O “sentir” tende a se apoderar da nossa vida. E isto é gravíssimo, porque, se o “sentir” dirige a nossa vida, então estamos agindo de acordo com o nosso estado emocional e com as nossas variações de humor, que são instáveis e dependentes dos altos e baixos dos hormônios.

Faz pouco tempo, ouvi um comentário que me deixou de cabelo em pé. A pessoa disse que o casamento “até que a morte nos separe” não é mais possível, porque “o amor acaba e, nesse caso, a relação também tem que acabar”.

O amor acaba ou sou eu que acabo com o amor?

Esta pergunta foi outra coisa que ouvi recentemente e que me pareceu bem mais instigante do que reduzir o casamento a mero sentimento. Afinal, é verdade que os casamentos passam por etapas, inclusive algumas em que “não dá mais vontade” de continuar porque “sentimos” que o amor “acabou”. Nessas etapas mais difíceis, a monotonia se senta conosco no sofá para ver partidas de futebol e capítulos de novela. Não “vibramos” mais como nos primeiros anos.

Mas será que não é uma coisa muito boa “superar” aquele estado de “euforia” que a paixão traz consigo e que nos torna tão dependentes de fatores irracionais e sentimentais?

Eu, pessoalmente, acho fascinante que essas etapas de “cansaço” passem pelo casamento, porque elas são um convite para reinventarmos a relação e torná-la mais madura, com base na reflexão e no diálogo mais cheios de companheirismo e maturidade e menos motivados pelas simples “emoções”.

A reflexão sensata e calma sempre faz bem. As decisões tomadas por impulso, baseadas no que sentimos, não costumam ser as mais acertadas porque não surgem das nossas faculdades superiores da inteligência e da vontade, mas da emoção volúvel que muda ao sabor do acaso.

Muitas vezes, o amor não “se sente”: simplesmente se pratica. Isso quer dizer que temos que escolher amar. Não faz sentido alicerçar um compromisso da magnitude do casamento deixando-nos levar pelo “sentir”. O amor, diferente da paixão, é um ato da vontade, e não uma “emoção”.

Quando se decide amar, é mais fácil refletir e dialogar sobre os reais motivos que nos levam a querer estar juntos. É possível detectar com mais clareza quais são as carências atuais e, portanto, quais são os ajustes necessários para que a união matrimonial perdure a vida toda de modo pleno e realizador.

O amor “para sempre” existe, sim, mas alcançá-lo depende da vontade dos dois cônjuges. Ao contrário da paixão, que é um sentimento acionado por fatores externos, o amor é uma atitude que se aprende… amando.

Luz Ivonne Ream 

Após meses de preparação, finalmente chega o grande dia. É um monte de coisas para checar. E, geralmente, no topo da lista, está a escolha do profissional que vai fotografar o seu casamento.

Representando uma parte bastante pesada do orçamento, o fotógrafo tem a importante missão de capturar as emoções desse dia, para que você compartilhá-lo com seus entes queridos nas próximas décadas. E se você der a sorte de encontrar um fotógrafo realmente bom, ele poderá ir muito além do registro da beleza física para mostrar a verdadeira essência desse dia: a beleza bruta, que é o amor. E o casamento não é sobre isso?

Recentemente, o fotógrafo James Day nos fez lembrar disso com suas imagens emocionantes do casal australiano Adrian e Roslyn. A atitude do fotógrafo levou os noivos às lágrimas no dia do casamento. Ele queria fazer fotos do casal na frente de um lindíssimo pôr do sol. Porém, enquanto ele preparava a câmera, a luz e o enquadramento, ele sentiu que tudo aquilo “não era o suficiente”. No Facebook, James explicou: “Quando a luz ficou incrível, eu abandonei tudo o que eu sabia, fui até eles e disse: ‘Pessoal, pare de posar. Apenas aproveite seu primeiro pôr do sol juntos, como marido e mulher.”

É verdade! No dia do casamento os noivos ficam tão estressados com tanta coisa para organizar que, às vezes, se esquecem de que esse dia marca o início da vida a dois. Por isso, faz sentido que os novos cônjuges demorem algum tempo para admirar a Mãe Natureza.

Mas o fotógrafo foi ainda mais longe e fez uma pergunta ao noivo. Uma pergunta que todas as noivas e todos os noivos deveriam se fazer ao assumir o compromisso do Matrimônio: “Com bilhões de pessoas no planeta, você escolheu passar o resto da sua vida com Roslyn. Você pode dizer-lhe o motivo?”

James conta que fez o noivo sussurrar a resposta no ouvido da noiva “porque aquilo só interessava aos dois. Eu queria que eles compartilhassem aquele momento privativamente.”

E enquanto Adrian contava para que sua noiva o que o fez escolhê-la, Day se afastou e conseguiu o registrar o lindo momento em que as lágrimas escorriam pelo rosto de Roslyn.

Embora nunca saibamos o motivo pelo qual ela foi a escolhida entre bilhões de outras mulheres, a foto demonstra o amor puro que uniu estes dois em matrimônio.

Enfim, a pergunta de Day é propícia para o início da vida do casal. Mas também pode ser feita por todos os maridos e mulheres ao longo da vida conjugal. Imagine acordar no dia de seu aniversário de casamento com um pequeno bilhete, explicando o motivo pelo qual você foi o escolhido ou a escolhida entre bilhões de pessoas. Ao longo dos anos, as razões podem mudar do superficial “porque você faz o melhor café” para o mais significativo “porque você acende meu dia, mesmo quando está escuro lá fora”.

#FicaAdica

Pode soar estranhíssimo para muita gente, mas você sabia que, ao ter ato conjugal com seu cônjuge dentro do matrimônio, estando ambos abertos à graça da vida, você está fazendo oração?

É simples de entender. A oração não é uma repetição de palavras: é uma atitude de união com Deus. Todas as nossas atividades, quando conscientemente oferecidas a Ele, são oração. Inclusive o sexo? E por que não?

São João Paulo II, na sua fascinante catequese sobre a Teologia do Corpo, nos fala da maravilhosa capacidade humana de experimentar, por meio da corporeidade, o atributo nupcial da expressão do amor. Nesse amor, cada cônjuge se torna um presente, um dom para o outro, e um dom completo, voluntário, consciente, que Deus torna fecundo em frutos magníficos como a realização pessoal, a realização mútua, a visão de sentido para a própria vida, a abertura para a nova vida nos filhos que vierem!

É algo único da pessoa humana: entregar-se conscientemente uma à outra como oferta de amor!

Nesse contexto, fazer amor é fazer oração porque é um ato de entrega mútua em que se participa do Amor divino e inclusive da divina criação.

Diz São João Paulo II a respeito dos cônjuges: eles “veem um ao outro com toda a paz do olhar interior que cria a plenitude da intimidade de pessoas”. Todos nós desejamos alguém que nos ame, nos aceite e nos respeite por completo, plenamente, porque isso nos preenche, nos eleva e, de modo literal, nos leva a experimentar o amor de Deus sensivelmente.

A união sexual no matrimônio é um ato de união a Deus porque, por meio dela, Ele nos torna partícipes do Seu Amor e do Seu Espírito e nos transmite as graças necessárias para perseverar e nos realizar no desafio envolvido nessa entrega diária – que não, não é fácil.

Importante: nenhum outro ato sexual pode ser descrito como “fazer amor”, porque Amor, em sentido pleno, é o Amor Absoluto, é o Ser Absoluto, é o Sentido Absoluto, é Deus; e nenhum ato separado d’Ele pode ser entendido autenticamente como amor. Nenhum outro ato sexual dignifica. O ato sexual fora desse contexto não apenas não nos une a Deus como, pelo contrário, nos afasta da participação na plenitude do Seu Amor.

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Adaptado de texto original de Luz Ivonne Ream

Autor do artigo: Pedro Henrique Alves

Nos últimos dias temos visto uma larga divulgação da notícia que uma comissão da câmara dos deputados havia, normativamente, definido como família a união entre homem e mulher. Isto causou uma grande comoção nas redes sociais, conservadores e cristãos receberam a tal notícia com uma certa euforia e contentamento; os mais modernistas, com pesar e indignação.

A família, independentemente de qualquer linha ideológica, é a instituição mais bem edificada da história. Por que digo isso? Parece-me que a família foi a estrutura basal da sociedade, aliás, faz-me crer que, somente existe uma sociedade moderna, pois houve antes um núcleo social chamado família. Muitas teorias foram feitas ao longo dos séculos para tentar explicar a origem da sociedade, destaca-se os Contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau), foram eles os mais aclamados entre aqueles que se tentaram explicar a estruturação social desde sua origem.

Destaco dois em especial: Rousseau, que em seu livro “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”[1] trata do tema: origem da família e desigualdades na sociedade; Marx, apesar de não ser um dos Contratualistas, também apresenta-nos sua teoria em uma de suas obras, “A origem da família, da propriedade privada e do Estado”[2], obra esta que traduz suas ideias mais maduras, quem assina a sua obra é seu fiel escudeiro Engels, pelo advento da morte do dito autor. Bom, apenas citei alguns estudiosos do tema para contextualizar o debate, e democraticamente mostrar que não palpitarei por um mero deleite filosófico.

Algo me parece paradoxal quando tratamos do assunto: família. A sociedade moderna enxerga a estrutura tradicional de família como sendo uma dificuldade para o “avanço”, um entrave, uma engrenagem enferrujada que precisa ser substituída, todavia, a família é a base natural da humanidade, e ninguém em sã consciência há de discordar disto. É como colocar bombas-relógios nos firmamentos de nossos lares, e deitarmos tranquilamente em nossas camas como se nada tivesse por ocorrer. “Ora, pareceu-me injusto que a humanidade se ocupasse em chamar de más todas aquelas coisas que foram boas o suficiente para tornar outras coisas melhores, em eternamente chutar a escada pela qual subiu”[3].

Por mais que isto venha assustar a modernidade, me sinto inclinado a denunciar que, o ato sexual, um dia, foi visto como forma de reprodução e de união (laço) entre indivíduos, não como mero playground. Num belo dia, um homem percebeu que do coito com sua parceira surgia um novo ser semelhante a ele, e justamente por conta deste estranho e indefinível milagre, perceberam que seria bom eternizar esta união, pois, para o que parece ser divino o eterno é a melhor escolha. Instaura-se, então, a primeira e mais sólida célula social, a qual permitiu o surgimento de uma sociedade organizada, e isto não se trata de uma criação burguesa ou de uma espécie de conspiração macabra para se instaurar a propriedade privada, como quis Marx[4], buscar manter a união entre a sua amada e a sua prole é algo tão natural quanto respirar, não há maldições capitalista em torno disso, há apenas o desejo de tornar duradouro o que se apresentou como digno de durar.

O que uniu definitivamente o homem e mulher como único seio familiar possível, não foi nenhum documento normativo de qualquer sociedade em nosso espaço temporal. Quem os uniu foi o mistério da criação da vida, foi a constatação de que a união entre dois diferentes faz brotar um terceiro que carrega um pouco dos dois que o fizeram, aqui está todo o “porquê”, aqui está toda raiz da família tradicional, a capacidade magnifica de gerar mais um que é “carne da minha carne”(Gênisis 2, 23). Trata-se, por fim, deste magnifico mistério fecundo que mais tarde denominaríamos: “amor”. Não espantem-se com minha retórica a favor desta definição familiar, não se trata de discriminação sexual ou qualquer coisa que se assemelhe a isso, trata-se de uma constatação inevitável, a família é “uma necessidade da humanidade[…] um alçapão do qual a humanidade não tem como escapar”[5].

O mistério que envolve a fecundidade da união masculina e feminina ultrapassa qualquer limite de nossas vãs teorias causais, este medonho processo de prole urge dentro de nossas mentes sem uma resposta prévia, faz brotar um grande e infindável mistério, faz nascer em nós algo que não se explica com estatísticas, escavações arqueológicas ou teorias sociológicas. Existe um toque transcendente no ato de multiplicação da espécie humana, algo que me tenta a conversão, a vida surgindo de dois mortais tão limitados, algo que nem mesmo a mais rebuscada filosofia, nem as mais sapientíssimas mentes conseguiriam sintetizar em uma explicação racional, eis a trave que sustenta a família, uma trave que não é fincada no tempo.

Este big bang, este ato primeiro de luz acontece através de uma união hétero, e como não querer manter a salvo esta maravilhosa união chamada: família? Mantê-la fora do processo corrosivo do tempo é manter seguro algo que se mostrou digno de eternidade. “Basta dizer que pagãos e cristãos tomavam igualmente o casamento como um laço, como algo que, em circunstâncias normais, não deveria ser desfeito”[6]. A família é uma forma imanente de participar da eternidade, o único momento que Deus empresta ao ser humano o seu poder mais belo, o da criação. Quando uma família se forma, eu carrego um pouco de meu pai e de minha mãe que, por sua vez, carrega um pouco dos seus e assim por diante, talvez o termo “árvore genealógica” foi assim designada, pois, há arvores tão fortes parecem eternas.

Mesmo que muitas destas famílias mostram-se não cumpridoras de sua missão natural, isso não deve ser motivação para destituí-las ou redefini-las como se fossem produtos enlatados com data de validade ultrapassadas, algo que teve seu tempo, mas que hoje se faz pútrido. Esse mistério selou a união mais bela que se tem conhecimento. O que hoje a sociedade contesta como sendo uma definição retrograda de família, mostrou-se ao longo da existência humana ser algo tão bom que Deus não ousou colocar nela uma data de validade.

Referências:

[1] ROUSSEAU, Jean-Jaques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, 1ª Ed, L&PM POCKET: Porto Alegre RS, 2008. 173 p.

[2] ENGELS, Frederich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado, 1ª Ed, BestBolso: Rio de Janeiro, 2014. 223 p.

[3] CHESTERTON, G. K. O defensor Tipos variados, 1ª Ed, Ecclesiae: Campinas SP, 2015. p. 18

[4] ENGELS, op. Cit., p. 34 -101

[5] CHESTERTON, G. K. O que há de errado com o mundo, 1ª Ed, Ecclesiae: Campinas SP, 2013. P. 56

[6] Idem, p. 5

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Foi publicada nesta terça-feira (19/09) a Carta Apostólica “Summa Familiae Cura” do Papa Francisco em forma de Motu Proprio, com a qual é instituído o Pontificio Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimónio e da Família.

Com a “Summa familiae Cura”, o Papa institui o Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família que, ligado à Pontifícia Universidade Lateranense, substitui o Pontifício Instituto João Paulo II para os Estudos sobre o Matrimônio e Família.

Portanto, o que era “Estudo” agora torna-se “Ciência”, pois, para Francisco, é importante prosseguir a intuição de João Paulo II, ampliando o raio de pesquisa sobre a família, seja no que diz respeito à sua dimensão pastoral e eclesial, seja no campo da cultura antropológica.

O Papa considera que a mudança antropológico-cultural da sociedade requer uma análise analítica e diversificada da questão familiar, que não se limite a práticas pastorais e missionárias que refletem formas e modelos do passado. “No límpido propósito de permanecer fiéis ao ensinamento de Cristo, devemos portanto olhar, com intelecto de amor e com sábio realismo, para a realidade da família hoje em toda a sua complexidade, nas suas luzes e sombras”, escreve o Pontífice.

O novo Instituto procurará ser, no âmbito das instituições pontifícias, um centro acadêmico de referência, ao serviço da missão da Igreja universal, no campo das ciências que dizem respeito ao matrimônio e à família e acerca dos temas relacionados com a fundamental aliança do homem e da mulher para o cuidado da geração e da criação.

O Instituto Teológico tem a faculdade de conferir “iure proprio” aos seus estudantes os seguintes graus acadêmicos: Doutorado, Licenciatura e Bacharelado em Ciências sobre o Matrimônio e a Família.

Fonte: Rádio Vaticana 

***

Sobre o matrimônio e a família, é preciso repensar tudo a partir de uma nova elaboração teológica, e não é possível mais se limitar a ajustes pastorais mais ou menos precários. O Papa Francisco já havia explicado isso na Amoris laetitia, mas, evidentemente, os novos caminhos que Bergoglio havia indicado no texto elaborado com base nas reflexões de nada menos do que dois Sínodos dedicados à família custam a serem percorridos.

Assim, com um motu proprio intitulado Summa familiae cura, isto é, o máximo cuidado pela família, ele decidiu abolir o Pontifício Instituto João Paulo II para a Família e instituir o “Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família”, que deverá elaborar novas linhas teológicas, com base em um sistema jurídico diferente, em consonância com o que o papa escreveu na Amoris laetitia.

Na verdade, o motu proprio é uma carta pastoral na qual o papa escreve que a situação atual “não nos permite nos limitar a práticas da pastoral e da missão que refletem formas e modelos do passado”. Ele acrescenta que é preciso “uma abordagem analítica e diversificada”, e olhar “com sábio realismo para a realidade da família hoje, em toda a sua complexidade, nas suas luzes e nas suas sombras”. Portanto, é preciso explorar caminhos novos também do ponto de vista da teologia.

O antigo Instituto João Paulo II para a Família não tinha essa tarefa. Ele nascera em tempos nos quais a crise da família e os novos desafios abertos na sociedade à instituição do matrimônio não eram tão fortes e parecia suficiente ajustar um pouco as práticas pastorais.

Uma análise que indicava uma necessária expansão da sua reflexão havia sido feita em um seminário entre os dois Sínodos sobre a família, organizado por Dom Vicenzo Paglia e coordenado pelo teólogo Pierangelo Sequeri, no qual haviam sido antecipadas muitas reflexões presentes, depois, na Amoris laetitia.

As atas do seminário foram publicadas pela Livraria Editora Vaticana. Sequeri, no ano passado, em meados de agosto, havia sido nomeado para a cúpula do Instituto João Paulo II para a Família e, a partir de dentro, pôde se dar conta dos limites de ação e de elaboração, especialmente em relação aos novos desafios indicados pela Amoris laetitia.

Eis a razão da mudança de ritmo mais orientado para a teologia que o papa indicou no motu proprio.

A decisão de Bergoglio também seria, segundo alguns, uma resposta às “dubia” levantadas pelos quatro cardeais críticos do texto pontifício, Brandmüller, Burke, Caffarra e Meisner, os dois últimos recentemente falecidos. Eles levantavam uma série de questões de ordem mais teológica do que pastoral, e não só limitadas ao problema da comunhão aos divorciados em segunda união.

Em alguns setores da Igreja, há resistências e algum desconforto acerca da Amoris laetitia. A decisão do papa de confiar a uma nova instituição a elaboração de uma teologia do matrimônio e da família que possa dialogar melhor com as outras ciências humanas e com uma cultura antropológica que está mudando em todos os temas da vida não significa que Bergoglio queira uma mudança da doutrina, mas, ao contrário, ele quer entender como é possível permanecer mais fiel à doutrina em um mundo que muda.

E explica isso no texto do motu proprio: “Devemos ser intérpretes conscientes e apaixonados da sabedoria da fé em um contexto em que os indivíduos são menos sustentados do que no passado pelas estruturas sociais na sua vida afetiva e familiar”. É por isso que não adiantam respostas simples com um “sim” ou um “não”, como queriam os cardeais das “dubia”.

O novo instituto terá uma natureza decisivamente acadêmica. O papa estabeleceu que ele deverá trabalhar em estreito contato com o novo dicastério, recentemente constituído, para os Leigos e a Família, com o da Educação Católica e com a Pontifícia Academia para a Vida, e cooperar com a Pontifícia Universidade Lateranense.

A sua missão, enfatiza o papa no texto, será “científica” e “eclesial”, ampliada a toda a cultura da vida, incluindo o cuidado do ambiente.

O artigo 2 do motu proprio diz: “O novo instituto constituirá, no âmbito das instituições pontifícias, um centro acadêmico de referência, a serviço da missão da Igreja universal, no campo das ciências que se referem ao matrimônio e à família e aos temas conectados com a fundamental aliança do homem e da mulher para o cuidado da geração e da criação”.

Site da revista Famiglia Cristiana

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Catholic Herald trouxe nesta semana a história de Conor Gildea, um estudante escocês da Universidade Católica de Glasgow que pretende ser professor de religião. Conor, de 24 anos, resolveu celebrar a sua despedida de solteiro com uma Missa!

A celebração eucarística foi a sua primeira ideia quando começou a pensar na despedida – e não ficou apenas na intenção: a Missa aconteceu mesmo, em 8 de julho, na Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Assunção, situada na capital, Edimburgo.

A página da catedral no Facebook divulgou uma imagem e um comentário sobre a celebração:

“Recebemos muitas solicitações de vários grupos que desejam celebrar um Missa privada. O grupo de hoje, porém, foi muito incomum, porque era um grupo de solteiros! Isso mesmo: o noivo insistiu muito para que a sua despedida de solteiro começasse com a celebração da Santa Missa”.

Muitos internautas felicitaram o noivo e seus amigos pela iniciativa. Aliás, Conor já costumava participar da celebração eucarística com seus colegas. Em sua entrevista ao Catholic Herald, ele declarou:

“Ter todos os meus amigos rezando comigo e por mim foi incrível. Isso me deu muito incentivo na minha preparação para o matrimônio. Ir à Missa exatamente uma semana antes foi muito importante para me preparar espiritualmente”.

O jovem observou que alguns dos convidados ficaram “surpresos” com a sua inusitada despedida de solteiro, pois não participavam da Missa desde que saíram do colégio – e, mesmo no colégio, só iam por obrigação. Apesar do estranhamento inicial, eles “começaram a perguntar por que era tão importante para nós ir à Missa”, o que serviu a Conor como deixa para lhes testemunhar que “a fé se baseia no encontro pessoal com Cristo” e que visitar o Santíssimo Sacramento é “a forma mais profunda de se encontrar com Ele”. Os amigos, considera Conor, “podem até não concordar, mas tiveram a oportunidade de conhecer a razão por trás dessa iniciativa”.

Depois da Missa, o noivo e seus amigos foram comer e assistir a uma partida de futebol.

Conor Gildea e sua esposa Naomi, que estudou música, se casaram na capela da Universidade de Glasgow no dia 15 de julho e partiram para Roma em lua de mel.

A catedral de Edimburgo, também via Facebook, desejou “um longo, feliz e frutífero matrimônio” ao novo casal. E nós, que desejamos o mesmo, lhes agradecemos pelo belo testemunho de espontaneidade e coerência na prática da fé católica!

Aleteia

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A oração é um poderoso elemento de vínculo entre homem e mulher. O cultivo de práticas religiosas pode ser determinante na longevidade do relacionamento de um casal, contanto que as façam juntos. É o que diz uma pesquisa recente do Institute for Family Studies (IFS), entidade norte-americana que trabalha com pesquisas comportamentais sobre temas de família.

Segundo o IFS, rezar unidos, lado a lado e com frequência diz muito sobre a qualidade do relacionamento. O doutor Bradford Wilcox, um dos responsáveis pelo estudo, diz que isso deve ao fato de que a fé compartilhada é um poderoso elemento de vínculo entre homem e mulher e a oração é, tradicionalmente, a melhor forma de manter viva a experiência religiosa. “Vimos que casais que vão à igreja juntos e que, ainda mais, rezam juntos alcançam níveis altos de qualidade do relacionamento, disse Wilcox, que é diretor do National Marriage Project,da Universidade da Virgínia, e autor de vários estudos envolvendo religião e casamento. A entrevista foi concedida ao site Deseret News.

De acordo com o estudo, casais que rezam juntos pelo menos uma vez por semana são 17% mais propensos a se considerarem “muitos felizes juntos”. Wilcox diz notar também um “poder ritualístico na oração que dá sentido de comunhão ao relacionamento, de estar unidos de uma maneira mais profunda e intensa”. Para os pesquisadores trata-se de “um símbolo de comprometimento mútuo”.

No entanto, se apenas um dos dois vai à igreja, isso não apresenta nem benefícios nem riscos para a relação, mas há grandes diferenças dependendo se é ele ou ela quem frequenta os cultos.

Os pesquisadores perceberam que são mais felizes os casais em que ambos frequentam a igreja ou aqueles em que apenas o homem frequenta. Quando apenas a mulher vai à igreja, o grau de felicidade cai, ficando abaixo até mesmo dos casais em que nenhum dos dois frequenta a igreja.

A sua pesquisa revelou ainda que:

– 78% dos casais que regularmente vão à igreja juntos, ou nos quais apenas o homem vai, consideram-se muito ou extremamente felizes.

– Dois terços dos homens e mulheres em relacionamentos nos quais nenhum vai à igreja dizem-se felizes.

– 59% dos casais em que a mulher vai sozinha à igreja se dizem muito felizes.

Os benefícios da prática religiosa regular vão ainda além do nível de satisfação com o próprio relacionamento. Os dados mostram que casais que vão regularmente à igreja são menos propensas a ter filhos fora do casamento ou envolverem-se em casos de infidelidade.

As redes de amizades, comuns nesses ambientes, também contribuem para o fortalecimento de modos de vida que respeitem determinados valores morais, além de se tornarem ambientes acolhedores em momentos difíceis. Os pesquisadores dizem que casais que frequentam esses círculos de amizade são mais propensos a estar disponíveis quando alguém perde o emprego, tem problemas no casamento ou perdem um ente querido. “Isso é verdade, seja você religioso ou não. Se os seus amigos conhecem a sua esposa e os amigos dela, você tende a permanecer fiel a ela.”

Quanto à constatação de que casais nos quais a mulher vai sozinha à igreja são menos felizes, Wilcox tem algumas teorias. Pode ser que mulheres com dificuldades no relacionamento costumem procurar alguma igreja, então elas já estariam menos felizes antes de ir à igreja. É também possível que as mulheres que vão à igreja vejam os seus amigos indo com os seus parceiros e percebam que isso beneficia o seu relacionamento e a sua vida, o que as faz se desapontar com a própria relação.

(Via Sempre Família. Colaborou Felipe Koller. Com informações de Deseret News)

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Quando as pessoas se casam, elas juram se amar na saúde e na doença. Jon Newman não passa um dia que seja sem honrar esses votos do matrimônio.

Sua mulher, Marci, foi diagnosticada com um câncer de tireoide. Depois dos tratamentos, a esposa não podia sair do quarto… então, ele resolveu fazer algo maravilhoso!

Esposa não podia sair do quarto

A família americana ficou de coração partido quando soube que Marci estava doente. A mulher teve que passar por vários tratamentos agressivos, incluindo a radiação. Um dia, a filha do casal viu seu pai sentado à porta do quarto da mãe, e resolveu captar uma foto e contar no Twitter a razão de Jon estar lá.

“Minha mãe tem que ficar em isolamento no quarto para realizar a radioterapia contra o câncer. Então, meu pai montou uma mesa em sua porta para lhe fazer companhia… e eu estou chorando”, escreveu a garota de 17 anos.

O marido não sai nem um segundo de perto da sua amada esposa… eles juraram se amar para sempre, no bem e no mal. E Jon está cumprindo a sua promessa, ansioso pela recuperação de Marci. Enquanto ela estiver em tratamentos, ele vai acompanhá-la por todo o processo, que grande homem!

Mas isso não é tudo. O esposo esteve com ela em todas as consultas, todos os exames de sangue, cada operação, cada sessão de radioterapia… ainda dizem que não existe amor verdadeiro? “Se você não pode ficar ao meu lado, chegue o mais perto que puder”, diz Marci para o marido.

Apoio Mundial

Desde sua filha postou a foto no Twitter, o casal tem recebido muitas mensagens de carinho de várias partes do mundo, e todos têm dado os parabéns Jon pelas suas atitudes. E a melhor parte? Ele ficou surpreso por que acha que não está fazendo nada de especial.

Ele simplesmente está dando para sua esposa todo o amor que ela merece nesses tempos difíceis. Esse homem é um exemplo e uma inspiração para todos.

Esperemos que Marci recupere em breve… mas com tanto amor, com certeza ela ficará boa em pouco tempo. Afinal, esse é o sentimento mais poderoso de sempre. Compartilhe se concorda!

 

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Para tentarmos entender um pouco sobre o tema, em primeiro lugar devemos compreender o que significa maturidade, para posteriormente buscarmos uma reflexão sobre a questão da maturidade sexual no casamento.

Segundo Maria Cristina Griffa e José Eduardo Moreno, no livro “Chaves para a psicologia do desenvolvimento”, o amadurecimento que envolve a personalidade só pode ser atingido na idade adulta. O ser humano, diferente do que acontece com os animais, não só vive, mas dirige sua vida, orienta-se para um determinado caminho.

Ter maturidade pessoal não significa estar pronto, mas é buscar, é descobrir suas qualidades, é ter aceitação das limitações e possibilidades tanto externas quanto internas. É assumir responsabilidade, é estar disposto a cuidar e permitir ser cuidado, é ter compromisso consigo mesmo e com os demais, é ter autocontrole, é ser, de certa forma, independente, é analisar as escolhas porque elas têm consequências, é ter certo grau de autoconfiança, é buscar perdoar e ser perdoado, é ter outras características, e sobretudo, pensamentos e comportamentos que o faça viver de forma mais autêntica. É importante ressaltar que a maturidade pessoal interfere na maturidade sexual no casamento.

No que se refere à maturidade sexual no casamento, temos um caminho de amadurecimento que não ocorre de um dia para o outro, ele tem um processo, está presente em toda a nossa história. Nosso amadurecimento sexual inicia-se na concepção e caminha durante toda a nossa vida. Na adolescência, a manifestação da sexualidade acontece mais nitidamente e na vida adulta ela pode ser vivida de maneira mais madura, conforme veremos a seguir.

Todo o ser humano em um período denominado por “adolescência”, tem o seu impulso sexual voltado para todos os outros além dele, ou seja, para um outro diferente dele, no caso do homem voltado para as mulheres e para as mulheres voltadas para todos os homens e por isso ele e ela treinarão neste período a olharem para todos a sua volta. Este comportamento de olhar para todos é muito importante, é um elemento essencial neste período, pois somente através desta atitude a pessoa poderá um dia encontrar aquela ou no caso da mulher, aquele, que será de fato o escolhido. Portanto é nesta etapa da vida, que se inicia a integração da sexualidade com a afetividade no ser humano.

Após este processo de olhar e desejar a muitos, surge um novo tempo, justamente quando é encontrada aquela pessoa com a qual iremos nos casar. Neste momento, aquele treinamento da adolescência não se desfaz magicamente, agora inicia um novo treinamento, onde a pessoa deverá exercitar constantemente o olhar para uma única pessoa, aquela que foi escolhida para ser a esposa ou esposo. O desafio dos casados é manter o “olhar” para uma única pessoa, a pessoa amada que escolheu!

Segundo Victor Franckl, uma pessoa madura sexualmente é aquela que consegue canalizar o seu impulso sexual para uma única pessoa do sexo oposto. E diante deste novo treinamento, a pessoa irá amadurecendo, crescendo sexualmente no casamento.

O que significa impulso sexual?

Podemos dizer que o impulso sexual é uma energia, neste caso uma energia sexual direcionada para uma meta, uma finalidade. O impulso sexual está presente em todos os seres humanos, sendo estes alimentados pelas fantasias de conteúdos sexuais.

Portanto, ser sexualmente maduro é ser capaz de canalizar este desejo, impulso sexual, e consequentemente suas fantasias sexuais para a pessoa com a qual nos casamos. Mas manter o impulso, o desejo, as fantasias para o esposo ou esposa, não é como em um conto de fadas. Ele deve ser exercitado. Isto é, um treinamento!

Ao olhar para fora do casamento, para as outras pessoas que não deixaram de ser atrativas, o esposo ou a esposa não deverá manter-se fixo neste impulso para outros, mas, direcioná-lo novamente e constantemente para o cônjuge.

Não é uma tarefa fácil, e nem para ser realizada em um único dia. Ela deve ser treinada diariamente como exposto acima. O casamento é esta oportunidade que a vida nos dá para exercitarmos e atingirmos a maturidade sexual.

Como exercitar o impulso sexual para uma única pessoa?

Confira algumas dicas:

1. Reconhecer e trabalhar as tendências à traição advindas da história de vida.

2. Ressignificar através de um processo de cura as fantasias adquiridas ao longo da vida a partir da adolescência. Muitos utilizaram meios para produzirem fantasias, como vídeos e filmes pornográficos, imagens, etc. A partir do casamento nem todas as fantasias são possíveis. Muitas delas fazem com que os cônjugues não se sintam amados.

3. Olhar diariamente para a pessoa escolhida, buscando descobrir o que ela tem de atrativo sexualmente. Nenhuma pessoa precisa ter um corpo perfeito para ser desejada, os cônjuges devem acompanhar as transformações físicas que ocorrem com o tempo. Sempre existe algo atrativo.

4. Buscar a reconciliação: mágoa pode afastar os casais da vivencia sexual.

5. Buscar o enamoramento: os cônjuges devem promover o namoro, vivenciando o romantismo entre eles. A afetividade humaniza potencializa a sexualidade.

6. Diálogo sexual: é importante conversar sempre a respeito da sexualidade. Esta conversa deve ocorrer antes, durante e após o ato sexual. Dentro desta realidade do diálogo sexual surge uma questão: você conhece e respeita a história sexual do seu cônjuge?

Um casal maduro sexualmente não trata um ao outro como objeto de prazer, no qual somente um quer satisfazer as necessidades fisiológicas; não utiliza o outro como uma coisa, um objeto, sem respeitá-lo; não o obriga a certas práticas que o levam a uma percepção depreciativa de si. O casal sexualmente maduro não se masturba no outro! O casal sexualmente maduro é aquele que entende a sexualidade como um bem partilhado que faz com que ambos se sintam de fato um.

Aleteia

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Em relação com os “dubia” apresentados pelos quatro cardeais acerca da exortação “Amoris laetitia”, o Cardeal Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, intervém novamente afirmando que “neste momento não é possível uma correção do Papa porque não há nenhum perigo para a fé”. O cardeal, em uma entrevista com Fabio Marchese Ragona, do Tgcom24, no âmbito do programa Estancias Vaticanas, também expressou irritação após a publicação dos “dubia”.

Como podemos recordar, pouco mais de um mês após a apresentação dos cinco “dubia” (sobre a interpretação de “Amoris laetitia”, a propósito dos sacramentos para os divorciados que novamente casaram, apresentados de acordo com a modalidade técnica de uma petição de esclarecimentos à Congregação para a Doutrina da Fé) os quatro cardeais signatários, Walter Brandmüller, Raymond Leo Burke, Carlo Caffarra e Joachim Meisner, decidiram publicá-los na mídia. A publicação aconteceu poucos dias antes do Consistório de outubro de 2016. Nas semanas seguintes, o Cardeal Burke falou em diversas ocasiões de uma possível e próxima “correção formal” do Papa, caso não houvesse nenhuma resposta. Em uma entrevista com o Vatican Insider, o Cardeal Brandmüller indicou que essa correção seria realizada em primeira instância em “camera caritatis” e, portanto, que não seria publicada.

Agora, o Prefeito da Doutrina da Fé parece afastar a hipótese da “correção”. Todos, disse Müller ao Tgcom24, “especialmente os cardeais da Igreja Romana, tem o direito de escrever uma carta ao Papa. No entanto, fiquei surpreso porque esta foi tornada pública, quase obrigando o Papa a dizer “Sim” ou “Não”. Não gosto disto. Inclusive uma possível correção fraterna do Papa”, acrescentou,” parece-me muito distante, não é possível neste momento, pois não se trata de um perigo para a fé, como disse São Tomás”.

O Prefeito do ex-Santo Ofício continuou: “Estamos longe de uma correção e digo que é um ultraje para a Igreja discutir estas coisas publicamente. “Amoris laetitia” é muito clara na sua doutrina e podemos interpretar toda a doutrina de Jesus sobre o matrimônio, toda a doutrina da Igreja, em 2000 anos de história”. O Papa Francisco, concluiu o cardeal, “pede para que saibamos discernir a situação dessas pessoas que vivem em uma união não-regular, ou seja, que não estão de acordo com a doutrina da Igreja sobre o casamento, e pede que ajudemos essas pessoas a encontrar um caminho para uma nova integração na Igreja segundo as condições dos sacramentos e da mensagem cristã do matrimônio. Mas eu não vejo nenhuma contraposição: por um lado, temos a doutrina clara sobre o casamento, por outro, a obrigação da Igreja de se preocupar com essas pessoas em dificuldade”

Vatican Insider

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Bombeiro americano que foi vítima no atentado contra as Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001 e sua vida de fé, transmitida à Família

No último dia 11 transcorreram 15 anos do maior atentado terrorista já perpetrado no mundo. O ataque às Torres Gêmeas, em Nova York, marcou o fim de uma era. Desde então, o mundo não foi mais o mesmo. A insegurança reinou por toda parte. Das mais de três mil vítimas desse atentado, cada uma tem sua história.
A cadeia americana de televisão CNN é uma das mais poderosas do mundo. Evidentemente, como toda a mídia, ela só traz matérias que interessem aos seus telespectadores e rendam dividendos.Por isso, surpreende uma longa reportagem “não politicamente correta” e contra seus hábitos, publicada por ela no dia 6 de setembro, sobre uma família numerosa e genuinamente católica, atingida pelo infortúnio. Tinha como título: “Os 10 Palombo: como perdendo o pai em 11 de setembro, e em seguida a mãe, transformaram o sofrimento em força” .(1)

Trata-se da família de Frank Anthony Palombo, bombeiro em Nova York, que perdeu a vida no atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro. Lídimo católico, por ocasião de sua morte aos 46 anos de idade, era pai de dez filhos, oito homens e duas mulheres, na idade de 11 meses a 15 anos. [foto abaixo]

FAMÍLIA NUMEROSA E FELIZ

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Frank e sua esposa Joana se conheciam praticamente desde criança. No entanto, ele entrou para o seminário pensando ser sacerdote. Saiu algum tempo depois, convencido de que sua vocação era o matrimônio. Em 1979 entrou para o corpo de bombeiros de Nova York, e em 1982 casava-se com Joana, que era professora.

No início houve alguns problemas a superar. Enquanto Frank era profundamente religioso, Joana “não queria saber de religião”. Ele queria ter muitos filhos, e ela não queria ter nenhum.

Foi só em 1985 que as coisas mudaram. Um dia Frank viu em sua paróquia o anúncio de uma série de palestras com o título: “Qual o sentido de sua vida?”. E convenceu sua esposa a delas participar. Joana foi a contragosto, mas as palestras a impressionaram profundamente. As palavras do sacerdote: “Por que você não deixa Deus entrar em sua vida?” foram-lhe diretamente ao coração. Rendeu-se. “Saber que Deus a amava, deu-lhe a força para levar a vida adiante, sem se assustar com o sofrimento”, diz sua filha Maria.

Casualmente ela encontrou na igreja um casal italiano com quatro filhos, que parecia ser muito feliz. “Por que não hei de fazer o mesmo?”, pensou. Isso a reconciliou com o pensamento da maternidade.

A partir de então os filhos começaram a chegar, um após outro. E o casal os recebia com alegria, como um dom de Deus. Não lhes importava ficar ricos, mas sim amar os filhos que Deus lhes dava. Desse modo, o que não podiam dar financeiramente aos filhos, eles compensavam com o carinho e a disponibilidade.

Mais tarde Frank se emocionava quando via à mesa seus numerosos filhos, e agradecia a Deus por tê-los dado.

Frank, com seu bom temperamento, era a alma da ruidosa família. Em tudo os filhos recorriam ao pai, que os ajudava nas tarefas escolares ou nos jogos, e os encorajava a se esforçarem muito no estudo. “Se vocês tirarem nota baixa por não se terem esforçado, eu ficarei muito bravo”, dizia-lhes.

De seu lado, Joana era uma mãe amorosa, que tratava os filhos com muita delicadeza. Muito ativa, ela os levava e buscava na escola, assistia-os nos estudos e nos jogos, e, sobretudo, instilava neles uma profunda piedade.

O zelo apostólico de Frank levava-o a se interessar também pelos jovens da paróquia. A cada três anos, conduzia um grupo deles para fazer missões no ultramar.

Certa vez comentavam o gosto que ele teria salvando muitos das chamas nos incêndios. Com espírito sobrenatural, ele respondeu que antes “era mais satisfatório salvar uma alma das chamas eternas”.

Nas horas vagas em sua corporação, Frank lia a Sagrada Escritura. A quem lhe dizia que, em vez disso, deveria empregar seu tempo estudando para ser promovido a tenente, ele respondia: “Você nunca irá ao Céu só lendo a apostilha para ser tenente”.

Frank poderia aposentar-se em 1999. Não o fez, mas começou a fazer trabalhos extras, julgando que necessitava de mais alguns anos para ter seu próprio negócio. A esposa terminara seu mestrado, e esperava poder lecionar de novo para ajudar nas despesas.

A PRIMEIRA TRAGÉDIA: O 11 DE SETEMBRO

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Foi então que, em setembro de 2001, sobreveio a tragédia. Frank e mais seis colegas foram esmagados pelas ruínas em chamas do prédio das Torres Gêmeas, no qual trabalhavam.

O trágico acontecimento provocou uma como que devastação não só na família, privada de seu mais firme suporte, mas em toda a paróquia que Frank frequentava e em muitos de seus amigos.

Sozinha, às voltas com dez filhos — o mais velho dos quais tinha apenas 15 anos e o mais novo seis meses —, Joana, com sua fé em Deus, enfrentou com coragem a nova situação.

Naturalmente, o choque dos filhos foi tremendo. Eles se perguntavam: “Como pôde Deus permitir isso? Como pôde Deus deixar-nos sem um pai?” A mãe procurava explicar-lhes que os desígnios de Deus são insondáveis, mas que, permitindo essa desgraça, Ele não os desamparava; pelo contrário, continuava a assisti-los.

O temor de Joana era de que o Estado pusesse em dúvida sua capacidade de criar tantos filhos sem o marido, e que, portanto, os separassem dela. Felizmente isso não ocorreu. Mulher enérgica, ela queria a todo custo manter unida a família, baseada no que o esposo sempre lhe dizia: “Deus proverá”.

Do ponto de vista financeiro, eles contavam com a pensão do pai, mais uma compensação extra por sua morte em serviço, além de doações de parentes e amigos.

TODOS AJUDAM A FAMÍLIA ENLUTADA

E as ajudas vinham de todos os lados, a começar pelos bombeiros da unidade de Frank. Eles já se tinham familiarizado com os meninos quando o pai os levava para a corporação, e começaram a ajudar de vários modos, executando pequenos reparos e outros serviços na casa, dando-lhes carona nos seus carros de serviço, e jogando com eles em frente da casa.

Além disso, estranhos começaram a lhes dar alguma ajuda, em espécie ou em dinheiro. Por exemplo, Jim Fassel, técnico do famoso clube de futebol americano New York Giants, ficou tão comovido com a notícia de que um bombeiro tinha morrido deixando 10 filhos, que procurou ajudá-los como pôde. Concedia-lhes ingresso grátis para os treinos e jogos do seu clube, e até os convidava para entrar no campo com seus jogadores nos dias de jogo. Um pequeno episódio ocorreu num desses dias, durante a execução do hino nacional. Um dos filhos de Frank, o adolescente Tom, ouvia um tanto displicentemente o hino. Então um dos mais conhecidos jogadores do clube, Michael Strahan, deu-lhe um tapinha na cabeça dizendo: “Ponha as mãos juntas”.

A SEGUNDA TRAGÉDIA: A MORTE DA MÃE

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A vida para eles seguia com relativa normalidade quando, em 2008, Joana foi diagnosticada com câncer no cólon. Cirurgias, quimioterapias, tratamentos diversos se seguiram enquanto ela lutava desesperadamente pela vida.

Mas sentia que era preciso preparar os filhos para o pior. Quando sentiu que o fim se aproximava, recomendou-lhes que permanecessem sempre unidos e que não se preocupassem com os irmãos mais novos, “porque agora eles teriam uma Mãe melhor. Amem a vida, e façam o melhor que possam”.

No dia 8 de agosto de 2013, rodeada pelos filhos, irmãos, e por muitos de sua paróquia, Joana entregou sua alma a Deus, enquanto os presentes cantavam o Credo. O primogênito tinha 27 anos e o caçula, 12.

A VIDA SEM OS PAIS
Já vimos num artigo anterior que a união existente entre os membros das famílias numerosas é muito maior. Isso se deu com os Palombo: seguindo o desejo da mãe, todos os irmãos resolveram permanecer juntos em sua casa de Nova Jersey, para se ajudarem mutuamente.

Antonio, o mais velho, está agora no seminário para ser sacerdote. Frank Jr., o segundo, é o único casado e já tem três filhos. Joe, o terceiro, é o contador que controla o orçamento da família. Maria, a quarta, é enfermeira especializada em oncologia. Tornou-se a “mãe” e a dona da casa. O quinto filho, Tom, seguiu a profissão do pai. João, o sexto, foi admitido na academia dos bombeiros. Patrick, o “chefe” da casa, está trabalhando como cozinheiro num restaurante italiano. Daniel, o seguinte, está no colégio, e a última, Margarete, está no ginásio.

Joe afirma: “Tendo esse vínculo [de união entre si] apesar da diferença de cada um e da diferença de personalidades, eu penso que isso nos mantem unidos”. E Patrick acrescenta: “Nossos pais instilaram em nós a importância de estarmos juntos, comermos juntos, e rezarmos juntos”.

Como o domingo é o dia em que todos estão em casa, os 10 se reúnem para fazer a oração da manhã em conjunto, como os pais lhes ensinara.(2)

As considerações sobre essa família tão religiosa e tão unida diante de tanto sofrimento nos mostram a importância da Religião Católica e do afeto na formação dos filhos. E como Deus socorre e abençoa os que são d’Ele, mesmo em meio às piores tragédias.

Plinio Maria Solimeo
_______
[1] http://edition.cnn.com/2016/09/06/us/palombo-10-siblings-from-9-11/index.html. É nessa fonte que baseamos o presente artigo.

[1] Ver também: http://www.religionenlibertad.com/padre-murio-11s-madre-cancer–51947.htm
https://www.aciprensa.com/noticias/quedaron-huerfanos-tras-atentado-del-11s-y-dios-bendijo-a-estos-10-hermanos-por-su-fe-63424/

Postado por Paulo Roberto Campos

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Os Bispos Católicos de Alberta e os Territórios do Norte no Canadá publicaram novas orientações para a pastoral dos matrimônios nos quais estabelecem o acompanhamento que deve prestar-se aos casais que se encontrem em uma segunda união sem ter estabelecido formalmente a nulidade de um primeiro matrimônio. No documento, os prelados recordam a necessidade de acudir aos tribunais para estabelecer se a primeira união é inválida e explicaram que certas expectativas de mudança da disciplina da Igreja não são corretas.

Os seis Bispos que assinam as orientações propõem um “acompanhamento pastoral autêntico e efetivo” no qual se acolhe “com generosidade e amor” aos casais e se recomenda uma comunicação calorosa de abertura e disposição. A norma recorda aos sacerdotes que os casais devem dirigir-se ao Tribunal Interdiocesano de Matrimônios para avaliar as condições de seus casos e convidar ao exame de consciência. “Oramos para que estes irmãos e irmãs nossos abram seus corações ao amor misericordioso do Pai, revelado em Cristo, e encontrem cura e reconciliação dentro da Igreja”, afirma o documento.”Poderia acontecer que, através dos meios, os amigos ou a família, os casais tenham sido conduzidos a entender que houve uma mudança na prática da Igreja tal, que agora a recepção da Santa Comunhão na Missa por pessoas que estão divorciadas e voltaram a casar civilmente é possível se eles simplesmente tiverem uma conversa com um sacerdote”, advertiram os Bispos. “Esta percepção é errada”.

Os Bispos recordaram que a recepção da Comunhão na Eucaristia é uma expressão visível da participação na Nova Aliança de Jesus Cristo. “Portanto, qualquer ruptura séria desta união, como o adultério, deve ser sanada antes da recepção da Santa Comunhão”, e recordaram o dever dos crentes de confessar todos os pecados graves antes de comungar. Os prelados destacaram “a beleza e a dignidade do matrimônio e a vida familiar” e o chamado do Papa Francisco de expressar a misericórdia e o amor às famílias que encontram dificuldades. 

Fonte: Gaudium Press

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Reflexão sobre a Amoris Laetitia do Prof. Mons. Ángel Rodríguez Luño, decano da faculdade de teologia da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma

A Exortação Apostólica Amoris laetitia oferece as bases para dar um novo e muito necessário impulso à pastoral familiar em todos os seus aspectos. O capítulo VIII se re­fere às delicadas situações em que a debilidade hu­mana mais se evidencia. A linha proposta pelo Papa Francisco pode resumir-se com as palavras que compõem o título do capítulo: “Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade”. Somos convidados a evitar os julgamentos sumários e as atitudes de rechaço e exclusão, e a assumir, em vez disso, a tarefa de discernir as diferentes situações, empreendendo com os interessados um diálogo sincero e cheio de misericórdia. “Trata-se de um itinerário de acompanhamento e discernimento que ‘orienta estes fiéis na tomada de consciência da sua situação diante de Deus. O diálogo com o sacerdote, no foro interno, concorre para a formação dum juízo correto sobre aquilo que dificulta a possibilidade duma participação mais plena na vida da Igreja e sobre os passos que a podem favorecer e fazer crescer. Uma vez que na própria lei não há gradualidade (cfr. Fa­miliaris consor­tio, 34), este discernimento não poderá jamais prescindir das exigências evangélicas de verdade e caridade propostas pela Igreja. ‘”[1]. Parece útil recordar alguns pontos que convém ter em conta para que o processo de discernimento seja conforme o ensinamento da Igreja[2], o que o Santo Padre pressupõe e de modo algum desejou alterar.

Pelo que concerne aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, a Igreja ensinou sempre e em todo lugar que “quem tem consciência de estar em peca­do grave deve receber o sacramento da Reconciliação antes de comungar”[3]. A estrutura fundamental do sacramento da Reconciliação “compreende dois elementos igualmente essenciais: de um lado, os atos do homem que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação; de outro lado, a ação de Deus por intermédio da Igreja.”[4]. Se faltasse completamente a contrição perfeita ou imperfeita (atrição), que inclui o propósito de mudar de vida e evitar o pecado, os pecados não poderiam ser perdoados, e não obstante fosse dada a absolvição, esta seria inválida[5].

O processo de discernimento deve ser coerente também com a doutrina católica sobre a indissolubilidade do matrimônio, cujo valor e atualidade o Papa Fran­cisco enfatiza fortemente. A ideia de que as relações sexuais no contexto de uma segun­da união civil são lícitas implica que essa segunda união fosse considerada um verdadeiro matrimônio, e nesse caso se entraria em contradição objetiva com a doutrina sobre a indissolubilidade, segundo a qual o matrimônio válido e consumado não pode ser dissolvido, nem sequer pelo poder vicarial do Romano Pontífice[6]; se, em vez disso, se reconhecesse que a segunda união não é verdadeiro matrimônio, porque o verdadeiro matrimônio é e continua sendo somente o primeiro, então se aceitaria um estado e uma condição de vida que “contradizem objetivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e atuada na Eucaristia”[7]. Se, ademais, a vida more uxorio na segunda união fosse considerada moral­mente aceitável, se negaria o princípio fundamental da moral cristã, segundo o qual as relações sexuais são lícitas somente dentro do matrimônio legítimo. Por essa razão, a Carta da Congregação para a Doutrina da Fé de 14 de setembro de 1994 dizia: “O fiel que convive habitualmente more uxorio com uma pessoa que não é a legítima esposa ou o legítimo marido, não pode receber a comunhão eucarística. Caso aquele o considerasse possível, os pastores e os confessores – dada a gravidade da matéria e as exigências do bem espiritual da pessoa e do bem comum da Igreja – têm o grave dever de adverti-lo que tal juízo de consciência está em evidente contraste com a doutrina da Igreja”[8].

O Papa Francisco recorda justamente que podem existir ações gravemente imorais sob o ponto de vista objetivo que, no plano subjetivo e formal, não sejam imputáveis ou não o sejam plenamente, devido à ignorância, ao medo ou a outros ate­nuantes que a Igreja sempre levou em conta.  À luz desta possibilidade, não se poderia afirmar que quem vive em uma situação matrimonial assim chamada “irregu­lar” objetivamente grave esteja necessariamente em estado de pecado mortal[9]. A questão é delicada e difícil, porque sempre se reconheceu que “de internis neque Ecclesia iudicat”, sobre o esta­do mais íntimo da consciência nem sequer a Igreja pode julgar. Por isso, a Declaração do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos acerca do cânon 915, citada pelo Papa Francisco[10], na qual se dizia que a proibição de receber a Eucaristia compreende também os fiéis divorciados que voltaram a casar, foi muito cuidadosa em preci­sar o que deve entender-se por pecado grave no contexto desse cânon. O texto da Declaração diz: “A fórmula ‘e outros que obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto’ é clara e deve ser compreendida de modo a não deformar o seu sentido, tornando a norma inaplicável. As três condições requeridas são: a) o pecado grave, entendido objetivamente, porque da imputabilidade subjetiva o ministro da Comunhão não poderia julgar; b) a perseverança obstinada, que significa a existência de uma situação objetiva de pecado que perdura no tempo e à qual a vontade do fiel não põe termo, não sendo necessários outros requisitos (atitude de desacato, admonição prévia, etc.) para que se verifique a situação na sua fundamental gravidade eclesial; c) o carácter manifesto da situação de pecado grave habitual.”[11].

A mesma Declaração esclarece que não se encontram nessa situação de pecado grave habitual os fiéis divorciados que voltaram a casar que, não podendo interromper a convivência por causas graves, se abstêm dos atos próprios dos cônjuges, permanecendo a obrigação de evitar o escândalo, posto que o fato de não viverem more uxorio é oculto[12]. Fora esse caso, em atenção pastoral a esses fiéis, será preciso considerar também que parece muito difícil que aqueles que vivem em uma segunda união tenham a certeza moral subjetiva do estado de graça, pois somente mediante a interpretação de sinais objetivos esse estado poderia ser conhecido pela própria consciência e pela do confessor. Ademais, seria preciso dis­tinguir entre uma verdadeira certeza moral subjetiva e um erro de consciência que o confessor tem a obrigação de corrigir, como se disse antes, já que na administração do sacramento o confessor é não somente pai e médico, mas também mestre e juiz, tarefas todas essas que certamente há de cumprir com a máxima misericórdia e delicadeza, e bus­cando antes de tudo o bem espiritual de quem busca a confissão.

Os aspectos doutrinais mencionados, que pertencem ao ensinamento multissecular de a Igreja, e muitos deles ao Magistério ordinário e universal, não devem im­pedir os sacerdotes de empenhar-se com espírito aberto e coração grande em um diálogo cordial de discernimento. Como escreveu o Papa Francisco, trata-se de “evitar o grave risco de mensagens equivocadas, como a ideia de que algum sacerdote pode conceder rapidamente ‘exceções’, ou de que há pessoas que podem obter privilégios sacramentais em troca de favores. Quando uma pessoa responsável e discreta, que não pretende colocar os seus desejos acima do bem comum da Igreja, se encontra com um pastor que sabe reconhecer a seriedade da questão que tem entre mãos, evita-se o risco de que um certo discernimento leve a pensar que a Igreja sustente uma moral dupla”[13]. Pelo contrário, sabendo que a variedade das circunstâncias particu­lares é muito grande, como muito grande é também sua complexidade, os princípios doutrinais antes mencionados deveriam ajudar a discernir o modo de ajudar às pesso­as interessadas em empreender um caminho de conversão que lhes conduza a uma maior integração na vida da Igreja e, quando seja possível, a recepção dos sacra­mentos da Penitência e da Eucaristia.

Mons. Angel Rodríguez Luño, Professor ordinário de teologia moral fondamental naPontificia Università della Santa Croce, em Roma.

Trad.: Viviane da Silva Varela.

[1] Francisco, Exortação Apostólica Pós-sinoidal Amoris laetitia, 19-III-2016, n. 300. A nota interna é do n. 86 da Relação final do Sínodo de 2015.

[2]  O Santo Padre assim o disse explicitamente em Amoris laetitia, n. 300.

[3]  Catecismo da Igreja Católica, n. 1385.

[4] Catecismo da Igreja Católica, n. 1448.

[5] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, nn. 1451-1453; Concilio de Trento, Sess. XIV,Doutrina do sacramento da penitência, cap. 4 (Dz-Hü 1676-1678).

[6]  São João Paulo II, em seu discurso à Rota Romana, de 21-I-2000, n. 8, declarou que essa doutrina é definitiva.

[7]   São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris consortio, 22-XI-1981, n. 84.

[8] Congregação para a Doctrina da Fé, Carta aos bispos da Igreja Católica acerca da recepção da Co­munhão eucarística por parte dos fiéis divorciados que voltaram a se casar, 14-IX-1994, n. 6.

[9] Cfr. Francisco, Amoris laetitia, n. 301.

[10] Cfr. Ibid., n. 302.

[11] Conselho Pontifício para os Textos Legislativos, Declaração acerca da admissibilidade à Sagrada Comunhão dos divorciados que voltaram a se casar, 24-VI-2000, n. 2.

[12] Cfr. ibidem. Não é demais ter em conta que não se pode exigir que os fiéis que vivem em uma se­gunda união civil garantam absolutamente que nunca mais terão relações. Basta que tenham o sin­cero e firme propósito de absterem-se. Às vezes somente um dos cônjuges pode ter esse propósito. Nesse caso, segundo as circunstâncias e a idade, pode ser suficiente para que possa receber os sacramentos, tratando sempre de evitar o escândalo.

[13]  Francisco, Amoris laetitia, n. 300.

Fonte: https://pt.zenit.org/articles/orientacoes-doutrinais-para-um-discernimento-pastoral/