Atenção, o artigo está escrito em português de Portugal. Alguns termos são Lusitanos.

Quando vem ao mundo o primeiro filho, o amor espontâneo dos pais encontra-se saturado da procura de si mesmo. O primeiro filho é objeto de orgulho, porque ter dado ao mundo um homem é uma obra prodigiosa. Todos os sinais de personalidade humana que sucessivamente vão surgindo, à medida que o filho se desenvolve, são, para os pais, motivo de assombro, de alegria, de novo orgulho.

Isso é natural e continua grandemente saturado de egocentrismo.

Mas à medida que o filho cresce, à medida que os filhos se multiplicam, o amor dos pais deve alargar-se e depurar-se, porque a perfeição do amor paternal cifra-se num amor que, em todos os pormenores, só procura o bem do filho.

E, para começar, os pais devem organizar de algum modo a sua própria retirada, ensinando os seus filhos a viver sem eles.

Baseando-se o amor paterno no vínculo que une os filhos aos pais, estes consideram espontaneamente os filhos como alguma coisa de si próprios, e a tendência natural que se enxerta neste sentimento é a de desejar que os filhos dependam deles e da sua vontade, pouco mais ou menos como se fossem seus membros. Não nos podemos, pois, admirar de uma certa inclinação para a tirania, e de uma tendência – que ainda os melhores pais podem manifestar – de querer que os filhos não possam ter um pensamento, fazer um gesto, tomar uma decisão sem que eles lhos ditem.

É por isso que os pais, ainda os melhores, devem estar de sobreaviso em relação a si mesmos. Somos todos mais ou menos carnais: e o amor carnal absorve em vez de dar, porque não tende para o bem do amado, mas do amante. Procura a dependência do amado, procura cercá-lo por todos os lados, tece os laços de maneira que o amado só o possa ter a ele, na sua vida, só pense nele, só se ocupe dele, atue apenas por sua inspiração.

Mas a arte da educação consiste, primeiramente, em ensinar o filho a conduzir-se por si mesmo. O educador deve, portanto, formar o filho no uso progressivo da liberdade, favorecer nele o desenvolvimento da iniciativa e da decisão.

Desenvolvimento progressivo, evidentemente. O filho nasce inteiramente dependente; compete aos seus educadores libertá-lo pouco a pouco. Mas é preciso que os educadores tenham um raro domínio de si próprios para ministrar a liberdade aos que deles dependem.

Em cada família se reproduz, – ou tende a reproduzir-se em pequena escala – ” o que se passa com os Estados: os governantes começará por recusar aos súditos a liberdade, sob pretexto de que farão mau uso dela, e uma vez que fizeram tudo para que os seus súditos não pudessem aprender a servir-se dela, veem-se, não obstante, obrigados a conceder-lhe, mostrando-se triunfantes ao verificar que, com efeito, o povo faz mau uso da liberdade.

Do mesmo modo, há muitos pais que, sob o pretexto de proteger os filhos contra os perigos, lhes negam toda a oportunidade de experiências progressivas que os formem no sentido da responsabilidade: desde os três ou quatro anos, com efeito, a criança pode decidir em certas coisas – ainda que seja num jogo -, e é necessário habituá-la a fazê-lo.

É igualmente necessário que a criança possa e deva decidir-se em questões indiferentes, nas quais nenhum princípio está em jogo, porque impor-lhe nestes assuntos a vontade dos pais é impor-lhe o seu capricho. E a arbitrariedade sem justificação deforma, quer abafando as veleidades de independência que deveriam desenvolver-se para que pudessem gerar um sentido da responsabilidade e de dignidade ou respeito de si próprio, quer levando este começo de personalidade à revolta. Muitas vezes, as crianças que foram reprimidas na sua juventude acabam por cometer excessos ou erros no dia em que, de boa ou de má vontade, é preciso confiar-lhes o cuidado de si próprio; e muitas vezes também, os pais veem nisso a justificação do seu método de educação, quando, pelo contrário, é precisamente isso o que o torna condenável.

A este respeito, os novos métodos de educação, mais favoráveis ao desenvolvimento da espontaneidade, representam um progresso provavelmente importante sob o ponto de vista geral do desenvolvimento do gênero humano. Não impor à criança uma perfeição irreal que nenhum adulto pratica, não lhe impor que se cale ou que esteja quieta, sempre que nada o exige, a não ser o capricho ou a tranquilidade dos pais – tudo isso coloca a criança num ambiente de vida sã.

Para favorecer a aprendizagem da personalidade, devem, pois, os pais, em primeiro lugar, deixar que a criança corra as aventuras da vida, dentro dos limites que convém à sua idade – que corra as aventuras da vida e sofra as consequências dos seus atos… Correr as aventuras da vida é, para o bebé, explorar o parque infantil a que o levaram; sofrer as consequências dos seus atos, é ter de apanhar o brinquedo que deixou cair, ou fazê-lo perder momentaneamente aquele que deitou fora. As aventuras da vida podem estar limitadas, aos sete anos, pelos muros de um jardim; aos dez, pelos limites do bairro; aos quinze, pelo raio de alcance da bicicleta. Os pais devem mesmo, por vezes, levar o filho a fazer experiências; se é tímido ou de natureza linfática, introduzi-lo, por exemplo, num grupo de rapazes em que possa acamaradar. De uma maneira geral, devem, por outro lado, cuidar de que tenha companheiros da sua idade e intervir discretamente, sem que o filho o note, para o pôr em contato com os bons companheiros ou para o afastar dos maus.

Mas tudo isto exige um amor muito puro, sem egoísmo. Tanto mais que o mundo da criança tem dimensões diferentes do mundo das pessoas crescidas. Os gostos da criança, os seus entusiasmos, a sua escala de valores, são diferentes. É mais espontânea e mais viva, menos susceptível e mais irritável; os seus sentimentos facilmente despertam e facilmente se perdem; a sua atenção é mais fácil de cativar, e mais depressa se fatiga. É indiferente à riqueza e à posição social, à distinção e à vulgaridade, mas ama o pitoresco, o que dá nas vistas, cores berrantes, formas extraordinárias; ama também o barulho. É fundamentalmente caprichosa.

Sendo caprichosa, agrada-lhe aquilo que as pessoas crescidas denominam desordem. Agrada-lhe um quarto, quando pelos quatro cantos espalhou os seus brinquedos e voltou os móveis de pernas para o ar. Gosta mais de uma cadeira com as pernas partidas e senta-se com maior prazer nas costas ou nos braços de um fauteuil do que no assento. Adora o barulho: corre e salta, mas detesta andar. Os pais devem permitir ao filho viver como criança. É certo que há crianças que não são assim. Mas a essas, falta-lhes geralmente alguma coisa – falta de saúde ou defeito de educação. É desses que se diz, quando já são crescidos, que nunca foram crianças; e é uma infelicidade.

A criança, para ser ela mesma, deve viver no seu meio de criança. A que vive com os mais velhos deforma-se e não desabrocha. É o mal dos filhos únicos, se os pais não têm o cuidado de os afastar de si. O filho único converte-se facilmente num pequeno velho. Os pais extasiam-se com a precocidade das suas reflexões, a seriedade das suas palavras: no fundo, trata-se de um mimetismo impessoal. Fala como se fala à sua volta, sem chegar a compreender o que diz, e não se desenvolve progressivamente de acordo com as leis da sua idade e passando pelas etapas normais da formação. Não é para desejar nem para admirar que a criança de dez anos fale como um homem de trinta. Para que aos trinta anos seja um homem completo, é preciso que aos dez anos fale, pense, atue como uma criança de dez anos.

O são desenvolvimento da criança exige que ela cresça entre as outras crianças e tenha no meio destas a aprendizagem da sua vocação de homem. É entre os seus iguais que a criança adquire a sua importância e o seu valor de homem, o seu peso. O miúdo de dez anos, o adolescente, entre os da sua idade, fala com autoridade. Entre pessoas crescidas, particularmente com os pais, deve contentar-se com receber.

A ação dos pais deve, portanto, orientar-se no sentido de que o filho tenha a sua vida autônoma: não o conseguirão sem um rigoroso controle de si próprios. A razão de ser dos filhos não está na satisfação dos pais; o filho é para si mesmo, é para a obra que mais tarde deverá realizar. A educação tem por finalidade prepará-lo para isso. E não tem outra.

Mas se a educação exige que se permita à personalidade do filho manifestar-se, não exige menos uma disciplina, porque a sua segunda exigência fundamental é a formação do domínio de si mesmo. O valor humano pressupõe um equilíbrio entre a espontaneidade e a disciplina. O filho deve poder desenvolver a sua espontaneidade no seu meio de criança. Por outro lado, deve outro tanto poder aceitar as leis das pessoas crescidas.

Em certos lugares e em certas situações, a criança deve respeitar o código das pessoas adultas, com a condição de que, noutros lugares e noutras circunstâncias, lhe permitam que viva segundo a sua lei. Muitas vezes deverá permanecer junto dos pais, mas não sempre.

Sob o pretexto de respeitar a espontaneidade do filho, não devem os pais pôr-se ao seu serviço. A criança deve ter domínios onde possa estabelecer a sua ordem: não é preciso que a imponha em toda a parte. E deve ser formada não só na modéstia, mas também na disciplina; não deve julgar-se pessoa importante; não se lhe deve prestar demasiada atenção. Os pais enganam-se e agem contra o interesse do filho quando se curvam a todos os seus caprichos.

Há famílias em que o filho é uma espécie de rei. Os pais conversam com uma visita, mas, se chega o filho, tudo pára, só a ele se presta atenção, é ele quem dirige a conversa, extasiam-se com tudo o que ele diz ou faz; pode pôr tudo de pernas para o ar, que só haverá gritos de admiração pela sua inteligência e pelo seu espírito inventivo. Essas crianças estão mal educadas e correm o risco de não estarem aptas para enfrentar a vida.

Mas esta disciplina, repetimos, deve ser estabelecida no interesse do filho, não no dos pais; deve exprimir uma lei racional, não o capricho de pessoas adultas. Deve-se fazer calar a criança quando é razoável que ela se cale, ralhar-lhe quando é razoável que se ralhe, não gritar alto para descarregar os nervos para, momentos depois, a sufocar com carícias. A criança não é um brinquedo. Recompensas e castigos devem derivar da sua conduta, não da disposição dos mais velhos. Também nisso precisam os pais de um grande domínio de si mesmos.

Os pais devem, pois, resignar-se com que os filhos perturbem a perfeita ordem da sua vida: uma casa em que crescem algumas crianças não pode estar tão meticulosamente cuidada como uma casa de pessoas velhas e sem filhos. E devem resignar-se também com que os filhos os deixem, e ficar contentes de que os deixem; e isto se deverá acentuar cada vez mais até ao dia em que o filho os deixará para sempre a fim de concentrar a sua vida em alguém que nada fez para ele, a quem não está ligado por nenhuma dívida de reconhecimento, a quem, contudo, vai unir a sua vida e colocar daí por diante acima dos pais – acima dos pais a quem tudo deve!… um estranho, uma estranha! – e também se resignarão de que se consagre de corpo e alma à mulher e aos filhos, quase esquecendo os pais… Quantos dramas porque os pais não querem renunciar aos seus filhos, porque procuram impedi-los de se casarem… O pai que se indigna porque um desconhecido pretende arrebatar-lhe a filha que ele educou, criou e cercou de cuidados e de afectos! A mãe que não pode suportar que a filha pertença toda a quem a desposou, e que se intromete, pretendendo defender a sua filha – a clássica sogra!… E os pais que não querem que os filhos se casem novos, já que, depois de terem sofrido tanto para os criar, deveriam ao menos poder gozar da sua companhia por alguns anos…

Mas este drama, que se descobre frequentemente na altura do casamento, foi precedido de uma série de pequenas tragédias domésticas que tiveram começo logo que o filho, por vezes muito novo ainda, experimentou o desejo de fazer alguma coisa por si mesmo. E ainda o mais trágico são os filhos cuja personalidade está de tal modo abafada pelo amor devorador dos seus pais que se sentem satisfeitos numa atmosfera de estufa, onde nada há que possa robustecer as articulações do seu corpo ou da sua alma.

Além disso, a educação exige dos pais um contínuo esforço de adaptação, ainda que seja apenas para se aperceberem do crescimento dos filhos. Porque estes mudam com uma rapidez que desconcerta as pessoas mais velhas. Uma criança de dez anos já não é bem o mesmo ser que uma criança de cinco. E o adolescente de quinze olha de muito alto o miúdo de dez, enquanto que, no mesmo tempo, o homem de quarenta anos chegado aos quarenta e cinco não mudou praticamente nada.

Como continuam sempre os mesmos, os pais têm dificuldade em compreender que, mais ou menos de dois em dois anos, uma verdadeira revolução se opera na vida do filho, até à adolescência. E tendo adquirido o hábito de o tratar como miúdo no começo da sua vida, eles continuam sempre atrasados perante o facto da sua evolução, a não ser que mantenham uma grande vigilância sobre si mesmos.

Conhecemos pais e mães que falam do seu “menino”, referindo-se a um filho de vinte anos, alto como uma torre… E vêem-se pais ficar estupefactos quando os seus filhos lhes falam em se casar, numa idade… que era a deles próprios, quando se casaram! Mil pequenas coisas como estas explicam os conflitos entre pais e filhos. A missão de pai é uma missão delicada, que exige uma vigilância incessante, Estar de sobreaviso, não somente em relação aos filhos – talvez nem sequer de modo particular em relação aos filhos – mas em relação a si próprio, exigindo renúncia e autodomínio a cada instante. É essa a regra eterna do amor: dar-se e viver para o amado. Os pais que são verdadeiros pais dão-se constantemente e nada recebem nem pedem nada. São esses os pais que recebem de seus filhos atenções, ternura e cuidados.

Os filhos para os quais se constituiu um lar acolhedor e onde ninguém os procura reter, voltam a ele gostosamente. Os que se tentam reter com autoridade procuram meio de se evadir. O apego à família não é proporcional ao número de horas que nela se vive, mas à felicidade que nela se encontra. O rapaz e a moça que sempre voltam ao lar com agrado, mas que raras, vezes aí se encontram, porque mil ocupações os solicitam lá fora, têm frequentemente mais espírito do que aqueles que se vêem obrigados a ficar no lar só para fazer companhia aos pais.

Há lares onde, sob pretexto de espírito de família, os filhos devem passar a noite “em família”, quer dizer num quarto comum, onde o pai fatigado dormita sobre um jornal e proíbe que se faça barulho! Muitas das chamadas boas famílias são simplesmente famílias onde todos se aborrecem. E não é este o verdadeiro meio de despertar nos filhos o amor do lar, nem de lhes deixar uma boa recordação da sua juventude… Mas os pais que sabem aceitar que os filhos os deixem para seguir o seu caminho, que sabem interessar-se por eles, ouvir as suas histórias de meninos e de adolescentes, responder às suas perguntas, que entram na sua vida sem a constranger e aceitando que os filhos sejam primeiramente crianças, e depois adolescentes – com tudo o que isto pressupõe de qualidades e defeitos -, que não lhes exigem uma perfeição que eles próprios não praticaram -, esses pais têm uma alegria profunda, a grande alegria paternal de possuir a confiança de seus filhos, de os ver voltar para junto de si com um prazer sempre renovado e, à medida que crescem, de os ver, cada vez mais, testemunhar, pelo seu afeto e atenções, que os seus pais representam para eles o maior amor que porventura se debruçou sobre as suas vidas.

E se os pais souberem formar os seus filhos, têm a alegria de os ver crescer e dar os frutos que correspondem às suas diferentes personalidades, de os ver, por seu turno, fundar lares e dar-lhes netos, de ver outros elevar até Deus, pela sua vocação religiosa, a oferenda da família, de ver deste modo a sua obra prolongar-se e estender-se e de se encontrarem, na velhice, envolvidos pelo abraço de todos estes afetos.

Afirmou-se mais acima que os filhos deixam os pais para se casar; é verdade, mas deixam-nos para regressar duma outra maneira, graças à qual os pais lhes aparecem como os conselheiros mais seguros e mais desinteressados, como o afeto mais puro. Os pais já não ocupam o mesmo lugar material na vida dos seus filhos adultos, mas conservam um lugar de afeto que ninguém mais pode substituir. Para nenhum de nós, já o disse, o seu pai ou a sua mãe são como um homem qualquer ou como uma mulher qualquer, e este vínculo moral entre pais e filhos, quando purificado pela caridade cristã, é uma das mais altas perfeições humanas e uma das fontes mais doces de alegria.

(Jacques Leclercq)

Apagam a memória, doutrinam os jovens. Anulam a liberdade. O Papa Francisco volta a condenar, assim, as colonizações culturais e ideológicas de todos os tempos. Ele fez isso na homilia na Casa Santa Marta da manhã dessa quinta-feira, 23 de novembro de 2017, relatada pela Radio Vaticana, durante a qual também as identificou com as ditaduras europeias do século passado.

Todas as vezes em que “surge na Terra uma nova ditadura cultural ou ideológica”, ela é “uma colonização”, afirma o pontífice. Ele observa: “Pensem naquilo que as ditaduras do século passado fizeram na Europa” e nas relativas e correspondentes “escolas de doutrinamento” que nasceram depois.

Desse modo, “tira-se a liberdade, desconstrói-se a história, a memória das pessoas, e impõe-se um sistema educativo aos jovens. Todas: todas fazem assim. Mesmo com as luvas brancas, algumas: não sei, um país, uma nação pede um empréstimo, ‘não, eu te dou, mas tu, nas escolas, deves ensinar isto, isto e isto’, e te indicam os livros, livros que apagam tudo o que Deus criou e como o criou”.

Além disso, “apagam as diferenças, apagam a história: a partir de hoje, começa-se a pensar assim. Quem não pensa assim deve ser deixado de lado, até mesmo perseguido”.

Assim aconteceu também na Europa, reiterou o bispo de Roma, onde aqueles “que se opunham às ditaduras genocidas eram perseguidos”, ameaçados, privados da liberdade, o que corresponde, então, a “outra forma de tortura”.

As colonizações ideológicas e culturais destroem também a memória, além da liberdade, reduzindo-as a “fábulas”, “mentiras”, “coisas de velhos”.

O pontífice destacou, depois, o papel da mulher na proteção da história, da memória e das raízes: “Conservar a memória: a memória da salvação, a memória do povo de Deus, aquela memória que tornava forte a fé deste povo perseguido por esta colonização ideológica e cultural. A memória é aquela que nos ajuda a vencer todos os sistemas educativos perversos. Recordar. Recordar os valores, recordar a História, recordar as coisas que aprendemos. E depois – referindo-se à figura da mãe dos Macabeus que encoraja os filhos a serem tenazes diante do martírio – a mãe. A mãe que falava duas vezes – diz o texto – ‘na língua dos pais’: falava em dialeto. E não há nenhuma colonização cultural que possa vencer o dialeto”. Francisco exalta a “ternura feminina” e a “coragem viril” da mãe dos Macabeus.

Eis a reflexão do pontífice: “Somente a força das mulheres é capaz de resistir a uma colonização cultural”; são elas as guardiães da memória, “capazes de defender a história de um povo” e de “transmitir a fé” que, depois, “os teólogos vão explicar”.

O papa enfatizou que “o povo de Deus seguiu em frente por causa da força de tantas mulheres bravas, que souberam dar a fé aos filhos, e só elas – as mães – sabem transmitir a fé em dialeto”.

Vatican Insider

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Embora seja tema que cause desconforto na maior parte das pessoas, a discussão política não pode mais prescindir do posicionamento daqueles que “não gostam de política”, pois os que gostam de política estão passando a decidir vários aspectos da sua vida, dentro de sua casa, com a sua família. Exemplos como a “lei da palmada” (quando já havia leis contra o espancamento de crianças, aliás, contra o espancamento de qualquer ser humano) e a possibilidade de ser processado, caso seu vizinho tenha entendido de forma particular, algo que você tenha dito, explicitam como a política já está dentro da sua casa.

A política já determina como você deve se comunicar com outras pessoas, o que pode ser dito sem o eventual risco de um processo e como você deve educar os seus filhos. Caso as pessoas comuns persistam alheias ao processo político ideológico, em algum tempo o avanço sobre as liberdades individuais poderá chegar a um ponto de decidirem o que você pode ler, escrever, escutar, comer ou beber.

A política seria o espaço, por excelência, para a discussão de idéias, troca de opiniões e defesa de diferentes pontos de vista. A política também é o espaço para a discussão dos interesses de diferentes grupos. Ambas as formas de exercício político são legítimas.

A primeira é ideológica – das idéias, das proposições teóricas.  A segunda remete aos interesses primários de cada grupo. Existe uma clara hipertrofia da segunda posição, com uma ampla cobertura do cenário político, em detrimento da discussão sobre quais parâmetros devem ser adotados para a vida privada, sobre o papel do Estado (por exemplo, se teria o direito de interferir na educação dada pelos pais), ou se o governo deve determinar a vida religiosa de cada um.

Talvez por essa hipertrofia da discussão da política partidária (cenário político), há um desinteresse generalizado pelo assunto. Esse desinteresse acaba por gerar um resultado óbvio: somente serão aprovadas as idéias dos poucos envolvidos em qualquer temática, e somente esses grupos serão privilegiados.

As definições de certo e errado, do que é bom ou ruim, da moralidade e da ética, irão seguir o grupo melhor representado numericamente. Entretanto, somente um grupo tem conquistado representação na política, seja pelo posicionamento ideológico, seja pela defesa dos seus interesses privados.

Para entendermos melhor qual grupo é esse, temos que explorar a concepção primária de que cada pessoa tem sobre a natureza humana.

Podemos estabelecer duas grandes posições conceituais sobre a natureza humana:

– Alguns acham que o ser humano é bom por essência. ( A Igreja católica reconhece o homem como amado mas ferido pelo mistério do pecado não possuindo, portanto, uma bondade intrínseca. Deus é a origem de todo o bem e todo ato de bondade humana transborda da ação da graça divina agindo na liberdade humana)

– Outros acreditam que, embora possa ser bom, não é uma característica inata, mas sim que deva ser trabalhada.

O primeiro grupo (que acreditam numa forma de “bondade essencial”) tende a ver as diferenças humanas como construções sociais, em que os criminosos se tornam criminosos pelas diferenças sociais, impostas pelo mundo, numa espécie de “falta de sorte”. Afinal, se todos são iguais e bons, as diferenças só poderiam ser decorrentes das imposições sociais. Por exemplo, apesar de existirem bandidos em todas as classes sociais, acreditam que a pobreza é o que causa a violência social. Curiosamente, esse grupo apresenta extrema dificuldade em analisar os fatos, e perceber, por exemplo, que a renda per capita do brasileiro quintuplicou nos últimos 35 anos, enquanto a violência cresceu 4 vezes! Mesmo ajustando para o crescimento da população brasileira no mesmo período, o número de homicídios mais do que dobrou. Sendo a violência uma determinação social, mesmo que os dados apontem em direção contrária, seria necessária uma mudança social, talvez até uma “revolução”, para que a violência regrida. Todo o foco é colocado na mudança da sociedade, apesar da sociedade (por intermédio dos dados disponibilizados publicamente) apontar que não é a pobreza que causa a violência.

Que fique claro: não estou aqui simplesmente tecendo uma opinião. Em 1980 foram registrados 13.910 homicídios no Brasil. Em 2014, foram mais que 52.000. Dados do Banco Mundial evidenciam uma renda per capita evoluindo de aproximadamente US$2.000 para mais que US$10.000. Ou seja, aumentou a renda, e a violência. Naturalmente, alguns irão argumentar que o que aumentou foi a má-distribuição de renda, em que os pobres ficaram ainda mais pobres, e os ricos ainda mais ricos. Utilizemos então outros parâmetros, como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que mede a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico de uma nação. O IDH também cresceu no período, indo de 0,549 em 1980, para 0,744 em 2014.

Dessa forma, a discussão beira a desonestidade, pois, o argumento que o primeiro grupo utiliza não se sustenta, nem mesmo segundo as estatísticas. Embora nossa historicidade já tenha dados suficientes para responder essa questão, poder-se-ia pensar que a discussão ocorreria por pura ignorância. Mesmo assumindo uma falsa suposição da “bondade essencial” humana, persistir na ignorância dos fatos (crescimento da renda per capita, do IDH e da violência, ao mesmo tempo) chega a ser absurdo.

Repetindo, são duas suposições:

1-      O ser humano é essencialmente bom, e a sociedade o corrompe;

2-      O ser humano pode ser bom, ou não, por fatores inerentes à espécie humana.

Repassando, ao se seguir a primeira suposição, o problema da violência é social. Na resolução desse problema, parte-se do pressuposto que a violência é oriunda da pobreza. Entretanto, o IDH e a renda per capita avançaram, mas ainda assim, a sociedade ficou mais violenta. Só há uma inferência lógica decorrente dessa breve análise: a violência não é um subproduto da pobreza. O fato desse silogismo ser contra intuitivo é um fato em si.

Ou seja, o argumento não se sustenta dentro de sua própria tentativa de coerência teórica, e as pessoas continuam acreditando nesse argumento! Trata-se do homicídio da lógica!

Por que o segundo grupo, que pensa que o ser humano não é essencialmente bom, não exige que o primeiro grupo tenha um mínimo de coerência lógica? Por que o segundo grupo não se vê representado politicamente?

Mas talvez seja esse um dos grandes problemas a serem enfrentados: a falta de lógica, como matriz social.

E por que isso ocorreu? Provavelmente porque nos interessávamos menos por discussões sociais e políticas, pois éramos cientes da condição humana, da sua biologia, dos seus limites, e das dificuldades inerentes à própria vida. Estivemos focados no desenvolvimento pessoal, reservando à sociedade o fruto final dos nossos esforços, do nosso acúmulo de conhecimento, do avanço da experiência adquirida. Sabíamos que deveríamos nos desenvolver e ser responsáveis por nós mesmos, ao invés de responsabilizar o outro pelas nossas próprias vidas.

O grupo que tende a ver o ser humano como mera consequência das ações sociais, naturalmente se ocupou mais com o desenvolvimento da sociedade e, por consequência, da política, em detrimento do desenvolvimento individual. Embora não sejam tão numerosos na população, ocuparam mais habilmente os espaços políticos, chegando a tornar o discurso que vence as eleições quase uma formalidade, sem forma e sem conteúdo.

Infelizmente, erramos ao termos nos retirado do debate ideológico.

Discutir política não é mais uma opção: o Estado já está dentro da sua casa. Por exemplo: Caso você ache que seus filhos não devam estudar no nosso sistema tradicional de ensino, saiba que você não tem mais essa escolha. A frequência escolar é obrigatória. E será nessa mesma escola, a qual o seu filho é obrigado a frequentar, que lhe será ensinado que meninos e meninas são meras quimeras sociais, e nós somos os algozes deles.

Enquanto quisermos nos ausentar do debate, e não aceitarmos discutir conceitos como liberdade, tamanho do Estado e autonomia, irão decidir por nós, à revelia.

Há de se retomar a análise dos fatos e discussões sobre as possibilidades que o mundo oferece. Quais valores devem pautar a vida em sociedade? Não se trata de um problema de fácil resolução, pois a própria filosofia encontra-se em evolução constante. Todavia, embora ainda estejamos evoluindo no processo civilizatório, algumas verdades já existem, como as diferenças entre homens e mulheres. Já é claro que não cabe a um único governante, ou grupo, determinar que seu filho é “unissex”, a partir de teorias falhas, que talvez sirvam a algum outro interesse.

A nova matriz social, carente de lógica, tem que ser questionada, revista e modificada.

Devemos defender a possibilidade de expressão individual (também chamada de liberdade), cessar o patrulhamento social e parar de adjetivar as pessoas em discussões ideológicas. Temos que discutir os fatos, não as pessoas. As pessoas deixaram de lado a capacidade de análise dos fatos, mesmo as mais esclarecidas. Não se discute mais qual é o melhor sistema, pois toda conversa acaba se desvirtuando para a discussão da vida dos interlocutores, ou do cenário político, em detrimento da discussão teórica. Em qualquer conversa, o foco deve ser na discussão das idéias, e não na vida particular dos interlocutores. As pessoas devem aprender a se defender da personalização da discussão (do tipo argumentum ad hominem), e se ater à análise dos fatos e da situação.

Dentro dessa retomada da lógica, ninguém poderia admitir um argumento, em que qualquer grupo se posicionasse como defensor da igualdade e da liberdade, ao mesmo tempo!

Ideologicamente, um conceito exclui o outro.

Irei exemplificar tomando por base a ideologia de gênero: conforme exposto acima, quem defende a igualdade, defende a ideia de que os seres humanos nascem iguais, bons e puros, mas a sociedade os corrompe. Segundo essa perspectiva, os seres humanos nascem tão iguais, que nem mesmo existem diferenças de gênero: sexo masculino e sexo feminino seriam invenções sociais, apesar das inúmeras provas científicas (e observacionais) ao contrário. Os seres humanos nasceriam “unissex”, com uma pequeníssima diferença anatômica. Bastaria, portanto, criá-los de forma “unissex”, e depois “deixá-los escolherem seu sexo”. Exceto por alguns artistas, ou raras exceções (que fogem ao escopo desse texto, exceto pela exceção que confirma a regra), a identificação com o próprio gênero (e não me refiro aqui à orientação sexual) continua a ocorrer, em larga escala, apesar da ideologia de gênero. Caso essa ideologia estivesse correta, já estaríamos vendo milhares, milhões de seres misóginos (metade homem, metade mulher), o que também não ocorreu. A determinação biológica de gênero é inequívoca. O que tem ocorrido são mulheres e homens perdidos em qual rumo seguir, pois não conseguem se orientar nem em relação ao próprio sexo.

Cientistas sérios não defendem a ideia de caracteres adquiridos de Lamarck, sendo que a genética contemporânea já deixou claro que Darwin tinha razão. A negação da heritabilidade biológica das características humanas acabou proporcionando sofrimento e mortes desnecessárias.

É inútil impor ao ser humano características que não são suas. Mulher é mulher. Homem é homem. A espécie não muda segundo o interesse ideológico de ninguém, nem de nenhum sistema. As crianças continuam se tornando homens, ou mulheres, na idade adulta. Por que não deixamos que elas cresçam, e nos resguardamos a observar e aceitar suas tendências e evolução natural?

Mas não seria isso o que a ideologia de gênero defende? Não.

O que está sendo defendido é a imposição de um tratamento unissex, sem respeitar os interesses naturais das próprias crianças, ou dos responsáveis por elas, os seus pais.

Uma outra observação remete à escolha das meninas como padrão ideal para a infância. Por que não poderiam ter sido escolhidos os meninos? Não teriam, mulheres e homens, meninas e meninos, o mesmo valor? Por que somente o comportamento contido, sem a energia cinética clássica dos meninos é valorizado? Posto que essas diferenças de gênero seriam somente sociais, por que não se tomou como padrão ideal o comportamento mais despachado dos meninos? Ou então, por que não se assumiu os dois padrões como adequados?

A confusão criada não está sendo solucionada pela ideologia de gênero. Está sendo criada por ela. O mesmo ocorre com todas as outras ideologias que o politicamente correto nos impõe.

Estamos permitindo e incentivando a hipertrofia do poder central, com o Estado funcionando como o árbitro, e, pior ainda, como ator social, determinando como você deve, ou não deve, educar o seu filho. O Estado não deveria ter o poder de determinar a qual sexo pertence o seu filho ou sua filha.

E, caso o cidadão não aceite a imposição estatal, medidas jurídicas poderão ser tomadas. Para se impor a (suposta) igualdade, restringe-se a liberdade. Um único poder central, determinando os valores a serem adotados, sob pena de sanções jurídicas, não me parece um governo humanitário.

Percebe-se, portanto, que estamos diante de uma clara confusão ideológica. Afinal, qual opção é válida, no sentido de uma real possibilidade, e não uma mera distorção perceptiva?

  1. a) Liberdade e Igualdade;

OU

  1. b) Liberdade versus

Embora seja altamente desejável, não é possível ter os dois.

O apelo social à igualdade e à ” justiça social ” se tornou um discurso de difícil contraposição. De alguma forma, talvez pela repetição incessante, esses conceitos foram associados, ao mesmo tempo, a determinados grupos, ferindo completamente a lógica. Temos agora que enfrentar esse equívoco perceptivo e ideológico, pois, para termos a suposta ” justiça social ” , é necessária a intervenção estatal. São, portanto, conceitos mutuamente excludentes. Fica claro que a gerência (ou ingerência) do Estado nas relações interpessoais acaba por restringir as liberdades individuais.

Ainda podemos ter pensamentos dissonantes!  Ainda podemos expressá-los! Utilizemos essa prerrogativa!

Entretanto, caso você não goste de política, e não queira se envolver em discussões dessa natureza, saiba que o Estado, possuidor de todo o saber, fará as suas próximas escolhas por você. Afinal, ele já fez tantas, por que não continuar assim?

Sobre o autor: Leandro A. P. Silva é Médico psiquiatra e Doutor em Ciências

 

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Imagine que, por absurdo, você pudesse viajar no tempo e encontrar Adolf Hitler quando ele ainda era bebê.

Você saberia que, quando crescesse, aquele bebê se tornaria um dos monstros mais cruéis e doentios de todos os tempos, responsável pela tortura e pelo extermínio de milhões de pessoas na pior de todas as guerras já causadas em toda a história da humanidade.

Você teria, diante dos seus olhos e ao alcance das suas mãos, uma chance de impedir uma das mais devastadoras ondas de sofrimento e destruição imagináveis.

Você mataria aquele bebê?

Esta foi a terrível pergunta que o jornal The New York Times lançou aos seus leitores em outubro de 2015, embalado pelo frenesi que havia na época em torno ao filme “De Volta para o Futuro”, com seu enredo de viagens no tempo.

O resultado da pesquisa foi anunciado pelo jornal via Twitter: 42% dos leitores responderam que matariam, sim, aquele garotinho de olhos sonhadores que viria a se tornar o Führer nazista. 30% disseram que não o matariam e 28% não souberam o que decidir.

É importante recordar que as pesquisas via Twitter não têm valor científico, mas este caso, em concreto, sugere uma possível concepção geral de que cada pessoa está de alguma forma “predestinada” a fazer o que faz – e que nada poderia alterar o seu “destino”, exceto, talvez, soluções radicais como o assassinato.

A partir desta concepção, veio uma consequência preocupante: a maioria dos participantes da enquete se declarou disposta a matar um inocente (o menino Adolf) para punir um criminoso (o adulto Hitler).

O caso indica a nossa ilusão de “ler” em cada ser humano um prenúncio de genialidade ou de abjeção, como se tudo já estivesse pré-programado e fosse previsível mediante “metadados”. Vivemos numa época, aliás, em que somos continuamente catalogados e indexados tanto com base no que já fizemos ou dissemos quanto com base naquilo que “potencialmente” faremos ou diremos. Há computadores dedicados a “prever” o nosso comportamento com base em uma complexíssima gama de variáveis supostamente quantificáveis. Não sabemos, por exemplo, até que ponto o Google já nos classificou e arquivou nas suas memórias mais profundas e inacessíveis. O que sabemos é que milhares de empresas pagam milhões de dólares por “inteligência” a nosso respeito – e que, com base nessa “inteligência”, somos definidos como “bons” ou “maus” para determinados interesses econômicos, políticos, ideológicos…

Se isto em si mesmo já é grave o suficiente para merecer reflexões bastante sérias, é ainda mais grave constatar que, quando os “metadados” indicam que algo ou alguém é ou será “mau”, tendemos a acatar essa catalogação sem muito senso crítico.

Foi o que ocorreu nessa brincadeira de eugenia anacrônica do New York Times.

A propósito: você mataria aquele bebê?

Autor: Lucandrea Massaro

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Os cristãos não acreditam em destino no sentido de fatalidade, pois creem que Deus os criou livres e inteligentes, responsáveis por seus atos. Os cristãos creem em destino no sentido de vocação para o amor, à qual Deus os chama e os conduz com sua Providência. Seu destino é chegar livremente à perfeição última, que é participar do amor de Deus.

1. O pensamento cristão é contrário à crença em uma força cega que conduza o homem para um determinado fim. Deus criou o homem inteligente e livre, portanto, responsável pelos seus atos. Sendo assim, o cristão não deve acreditar em destino, que, no sentido de fatalidade, é um conceito mitológico pagão.

A mitologia grega chamava o Destino de Moira. Ela era a própria condição constitutiva dos diferentes deuses dessa mitologia. Ou seja, a Moira atribuía aos deuses seus campos de ação, suas honras e privilégios. Assim, a Moira exerceria sua ação sobre os seres diante da impossibilidade de cada ser ultrapassar seus limites. Nesse sentido, seus decretos eram imutáveis.

Essa representação é anterior ao cristianismo e difunde a ideia de que por trás dos acontecimentos da vida possa existir algo de inevitável, de fatal, que ultrapasse a liberdade do homem. Como se certos eventos e fatos já tivessem sido escritos previamente, sem nunca poderem ser mudados.

Mas o pensamento cristão nega que o mundo e os acontecimentos da vida sejam produto de uma força obscura – ora benéfica, ora maléfica – que se impõe sobre os seres humanos. Para os cristãos, Deus criou o mundo segundo sua bondade e sabedoria; e quis fazer as criaturas, de acordo com suas capacidades, participarem de seu ser e de sua bondade (CIC, n. 295).

2. Dotado de inteligência e liberdade, o homem deve se responsabilizar por suas escolhas e atitudes. Assim, ele não pode creditar na conta do destino as consequências de suas próprias ações.

Deus não apenas cria o mundo e dá aos homens e às mulheres o existir. Ele também lhes concede a capacidade de contribuir em sua obra, ou seja, de participar do aperfeiçoamento e da harmonização do mundo. Ele dá aos seres humanos, dotados de inteligência e vontade, a dignidade de agir por eles mesmos, com liberdade.

O pensamento cristão confere tal valor à liberdade do homem que afirma que ela é um “sinal eminente da imagem de Deus” (CIC, n. 1705). Portanto, se o ser humano é livre para agir segundo sua inteligência, como ele poderia estar preso a decretos preestabelecidos sobre acontecimentos inevitáveis em sua vida? Assim, o homem é sempre responsável por suas atitudes, ou seja, deve responder perante a comunidade humana e perante Deus por seus atos.

3. Ao invés de acreditar em destino, os cristãos creem na Providência Divina. O homem foi criado em estado de caminhada para uma perfeição última a ser ainda atingida, junto de Deus. Assim, a Providência Divina são as disposições pelas quais Deus conduz sua criação para esta perfeição.

A perfeição final à qual o ser humano está chamado, na vida eterna, consiste em participar da plenitude do amor que é Deus (CIC, 221). Essa comunhão com Deus supera a compreensão e a imaginação. A Bíblia fala desse estado em imagens: Paraíso, Jerusalém celeste, casa do Pai, felicidade, luz, vida, paz (CIC, 1027).

Mas aqui na vida terrena, os homens e as mulheres foram criados em estado de caminhada rumo a essa perfeição última. Nesse caminho, Deus não abandona o ser humano à sua própria sorte. Ele o sustenta, prestando seu auxílio na condução da vida.

Essa relação expressa a dependência do homem de seu Criador. Reconhecer essa dependência em nada significa colocar em cheque a liberdade humana ou falar em destino como fatalidade. Trata-se de um ato de humildade, fonte de sabedoria e liberdade, alegria e confiança (CIC 301).

Aleteia

liberdade

Em um encontro para comunicadores que a Conferência Episcopal Italiana promoveu em novembro de 2002, João Paulo II mencionava o fato de que “as rápidas transformações tecnológicas estão determinando, sobretudo no campo da comunicação social, uma nova condição para a transmissão do saber, para a convivência entre os povos, para a formação dos estilos de vida e das mentalidades. A comunicação gera cultura e a cultura se transmite mediante a comunicação”. Esse nexo entre comunicação e cultura é uma das principais razões pelas quais o mundo da comunicação suscita grande atração entre aqueles que se interessam pela ética. 

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“As rápidas transformações tecnológicas estão determinando, sobretudo no campo da comunicação social, uma nova condição para a transmissão do saber, para a convivência entre os povos e para a formação dos estilos de vida e das mentalidades”[1]. A adequada maturidade moral pessoal não é independente da comunicação e da cultura, que se expressa nos fins e estilos de vida socialmente aceitos, nas leis, na celebração dos acontecimentos e personagens do passado que melhor correspondem à identidade moral de uma sociedade.

A cultura possui algumas leis próprias, pelo que as ideias – e os sentimentos que estas fomentam – têm uma consistência e um desenvolvimento bastante autônomo. É como se as ideias, quando passam ao plano da cultura e da comunicação, se separassem das inteligências que as produziram e começassem a viver uma vida própria, desenvolvendo-se com uma força que depende somente de si mesma. Uma força que depende de sua consistência objetiva e de seu dinamismo intrínseco, talvez diferente da intenção que tinham as pessoas que as colocaram em circulação.

Por isso, todos que desejam influenciar na vida social com o espírito do Evangelho devem estar atentos à íntima relação entre comunicação e cultura; se se deseja intervir positivamente na criação e transmissão de modos de vida e de visões do homem, é preciso atender à consistência e ao previsível desenvolvimento das ideias, mais que à pretensa intenção das pessoas. Uma atitude polêmica, uma resposta brilhante ou ferina podem fazer calar a um adversário, mas se não se entende o que se expunha, nem se apreciou a consistência de suas ideias e as possíveis linhas de desenvolvimento que estas tinham, provavelmente não se colaborou no crescimento cultural nem mesmo se ofereceu uma alternativa cultural adequada; e assim, as ideias que foram rejeitadas, reduzindo ao silêncio a quem as promoveu, seguirão tendo uma vida longa. Somente se se consegue fazer uma proposta que conserve e supere o que de bom e de verdadeiro havia nas ideias que se considera justo combater, é que se dará um influxo cultural real.

Verdade e liberdade

Em mais de uma ocasião, João Paulo II destacou que o conflito entre verdade e liberdade está presente em boa parte dos problemas que afetam a cultura de nosso tempo[2]. A esse mesmo assunto referiu-se  Bento XVI com o conceito de relativismo[3]. Diante das posições relativistas, tem-se a tentação de responder mostrando sua contradição interna: quem considera que toda verdade é relativa faz, na realidade, uma afirmação absoluta, e por isso contradiz-se a si mesmo. Trata-se de uma crítica verdadeira, mas culturalmente pouco eficaz, porque não busca entender os pontos de apoio que sustentam os fundamentos relativistas, nem parece compreender a questão que tentam solucionar.

A partir de uma perspectiva ético-social, as posições relativistas têm seu ponto de partida baseado no fato de que na sociedade atual existe uma pluralidade de projetos de vida e de concepções do bem, o qual parece propor uma disjuntiva: ou se renuncia à ideia de julgar os diferentes projetos de vida, ou há que se abandonar o ideal ou o modus vivendi caracterizado pela tolerância.Com outras palavras, um modo de vida tolerante requereria admitir que qualquer concepção de vida vale o mesmo, ou pelo menos tem o mesmo direito de existir que cada uma das demais; se isto não se admite, cai-se em um fundamentalismo ético e social.

O raciocínio é bastante enganador, mas apresenta-se com aparência de verdade por causa de um feito inegável, que constitui seu ponto de apoio: ao longo da história, e inclusive na atualidade, não faltou quem oprimisse violentamente a liberdade das pessoas e dos povos em nome da verdade. Por isso, para que a mensagem evangélica seja retamente entendida, faz-se necessário evitar qualquer palavra, raciocínio ou atitude que possa fazer pensar que um cristão coerente sacrifica a liberdade em nome da verdade. Se fosse dada esta impressão, ainda que involuntariamente, contribuir-se-ia para consolidar o pressuposto fundamental do relativismo: a ideia de que o amor à verdade e o amor à liberdade são incompatíveis, pelo menos na prática.

A comunicação de convicções cristãs e de conteúdos éticos necessita demonstrar com obras, e não somente com palavras, que entre verdade e liberdade existe uma verdadeira harmonia; isto requer, de um lado, estar profundamente convencido do valor e do significado da liberdade pessoal. Mas, por outro lado, obriga a distinguir cuidadosamente o terreno ético do terreno político e jurídico. Em primeiro lugar, toda chamada da autoridade dirige-se à liberdade; em segundo, o recurso à coação pode ser legítimo.

Ética e política

Nas questões éticas, a consciência abre-se à verdade, que tem um evidente poder normativo sobre as próprias decisões; está em jogo a relação da consciência pessoal com a concepção que se tem do bem humano, às vezes relacionado com princípios religiosos; por sua vez, o âmbito jurídico e político refere-se às relações entre pessoas ou entre pessoas e instituições, que – enquanto reguladas pelas leis – estão submetidas ao poder coativo que o Estado e seus representantes podem usar legitimamente.

Estes dois âmbitos – ético e político – estão muito relacionados, e muitas vezes têm um desenvolvimento paralelo. O homicídio intencional, por exemplo, tem ao mesmo tempo uma grave culpa moral e um crime que o Estado tem o dever de perseguir e punir. Mas ainda neste caso, os dois âmbitos apresentam diferenças significativas. Basta pensar, por exemplo, no perdão. Uma coisa é o perdão da culpa moral e outra bem diferente o perdão do crime: é desejável que os parentes da vítima de um homicídio perdoem cristãmente ao culpado, mas não seria admissível que o Estado seguisse sistematicamente uma política de impunidade do homicídio intencional. Afirmar o contrário seria um abuso ideológico ou uma grave ofensa contra o bem comum.

Neste tipo de diferença se faz necessário distinguir o plano ético do político no que se refere aos princípios morais do Evangelho. Para evitar más interpretações, há que se oferecer um fundamento ético às mensagens do tipo moral, explicitando que tal verdade não pretende impor-se mediante o uso do poder político de coação; isto é compatível com que, em outro tipo de verdades éticas, exista uma dimensão ético-política ou ético-jurídica. Nestes casos, deverá ser oferecida, ademais, uma justificação política ou jurídica, ou seja, deverá ser demonstrado não somente que o comportamento em questão é moralmente equivocado, mas também que existem razões específicas pelas quais o Estado há de proibi-la e puni-la. Razões que não são idênticas às razões éticas, porque não é missão do Estado perseguir a culpa moral, mas promover e tutelar o bem comum, prevenindo e punindo aquelas condutas que o lesionam (que prejudicam a segurança pública, a liberdade e os direitos dos demais, as instituições de interesse social como a família etc).

Ética e Estado

Certamente, o Estado promulga algumas vezes leis injustas. Nesses casos, o cidadão de reta consciência deveria poder criticá-las com liberdade. O Concílio Vaticano II afirmou com clareza o direito e o dever da Igreja de “dar seu juízo moral, inclusive sobre matérias referentes à ordem política, quando o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas”[4].

Nestes casos, é importante saber dar à legislação equivocada uma resposta culturalmente eficaz. Não é uma tarefa fácil, porque é preciso ir além das contra-posições polêmicas, sabendo assumir a parte de verdade da posição contrária. Quando em consciência deve-se criticar uma atuação do Estado, requer-se mostrar uma fina sensibilidade pelos valores das instituições democráticas, sensibilidade que não se deveria deixar indefinida pelo fato, certamente muito doloroso, de que, numa determinada ação, uma instituição concreta tenha se comportado de modo injusto.

A firmeza nos princípios éticos deve ser – e parecer – compatível com a consciência de que a realização de bens pessoais e sociais em um contexto histórico, geográfico e cultural determinado, caracteriza-se por uma contingência parcialmente insuperável. Em questões práticas, é freqüente que não exista uma única solução possível. Inclusive nas decisões da Igreja relativas a coisas não necessárias devem ser contingentes, precisamente porque se referem a uma realidade que depende muito das circunstâncias, que mudam com o passar do tempo; por isso, é necessário aprender a reconhecer que, nesse tipo de decisões, somente os princípios irrenunciáveis expressam o aspecto duradouro[5]. Ninguém pode pretender em questões temporais impor dogmas, que nãoexistem [6]. Com isto não se quer dizer que tudo neste mundo é contingente ou acidental ou opinável; mas trata-se de perceber com clareza que nos assuntos humanos, também os outros podem ter razão: veem a mesma questão que tu, mas de um ponto de vista diferente, com outra luz, com outra sombra, com outros contornos. – Somente na fé e na moral é que há um critério indiscutível: o da nossa Mãe a Igreja[7].

A autonomia das realidades temporais

No entanto, poderia ocorrer que a doutrina cristã sobre uma determinada matéria ético-social coincida com a que sustentam todos ou uma boa parte dos cidadãos que legitimamente militam em um determinado partido político. Nestes casos, poderia originar-se – involuntariamente – uma situação delicada, porque poderia parecer que os cristãos ou inclusive a Igreja, ao proporem seus ensinamentos, estão apoiando a uma determinada parte política e não apresentando unicamente a mensagem do Evangelho.

Esta confusão poderia motivar acusações de intromissão ou de falta de respeito para com o Estado; acusações que talvez serão um simples pretexto político, ou inclusive mal intencionadas; mas o que se deve ter em conta quando se busca informar a cultura com o espírito do Evangelho, esclarecendo serenamente aquela aparência de verdade que podem conter estas condenações. Dois tipos de considerações são oportunas.

A primeira é que todos os cidadãos, também os que formam parte de um órgão legislativo ou de um partido político, têm o direito e o dever de sustentar as soluções que em consciência consideram úteis para o bem do próprio país, alegando – se for possível – as razões que justificam sua convicção. Cada um é livre para consultar livros especializados que considera confiáveis, ou de falar com quem deseja; se um cidadão pode inspirar-se em determinada teoria política ou econômica, também pode fazê-lo na Doutrina Social da Igreja. As soluções políticas são medidas por seu valor intrínseco e pelas razões que as justificam. Questionar as fontes utilizadas por cada cidadão para formar suas convicções seria uma falta de respeito à autonomia da consciência dos demais. É fácil ver que a radicalização de tal atitude levaria a conclusões absurdas: por exemplo, afirmar que o Estado, para reforçar o seu estado laical, deveria favorecer o que a Igreja condena, como a escravidão.

A segunda consideração oportuna é a necessidade de se ter uma ideia clara acerca da distinção existente entre a missão do Estado e a da Igreja. A este propósito, Bento XVI ofereceu indicações muito úteis. A distinção entre o que é de César e o que é de Deus, com a consequente autonomia das realidades temporais, pertence à estrutura essencial do cristianismo[8]. É tarefa do Estado interrogar-se sobre o modo de realizar a justiça concretamente aqui e agora; neste campo, a Doutrina Social da Igreja se oferece como uma ajuda, que “não pretende outorgar à Igreja um poder sobre o Estado. Tampouco quer impor aos que não compartilham da fé suas próprias perspectivas e modos de comportamento”[9].

Tal doutrina argumenta a partir da razão e do direito natural, e reconhece que a construção de um justo ordenamento da vida social é uma tarefa política, que “não pode ser uma obrigação imediata da Igreja. Mas, como ao mesmo tempo é uma tarefa humana primária, a Igreja tem o dever de oferecer, mediante a purificação da razão e a formação ética, sua contribuição específica, para que as exigências da justiça sejam compreensíveis e politicamente realizáveis. A Igreja não pode nem deve empreender por conta própria a iniciativa política de realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve substituir o Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta por justiça. Deve inserir-se nela através da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre exige também renúncias, não pode afirmar-se nem prosperar”[10].

A realização da justiça é um ponto em que a fé e a política se aproximam. Por isso requer-se uma atenção cuidadosa para que ninguém com boa vontade possa pensar que a fé cristã se identifica com uma das partes políticas existentes na sociedade. Certamente, a fé cristã tem algo a dizer às diversas culturas políticas dos homens e dos povos; mas a fé pressupõe a liberdade e se oferece à liberdade, que por ela se deve amar com as palavras e com as obras.

Autor: Ángel Rodríguez Luño

1. João Paulo II, Discurso ao Congresso nacional italiano de agentes da cultura e da comunicação, 9-11-2002, n. 2.

2.. Cf. por exemplo: Litt. enc. Redemptor hominis, 4-03-1979, n. 12; Litt. enc. Centesimus annus, 1-05-1991, nn. 4, 17 y 46; Litt. enc. Veritatis splendor, 6-08-1993, nn. 34, 84, 87 y 88; Litt. enc. Fides et ratio, 14-09-1998, n. 90.

3. Cf. por exemplo: Discurso ao Convênio diocesano promovido pela diocese de Roma sobre o tema “Família e comunidade cristã: formação da pessoa e transmissão da fé”, 7-6-2005; Discurso ao Corpo Diplomático acreditado diante da Santa Sé, 8-01-2007; Discurso a uma Delegação da “Académie des Sciences Morales et Politiques” de Paris, 10-02-2007; Discurso inaugural da V Conferência do Episcopado Latinoamericano, 13-5-2007.

4. Conc. Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 76.

5. Cf. Bento XVI, Discurso aos Cardeais, Arcebispos, Bispos e Prelados superiores da Cúria Romana, 22-12-2005.

6. Conversaciones, n. 77.

7. Sulco, n. 275.

8. Cf Bento XVI, Litt. enc. Deus caritas est, 25-12-2005, n. 28.

9. Ibid.

10. Ibid.

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A Igreja urge os seus fiéis a fazerem todo o esforço possível para a construção de uma consciência bem-formada. Seguir a consciência sem essa formação pode ser uma armadilha, em alguns casos, até perigosa.

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Em Amoris Laetitia (A Alegria do Amor), o Papa Francisco insta os fiéis a consultarem a própria consciência para se orientar na tomada de decisões morais.

Muitos católicos já estão fazendo isso. De acordo com o Centro de Pesquisas Pew (Pew Research Center), 73% dos católicos “baseiam-se ‘em grande parte’ em sua própria consciência para orientarem-se em questões morais difíceis”. Os números mostram que a exortação não é simplesmente uma sugestão para um caminho a ser seguido, mas um ‘reconhecimento’  da realidade atual para muitas pessoas.

A Igreja urge os seus fiéis a fazerem todo o esforço possível para a construção de uma consciência bem-formada, o que muitas vezes é feito com o auxílio do magistério católico e através do diálogo com os outros. O estudo citado, no entanto, descobriu que a maioria dos católicos tem menos experiência com essa abordagem. Apesar da popularidade do Papa Francisco e da ampla cobertura da imprensa, somente 11% dos católicos “baseiam-se ‘em grande parte’ [no papa] para orientarem-se em questões morais difíceis”. Somente 21% disse consultar os ensinamentos da Igreja “em grande parte”, e 15% afirmou voltarem-se para a Bíblia. Muitos católicos também informaram que evitam discussões religiosas com pessoas das quais poderiam discordar (31%, número maior do que qualquer denominação cristã nos EUA).

É claro que os católicos não precisam escolher somente entre estas fontes como uma maneira de formar a própria consciência. No entanto, contar com o magistério da Igreja, com a tradição e conversões de outros fiéis companheiros – inclusive aqueles de quem discordamos – pode desafiar-nos a pensar mais profundamente sobre a nossa fé e as maneiras como ela influi em nossas decisões morais. 

Revista America

 

adultescente-300x279MATURIDADE EM FALTA NO MUNDO DOS ADULTESCENTES

Os tais “adultescentes” foram tema de várias colunas minhas no antigo blog da VEJA. Considero o assunto de extrema importância: pais que se recusam a educar seus filhos de verdade acabam gerando uma legião de mimados, que formam a tal geração “mimimi”, extremamente narcísica, hedonista e egoísta. Esse foi o tema da coluna de Rosely Sayão hoje na Folha:

O que é ser adulto, afinal? Ter mais de 18, 21 anos? Não! Ser adulto é ter maturidade, fazer as próprias escolhas na vida e arcar com elas. Esses jovens citados hesitam ao fazer suas escolhas e não arcam com a própria vida: seus pais é que fazem isso. São adolescentes, independentemente da idade. Permanecem sob a tutela econômica dos pais, que não têm coragem de retirá-la.

Jovens que levam esse tipo de vida precisam ainda de seus pais: estes, precisam dar um empurrão no filho para precipitá-lo na maturidade. E, para tanto, eles precisam sentir necessidade disso.

Você já se deu conta, caro leitor, de que criamos os filhos hoje sempre a evitar que eles sintam necessidades? Estamos quase sempre a nos antecipar às necessidades deles: antes que eles queiram, queremos por eles
e damos a eles.

Isso faz com que eles tenham uma visão bem equivocada da vida: acreditam que não precisam batalhar para viver, que outros farão isso por eles. E esses outros são seus pais, não é verdade?

Ou o estado, esse ente abstrato, essa ficção pela qual todos querem viver à custa de todos. Mas o fato relevante é essa postura mimada diante da vida, de quem sempre espera do “outro” alguma coisa, o sustento, os “direitos”.

Em uma resenha de um interessante livro do argentino Sergio Sinay, falei mais do assunto. Em outras ocasiões também já bati nessa imaturidade daqueles que deveriam servir como referência e freio aos mais jovens, mas que acabam lhes instigando um comportamento ainda mais infantil e irrefletido. Eis alguns trechos:

Maturidade exige renúncia, sacrifício, responsabilidade e compromisso. Tudo aquilo que muitos adultos modernos fogem como o diabo foge da cruz. Talvez para aplacar sua angústia existencial, esses adultos desejam permanecer jovens para sempre, e agem como tal. São colegas de seus filhos, e delegam a responsabilidade de educá-los a terceiros. Confundem seus caprichos com direitos. Nas palavras do autor:

Uma sociedade empenhada em permanecer adolescente vive no imediatismo, na fugacidade, nas rebeliões arbitrárias que a nada conduzem, na confrontação com as regras – com qualquer regra, pelo simples fato de existirem – no risco absurdo e inconsciente, na fuga das responsabilidades, na ilusão de ideais tão imprevistos como insustentáveis, na absurda luta contra as leis da realidade que obstruem seus desejos volúveis e ilusórios, na rejeição ao compromisso e ao esforço fecundo, na busca do prazer imediato, ainda que se tenha que chegar a ele através de atalhos, na confusão intelectual, na criação e adoração de ídolos vaidosos colocados sobre pedestais sem alicerces.

Impossível não pensar nos artistas e atletas famosos que levam vidas altamente questionáveis do ponto de vista ético, mas ainda assim viram heróis nacionais. Eis o exemplo que Sinay usa do lado argentino:

Uma sociedade é adolescente quando carece de critérios para distinguir entre as habilidades futebolísticas de seu maior ídolo esportivo, Diego Maradona, e suas condutas irresponsáveis, sua ética duvidosa, seus valores acomodatícios; quando acredita que aquelas habilidades justificam tais ‘desvalores’ e quando, assim como um adolescente, os vê como um tributo invejável.

O ponto de vista de Dom Lourenço de Almeida Prado, que foi reitor do prestigiado Colégio São Bento no Rio, também merece destaque nessa reflexão. Acho que ele resumiu como ninguém a angústia da juventude e o suposto “conflito de gerações”. Segue um longo trecho para reflexão:

O amadurecimento é acima de tudo um processo interior de aquisição da liberdade. A conquista da liberdade, por sua vez, é, no seu início, uma supressão de entraves, desde o mais primitivo, que é o não saber andar, nem falar, até a plena capacidade de locomoção, de ir e vir na cidade civilizada. Mas é, acima de tudo, a formação das qualidades da alma, do saber e da arte, na área da inteligência, e das virtudes, na área da vontade, que como a luz que liberta das trevas, dão os critérios de escolha, a lucidez que gera a segurança.

[…]

O mundo moderno é perturbado pelo equívoco igualitarista. […] Na escola, o aluno e professor são postos frente a frente como adversários numa luta de classes, na qual o aluno é o oprimido. O resultado é uma revolta que, no fundo, é um desafio: provocam a autoridade ao extremo para ver se ela existe. […] No fundo é a angústia da criança desamparada na busca dos verdadeiros adultos, daqueles que têm maturidade tranquila e não são, apesar da idade, inseguros, iguais a ela. […] não existe, a rigor, um conflito de gerações; existe uma polarização que pode gerar conflitos, mas que é, em si mesma, convívio de complementaridade.

[…]

E os adultos estão aí, estimulados por uma falsa psicologia, que alardeia conflitos, ou perplexos porque não se lembram, no momento, da lição do compêndio a ser aplicado ao caso ou receosos de passar por quadrado, procurando imitar o jovem com uma voz em falsete e com um olhar esdudadamente compreensivo. Quebra-se, assim, um polo da complementaridade e, então, vem o conflito de verdade.

[…] pode-se considerar como uma contribuição a esperar-se do jovem um certo tom de imprevidência ou uma certa audácia, acompanhada de uma coragem tangenciando a imprudência que dá ao jovem um saudável espírito de aventura e uma quase presunção de que possa abraçar o mundo. Tudo isso é positivo, mas tudo isso precisa ser contrabalançado, pela presença complementar, quase diria equilibradora do mais velho, de quem se espera, acima de tudo, a sabedoria (fala-se da insubstituível sabedoria dos anciãos, fruto da experiência, do sofrimento, das saudades, que a escola não ensina, mas ensinam os anos de vida). A sabedoria se exprime em prudência, ciência, medida nas coisas, segurança no decidir, medo de improvisar e a consciência de que é portador do facho para quem vem depois.

[…]

Concluindo, creio não ser demais relembrar que o nome tradicional desse encontro de geração é educação.

Que belas palavras! E como estamos longe dessa postura em termos gerais! Em vez de transmitir essa segurança, essa moderação, esses limites aos mais jovens, os “progressistas” jogam lenha na fogueira, atiçam os apetites, justificam quaisquer comportamentos, por mais hedonistas e destrutivos que sejam, parecem querer ver o circo pegar fogo, idealizando a juventude que já lhes escapou. É covardia, pura covardia.

Mas são esses mesmos “progressistas”, aliciadores dos jovens rebeldes, que depois passam a mão na cabeça dos que se desviaram para o crime, tentando impedir sua punição, e clamando, como panaceia, por uma “educação” que foi obliterada e destruída pela própria agenda progressista. É um disparate. Esses jovens estão sem referência, sem freios, sem limites, em boa parte pelas bandeiras progressistas disseminadas pela sociedade. Eles esperam tudo do estado, seu “messias salvador”.

E esses adultos covardes, que se recusam a agir como adultos e educar de verdade, depois procuram aliviar o jovem delinquente de responsabilidade por seus atos, talvez numa tentativa de aliviar a própria culpa e responsabilidade pelo quadro caótico que ajudou a criar. Os jovens estão desamparados pela covardia dos adultos, mas em vez de tirar disso uma lição sobre a importância dos limites e de uma educação mais firme e madura, esses “progressistas” pedem mais paternalismo estatal, diluindo ainda mais a responsabilidade individual numa geleia moral que acaba por tratar bandidos como “vítimas da sociedade”.

Sim, a maturidade está mesmo em falta no mundo, especialmente no Brasil, o “país dos coitadinhos”.

Rodrigo Constantino

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Quando eu era criança, meu ideal de liberdade se inspirava nas grandes façanhas dos aventureiros que partiam rumo ao desconhecido, descobrindo, conquistando novos mundos. Seres extraordinários que haviam deixado para trás um mundo de ataduras convencionais para assumir o risco da fascinante exploração.

Já cheguei a aspirar ser a versão feminina de Marco Polo. Mas não demorei muito para perceber que já não havia mais continentes para descobrir. Começava, assim, um longo caminho rumo à realidade, com todos os relevos das limitações e possibilidades humanas, mas o único que leva à autêntica liberdade.

E assim foi, até que chegou a hora de empreender a mais importante aventura da minha vida: o casamento.

Então, comecei a fazer um inventário das minhas possibilidades humanas para dedicar-me a esta grande empresa, ou seja, para chegar a ser uma boa esposa.

O plano: seguir o curso da minha natureza do Ser pessoa, como mulher.

Este curso natural tem as instruções precisas de um projeto oferecido a mim e ao meu esposo, contando com as diferenças das estruturas psíquicas e físicas da nossa sexualidade, para complementar-nos e construir nossa própria história nas circunstâncias que vierem.

Um projeto cujo dinamismo depende da nossa vontade de adquirir as virtudes necessárias para fazer essa relação crescer.

Em outras palavras, o que nossa natureza nos dá nos ajuda a ser senhores da nossa liberdade, construindo nossa história de amor.

Nossa natureza ao serviço do amor pela nossa liberdade!

Esta manifestação da liberdade não revela nem conquista dimensões do espaço exterior, senão que ilumina e torna possível a conquista da nossa interioridade. Uma liberdade que pode se doar e se comprometer; capaz de dar um sentido maior à minha vida – mais do que ser a primeira mulher a pisar outro planeta. A resposta a um chamado, a vocação ao amor.

Uma liberdade mais comprometida que a de qualquer arriscado explorador, que em qualquer momento poderia desistir da sua aventura sem fragmentar-se interiormente como pessoa.

No casamento, o envolvimento pessoal conta com a vontade de comprometer a liberdade, assumindo o futuro possível em sua plenitude e totalidade, para entregá-lo a outro por amor, com dever de justiça, sem desistir jamais. Esta é a missão do casamento e não há desculpa.

Mas esta missão supõe duas coisas: que algo está chamado a ser e que esse algo pode não chegar a ser, mesmo quando a natureza proporciona a capacidade de chegar à correta formação da vontade de compromisso. Quando se pode, mas não se quer, na vocação ao casamento, estamos no campo da liberdade sem norma do homem, uma vida contra a natureza.

Contudo, o casamento é uma maravilhosa aventura, já não feita de sonhos, mas sim de magníficas realidades, como os filhos, o amor conjugal e a ajuda mútua entre os esposos.

“Na história, intervêm a natureza, as circunstâncias e a liberdade. Coisas dadas à pessoa, coisas que a pessoa coloca. Mas tudo está permeado de liberdade. É o ser humano quem assume a natureza, como assume também as circunstâncias, ou quem se rebela contra tudo isso em uma tão lacerante quanto inútil atitude de não aceitação”, disse Javier Hervada, em “Liberdade, natureza e compromisso no casamento”.

A intervenção da liberdade é muito forte – tanto que o ser humano também pode se abster do casamento mediante o celibato por amor ao reino dos céus.

Autora: Orfa Astorga- Aleteia

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Um leitor fez o seguinte comentário no Deus lo Vult! (blog do autor do artigo)

“eu sou a favor do livre arbítrio.. quem quiser abortar, aborta! acho que o pai e a mãe tem que decidir se querem ou não viver uma vida infeliz cuidando de uma criança que obviamente será inútil e morrerá quando o sentimento por ela já estiver imenso. larguem de hipocrisia e deixem as pessoas fazerem o que quiserem”.

Ora, é completamente sem sentido apelar para o “livre-arbítrio” quando se está falando de eliminar uma vida humana inocente. Todo mundo é a favor do livre-arbítrio, é lógico; mas defender determinado emprego do livre-arbítrio que redunde em dano injusto a um bem de um terceiro, aí já é coisa que não faz sentido algum.

Apliquemos o mesmo “racio-símio” a outros tipos penais previstos no ordenamento brasileiro:

  • eu sou a favor do livre arbítrio..[.] quem quiser assaltar, assalta! Acho que o assaltante tem que decidir se quer ou não viver uma vida infeliz (…) larguem de hipocrisia e deixem as pessoas fazerem o que quiserem.
  • eu sou a favor do livre arbítrio..[.] quem quiser sequestrar, sequestra! Acho que o sequestrador tem que decidir se quer ou não viver uma vida infeliz (…) larguem de hipocrisia e deixem as pessoas fazerem o que quiserem.
  • eu sou a favor do livre arbítrio..[.] quem quiser desviar dinheiro público, desvia! Acho que o corrupto tem que decidir se quer ou não viver uma vida infeliz (…) larguem de hipocrisia e deixem as pessoas fazerem o que quiserem.
  • sou a favor do livre arbítrio..[.] quem quiser cometer qualquer crime, que cometa! Acho que o criminoso tem que decidir se quer ou não viver uma vida infeliz (…) larguem de hipocrisia e deixem as pessoas fazerem o que quiserem.

O “argumento”, como se pode ver, é completamente insustentável. A gente só pode advogar o direito à liberdade quando o seu exercício estiver direcionado para coisas em si mesmas boas ou pelo menos neutras. Antes, portanto, de se dizer “a favor do livre arbítrio” para o aborto, é preciso demonstrar que o aborto, considerado em si mesmo, é moralmente bom ou, pelo menos, indiferente. Sem enfrentar essa questão em primeiríssimo lugar, “hipocrisia” é querer aplicar aos opositores a pecha de estarem querendo violar o sacrossanto livre-arbítrio de outrem. Aqui, não!

[A mesma situação, aliás, poderia ser também resolvida simplesmente dizendo: ok, que cada um tenha o livre-arbítrio de fazer o que quiser, contanto que arque com as conseqüências de suas atitudes. Assim, o assaltante continua com o livre-arbítrio de assaltar, correndo com isso o risco de ser preso; o assassino, continua com o livre-arbítrio de assassinar, contando com o risco de ser morto em legítima defesa por sua vítima ou por um terceiro que por acaso o surpreenda no ato da realização do homicídio; e, o abortista, continua com o livre-arbítrio de abortar, ficando por conta disso sujeito às conseqüências penais que decorrem da sua conduta.

Se não o dizemos, contudo, é porque nos parece que esta visão conota uma espécie de “jogo de soma zero”, como se dispôr-se a sofrer a sanção penal de um crime fosse algo análogo a pagar o preço devido por um bem: como se transformasse o crime, assim, em uma transação normal e socialmente aceitável.

Acreditamos, ao contrário, que sofrer as consequências jurídicas de um crime não é, de nenhuma maneira, o “preço justo” que transforma o cometimento do crime em um negócio jurídico normal. As condutas criminosas devem ser evitadas, ponto; e não  é correto dizer que elas possam ser cometidas mediante o pagamento de x reais de multa ou y anos de reclusão. Parece-nos, assim, que meramente defender o livre-arbítrio para o mal, desde que com suas consequências, é um erro de perspectiva. Há que se distinguir a liberdade em abstrato do exercício concreto dessa liberdade: condenar algumas modalidades deste não equivale, sob lógica nenhuma, a negar aquela.]

Sobre a «criança que obviamente será inútil e morrerá quando o sentimento por ela já estiver imenso»… o que dizer diante de tamanha barbaridade? É evidente que tal conclusão é fruto unicamente da mentalidade doentia do autor do comentário; é patente que ele não tem o menor suporte fático, nenhum dado empírico a lhe autorizar. Porque o que nos contam as pessoas que tiveram filhos deficientes – mormente anencéfalos – é coisa completamente distinta. Busquem-se, a título de informação, as histórias de Marcela de Jesus ou Vitória de Cristo que já foram contadas neste mesmo blog.

Mas, mesmo assim, olhar unicamente para o sentimento dos pais é um erro de proporções. Em uma escala valorativa minimamente decente, o direito à vida da criança – mesmo deficiente! – ganha do direito a “bons sentimentos” dos pais. E, se não se pode exigir de ninguém que enfrente como homem as adversidades que a vida lhe trouxer, pode-se ao menos (e, aliás, deve-se!) impedi-lo de violar gravemente os direitos de outrem em reação àquelas adversidades. Eximir-se de fazê-lo é decair na mais horrenda barbárie, onde o que vale é a lei do mais forte e onde o estado de ânimo de alguém o autoriza a tudo para fazer valer a própria vontade, independente de quem seja pisoteado neste processo.

É lógico que ter um filho com uma deficiência grave é algo devastador. No entanto, matar o próprio filho por ele ser gravemente deficiente é de uma desumanidade atroz. É possível, sem dúvidas, levantar uma infinidade de argumentos para justificar, in casu, a atitude desesperada do pai que opta pelo assassínio intrauterino do seu filho doente. O que não dá é para pleitear o direito universal e inalienável ao extermínio pré-natal das crianças deficientes.

Autor: Jorge Ferraz

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É preciso empreender uma batalha constante contra todos os tipos de tirania. O que significa isso? Significa qualquer postura que tente intermediar a relação do homem com a sua própria psiquê, com o seu íntimo e com a sua fé. O homem que, covardemente, outorga autoridade suprema a qualquer instância orientadora está desertando de um caminho certamente longo, porém mais lúcido que é o caminho da responsabilidade individual diante da valoração de uma causa qualquer.

Ora, atentemos um instante para a promessa aleatória de execução de uma sociedade ideal e perfeita. Quem promete algo parecido com isso está apenas convergindo lutas pessoais e letras imemoriais em um projeto plenamente realizável. O que queremos dizer com isso é que a consecução de uma obra de natureza duradoura depende de séculos de trabalho de uma infinidade de segmentos sociais e de uma renovação de ideias tão profunda que é impossível limitá-la a um dado projeto. A caminhada em direção a algo nobre é efetivamente mais sólida que a suposta conquista que mais tarde com certeza sucumbirá ante a fragilidade de seus fundamentos.

O socialismo foi essa trajetória curva na História contemporânea que atrasou o desenvolvimento técnico e o desenvolvimento material, sem falar na outra face mais obscura, qual seja, a soma dos horrores cometidos em nome de um suposto bem. A justificação moral do mal em nome do bem é mais prejudicial ao homem que a execução do mal sem justificativa alguma. Comunismo e nazismo se assemelharam, portanto, quanto aos limites impostos à liberdade, distinguindo-se apenas pela natureza de suas justificações.

Ora, o nazismo se concretizou como forma eficaz de totalitarismo disseminando algo que qualquer pessoa minimamente bem-intencionada sabe tratar-se de uma coisa insustentável, a saber, a ideia de uma raça superior, possuidora de característica distintas que a fariam triunfar. O absurdo da proposta faz com que, passada a catarse tétrica momentânea, os indivíduos ponderem e sigam novamente a rota saudável das relações sociais. Por que então o nazismo ainda encontra defensores? Porque ainda existem indivíduos objetivamente maus que perseguem ideias que lhes correspondam à índole.

Com o comunismo dá-se algo parecido no que compete ao fascínio ideológico e ao embrutecimento intelectual, não obstante o problema se agrave justamente pela manipulação das saudáveis inclinações e dos mais honestos fins que são efetivamente alvos não das pessoas de má índole, mas das pessoas sãs. O comunismo promete a extinção da desigualdade social e estabelece métodos para alcançá-la.

Vejamos, primeiramente o indivíduo parte para uma batalha natural entre a sua própria consciência e a consciência partidária que o obriga a uma suposta moral que de moral efetivamente não tem nada. Depois, a capacidade de persuasão da ideia faz com que o indivíduo se perca em sua própria moralidade, subordinada, doravante, ao fim último a ser perseguido. Nesse intervalo entre o indivíduo desobrigado de prestar contas à própria consciência e o indivíduo devotado a uma causa maior insere-se um sem número de projetos vãos que derrotam a moral dita burguesa fazendo do indivíduo nada mais que um cego lutador, capaz de atos bandidos desprovidos de compaixão, mas justificados pela honradez perante uma causa que o ultrapassa. Eis o fim da sobriedade, da lucidez, da honestidade de conduta e da moral firme de um indivíduo livre.

* Catarina Rochamonte é graduada em Filosofia pela UECE (Universidade Estadual do Ceará), mestre em Filosofia pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), doutoranda em Filosofia pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos); é escritora e jornalista independente.

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O Presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Cardeal Angelo Bagnasco, chamou os representantes do Islã a condenarem em conjunto o ataque terrorista à revista Charlie Hebdo, e advertiu sobre o perigo de que este atentado coloque em risco o valor da liberdade.

Em declarações à imprensa italiana, o Cardeal assinalou que o ocorrido em Paris é “um fato muito grave que deve levar à reflexão não só a Europa, mas ao mundo inteiro”.

Depois do atentado, quatro imãs franceses, assim como a Comissão Islâmica da Espanha, condenaram o ataque. Enquanto que o grupo extremista Estado Islâmico (ISIS) chamou os assassinos de “heróis”.

Nesse sentido, o Cardeal disse que “todos esperamos que o Islã, em seu conjunto, possa condenar publicamente e com extrema clareza este fato muito grave porque nunca se pode fazer violência em nome de uma religião, de nenhuma religião e em nome de Deus”.

O Presidente da CEI recordou que “a liberdade é um grande valor que tem as raízes no coração do homem e do Evangelho” e que foi aperfeiçoada por Jesus. “Não é a invenção de alguma cultura, mas tem as suas raízes no Evangelho, uma liberdade para todos, sem classes, sem propriedade, sem distinções de cultura”.

Entretanto, advertiu que a liberdade corre o risco “de ser colocada em discussão por estes ataques absurdos que todo mundo deve absolutamente condenar, inclusive o mundo muçulmano moderado, o verdadeiro”, por outro lado, assinalou que “o mundo ocidental deve estar muito atento para cultivar os verdadeiros valores porque uma liberdade sem valores é uma liberdade vazia”.

Por sua parte, o Secretário Geral da CEI, Dom Nunzio Galantino, criticou o ataque e disse que “isso deve fazer com que todos reflitam”. “Graças a Deus que todas as partes condenaram o que aconteceu”, indicou, porque o silêncio “poderia ver-se como um tipo de apoio”.

ACI

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 O Secretário Geral da Aliança Evangélica Mundial, Geoff Tunnicliffe, entregou ao Papa Francisco, no Vaticano, o Prêmio “Shahbaz Bhatti pela Liberdade”, instituído em memória ao ministro cristão do Paquistão, Shahbaz Bhatti, assassinado em 2001.

Durante a audiência, na quinta-feira, dia 6, o Pontífice observou que a eficácia do anúncio cristão seria maior se os cristãos não fossem divididos e encorajou as ocasiões de fraternidade e colaboração entre católicos e evangélicos.

A propósito, a Rádio Vaticano entrevistou o secretário-geral Tunnicliffe. Eis o que disse:

Geoff Tunnicliffe:- “Reconhecemos que estamos numa nova era e este é um dado de fato na Igreja Católica. Encontramo-nos continuamente discutindo questões teológicas, mas trabalhamos juntos sobre questões que dizem respeito à humanidade inteira, porque creio que temos responsabilidades neste momento.”

RV: Durante o encontro a Aliança Evangélica Mundial entregou ao Papa o Prêmio “Shahbaz Bhatti pela Liberdade”…

Geoff Tunnicliffe:- “Sim, no momento em que entreguei o Prêmio ao Papa eu estava quase com lágrimas nos olhos porque Shahbaz Bhatti era meu amigo. Shahbaz Bhatti foi o primeiro ministro católico nomeado pelo Conselho dos Ministros no Paquistão. Era o Ministro para as Minorias. E ele lutava em prol das minorias. Estava buscando criar um diálogo no tocante à lei sobre a blasfêmia. Certa vez jantamos juntos e ele disse que na semana anterior o chefe dos talibãs, no Paquistão, o havia chamado e lhe dissera: “Saia do seu trabalho. Você é o número da nossa lista: vamos matar você”. Shahbaz Bhatti era o único Ministro que não tinha um automóvel à prova de balas. Estávamos nos preparando juntos para uma visita ao presidente do Paquistão. Quando voltei para casa, olhei meu correio eletrônico e encontrei um e-mail de Shahbaz. Foi o último e-mail que ele enviou: uma hora depois foi assassinado por causa de seus princípios. Decidimos levar adiante iniciativas em favor da paz e criar um Prêmio anual em sua memória, a ser entregue àqueles que se empenhassem em prol da liberdade, da paz e em favor dos perseguidos. Este ano quisemos entregá-lo ao Papa Francisco em memória de Shahbaz Bhatti, porque em todo o trabalho que o Papa está fazendo nos demonstrou ser uma pessoa de paz.” (RL)