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Nestes dias de grande tensão, pela hipótese cada vez mais certa de uma intervenção militar internacional na Síria, e enquanto se multiplicam os apelos à prudência para a estabilidade de toda a região, alguns tentam discernir sobre possíveis cenários futuros, mas também sobre as lições que podemos tirar do passado.
 
Para isso, o Pe. Georges Noradounguian, reitor do Colégio Pontifício Armênio, aborda algumas questões centrais sobre a crise na Síria e coloca o Ocidente frente às suas próprias responsabilidades.
 
Como está a situação da Síria neste momento?
 
Há mais de 2 anos, começaram as manifestações a favor da liberdade. O governo afirmava que se tratava de um complô.
 
Depois, passamos a outra fase: a das reformas. O governo respondeu a elas de maneira positiva. Hoje, já não se fala das reformas, nem sequer se objeta sobre as que foram feitas; fala-se de um sistema que deve cair para dar espaço a um sistema democrático.
 
Nesta questão, vemos os “democráticos”, que se divertem cortando as cabeças dos opositores, comendo o coração dos soldados fiéis, atirando sobre caminhoneiros que não conhecem as orações da manhã e da tarde. Alguns disseram que o presidente deve sair, mas que o sistema pode permanecer.
 
Hoje, já não se fala de liberdade, de democracia, de reformas, de sistema nem do presidente. Fala-se de um golpe concentrado nos centros do poder político e militar da Síria. O presidente pode ficar, o sistema também, mas não com esta força; é preciso enfraquecê-los.
 
No cristianismo, falamos dos mistérios da fé. Aqui, podemos falar dos mistérios da guerra: não se entende a progressão desta guerra na Síria. A única coisa certa de que se fala e que se promove é o conceito de liberdade, sem especificar por qual liberdade estão lutando. E quando se bombardeia e se massacra os inocentes? Pela liberdade dos mortos ou pela liberdade dos criminosos? Mistérios da guerra.
 
Certamente, combate-se por muitos interesses, e as vidas humanas não entram neste grupo. As vidas humanas são um pretexto para os muitos interesses e, ao mesmo tempo, são a primeira coisa a ser sacrificada em prol de tais interesses.
 
Eu me atrevo a fazer uma pergunta provocativa: se as forças Sírias tivessem atacado o Irã com armas químicas, a reação da comunidade internacional teria sido igual à atual?
 
Sabe-se algo sobre a situação do Pe. Kayyal e dos bispos sequestrados?
 
Sobre o Pe. Kayyal e os bispos sequestrados eu também espero saber algo novo. Diversas instâncias devem nos informar e garantir que esta guerra seja pela liberdade e pela democracia.
 
Mas, apesar de ter todos os meios, todos os contatos com os combatentes no campo de batalha e todos os interesses em dizer-nos algo, não consigo encontrar uma pista a seguir. A única coisa que fazem é armar-se cada vez mais.
 
O Pe. Dall’Oglio também desapareceu na área controlada por aqueles de quem se dizia que defendiam as instâncias democráticas diante de todos. Outro mistério da política: os “democráticos” não conseguem defender nem seus próprios heróis.
 
Parece que o Ocidente está preparando um ataque à Síria. Por que o Ocidente não vê a realidade?
 
Eu não entendo direito o Ocidente. Ele é sensível a conceitos como liberdade, democracia, terrorismo, ditadores; tudo isso é muito louvável.
 
Mas o problema nem sempre está claro para quem, a partir destes conceitos sagrados, abusa muito politicamente, e percebe tarde demais que o apoio dado às guerras pela liberdade e pela democracia era inadequado e levou à obtenção dos objetivos opostos.
 
Desde que se declarou a guerra contra o terrorismo, este último se estendeu ainda mais. Desde que se falou do perigo dos extremistas, estes últimos se multiplicaram e se expandiram por todos os lugares. Desde que se falou dos sistemas ditatoriais, totalitários, passamos dos pequenos ditadores, em menor escala, com consequências negativas limitadas no tempo e no espaço, a ditadores em escala maior, com consequências catastróficas.
 
Há um totalitarismo que, pela força, se impõe sobre os próprios cidadãos, e há totalitarismos que se impõem com a força econômica e militar sobre países e populações inteiras, projetando e financiando guerras infinitas, delimitando linhas vermelhas: o uso de armas químicas ou de destruição massiva.
 
Assim, uma guerra que dura mais de 2 anos e que causou mais de 100 mil vítimas não cria problemas para ninguém e acaba sendo permitida.
 
Qual seria sua mensagem ao Ocidente sobre como agir?
 
O que eu diria ao Ocidente: que faça um sério exame de consciência, recordando as guerras dos últimos 20 anos, e que aprenda a lição. Foram guerras coerentes com seus objetivos e resultados? O Iraque é livre e democrático? Não há mais vítimas?
 
A guerra do Iraque não é a única que deveria ser recordada; eu a citei só como exemplo. As vítimas da guerra no Iraque depois da queda do regime são menos que durante a época do ditador?
 
É claro que não estou defendendo os ditadores. Mas a minha pergunta como cristão é: um milhão de vítimas e a desestabilização de um país são o único preço a ser pago para livrar-se de um ditador?
 
Outra pergunta a ser feita durante este exame de consciência seria sobre o que vem antes: o direito à vida ou o direito à liberdade? Já desperdiçaram tantas guerras, com tantas vidas humanas, por causa da liberdade…
 
O Ocidente não entende por que os cristãos se colocaram do lado do regime, e os enxergam de outra forma. Não sei como ficará a situação dos cristãos quando os rebeldes chegarem ao poder.
 
O senhor poderia nos explicar um pouco a situação dos cristãos e por que eles são favoráveis ao regime?
 
Antes de tudo, quero esclarecer que não existem umas vidas mais valiosas que outras. A vida de todos é valiosa aos olhos do Criador. Sendo assim, os cristãos não têm uma opção melhor, e estão diante desta dura realidade. Onde estão os cristãos da Turquia? Onde estão os cristãos do Iraque? E os do Egito? O que eles estão vivendo?
 
Os cristãos da Síria veem guerras absurdas, mentiras que levam à desestabilização e à destruição dos seus países, e são obrigados a emigrar rumo a destinos desconhecidos para poder recomeçar suas vidas do nada, abandonando seus países, sua história, sua cultura, sua identidade cristã, seu emprego.

Fonte: Aleteia

Pablo J. Ginés

Myroslav Marynovych hoje é vice-reitor da Universidade Católica da Ucrânia. No convulso panorama político ucraniano este não é na atualidade um cargo cômodo, mas alguém como ele, que passou 7 anos em campos de trabalho comunistas e outros três deportado ao Cazaquistão, não se intimida facilmente.

Inclusive, em parte, desejou isso por anos, porque a ele, que era ateu e cético, Deus se revelou no cárcere e no Gullag.

Neto de sacerdote, porém ateu

“Minha família era religiosa”, nos explica em um descanso durante o Encontro em Madri, a grande cidade de ‘Comunhão e Libertação’ na Espanha.

“Meu avô materno foi sacerdote greco-católico e minha mãe criou em casa uma atmosfera de fé simples e limpa, sem fanatismo algum. Ela desejava que eu fosse crente, mas não me pressionava.

Eu assumi o ceticismo ateu em minha juventude, mesmo mantendo respeito com as pessoas religiosas. Não sentia nenhuma necessidade de Deus, vivia bem sim Ele. Porém tinha claro que existia o bem e o mal e uns valores muito firmes, e o tema da gravidade moral sempre tive presente”.

Desta exigência moral chegou seu compromisso com a dissidência e os direitos humanos… o que lhe levaria ao cárcere.

“Sentia que os valores do comunismo eram muito elevados na teoria, mas depois na vida real sempre resultavam feiíssimos. Isso suscitou muitas perguntas em mim… e vi que tudo no sistema comunista era falso”, detalha.

“Tinha 20 anos e perder a auto-estima nessa idade pode deixar vazia toda tua vida. Tinha afinidade pessoal pelos perseguidos e um forte sentido de solidariedade para eles. O regime pedia total lealdade, não bastava que amasses pela metade. Na KGB me disseram bem claro: “se não estás conosco, estás contra nós”. Assim que lhes respondi: “valeu, pois estou contra vós”.

Os dissidentes do grupo de Helsinki

Foi fundador de ‘Helsinki Watch’ na Ucrânia. Em 1977 foi encarcerado e depois deportado. “Eram os anos 70, e o presidente Carter dos Estados Unidos tinha tirado o tema dos direitos humanos do âmbito filosófico e o estava levando à política internacional. Aquilo o acolhemos muitos com entusiasmo.

Em Helsinki, em 1965, os países da OSCE, incluindo a URSS, firmaram um compromisso que falava inclusive de liberdade religiosa e de livre circulação de idéias!

Na União Soviética criamos 5 grupos de “seguimento de Helsinki”. Em 1976 dez dissidentes ucranianos difundiram através de publicações do Ocidente e jornalistas ocidentais, as violações na Ucrânia contra o pacto de Helsinki.

Difundimos os nomes de poetas e escritores presos e pedimos que os libertassem. Não tínhamos ilusões: sabíamos que também nos prenderiam”.

E assim sucedeu: a policia secreta os buscou um a um e os deteve.

“A KGB nos sentenciou por, tecnicamente, difundir propaganda anti-soviética para minar a estabilidade do sistema´. Desses dez dissidentes, oito fomos encarcerados e dois foram expulsos.

Declararam-nos “criminosos muito perigosos”. Sentenciaram-me a 12 anos em campos de trabalho e exílio. Cumpria já 10 anos quando chegou a perestroika de Gorbachov. Não houve nem um dia em que me arrependesse do que tinha feito.

A situação na URSS necessitava de kamikazes, pessoas que se sacrificavam para evidenciar o totalitarismo do sistema. Os dissidentes, naquele país que não era livre, atuavam como pessoas livres! Aquilo chocava com tudo.

Facho místico na KGB

“Minha volta a Deus foi inesperada, não buscava. Em obras literárias tinha lido, antes de meu encarceramento, que Deus às vezes vem para prisioneiros como uma resposta ao seu desespero, inclusive como uma resposta intelectual, mas meu caso não foi assim”, especifica.

A narrativa de Marynovych, a partir deste momento, adquire uma lucidez brilhante, quase doentia, que alguém percebe nos escritos de Dostoiévski quando disseca a alma humana. O que no escritor russo encontramos como literatura, em Marynovych acontece na carne.

“Acabavam de me interrogar na KGB de Kiev, e me tinham devolvido à cela. Ia agitado de parede a parede, refletindo sobre várias questões intelectuais. Entre elas, pensava na unificação da humanidade, em como todos os homens poderiam estar unidos no espiritual.

E então, de repente, vi como um facho de luz. Durante três dias meu estado nessa prisão foi muito estranho: comia, bebia, me asseava, me barbeava…Mas não entendia, nem ouvia nem respondia ao que alguém me dissesse. Ao terceiro dia ouvi um repicar de sinos. E falei. Perguntei ao meu companheiro de cela: “O que é isso? São os sinos da igreja de São Vladimir de Kiev as que soam?”

Ele me disse: “Menos mal, por fim ouves”. Entendi então que fazia três dias que estava sem reagir diante de nada. Nesse momento senti como se se desenrolasse um rolo em meu interior, despregando muita informação, e de repente entendi muitas coisas bíblicas, momentos que conhecia isolados mas agora unia em uma nova cosmovisão.

Senti que já entendia isso, que já o via unido. Desde esse dia, fui outra pessoa, agora religiosa”.

Isso é proibido e uma voz: «reza!»

“Houve outro momento muito especial, que sucedeu dois anos depois, desta vez já no campo de trabalho. Tinha estado dois dias sem comer, em greve de fome reclamando meu direito de levar uma cruzinha.

Tinham arrancado a que tinha. Ao terceiro dia veio um oficial à minha cela e me disse: “de acordo, lhe devolverei sua cruzinha, mas depois de passar 15 dias na cela do castigo”. Para mim era uma grande vitória moral e voltei a comer”

(…) então ouvi uma voz potente, em ucraniano, minha língua natal: “Reza!”, disse essa voz. Estava tão fraco, ali deitado, que não podia nem usar as manos para persignar-me, mas me persignei mentalmente… e num instante recobrei as forças e pulei da cama de um salto, perplexo!

A fórmula se tinha apagado completamente de minha mente. Deu-me medo e me deixou a sensação de ter sabido algo proibido, e senti agradecimento porque se apagou”.

Desde então, a pergunta de que ‘Deus existe’, para mim, já não tem sentido, devido ao fato de que o senti tão forte. Hoje sei que sou um pecador, que deixo de cumprir muitas virtudes, mas precisamente sei que isso são transgressões.

Para mim é importante que o mundo em geral e a civilização européia em particular entenda que estão omitindo a busca da verdade, e que dizendo que querem proteger a liberdade, na realidade muitas vezes danam essa liberdade”.

Inglaterra hoje, como a URSS?

“Choca-me agora o caso da Inglaterra, onde os tribunais dizem que podem despedir a alguém por levar uma cruzinha ao pescoço”, continua este acadêmico.

“Eu, que no cárcere comunista defendi minha cruzinha e pensava no Ocidente como um lugar de tolerância. Em seu momento, a Ilustração lutou contra o monopólio da Igreja e lhe retirou certas funções que não lhe eram próprias, fazendo-lhe voltar à sua missão espiritual.

Mas agora a Igreja é quase perseguida no Ocidente e o monopólio do público concedeu-lhe cosmovisões anti-religiosas. Esse monopólio é tão daninho como o anterior”.

Marynovych admite certa nostalgia da prisão, mais concretamente, da espiritualidade daqueles dias no campo de trabalho.

“No gulag, não nos permitiam nenhuma prática religiosa, era proibido ter bíblia. Passei 15 dias de greve de fome para pedir que me deixassem ter uma bíblia. Não o consegui. Até nos censuravam as cartas que nos mandavam com versículos bíblicos.

O Espírito Santo circulava pela “prisão”. Como não tínhamos acesso ao culto litúrgico, uma pessoa religiosa se concentrava numa consciência profunda de Deus.

Não tinha comunidade cristã com a qual adorar, assim que a alma fazia do sofrimento cotidiano seu templo. Dar a outra face, amar os teus guardas desapiedados e cínicos… era nosso culto.

Não há melhor lugar para o sentimento cristão que esses campos de trabalho! Não tinha sacerdotes que te pudessem dar alento. Estavas a sós diante de Deus. Que dias benditos aqueles! Que bênção para os que passavam a provação com êxito!

Podia ver com novos olhos a promessa de Cristo: bem-aventurados os perseguidos! Saber que estavas condenado só pela verdade consagrava e enchia de significado cada dia na prisão. Era um apoio sublime, mas só ao sair da prisão o entendi. Aqui fora tens de justificar tua existência com obras”.

“Hoje vivo uma tensão entre a fé pura e os rituais. Na prisão não tinha vida ritual e minha fé era toda mística, espiritualidade. Aceito os rituais, a liturgia de minha tradição greco-católica.

Nos domingos vou à missa greco-católica. Mas houve uma época em que eu acusava minha mãe de ter uma religião com demasiado ritual.

Eu queria espiritualizar a minha mãe. Ela me disse: “conceda-me a possibilidade de crer à minha maneira, e não à tua”. Sua simplicidade me chocou e não mais pretendo impor minha visão aos demais”.

Cristãos, corrupção e consumismo

“Os valores culturais cristãos chocam com a sociedade ucraniana de hoje. Recordo que um estudante escreveu uma magnífica tese sobre a doutrina social da Igreja, com muito êxito.

Dois meses depois, o encontro na rua e me disse: “fui pedir trabalho em tal lugar e me disseram que se pagasse 2.000 dólares o lugar era meu”. Suborno! Choque de valores.

Muitos hoje perderam a fé e a esperança. Creem em Deus, mas vão à Igreja e dizem ao Senhor: “bom, já vistes, isto é assim, não posso mudar em nada”. Não têm esperança! Talvez antes, mesmo que houvesse mais pobreza econômica, tinha mais limpeza moral.

A Ucrânia não é pior nem melhor que outras nações, mas o que mais me dói é ver que não creem que a mudança é possível, que não creem que possam melhorar. Sem esta esperança nas pessoas, os políticos seguirão sendo todo-poderosos”.

“Na Universidade Católica olhamos com reserva para todas as ideologias. Somos acadêmicos, não tomamos partido. Mas o país está preso nessas ideologias.

Uns são de ideologia quase comunista; outros de um nacionalismo ideológico; outros, ideólogos liberais… e todos eles suspeitam de nós, da universidade católica, porque não somos dos seus. ]

“O sistema comunista mudou a moral absoluta cristã pela bolchevique, que dizia: “a moral é tudo aquilo que é útil para o proletariado”.

Ao cair o Muro e a União Soviética, nos encontramos com o dogma da moral pós-moderna que diz: “a moral é só o que é útil para mim”. Como universidade católica promovemos a restauração dos valores autênticos.

É uma provocação para muitos pós-comunistas que hoje têm cargos na administração pública e apoiam a desordem presente, que querem que a desordem dure sempre porque lhes beneficia. A universidade, por exemplo, é “zona livre de corrupção” num sistema quase totalmente corrupto.

É uma bênção do Senhor trabalhar num lugar onde se respeita a dignidade humana, mas em breve poderá precisar da solidariedade dos cristãos ocidentais para defender-nos de quem quiser nos intimidar”.

O Papa Francisco gravou uma videomensagem por ocasião da iniciativa “Dez Mandamentos, Dez Praças” realizada em várias praças italianas. A iniciativa fez sua etapa em Milão.

“Os Dez Mandamentos não são restrições à liberdade, mas um sim ao Amor para defender o ser humano e guiá-lo para a verdadeira liberdade”, disse o Papa Francisco, neste sábado, através da videomensagem transmitida por volta das 21h40 locais, às pessoas que se encontravam na Praça da Catedral de Milão.

Por ocasião do 40º aniversário de nascimento da Renovação Carismática na Itália, o movimento eclesial promoveu esse evento junto com o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização e a Conferência Episcopal Italiana.

O projeto faz parte de uma releitura dos Dez Mandamentos e foi inaugurado em setembro passado às vésperas do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização e por ocasião do Ano da Fé, envolvendo milhares de pessoas nas praças de Roma, Nápoles, Verona e Milão.

A mesma viodeomensagem será retransmitida nas praças de Bari, Gênova, Cagliari, Florença, Palermo, Bolonha e Turim, nos eventos previstos até outubro.


Segue, na íntegra, o texto da vídeomensagem do Papa Francisco.

Mensagem do Papa Francisco à iniciativa “Dez Mandamentos – Dez Praças”

Boa noite a todos!

Estou contente em unir-me a vocês que participam nas principais praças da Itália, desta releitura dos Dez Mandamentos. Um projeto denominado “Quando o Amor dá sentido á tua vida…”, sobre a arte de viver seguindo os Dez Mandamentos dados por Deus não apenas a Moisés, mas também a nós, aos homens e às mulheres de todos os tempos.

Graças aos responsáveis pela Renovação no Espírito Santo – são notáveis os da Renovação no Espírito Santo, parabenizo-os – que organizaram esta louvável iniciativa em colaboração com o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização e com a Conferência Episcopal Italiana.

Obrigado a todos aqueles que com generosidade contribuíram para a realização deste projeto especial no Ano da Fé. Perguntemo-nos também: Que sentido tem para nós estas Dez Palavras? Que coisa falam ao nosso tempo agitado e confuso que parece querer diminuir a importância de Deus?

1 – Os Dez Mandamentos são um dom de Deus. A Palavra “mandamento” não está na moda; parece, ao homem de hoje, algo negativo, a vontade de alguém que impõe limite, que coloca obstáculos à vida. E infelizmente a história, também recente, está marcada por tiranias, por ideologias, por lógicas que impuseram opressão, que não procuraram o bem do homem, mas o poder, o sucesso, o proveito.

Mas o Dez Mandamentos vêm de um Deus que nos criou por amor, por um Deus que estreitou uma aliança com a Humanidade, um Deus que quer apenas o bem do homem. Tenhamos fé em Deus! Confiemos Nele! Os Dez Mandamentos nos indicam um caminho para realizar, e constituem também uma espécie de “código ético” para a construção de sociedade justa, à medida do homem. Quantas desigualdades no mundo! Quanta fome de comida e de verdade! Quanta pobreza moral e material se originam da recusa de Deus e do colocar no seu lugar tantos ídolos! Deixemo-nos guiar por estas Dez Palavras que iluminam e orientam quem procura paz, justiça e dignidade.

2Os Dez Mandamentos indicam um caminho de liberdade, que encontra plenitude na lei do Espírito escrita não em taboas de pedra, mas no coração (cfr 2 Cor 3,3): ali estão escritos os Dez Mandamentos! É fundamental recordar quando Deus quando Deus deu ao Povo de Israel, por meio de Moisés,os Dez Mandamentos. No Mar Vermelho o povo havia experimentado a grande libertação; havia tocado com a mão o poder e a fidelidade de Deus, do Deus que os tornou livres. Agora, o mesmo Deus, sobre o Monte Sinai, indica a seu povo e a todos nós o percurso para permanecer livres, um percurso que é impresso no coração do homem, como uma Lei moral universal (cfr Ez 20, 1-17; Dt 5, 1-22). Não devemos ver os Dez Mandamentos como limitações à liberdade, não, não é isso, mas devemos vê-los como indicação para a liberdade! Eles nos ensinam como evitar a escravidão à qual nos reduzem tantos ídolos que nós mesmos construímos – experimentamos isso tantas vezes na história e ainda hoje o experimentamos – ; eles nos ensinam a nos abrir a uma dimensão mais ampla que a material, a viver o respeito pelas pessoas, vencendo a avidez do poder, do possuir, do dinheiro, e ser honestos e sinceros em nossas relações, a proteger toda a criação e nutrir nosso planeta com ideais elevados, nobres, espirituais.

Seguir os Dez Mandamentos significa sermos fiéis a nós mesmos, à nossa natureza mais autêntica e caminhar para a liberdade verdadeira que Cristo ensinou nas Bem-Aventuranças ( cfr MT 5, 3-12.17; Lc 6, 20-23).

3 – Os Dez Mandamentos são uma lei de amor. Moisés subiu ao monte para receber de Deus as taboas da Lei. Jesus realiza o percurso oposto: o Filho de Deus se abaixa, desce em nossa humanidade para nos indicar o sentido profundo destas Dez Palavras: Ama o Senhor com todo o coração, com toda a tua alma, com toda a tua força e o próximo como a si mesmo (cfr Lc 10,27). Isto é o sentido mais profundo dos Dez Mandamentos: o mandamento de Jesus que contem em si todos os mandamentos, o Mandamento do Amor. Por isso eu digo que os Dez Mandamentos são Mandamentos de Amor.

Aqui está o coração dos Dez Mandamentos: o Amor que vem de Deus e que dá sentido à vida, amor que nos faz viver não como escravos, mas como filhos verdadeiros, amor que anima todas as relações: com Deus, com nós mesmos – muitas vezes nos esquecemos – e com os outros. A verdadeira liberdade não é seguir nosso egoísmo, nossas paixões cegas, mas é a de amar, de escolher o que é bem e todas as situações. Os Dez Mandamentos não são um hino ao “não”, mas ao “sim”. Um “sim” a Deus, o “sim” ao Amor, e porque digo “sim” ao Amor, digo “não” ao não Amor, mas o “não” é uma conseqüência daquele “sim” que vem de Deus e nos faz amar.

Redescubramos e vivamos as Dez Palavras de Deus! Digamos “sim” a estas “dez vias de amar” aperfeiçoadas por Cristo, para defender o homem e conduzi-lo á verdadeira liberdade! A Virgem Maria nos acompanhe neste caminho. De coração concedo minha Bênção sobre vocês, sobre suas famílias, sobre vossas cidades.

Obrigado a todos! (MJ/CAS)

Nilo Fujimoto

O site do jornal francês Le Monde, de conhecida tendência socialista, em sua edição do dia 15 de abril último, resolveu “medir a temperatura” dos manifestantes que compareceram às marchas contra o projeto de “casamento” homossexual e obteve como resposta uma quente e outra fervendo.

Com uma chamada na primeira página perguntando aos leitores “Você participou da mobilização contra o ‘casamento homossexual’? Conte-nos.1, o “Le Monde” recebeu, em menos de duas horas, centenas de testemunhos dentre os quais foram escolhidos alguns para serem  entrevistadas via telefone ou e-mail.

Não menos que surpresos constataram que “todos, ou quase, dizem considerar-se vítimas de ‘desprezo’ por parte do governo. E falaram sobre o tempo que eles têm dedicado nas últimas semanas a sua causa.

Em muitos casos a mobilização que ocorre na França desde 2012 contra o projeto de “casamento” homossexual – recentemente aprovado no Senado – tem sido o batismo de fogo de muitos dos que nunca haviam se manifestado por coisa alguma. Como declarou Philippe, 34, advogado em Lyon, um cristão praticante.

“Um dever pela França”

Ao passo que para Clémence, 28, católica praticante, professora de história e geografia em um colégio de Seine-Saint-Denis, engajada na organização da “Manif Pour Tous” (Manifestação para Todos) escreveu em seu depoimento enviado ao  Le Monde: “Mesmo que eu me canse de dedicar muito do meu tempo livre, faço isso como um dever pela França”.

“O fundo do meu pensamento”

Por e-mail Esther, 36, de Bordeaux manifesta: “Esse compromisso de lutar contra esse projeto tem diversos sentidos para o futuro e ocupa o fundo do meu pensamento da  manhã à noite, e me toma facilmente três horas por dia seguindo as ações nas redes sociais ou discussões com os amigos a favor ou contra, ou ainda participações nos atos realizados”.

“Ignorados, humilhados”

Sob o subtítulo, escreve o Le Monde:

“Em quase todos os depoimentos, a palavra ‘desprezo’ surge com regularidade.‘É claro que nos sentimos ignorados, humilhados, caricaturizados e desprezados’, explica Irène, que se diz jornalista.Somos apresentados como fascistas extremistas, o que é ridículo quando a gente se encontra no meio de um desfile de mães de família e de pessoas que saem do trabalho. Os manifestantes, nós todos, estamos chocados pelo fosso que separa nossas intenções da imagem transmitida pela mídia e a classe política. Estou convencida de que a mobilização ganhará amplitude até que a opinião dos manifestantes seja levada a sério. Era a única exigência no início: um debate verdadeiro. O fato de atirar 700 mil petições no lixo fez o copo transbordar’.

“Verdadeira polícia do pensamento”

“Existe uma verdadeira polícia do pensamento em nosso país”, escreve Axelle, 25. “Se eu digo que penso que, na minha opinião, vale mais para uma criança ter um pai e uma mãe, sou fascista, de extrema-direita, identitária, católica fundamentalista! Não, senhores jornalistas, senhores políticos, vocês estão enganados.

“Esse governo fez de mim um militante”

Não menos relevante é o testemunho de Ghislain, 29, diretor de inovação em uma empresa start-up na região parisiense. Ele conta que “nunca havia participado de uma manifestação, política ou sindical, antes de 17 de novembro de 2012″, dia da primeira “Manifestação para Todos”, em Paris. Para Ghislain, 13 de janeiro foi “o choque do número, da massa, da mobilização. Um militante nasceu naquele dia”, afirma. “Eu compreendi naquela tarde que o governo nos minimizaria e nos humilharia o quanto pudesse, mas que nada mais deteria nossa mobilização”. Ele resume assim seu percurso: “Esse governo fez de mim um militante”. Ele fez uso de folhetos, blog, conta no Twitter… dia, noite e fim de semana.

“Chassez le naturel, il revient au galop”2

Assim é atualmente a França do iluminismo, da Revolução Francesa, da trilogia Liberdade, Igualdade, Fraternidade que em nome da razão ousaram atentar contra altar e trono e eis que voltam a galope o bom senso e os ideais da cristandade, que nunca morreram.

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Fonte:

1 – http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/le-monde/2013/04/23/o-governo-hollande-me-transformou-em-militante-diz-frances-contrario-ao-casamento-gay.htm

2 – “Chassez le naturel, il revient au galop” (expulsai o natural que ela retorna a galope) expressão tirada da literatura francesa especificamente da peça “Le Glorieux” de Destouches (Phillippe Néricault) que se inspirou na ideia de Horácio (ano 50 antes de Cristo): “Naturam expelles furca, tamen usque recurret”.

Dom Estevão Bettencourt (OSB)

«Como pode o Pai do Céu, que é infinitamente bom, condenar o homem a um inferno eterno, quando os pais na terra não castigam seus filhos com punições sem fim ? Certamente Deus há de perdoar aos pecadores que se acham no inferno».

A dificuldade acima provém de uma concepção errônea do inferno: supõe, seja este um castigo que Deus na hora do juízo concebe mais ou menos arbitrariamente para atormentar a criatura; em tal caso, a sentença divina poderia ser reformada ou até cancelada por anistia, à semelhança do que se dá nos tribunais humanos…

Na verdade, a condenação ao inferno não depende propriamente de um veredito divino pronunciado após a morte do pecador; é, antes, a consequência muito lógica de certos princípios que caracterizam a existência do ser humano, de modo que se pode dizer que, anteriormente a uma sentença divina positiva, já o pecador lavrou sua sorte infernal; não é preciso que Deus tome alguma deliberação especial para que o inferno se torne realidade para o pecador.

É o que vamos recordar sumariamente, remetendo o leitor para quanto já foi dito sobre o inferno em «P. R. 3/1957. qu. 5.

1. Todo homem traz em si uma aspiração inata e incoercível ao Bem Infinito, que é Deus (todos querem ser bem- aventurados sem que possam assinalar limites a essa sua sede de bem-aventurança).

2. Para conseguir a felicidade a que aspiram, Deus outorgou às criaturas humanas o livre arbítrio. Este lhes confere dignidade própria, fazendo que se movam, e não sejam simplesmente movidas, em demanda do Fim Supremo.

3. Se o homem, utilizando devidamente a sua liberdade de arbítrio, adere ao infinito ou a Deus, compreende-se que esta atitude se lhe torne fonte de alegria e felicidade imensas; pois então convergem para o mesmo objetivo as aspirações inatas de sua natureza humana e a opção consciente da vontade livre.

4. Admita-se, porém, que a criatura humana livremente preste adesão, e adesão total, a um bem criado (dinheiro, gozo, fama…), afastando-se conscientemente de Deus…

De tal atitude não pode deixar de resultar tremendo dualismo ou penosa dilaceração dentro da alma humana; a sua natureza, feita para o Bem Infinito, continua a bradar por Deus, enquanto a vontade adere a um bem finito.

Convém aqui lembrar que a adesão a um bem finito capaz de provocar tal dilaceração é chamada «pecado mortal», o qual só se dá quando as três seguintes condições são simultaneamente preenchidas:

a)              haja matéria grave,

b)              haja pleno conhecimento de causa (ato da inteligência),

c)              haja vontade deliberada e consciente de aderir ao bem finito.

Caso estas três condições sejam preenchidas, toda a personalidade humana (por suas faculdades características: o intelecto e a vontade) está empenhada.

5. Enquanto o pecador é peregrino neste mundo, pode mitigar o drama que ele traz em seu íntimo: ocupando-se com as tarefas e as diversões da vida cotidiana, vai encobrindo aos seus próprios olhos a dura realidade de sua alma, e esquece, ao menos parcialmente, a dilaceração de sua personalidade.

6. Suponha-se, porém, que tal indivíduo venha a morrer nessa situação: sua alma se separa do corpo e deixa de usufruir, da parte das criaturas sensíveis, os paliativos que a consolavam neste mundo.

A consequência será clara: tal alma continuará a trazer dentro de si o desejo profundo e espontâneo de se saciar no Bem infinito; tal desejo está impregnado na natureza humana e é incoercível; nenhuma criatura humana pode ser concebida sem essa aspiração ou sem esse sinete característico. A mesma alma, porém, tomará consciência clara da monstruosidade de seu estado: sim, verificará que a sua vontade livre terá dirigido toda a personalidade do indivíduo para um bem limitado e lacunoso, incapaz de a satisfazer; ao finito terá dado a adesão que devia ter prestado ao infinito. E não lhe será possível «esquecer» essa situação, pois não terá em torno de si algum dos objetos sensíveis que lhe serviam de paliativo neste mundo.

Daí redunda a mais profunda dilaceração de que seja capaz a criatura: de um lado, haverá o brado espontâneo da natureza, anterior a qualquer deliberação, brado voltado para Deus, o Infinito; do outro lado, existirá deliberada entrega da vontade a uma criatura, ao finito; estes dois clamores estarão em luta entre si, dividindo ou retorcendo (por assim dizer) a alma.

7. Tal é o estado em que, logo após a morte, entra naturalmente a alma de quem tenha pecado gravemente. Vê-se então como, antes mesmo que Deus profira alguma sentença sobre ela, essa alma já traz dentro de si o inferno, ou o maior tormento possível. O juízo póstumo que o Senhor formula a seu respeito, não vem a ser senão o reconhecimento de tal situação; nada de novo induz na sorte que tal alma ocasionou para si.

Mas porque é que o Senhor reconhece e não muda essa ordem de coisas vigente na alma do réu ?

O Senhor não a muda, porque só o faria forçando ou violentando a livre deliberação da criatura. Ora Deus, que dotou de personalidade livre o ser humano, não lhe retira a dignidade assim outorgada; antes, respeita-a plenamente.

Seja lícito lembrar de novo o seguinte: todo pecado grave supõe, da parte do homem, claro conhecimento do mal e pleno desejo de o cometer; supõe, portanto, uma tomada de posição consciente e livre de toda a personalidade humana frente à mais séria das questões, que é a questão do Fim Último. Não se poderá, por conseguinte, tachar de pecado mortal qualquer ação que tenha aspecto de culpa grave, pois nenhum observador humano é capaz de penetrar o íntimo das consciências para lá discernir as possíveis atenuantes da culpabilidade. Não nos é lícito, por conseguinte, em caso algum supor ou afirmar que determinada pessoa está no inferno. Se a justiça humana leva em conta os estados de obsessão e diminuída responsabilidade dos criminosos, muito mais a Justiça Divina os considera, de modo que ninguém padece a triste sorte do inferno sem realmente se ter encaminhado para ela.

8. Contudo talvez insista alguém: afinal, Deus, que é sumamente misericordioso, não poderia perdoar ?

— Sim ; Deus poderia perdoar, e de fato, perdoa às suas criaturas, desde que, da parte destas, uma condição se verifique: haja repúdio do pecado ou arrependimento; em caso contrário, isto é, se a criatura não o quer receber, vão se torna o perdão. Ora acontece justamente que nenhuma das almas que morrem em pecado mortal e, por conseguinte, nenhum dos réprobos do inferno se quer arrepender e voltar para Deus, por muito tormentosa que seja a sua situação. Com efeito, a alma só muda de disposições ou se arrepende quando unida ao corpo; é só mediante a atividade dos sentidos externos e internos que ela pode conceber novos conhecimentos e desejos; por conseguinte, quando se separa do corpo ou dos sentidos, a alma humana se fixa irrevogavelmente na última disposição que teve durante esta vida (amor ou ódio a Deus). O pecador, portanto, que morra com aversão a Deus e apego apaixonado à criatura, para o futuro sentirá, de um lado, a tremenda dilaceração que este afeto acarreta, mas, de outro lado, não desejará em absoluto voltar para Deus, desfazendo-se do seu amor desregrado ao finito; não o desejando, está claro que o Senhor não o forçará.

Vê-se assim algo de aparentemente paradoxal, mas sumamente verídico e significativo: não há quem esteja no inferno e daí queira sair; os réprobos sofrem, mas não querem abandonar o estado que lhes motiva o sofrimento. Se algum deles pedisse perdão, Deus não lho negaria.

Esta afirmação é ilustrada pela parábola do filho pródigo (cf. Lc 15, 11-32). Não há dúvida, tal trecho do S. Evangelho visa incutir a suma confiança em Deus cuja misericórdia surpreende a expectativa humana; o Senhor perdoa ultrapassando todas as categorias da benevolência humana. Contudo a parábola bem mostra que esse perdão só é outorgado à criatura que, cheia de arrependimento o deseje e peça: «Pai, pequei contra o céu e contra Ti; já não sou digno de ser chamado teu filho» (Lc 15,18), exclamou o herói da narrativa. Ora foi justamente o fato de se ter reconhecido indigno que lhe mereceu ser recebido como filho bem-amado!… Oxalá os homens que se afastam de Deus, procedessem até as últimas instâncias como o filho pródigo! Então seriam sempre tratados como este…

9. Deve-se observar outrossim que o estado aflitivo do réprobo não tem fim, porque a alma humana é, por sua natureza, imortal (não consta de partes que se desgastem e decomponham); cf. «P.R.» 2/1957, qu. 5.

Deus poderia, a rigor, aniquilar as criaturas que estão no inferno. Ele não o faz, porém, pois a existência desses seres tem seu sentido no conjunto do universo. Note-se bem que o centro ou o ponto de referência de todas as criaturas não é o homem, mas Deus; todas as criaturas são chamadas a dar glória a Deus; portanto, desde que realizem esta finalidade, sua existência tem valor no grande quadro do universo. Ora o pecador sofre no inferno justamente porque reconhece que Deus é sumamente bom e que ele voluntàriamente se incompatibilizou com o Sumo Bem (se não reconhecesse a Bondade de Deus, o réprobo não sofreria). Vê-se então que o tormento mesmo do pecador é proclamação da perfeição e da santidade de Deus; destarte a existência do réprobo não é vã, mas preenche sua finalidade primária e suprema.

A modalidade de que essa existência, para o respectivo sujeito, é infeliz, torna-se secundária; Deus fez o homem para ser, e ser sempre (claro está que… à semelhança do Exemplar Divino, o qual é sempre feliz) ; a modalidade de ser feliz, porém, Deus a quis tornar dependente da livre opção do homem; este a pode frustrar. Contudo, o bem fundamental que é o ser, existir, Deus o quis tomar a seus exclusivos cuidados; o Criador o dá irrevogàvelmente; não o retira, mesmo que o homem não cumpra a sua parte, abusando do dom do Benfeitor. O homem, por conseguinte, existirá sempre, como Deus planejou bondosamente, mesmo que, em consequência de uma livre opção sua, não exista feliz. Sua existência, mesmo nessas circunstâncias, não carecerá de significado e valor.

10. Talvez ainda nos aflore à mente uma última dúvida: Deus, sabendo que tal ou tal criatura se perderia no inferno, não poderia ter deixado de a criar? Não deveria ter feito apenas criaturas que usassem da sua liberdade para o bem?

Reflitamos um pouco sobre o valor dessa «sedutora» solução do problema. «Liberdade» diz, por seu conceito mesmo, variedade e multiplicidade de realizações; é natural, portanto, que a liberdade humana se afirme na história com essa multiplicidade de formas que a caracterizam; se tal variedade não se verifica, tem-se estranha liberdade, … liberdade artificialmente canalizada numa só direção; ora, isto não sendo normal, não se poderia pretender que Deus procedesse assim. O essencial é que nenhuma das criaturas livres, mesmo usando plenamente da sua liberdade, deixe de ser uma expressão da santidade do Criador; ora isto se verifica também nos réprobos, os quais, por todo o seu ser, no inferno, proclamam a Perfeição e, em particular, a Bondade do Criador.

O Senhor não criou seres livres que artificialmente só optassem por um alvitre, como também não criou flores de papel, mas criou flores naturais; é somente o homem que, não podendo produzir flores naturais, fabrica flores artificiais, flores que não murcham,… mas flores que parecem ser flores, quando, na verdade, não o são!

11. Outras questões atinentes ao inferno já foram abordadas em «P. R.» 3/1957, qu. 5. O que interessava, na presente questão, era mostrar que o inferno nada tem de arbitrário da parte de Deus; não é um castigo que o Criador estipule atendendo a um código de penas e sanções, à semelhança do que se dá na justiça humana, código naturalmente reformável… O inferno, em verdade, não é senão a última consequência da violação dos princípios que definem a estrutura do ser humano: quem voluntariamente ingere veneno, morre, simplesmente porque contradisse as leis que regem a vida física do homem…

Dom Estêvão Bettencourt (OSB)

Hugh Hewitt

O Papa Francisco é o terceiro de três campeões da liberdade Hugh Hewitt

Karol Wojtyla conheceu os regimes nazista e comunista, e ajudou a provocar o desmoronamento do Império Comunista.

Joseph Ratzinger cresceu sob os nazistas, também, e passou a maior parte de sua vida ao lado de seu amigo João Paulo II na batalha mundial contra os Soviéticos e suas ramificações em várias fachadas intelectuais através do mundo.

Agora surge Jorge Mário Bergoglio, que também passou muitos anos de sua vida em duplo conflito com fascistas e comunistas. Christopher Hitchens disse-me na última entrevista que fiz com ele que o ditador argentino General Jorge Videla foi o mais perverso dos muitos homens perversos que o escritor tinha conhecido. O novo Papa teve portanto que lutar contra o pior dos piores, justamente como seus imediatos predecessores.

As batalhas do século 20 nos entregaram um novo experimentado líder para os capítulos iniciais do novo século. Francisco vem liderar uma Igreja que está realmente cansada e ferida por aquelas épicas batalhas, e essas feridas têm ficado mesmo mais dolorosas. Um corpo enfraquecido é vulnerável a tais coisas. Como qualquer Americano que pode ler sabe, a Igreja Católica Romana na América e em vários lugares do mundo foi invadida por grandes males que estão ainda sendo expurgados e expiados por novos líderes como o Cardeal Timothy Dolan, de New York, ou os arcebispos Charles Chaput de Philadelphia e José Gomez de Los Angeles.

Uma vez que J.R.R. Tolkien era um Católico, deixem-me tomar emprestado uma referência ou duas de “O Senhor dos Anéis” para ilustrar os desafios que afrontam Francisco.

O mal nunca dorme. Logo que foi desalojado na fantasia épica ele começou a procurar um novo lar, e ocupou Mordor. Eu não imaginaria representar os riscos de Tolkien com o Tom Bombadil da mídia moderna, Stephen Colbert, mas o universo do épico do inglês está sempre em nossa frente.

O Bem luta contra o Mal, e mesmo quando o Bem ganha – como em 1945 e 1989 – o Mal convoca reforços e abre uma nova frente para renovar a batalha.

Muitas e muitas pessoas estão abençoadamente vivendo em seus vários condados, atacando o aquecimento global e vários outros pretensos monstros, mas os horrores reais estão lá fora, e a Igreja Católica Romana tem, pela terceira vez em sequencia, evocado um líder que conhece exatamente a profundeza do mal.

Eu passei a maior parte da última semana entrevistando lideres intelectuais da Igreja Católica Romana na América: George Weigel, e padres como Robert Barron, Joseph Fessio, C. John McCloskey e Robert Sirico. Cada um deles estava surpreso mas também feliz com a escolha do Papa Francisco, confiantes em sua sabedoria íntima (todas essas entrevistas estão disponíveis na página de “Transcriptis” do site HughHewitt.com).

Minha última entrevista desta semana foi com o Arcebispo Chaput, que disse do novo papa que Francisco era “um homem extraordinário” e uma “extraordinária escolha”, e que ninguém deveria temer que a teologia da libertação tivesse penetrado na corte de São Pedro pela América do Sul.

“Esquerdistas argentinos da Teologia da Libertação não gostavam dele como bispo, e realmente tentaram impedir que ele fosse promovido a arcebispo de Buenos Aires”, Chaput disse-me. “Então, eles devem estar especialmente perturbados agora”.

Mas não os defensores da liberdade religiosa. Como com João Paulo II e Bento XVI, eles têm em Francisco um confiável, resistente, experiente e corajoso líder.

Hugh Hewitt é um professor de direito na Universidade Chapman e um radialista que atualiza diariamente seu blog em HughHewitt.com.

ACI

Rosa Maria Payá e o porta-voz do Movimento Cristão Liberação (MCL), Regis Iglesias, advertiram que a reforma migratória que entrou em vigência esta segunda-feira em Cuba é uma medida “cosmética” que não reconhece o direito dos cubanos a entrar e sair livremente do país, mas estabelece uma série de requisitos que permitem ao Governo manter a faculdade de decidir quem pode viajar e quem não.

Embora a nova lei migratória tenha anulado a permissão de saída que devia tramitar todo cubano para sair do país, ela nega o direito a obter o passaporte aos profissionais CASO não consigam “a autorização estabelecida, em virtude das normas dirigidas a preservar a força de trabalho qualificada”. Além disso, deixa aberta a possibilidade de negar este documento “por outras razões de interesse público”, inciso que afeta os opositores políticos do regime castrista.

Em declarações ao grupo ACI, Regis Iglesias assinalou que “definitivamente estes não são direitos, são algumas concessões das quais vão estar marginadas muitas pessoas que se oponham ao regime”.

Esta reforma, acrescentou, “não é pelo direito universal das pessoas entrarem e sairem livremente de seu próprio país. Estas são medidas que o regime usará em cada momento e em cada caso em específico para beneficiar-se disso”.

Nesse sentido, explicou que “a armadilha desta lei é que a pesar ter suprimido o trâmite da permissão de saída, deixa em mãos do Ministério do Interior, da Segurança do Estado em última instância, a possibilidade de outorgar ou não o passaporte. O que faz o regime é economizar regime papel: estão tirando de cima deles um trâmite burocrático longo”.

O porta-voz do MCL recordou o recente caso de Rosa Maria Payá, a quem o Governo negou a permissão para viajar ao Chile quando já haviam sido anunciadas as novas medidas. “Quando todos os cubanos possam entrar em Cuba, quando todos os exiliados possam voltar para nosso país e sejam respeitados todos os direitos, então sim as leis migratórias e as leis em geral estarão favorecendo e defendendo os direitos de todos os cidadãos”, afirmou.

Por sua parte, a filha do líder opositor falecido no ano passado, Oswaldo Payá, também afirmou que a nova lei “segue violando o direito a entrar e sair livremente do país”, pois “condiciona o passaporte a uma série de requisitos”.

Nesse sentido, recordou que o Governo a impediu de viajar ao Chile violando a antiga lei de migração. “Legalmente não havia nenhuma razão para não me deixarem sair. Eles violaram a lei e suas palavras foram ‘você não pode viajar, quando a situação mude nós lhe diremos, e não temos por que explicar a razão pela queal você não pode viajar’”.

“Eu cumpro com todos os requisitos para sair com esta nova lei como o fazia também com a antiga, mas eles fazem o que querem com a lei. Se tiverem que violá-la para me impedir de sair, o farão”, afirmou.

Outro aspecto criticado da reforma é o preço do passaporte. Antes o documento custava 55 CUC (moeda forte, equivalente ao dólar). Agora vale 100 CUC –o segundo mais caro na América Latina-, em um país onde o salário mensal médio não chega a 20 dólares. “O custo termina privando os cubanos”, denunciou ainda Iglesias.


Fonte: Rádio Vaticano

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos publicou ontem as decisões em quatro casos relativos à liberdade de consciência e de religião que afetam empregados no Reino Unido.

Trata-se em dois casos da possibilidade de usar uma pequena cruz no pescoço no local de trabalho, e nos outros dois casos do direito a fazer objeção de consciência diante da celebração de uma união civil entre pessoas do mesmo sexo e aconselhamento matrimonial para casais homossexuais .

Num só caso a Corte decidiu em favor do requerente. A este propósito, Dom Dominique Mamberti, Secretário para as Relações da Santa Sé com os Estados, concedeu uma entrevista à Rádio Vaticano…

***

Esses casos mostram que as questões relativas à liberdade de consciência e de religião são complexos, particularmente numa sociedade europeia, caracterizada pelo aumento da diversidade religiosa e relativa agudização do secularismo. É real o risco de que o relativismo moral que se impõe como uma nova norma social possa minar os fundamentos da liberdade individual de consciência e de religião.

A Igreja pretende defender a liberdade individual de consciência e de religião em todas as circunstâncias, mesmo diante da “ditadura do relativismo”. Por isso, é necessário ilustrar a racionalidade da consciência humana em geral, e da ação moral dos cristãos em particular.

Quando se trata de questões moralmente controversas, como o aborto ou a homossexualidade, deve ser respeitada a liberdade de consciência. Em vez de ser um obstáculo para o estabelecimento de uma sociedade tolerante no seu pluralismo, o respeito pela liberdade de consciência e de religião, é uma sua condição.

Falando na semana passada, ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, Bento XVI sublinha que: para salvaguardar eficazmente o exercício da liberdade religiosa, é essencial respeitar o direito à objecção de consciência. Essa “fronteira” da liberdade toca princípios de grande importância, de caráter ético e religioso, enraizados na própria dignidade da pessoa humana. São como as “paredes estruturais” de qualquer sociedade que se queira realmente definir como livre e democrática. Consequentemente, proibir a objeção de consciência individual e institucional, em nome da liberdade e do pluralismo, abriria pelo contrário – paradoxalmente – as portas à intolerância portas e a um nivelamento forçado.

A erosão da liberdade de consciência testemunha também uma forma de pessimismo em relação à capacidade da consciência humana de reconhecer o que é bom e verdadeiro, para o benefício apenas da lei positiva, que tende a monopolizar a determinação da moralidade.

É também papel da Igreja lembrar que cada homem, qualquer que seja o seu credo, é dotado pela sua consciência da faculdade natural de distinguir o bem do mal e de agir, depois, consequentemente. É nisto que reside a fonte da sua verdadeira liberdade.

D. – Recentemente, a missão da Santa Sé junto do Conselho da Europa publicou uma nota sobre a liberdade e a autonomia institucional da Igreja. Quer ilustrar-nos o seu contexto o seu contexto?

Atualmente, a questão da liberdade da Igreja nas suas relações com as autoridades civis está em exame no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, em dois casos que envolvem a Igreja Ortodoxa da Romênia e a Igreja Católica.

Trata-se dos casos Sidicatul ‘Pastorul cel Bun’ contra a Roménia e Fernandez Martinez contra a Espanha. Nesta ocasião, a Representação permanente da Santa Sé junto do Conselho da Europa redigiu uma nota sintética na qual expôs o magistério sobre a liberdade e autonomia institucional da Igreja Católica …

D. – Qual é o problema nestas duas causas?

Nestas duas causas, o Tribunal europeu deve estabelecer se a autoridade civil respeitou a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, tendo recusado de reconhecer um sindicato profissional de sacerdotes (para o caso da Roménia), e recusado de contratar um professor de religião que publicamente professava posições contrárias à doutrina da Igreja (na questão espanhola). Em ambos os casos, os direitos à liberdade de associação e à liberdade de expressão foram invocados para forçar comunidades religiosas a agir contra o próprio estatuto canônico e contra o magistério.

Além disso, estes casos põem em causa a liberdade da Igreja para operar de acordo com as suas regras, para não se submeter a outras normas civis que não sejam aquelas necessárias para o respeito do bem comum e da justa ordem pública.

A Igreja sempre teve de defender-se para tutelar a sua autonomia diante do poder civil e das ideologias. Hoje, nos Países ocidentais, torna-se importante saber como a cultura dominante, fortemente caracterizada pelo individualismo materialista e pelo relativismo, pode compreender e respeitar a natureza específica da Igreja, que é uma comunidade fundada na fé e razão.

D. – Como a Igreja vive esta situação?

A igreja está consciente da dificuldade, em determinar, numa sociedade pluralista as relações entre as autoridades civis e as diversas comunidades religiosas, relativamente às exigências da coesão social e do bem comum. Nesse contexto, a Santa Sé chama atenção sobre a necessidade de conservar a liberdade religiosa na sua dimensão coletiva e social. Essa dimensão corresponde à natureza essencialmente social, tanto da pessoa, quanto do fenômeno religioso, de um modo geral.

A Igreja não pede que as comunidades religiosas sejam zonas de não-direito, pelo contrário quer que sejam reconhecidas como espaço de liberdade em virtude do direito à liberdade religiosa, no respeito da justa ordem pública. Esta doutrina não é reservada à Igreja católica, os critérios que dali derivam são fundados na justiça e são, portanto, de aplicação geral. Além disso o princípio jurídico de autonomia institucional das comunidades religiosas é largamente reconhecido por aqueles Estados que respeitam a liberdade religiosa, assim como pelo direito internacional. A mesma Corte europeia dos direitos do homem enunciou-o em diversos casos importantes. Outras instituições afirmaram também esse princípio. É o caso da OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) ou ainda do Comité dos direitos do homem da Nações Unidas respectivamente no documento final de 19 de Janeiro de 1989 da Conferencia de Viena e na Observação geral, N° 22 sobre o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião, de 30 de Julho de 1993. É útil recordar e defender esse princípio de autonomia da Igreja e do poder civil.

D. – Como é que se apresenta essa Nota?

A liberdade da Igreja será mais respeitada quanto melhor for compreendida pelas autoridades civis, sem preconceitos. Será, portanto, necessário explicar como é que é concebida a liberdade da Igreja. A representação permanente da Santa Sé, junto do Conselho da Europa redigiu, a propósito, uma nota sintética que explica a posição da Igreja à volta de quatro princípios: a distinção entre Igreja e comunidade política; a liberdade no que concerne ao Estado; a liberdade no sentido da Igreja e o respeito pela justa ordem pública. Depois de ter ilustrado estes princípios, a Nota cita, para além disso, extractos importantes da Declaração sobre a liberdade religiosa “Dignitatis Humanae” e da Constituição pastoral “Gaudium et Spes” do Concilio Vaticano II.

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Na nota da Representação permanente da Santa Sé junto do Conselho da Europa sublinha-se, antes de mais que “a Igreja reconhece a distinção entre a Igreja e a comunidade política, tendo, cada uma delas, objetivos diferentes; a Igreja não deve ser confundida, de modo nenhum, com a comunidade politica e não está ligada a nenhum sistema político. A comunidade política deve velar pelo bem comum e garantir que, no mundo, as pessoas possam viver uma vida tranquila e pacifica”.

A distinção entre Igreja e comunidade política – explica a nota – baseia-se na palavra de Cristo: “Dar portanto a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). “Nos seus respectivos campos, a comunidade política e a Igreja são independentes uma da outra e autónomas”. Todavia, “ não se podem ignorar mutuamente” porque “de muitos modos, servem os mesmos homens”. Portanto, desempenharão esse serviço de modo ainda mais eficaz para o bem de todos quando “ procurarem ulteriormente uma sã cooperação entre eles”, em conformidade com as palavras do Concílio Vaticano II (cfr Gaudium et Spes, N° 76).

Em segundo lugar, prossegue a nota, “a Igreja não reivindica privilégios, mas sim o pleno respeito e a tutela da liberdade de exercer a sua missão numa sociedade pluralista. Essa missão e essa liberdade, a igreja recebeu-as de Cristo e não do Estado. O poder civil deve sempre respeitar e proteger a liberdade e a independência da Igreja.

Para além disso “a Igreja está consciente do facto de que algumas religiões e ideologias podem oprimir a liberdade dos seus fieis”. A esse propósito, “a Igreja reconhece o valor fundamental da liberdade humana” e “reconhece em cada homem, uma criatura dotada de inteligência e de livre vontade. A Igreja vê-se a si mesma como espaço de liberdade e prescreve normas para garantir o respeito dessa liberdade. Portanto, todos os actos religiosos para ser válidos exigem a liberdade de quem os actua”. Cada pessoa – prossegue a nota – tem o direito de contestar o Magistério ou as prescrições e as normas da Igreja. Em caso de desacordo, toda e qualquer pessoa pode exercer o recurso previsto pelo direito canónico e também interromper as relações com a Igreja. As relações dentro da Igreja, todavia, são essencialmente espirituais, não é de competência do Estado entrar nessa esfera e resolver tais controvérsias”.

Finalmente, para a Igreja, as comunidades religiosas não são áreas de “não-direito”, “em que as leis do Estado já não são aplicadas. A Igreja reconhece a legitima competência da autoridade e das jurisdições civis para assegurar a manutenção da ordem pública”.

Nas últimas duas décadas, um estranho fenômeno vem ganhando corpo na América Latina. Na medida em que o discurso democrático avança, a liberdade de expressão caminha pela contramão.

Em nome de proteger o cidadão, alguns atores buscam reduzir o acesso à democracia em países como Bolívia, Equador, Venezuela e agora também na Argentina, onde entraria em vigor a chamada Lei de Mídia, que proíbe, por exemplo, que um mesmo grupo reúna jornais, rádios, televisões aberta e a cabo, internet e telecomunicações.

O Brasil, ao contrário, trafega na mão correta, com a liberdade se afirmando sobre as tentativas de tutela ou cerceamento da mídia.

As razões são múltiplas. Entre nós, o sentimento de liberdade é profundamente enraizado, e a presença mídia, além de inspirar forte confiança, é constante. Números apurados pelo Instituto Palavra Aberta, entre maio e setembro deste ano, na pesquisa Pluralidade dos Meios de Comunicação, são claros e eloquentes.

Segundo ela, existem, atualmente, no mercado nacional 514 emissoras de TV aberta, 126 prestadoras de TV por assinatura, 9.479 emissoras de rádio, 2.768 jornais, 5.579 revistas e 904 sites e portais de internet.

A produção anual de jornais e revistas alcança 1,5 bilhão de exemplares -são 1.500 editoras de diferentes estaturas. Há 203 TVs educativas, sob a responsabilidade governamental e de instituições sem fins lucrativos, inclusive a TV Brasil, criada em 2007, de alcance nacional. São 464 emissoras de rádios educativas e 4.421 rádios comunitárias.

É fácil constatar que existe diversidade de meios de comunicação. No Brasil, de 2005 a 2010, contra a tendência mundial, a circulação de jornais e revistas aumentou cerca de 25%. O espaço para expansão é grande, pois a classe média aumenta.

Como se não bastasse a amplitude de universo, convém lembrar que há paulatina desconcentração geográfica dos veículos, com ascensão das mídias locais e regionais.

O quadro não deriva apenas dos números. Tem desdobramentos no aperfeiçoamento dos veículos de comunicação que buscam evoluir na seleção e conteúdo das notícias e a definir, em códigos de ética, responsabilidades e participação dos jornalistas na elaboração do noticiário.

É um processo natural, impulsionado pela liberdade democrática, por um lado, que torna o leitor mais crítico e exigente. Por outro, emerge com a revolução da internet e da convergência de meios, que, guardando as proporções no tempo, pode ser comparada à invenção da imprensa de tipos móveis, há quatro séculos.

Se com os tipos móveis os custos de impressão caíram em flecha, o mesmo acontece agora com a indústria editorial e audiovisual.

Nada disso significa que o caminho da mídia brasileira não seja pontilhado de ameaças. O Brasil vive um processo político diferente dos vizinhos da América Latina, mas está longe de não ser vulnerável às ameaças à liberdade de informar.

Sem contar, é claro, com as queixas de que as notícias beneficiam mais as corporações de mídia do que o cidadão, quando acontece justamente o contrário. Quanto maior a circulação de informação, maior a capacidade de decisão do cidadão.

Há constante fluxo de pressões no sentido de regular a mídia, que precisam ser superadas, não só no âmbito da liberdade de expressão, mas também, na liberdade comercial. Uma não existe sem a outra. A liberdade comercial alimenta o fôlego financeiro da mídia independente.

São obstáculos que precisam ser vencidos para que o país siga na mão certa e termine por influenciar positivamente seus vizinhos. Para que isso aconteça, discurso e prática da democracia precisam caminhar lado a lado. Significa reconhecer que o cidadão sabe decidir e que, quanto maior for a liberdade dele, melhor será a sociedade brasileira.

PATRICIA BLANCO, 41, é presidente do conselho diretor do Instituto Palavra Aberta.

Notícias Gospel Prime

Além de não terem o direito de viajar sem o consentimento de seus responsáveis masculinos e proibidas de dirigir, as mulheres da Arábia Saudita são agora monitoradas por um sistema eletrônico que controla os movimentos se elas atravessarem as fronteiras.

Os responsáveis masculinos pelas mulheres da Arábia começaram a receber mensagens de texto em seus celulares informando quando as mulheres sob sua custódia deixam o país, mesmo que estejam viajando juntos.

Manal al-Sherif, a ativista que se tornou símbolo de uma campanha lançada no ano passado, exortando as mulheres sauditas a desafiarem a proibição de dirigir, começou a espalhar a informação no Twitter, depois que foi alertada por um casal.

O marido, que estava viajando com sua esposa, recebeu uma mensagem de texto das autoridades de imigração informando-o que sua mulher havia deixado o aeroporto internacional de Riad.

“As autoridades estão usando a tecnologia para monitorar as mulheres”, disse o colunista Badriya al-Bishr, que criticou o “estado de escravidão em que as mulheres são mantidas” no pais muçulmanos ultraconservador. “Esta é uma tecnologia usada para o atraso, e assim manter ae mulheres presas”, disse Bishr.

Para que uma mulher saia da Arábia Saudita sem permissão de seu guardião masculino, ele deve dar o seu consentimento ao assinar o que é conhecido como a “folha amarela” no aeroporto ou no posto de fronteira. A nova tecnologia emite o alerta após a leitura de um chip instalado no passaporte que se comunica com a internet. Há rumores para a futura implantação de chips similares sob a pele, algo não confirmado pelo governo saudita.

A medida das autoridades sauditas foi rapidamente condenada nas redes sociais, embora o acesso do mundo árabe a esses meios ainda seja bem restrito.

A Arábia Saudita, onde fica Meca, vive sob uma interpretação radical da sharia, ou lei islâmica. É o único país do mundo onde as mulheres não têm permissão para dirigir. O reino impõe regras rígidas que restringem a convivência entre os sexos. Pela lei, as mulheres são obrigadas a usar um véu e um manto preto, ou abaya, que as cobre da cabeça aos pés, exceto para as mãos e o rosto.

ACI


Ofelia Acevedo e Rosa María Payá, viúva e filha de Oswaldo Payá, não participarão da audiência que Bento XVI dará aos líderes da Internacional Democrata Cristã (IDC) porque o Governo cubano não lhes deu permissão para sair da ilha, apesar de já terem o visto para a Itália.

Nos dias 21 e 22 de setembro se realizará em Roma (Itália), um encontro dos líderes da IDC e foram convidadas Ofelia Acevedo e Rosa María Payá, membros também do Conselho Coordenador do Movimento Cristão Liberação (MCL).

Entretanto, toda pessoa que queira sair de Cuba necessita uma permissão do Governo comunista, e um dos requisitos é um convite enviado do estrangeiro. Dias atrás, a filha de Oswaldo Payá declarou ao grupo ACI que neste caso a documentação foi apresentada na primeira semana de setembro pelo presidente da IDC, Ferdinando Casini.

Isto foi negado várias vezes pelo Governo de Raúl Castro. “O governo não nos deixa sair de Cuba até agora”, informou ontem Rosa María através de sua conta no Twitter.

Por sua parte, Carlos Payá, irmão do líder católico falecido em 22 de julho, disse ao grupo ACI que as autoridades comunistas “disseram somente verbalmente que não tinha chegado nenhuma carta de convite”.

Mesmo assim, o MCL estará presente no evento da IDC através de Carlos Payá e Regis Iglesias, ambos residentes na Espanha.

Em declarações ao grupo ACI, Carlos Payá disse que denunciarão neste encontro a persistência do Governo cubano de não deixar sair a Ofelia Acevedo e Rosa María.

Também reiterarão seu pedido para que se realize uma investigação internacional que esclareça as circunstâncias em que faleceram Oswaldo e o ativista Harold Cepero.

Como se recorda, a versão oficial é que ambos morreram em um acidente automobilístico por excesso de velocidade, mas a família do fundador do MCL tem informação de que o veículo estava sendo empurrado por outro até que foi tirado da estrada.

Carlos Payá indicou que em Roma também vão expor sobre a continuidade do trabalho que realiza o MCL e o Caminho do Povo, um documento que chama os cubanos a somar-se pela transição pacífica da ilha à democracia e que promove “a realização de um plebiscito para que o povo decida soberanamente sobre as mudanças” que Cuba precisa.

“O pedido de mudanças nas leis e todos os projetos e iniciativas pacíficas que visam conseguir a democracia, os direitos, a liberdade, a reconciliação e a soberania popular. A participação dos cidadãos neste caminho de mudanças mediante a demanda de seus direitos e o dialogo respeitoso da diversidade”, expressa o documento.

Folha de São Paulo

O governo do ditador cubano, Raúl Castro, decidiu silenciosamente levantar o veto a que rádios da ilha executem músicas de artistas exilados e contrários ao regime.

Nunca publicada oficialmente, a “lista negra”, de cerca de 50 nomes, incluía artistas como a “rainha da salsa”, Celia Cruz (1925-2003), a cantora pop Gloria Estefan e o saxofonista de jazz Paquito D’Rivera –todos deixaram o país e se tornaram críticos veementes da ditadura cubana.

Alguns fora desse grupo, como o cantor romântico espanhol Julio Iglesias, também integraram a lista por sua posição contrária ao regime.

A revogação do veto, também não anunciada de modo oficial –o que equivaleria a reconhecê-lo–, foi confirmada ao site da rede britânica BBC por funcionários das principais rádios de Cuba, segundo os quais a lista dos “50 vetados” valia até dias atrás.

Agora, dizem os funcionários, os diretores das estações podem fazer a programação incluindo os artistas banidos –em reuniões, eles foram informados de que a lista já “cumprira seu propósito” e sua extinção fazia parte da abertura de Cuba ao mundo.

Para o jornalista cubano Reny Martínez, a medida sinaliza uma “nova flexibilidade em relação à cultura” por parte do Partido Comunista cubano, que governa a ilha desde 1959. “Algo mudou no partido”, disse ele à BBC.

Analistas veem a ação como ligada às reformas de sentido liberalizante que Raúl Castro vem adotando desde 2008, com estímulos à atividade econômica privada.

Segundo a blogueira oposicionista Yoani Sánchez, a revogação do veto segue o mesmo padrão de outras “reformas de Raúl” –não proibir o que o governo cubano não consegue mais conter.

“As músicas desses artistas já eram vendidas no mercado informal há tempos. E  as tecnologias, como CDs, DVDs e pen drives, permitem aos cubanos acesso a essas vozes proibidas”, escreveu.

Marketing francês

Luiz Felipe Pondé ( Folha de São Paulo)

A Revolução Francesa (1789-1799) é um fenômeno de marketing. Foi importante para medirmos a febre de um país sob um rei incompetente e não para nos ensinar a vida cotidiana em democracia.

Nada há na Revolução Francesa que tenha a ver com liberdade, igualdade e fraternidade. Essas palavras são apenas um slogan que faz inveja a qualquer redator publicitário.

Esse slogan, aliado ao que os revolucionários fizeram (mataram, roubaram, violentaram, enfim, ideologizaram a violência em grande escala), é uma piada.

É uma aula de marketing político: todo mundo cita a Revolução Francesa como ícone da liberdade.

O marketing da revolução ficou a cargo da filosofia. Primeiro caso na história de um fato claramente ideologizado para vermos nele outra coisa. Os “philosophes” do Iluminismo contribuíram muito para essa matriz do marketing político de todos os tempos, a Revolução Francesa.

Começa com a criação da ideia de que existe uma coisa chamada “povo que ama a liberdade” para além da violência que ele representa quando desagradado.

“Povo” é uma das palavras mais usadas na retórica democrática e mais sem sentido preciso.

A única precisão é quando há violência popular ou quando muitos morrem de fome por conta da velha miséria moral humana.

As “cheerleaders” da primavera árabe nas ruas de Damasco, Trípoli, Cairo e Tunis. Já imaginam os árabes lendo Rousseau, Marx e Foucault (que, de início, “adotou” a revolução iraniana).

Dançam para esses movimentos como se ali não estivessem em jogo divisões religiosas atávicas do próprio islamismo, quase total ausência de instituições políticas, tribalismo atroz, grupos religiosos fanáticos muito próximos do crime organizado, para não falar do óbvio terrorismo.

De vez em quando, o “povo” mata, lincha, violenta e destrói cidades, a casa dos outros e o diabo a quatro.
Mas como (e isso é um dado essencial do efeito do marketing da Revolução Francesa) pensamos que o mundo começou em 1789, achamos que o “povo” nunca destruiu tudo o que viu pela frente antes da queda da Bastilha.

A historiadora americana Gertrude Himmelfarb, em seu livro essencial “Caminhos para a Modernidade”, publicado no Brasil pela É Realizações, chama o iluminismo francês de “ideologia da razão”, com toda razão.

Os “philosophes” criaram um fantasma chamado “la raison”, que seria a deusa dos revolucionários.

Se no plano bruto “la raison” justificaria assassinatos nos tribunais populares (que deixam as “cheerleaders” dos movimentos populares !!), no plano sofisticado do pensamento, seria a única capaz de entender e organizar o mundo desde então.

Esse fantasma da “la raison” nada tem a ver com a necessária faculdade humana de pensar para além dos desejos e medos humanos, que é muito dolorosa e rara.

Ela é uma deusa mítica que ficaria no lugar do Deus morto, dando a última palavra para tudo.

Foram muito mais os britânicos e americanos que nos ensinaram a vida cotidiana em democracia. Mas o iluminismo anglo-saxão não foi marqueteiro.

Nas palavras de Himmelfarb, os britânicos, com sua “sociologia das virtudes”, buscavam compreender como as pessoas e as sociedades geram virtudes e vícios. Entre elas, a benevolência e o hábito de respeito à lei comum.

Os filósofos americanos criaram uma “política da liberdade”, nas palavras de Himmelfarb.

Eles associavam a qualidade de pensadores a de homens políticos práticos que investigavam a liberdade, não como uma ideia abstrata, mas como algo a ser preservado pela lei da tentativa contínua do homem em destruí-la em nome de qualquer delírio.

Daí as instituições americanas serem as mais sólidas, até hoje, em termos de defesa dos indivíduos contra os delírios do governo e do Estado.

Os britânicos e os americanos nos ensinaram a liberdade que conhecemos e que dá a você o direito de dizer e pensar o que quiser nos limites da lei.

É hora de deixar nossos alunos lerem mais Locke, Hume, Burke, Tocqueville, Stuart Mill, Oakeshott, Berlin, os federalistas e antifederalistas, Rawls, Strauss e não apenas Rousseau, Marx e suas crias.