A imagem está presente quase todos os dias – helicópteros e patrulhas da Guarda Costeira americana salvando exilados cubanos em balsas improvisadas que tentam desesperadamente alcançar a costa sul do país. No melhor dos cenários, as embarcações são recolhidas ainda navegando. No pior, desaparecem em algum ponto distante entre os 150 quilômetros infestados de tubarões que separam a terra dos Castros do sonho americano.
Apenas no ano passado, um total de 814 cubanos conseguiram chegar à costa sul dos Estados Unidos, o que representa um aumento de 90% em relação a 2012, de acordo com dados da United States Customs and Border Protection. Até quarta-feira passada, só no mês de outubro, os Estados Unidos já havia detectado a presença de 278 cubanos no mar em direção ao país. E os números não param de aumentar.
As estatísticas da guarda costeira americana mostram que, enquanto em 2008 quase 20% dos barcos utilizados pelos imigrantes eram caseiros – com restos de embarcações, pedaços de madeira e garrafas – no ano passado esse número chegou a impressionantes 87%. Nos Estados Unidos, o alarme foi ativado pelo medo de um novo êxodo de cubanos, ante a frustração com a realidade econômica da ilha. Desde a crise dos balseros na década de 90 – que contou com mais de 30 mil cubanos imigrando para os Estados Unidos de barco – não havia tantos imigrantes em embarcações rústicas como nesses últimos anos.
Na última quarta-feira, um helicóptero da guarda costeira encontrou 33 cubanos a uma distância de 11 km da costa americana a bordo de um bote de remo sobrecarregado. Mark Barney, suboficial da Guarda Costeira, relata que os passageiros saltaram no mar porque a embarcação estava naufragando.
“Sabemos o número de pessoas que chegam e as que nós interceptamos quando estão vindo, mas não sabemos quantas morrem no mar”, reconheceu esta semana Gabe Somma, um porta-voz da guarda costeira.
Para José Azebel, do Institute for Cuban and Cuban-American Studies, a crise é de confiança:
“O que estamos vendo é uma desilusão total com as chamadas reformas econômicas do governo de Raul Castro. Já se passaram seis anos (desde que as reformas foram implementadas) e acho que as pessoas já perceberam que não há intenção ou desejo de grandes mudanças.”
Vale lembra que pisar em solo americano é fundamental para o sucesso da travessia, porque, de acordo com a Lei de Ajuste Cubano, vigente desde 1966, os cubanos que o fazem podem ser radicados. Imigrantes capturados no mar são mandados de volta para Cuba.
A maioria dos cubanos que chegam aos Estados Unidos utilizam a fronteira com o México – foram 16.247 imigrantes por esse caminho apenas nesse ano.