro é o garante da unidade da Igreja, o garante. Então… esse é o ponto. E temos de fazer progressos na sinodalidade. Que é uma das coisas que os ortodoxos conservaram. E as igrejas católicas orientais também. É uma riqueza deles. Eu reconheço isso na encíclica.

A mim parecia-me que a passagem que fez o segundo sínodo [foi] do método de “ver, julgar e agir” para “ouvir, compreender e acompanhar”. É muito diferente. São as coisas que eu digo às pessoas constantemente. A passagem que dá o Sínodo é de “ver, julgar e agir”, para ouvir a realidade do povo, compreendê-la bem e, depois acompanhar as pessoas em seu caminho.

PAPA – Porque cada um disse o que pensava, sem medo de sentir-se julgado. E todos estavam em atitude de escutar, sem condenar. Depois discutia-se como irmãos nos grupos. Mas uma coisa é como irmãos e outra é condenar a priori. Lá houve uma liberdade de expressão muito grande. E isso é bonito.

Em Cracóvia o senhor ofereceu aos jovens estímulos preciosos. Qual seria uma mensagem particular para os jovens do nosso país?

PAPA –

  • Que não tenham medo,
  • que não tenham vergonha da fé,
  • que não tenham vergonha de buscar caminhos novos.

Há jovens que não são crentes: Não te preocupes, busca o sentido da vida. A um jovem eu daria dois conselhos: “buscar horizontes” e “não se aposentar aos 20 anos”. É muito triste ver um jovem aposentado aos 20-25 anos. Busca horizontes, segue em frente e continua trabalhando nesta tarefa humana.

 Uma última pergunta, Santo Padre, uma opinião sobre os meios de comunicação.

PAPA  – Os meios de comunicação têm uma responsabilidade muito grande. Hoje em dia, está em suas mãos a possibilidade e a capacidade de formar opinião. Podem formar uma boa ou má opinião. Os meios de comunicação são construtores de uma sociedade. Por si mesmos, eles são para construir. Para intercambiar. Para confraternizar, para fazer pensar, para educar.

Em si mesmos, eles são positivos. Claro que, como todos somos pecadores, a mídia também pode cair – nós que fazemos mídia, eu estou aqui usando um meio de comunicação – pode fazer mal. E os meios de comunicação têm suas tentações. Podem ser tentados à calúnia (então, usados para caluniar e enxovalhar as pessoas), especialmente no mundo da política; podem ser usado para difamação (todos têm direito à boa fama, mas talvez em sua vida anterior, ou em sua vida passada, ou dez anos atrás, teve um problema com a justiça, ou um problema na sua vida familiar … então, trazer isso à luz agora é grave, causa dano, anula-se uma pessoa).

Na calúnia diz-se uma mentira sobre uma pessoa. Na difamação solta-se uma ‘carpeta’ [notícia comprometedora],   – como dizemos na Argentina, faz-se um ‘carpetazo’ – e te assacam algo que é verdade mas que já passou. E que talvez já foi pago com a prisão ou com multa, ou qualquer outra coisa. Não se tem direito de fazer isso. Isso é pecado e faz mal. E uma coisa que pode fazer muito dano nos meios de comunicação é desinformação. Ou seja, diante de qualquer situação dizer uma parte da verdade e não a outra. Não! Isso é desinformar.

Porque você dá ao telespectador a metade da verdade. E ele, portanto, não pode fazer um julgamento sério sobre a verdade completa. A desinformação é provavelmente o maior dano que pode fazer um meio de comunicação. Porque orienta a opinião numa direção, escondendo a outra parte da verdade. E depois, eu acho que a mídia tem que ser muito limpa, muito limpa e muito transparente. E não cair – sem ofender, por favor – na doença da coprofilia: que é procurar comunicar sempre o escândalo, as coisas feias, mesmo que sejam verdadeiras. E como as pessoas têm a tendência a coprofagia, pode-se causar muito mal. Então, eu diria que há essas quatro tentações. Mas eles são construtores de opinião e podem edificar e fazer um bem enorme, imenso.

Terminando, só uma palavra para os sacerdotes. Não um discurso, porque estão dizendo que tenho de terminar… O que é o mais importante para um sacerdote?

PAPA  – É uma resposta um pouco salesiana. Sai do meu coração: “Lembra-te que tens uma mãe que te quer. Não deixes de amar a tua mãe, a Virgem”.

Em segundo lugar, deixa Jesus olhar para ti.

Terceiro: busca a carne sofredora de Jesus nos irmãos. Neles vais te encontrar com Jesus. É como uma base. Daí sai tudo. Se és um padre órfão, que esqueceste que tens mãe; se és um padre que se afastou de quem te chamou, que é Jesus,  nunca vais poder levar o Evangelho.

Qual é o caminho? A ternura. Tenham ternura. Não tenham vergonha, os padres, de ter ternura. Acariciem o sangue sofredor de Jesus. Hoje faz falta uma revolução da ternura neste mundo que padece da doença da cardio-esclerose.

 A cardio …?

PAPA  – A cardio-esclerose.

[Texto original em espanhol]

http://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2016/12/07/0882/01951.html

1-1RH3Vsjao1Bd1dAjpkZfpAA “igreja dos bichinhos” e seu arquileigo

Em entrevista ao jornal “La Croix”, da frança, o Papa Francisco disse:

“A criticazinha que eu dirigiria à França neste tema [do laicismo] seria de exagerar a laicidade. Isso vem de um modo de considerar as religiões como uma sub-cultura e não como uma cultura integral. Eu temo que esta abordagem, compreensível como herança iluminista, não tenha mais lugar de ser.”

O caso da igreja de Santa Rita, desocupada à força pela polícia durante um culto religioso, é um excelente exemplo do que o Santo Padre condenou na França, e — como sempre — uma história muito mais complexa que o que querem fazer crer os horrorizados das redes sociais, sempre prontos a julgar sem conhecer.

O primeiro ponto crucial para que se entenda a situação é que as igrejas francesas foram todas “desapropriadas” (ou, antes, roubadas) pela Revolução Francesa (cuja data magna é o 14 de julho; guarde isto). Assim, quem distribui aquelas belíssimas construções, alugando-as, cedendo-as gratuitamente ou vendendo-as, é o governo ou algum proprietário particular. A Igreja Católica, na melhor das hipóteses, é inquilina nas próprias igrejas que construiu.

A igreja de Santa Rita foi construída no início do Século XX por uma associação privada anglicana, visando a princípio alugá-la como igreja. Isso funcionou durante algumas décadas, mas depois a edificação passou um bom tempo vazia por falta de interessados. O prédio, então, foi alugado a uma seita semelhante à nossa “Igreja Católica Apostólica Brasileira”, a “Igreja Católica Galicana de Paris”, com “padres” casados e ordens provavelmente inválidas. Os galicanos conseguiram atrair bastante público ao tornar-se a “igreja dos bichinhos”, com um dia de bênção dos animais, um discurso ecológico, cachorrinhos de colo bem vindos às celebrações, além de “missas” midiáticas de todo tipo (“Missa do Michael Jackson”, “Missa dos Motoqueiros”, etc.), ironicamente sempre celebradas na Forma Extraordinária.

Mas mesmo assim o aluguel que eles pagavam não estava valendo a pena para a associação dona da igreja, que pediu aos órgãos de Estado encarregados da proteção ao patrimônio histórico autorização para vender e demolir a igreja. A autorização foi dada em 2010, e em 2011 a “igreja dos bichinhos” foi vendida para um empreendedor interessado em fazer um estacionamento e habitações populares.

Os galicanos fingiram que não ouviram e continuaram lá, com políticos de todos os partidos discutindo se a igreja poderia ou não ser demolida, até que um grupo político (o “Movimento 14 de Julho”) resolveu comprar a briga, ou talvez fazer da igreja um símbolo seu. Trata-se de um movimento no mínimo bizarro, que tentou reunir gente suficiente nas ruas em 14 de julho de 2015 para fazer um golpe de Estado, mas não conseguiu reunir mais que 500 pessoas. É um grupo antissionista, que diz defender os palestinos e nega ser antissemita, mas há controvérsias a este respeito. Além disso, eles propõem a proibição das vacinas, denunciam a “poluição cerebral” causada pelo wifi e pelos micro-ondas, pedem o retorno do franco (moeda nacional, substituída há tempos pelo Euro), propõem uma renda universal de 1500 euros por mês (porque “o estresse permanente do fim de mês não é favorável a uma reflexão serena”; faz sentido, e o Suplão adoraria), denunciam a dívida externa, que seria um complô maligno, e querem que os jovens participem na política a partir dos 14 anos de idade. Eu disse que era bizarro.

Os galicanos fizeram a besteira de deixar os malucos entrarem, e eles foram aos poucos expulsando os galicanos da igreja, até que quando chegou uma ordem judicial de evacuação, no final de 2014, os galicanos saíram de vez e os deixaram sozinhos lá. Em 2015 as portas da igreja foram muradas, mas os maluquinhos, a essa altura já apoiados por vários movimentos populistas de vários tipos, derrubaram as paredes e entraram novamente na igreja. Com o fracasso do golpe de Estado deles em 2015, contudo, eles passaram adiante a igreja (sempre ocupada ilegalmente para o direito civil e inexistente para o direito canônico) a uma associação preservacionista servida pelo padre Tanoüarn (o “abbé de Tanoüarn”, uma figura interessantíssima: era lefebvrista, e foi durante anos “vigário” (de quem, não se sabe) da igreja de São Nicolau, que o governo francês, para ira das autoridades eclesiásticas católicas, deu para uso aos lefebvristas. Brigou com os lefebvristas, voltou à plena comunhão com a Santa Sé, fundou o IBP, teve o comando do IBP puxado de debaixo de suas pernas num processo canônico curiosíssimo, e hoje em dia dedica-se mais à política, ao ensino e à escrita.

A luta legal, enquanto isso, era para tentar impedir a demolição por conta de algum detalhe no desenho dos arcos da igreja, que seria único o bastante para garantir tombamento. Outro argumento era a presença de amianto no prédio, que poderia tornar perigosa a demolição. É um prédio do começo do século passado, afinal, o que em Paris quer dizer um prédio novíssimo. Ambas as alegações não deram em nada, e a associação que vendera a igreja para demolição conseguiu, finalmente, outra ordem judicial de desocupação. Sabendo que ela viria, os ocupantes — a essa altura ajudados por vários grupos políticos interessados em fazer a caveira do governo — cuidaram de fazer o espetáculo de mídia que está rolando pelas redes sociais, cuidando (literalmente) que não houvesse “gente suficiente para que a Prefeitura volte atrás e desista da evacuação”. Sabendo da hora em que a polícia tinha ordens de entrar, eles começaram uma Missa para que ela fosse interrompida pela polícia, e quando perceberam que a polícia estava esperando acabar começaram outra, e outra ainda, quando finalmente fez-se a reintegração de posse. Não se sabe ainda sequer se as tais Missas sacrílegas (pois começar a celebrar a Santa Missa para ser interrompido e aparecer em filmagens é sacrilégio) estavam sendo celebradas por padres de verdade ou por galicanos sem ordens válidas.

Ou seja: a situação não é em absoluto simples como se quer pintar. Não se trata de uma igreja católica subitamente invadida durante a Missa, mas da Missa sendo usada para fazer um espetáculo de mídia, numa versão sacrílega do Eduardo Suplicy deitando no chão para obrigar os policiais a carregá-lo defronte às câmeras. Nem se trata, canonicamente, de uma igreja ou capela católica, sim duma tentativa de pseudo-catolicização puramente instrumental e política de um prédio conhecido como a “igreja dos bichinhos” galicana. O que se está fazendo é política, é — como condenou o Papa —fazer da religião subcultura. O que aconteceu ali não muito diferente do que acontece no Brasil com as “ocupações” de escolas e prédios públicos, com o agravante não de ser uma igreja (porque canonicamente não é), sim de se usar a Santa Missa para fazer política.

Autor: Carlos Ramalhete

cancelar-campanha-de-incentivo-WLC

Eu acredito sinceramente que os católicos podem e devem abraçar o que existe de bom na cultura atual e servir-se dela de maneira construtiva para agir no mundo a fim de produzir nele um impacto positivo.

Mas a necessidade de “servir-se dela de maneira construtiva” não poderia ser mais urgente, assim como as consequências da falta de ação positiva no mundo atual não poderiam ser mais terríveis. Vários traços da nossa moderna sociedade ocidental serão julgados com severidade pela história, e, com visão imparcial, podemos identificá-los desde já. Cito cinco deles.

1. O abandono da família por parte dos homens

A família foi a maior ‘invenção’ da história para trazer a paz, a estabilidade e a prosperidade aos seres humanos. Antes do surgimento do cristianismo, o modelo de pai e mãe fiéis um ao outro e aos filhos estava muito longe de ser o padrão. Foi o cristianismo que definiu o mais elevado conceito de família, e foi o conceito de família que nos permitiu garantir os direitos das crianças e das mulheres, além de embasar uma unidade estável e amorosa na qual a civilização pudesse desenvolver-se e florescer.

O desprezo pelo modelo de família tradicional é um fator de crucial importância no aumento da pobreza. As famílias tendem a ficar presas num círculo vicioso em que os homens abandonam suas responsabilidades e, agindo assim, “convencem” a próxima geração a seguir os mesmos passos. Quando os homens abandonam suas famílias, os filhos acabam recebendo menos educação e ficando mais expostos ao crime e à violência.

Será que a história vai nos marcar como a cultura que conseguiu extinguir a instituição da família?

2. O extermínio dos mais frágeis

“Toda sociedade será julgada com base no seu modo de tratar os membros mais fracos”, declarou o papa João Paulo II, numa afirmação absolutamente certa. Ficamos horrorizados com os pecados das sociedades do passado: torturas, punições assustadoras e perseguições raciais. As culturas do passado eram muito mais brutais do que a nossa, desde que não levemos em conta o aborto.

E por quê? Os historiadores do futuro ficarão horrorizados ao documentar que a mesma civilização que conseguiu tantos avanços na compreensão e no tratamento da vida humana ainda no útero também matava um milhão de crianças não nascidas por ano.

Graças aos esforços incansáveis de católicos e de outros cristãos, temos trabalhado com perseverança para superar esta mancha em nossa evolução, mas ainda não conseguimos eliminá-la.

3. A epidemia de suicídios

Os índices de suicídio têm aumentado ao longo do século XXI. Hoje, o gesto de acabar com a própria vida é a terceira principal causa de morte de jovens nos Estados Unidos. Em 2012, ainda nos EUA, o suicídio ultrapassou os acidentes de carro como a principal causa de morte por lesão e se tornou também a principal causa de morte entre os militares da ativa.

Há muitas teorias sobre o porquê deste fenômeno. Uma delas aponta para o crescente isolamento social: é cada vez menos comum as pessoas terem um confidente ou um grupo regular de amigos ou vizinhos com quem possam contar. E a solidão leva ao desespero.

As palavras de São Pedro têm sido, há muito tempo, uma espécie de declaração de missão da apologética cristã: “Sabei dar razão da esperança que habita em vós”. O mundo está precisando dessas razões mais do que nunca.

4. A sexualização infantil

Quanto mais as crianças usam as mídias modernas, mais elas são convencidas de que a sexualidade é a coisa mais importante que existe. As meninas, em especial, recebem esta mensagem desde muito jovens, através de peças de vestuário, bonecas e programas de televisão carregados de sensualidade, sem falar no conteúdo online disponível 24 horas por dia.

O abuso sexual cometido contra crianças tem muito a ver com a sexualização infantil. Ironicamente, os escândalos de abuso sexual na Igreja católica ajudaram a desacelerar a tendência da aceitação do sexo com crianças.

A história reconhecerá que a Igreja admitiu e encarou os seus escândalos, enquanto o escândalo maior em nossas instituições formadoras de opinião, desde as escolas públicas até a indústria do entretenimento, permanece, comparativamente, desatendido.

5. A coisificação da mulher

As gerações futuras vão se perguntar como, numa época de ênfase nos direitos e nas oportunidades para as mulheres, a nossa cultura definiu as mulheres tão disseminadamente como objetos de prazer.

Uma das maiores máquinas de fazer dinheiro dentro da indústria do entretenimento é a pornografia. Nossa cultura está quase o tempo todo olhando para imagens sexuais, a maioria delas tendo as mulheres como objeto. As mulheres estão cada vez mais coisificadas, da “cultura do estupro” às imagens que nos rodeiam em quase todos os meios de comunicação. A epidemia de tráfico de seres humanos é o resultado triste, mas nem um pouco surpreendente, desta armadilha disfarçada de “liberdade”.

A Igreja, que enxerga muito além das dimensões sexuais e econômicas da mulher, é uma guardiã intransigente da dignidade feminina.

É inegável a realidade: o grande experimento da democracia ocidental nos trouxe mais oportunidades e mais liberdade do que qualquer outro momento da história. Mas as fraquezas da nossa cultura atual são fatais. Sem Deus, ruiremos completa e estrondosamente.

Tom Hoops

rsz_1christian_mingle_splash

Muito do que acontece nos Estados Unidos em pouco tempo passa a ser a “norma” nos outros países do mundo. Sob o governo liberal de Obama, os movimentos LGBT conseguiram grandes avanços em sua “agenda”, que foram eventualmente adotados também pela ONU. Depois do reconhecimento do casamento homoafetivo, a grande luta vem sendo pela imposição dos banheiros chamados “neutros”, onde não há mais distinção entre homem e mulher.

O episódio mais recente deste embate foi o processo contra o site de namoro ChristianMingle.com, o maior do mundo no segmento Cristão

O proprietário do site está sendo obrigado a permitir que pessoas LGBT se cadastrem e busquem pessoas do mesmo sexo para relacionamentos, mesmo que já existam sites somente para este público. Desde 2013 havia uma batalha jurídica sobre o assunto.

Dois homens gays abriram um processo alegando discriminação num tribunal da Califórnia. Eles afirmavam que sites cristãos impediam usuários à procura de relacionamentos homoafetivos.

O argumento dos advogados é que “as opções limitadas violam a lei anti-discriminação” em vigor no estado. Como a legislação vigente obriga “estabelecimentos comerciais” a oferecer “acomodações plenas e iguais” para todas pessoas, independentemente da sua orientação sexual, o debate centrou-se na interpretação de que a lei se aplicava a um serviço online.

No início deste mês, a Spark Networks, controladora do ChristianMingle, perdeu o caso. Além de pagar uma indenização de 9 mil dólares para cada um dos homens, foi obrigada a cobrir as despesas jurídicas, num total de 450 mil dólares.

A página inicial foi modificada e não possui mais a opção “homem procurando mulher” e “mulher procurando homem”. A empresa terá dois anos para ajustar suas ferramentas de busca para que gays e lésbicas tenham “uma experiência mais personalizada”.

Sendo assim, os termos do acordo agora obrigarão outros sites que pertencem a Spark: incluindo CatholicMingle.com, AdventistSinglesConnection.com e LDSSingles.com. Como o nome indica, os dois primeiros são voltados para o público cristão, católicos e adventistas, respectivamente.

O último é para mórmons, considerada uma seita do cristianismo, mas cuja doutrina também não aprova o estilo de vida gay. Só ficou fora do acordo o JDate.com, focado no público judeu, por que não foi mencionado no litígio.

A empresa nega que tenha cometido qualquer irregularidade, mas cumprirá os termos do acordo judicial para evitar ser obrigado a fechar.

Fobte Christian News via Gospel Prime