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O então Cardeal Jorge Mario Bergoglio celebra uma Missa durante a V Conferência em Aparecida .Foto:YouTube

O Arcebispo de Taranto (Itália) que serviu como sacerdote e Bispo no Brasil durante mais de 25 anos, Dom Filippo Santoro, recordou em um artigo publicado no jornal da Conferência Episcopal Italiana “Avvenire” o papel desempenhado pelo então Cardeal Jorge Mario Bergoglio –hoje Papa Francisco– quando derrotou os postulados marxistas da teologia da libertação na Conferência do Episcopado Latino-americano em Aparecida no ano de 2007.

Dom Filippo, antes de ser nomeado Arcebispo de Taranto por Bento XVI  em 2011, foi Bispo de Petrópolis, cidade no interior do Estado do Rio de Janeiro, e antes disso Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro no Brasil, país ao que chegou como sacerdote em 1984.

No seu artigo titulado “A libertação que vem do Evangelho”, o Prelado italiano assinalou que “o presidente da comissão para a redação do documento final de Aparecida era o Arcebispo de Buenos Aires, o Cardeal Bergoglio. Com um estilo sapiencial, afirma na introdução do documento de Aparecida: ‘O que nos define não são as circunstâncias dramáticas da vida, nem os desafios da sociedade ou as tarefas que devem empreender, mas acima de tudo o amor recebido do Pai graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo’”.

Dom Santoro assegurou que a ambiguidade no discurso da teologia da libertação “está superada na conferência de Aparecida, tanto na estrutura geral do documento, como na presença viva da fé em cada momento de seu desenvolvimento; desde olhar a dura realidade até o julgamento sobre ela e a praxe conseguinte”.

“Trata-se, entretanto, de uma ambiguidade que continua presente, porque o Papa Francisco, em sua recente viagem ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, no encontro com a presidência do CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano)” apresentou “algumas tentações contra o discipulado missionário, falava da ‘ideologização da mensagem evangélica’”.

Nesse encontro, o Papa advertiu aos Bispos latino-americanos contra a tentação do “reducionismo socializante”, o qual disse “é a ideologização mais fácil de descobrir. Em alguns momentos foi muito forte. Trata-se de uma pretensão interpretativa em base a uma hermenêutica segundo as ciências sociais. Abrange os campos mais variados, do liberalismo de mercado até a categorização marxista”.

Dom Filippo recordou que algumas pessoas criticaram o documento final de Aparecida por começar com um hino de louvor a Deus, o que tinha sido expressamente desejado pelo Cardeal Bergoglio.

O Arcebispo italiano assinalou que ao ordenar-se assim, “o esquema do documento valoriza a tradição da teologia e da pastoral latino-americana, mas, ao mesmo tempo, ressalta a perspectiva da fé”.

“Esta, claramente, não estava ausente, mas em certos desenvolvimentos se dava por descontada, ao ter que preocupar-se, sobretudo pela gravidade de uma situação social cheia de conflitos e, sobretudo pelo ‘clamor dos pobres’”, indicou.

Em 24 de julho deste ano, no marco da JMJ do Rio, o Papa Francisco visitou o Santuário Nacional de Aparecida no estado de São Paulo. Ali, ante 200 mil almas, o Santo Padre pronunciou um discurso no qual recordou quão importante é para ele este santuário dedicado à Padroeira do Brasil. Ao despedir-se da multidão, o Santo Padre prometeu voltar em 2017, quando se comemora os 300 anos do encontro da Virgem e 10 anos da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e o Caribe.

Fonte: ACI

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Entrevista concedida pelo substituto da Secretaria de Estado, Dom Giovanni Angelo Becciu, a Gian Guido Vecchi – “Corriere della Sera” de 23 de setembro de 2013.

Dom Angelo Becciu.

Um discurso muito duro, excelência, não?

“É, sim. Estes eram discursos que talvez fossem mais aceitos, mais acolhidos, em 1968. Agora, pelo contrário…”. Sorri o arcebispo Angelo Becciu, substituto e, portanto, “o número dois” da Secretaria de Estado.  No séquito de Francisco percebe-se a coragem de um Papa que nada contra a corrente.

“Alguém gritou ao Santo Padre: és único, és único! Foi clara a tua crítica a um Sistema econômico e financeiro no qual prevalece o ídolo do dinheiro e se está disposto a tudo, a sacrificar os direitos fundamentais, por causa do lucro”.

O Papa que chega do Sul do mundo é sensível às injustiças…

“É claro. Ele nunca adotou a teologia da libertação, entendida no sentido ideológico, foi severo com quem quis transformar a Igreja numa ONG. Isto, porém, lhe dá mais autoridade ainda para gritar contra as injustiças do capitalismo selvagem”.

Uma herança da “teologia popular” argentina?

“A verdadeira teologia da libertação é aquela que também a Igreja adotou e aprovou: a teologia que coloca Deus em primeiro lugar e procura defender os pobres, fazendo disso expressão da solidariedade e do empenho dos católicos”.

Tem quem acuse: é pauperismo.

“O discurso dele é cristológico: a salvação total diante de Jesus. Quem tem, deve compartilhar e investir: o empreendedorismo inteligente que age da forma adequada. Falar de pauperismo empobrece o discurso. É a doutrina social da Igreja: o dinheiro não pode ser a finalidade”.

Com as nomeações da Cúria, os diplomatas voltam à primeira linha…

“Egoísticamente, me conforta… Também na Igreja, houve uma onda contra os núncios… O Papa escolheu pessoas e considerou a sua preparação; é um modo de fazer a Igreja dar um respiro internacional, como indicou o Concílio”

Fonte: Fratres in Unum

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Em umas breves palavras durante o encontro com os sacerdotes da diocese de Roma (Itália), cidade da que é Bispo, o Papa Francisco confirmou pessoalmente que não apoia a teologia da libertação na versão que representa o sacerdote peruano Gustavo Gutiérrez.

O vaticanista Sandro Magister, no seu blog em italiano Settimo Céu, explica que o Santo Padre se distanciou de Dom Müller em uma breve, mas contundente observação feita durante o momento de perguntas e respostas.

“O encontro era a portas fechadas”, relata Magister e descreve como “sério e agudo”, o comentário do Papa Francisco sobre a teologia da libertação, que passou despercebido à imprensa, incluindo meios do Vaticano.

“Na formulação de uma das cinco perguntas expostas ao Papa e ao falar da centralidade dos pobres na pastoral, um sacerdote fez referência, em positivo, à teologia da libertação e à posição compreensiva ante esta teologia, do Arcebispo Gerhard Müller”, relata Magister.

Mas, “ao escutar o nome do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Papa Francisco nem esperou terminar a pergunta e disse: ‘isto quem pensa é Müller, isto é o que ele pensa’”, narra o Vaticanista italiano.

A afirmação do Santo Padre ganha mais importância logo depois de ter recebido, na quinta-feira passada, em audiência o sacerdote peruano Gustavo Gutiérrez, considerado um dos pais da teologia da libertação, um encontro realizado a pedido do Arcebispo Müller.

Sobre o Padre Gutiérrez, no sábado, 14 de setembro o Arcebispo de Lima e Primado do Peru, Cardeal Juan Luis Cipriani Thorne, assinalou que ainda tem colocações que deve retificar.

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O vaticanista Sandro Magister advertiu que o livro escrito por Dom Gerhard Ludwig Müller – Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – junto com o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, não pode ser considerado como uma reconciliação entre o magistério da Igreja e a teologia da libertação, pois esta corrente ideológica foi severamente criticada pelo Papa Francisco e seus predecessores.

Em um artigo publicado no Espressonline.it, o vaticanista se referiu ao livro “Do lado dos pobres. Teologia da libertação, a teologia da Igreja”, publicado em 2004 na Alemanha sem suscitar um sentimento especial, mas cuja “reimpressão italiana foi saudada por alguns como uma mudança histórica, como se fosse a assinatura de um tratado de paz entre a Teologia da Libertação e o Magistério da Igreja”.

No texto, Magister recordou que Müller foi aluno e admirador de Gutiérrez, e que a sua nomeação por Bento XVI como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé causou surpresa, tendo em conta que o então Cardeal Joseph Ratzinger, quando era responsável pelo dicastério, publicou em 1984 e 1986 as duas instruções com as que João Paulo II submeteu a Teologia da Libertação a uma crítica muito severa com a certeza de que suas “graves separações ideológicas” traem “a causa dos pobres”.

“Mas evidentemente -indicou Magister- Ratzinger considerava aceitável a leitura que Müller fazia das posições de Gutiérrez, já que não apenas o fez prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, como lhe confiou também o cuidado da edição completa de suas obras teológicas, que em alemão já chegou quase na metade da impressão”.

Entretanto, advertiu o vaticanista, para Dom Müller a teologia da libertação deve contar-se “entre as correntes mais significativas da teologia católica do século XX”, tal como escreve no livro a publicar-se; onde afirma que “somente através da teologia da libertação a teologia católica pôde emancipar-se do dilema dualista do mais aqui e do mais além, da felicidade terrestre e da salvação ultraterrena”.

A posição de Francisco

Em seu artigo, Magister advertiu que “a frase do Papa Francisco: ‘Sonho com uma Igreja pobre e para os pobres’ foi assumida por muitos como a coroação desta absolvição da Teologia da Libertação”, um pouco afastado da realidade.

“O próprio Jorge Mario Bergoglio não ocultou jamais seu desacordo com aspectos essenciais desta teologia. Seus teólogos de referência jamais foram Gutiérrez, nem Leonardo Boff, nem Jon Sobrino, mas o argentino Juan Carlos Scannone, que elaborou uma teologia, não da libertação, mas ‘do povo’, centrada sobre a cultura e a religiosidade das pessoas comuns, em primeiro lugar dos pobres, com sua espiritualidade tradicional e sua sensibilidade pela justiça”, recordou.

Nesse sentido, assinalou que um ano depois da publicação do livro de Gutiérrez e Dom Müller, o então Arcebispo de Buenos Aires expressou que “com a queda do império totalitário do ‘socialismo real’, essas correntes [de pensamento] ficaram esvanecidas no desconcerto, incapazes de um replanejamento e de uma nova criatividade. Sobreviventes por inércia, embora ainda existam hoje aqueles que as proponham anacronicamente”.

“Na avaliação de Clodovis, o irmão de Leonardo Boff -indicou Magister-, o acontecimento que significou o adeus da Igreja Católica latino-americana ao que restava da teologia da libertação foi a Conferência Continental de Aparecida, no ano de 2007, inaugurada por Bento XVI pessoalmente, e com o seu protagonista, o cardeal Bergoglio”.

Clodovis Boff, que passou de expoente da teologia da libertação a um de seus críticos mais incisivos, advertiu em 2008 que “o erro ‘fatal’” desta corrente “é colocar o pobre como ‘primeiro princípio operativo da teologia’, substituindo Deus e Jesus Cristo”.

“A ‘pastoral da libertação’ converte-se em um braço entre tantos da luta política. A Igreja se assimila a uma ONG e assim se vazia também fisicamente, já que perde operadores, militantes e fiéis. Os ‘de fora’ experimentam pouca atração por uma ‘Igreja da libertação’, porque para a militância já contam com diversas ONGs, enquanto que para a experiência religiosa têm a necessidade de muito mais que uma simples libertação social”, indicou Clodovis.

Nesse sentido, Magister acrescentou que “o risco de que a Igreja se reduza a uma ONG é um sinal de alerta que o papa a França lança repetidamente. Seria enganoso se esquecer disso, ao realizar hoje a releitura do livro de Müller e Gutiérrez”.

Fonte:ACI


Rodrigo Constantino

O programa “Globo Repórter” dessa sexta-feira (16 de Agosto de 2013) mostrou que todo tipo de família é o máximo, a coisa mais linda do mundo. “Família é aquilo que cada um diz que é”, afirmou a psicóloga entrevistada.

Mães sem pais, pais sem mãe, pai solteiro sozinho, vários agregados misturados vivendo sob o mesmo teto, casal separado super amiguinho onde o ex tem a chave da casa dela (e os filhos, por algum motivo, vivem alimentando a ideia de que eles podem reatar), tudo apresentado pela Zileide Silva. Bem progressista e moderno.

A única formação que ficou parecendo ultrapassada, retrógrada, reacionária, chata e careta é a de papai, mamãe e filhos. Revolução cultural gramsciana? Imagina… Para quem não conhece bem o que seja a estratégia de Gramsci para a tomada do poder pelos comunistas, recomendo uma resenha que escrevi em 2009 do ótimo livro do saudoso General Coutinho sobre o assunto. Abaixo, alguns trechos:

Muitos preferem acreditar inclusive no óbito da ideologia socialista depois da queda do Muro de Berlim e da União Soviética. Doce ilusão! O moribundo apenas recuou um pouco, fez algumas plásticas superficiais, mudou a embalagem, mas continua bastante vivo.

As idéias de Gramsci serviram justamente para esta mudança tática, para a adaptação dos socialistas à nova realidade. Mas a meta continua a mesma: conquistar o poder e criar o “novo homem” e o “novo mundo”, onde a necessidade é coisa do passado burguês, as classes desaparecem e todos vivem felizes para sempre.

Pode parecer incrível para alguns que esta utopia ainda possa conquistar tantos adeptos. Mas basta um olhar mais atento em volta para constatar que isso é fato: o socialismo ainda encanta muita gente. E com os instrumentos estratégicos fornecidos por Gramsci, o perigo aumenta exponencialmente.

[…]

Será criado na sociedade um novo senso comum, que irá destruir a capacidade individual de bom senso. Alguns velhos conceitos podem ser preservados se forem “instrumentais”, bastando aprimorá-los para contribuírem também para a formação da nova mentalidade. Os meios de comunicação social (imprensa, radio e televisão) serão os principais canais de difusão do novo senso comum. Além destes, o setor editorial, a cátedra, o magistério, a expressão artística e o meio intelectual tradicional serão importantes veículos dessa transformação. Assim como a estratégia atribuída a Goebbels no nazismo, os argumentos serão repetidos ‘ad nauseam’, através de uma “orquestração”.

O sistema defensivo da burguesia deverá ser neutralizado. Entre as principais instituições alvos, estão os partidos políticos, o parlamento, a classe empresarial, a Igreja, as forças armadas, o aparelho policial e a família. Como explica o autor, “o empreendimento de neutralização é complexo e é conduzido pelo amplo trabalho psicológico, político e ideológico que realiza o esvaziamento do moral do elemento humano das organizações burguesas, de tal modo que elas perdem o seu valor funcional e ético perante a sociedade civil”. Serão utilizadas táticas como o “denuncismo”, isolamento, constrangimento e inibição, patrulhamento, penetração ideológica e infiltração de intelectuais. Trata-se de uma batalha longa, que exige paciência, mas que cria as condições necessárias para a tomada do poder.

[…]

Ao término do livro, o autor oferece alguns sinais do avanço da estratégia gramscista no Brasil, que não podem fugir aos olhares mais atentos. Os mais jovens não notam a mudança cultural porque não conheceram os valores antigos, e os mais velhos encaram as modificações como “naturais” ou “espontâneas”, ignorando a “penetração cultural bem conduzida pelos intelectuais orgânicos.

Em primeiro lugar, temos o conceito de “politicamente correto”, que passou a dominar qualquer debate e ofuscar a livre opinião ou independência intelectual. Trata-se de “socialização” da opinião, e o patrulhamento ideológico é uma poderosa arma nesse sentido.

Além disso, o conceito de legalidade está sendo substituído pelo de “legitimidade”, esvaziando as normas e leis em troca das “reivindicações justas”. Invadir terras ou saquear estabelecimentos passam a ser atos “legítimos”, pois representam um passo na luta pela “justiça social”.

Existem outros exemplos, como o ataque aos valores familiares tradicionais, o uso manipulado da questão racial para negar a tolerância multirracial burguesa, o uso dos “direitos humanos” como proteção ao criminoso, identificado como vítima da “sociedade burguesa”, enquanto a vítima real é tratada com indiferença por ser identificada geralmente como burguês privilegiado(…)  a utilização da “opinião pública” como critério de verdade maior que a própria lógica;

O diretor do Instituto Liberal, Bernardo Santoro, capturou bem o espírito da crítica:

Eu cresci em uma família de pais separados e sempre digo que acho qualquer modelo diferente do tradicional algo péssimo pros filhos. Eu sou um defensor da liberdade de casamento e da liberdade das formas de família por achar que não tenho o direito de impor meu modelo de vida pras pessoas, mas achar bonito esses modelos que apareceram na globo, não acho não.

Uma coisa é defender a liberdade de formas familiares, outra coisa é glamourizar esses modelos. Acho que a Globo errou a mão.

Exato. Como liberal, eu defendo o direito de as pessoas viverem de forma diferente. Claro, desde que respeitados os direitos dos outros, principalmente os interesses das crianças envolvidas. Mas esse não é o ponto em questão. O problema é essa glamourização do “diferente”, só por ser diferente. E quanto mais diferente, mais legal, pois não podemos ser “intolerantes”, “preconceituosos”. Essa perda da capacidade de julgar de forma minimamente objetiva é a desgraça de nosso tempo.

E os maiores prejudicados, como sempre, não são os membros da elite relativista, e sim os mais humildes da periferia, que pagam um preço bem elevado por essa degradação moral e esse relativismo disseminado de cima para baixo. A família tradicional sempre foi, com todos os seus possíveis defeitos, um obstáculo aos avanços do estado totalitário. Por que será que a esquerda bate tanto nessa instituição?

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/2013/08/17/gramsci-no-globo-reporter/

Lilian Kirsten

“Aos 47 anos me dei conta de que Deus existia. Ter que enfrentar essa mudança nessa idade não foi fácil”. Assim descreve sua experiência Lilian Kirsten, uma professora de Matemática chilena que se converteu à fé católica ao descobrir que era filha de Deus e que lhe levou à mudar da rebeldia de seu ídolo Che Guevara pela de São José Maria Escrivá, o Fundador do Opus Dei.

Ao relatar sua conversão, a professora descreve como toda sua vida esteve marcada pelo ateísmo militante: suas convicções eram atéias, seu esposo era ateu, todos seus amigos eram ateus. “Todo o espiritual, não existia”, confessa. No entanto, no interior de um oratório que havia procurado ao experimentar o que ela chama um “vazio existencial”, irrompeu nela a com ciência da presença do Senhor que lhe transformou a vida e a encheu de felicidade.

Comecei a estudar na década de 70, uma época bastante agitada politicamente. Saíamos com pedras e marchas e muita reunião”, rememora agora na cidade de Concepção. “O Che Guevara era para nós um modelo: era um rebelde que se rebelava contra a injustiça do mundo”.

“Quando penso nessa época, a pessoa humana não tinha nenhum valor para mim. Quando se falava de aborto, essa pessoa para mim não tinha nenhum valor. Além disso, quanto mais pequenininha, menos valor”, revela quando recorda seus anos estudantis. “Era muito egoísta, muito centrada em mim mesma”, reflete hoje Lilian.

O dogma marxista da luta e conflito não era só algo que escutava e sustentava ela nas aulas mas também algo que vivia na intimidade de seu lar, com seu esposo e seus filhos, situação que levou sua família a viver uma permanente situação de insegurança, angústia e desencontros.

“Havia um desencanto. Fazia muitas coisas mas não encontrava sentido nelas. Eu podia viver majestosamente por fora, mas interiormente tinha uma raiva e um vazio interiores imensos. Estava vivendo muito mal. Então é quando aterrizas e se não tens fé, te vem como um “vazio existencial”.

Um primeiro encontro-desencontro com São José Maria Escrivá de Balaguer, fundador do Opus Dei, cuja imagem via nos santinhos que tinham suas alunas durante os exames (“Quem é este senhor, que o teem como algo tão importante?”, se perguntava) conduziu a Lilian, finalmente, a um oratório. Ali, de joelhos, e pela primeira vez…

Veja abaixo o vídeo ( em espanhol)

Fonte: religionenlibertad.com

O escritor e crítico literário vietnamita Nguyen Hoang Duc, testemunha fundamental no processo de beatificação do Cardeal François-Xavier Nguyen Van Thuan – a quem deve sua conversão e a cura de uma enfermidade – foi sumariamente impedido pelo governo comunista do Vietnã de viajar para Roma, onde assistiria ao encerramento da fase diocesana do referido processo, numa clara demonstração da tirania e repressão que caracteriza esse tipo de regime.

Quando o purpurado – na época, bispo auxiliar de Saigon – foi preso pelo regime socialista do Vietnã, em 1975, Hoang Duc era oficial de alta patente da administração em Assuntos Religiosos. Os caminhos destas duas personagens se cruzaram quando Hoang Duc foi enviado para vigiar o cárcere de Van Thuan. Ali, com o bispo vietnamita, ele não somente aprendeu francês, mas, fascinado pela força de seu testemunho, acabou por entrar também na escola da fé cristã.

É certo que Hoang Duc não foi o único a aderir ao Cristianismo a partir da experiência de santidade do cardeal Van Thuan. Todos à sua volta, carcereiros e encarcerados, ficavam impressionados com a viva esperança do prelado.

Confinado em um cubículo minúsculo, úmido e sem janela, de tal sorte que, para respirar, tinha de passar horas com o rosto metido em um pequeno buraco no chão, Van Thuan havia decidido não esperar por sua libertação: “Eu não esperarei. Vou viver o momento presente, enchendo-o de amor”. E assim fez. Com a ajuda de amigos e de alguns vigilantes, celebrava a Eucaristia em sua cela mesmo. Depois, guardava as espécies eucarísticas com reverência e, à noite, reunia-se com os poucos católicos e outras pessoas ali presentes para adorar o Senhor. “Assim, na solidão, na fome… uma fome terrível, foi possível sobreviver. Desta maneira dávamos testemunho na prisão.”

Tão notável foi a sua resistência, que foi digno de menção na encíclica Spe Salvi, do Papa Bento XVI:

“Durante 13 anos de prisão, numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança, que, depois da sua libertação, lhe permitiu ser para os homens em todo o mundo uma testemunha da esperança, daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites da solidão.”

Sua beatificação anda a passos adiantados. Mas o governo marxista de Hanói, capital do Vietnã, não está nada contente com isto. Os relatos do cardeal Van Thuan circularam em muitos livros, traduzidos para vários idiomas de todo o mundo, e, definitivamente, não são boa propaganda do Partido Comunista e de sua ideologia. Por isso a recusa em conceder o passaporte de viagem a Nguyen Hoang Duc, peça fundamental no processo de beatificação de Van Thuan.

Ademais, Hoang Duc é, por sua própria história de vida, um verdadeiro exemplo do fracasso que é o comunismo. De fato, após conhecer Van Thuan na prisão, o oficial, então membro do governo vermelho, desacreditado de sua ideologia, abandonou o cargo na segurança pública e começou a frequentar igrejas católicas. Um dia, sonhou que era batizado em uma delas. Convencido ser este um sinal, Hoang Duc começou um caminho de formação que o levou ao batismo.

Hoje, batizado, dedicado à literatura, à crítica poética e ao debate cultural, Hoang Duc não esconde a sua gratidão pela vida do cardeal Van Thuan. O que, na década de 1970, como oficial do regime ateu vietnamita, ele só podia ver como superstição e obscurantismo, é hoje o fundamento basilar de sua vida.

Equipe Christo Nihil Praeponere

Marcelo Gullo é doutor em Ciências Políticas pela Universidade do Salvador (Argentina), da qual o atual Papa Francisco foi professor.

Qual é o traço humano que melhor define o Papa Francisco?

O Papa Francisco é um homem austero, humilde, simples e de enorme formação doutrinal, que soube privilegiar a opção pelos pobres sem cair nas vulgatas pseudo-marxistas.

Em sua experiência, o nome de Francisco é uma resposta do Papa à necessidade de reconstruir a Igreja?

A escolha do nome “Francisco” pelo cardeal Jorge Bergoglio tem, sem dúvida, um significado triplo: reconstruir e purificar a Igreja, reevangelizar a Europa e dirigir o olhar da Igreja preferencialmente às pessoas e povos mais pobres.

Você diria que se trata de formar uma Igreja mais horizontal, partindo do Papa?

Há muitos séculos, em um momento difícil para a cristandade, em que as forças do mundano haviam dominado a Igreja e não lhe permitiam levantar a cabeça para olhar para o alto, o sopro do Espírito Santo fez surgir, em um pequeno povoado da Itália, um homem aparentemente frágil, que se despojou de todo o material que o atava ao mundo para poder erguer os olhos e ver o rosto de Cristo crucificado.

Foi assim que o caminho seguido por São Francisco reconstruiu a Igreja, e foi assim que todos os cristãos – especialmente os homens da Igreja, seus sacerdotes e bispos – puderam afirmar com toda sinceridade: “vosso é o poder e a glória para sempre, Senhor”. É por isso que a escolha do nome “Francisco” adquire hoje um significado especial, para que nossos pastores possam dizer novamente, com total franqueza: “vosso é o poder e a glória para sempre, Senhor”.

E sobre a volta do Evangelho à Europa?

Deus morreu há muito tempo na Europa. Os templos deixaram de ser os lugares da fé para tornar-se pontos turísticos ou simples museus. As únicas catedrais são os bancos, e os únicos valores são cotados na Bolsa de Londres ou Frankfurt. A Igreja, que soube lutar contra o materialismo comunista (que havia decidido extirpar Deus da terra por meio da violência), ainda não soube lutar contra o materialismo libertino da sociedade de consumo, que conseguiu (mediante uma revolução anestésica realizada na mídia) fazer o homem europeu esquecer que Deus existe.

Para o homem pós-moderno das sociedades mais desenvolvidas, o poder, o dinheiro e o prazer são as medidas de todas as coisas. Em um ritmo vertiginoso, a autoestima do ser humano passou do ter ao ser, do ter ao parecer e do parecer ao aparecer. O homem pós-moderno parece acreditar que a felicidade está em possuir bens materiais, em parecer-se com determinado modelo físico imposto pela mídia e em aparecer nos meios de comunicação. Por isso, a Europa é hoje uma terra de missão. Se a Europa teve, há cinco séculos, a glória de evangelizar o novo continente, hoje a América tentará ter para si a glória de reevangelizar o velho continente – com a ajuda de um dos seus filhos prediletos, o Papa Francisco.

Existem ações do então cardeal Bergoglio que agora podem se refletir em seu ministério petrino?

Eu gostaria de destacar que vale a pena não somente conhecer as ações levadas a cabo pelo então cardeal Bergoglio, mas é imprescindível também conhecer seu pensamento, para vislumbrar como será seu ministério petrino. É importante também ressaltar que jamais houve, no cardeal Bergoglio, diferença alguma entre o pensamento e a ação. Sem dúvida alguma, as profundas reflexões do cardeal Bergoglio sobre a história e o destino da América Latina (reflexões realizadas durante décadas) se refletirão em seu ministério petrino.

Escreveu mais de 50 livros sobre pensamento católico

Com o avô maçom e pais ateus militantes; Chesterton, Lewis e Newman a levaram à Igreja.

Ronda Chervin se converteu ao catolicismo apesar de seus antecedentes: origem judia, avô maçom, educação ateia e formação universitária numa faculdade de Filosofia agnóstica.

Muitas vezes parece que Deus segue e persegue uma pessoa, até se encontrar com ela. Parece que a busca em sua história concreta até que é impossível continuar olhando para um lado eliminando a realidade que se tem por diante. «Chamei-te pelo teu nome, és meu», disse o profeta Isaías. E esta é precisamente a história de Ronda Chervin: do ateísmo e o desprezo mais profundo para o catolicismo, até chegar à conversão do coração. Ela mesma conta a «amorosa perseguição de Deus» ao longo dos anos.

Uma peça que não se encaixa

Ronda nasceu em 1937 em Nova York e tem uma irmã gêmea. Seus pais se conheceram no Partido Comunista, e depois passaram a ser informantes do FBI.

«Os comunistas os ameaçaram em bombardear nossa casa», conta. Ambos os pais eram de origem judia mas militantemente ateus. Não foram educados na religião judia e então não tinham nenhum interesse em observar as festas nem iam à sinagoga. Separaram-se quando suas filhas tinham oito anos.

Tão peculiar família fez de Ronda uma pessoa que não se encaixava em nenhum lugar: nem com os católicos, nem com os protestantes, certamente não com os judeus ortodoxos em plena expansão, tampouco com os judeus reformistas, nem com os sionistas ateus, nem muito menos com os judeus de esquerda anti-sionistas.

«Mais tarde, como católica, me dei conta que meu desejo de pertencer a um grupo identificável para sempre tinha uma razão psicológica e também teológica», explica Ronda. «No entanto, todos meus familiares se orgulhavam de ser americanos socialistas livre pensadores», lamenta.

Dos avós conflitantes

A vida de Chervin estava marcada por ser descendente de dois avós absolutamente contrários em vida e pensamentos. Por um lado, seu avô paterno, de ascendência sefardi judia, imigrou aos Estados Unidos graças a um programa financiado por judeus maçons que consistia em introduzir jovens brilhantes nas faculdades, de modo que no dia de amanhã pudessem converter-se nos grandes líderes das lojas maçônicas. De fato, seu avô se estabeleceu como dentista em uma das ruas mais centrais de Nova York, Madison Avenue. Isso sim, Ronda pontualiza: «Meu avô nunca observou as festas judias, porque era ateu».

Por outro lado estava sua avó paterna, que conheceu seu futuro esposo precisamente na consulta. Considerada como «loira e frágil», não deixou de ir nem um só domingo à Igreja e rezou sempre por seu marido, seus filhos e seus netos, todos ateus. Lia a Bíblia dia e noite.

«Tinha sido absolutamente proibida —sob ameaça de não voltar a ver-nos— falar às suas netas de Deus ou da religião». Depois de sua morte, Ronda herdou a Bíblia de sua avó, em que ela havia escrito a mão: «Rezo para que algum dia minhas netas possam ler isto». Os pais de Ronda ridicularizavam constantemente a avó por sua fé: «Usavam-na como prova de como só as pessoas estúpidas e débeis ainda acreditavam em Deus depois de que tanto Nietzsche como a evolução tinham demonstrado que Deus não existia ou que estava morto».

A moral sexual da juventude

Ronda começou seus estudos de Filosofia na Universidade de Rochester e, ao mesmo tempo, sua independência juvenil. « Como muitos ateus, tinha sido educada para considerar ridícula a moral sexual das pessoas religiosas. Por temor a uma gravidez, tinha evitado ter relações sexuais. Mas ao estabelecer-me por minha conta, meu grande desejo era dar minha virgindade tão logo quando encontrasse algum jovem atraente disposto a iniciar-me. Graças à providência de Deus não fiquei grávida, porque estou segura de que teria abortado nesse caso. Eras Tu, Pai da vida, protegendo-me de uma vida inteira de culpabilidade?», reflete.

Um de seus noivos foi um estudante estrangeiro do programa de pós-graduação de Filosofia. Era um alemão que tinha militado nas juventudes hitleristas em sua adolescência, mas que tinha sido salvo por um sacerdote católico em continuar nesse terrível movimento. «Começou a me alimentar com livros apologéticos, desde Chesterton até Karl Adam. Não tendo lido o Novo Testamento, quase não entendia uma palavra destes tratados, mas algo me tocava, porque comecei a querer conhecer os católicos, inclusive depois de romper minha relação com o alemão», conta.

Em busca da verdade

Especializar-se em Filosofia tinha sido para Ronda sua forma de buscar a verdade. «Nas universidades laicas que participei, o ceticismo estava tão em moda que, um ano depois me sentia desesperada: Onde estava a verdade? Onde estava o amor? Por que vivo?». Nesta organização, topou com um programa televisivo chamado «A Hora Católica». Os convidados eram Dietrich Von Hildebrand e Alice Jourdain, e estavam falando sobre a verdade e o amor. «Espontaneamente lhe escrevi uma carta contando-lhes minha infrutuosa busca da verdade».

Resultou que ambas viviam perto de sua casa e lhe convidaram a visitá-las. Sugeriram-lhe assistir as aulas de Dietrich Von Hildebrand e Balduin Schwarz, seu discípulo, na Universidade de Fordham. «Fui a umas poucas aulas. O que mais me impressionou não foram as ideias dos filósofos católicos, mas sua vitalidade pessoal e sua alegria. O ceticismo, o relativismo e o historicismo que caracterizava a maioria das universidades seculares nesse momento havia deixado a muitos dos professores tristes e secos». Assim que Ronda, atraída por esta alegria e pela amorosa amabilidade com que todos a receberam, continuou seus estudos nesta universidade.

Depois de uns meses em Fordham, não podia deixar de perguntar-se como era possível que católicos e jesuítas, brilhantes intelectualmente, pudessem crer em ideias tais como a existência de Deus, a divindade de Cristo, a realidade da verdade objetiva e da moral absoluta, e a necessidade de ir à igreja. «Obviamente, não só pessoas estúpidas e débeis pensavam desta maneira», reconhece.

Uma viajem cheia de milagres

Ronda se uniu com seus novos amigos em uma viajem-peregrinação à Europa para ver museus e obras de arte. Apesar de que odiava qualquer estilo artístico exceto o mais moderno, e não tinha ainda interesse em saber mais sobre Deus, Cristo ou a Igreja, aceitou ir para desfrutar do tempo com eles. «O primeiro milagre ocorreu quando entrei na catedral de Chartres na França. Pus-me a chorar e me perguntei: ‘Como pode ser tão belo se não há verdade nele, só ignorância medieval?´».

Porque seus amigos iam à missa todo dia, Ronda se uniu também com mais curiosidade que interesse real: «Ver meu nobre e sábio professor de Filosofia de joelhos me assombrava e me desgostava. Queria lhe dar um empurrão e gritar que nenhum homem deveria ajoelhar-se nunca», admite.

O segundo milagre chegou com a leitura da Bíblia.

E o terceiro poucos dias depois: «Tive o impulso de ajoelhar-me no corredor do hotel e recitar uma oração: ´Deus, se há um Deus, salva minha alma, se tenho uma alma´».

Outro milagre a mais em Lourdes, tocada pelo coro que cantava. E o seguinte em Florença, em frente ao quadro inacabado de “A Natividade’ de Leonardo Da Vinci: «Olhei a Virgem Maria, tão simples, pura e doce, e chorei. Ela tinha algo que eu nunca teria: pureza! Pela primeira vez me vi a mim mesma como pecadora». Depois uma grandíssima impressão diante de uma tapeçaria de Rafael com o rosto de Cristo. E o último na viajem: ver de perto o Papa Pio XII em São Pedro: «Tinha exatamente a mesma expressão em seus olhos que o rosto vivo de Jesus da tapeçaria de Rafael».

Período de reflexão

Depois de tanta profusão de impressões, acontecimentos e milagres, Ronda necessitava sentar-se e refletir: «Estudei livros como ‘ Cristianismo simples ’ de C.S. Lewis. Também, a leitura de livros de Chesterton e do cardeal Newman fez me converter ao catolicismo agora algo já inevitável».

Em 4 de junho de 1959, com 21 anos, Ronda foi batizada. «Não houve um só momento em minha vida em que tenha me arrependido de ser católica. Anos depois, minha irmã gêmea, minha mãe e meu esposo se converteram ao catolicismo», conta com agradecimento.

A página pessoal de Ronda é: http://www.rondachervin.com

Rádio Vaticano

A Casa Católica Polonesa na França denunciou que a Prefeitura de Paris proibiu a instalação de uma imagem do Papa João Paulo II, em frente a Igreja Nossa Senhora da Assunção, por motivos ideológicos.

A imagem em bronze, de 3,5 metros de altura, pesando mais de uma tonelada, foi doada pelo diretor do Instituto de Belas Artes de Moscou, Zourab Tsereteli e está em um depósito à espera da autorização para ser instalada, segundo informou o jornal “Le Figaro”.

Ao negar a autorização, a Prefeitura de Paris alegou em abril de 2012, que a imagem quebrava a harmonia arquitetônica do templo, declarado monumento histórico, fato contestado pelos poloneses que alegam que a obra foi concebida levando em consideração também este fator.

Posteriormente foi proposto à Prefeitura a instalação da imagem na Praça João Paulo II, localizada atrás da Catedral de Notre Dame,(foto) pedido também negado pela comissão de espaços verdes.

O Reitor da Casa Polonesa em Paris, Dom Stanislaw Jez, assegura que a Prefeitura, que tem a frente o socialista Beertrans Delanoe, nega a permissão por motivos ideológicos. O Prefeito, por sua vez, recorda que foi justamente ele que, em 2006, propôs que a explanada em frente à Catedral de Notre Dame fosse chamada de João Paulo II. Ele afirmou se manter aberto ao diálogo, para se buscar um espaço adequado para a instalação da imagem.(JE)

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Nota do editor: O silêncio que separava o governo cubano da Igreja Católica há décadas recentemente se rompeu através do diálogo. O cardeal Jaime Ortega foi uma das peças-chave na abertura e expansão dessas discussões. Esta é a história dele e de como a igreja se aproximou do governo e de seus cidadãos numa época de transição.Durante o voo para o México, na mesma viagem que o levaria a Cuba, no fim de março deste ano, Bento 16 disse a um jornalista: “É óbvio que a ideologia marxista, como foi concebida, hoje já não corresponde à realidade; não é mais possível reagir ou construir uma sociedade dessa forma. É preciso encontrar novos modelos, com paciência, de forma construtiva”.

O papa – um teólogo, homem sábio e analítico, que entendeu e vivenciou os grandes eventos que sacudiram a Europa no último século – queria estar conosco em seu Ano Jubilar para comemorar os 400 anos da presença de nossa santa padroeira, a Virgem da Caridade, em nossa terra. Ele também sabia que estava visitando Cuba num momento único de nossa história.

Suas palavras, pronunciadas dias antes de sua recepção, não foram rejeitadas pelo governo – o mesmo que, presidido por Raúl Castro desde 2008, iniciou uma nova etapa na vida do país. Aplicou várias reformas econômicas e sociais que sugerem que, de fato, as propostas socioeconômicas nascidas durante o marxismo, baseadas numa concepção materialista do mundo e do homem – que não oferecem nenhum ponto de referência transcendentes, estabelecendo limites que não apoiam e são contraproducentes à liberdade humana -, não funcionam em Cuba.

Entretanto, desde abril de 2010, um novo capítulo começou a ser escrito em nossa história recente e notado no exterior: foi quando enviei uma carta a Raúl Castro expressando minha rejeição pessoal e da igreja à oposição do governo às mulheres dos prisioneiros políticos, conhecidas como as “Damas de Branco”, que se reuniam depois da missa, todos os domingos, na porta da Igreja de Santa Rita, em Havana.

O resultado foi uma resposta verbal positiva vinda do presidente.

Em fevereiro de 2008, com os bispos de Cuba, eu o cumprimentei rapidamente quando ele recebeu o secretário de Estado do papa, o cardeal Tarcisio Bertone, que estava em Cuba para presidir vários eventos e comemorações do décimo aniversário da inesquecível visita de João Paulo 2º.

Nos últimos dois anos, ocorreram alguns eventos em nosso país que chamaram a atenção internacional de uma nova maneira. Desde 1959 e o triunfo da revolução popular liderada por Fidel Castro, Cuba sempre foi manchete na imprensa mundial: os conflitos iniciais com a igreja, a emigração, o ataque na Baía dos Porcos, o embargo comercial dos EUA, as guerras na África e a proximidade do governo cubano de movimentos revolucionários de outras nações (especialmente na América Latina, onde eles se alastraram); essas eram as histórias que nos colocavam no noticiário.

Também é bastante conhecido o conflito longo e custoso com os EUA, que, às vezes, parece ser a causa, noutras a consequência de todos os problemas mencionados acima.

Alguns meses depois, em novembro, nós nos encontramos de novo, dessa vez em Camagüey, para a cerimônia de beatificação do frei José Olallo Valdes, líder religioso do século 19 que dedicou sua vida a servir os pobres e doentes da cidade. A presença do novo chefe de Estado sugeria uma nova abordagem não só em relação à necessidade de mudanças socioeconômicas, mas em relação à igreja.Porém, o passo mais significativo e transformador desse relacionamento com a igreja foi a resposta positiva de Raúl Castro à minha carta de abril de 2010, na qual me disse que tinha posto fim às ações contra as mulheres e familiares dos prisioneiros e deixado claro seu desejo de ouvir, através da intervenção da igreja, suas exigências.

Foi um gesto inédito e inesperado, que surpreendeu a todos. Não era a primeira vez que os bispos cubanos apelavam para as autoridades intercederem em nome dos prisioneiros e suas famílias – ato apropriado à missão da instituição -, mas quase nunca tínhamos uma resposta. A igreja em Cuba nunca tinha sido reconhecida como uma mensageira respeitada do povo. Minha carta tinha gerado uma resposta e a resposta gerou o diálogo.

Diálogo esse que levou à libertação de 53 prisioneiros de um grupo de 75 que estava preso desde 2003. Outro grupo, de mais de 70, foi solto depois, de maneira que entre julho de 2010 e março de 2011, mais de 126 pessoas foram libertadas. A maioria foi para a Espanha, para encontrar os familiares; outros se mudaram para Miami ou outras cidades dos EUA; 12 preferiram ficar em Cuba.

Em dezembro de 2011, o governo soltou quase 3.000 presos, motivado, de acordo com Raúl Castro, pela visita de Bento 16, em março de 2012, e por respeito ao 400º aniversário da santa padroeira do país.O diálogo nos permitiu discutir outros assuntos de interesse da igreja e da sociedade. Falamos com as autoridades – não só o presidente – sobre a precária situação econômica do país, os medos e exigências dos cidadãos, as dúvidas, desejos e esperanças de uma parte significativa da população. Conhecemos essas realidades graças à rede de paróquias, igrejas e capelas que nossos padres construíram pelo país e aos religiosos e missionários que visitam os doentes, como os voluntários do Caritas, catequistas e outros agentes pastorais que vão de cidade em cidade, por menores que sejam.

Nossa função, como pastores em Cuba, abrange homens e mulheres, com seus medos e frustrações, ilusões e expectativas, possíveis ou irreais. De fato, a situação está se alterando, talvez com idas e vindas difíceis de definir e objetivos ainda não claros. A mudança começou, esporadicamente e sem um caminho traçado, mesmo que alguns não a desejem nem a reconheçam. Nesse contexto social em mutação, no qual as mais variadas expressões sociais querem ser ouvidas, de uma forma ou de outra, a igreja conseguiu ser reconhecida como uma instituição que tem um papel na sociedade cubana.

Não sabemos até que ponto esse diálogo vai avançar, nem seu conteúdo ou os possíveis resultados que trará, mas é através dele e só dele que a igreja almeja ao bem-estar material e espiritual dos cubanos e da sociedade. É parte essencial da nossa missão. Em meio à profunda crise econômica que afeta o mundo, Cuba vive seu turbilhão particular.

Incapaz de escapar das dificuldades mais amplas, vivemos também um momento de aflição espiritual e existencial. O “sonho cubano”, iniciado em janeiro de 1959, mesclado à simples intuição e ao desejo sincero dos pobres dessa terra, não foi realizado, pelo menos não como foi idealizado.

É verdade que houve conquistas sociais importantes, mas também muito sofrimento; racionamentos e confrontos; excessivas limitações à liberdade e frustração. Durante anos, a igreja, tanto em público quanto em particular, pediu às autoridades que pusesse em prática as mudanças necessárias para melhorar a vida da população, para que ela realizasse todo o seu potencial. Ela estimula as mudanças que estão acontecendo e espera que outras sejam introduzidas pelo bem do país e de seus cidadãos.

“Nesse processo”, disse Bento 16 a bordo do avião que o levou à América Latina, “que requer paciência, mas também determinação, pretendemos ajudar com o diálogo, para evitar traumas. Por essa razão queremos que todos se unam num esforço pela reconciliação e renovação da esperança”.

As cinzas dos sonhos passados não ajudam a construir um futuro promissor. É preciso uma transformação que venha do coração e é por isso que agimos de acordo com a fé cristã.

* O cardeal Jaime Ortega é arcebispo de Havana.

De acordo com um professor africano nos Estados Unidos, o terrível flagelo que a Eritreia sofre recebe pouca atenção internacional porque é um país pequeno, pobre e com população reduzida.

Mas a Eritreia, diz Habtu Ghebre-Ab, é um dos piores lugares do mundo para ser um crente – muçulmano ou cristão.

Ghebre-Ab nasceu e cresceu na Etiópia, de pais eritreus, e viveu na Etiópia até a idade de 18 anos. Agora nos EUA, fundou uma organização sem fins lucrativos, In Chains for Christ. Leciona História na Universidade de Cincinnati.

Nesta entrevista, ele revela detalhes pouco conhecidos da dura política antirreligiosa da Eritreia.

Quando você conheceu Cristo?

Ghebre-Ab: Eu conheci Cristo quando era criança. Nasci e cresci na Igreja Ortodoxa dos meus pais, verdadeiramente piedosos, e por isso a minha exposição ao cristianismo e ao Evangelho remonta aos primeiros anos da minha vida. (…) Oito ou nove anos atrás, retornei à fé de meus pais, à Igreja Ortodoxa, à qual hoje sirvo como diácono.

Embora seja difícil fazer estimativas confiáveis, você poderia nos contar um pouco sobre o panorama religioso atual na Eritreia?

Ghebre-Ab: O povo da Eritreia é muito religioso. A religião é parte integrante da vida das pessoas; o cristianismo e o islamismo coexistiram livremente durante séculos. Hoje, dos 4 milhões de habitantes, cerca 50% deles são cristãos; e a outra metade pertence ao Islã. A Igreja Ortodoxa é, naturalmente, a maior denominação cristã na Eritreia e na Etiópia, e representa cerca de 95% da população cristã.

Um relatório da Freedom House diz: “A Eritreia é uma nação em perpétuo estado de emergência, sob o cerco de seus próprios líderes, com uma população à qual são negadas as liberdades mais básicas de expressão, reunião, imprensa e prática religiosa”. O que isso significa para os cristãos da Etiópia de hoje?

Ghebre-Ab: O que isso significa para os cristãos é que, embora as igrejas ditas minoritárias sejam proscritas, desde maio de 2002, foram literalmente transformadas em criminosas; seus membros e seus líderes são jogados na prisão e o culto não é permitido na Eritreia. No início dos anos 90, houve indícios da política antirreligiosa do governo sobre as Testemunhas de Jeová e a comunidade muçulmana na Eritreia. Quanto à Igreja Ortodoxa eritreia, houve atos de queima de Bíblias desde 1995. Foi em maio de 2002, no entanto, que o governo eritreu pôs em prática sua política antirreligiosa.

Hoje, dentro das forças armadas, as Bíblias ainda são confiscadas e as pessoas que são descobertas em oração são castigadas. Desde 2005, a Igreja Ortodoxa da Eritreia tem sido o principal alvo; seu patriarca, Sua Santidade Abune Antonios, foi colocado sob prisão domiciliar. Embora o patriarca Antonios tenha diabetes e problemas de pressão arterial, não recebe cuidados médicos nem visitas de ninguém. Assim, os líderes religiosos das Igrejas ortodoxas, assim como os das protestantes, foram presos – alguns deles desde 2004.

Eu gostaria de me centrar na perseguição da hierarquia ortodoxa, mas antes, gostaria de saber: o que provoca esta perseguição do governo?

Ghebre-Ab: O pano de fundo desta política antirreligiosa é, naturalmente, um sistema marxista de crenças que o governo da Eritreia adotou durante a luta armada pela independência. Se você consultar certa literatura que remonta à década de 70, encontrará listas com o número e o nome das religiões que seriam eliminadas assim que a Eritreia se tornasse independente.

Então estava tudo planejado?

Ghebre-Ab: Foi planejado desde o início, mas após a independência houve uma tendência entre os eritreus a retornar à sua fé. Seus anos de sofrimento haviam terminado; a Eritreia conseguiu a independência e muitos jovens se tornaram mais religiosos, mais espirituais. Acho que o governo, que tinha esse fundo marxista, sempre se sentiu desconfortável com o fato de que os jovens – independentemente de seu nível de politização – voltaram à sua fé.

Então não se atrevem a atacar os cristãos e tiveram de esperar até recentemente.

Ghebre-Ab: Exatamente. No que diz respeito à Igreja Ortodoxa da Eritreia, chegaram ao ponto de nacionalizá-la, porque é a maior e mais antiga instituição religiosa. Eu acho que eles pensaram que, ao nacionalizá-la, teriam o controle total da Igreja, teriam o controle total de um grande segmento da população do país.

Quase como a Associação Patriótica Católica Chinesa, que está tentando criar uma igreja do Estado?

Ghebre-Ab: Exatamente; ou talvez seja mais correto dizer que é como a Revolução Bolchevique na União Soviética, quando os bolcheviques queriam controlar as igrejas permitidas naquela época. Esse é o estado da igreja cristã na Eritreia hoje – eliminar as religiões menores e controlar aquelas que restam. Alguns têm feito muito para resistir. (…)

Qual é a agenda do governo?

Ghebre-Ab: Eu gostaria de poder dizer que eles têm uma agenda – o mundo parece estar completamente surpreso porque este governo não parece saber quais são seus próprios interesses. Não parece saber para onde ir, porque muitas das ações realizadas são arbitrárias. Aqueles de nós que conhecem o esquema, voltando aos tempos de antes da independência, sabem pelo menos uma coisa: que o governo não é favorável em relação à religião.

Em maio de 2002, começou outra onda de severa perseguição contra os cristãos. O que causou isso e de que tipo de perseguição estamos falando?

Ghebre-Ab: Naquela época, o governo disse aos líderes das igrejas que estas deveriam ser fechadas. O pretexto utilizado pelo governo foi que elas não haviam sido registradas de maneira correta. É preciso registrar-se para se tornar uma religião reconhecida. Este foi o pretexto, foi a cortina de fumaça. Algumas igrejas, na época, procuraram atender até mesmo o menor dos requisitos do governo: deram os nomes dos membros da igreja, onde trabalhavam, o que faziam e qual era sua situação econômica. Ao conhecer o funcionamento interno da Igreja, por assim dizer, é mais fácil eliminá-la. O governo pretende eliminar gradualmente a fé na Eritreia em geral e, considerando a evolução da última década, isso é mais certo do que nunca.

Qual é a resposta dos cristãos? Eles se esconderam na clandestinidade? Emigraram?

Ghebre-Ab: As igrejas evangélicas foram as primeiras que passaram à clandestinidade, ainda que o governo tenha tornado isso impossível por seu aparato de segurança: foram perseguidas. Então, a única coisa que podiam fazer era fugir do país, e milhares de jovens – não apenas os crentes -, bem como milhares de pessoas que não são religiosas, agora estão deixando o país e pedindo asilo político em outros países. Existem campos de refugiados no norte da Etiópia e no Sudão, que hospedam esse número crescente de refugiados que saem em massa da Eritreia.

E isso apesar da ordem de atirar para matar qualquer um que seja descoberto fugindo, na fronteira da Eritreia?

Ghebre-Ab: Exatamente. Isso não parece ter afetado o número de pessoas, especialmente de jovens eritreus, que fogem do país. (…)

O que aconteceu com as instituições e tradições reconhecidas: o Islã, a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa eritreia? Como o governo enfrenta e tenta limitar a atividade religiosa das tradições mais antigas?

Ghebre-Ab: Não tenho a pretensão de falar pelos muçulmanos, mas posso dizer que eles também têm sofrido sob este regime. Neste sentido, o governo da Eritreia é verdadeiramente igualitário na hora de perseguir. No que diz respeito às chamadas “igrejas reconhecidas”, a mídia independente foi abolida em 2001; os principais órgãos das organizações reconhecidas, ou seja, o jornal da Igreja Católica, a florescente jornal da Ortodoxa Eritreia, e também os de outras organizações cristãs que supostamente eram reconhecidas, todos esses jornais foram fechados inclusive antes de fecharem os meios de comunicação leigos independentes.

Outra coisa que o governo ordenou, especialmente à Igreja Ortodoxa e à Igreja Católica, é que os padres de determinada idade deveriam apresentar relatórios sobre seu serviço militar. Eu elogio a eparquia católica por ter adotado uma posição inamovível a este respeito, dizendo que não havia nenhuma maneira de que seus sacerdotes pudessem cumprir o serviço militar, mas dado que a Igreja Ortodoxa estava controlada por uma pessoa política nomeada, não conseguiu resistir e os sacerdotes foram obrigados a ir ao exército.

Os Estados Unidos colocaram a Eritreia na lista do Departamento de Estado dos “Países de Especial Preocupação”. Por que não ouvimos falar disso? Por que não se fala disso na comunidade internacional?

Ghebre-Ab: Esta é uma boa pergunta. A Eritreia é um país muito pequeno, com uma população de menos de 4 milhões de pessoas (outros relatórios afirmam que a população é de 5,7 milhões). Grande parte da população tem fugido nos últimos tempos. Houve ondas de êxodo do país, por uma razão ou outra, mas a Eritreia, ao contrário de muitos de seus vizinhos, não tem petróleo, nem uma grande população.

Devido a isso, enquanto outros países perto da Eritreia e o sofrimento do seu povo recebem muita atenção, o povo eritreu nunca recebeu realmente esse tipo de atenção, mesmo durante o tempo em que lutou pela independência contra a União Soviética. Então, enquanto o país continuar sendo considerado insignificante para o resto do mundo, acredito que continuará também sendo deixado de lado.

O que podemos fazer?

Ghebre-Ab: Eu diria que, acima de tudo, devemos rezar pelo povo da Eritreia, mas também cada crente deveria manter contato com seus representantes eleitos, para garantir que o sofrimento do povo da Eritreia receba a atenção necessária.

Agora existe, como disse, milhares de jovens que abandonam o país. Eles estão sofrendo terrivelmente. Os campos de refugiados estão no norte da Etiópia e no Sudão. Seria preciso dar a esses refugiados os direitos próprios dos refugiados, dar-lhes asilo nesses países.

Temos informações recentes sobre o número de eritreus que se afogam no mar Mediterrâneo, quando tentam atravessá-lo da Líbia à Itália ou a Malta, e muitos desses países repatriam os eritreus. No Egito, existem hoje centenas de refugiados, sem qualquer reconhecimento ou ajuda.

O que acontece com aqueles que são repatriados?

Ghebre-Ab: Os relatos dos que escaparam pela segunda vez depois de ser repatriados são terríveis. O tipo de tortura é quase inimaginável. O governo pretende apresentar a sua melhor cara dizendo: “vamos cuidar deles”. Os relatos, no entanto, revelam uma história diferente. Eles sofreram terríveis torturas e o destino de muitos é desconhecido até hoje.

Quais são as limitações enfrentadas pelas igrejas estabelecidas, em termos de publicações e de licenças de construção?

Ghebre-Ab: As igrejas estabelecidas não puderam agir como vinham fazendo sempre. As licenças para construção ou coisas parecidas são algo em que não se pode sequer pensar. Elas têm dificuldades até para manter os edifícios que já possuem. Por exemplo, a Igreja Católica teve algumas boas escolas e, durante o regime anterior, antes da independência da Eritreia, as escolas foram nacionalizadas. Acho que havia uma esperança e os católicos da Eritreia, as pessoas de boa vontade, estavam esperando que estas escolas voltassem à Igreja Católica e esse foi o pedido da Igreja Católica; mas não se cumpriu nada até agora. (…)

Eu li que mais de 3.200 cristãos estão presos por diversos motivos e atividades. Qual é a situação destes cristãos?

Ghebre-Ab: Ninguém sabe. Na verdade, dizemos 3.200 porque é uma estimativa feita pelo Departamento de Estado norte-americano. Minha estimativa pessoal é maior, porque todo o acampamento militar tem seu próprio centro de detenção. Há muitas prisões não oficiais, nas quais ninguém foi a julgamento e ninguém foi acusado de nada diante de um tribunal legalmente constituído. Assim, o melhor que podemos fazer é fornecer uma estimativa de quantas pessoas estão na prisão. Se você contar todos os prisioneiros de consciência, poderiam ser mais de 3.200 e, se formos falar de cristãos, mais uma vez será um número maior. Deixe-me esclarecer uma coisa: existem muitas pessoas que morreram na prisão por sua fé.

Como são essas prisões?

Ghebre-Ab: Essas prisões foram concebidas para castigar e são sádicas. Há relatos de que pessoas foram presas na parte subterrânea, sem ver a luz durante anos. Não os alimentam bem. Mantiveram pessoas em contêineres de metal, de transporte marítimo. É preciso recordar como essa região do mundo é quente durante o dia e fria durante a noite. E essas pessoas presas em contêineres… Se o governo da Eritreia deixasse as organizações humanitárias internacionais ou a Cruz Vermelha visitar esses locais de detenção ou esses presos, o mundo poderia ver o tipo de condições em que essas pessoas estão. Mas ninguém pôde ver essas pessoas.

Você tem alguma esperança?

Ghebre-Ab: Eu tenho esperança. O povo eritreu é um povo forte. Não vão tolerar esta injustiça por muito tempo. O povo eritreu pagou um grande preço pela liberdade. Eu perdi dois irmãos e doze membros da minha família na guerra pela independência da Eritreia. Pode parecer que minha história é única, mas não é; todos os eritreus contam uma história semelhante. O povo eritreu não pagou todos estes sacrifícios nem sofreu essas indignidades para depois ser proibido de exercer os direitos pelos quais lutou e os direitos que merece.

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Esta entrevista foi realizada por Mark Riedemann para “Deus chora na terra”, um programa rádio-televisivo semanal produzido por Catholic Radio and Television Network, (CRTN), em colaboração com a organização católica Ajuda à Igreja que Sofre.