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A verdade é que grande parte das pessoas inicia uma família com uma mochila cheia de falsas esperanças, crenças irracionais, mitos e falácias que não correspondem à realidade

Vivemos um tempo em que a preparação acadêmica e para o mercado de trabalho caminha a passos largos, enquanto a orientação sobre relacionamentos, a organização do lar e a criação dos filhos ficam sem maiores explicações. O fato é que grande parte das pessoas inicia uma família com uma mochila cheia de falsas esperanças, crenças irracionais, mitos e falácias que não correspondem à realidade. De acordo com um artigo publicado no portal La Familia, se os casais recebessem orientação adequada, as taxas de divórcio e, consequentemente, o sofrimento humano que ele traz para o casal e os filhos seriam consideravelmente reduzidos.

Abaixo estão algumas verdades que ninguém conta sobre a vida de um casal, um pequeno manual que pode ajudar a entender o que é normal e até necessário para um relacionamento durar:

1. Amor e convivência se aprendem

Ninguém nasce sabendo. Precisamos aprender a pensar em fazer o outro feliz em vez de medir o que o outro faz para você, para renovar a ilusão, para se comunicar, sem ferir seus sentimentos, para discutir, negociar, para gerir as nossas emoções de forma construtiva. Apesar de ser extremamente importante, não aprendemos sobre isso. Pelo contrário, recebemos informação da televisão e da mídia com uma boa dose de sexo sem compromisso, infidelidade e todos os tipos de mitos e falácias sobre o que é amor autêntico e generoso.

2. Não confunda amor verdadeiro com a paixão e a insanidade temporária inicial. “Estar apaixonado é uma fase da relação e não dura para sempre.”

Esses incêndios podem durar entre dois e quatro anos. As pessoas que apenas querem viver esse tipo de relacionamento são forçadas a mudar constantemente de parceiros, experimentando a dor e a solidão em cada ruptura até que um novo parceiro reapareça no horizonte.

3. O amor cresce com tempo e esforço

Aprenda a construir e manter um amor. Nós compartilhamos a ideia errada de que, se as coisas correrem bem, é porque estamos apaixonados e, se temos dificuldades, significa que não estamos. Outro equívoco é que o amor é mensurável e você sempre tem que ter a medida máxima para que ele dure. A realidade é que o verdadeiro amor cresce com tempo e esforço. Seu relacionamento é como um jardim que precisa de atenção e cuidado e, se você fertilizá-lo, regá-lo e arrancar as ervas daninhas, ele vai florescer ao longo da vida. Quando você parar de cultivar seu relacionamento, ele começará a murchar.

4. Não espere que seu parceiro atenda a todas as suas necessidades

A única pessoa que pode fazer você feliz e encher a sua vida é você mesmo. Não finja que o outro faz isso por você. E somente se você for capaz de atender às suas necessidades e viver uma vida plena, você será capaz de fazer a outra pessoa feliz.

5. Não é a todo momento que você vai se sentir atraída por seu parceiro

Embora saibamos que a falta de atração no casamento possa aparecer em um momento ou outro, não significa que tudo acabou. A mídia constantemente nos bombardeia com mitos e falácias sobre o que é amor, e a maioria das pessoas não tem outra fonte de informação. Uma das falácias mais comuns que nos dão é que, se você não se sente tremendamente atraído pelo seu parceiro, isso significa que você está com a pessoa errada. Viver juntos nos faz ver o nosso parceiro em muitas situações diferentes.

6. Os períodos de indiferença são parte do verdadeiro amor

Um mito muito comum é pensar: “Nos conhecemos, nos apaixonamos e por isso vamos viver felizes para sempre”. Esse modelo esconde de nós uma parte essencial: desgosto. E, se você não experimentar esses momentos em uma fase de paixão, isso não significa que tudo está acabado. Isso significa que você pode dedicar tempo e energia para melhorar seu relacionamento: interesses comuns, fazendo coisas que vocês gostan juntos. Mesmo se você não tiver uma paixão, não significa que seu relacionamento está morto ou condenado. Algumas pessoas experimentam com mais frequência do que outros, e não há absolutamente nenhuma correlação entre experimentar uma fase de paixão com o sucesso de um relacionamento.

7. Tenha em mente que você vai passar por uma crise, mas ela pode ajudar a crescer e a fortalecer vocês como um casal

Sabendo que esta é a melhor maneira de se preparar para isso, você não levanta a guarda. Faz parte da vida. Não pense que tudo acabou, é hora de testar o amor e os pontos fortes.

8. Não espere sentir. Primeiro vem o comportamento e, em seguida, a emoção

O que não é usado é perdido, mas não espere sentir afeto ou desejo para se envolver em relacionamentos íntimos com seu parceiro ou para expressar seu amor. Comece a praticar ambos, e seu amor e saudade pelo outro se multiplicarão. Há momentos em que o estresse do trabalho e da vida cotidiana, o cuidado com as crianças ou sofrimento emocional decorrentes da educação de adolescentes afogam ambos os sentimentos. Mas não deixe morrer, procure tempo para estarem juntos e maneiras de reviver bons momentos.

9. O sexo é um ato sagrado de dar e receber

A falta de educação sexual adequada e emocional é outra falta do nosso currículo. Aprendemos com a mídia, os pares e, agora, cada vez mais, com a pornografia, que o sexo é algo usado para a autossatisfação, a aprovação ou a segurança. Sexualidade saudável não é nada disso. O sexo é uma expressão de amor, um ato de conexão, onde é praticada a arte e a habilidade de dar e receber.

10. O casamento é projetado para ajudá-lo a crescer

O casamento não é “felizes para sempre”, o lugar de descanso, de felicidade eterna. O casamento é uma das maneiras mais desafiadoras e gratificantes que podemos realizar como seres humanos. É a oportunidade diária para desenvolver a melhor versão de nós mesmos, o amor, a generosidade, senso de humor, inteligência emocional, compaixão, perdão e muitas outras virtudes com as quais nascemos. Infelizmente não nos ensinam, mas a grande notícia é que podemos aprender! É a melhor maneira de viver.

11. Os modelos que tivemos influenciam em nossa maneira de nos relacionar com o outro

Se você teve a sorte de crescer em um casamento saudável, é muito mais provável que naturalmente tenha aprendido os princípios e ações necessários para um casamento bem sucedido. Mas, se você testemunhou um casamento caracterizado pela crítica, disputas, raiva, ressentimento ou maus tratos físicos e verbais, você terá que lutar para deixar para trás esse modelo. Não é uma tarefa fácil, mas apenas porque requer esforço não significa que você esteja com a pessoa errada.

12. Vida com crianças pequenas é muito cansativa e estressante

Ter filhos é uma das coisas mais maravilhosas que você pode fazer. É um investimento para o futuro. Mas você tem que saber que é uma fonte de estresse e discórdia, mesmo no melhor dos casamentos. É importante encontrar tempo para cuidar do relacionamento do casal. Pertencer a um grupo de apoio a casais ou frequentar uma escola para pais pode ser maravilhoso para aprender como os outros estão enfrentando os mesmos problemas e ver que não estão sozinhos nisso.

Fonte original do post via ” Sempre família”

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No início deste ano, a cantora Céline Dion perdeu o seu marido, René Angélil. Ele morreu depois de lutar por três anos contra um severo câncer de garganta. Alguns dias depois, faleceu o irmão da cantora, Daniel Dion, aos 59 anos. Uma semana depois, uma multidão encheu a basílica de Notre-Dame, em Montreal, no Canadá, para a despedida dos familiares de Céline, presidida pelo arcebispo Christian Lépine.

Meses depois das tristes perdas, a cantora concedeu uma entrevista à QuebecTVA. A apresentadora, Marie Claude Barrete, lhe perguntou sobre como viveu aqueles momentos tão intensos do funeral, justamente na mesma igreja onde se casou. Céline aproveitou para manifestar quais são os seus valores. “Os funerais foram minha grande força, porque naquela basílica me comprometi para sempre com meu marido, para a vida e para a morte”, respondeu.

Segundo ela, o casamento “não é apenas os presentes, as viagens e as festas, mas também pensar em quem vai empurrar a cadeira de rodas ou saber o que fazer com um familiar que fica deficiente”. “Esse funeral foi a continuação do nosso matrimônio e serviu para demonstrar aos nossos filhos que seu pai continua a estar com eles”, afirmou a cantora, famosa por interpretar a música-tema do filme Titanic.

Segundo o site espanhol Alfa y Omega, Céline passou sete horas em pé, sem descansar, recebendo os pêsames das centenas de admiradores que vieram à despedida de Angélil. A cantora não tinha previsto ficar muito tempo, mas, segundo explica, “vendo René senti que me dizia: ‘Por que você vai cumprimentar os duzentos primeiros e não os cem seguintes?’ Então, decidi aceitar em seu nome as orações, desejos e a força de todas essas pessoas”.

Céline Dion sempre foi muito discreta com a sua espiritualidade, sem confirmar nem desmentir, por exemplo, se vai à missa aos domingos, mas seus valores não deixam lugar para dúvidas – como prova a sua fé no matrimônio e na sua estabilidade. A inspiração da cantora para esse modelo de vida e de família sempre foi a sua mãe Thérèse, que afirmou no programa La Victoire de l’Amourque não se sentia contrariada com Deus pela perda do filho e do genro.

 Céline Dion quase foi abortada

A cantora contou diversas vezes que deve a sua vida a um padre católico que convenceu a sua mãe a não abortar. Thérèse se sentiu arrasada quando descobriu que esperava o décimo-quarto filho e decidiu recorrer a um centro de abortos para se desfazer do bebê.

Porém, o padre que acompanhava a família disse à mãe de Céline que ela não podia acabar com uma vida que não lhe pertencia. “O sacerdote disse à minha mãe que ela não tinha o direito de ir contra a natureza”, contou certa vez a cantora, “razão pela qual tenho que admitir que devo a vida àquele sacerdote, em certo sentido”.

Aleteia

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Questão: Grande parte das críticas que se levantam contra a moral sexual resume-se a afirmação de que ela possui caráter meramente religioso. Portanto, continuam as repreensões, não é justo nem necessário que os descrentes sigam essas orientações. Para estes críticos, o ato sexual, mesmo fora do matrimônio, não obedece a qualquer norma ou fim, a não ser a satisfação imediata do apetite sexual. A prole, na medida em que não se encontra neste nível imediato e até pode impedir sua execução, é muito especialmente negada como fim deste ato. Para eles, os filhos não são fruto natural de uma relação sexual. O objetivo dessa reflexão é mostrar que não se pode agir como se o ato conjugal não tivesse um fim em si mesmo, independente da vontade dos cônjuges. Para isso, a reflexão apresentará dois momentos: uma abordagem teológica e outra filosófica.

Abordagem Teológica

É muito comum se dizer que o ato conjugal não precisa visar de modo algum a prole, mas que o fim do ato conjugal é tão simplesmente o bem dos esposos. Com isso se quer dizer que o único e razoável fim para o ato sexual entre esposos é o gozo deste mesmo ato, que sacia temporariamente o apetite sexual. É com este espírito que se diz ordinariamente aos recém-casados: “vocês têm de aproveitar o casamento um pouco, viajar, curtir um ao outro…”,como se os filhos fossem empecilho natural a união dos esposos. Os cristãos, porém, não deviam ter esse problema de compreensão, pois para os que tem fé, especialmente de origem judaica, a prole é já um modo parcial de  realização das promessas feitas ao Pai dos crentes, Abraão: descendência mais numerosa que as estrelas do céu (cf. Gn 22,17). Além disso, as santas mulheres do Antigo Testamento sofriam por não terem filhos: “Faze-me ter filhos também, ou eu morro“, disse Raquel a seu marido Jacó (Gn 30,1), demonstrando indiretamente o gozo e a realização que é para a casal de Deus ser co-criador do gênero humano. E finalmente, a fecundidade matrimonial precisa ser vista como um dom para o homem desde o princípio: “Crescei e multiplicai-vos” (Gn 1,26). Por detrás da insegurança dos casais de fé com relação a sua prole está, certamente, a falta de confiança na Palavra de Deus. Os que dizem ser cristãos, mas não reconhecem o Senhorio de Deus nesta parte de sua vida, precisam admitir que não há mais fé verdadeira no domínio de Deus sobre toda a natureza. São cristãos incompletos, portanto. Aos católicos, que não têm apenas a Palavra de Deus Escrita, mas também a Palavra de Deus Pregada como fundamento da sua fé – além do Magistério – é ainda mais clara a questão. Diversas vezes o Magistério Ordinário definiu que o ato conjugal deve estar sempre aberto à transmissão da vida (cf. CIC §2366), além de prever o bem dos esposos. Só por razões graves o ato sexual deve separar a união do casal da abertura à vida. Com efeito, o fim dos apetites humanos é a satisfação de uma potência. Ora, um dos fins naturais do ato conjugal é a prole. Logo, os cristãos católicos, seja por causa da Fé na Palavra de Deus, seja pela obediência refletida no Magistério Ordinário, não podem tentar separar esses fins, a não ser por motivo grave.

Mas e os que não têm fé? Eles podem usar do ato conjugal introduzindo artifícios para, sem razões graves, espaçar ou impossibilitar gravidezes? É o que veremos.

Abordagem Filosófica

Os que não têm o dado religioso para guiar suas ações levantam objeções a todo tipo de normatização no campo da sexualidade. Dizem que não veem sentido na imposição de regras em um aspecto tão íntimo da vida humana. Afirmam que se a prática sexual possui algum tipo de prazer anexo, não há evidentemente nada de mal em usufruir deste prazer. Se o ato sexual traz alguma satisfação, não há razão de se pôr limites a ela. No entanto, apesar destas premissas bem convincentes, esses mesmos defensores do prazer sexual sem finalidade acham muito constrangedor – e muitas vezes ofensivo – se alguém busca incessantemente a satisfação gustativa, mesmo que para isso tenha que expelir o alimento recém ingerido. O guloso gera no espectador um certo horror. Gula não tem nada a ver com o cafezinho depois do almoço ou o pudim depois da macarronada, mas é aquela ânsia de ingerir alimentos por causa do prazer derivado da ingestão ou do paladar. Em grau profundo, a gula torna-se patologia, fazendo com que o guloso, ato contínuo ao alimentar-se, vomite a refeição para que o alimento não cause o efeito necessário, a nutrição. Neste sentido, poucas coisas são mais deprimentes e reveladoras da condição humana que o vomitório romano, pois demonstram como o homem pode desviar-se da natureza nas suas ações mais cotidianas. Com efeito, nosso tempo reconhece a bulimia como grave doença que abate jovens e adultos em algo tão simples como a alimentação. E o que é a bulimia senão a ação de desfrutar do prazer gustativo sem “sofrer” as consequências da alimentação, a saber: a nutrição? Os bulímicos, para manterem sua autoimagem, pretendem usufruir do prazer anexo ao apetite nutritivo sem assumir a nutrição como fim do ato de nutrir-se. Obviamente, neste ato há uma deturpação da natureza, que há poucos escapa. É a gula no seu estado químico, que certamente já tornou-se patologia física e psiquiátrica.

Ora, se aos que não tem fé repugnam atitudes de esbanjamento, desperdício e bulimia, a eles também deveria repugnar o ato sexual que, deliberadamente e sem razões, impede o apetite reprodutivo de alcançar o fim remoto de sua ação: a prole. A gula e a bulimia, isto é, a prática de alimentar-se e depois, por meio de um intermédio (a pena de ganso ou um comprimido), impedir a consequente absorção dos alimentos ingeridos, causa tanta repugnância por razão da rejeição da natureza deste ato. Quem diria que é justificável desejar o bônus do prazer gustativo dos alimentos sem arcar com o ônus da absorção desses alimentos? O apetite sexual tem como fim intrínseco de sua ação a prole, assim como o fim da alimentação é a nutrição. Os prazeres anexos a estas ações são moralmente lícitas, contanto que não se interponha nada ao desenvolvimento da natureza. Afirmar que nada há demais em que o ato sexual evite sempre a prole é o mesmo que achar natural que toda refeição seja impedida de produzir nutrição, por meio de remédios ou de vômitos.

Outra crítica que se faz é que, na prática, os métodos naturais para espaçamento da prole equivalem aos artificiais, pois impedem a gestação, deixando a ato conjugal com apenas um dos horizontes de sua moralidade: a união dos esposos. No entanto, não é ilícito se um alimento, tomado para nutrir e cujo paladar é agradável, não é absorvido pelo corpo, sem o intermédio da ação humana. Nesse sentido, o uso de métodos contraceptivos naturais e artificiais não se equivalem, pois os primeiros não interferem no desenvolvimento natural do corpo, enquanto os segundos marcam a intervenção do homem a fim de tornar infecundo um ato naturalmente destinado a prole. Os atos conjugais praticados nos períodos inférteis, pelo contrário, não tornam esses atos infecundos. Eles o são naturalmente.

O uso dos métodos naturais são moralmente aceitáveis, portanto, caso se respeitem seus fins. A prole é um desses fins, para o casal cristão ou não.

Questão: A Ética e a Moral Teológica sustentam que o ato sexual, para ser legítimo, deve ser aberto à vida, isto é, não pode impedir ou tentar impedir voluntariamente que o fim do ato sexual, a concepção, aconteça. Por isso, toda ação que pretenda separar a possibilidade da transmissão da vida artificialmente repugna a reflexão filosófica e a moral teológica. No entanto, o uso dos ritmos inférteis das mulheres não repugna a moral, pois são ações que não introduzem intermediários para dificultar ou impedir a geração da vida. Mas existem os que acham os métodos naturais tão ilícitos quanto os artificiais. Dizem: se o ato sexual deve estar aberto à vida, usar os períodos inférteis para manter relações sexuais é igualmente anti-ético. Logo, os casais que usam os métodos naturais (tabelinha, temperatura, método da saliva ou Billings) são hipócritas, pois acusam os métodos artificiais mas fazem o mesmo com  os naturais. No entanto, não é bem assim.

Os que identificam o uso dos métodos naturais aos métodos artificiais pensam deste modo: não importam os meios se o fim é o mesmo. Não há erro mais crasso. Os meios são importantes, sim, para alcançar um fim justo. Ou alguém defende que conseguir manter sua família roubando e trabalhando é a mesma coisa? Ou que passar nas provas do colégio estudando ou colando equivalem?Pelo contrário, alguns meios – ainda que alcancem o fim desejado – são prejudiciais. Por exemplo, os que pretendem usufruir dos benefícios da alimentação, mas sem aceitar o fim desta ação, que é a nutrição e a absorção destes alimentos no organismo, podem facilmente cair em um erro moral, que pode transformar-se até em um problema médico. A bulimia é um caso em que se deseja o prazer gustativo sem aceitar também o fim da alimentação. É uma doença que indica um problema na relação do indivíduo com um bem naturalmente lícito: o alimento. No entanto, escolher alimentos que, apesar do prazer gustativo, impactam menos na dieta não tem nada de imoral, contanto que não se interponham instrumentos ou ações para, deliberadamente, impossibilitar a absorção dos alimentos, restando do ato próprio da alimentação apenas o prazer anexo ao alimentar-se.

Os métodos naturais de espaçamento de filhos são, portanto, moralmente lícitos, do mesmo modo que o cafezinho depois do jantar não é gula. E hoje, mais que ontem, o conhecimento e divulgação desses métodos é bastante útil. Pois estes métodos colocam freios ao apetite sexual, que pode tornar-se feroz e desordenado em nome da “obediência à lei do multiplicai-vos”. Não se diga que por detrás de uma família grande se esconde um coração generoso e de uma família pequena, corações pequenos. Assim como não se pode dizer que de corpos esbeltos deduz-se ascética e de gordinhos, gula. Em famílias grandes também pode haver apetites sexuais irrefletidos, que redundam em prole numerosa – graças a Deus -; e em famílias pequenas podem esconder-se suores e lágrimas, por causa do dever de educar, também anexo à vocação matrimonial. Ora, quanto ao prazer sexual – que é semelhante ao prazer gustativo, na medida em que orienta a ação respectiva para um fim que transcende a própria ação –também é lícito desfrutar do prazer anexo ao ato sexual, desde que sejam usados os ciclos naturais do homem e da mulher para ordenar o legítimo uso desse apetite humano. Deve-se notar, porém, que entre o início da instalação do vício da gula e o a gula instalada, há um espaço onde não se sabe exatamente o que é vício e o que ainda é lícito. O mesmo ocorre com o ato sexual: há uma busca do prazer sexual que é lícita aos casados, mas que, no entanto, pode dar lugar ao vício da luxúria, que é a desordem do apetite sexual e caracteriza-se pela satisfação do apetite sexual com a concomitante rejeição do fim mesmo desse apetite, que é a prole. Há de se cuidar para que não se caia na armadilha da moral laxa e para isso, importa não raro o olhar de fora, de um conselheiro, para que não se passe por prudência ou cuidado o que é simplesmente calculismo e egoísmo frios.

Robson Oliveira
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Por ocasião da recente publicação da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia, a alegria do amor, na Rádio Vaticano, conversamos com o padre Miguel Yáñez SJ (foto), diretor do departamento de Teologia Moral da Universidade Gregoriana de Roma. Ele afirma que o documento papal se baseia no critério da abertura e conta com uma visão positiva da sexualidade.

 

Que aspectos gostaria de destacar da Amoris Laetitia, a alegria do amor?

Em primeiro lugar, realista: há uma visão realista e concreta da família, da realidade familiar tal como se apresenta hoje em dia, com o desejo de acompanhá-la e de curá-la. Em segundo lugar, pastoral: é um documento que procura abrir vias pastorais para melhor acompanhar as famílias de hoje em dia. Em terceiro lugar, procura iniciar processos… Não procuramos tanto encontrar receitas, que são pontuais, mas processos que possam melhor integrar aqueles que estão distanciados ou em situações de não total integração.

A linguagem que utiliza é admirável. Poderíamos dizer que é fruto da escuta do povo de Deus e que entrega ao povo de Deus um texto muito rico do ponto de vista antropológico, espiritual, teológico e pastoral, em uma linguagem que as pessoas podem compreender… Possui uma visão positiva da sexualidade e do amor conjugal, inclusive daquelas situações que não são perfeitas, onde aplica a questão das sementes do verbo, dizendo que mesmo ali podemos ver aspectos positivos, valores.

Conecta-se com a eclesiologia da Evangelii Gaudium, especialmente com a de uma Igreja sinodal. Portanto, é fruto maduro de um caminho sinodal, composto por dois sínodos, como todos sabemos, o extraordinário e o ordinário, que o Papa reúne e relança através destas Exortação apostólica pós-sinodal.

Como a Amoris Laetitia se coloca dentro do Magistério do Papa Francisco?

Vemos uma coerência admirável, pois há uma série de aspectos que a Amoris Laetitia reúne e aprofunda. O primeiro aspecto é a eclesiologia: uma Igreja em saída, que vai ao encontro dos homens e mulheres de hoje, concretos, com um grande sentido de realismo… O Papa Francisco diz claramente que não queremos tratar de uma família ideal, que se presta a uma ideologia, mas de uma família real, e o conceito que utiliza predominantemente para falar da família é o de uma família ferida e isto se conecta perfeitamente com a Igreja hospital de campanha, que precisa justamente ir ao encontro dos feridos, após uma batalha… Aqui, não se trata de julgar as pessoas de acordo com o cumprimento das normas da Igreja, mas, ao contrário, de ajudá-las, pois por trás de cada situação há um drama humano.

Que semelhanças encontra com a Familiaris Consortio?

Familiaris Consortio reúne a teologia de João Paulo II do corpo humano sobre o matrimônio também da Humanae Vitae. Francisco reúne toda esta herança do magistério conciliar e pós-conciliar com a sua característica: vendo a partir da perspectiva pastoral e em função de uma pastoral.

Então, por exemplo, o discernimento, que é uma das chaves de interpretação do documento, que já está no número 84 da Familiaris Consortio, Francisco o prolonga, procurando ver de que modo podem ser aplicadas algumas normas nos casos que são chamados de irregulares. De tal maneira que oferecendo um critério, que é o de integração, possa se integrar a maior quantidade de pessoas e de situações possíveis dentro da Igreja.

Como a Amoris Laetitia propõe o tema do acompanhamento pastoral?

Esta é uma das novidades da Amoris Laetitia. Procurar se aproximar de todas as situações. Aqui, ninguém fica excluído. Não é necessário que o Papa aponte cada uma das situações, disse isso claramente: a Igreja é a casa paterna onde já lugar para todos, portanto, ninguém pode ficar excluído.

Agora, qual é o critério de inclusão? Porque também não se abre a porta indiscriminadamente a todos. O critério é a busca por Deus. O critério é o desejo de conversão…

Que luzes o documento traz sobre o discernimento?

O documento apresenta luzes e, sobretudo, apresenta desafios. Apresenta um chamado à responsabilidade. Há frases muito fortes a respeito dos ministros… para que posam levar adiante este desejo do Papa que nos convida a uma Igreja concretamente em saída. Justamente, o critério é o da abertura, o critério é o da compreensão, da misericórdia. Misericórdia significa saber compreender o outro, não o julgar, mas, ao contrário, compreender a situação na qual se encontra, ainda que seja uma situação de pecado. Deus não nos olha com um olhar de discriminação, mas com um olhar compassivo. Nós, pastores, temos que aprender dessa visão de Jesus.

Em que consistiu o evento, na Universidade Gregoriana, sobre a Exortação Amoris Laetitia?

Foi uma apresentação da Exortação Apostólica Pós-Sinodal do Papa Francisco que, há tempo, estávamos esperando, porque eu coordeno um grupo interdisciplinar que há mais de dois anos vem se reunindo para estudar e aprofundar o tema do matrimônio e da família, por ocasião dos sínodos prévios a esta Exortação apostólica. Queríamos apresentar o documento e isto é um passo a mais dentro de uma dinâmica de estudo do tema e, entre outras coisas, também estamos oferecendo um diploma em pastoral familiar e, além disso, também queremos fazer um simpósio, nos dias 7 e 8 de outubro, para aprofundar este tema.

Fonte: Religión Digital

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É muito fácil confundir o amor com os sentimentos de prazer e fascínio que uma pessoa desperta em nós, e terminar, assim, fazendo promessas e entregas de amor quando ainda não estamos preparados para isso.
 
Felizmente, ciências modernas como a psicologia e a bioquímica já podem ajudar os apaixonados a entenderem melhor seus sentimentos. Com base nos dados destas ciências, podemos dizer, desde já, que amor à primeira vista não existe. Toda relação de casal, por se tratar do encontro entre duas pessoas, passa por diversas etapas, até chegar, algumas vezes, ao amor.
 
Identificar em que etapa do relacionamento você está o ajudará a saber também que tipo de opção lhes convém mais e como orientar sua relação rumo à conquista do amor verdadeiro.
 
As etapas do amor
 
O relacionamento de um casal passa por diversas etapas, que podem ser identificadas como: enamoramento, paixão ou atração; etapa romântica ou do “eu te amo”; e, finalmente, o amor.
 
O enamoramento
 
É a etapa cor-de-rosa, na qual duas pessoas se sentem fortemente atraídas e fascinadas uma pela outra. Estas sensações são tão fortes e prazerosas, que muitos casais acham que isso já é amor.
 
No entanto, a atração que une os apaixonados não é outra coisa a não ser o efeito de substâncias chamadas feromônios, que, além de alterar nossos sentidos e fazer-nos sentir grande atração e paixão diante do mais mínimo contato com a outra pessoa, nos fazem acreditar que não poderíamos ser felizes com mais ninguém.
 
Ou seja, a atração física é tão forte, que a mente também fica meio congelada e fascinada. Por isso, os apaixonados não enxergam os defeitos dos seus parceiros, e inclusive duvidam que possam tê-los. Tudo parece perfeito.
 
A esta falta de objetividade se une o fato de que os enamorados, se não mentem sobre eles mesmos, pelo menos escondem seus erros e exageram suas virtudes, pois desejam conquistar o outro a qualquer preço, já que lhe proporciona tão gratas sensações.
 
Em resumo, o enamoramento é uma fase na qual prevalece o prazer, mas se carece de realismo, pois não sabemos ainda como a outra pessoa realmente é. De fato, durante a paixão, o que amamos do outro não é o que ele é, mas o que sua companhia, seus detalhes, seu toque produzem em nós.
 
Estas sensações são passageiras, pois o efeito dos feromônios dura, no máximo, 3 anos. Se, durante esse tempo, o casal não se deu a oportunidade de dialogar muito e esforçar-se por conhecer a realidade do outro, ao invés de se dedicar somente a encontros repletos de carinho, mas com pouco conteúdo, o relacionamento tende a acabar.
 
Se, além disso, o casal tem relações sexuais durante esta etapa, o efeito entorpecedor dos feromônios se duplicará, criando uma sensação fictícia de intimidade. O enamoramento não é a melhor etapa para a entrega que a vida sexual e matrimonial exigem.
 
Etapa romântica ou do “eu te amo”
 
Na fase romântica, o casal começa a compartilhar mais e, portanto, a conhecer-se melhor. Ao ir entrando no mundo da outra pessoa, dos seus gostos, ideias, características, habilidades etc., começam a surgir elementos que realmente nos atraem na pessoa, e não somente em seu corpo. Começamos a curtir aquilo que a pessoa é, e não unicamente o que ela causa em nós.
 
Algumas das características que descobrimos no parceiro são reais. Podemos já ver alguns defeitos, mas também pode haver ainda muita fantasia ou idealização (amar os sonhos que o outro desperta em mim). Por isso, é importante recordar que, nesta fase, estamos apenas começando a conhecer a outra pessoa.
 
Junto à paixão dos feromônios, na fase romântica surge a ternura, que busca chegar ao profundo da outra pessoa, para fazê-la sentir-se bem.

Contudo, a etapa romântica ainda não é o amor. Ainda não conheço a outra pessoa tão bem como para entregar-lhe as chaves da minha casa ou a senha da minha conta bancária. Se isso é assim, então é sinal de que ainda não estamos prontos para uma entrega total, como a que supõe a sexualidade ou o casamento.
 
O amor
 
O amor não é o arrebato cego e apaixonado dos enamorados. Tampouco é a idealização dos românticos. O amor é a união íntima, a confiança profunda e o desejo de buscar em tudo o bem da outra pessoa.
 
Este sentimento surge quando se conhece o parceiro e se é feliz com o que se sabe dele. Então, nasce um impulso confiado de dar tudo de si e de receber tudo o que o outro é, para formar um “nós”.
 
Em outras palavras, no amor, a confiança e a generosidade são os elementos chaves e se relacionam mutuamente: porque confiamos, desejamos entregar generosamente toda a nossa vida. Mas não se pode chegar à confiança sem o conhecimento mútuo.
 
Por isso, podemos dizer que o amor é composto por 4 elementos:
 
1. Conhecimento
 
Conhecer-se significa pelo menos que: sei de onde você vem e aonde vai; sei como você reage quando está cansado, com raiva, sob estresse ou contente. Conheço grande parte dos seus defeitos e qualidades. Conheço seus valores, que são os meus também. E sei que você não é perfeito.
 
2. Aceitação
 
Admiro o que você é. Gosto da sua aparência física e do seu jeito de ser. Entre todas as pessoas que me atraem, escolhi você. Não espero que você mude para amá-lo. Ainda que você não mude, eu o amo assim mesmo.
 
3. Confiança
 
Sei que, em nenhum momento, você quer me prejudicar. Posso lhe confiar minha saúde, meu dinheiro, meu futuro, porque sei que você quer cuidar de mim.
 
4. Desejo de entrega
 
Ver você feliz me satisfaz. Conheço suas aspirações e estou disposto a apoiá-las. Ofereço tudo de mim para buscar seu bem, tanto material como sexual e emocional dentro de um futuro matrimônio. Estou disposto a usar todas as minhas energias para acompanhá-lo, compreendê-lo e servi-lo, ainda quando isso exija de mim renúncia e sacrifício.
 
Para quem tem fé, é claro que não há melhor definição de amor que a que Jesus nos deu: “Não há amor maior que dar a vida pelos seus amigos” (cf. João 15, 13). Assim, o amor deixa de ser somente um sentimento e se torna uma ação permanente de autodoação e entrega pelo bem do outro.
 
Em um casal, nem sempre os dois chegam juntos ou ao mesmo tempo a desenvolver este tipo de amor. Se, depois de um período, um dos dois, ou os dois, não progridem até alcançar este amor de entrega, é porque não estão preparados para um casamento.
 
O amor precisa ser alimentado permanentemente. Por isso, o fato de duas pessoas se casarem amando-se não significa que sua felicidade está garantida. Cada um precisa se esforçar por cuidar e evoluir na entrega, na confiança, no conhecimento mútuo e na aceitação do outro.
 
Fonte: Por tu Matrimonio)

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Muitos dos ensinamentos da Igreja Católica são difamados tanto na alta cultura como na cultura popular, especialmente as doutrinas sobre o casamento e a sexualidade. As visões da Igreja sobre o sexo são repetidamente apresentadas como puritanas, negativas e ultrapassadas – relíquias da Era do Bronze.
Os críticos denunciam a Igreja principalmente por estabelecer limites não razoáveis à liberdade sexual dos homens e mulheres contemporâneos. Os líderes da Igreja, sempre que defendem a moralidade sexual tradicional, são ridicularizados como versões da personagem “Beata”, do humorista Dana Carvey – espalhafatosos, acusadores, secretamente pervertidos e obcecados por sexo.
Primeiro, gostaria de responder à acusação de puritanismo. Ao longo da história da religião e da filosofia, um estilo puritano é, de fato, aparente. Seja em suas manifestações maniqueísta, gnóstica, ou no dualismo platônico, a filosofia puritana ensina que o espírito é bom e que a matéria é ruim ou decaída. Na maioria desses modelos, o propósito mesmo da vida é escapar da matéria, especialmente da sexualidade, a qual tanto nos acorrenta ao reino material.
Mas o cristianismo bíblico autêntico não é puritano. O Deus Criador descrito no livro do Gênesis fez toda a realidade física – planetas, estrelas, a Lua e o Sol, animais, peixes e até as criaturas que rastejam sobre a terra – e viu que tudo era bom, e até ótimo. Desse modo, não há nada perverso ou moralmente questionável sobre os corpos, o sexo, o desejo sexual ou o ato sexual. Na verdade, é justamente o contrário.
Quando, no Evangelho segundo Marcos, o próprio Jesus é perguntado sobre o casamento e a sexualidade, ele retoma o livro do Gênesis e a história da criação: “no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher; e os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne” (Mc 10, 6-8). Platão pode ter sido um puritano, e talvez João Calvino também, mas Jesus com certeza não foi.
Assim, dada a ênfase na bondade do sexo e do prazer sexual, o que separa a visão cristã da filosofia da revista “Playboy”, por exemplo? A resposta simples é que, para os povos bíblicos, a sexualidade deve ser inserida no contexto mais amplo do amor, o que significa desejar o bem do outro. Para a espiritualidade e moralidade católicas, é fundamental que tudo na vida seja magneticamente atraído pelo amor, que tudo seja condicionado e transfigurado pelo amor. Assim, as nossas preocupações financeiras devem ser marcadas pelo amor, para que não se deformem em materialismo crasso. Os nossos relacionamentos também devem ser fermentados pelo amor, para que não se reduzam a ocasiões de manipulação em interesse próprio. Até mesmo as nossas diversões devem ser direcionadas ao amor, para que não virem mera autoindulgência.
O sexo não é exceção a essa regra. A bondade do desejo sexual está ordenada, por sua própria natureza, a se tornar parte de um programa de amor altruísta e, portanto, a tornar-se algo raro e que favoreça a vida. Se você quer ver o que acontece quando esse princípio é ignorado, preste atenção na cultura do “ficar” que predomina atualmente entre tantos jovens (e alguns não tão jovens). O sexo virou uma mera recreação, um esporte de contato, uma simples fonte de prazer superficial. Isso produziu legiões de pessoas desesperadas, tristes e ansiosas, muitas das quais nem desconfiam de que a sua sexualidade errante seja exatamente a causa de tais efeitos deletérios. Quando o prazer sexual é arrancado de si mesmo pela atração magnética do amor, ele também é salvo da preocupação consigo mesmo.
Mas há ainda um terceiro passo: o amor humano deve se situar no contexto do propósito divino. Após Jesus ter esclarecido que o destino do homem e da mulher é se tornarem uma só carne, ele acrescentou que “O que Deus uniu”, não deve ser separado por ser humano algum. Quando eu trabalhava em tempo integral como padre numa paróquia, tive o privilégio de preparar muitos jovens casais para o matrimônio. E eu sempre lhes perguntava: “Por que querem se casar na Igreja?”. Após alguma hesitação, os jovens sempre respondiam algo na linha do “É porque nós nos amamos”. E eu sempre replicava: “Isso é maravilhoso, mas não é o bastante para um casamento religioso!”.
Eu procurava mostrar que receber o sacramento do matrimônio exigia que os noivos se dessem conta de que eles haviam sido unidos por Deus – e precisamente pelas razões de Deus – e de que a sua sexualidade e amor mútuo estariam a serviço de um propósito ainda maior. Fazer os votos matrimoniais perante um sacerdote e uma comunidade católica, eu lhes dizia, equivalia a dizer que eles sabiam que o seu relacionamento seria sacramental – um veículo da graça de Deus para o mundo como um todo. Essa contextualização final assegurava que a sexualidade – boa em si mesma e elevada pelo amor – tinha, agora, algo de realmente sagrado.
A nossa cultura tornou-se crescentemente nietzscheana, isto é, obcecada com o poder da autocriação. É por isso que a tolerância é o único valor objetivo que muitas pessoas reconhecem – e que a liberdade, especialmente na arena da sexualidade, é tão grandemente valorizada. É por isso, ainda, que as tentativas de contextualizar o sexo dentro de parâmetros mais elevados de sentido são tão frequentemente ridicularizadas como puritanismo ou reacionarismo espalhafatoso.
Deus seja louvado pelo fato de que, no meio de milhões de vozes em defesa de uma sexualidade autoindulgente, exista ao menos a voz da Igreja Católica, bradando “Não”. Um não a serviço de um mais elevado “Sim”!
Por Dom Robert Barron (Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Los Angeles)
Traduzido do original por Rogério Schmitt
 

1588438_ArticoloAcaba de ser publicada a aguardada Exortação pós-sinodal sobre a Família, do Papa Francisco, que tem por título “A alegria do amor” (Amoris Laetitia). É um documento longo que cita muito o parecer dos Padres Sinodais. Os cardeais e o casal que apresentaram o documento na sala de imprensa do Vaticano foram unânimes em falar da alegria em ler esse documento e a importância de acolhe-lo com carinho.

São 325 parágrafos distribuídos em nove partes assim discriminadas: À luz da Palavra; A realidade e os desafios da família; Olhar fixo em Jesus: A vocação da família; O amor no matrimônio; O amor que se torna fecundo; Algumas perspectivas familiares; Reforçar a educação dos filhos; Acompanhar, discernir e integrar a familiaridade e espiritualidade conjugal e familiar. Encerra-se com uma Oração à Sagrada Família.

Seu conteúdo é assim sintetizado pelo Papa: “No desenvolvimento do texto, começarei por uma abertura inspirada na Sagrada Escritura, que lhe dê o tom adequado. A partir disso, considerarei a situação atual das famílias, para manter os pés no chão. Depois lembrarei alguns elementos essenciais da doutrina da Igreja sobre o matrimônio e a família, seguindo-se os dois capítulos centrais, dedicados ao amor. Em seguida destacarei alguns caminhos pastorais que nos levem a construir famílias sólidas e fecundas segundo o plano de Deus, e dedicarei um capítulo à educação dos filhos. Depois deter-me-ei em um convite à misericórdia e ao discernimento pastoral perante situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor nos propõe; e, finalmente, traçarei breves linhas de espiritualidade familiar” (n. 6).

O Documento tem, pois, início lembrando que, não obstante as crises pelas quais passa a família, enquanto instituição querida por Deus, o desejo de perpetuá-la permanece vivo nas novas gerações, conforme observaram os Padres Sinodais e, por isso, é preciso se debruçar sobre a família com seus valores e desafios nos nossos dias sob o prisma moral, doutrinal, espiritual e pastoral. Isto tudo, sem negar o Magistério da Igreja, dá lugar à pluralidade de interpretações de uma mesma doutrina em diversos locais diferentes à luz da Misericórdia de Deus, cujo Ano Extraordinário estamos vivendo (n. 1-8).

Passa o Papa a lembrar que a Sagrada Escritura está repleta de histórias de famílias com suas alegrias, belezas e dificuldades, sem que essa instituição esmoreça. Muito aparece também a expressão “Tu e tua esposa”, ou seja, o homem e a mulher (por exemplo, Mt 19,9 que remete a Gn 2,24 e 1,27) a terem seus filhos e filhas como brotos de oliveira ao redor de tua mesa (cf. Sl 128/127,3); as primeiras comunidades cristãs se reúnem em casas, local da convivência familiar por excelência. É, no entanto, também na família que ocorrem experiências dolorosas de brigas, doenças e mortes, mas, no fim dos tempos, Deus enxugará nossas lágrimas e não haverá mais morte ou dor (cf. Ap 21,4). Dentro da mesma família com suas dificuldades, estão também dois pontos importantes do convívio material e espiritual: o trabalho e o carinho do abraço, que é responsabilidade de todos (cf. n. 9-30).

Entra o documento em seu terceiro capítulo nos desafios vividos hoje pela família à luz da realidade em que estamos – com suas mudanças antropológicas e culturais – e não a partir apenas de uma discussão abstrata. Há de se oferecer como remédios à família como mero lugar de passagem e de individualismo, o convívio e a reciprocidade em todas as áreas. Também não centrar o matrimônio na procriação, mas na união (aspecto unitivo), na preparação aos jovens casais para o matrimônio sob o olhar exigente, porém, ao mesmo tempo, compassivo de Jesus, a educação para se evitar o descarte (relaciona-se e separa-se com facilidade ímpar), o medo do compromisso com o futuro parece dizer aos jovens: “viva a vida não assuma compromissos familiares”, a pornografia faz mal, pois distorce o verdadeiro amor, a queda das natalidades ameaça certos países ou povos na economia e na própria identidade, há enfraquecimento da prática religiosa, falta de habitação digna, filhos nascidos de relações transitórias, abuso sexual de crianças, famílias migrantes ou com membros deficientes, idosos ou que vivem na miséria chocam nossos tempos. Assome-se a isso a falta de educação, a dependência química, a poligamia, o menosprezo ainda existente à mulher, a ideologia de gênero a negar a identidade sexual: não haveria mais homem ou mulher, mas apenas um ser humano neutro. Apesar de tudo isso, demos graças a Deus pelas famílias que vivem no amor verdadeiro e fiel (cf. n. 31-57).

Ante todos esses desafios, não se pode deixar de lado o querigma. Neste ponto, o Papa recolhe uma síntese da doutrina da Igreja sobre o matrimônio e a família. Também cita várias contribuições prestadas pelos Padres sinodais nas suas considerações acerca da luz que a fé nos oferece. Ainda hoje, no Senhor, temos o nosso compromisso de viver e transmitir o Evangelho da família. Ele nasceu e viveu na família de Nazaré e restaurou o plano primeiro do Matrimônio, conforme sonhado por Deus para todos. Passa, a seguir, o Papa à doutrina do Concílio Ecumênico Vaticano II, de Paulo VI e de João Paulo II sobre a Família para, depois, entrar no sacramento em si: nele o próprio casal é ministro e não o sacerdote. Em meio a essa beleza dos ensinamentos bíblicos e eclesiais, não faltam os desafios, especialmente na geração e educação dos filhos. Nisso as famílias que permanecem sempre fiéis à Igreja dão grande testemunho aos demais irmãos e irmãs na fé (cf. n. 58-88).

Penetrando na essência do Matrimônio, diz-se que ele deve “aperfeiçoar o amor dos cônjuges”, para isso são apresentadas alguns pontos essenciais extraídos da Carta de Paulo aos Coríntios (13,4-7): paciência, atitude de serviço, cura da inveja, combater o orgulho e a arrogância, ser amável, desprender-se de si mesmo, não guardar violência interior, perdoar, alegrar-se com os outros; desculpar-se, confiar, esperar, suportar-se, bem como crescer na caridade conjugal tendo tudo em comum, valorizando a alegria e a beleza da vida a dois que leva a se casar por um amor que se manifesta e cresce a cada dia, dialoga, se apaixona, navega pelas fantasias lícitas, sente alegria nos filhos, vive a dimensão erótica do amor conjugal, combate a violência e a manipulação e não menospreza, ao lado do casamento santo, a vida una e indivisa da virgindade e do celibato nem deixa que o amor se transforme com o passar dos anos em que as aparências físicas não são as mesmas: o amor não cria rugas como o corpo (cf. n. 89-164).

Francisco entra, após tratar mais do aspecto unitivo, no aspecto fecundo do Matrimônio. Fala da transmissão e geração da vida. Diz o Papa: “Se uma criança chega ao mundo em circunstâncias não desejadas, os pais ou os outros membros da família devem fazer todo o possível para aceitá-la como dom de Deus e assumir a responsabilidade de acolhê-la com magnanimidade e carinho” (n.166).

A Igreja louva as famílias numerosas, mas pede responsabilidade na geração dos filhos a fim de que não se coloque no mundo uma criança que passará graves necessidades. Pede ainda a valorização da gravidez com o amor da mãe e do pai àquela criança, bem como exorta ao que se chama de “paternidade alargada”, ou seja, ser pai ou mãe não é apenas um fato biológico, mas do coração. Daí, as adoções, as ajudas à sociedade em geral, o cuidado com os abandonados e frágeis. A Eucaristia exige compromisso com o irmão. É preciso também que a família tenha um coração grande em que caibam todos: filhos, irmãos e idosos (os avós), além de se viver a família alargada, ou seja, a união entre os familiares em geral: tios, primos de vários graus, cunhados etc. (cf. n. 165-198).

Isso posto, o Papa entra em alguns pontos pastorais sem anular as realidades locais nas quais essas pastorais ocorrerão. Dentre os pontos estão: o anúncio do Evangelho da família, como célula-mãe da sociedade, a formação seminarística e laical com vistas ao apreço familiar em suas alegrias e agruras, a valorização pelas Igrejas locais dos “Cursos de preparação para o Matrimônio”, bem como a digna organização da celebração do Sacramento com leituras bíblicas próprias e insistência de que aquele é um compromisso a durar a vida inteira e não apenas naquele momento de tensão e luzes, filmagens, convidados etc.

Importa ainda uma pastoral específica para acompanhar os casais jovens em seus desafios e alegrias a fim de perceberem que a Igreja se interessa por eles e por suas famílias, especialmente o estar juntos para rezar e conviver, inclusive com outras famílias próximas do mesmo bairro, prédio ou condomínio. Fortalecida por essas “vitaminas”, as famílias conseguem resistir melhor aos problemas inerentes à natureza humana e ao próprio compromisso assumido a gerar feridas que perduram por muitos anos e podem levar ao fim de um casamento. A Igreja, contudo, não deve deixar de acompanhar aquele casal, mesmo após o divórcio, não importando por quais circunstâncias ele tenha ocorrido, fazendo-o sentir que não está excomungado e incentivando-o a reatar o relacionamento ou a averiguar junto às instâncias competentes se seu matrimônio não foi nulo, embora nunca devam deixar de pensar nos filhos a serem educados. Chama a atenção os denominados matrimônios mistos e com disparidade de culto, bem como entre pessoas não batizadas ou famílias monoparentais (geralmente a mãe cuida do filho). Todos os casos devem ser bem avaliados por seus bispos, ainda que a união entre pessoas do mesmo sexo não possa ser, jamais, equiparada a casamento, não obstante as pressões internacionais. Ofereça ainda a Igreja sua presença às famílias enlutadas, ajudando-as a superarem este momento difícil, mas que é inerente à vida (cf. n. 199-258).

Entra o Documento na Educação dos Filhos reforçando que os pais devem acompanhá-los, especialmente com base ética para toda a vida dentro da liberdade que cabe a cada ser humano, embora com sanções quando necessário e um realismo autêntico no modo de se viver em família com sadio equilíbrio, favorecendo o bom desenvolvimento da criança ou adolescente, inclusive com uma educação sexual cristã que não seja mera informação biológica ou a defesa única do chamado “sexo seguro”, mas, sim, formação ética com escala de valores humanos. A educação para a fé é também um dos grandes compromissos familiares a começar, evidentemente, em casa e completar-se na comunidade (cf. n. 259-290).

Chega-se ao acompanhamento das fragilidades das famílias e aqui o Papa lembra que “Os Padres sinodais afirmaram que, embora a Igreja reconheça que toda a ruptura do vínculo matrimonial ‘é contra a vontade de Deus, está consciente também da fragilidade de muitos dos seus filhos’” (n. 291). Há, portanto, como em um hospital de campanha, lugar para atender a todos dentro da gradualidade pastoral. Assim, uma união civil já não é mera convivência, a escolha da união civil, às vezes apenas se dá não por resistência à doutrina, mas por razões ocasionais ou locais, outros optam pela mera convivência por medo do futuro incerto (desemprego, salário não fixo etc.). Todos devem ser acolhidos misericordiosamente pela Igreja e nela podem ensinar pontos da doutrina aos demais, salvo se ostentam publicamente algo contrário aos seus ensinamentos (cf. n. 297).

Devem, então, ser recatequisadas e atuar em outras tarefas pastorais que não seja a catequese. Aos divorciados, em vários graus e casos – há os que têm certeza de que seu primeiro matrimônio foi nulo e está no segundo, há os que têm no segundo casamento filhos para cuidar e há também aqueles que, há pouco se divorciaram e já estão em nova união. Cada caso requer sabedoria dos Pastores no discernimento ponto a ponto. Via de regra, todos hão de ser integrados à Igreja, sem que haja uma norma geral do Sínodo para isso, pois cada caso é um caso. No entanto, os padres, sem deixar a fidelidade à Igreja, devem ser dóceis à voz do Espírito Santo ante esses casais com suas realidades diversas.

Ao mesmo tempo em que importa às consciências se adaptarem às normas da Igreja, é preciso notar que nem todas as consciências são objetivamente culpadas pelo modo de vida que levam destoante da Igreja. Importa se guiar por normas gerais sem se esquecer dos casos particulares, mas não fazer também dos casos particulares junções semelhantes para daí tirar regras. Cairíamos numa casuística sem fim (n. 304). Deve-se aplicar a caridade pastoral, capaz de não abandonar a doutrina da Teologia Moral, mas também não se esquecer da misericórdia gratuita do Senhor para com cada um de nós (n. 310-311). Doutrina e misericórdia, portanto, não se opõem, mas se completam (cf. n. 291-312).

Por fim, o Papa chega a um importante capítulo dedicado à Espiritualidade conjugal e familiar. Destaca Francisco, à luz do Concílio Vaticano II, que a Santíssima Trindade habita não só em cada pessoa, mas também na família, de modo que a vida familiar bem vivida é caminho de santificação (n. 316), na oração comum e diária, ainda que breve, entre os cônjuges e com os filhos à luz do Cristo Ressuscitado a fim de que na própria realidade familiar resplandeça a luz pascal. Esse ponto alto da oração na vida matrimonial é a Eucaristia, a nova e eterna aliança a lembrar ao casal o compromisso de vida de um para com o outro até que a morte os separe. Desse modo, uma testemunha Deus ao outro e são como que pastores da fé a seus filhos e filhas. Todos colocados sob a proteção da Sagrada Família de Nazaré (cf. n. 313-325).

Dom Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.

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SUBTÍTULO: O AMOR NA FAMÍLIA.

O Papa Francisco nos convida uma leitura não de todo o texto de uma vez, mas de uma leitura saboreada parte a parte, mostrando que a Família é uma oportunidade e não um problema. 01-07

Cap. I – tem apoio fundamentos e luzes Bíblicas (À Luz da Palavra) 08-30

Tu e a tua esposa (Gn) 09-13

Os teus filhos como brotos de oliveira (Sl 128/127,3) 14-18

Um rastro de sofrimento e sangue (fraticida …) 19-22

O fruto do teu próprio trabalho (pai é trabalhador… ) 23-26

A ternura do abraço (“intimidade delicada e carinhosa entre a mãe e o seu bebê, um recém-nascido que dorme nos braços de sua mãe depois de ter sido amamentado”) 27-30

Cap. II – conjuntura atual familiar (Realidade e os desafios das famílias) 31-57

A situação atual da família (Caminhos Pastorais; descartável; sistema econômico excludente; problema de ter uma casa e de ter um emprego; idosos [eutanásia e suicídio assistido]; famílias na miserabilidade) 32-49

Alguns desafios (função educativa; ansiedade com futuro, mas não vivem o presente; insegurança profissional, econômico e medo relacional; toxicodependência [álcool, jogos de azar]; violência familiar como agressividade social; 52[variedades situações familiares/uniões de fato, pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao matrimônio]; poligamia prática; desconstrução jurídica familiar; força da família ensinar a amar; violência verbal, física e sexual contra a mulher; mutilação genital; aluguel de ventres; dignidade entre o homem e mulher; ausência do pai marca gravemente a vida familiar, a educação dos filhos e a sua inserção na sociedade; gender = nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher [não esquecer que “sexo biológico (sex) e função sociocultural do sexo (gender), podem-se distinguir, mas não separar”]) 50-57

Cap. III – Recorda elementos essenciais da doutrina da Igreja sobre matrimônio e a família (O Olhar Fixo em Jesus: A Vocação da Família) (“olhou para as mulheres e os homens que encontrou com amor e ternura, acompanhando os seus passos com verdade, paciência e misericórdia, ao anunciar as exigências do Reino de Deus”). 58-88

Jesus recupera e realiza plenamente o projeto divino 61-66

A família nos documentos da Igreja 67-70

O Sacramento do Matrimônio 71-75

Sementes do Verbo e situações imperfeitas 76-79

A transmissão da vida e a educação dos filhos 80-85

A família e a Igreja 86-88

Cap. IV – Esposos identificaram (O Amor no Matrimônio) (amor hoje está bem desfigurado e necessita precisar o real sentido 1Cor 13,2-3). 89-164

O nosso amor cotidiano (1Cor 13,4-7) 90

Paciência (macrothymei qualidade do Deus da Aliança, que convida a imitá-Lo também na vida familiar) 91-92

Atitude de serviço (jrestéuetai única vez que aparece em toda a Bíblia –, que deriva de jrestós (pessoa boa, que mostra a sua bondade nas ações) prestável) 93-94

Curando a inveja (zeloi (ciúme ou inveja). Significa que, no amor, não há lugar para sentir desgosto pelo bem do outro (cf. At 7,9; 17,5). A inveja é uma tristeza pelo bem alheio) 95-96

Sem ser arrogante nem se orgulhar (perpereuetai, que indica vanglória, desejo de se mostrar superior para impressionar os outros com atitude pedante e um pouco agressiva. physioutai – é muito semelhante, indicando que o amor não é arrogante) 97-98

Amabilidade (Amar é também tornar-se amável, e nisto está o sentido do termo asjemonéi. Significa que o amor não age rudemente, não atua de forma inconveniente, não se mostra duro no trato) 99-100

Desprendimento (hino à caridade afirma que o amor “não procura o seu próprio interesse”, ou “não procura o que é seu”. “Não cuide somente do que é seu, mas também do que é dos outros” (Fl 2,4).) 101-102

Sem violência interior (paroxýnetai – que diz respeito a uma reação interior de indignação provocada por algo exterior. Trata-se de uma violência interna, uma irritação recôndita que nos põe à defesa perante os outros, como se fossem inimigos molestos a evitar. Se tivermos de lutar contra um mal, façamo-lo; mas sempre digamos “não” à violência interior.) 103-104

Perdão (logízetai to kakón significa que se “tem em conta o mal”, “trá-lo gravado”, ou seja, está ressentido. Nenhuma família ignora como o egoísmo, o desacordo, as tensões, os conflitos agridem, de forma violenta e às vezes mortal, a comunhão: daqui as múltiplas e variadas formas de divisão da vida familiar. Se aceitamos que o amor de Deus é incondicional, que o carinho do Pai não se deve comprar nem pagar, então poderemos amar sem limites, perdoar aos outros, ainda que tenham sido injustos para conosco.) 105-108

Alegrar-se com os outros (jairei epi te adikía indica algo de negativo arraigado no segredo do coração da pessoa. sygjairei te alétheia – rejubila com a verdade. alegra-se com o bem do outro, quando se reconhece a sua dignidade, quando se apreciam as suas capacidades e as suas boas obras. A família deve ser sempre o lugar em que uma pessoa que conquista algo de bom na vida, sabe que vão com ela se alegrar.) 109-110

Tudo desculpa (“Tudo”. “tudo desculpa – panta stégei”. É diferente de “não ter em conta o mal”, porque este termo tem a ver com o uso da língua; pode significar “guardar silêncio” a propósito do mal que possa haver em outra pessoa. Os esposos, que se amam e se pertencem, falam bem um do outro, procuram mostrar mais o lado bom do cônjuge do que as suas fraquezas e erros. O amor convive com a imperfeição, desculpa-a e sabe guardar silêncio perante os limites do ser amado.) 111-113

Confia (O amor convive com a imperfeição, desculpa-a e sabe guardar silêncio perante os limites do ser amado. O amor confia, deixa em liberdade, renuncia a controlar tudo, a possuir, a dominar. Família, onde reina uma confiança sólida, carinhosa e, aconteça o que acontecer, sempre se volta a confiar, permite o florescimento da verdadeira identidade dos seus membros, fazendo com que se rejeite espontaneamente o engano, a falsidade e a mentira.) 114-115

Espera (Panta elpízei: não desespera do futuro. A pessoa, com todas as suas fraquezas, é chamada à plenitude do Céu. ) 116-117

Tudo suporta (Panta hypoménei significa que suporta, com espírito positivo, todas as contrariedades. É amor que apesar de tudo não desiste, mesmo que todo o contexto convide a outra coisa. Na vida familiar, é preciso cultivar esta força do amor, que permite lutar contra o mal que a ameaça.) 118-119

Crescer na caridade conjugal (“O Espírito, que o Senhor infunde, dá um coração novo e torna o homem e a mulher capazes de se amarem como Cristo nos amou. O amor conjugal atinge assim aquela plenitude para a qual está interiormente ordenado: a caridade conjugal” FC, 13. O matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós.) 120-122

A vida toda, tudo em comum (Depois do amor que nos une a Deus, o amor conjugal é a “amizade maior”. Partilha-se tudo, incluindo a sexualidade, sempre no mútuo respeito.) 123-125

Alegria e beleza (No matrimônio, convém cuidar da alegria do amor. A alegria matrimonial, que pode ser vivenciada mesmo no meio do sofrimento, implica aceitar que o matrimônio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres, sempre no caminho da amizade que impele os esposos a cuidarem um do outro: “prestam-se recíproca ajuda e serviço”. O amor de amizade chama-se “caridade”, quando capta e aprecia o “valor sublime” que tem o outro.) 126-130

Casar-se por amor (Quero dizer aos jovens que nada disto é prejudicado, quando o amor assume a modalidade da instituição matrimonial.) 131-132

Amor que se manifesta e cresce (O amor de amizade unifica todos os aspectos da vida matrimonial e ajuda os membros da família a avançarem em todas as suas fases. Na família, “é necessário usar três palavras: com licença, obrigado, desculpa. Três palavras-chave”. É mais saudável aceitar com realismo os limites, os desafios e as imperfeições, e dar ouvidos ao apelo para crescer juntos, fazer amadurecer o amor e cultivar a solidez da união, aconteça o que acontecer.) 133-135

O diálogo (modalidade privilegiada e indispensável para viver, exprimir e maturar o amor na vida matrimonial e familiar. Reservar tempo, tempo de qualidade, que permita escutar, com paciência e atenção, até que o outro tenha manifestado tudo o que precisava comunicar. Isto requer a ascese de não começar a falar antes do momento apropriado. Desenvolver o hábito de dar real importância ao outro. Ter gestos de solicitude pelo outro e demonstrações de carinho. O amor supera as piores barreiras. É preciso ter algo para se dizer. Quando cada um dos cônjuges não cultiva o próprio espírito e não há uma variedade de relações com outras pessoas, a vida familiar torna-se endogâmica e o diálogo fica empobrecido.) 136-141

Amor apaixonado (Deve haver qualquer motivo para um amor sem prazer nem paixão se revelar insuficiente a simbolizar a união do coração humano com Deus.) 142

O mundo das emoções (Desejos, sentimentos, emoções (os clássicos os chamavam de “paixões”) ocupam um lugar importante no matrimônio. Estas manifestações da sua sensibilidade mostram até que ponto estava aberto aos outros o seu coração humano. Experimentar uma emoção não é, em si mesmo, algo moralmente bom nem mau. Se uma paixão acompanha o ato livre, pode manifestar a profundidade dessa opção. O amor matrimonial leva a procurar que toda a vida emotiva se torne um bem para a família e esteja a serviço da vida em comum.) 143-146

Deus ama a alegria dos seus filhos (caminho pedagógico, um processo que inclui renúncias: é uma convicção da Igreja, que muitas vezes foi rejeitada pelo mundo como se fosse inimiga da felicidade humana. É necessária a educação da emotividade e do instinto e, para isso, às vezes torna-se indispensável impormo-nos algum limite. Deus ama a alegria do ser humano, pois Ele criou tudo “para nosso bom uso” (1Tm 6,17). Deixemos brotar a alegria à vista da sua ternura, quando nos propõe.) 147-149

A dimensão erótica do amor (Tudo isto nos leva a falar da vida sexual dos esposos. O próprio Deus criou a sexualidade, que é um presente maravilhoso para as suas criaturas. Veja-se aqui a Teologia do Corpo de São João Paulo II: “o coração humano torna-se participante, por assim dizer, de outra espontaneidade”.) 150-152

Violência e manipulação (Não podemos ignorar que muitas vezes a sexualidade se despersonaliza e enche de patologias, de modo que “se torna cada vez mais ocasião e instrumento de afirmação do próprio eu e de satisfação egoísta dos próprios desejos e instintos”. Nunca é demais lembrar que, mesmo no matrimônio, a sexualidade pode tornar-se fonte de sofrimento e manipulação. Por isso, devemos reafirmar, claramente, que “um ato conjugal imposto ao próprio cônjuge, sem consideração pelas suas condições e pelos seus desejos legítimos, não é um verdadeiro ato de amor e nega, por isso mesmo, uma exigência de reta ordem moral, nas relações entre os esposos”. importante deixar claro a rejeição de toda a forma de submissão sexual. a rejeição das distorções da sexualidade e do erotismo nunca deveria levar-nos ao seu desprezo nem ao seu descuido. O ideal do matrimônio não pode configurar-se apenas como uma doação generosa e sacrificada, onde cada um renuncia a qualquer necessidade pessoal e se preocupa apenas por fazer o bem ao outro, sem satisfação alguma.) 153-157

Matrimônio e virgindade (A virgindade é uma forma de amor. A virgindade tem o valor simbólico do amor que não necessita possuir o outro, refletindo assim a liberdade do Reino dos Céus. É um convite para os esposos viverem o seu amor conjugal na perspectiva do amor definitivo a Cristo, como um caminho comum rumo à plenitude do Reino. O celibato corre o risco de ser uma cômoda solidão, que dá liberdade para se mover autonomamente, mudar de local, tarefa e opção, dispor do seu próprio dinheiro, conviver com as mais variadas pessoas segundo a atração do momento.) 158-162

A transformação do amor (amor, que nos prometemos, supera toda a emoção, sentimento ou estado de ânimo, embora possa incluí-los. O vínculo encontra novas modalidades e exige a decisão de reatá-lo repetidamente; e não só para conservá-la, mas para fazê-lo crescer. É o caminho de se construir dia após dia, mas nada disto é possível, se não se invoca o Espírito Santo, se não se clama todos os dias pedindo a sua graça.) 163-164

Cap. V – Esposos identificaram (O Amor que se torna fecundo) (O amor sempre dá vida.) 165-198

Acolher uma nova vida (A família é o âmbito não só da geração, mas também do acolhimento da vida que chega como um presente de Deus. As famílias numerosas são uma alegria para a Igreja.) 166-167

O amor na expectativa própria da gravidez (A gravidez é um período difícil, mas também um tempo maravilhoso. A mulher grávida pode participar deste projeto de Deus, sonhando o seu filho. A cada mulher grávida quero pedir afetuosamente: cuida da tua alegria, que nada te tire a alegria interior da maternidade. Tua criança merece a tua alegria…) 168-171

Amor de mãe e de pai (Toda a criança tem direito a receber o amor de uma mãe e de um pai, ambos necessários para o seu amadurecimento íntegro e harmonioso.) 172-177

Fecundidade alargada (mesmo que faltem os filhos, tantas vezes ardentemente desejados, o matrimônio conserva o seu valor e indissolubilidade, como comunidade e comunhão de toda a vida. A adoção é um caminho para realizar a maternidade e a paternidade de uma forma muito generosa, e desejo encorajar os que não podem ter filhos a alargar e abrir o seu amor conjugal para receber quem está privado de um ambiente familiar adequado.) 178-184

Distinguir o Corpo (A Eucaristia exige a integração no único corpo eclesial.) 185-186

A vida na família em sentido amplo (O núcleo familiar restrito não deveria isolar-se da família alargada, onde estão os pais, os tios, os primos e até os vizinhos.) 187

Ser filho (Não faz bem a ninguém perder a consciência de ser filho. Em cada pessoa, “mesmo quando se torna adulta ou idosa, quando passa também a ser progenitora ou desempenha funções de responsabilidade, por baixo de tudo isso permanece a identidade de filho. Todos somos filhos.) 188-190

Os idosos (“Não me rejeites no tempo da velhice, não me abandones quando diminuem minhas forças” (Sl 71/70,9). É o brado do idoso, que teme o esquecimento e o desprezo. Os idosos ajudam a perceber “a continuidade das gerações”, com “o carisma de lançar uma ponte”215 entre elas.) 191-193

Ser irmão (A relação entre os irmãos aprofunda-se com o passar do tempo, e “o laço de fraternidade que se forma na família entre os filhos, quando se verifica em um clima de educação para a abertura aos outros, é uma grande escola de liberdade e de paz. Em família, entre irmãos, aprendemos a convivência humana (…). Talvez nem sempre estejamos conscientes disto, mas é precisamente a família que introduz a fraternidade no mundo.) 194-195

Um coração grande (“o amor entre o homem e a mulher no matrimônio e, de forma derivada e ampla, o amor entre os membros da mesma família – entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs, entre parentes e familiares – é animado e impelido por um dinamismo interior e incessante, que leva a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma da comunidade conjugal e familiar”) 196-198

Cap.VI – Agentes Pastorais (Algumas Perspectivas Pastorais) (As diferentes comunidades é que deverão elaborar propostas mais práticas e eficazes, que tenham em conta tanto a doutrina da Igreja como as necessidades e desafios locais.) 199-285

Anunciar hoje o Evangelho da família (fazer-lhes “experimentar que o Evangelho da família é alegria que ‘enche o coração e a vida inteira’, porque, em Cristo, somos ‘libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento’ (EG, n. 1). “Por isso exige-se a toda a Igreja uma conversão missionária: é preciso não se contentar com um anúncio puramente teórico e desligado dos problemas reais das pessoas”. “A principal contribuição pastoral familiar é oferecida pela paróquia, que é família de famílias, onde se harmonizam as contribuições de pequenas comunidades, movimentos e associações eclesiais” Os seminaristas deveriam ter acesso a uma formação interdisciplinar mais ampla sobre namoro e matrimônio, não se limitando à Doutrina. Além disso, a formação nem sempre lhes permite desenvolver o seu mundo psicoafetivo. “A presença dos leigos e das famílias, em particular a presença feminina, na formação sacerdotal, favorece o apreço pela variedade e complementaridade das diversas vocações na Igreja”) 200-204

Guiar os noivos no caminho de preparação para o matrimônio (é preciso ajudar os jovens a descobrir o valor e a riqueza do matrimônio. “A complexa realidade social e os desafios, que a família é chamada a enfrentar atualmente, exigem um empenhamento maior de toda a comunidade cristã na preparação dos noivos para o matrimônio. Convido as comunidades cristãs a reconhecerem que é um bem para elas mesmas acompanhar o caminho de amor dos noivos. A preparação dos que já formalizaram o noivado, quando a comunidade paroquial consegue acompanhá-los com bom período de antecipação, deve dar-lhes também a possibilidade de individuar incompatibilidades e riscos. Tanto a preparação próxima como o acompanhamento mais prolongado devem procurar que os noivos não considerem o matrimônio como o fim do caminho, mas o assumam como uma vocação que os lança para diante, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos todas as provações e momentos difíceis.) 205-211

A preparação da celebração (A preparação próxima do matrimônio tende a concentrar-se nos convites, na roupa, na festa com os seus inumeráveis detalhes que consomem tanto os recursos econômicos como as energias e a alegria. Na preparação mais imediata, é importante esclarecer os noivos para viverem com grande profundidade a celebração litúrgica, ajudando-os a compreender e viver o significado de cada gesto.) 212-216

Acompanhamento nos primeiros anos da vida matrimonial (Temos de reconhecer como um grande valor que se compreenda que o matrimônio é uma questão de amor: só se podem casar aqueles que se escolhem livremente e se amam. Lembro-me de um refrão que dizia que a água estagnada corrompe-se, estraga-se. O mesmo acontece com a vida do amor nos primeiros anos do matrimônio quando fica estagnada, cessa de mover-se, perde aquela inquietude sadia que a faz avançar. Uma das causas que leva a rupturas matrimoniais é ter expectativas demasiado altas sobre a vida conjugal. Quando se descobre a realidade mais limitada e problemática do que se sonhara, a solução não é pensar imediata e irresponsavelmente na separação, mas assumir o matrimônio como um caminho de amadurecimento, onde cada um dos cônjuges é um instrumento de Deus para fazer crescer o outro.) 217-222

Alguns recursos (Os primeiros anos de matrimônio são um período vital e delicado, durante o qual os cônjuges crescem na consciência dos desafios e do significado do matrimônio. Daí a necessidade de um acompanhamento pastoral que continue depois da celebração do sacramento (cf. FC, parte III). Este caminho é uma questão de tempo. O amor precisa de tempo disponível e gratuito, colocando outras coisas em segundo lugar.) 223-230

Iluminar crises, angústias e dificuldades (Quando o vinho envelhece com esta experiência do caminho, então aparece, floresce em toda a sua plenitude a fidelidade dos momentos insignificantes da vida. É a fidelidade da espera e da paciência. Esta fidelidade, cheia de sacrifícios e alegrias, de certo modo vai florescendo na idade em que tudo fica “sazonado” e os olhos brilham com a contemplação dos filhos de seus filhos.) 231

O desafio das crises (A história de uma família está marcada por crises de todo o gênero, que são parte também da sua dramática beleza. É preciso ajudar a descobrir que uma crise superada não leva a uma relação menos intensa, mas a melhorar, sedimentar e maturar o vinho da união. Não se vive juntos para ser cada vez menos feliz, mas para aprender a ser feliz de maneira nova, a partir das possibilidades que abre uma nova etapa. Perante o desafio de uma crise, a reação imediata é resistir, pôr-se à defesa por sentir que escapa ao próprio controle, por mostrar a insuficiência da própria maneira de viver, e isto incomoda. Há crises comuns que costumam verificar-se em todos os matrimônios, como a crise ao início quando é preciso aprender a conciliar as diferenças e a desligar-se dos pais; ou a crise da chegada do filho, com os seus novos desafios emotivos. A estas crises, vêm juntar-se as crises pessoais com incidência no casal, relacionadas com dificuldades econômicas, laborais, afetivas, sociais, espirituais) 232-238

Velhas feridas (É compreensível que, nas famílias, haja muitas dificuldades, quando um dos seus membros não amadureceu a sua maneira de relacionar-se, porque não curou feridas de alguma etapa da sua vida. Muitos terminam a sua infância sem nunca terem se sentido amados incondicionalmente, e isto compromete a sua capacidade de confiar e entregar-se. Por mais evidente que possa parecer que toda a culpa seja do outro, nunca é possível superar uma crise esperando que apenas o outro mude. É preciso também questionar a si mesmo sobre as coisas que poderia pessoalmente amadurecer ou curar para favorecer a superação do conflito.) 239-240

Acompanhar depois das rupturas e dos divórcios (Em alguns casos, a consideração da própria dignidade e do bem dos filhos exige pôr um limite firme às pretensões excessivas do outro, a uma grande injustiça, à violência ou a uma falta de respeito que se tornou crônica. É preciso reconhecer que “há casos em que a separação é inevitável. “é indispensável um discernimento particular para acompanhar pastoralmente os separados, os divorciados, os abandonados. Tem-se de acolher e valorizar sobretudo a angústia daqueles que sofreram injustamente a separação, o divórcio ou o abandono, ou então foram obrigados, pelos maus-tratos do cônjuge, a romper a convivência. Quanto às pessoas divorciadas que vivem em uma nova união, é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que “não estão excomungadas” nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial. sublinhou a necessidade de tornar mais acessíveis, ágeis e possivelmente gratuitos os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade”.263 A lentidão dos processos irrita e cansa as pessoas. a nossa tarefa pastoral mais importante relativamente às famílias é reforçar o amor e ajudar a curar as feridas, para podermos impedir o avanço deste drama do nosso tempo.) 241-246

Algumas situações complexas (‘procure-se (…) uma colaboração cordial entre o ministro católico e o não católico, desde o momento da preparação para o matrimônio e para as núpcias’ (FC, n. 78). A respeito da partilha eucarística, recorda-se que ‘a decisão de admitir ou não a parte não católica do matrimônio à comunhão eucarística deve ser tomada em conformidade com as normas gerais existentes na matéria, tanto para os cristãos orientais como para os outros cristãos, e tendo presente esta situação particular, ou seja, que recebem o sacramento do matrimônio cristão dois cristãos batizados. Embora os esposos de um matrimônio misto tenham em comum os sacramentos do Batismo e do Matrimônio, a partilha da Eucaristia, não pode deixar de ser extraordinária e, contudo, devem ser observadas as disposições indicadas’ (Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Diretório para a Aplicação dos Princípios e das Normas sobre o Ecumenismo, 25 de março de 1993, 159-160)”.) 247-252

Quando a morte crava o seu aguilhão (a vida familiar vê-se desafiada pela morte de um ente querido. Não podemos deixar de oferecer a luz da fé para acompanhar as famílias que sofrem em tais momentos. Não gastemos energias, detendo-nos anos e anos no passado. Quanto melhor vivermos nesta terra, tanto maior felicidade poderemos partilhar com os nossos entes queridos no céu. Quanto mais conseguirmos amadurecer e crescer, tanto mais poderemos levar-lhes coisas belas para o banquete celeste.) 253-258

Cap. VII – (Reforçar a Educação dos Filhos) (função educativa das famílias é tão importante e se tornou muito complexa) 259-290

Onde estão os filhos? (A família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento, guia, embora tenha de reinventar os seus métodos e encontrar novos recursos. A obsessão, porém, não é educativa; e também não é possível ter o controle de todas as situações em que um filho poderá chegar a encontrar-se. Vale aqui o princípio de que “o tempo é superior ao espaço. Se a maturidade fosse apenas o desenvolvimento de algo já contido no código genético, quase nada poderíamos fazer. Mas não é! A prudência, o reto juízo e a sensatez não dependem de fatores puramente quantitativos de crescimento, mas de toda uma cadeia de elementos que se sintetizam no íntimo da pessoa; mais exatamente, no centro da sua liberdade.) 260-262

A formação ética dos filhos (Os pais necessitam também da escola para assegurar uma instrução de base aos seus filhos, mas a formação moral deles nunca a podem delegar totalmente. A tarefa dos pais inclui uma educação da vontade e um desenvolvimento de hábitos bons e tendências afetivas para o bem. Isto implica que se apresentem como desejáveis os comportamentos a aprender e as tendências a fazer maturar. É necessário maturar hábitos. A liberdade é algo de grandioso, mas podemos perdê-la.) 263-267

O valor da sanção como estímulo (De igual modo, é indispensável sensibilizar a criança e o adolescente para se darem conta de que as más ações têm consequências. É preciso despertar a capacidade de colocar-se no lugar do outro e sentir pesar pelo seu sofrimento originado pelo mal que lhe fez. A correção é um estímulo quando, ao mesmo tempo, se apreciam e reconhecem os esforços e quando o filho descobre que os seus pais conservam viva uma paciente confiança.) 268-270

Realismo paciente (A educação moral implica pedir a uma criança ou a um jovem apenas as coisas que não representem, para eles, um sacrifício desproporcionado, exigir-lhes apenas a dose de esforço que não provoque ressentimento ou ações puramente forçadas.) 271-273

A vida familiar como contexto educativo (A família é a primeira escola dos valores humanos, na qual se aprende o bom uso da liberdade. Há inclinações maturadas na infância, que impregnam o íntimo de uma pessoa e permanecem toda a vida como uma inclinação favorável a um valor ou como uma rejeição espontânea de certos comportamentos) 274-279

Sim à educação sexual (necessidade de “uma educação sexual positiva e prudente” oferecida às crianças e adolescentes “à medida que vão crescendo” e “tendo em conta os progressos da psicologia, pedagogia e didática”.) 280-286

Transmitir a fé (A educação dos filhos deve estar marcada por um percurso de transmissão da fé, que se vê dificultado pelo estilo de vida atual, pelos horários de trabalho, pela complexidade do mundo atual, onde muitos têm um ritmo frenético para poder sobreviver.) 287-290

Cap. VIII – Convite a todos (Acompanhar, Discernir e Integrar a Fragilidade) (toda a ruptura do vínculo matrimonial “é contra a vontade de Deus, está consciente também da fragilidade de muitos dos seus filhos”. Não esqueçamos que, muitas vezes, o trabalho da Igreja é semelhante ao de um hospital de campanha.) 291-312

A gradualidade na pastoral (quando a união atinge uma notável estabilidade através de um vínculo público e se caracteriza por um afeto profundo, responsabilidade para com a prole, capacidade de superar as provas, pode ser vista como uma ocasião a acompanhar na sua evolução para o sacramento do matrimônio. “A escolha do matrimônio civil ou, em diversos casos, da simples convivência, muitas vezes é motivada não por preconceitos nem por resistências no que se refere à união sacramental, mas por situações culturais ou ocasionais.) 293-295

O discernimento das situações chamadas “irregulares” (“Duas lógicas percorrem toda a história da Igreja: marginalizar e reintegrar. (…) O caminho da Igreja, desde o Concílio de Jerusalém em diante, é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração. (…) O caminho da Igreja é o de não condenar eternamente ninguém; derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com coração sincero (…). Porque a caridade verdadeira é sempre imerecida, incondicional e gratuita”.326 Por isso, “é preciso evitar juízos que não levam em consideração a complexidade das diversas situações e é necessário prestar atenção ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição”. Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto de uma misericórdia “imerecida, incondicional e gratuita”. Os divorciados que vivem em uma nova união, por exemplo, podem encontrar-se em situações muito diferentes, que não devem ser catalogadas ou fechadas em afirmações demasiado rígidas, sem deixar espaço para um adequado discernimento pessoal e pastoral.) 296-300

As circunstâncias atenuantes no discernimento pastoral (Para se entender adequadamente por que é possível e necessário um discernimento especial em algumas situações chamadas “irregulares”, há uma questão que sempre se deve levar em consideração, para nunca se pensar que se pretende diminuir as exigências do Evangelho. A Igreja possui uma sólida reflexão sobre os condicionamentos e as circunstâncias atenuantes. Por isso, já não é possível dizer que todos os que estão em uma situação chamada “irregular” vivem em estado de pecado mortal, privados da graça santificante.) 301-303

As normas e o discernimento (É mesquinho deter-se a considerar apenas se o agir de uma pessoa corresponde ou não a uma lei ou norma geral, porque isto não basta para discernir e assegurar uma plena fidelidade a Deus na existência concreta de um ser humano. Peço encarecidamente que nos lembremos sempre de algo que ensina São Tomás de Aquino e aprendamos a assimilá-lo no discernimento pastoral: “Embora nos princípios gerais tenhamos o caráter necessário, todavia à medida que se abordam os casos particulares, aumenta a indeterminação (…).A pastoral concreta dos ministros e das comunidades não pode deixar de incorporar esta realidade.) 304-306

A lógica da misericórdia pastora (Para evitar qualquer interpretação tendenciosa, lembro que, de modo algum, deve a Igreja renunciar a propor o ideal pleno do matrimônio, o projeto de Deus em toda a sua grandeza: “É preciso encorajar os jovens batizados para não hesitarem perante a riqueza que o sacramento do matrimônio oferece aos seus projetos de amor, com a força do apoio que recebem da graça de Cristo e da possibilidade de participar plenamente na vida da Igreja”. Jesus “espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos, a vida complica-se sempre maravilhosamente”. É verdade que, às vezes, “agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa”. ) 307-312

Cap. IX – (Espiritualidade Conjugal e Familiar) (amor com matizes diferentes. Descreve brevissimamente características fundamentais da espiritualidade específica e o desenvolver nas relações da vida familiar) 313-325

Espiritualidade da comunhão sobrenatural (viver na graça é ter e viver na presença de Deus e isso acontece em todos os momentos da vida, daí a comunhão familiar bem vivida é um caminho de santificação) 314-316

Unidos em oração à luz da Páscoa (unificar-se em Cristo a família e rezar, orar em família) 317-318

Espiritualidade do amor exclusivo e libertador (no matrimônio o pertencer a uma única pessoa. A espiritualidade ajuda a “desiludir-se” do outro, despojamento interior) 319-320

Espiritualidade da solicitude, da consolação e do estímulo (Deus chama os casais a gerar e cuidar! A vida em casal é uma participação na obra fecunda de Deus e cada um é para o outro uma permanente provocação do Espírito. Toda a vida da família é um pastoreio misericordioso) 321-325

Oração à Sagrada Família

Jesus, Maria e José, em Vós contemplamos o esplendor do verdadeiro amor, confiantes, a Vós nos consagramos. Sagrada Família de Nazaré, ornai também as nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas igrejas domésticas. Sagrada Família de Nazaré, que nunca mais haja nas famílias episódios de violência, de fechamento e divisão; e quem tiver sido ferido ou escandalizado seja rapidamente consolado e curado. Sagrada Família de Nazaré, fazei que todos nos tornemos conscientes do caráter sagrado e inviolável da família, da sua beleza no projeto de Deus. Jesus, Maria e José, ouvi-nos e acolhei a nossa súplica. Amém!

Observação geral:

Todos os capítulos tem uma breve introdução.

São 08 capítulos divididos em 325 parágrafos.

Capítulos 1 e 2 – são introdutórios, 1º visão bíblica, 2º visão antropológica, sociológica (situacional e desafiante)

Capítulo 3 – visão doutrinal

Capítulos 4 e 5 – questão do amor no matrimônio com características práticas paulinas; o fruto do amor conjugal são os filhos gerados no amor e que dão sentido a vida e acolhem a nova vida que geraram

Capitulo 6 – pistas pastorais vindas de experiências já realizadas

Capítulo 7 – Educação dos filhos

Capítulo 8 – ADIF – prática não só de pastoralidade, mas de vivencialidade, na ótica do discernimento e da misericórdia

Capítulo 9 -trata da espiritualidade conjugal e espiritualidade familiar.

A novidade do texto está na forma como é apresentado, mesmo sendo longo, é atraente e como sugestão papal deve ser lido por blocos e por interesses que facilita a absorção e compreensibilidade do mesmo.

Pode-se pensar em grupos de estudos e/ou reflexão familiar, sobre determinado trecho.

O Capitulo 8 que abreviamos como ADIF é a realidade de todos.

Há uma riqueza profunda sim no documento, mas não esperem que tenham soluções aos problemas, mas sim pistas que levaram os pastores e seus colaboradores a pensarem juntos e acolherem quem está ou se sente apartado do seio da comunhão, não só eucarística, mas vivencial da Igreja. A Igreja acolhe a todos e como na Santa Missa tem um valor infinito e acolhe todas as intenções possíveis e de cada um.

Nenhuma família é perfeita e pronta, mas somos chamados a construir juntos num amadurecimento como um verdadeiro processo que nos leva a capacidade de amar. Tenhamos a família de Nazaré que teve seus percalços e dificuldades, mas que não desistiu de viver os laços da ternura e do amor, do abraço fraterno e reconfortante que nos faz reerguer os olhos e continuar a caminhada. Sublinhemos a frase do Papa “Não percamos a esperança por causa dos nossos limites”

Agradecemos ao Papa Francisco por mais este documento que reflete o momento atual da história e as preocupações da Igreja em propor sempre a beleza do matrimônio e, ao mesmo tempo, indo ao encontro, neste ano Santo da Misericórdia, a tantas outras situações que são consequências do momento atual. Tenho certeza de que a leitura tranquila deste documento será reconfortador para todos. Que produza muitos frutos para todos.

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.

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A espiritualidade matrimonial não consiste apenas na oração e nas práticas de piedade feitas em conjunto pelos cônjuges. A vivência da espiritualidade nesta vocação particular passa necessariamente pela doação total e recíproca do corpo. Mais ainda: a união conjugal é o centro e o coração da vida espiritual do matrimônio!

Não é “apesar” da sexualidade que os esposos devem crescer na vida espiritual: é justamente “através” do exercício ordenado da sexualidade, ou seja, em conformidade com a sua finalidade e propósito. A vida sexual dos esposos não pode ser considerada um aparte na sua vida espiritual: pelo contrário, ela faz parte do coração e do centro da espiritualidade conjugal. Esta é a perspectiva da Teologia do Corpo, de São João Paulo II, que pode parecer “surpreendente” e “inovadora” para muita gente que desconhece a verdadeira doutrina da Igreja (gente que, em vez de conhecer a doutrina diretamente em sua fonte, só “fica sabendo” de pedaços dela que são mal apresentados, descontextualizados ou abertamente manipulados pelo assim chamado “jornalismo” laico).

Se é verdade que a mídia presta um serviço muito questionável quando “informa” (?) sobre questões de doutrina católica, também é verdade, por outro lado, que, durante quase vinte séculos, não existiu na Igreja “uma espiritualidade especificamente conjugal”: a literatura espiritual sempre foi abundante para sacerdotes e religiosos, mas bastante menos rica em material que abordasse a grandeza e a profundidade da vocação matrimonial como um caminho específico de santidade. Os casais se viam “obrigados” a alimentar-se de uma espiritualidade que não era especificamente voltada para o seu estado de vida nem para a sua vocação.

Isso não quer dizer que a Igreja não considerasse a sexualidade conjugal uma dimensão da santidade no matrimônio. Mas foi graças à Teologia do Corpo, de São João Paulo II, que ficou mais claro para os católicos que “tanto o matrimônio quanto a entrega de si mesmo aos outros através do celibato pelo Reino envolvem o dom total de si, e que ambas as vocações – matrimônio e celibato – podem conduzir à santidade”.

A espiritualidade das pessoas casadas

É própria dos casais unidos em matrimônio, e não uma simples transposição da espiritualidade de religiosos e religiosas para a vida matrimonial. A espiritualidade matrimonial se articula no aspecto que mais a distingue da vida consagrada: a entrega do corpo.

Quem abraça o chamado ao “celibato pelo Reino”, como Jesus o caracteriza, procura a união com Deus em uma relação direta com Ele. Já no matrimônio a vocação recebida é um chamado ao encontro com Deus através da doação própria a outra pessoa – incluindo nessa doação a própria entrega carnal. É constitutivo da espiritualidade conjugal compartilhar a vivência carnal – que não é só sexual, mas também afetiva, terna e ligada ao conjunto de aspectos que São João Paulo II chamou de “linguagem do corpo”.

E é essencial entendê-lo bem, porque, do contrário, tenta-se viver uma espiritualidade de celibato dentro do matrimônio e os esposos se perdem. Há pessoas casadas que procuram Deus fora do matrimônio ou “apesar” do matrimônio, quando é precisamente a sua vocação ao matrimônio que deveria levá-las a buscar a Deus “através” da doação pessoal de cada cônjuge um ao outro.

Uma espiritualidade “especificamente conjugal”

Depois de séculos focados em revelar toda a beleza da espiritualidade religiosa e sacerdotal, a Igreja é chamada, hoje, a revelar outra dimensão do tesouro que recebeu: a espiritualidade conjugal. Espera-se o equilíbrio entre as duas modalidades possíveis de uma mesma e única vocação de todo homem e de toda mulher: o dom de si próprio, que São João Paulo II chamava de “vocação esponsal” da pessoa. Esta vocação pode realizar-se no dom de si mesmo a Deus, através da vocação esponsal virginal (consagrada, religiosa ou sacerdotal) ou no dom de si mesmo a outra pessoa: a vocação esponsal conjugal.

Os primeiros elementos explícitos da espiritualidade conjugal podem ser encontrados em São Francisco de Sales, mas é principalmente no século XX que começam a surgir movimentos de espiritualidade conjugal. É o caso, por exemplo, do que se iniciou na França por influência do padre Caffarel e das Equipes de Nossa Senhora.

Além da procriação: a importância do ato conjugal

O ato conjugal não pode ser reduzido a uma simples necessidade voltada a gerar vida. Tanto a procriação como a comunhão dos esposos são fins do ato conjugal e estão intrinsecamente unidas: a comunhão dos esposos faz com que eles queiram gerar vida, já que toda comunhão autêntica tende à fecundidade. Além disso, o dom da vida completa e aperfeiçoa a comunhão dos esposos. Os dois significados do ato conjugal, condicionados um ao outro, devem, portanto, ser mantidos juntos, como já pedia Paulo VI na encíclica Humanae Vitae, de 1968.

A união entre espiritualidade e sexualidade é um desafio para todo matrimônio autenticamente cristão – mas não é impossível. Pelo contrário: a Igreja estaria nos enganando ao nos apresentar o matrimônio como uma vocação cristã à santidade se não fosse possível unir a sexualidade e a espiritualidade.

O matrimônio como vocação inferior? De jeito nenhum!

São João Paulo II declarou enfaticamente que, “nas palavras de Cristo sobre a castidade ‘pelo reino dos céus’, não há nenhuma referência a uma ‘inferioridade’ do matrimônio no tocante ao corpo ou à essência do próprio matrimônio (o fato de que o homem e a mulher se unam para se tornar uma só carne)”. E de novo: “O matrimônio e a castidade [‘pelo Reino’] não são opostos e não dividem a comunidade humana e cristã em dois campos: o dos ‘perfeitos’ graças à castidade [vivendo em celibato] e o dos ‘imperfeitos’ ou menos perfeitos por ‘culpa’ da realidade da sua vida matrimonial”. Não se pode ser mais claro! No entanto, é verdade que a prática total dos votos de pobreza, castidade e obediência da vida religiosa permitem chegar com maior facilidade à caridade plena, que é a única medida válida da vida cristã.

Quanto à santidade “sozinho” ou “em casal”, vale recordar um provérbio que diz que “sozinho se chega rápido, mas acompanhado se chega longe”. Quando há dois, é preciso levar o outro em conta para ambos avançarem juntos. Tentações não faltam para fugir desta exigência do matrimônio… Aliás, quem não se sente chamado a avançar assim na vida cristã é porque, talvez, não tenha a vocação matrimonial – e isso é perfeitamente legítimo, já que é bem claro que nem todos recebem de Deus a mesma vocação.

Perdão e comunhão conjugal

Não há limites para o perdão, que é premissa da comunhão. É o perdão que permite a perpétua restauração da comunhão. Os atos negados de perdão vão levantando uma montanha que separa o casal. Pedir perdão e perdoar é tarefa de todos os dias, porque todos os dias se causa alguma pequena ferida.

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A partir de artigo original da Revista Misión

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A pedido do Papa Francisco, o Vaticano mudou o protocolo para as visitas oficiais dos chefes de Estado católicos que se divorciaram e casaram novamente, os quais poderão ser recebidos com a nova esposa (ou esposo) pelo pontífice.

De acordo com a página italiana especializada em informações religiosas Vatican Insider, o pedido foi feito pelo pontífice argentino à Secretaria de Estado, encarregada dos protocolos, incomodado em ter que receber separadamente as novas esposas de quase todos os presidentes latino-americanos, entre eles o argentino Mauricio Macri (foto acima) e o colombiano Juan Manuel Santos.

Um gesto especial de Francisco com seu compatriota, o presidente Macri, a quem recebeu no sábado passado no Vaticano, junto com a sua terceira esposa, Juliana Awada. Com efeito, tratava-se da primeira vez que se rompiam as regras rígidas do Vaticano para as visitas oficiais, o que não passou despercebido nem no Vaticano nem na Argentina.

No passado, tais regras impediam que o presidente fosse recebido junto com a nova esposa pelo papa, motivo pelo qual não aparecia como casal na foto oficial.

Em geral, a nova esposa, embora algumas estivessem há anos casadas no civil, tinham que esperar em outro local doVaticano para que o papa a saudasse em separado depois da audiência com o marido.

A decisão não implica uma mudança da lei canônica, que considera ilegítimos tais casamentos, mas uma aplicação de um princípio defendido por Francisco: que os divorciados recasados sejam “integrados na vida” da Igreja, embora não possam ter acesso à comunhão.

O Papa Francisco deverá divulgar nas próximas semanas as conclusões dos dois Sínodos sobre as mudanças na família moderna, realizados em 2014 e 2015, um documento muito aguardado pelos católicos.

A reportagem é publicada por Religión Digital, 04-03-2016. A tradução é de André Langer.

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No rito do casamento, os noivos prometem se amar “até que a morte os separe”. Só que essa separação pode ocorrer muito antes se não houver preocupação alguma em proteger a relação de ameaças. Uma união duradoura não se faz só com sentimentos, mas também com determinação e sacrifícios.

Aqui descrevemos sete destruidores do casamento que você e o seu cônjuge precisam evitar para que a união de vocês dure a vida toda.

1. Ser o centro do mundo

Lembre-se, vocês são um casal. Sempre – sempre, mesmo – considere como as suas decisões e ações podem afetar o seu cônjuge. Não feche seu raciocínio entorno de si mesmo e dos seus sentimentos. As emoções do seu marido ou esposa precisam ser levados em conta. Portanto, peça a opinião dele(a) sobre decisões importantes que podem afetar a família e ouça-o com atenção antes de reagir. Vocês estão juntos nessa, de modo que as decisões não podem ser tomadas em uma só direção.

2. Controle total

Finanças, tarefas do lar, crianças, cozinha, viagens, etc. São elementos demais para que uma só pessoa controle tudo, sozinha. Se você quer manter um casamento saudável, precisa suavizar a vontade de controlar tudo e permitir que o seu cônjuge tenha voz. O casamento é uma parceria, e para que seja uma parceria feliz, você não pode ter a palavra final sempre. Dê ao seu cônjuge a oportunidade de fazer parte das decisões e aprenda a ceder.

3. Desprezo do afeto

Sem sexo, sem abraços, sem beijos, sem mãos dadas: eis os ingredientes para transformar o matrimônio numa rotina melancólica e fria. Vocês não precisam de sexo todas as noites para ser felizes, mas somos seres humanos e precisamos de afeição. Seja um beijo, um abraço ou assistir a um filme bem juntinhos. Preocupe-se em dar ao outro algum tipo de carinho todos os dias.

4. Abuso verbal

Xingamentos, comentários críticos o tempo todo ou julgamentos custam muito para a autoestima de uma pessoa. Não cause frustrações ao seu cônjuge. É natural se irritar às vezes, mas não permita que a raiva o domine, a ponto de dizer verdadeiras crueldades. Aprenda a dar voz às suas frustrações sem fazer uso de insultos. É questão de autocontrole.

5. Sem tempo juntos

É verdade que os filhos são importantes, mas também é importante ter momentos de qualidade como casal. O relacionamento de vocês é a base da sua família – que seja uma base firme. Os seus filhos vão olhar para você como um exemplo do que um casamento digno deve ser. Encontrem tempo para estar um com o outro sem as crianças. Aprenda a aproveitar a companhia do seu cônjuge.

6. Mentir em troca de tranquilidade

Para evitar discussões ou conversas difíceis, muitas pessoas escolhem o atalho da mentira e podem acabar se acostumando com esse venenoso vício. Nenhum casamento se sustenta tendo ilusões como alicerce. Seja honesto e construa o seu relacionamento na verdade. Ser fiel não tem a ver só com sexo, mas sim com ser emocionalmente honesto com o outro e preocupado com os seus sentimentos.

Fonte: Sempre Família

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Por Papa Bento XVI                           

Ao amor entre homem e mulher, que não nasce da inteligência e da vontade, mas, de certa forma, impõe-se ao ser humano, a Grécia antiga deu o nome de eros. Segundo Friedrich Nietzsche, o Cristianismo teria dado veneno a beber ao eros, que, embora não tivesse morrido, daí teria recebido o impulso para degenerar em vício. [1] Este filósofo alemão exprimia assim uma sensação muito generalizada: com os seus mandamentos e proibições, a Igreja não nos torna porventura amarga a coisa mais bela da vida? Porventura não assinala ela proibições precisamente onde a alegria, preparada para nós pelo Criador, nos oferece uma felicidade que nos faz pressentir algo do Divino?

Mas, será mesmo assim? O Cristianismo destruiu verdadeiramente o eros? Vejamos o mundo pré-cristão. Os gregos — aliás de forma análoga a outras culturas — viram no eros sobretudo o inebriamento, a subjugação da razão por parte duma « loucura divina » que arranca o homem das limitações da sua existência e, neste estado de transtorno por uma força divina, faz-lhe experimentar a mais alta beatitude. Deste modo, todas as outras forças, quer no céu quer na terra, resultam de importância secundária: « Omnia vincit amor — o amor tudo vence », afirma Virgílio nas Bucólicas e acrescenta: « et nos cedamus amori — rendamo-nos também nós ao amor ». [2] Nas religiões, esta posição traduziu-se nos cultos da fertilidade, aos quais pertence a prostituição « sagrada » que prosperava em muitos templos. O eros foi, pois, celebrado como força divina, como comunhão com o Divino.

A esta forma de religião, que contrasta como uma fortíssima tentação com a fé no único Deus, o Antigo Testamento opôs-se com a maior firmeza, combatendo-a como perversão da religiosidade. Ao fazê-lo, porém, não rejeitou de modo algum o eros enquanto tal, mas declarou guerra à sua subversão devastadora, porque a falsa divinização do eros, como aí se verifica, priva-o da sua dignidade, desumaniza-o. De fato, no templo, as prostitutas, que devem dar o inebriamento do Divino, não são tratadas como seres humanos e pessoas, mas servem apenas como instrumentos para suscitar a « loucura divina »: na realidade, não são deusas, mas pessoas humanas de quem se abusa. Por isso, o eros inebriante e descontrolado não é subida, « êxtase » até ao Divino, mas queda, degradação do homem. Fica assim claro que o eros necessita de disciplina, de purificação, para dar ao homem, não o prazer de um instante, mas uma certa amostra do vértice da existência, daquela beatitude para que tende todo o nosso ser.

Como deve ser vivido o amor, para que se realize plenamente a sua promessa humana e divina?

Uma primeira indicação importante, podemos encontrá-la no Cântico dos Cânticos, um dos livros do Antigo Testamento bem conhecido dos místicos. Segundo a interpretação hoje predominante, as poesias contidas neste livro são originalmente cânticos de amor, talvez previstos para uma festa israelita de núpcias, na qual deviam exaltar o amor conjugal. Neste contexto, é muito elucidativo o fato de, ao longo do livro, se encontrarem duas palavras distintas para designar o « amor ». Primeiro, aparece a palavra « dodim », um plural que exprime o amor ainda inseguro, numa situação de procura indeterminada. Depois, esta palavra é substituída por « ahabà », que, na versão grega do Antigo Testamento, é traduzida pelo termo de som semelhante « agape », que se tornou o termo característico para a concepção bíblica do amor. Em contraposição ao amor indeterminado e ainda em fase de procura, este vocábulo exprime a experiência do amor que agora se torna verdadeiramente descoberta do outro, superando assim o caráter egoísta que antes claramente prevalecia. Agora o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio, não busca a imersão no inebriamento da felicidade; procura, ao invés, o bem do amado: torna-se renúncia, está disposto ao sacrifício, antes procura-o.

Sua promessa visa o definitivo, o amor visa a eternidade. Sim, o amor é « êxtase »; êxtase, não no sentido de um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus: « Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á » (Lc 17, 33) — disse Jesus; afirmação esta que se encontra nos Evangelhos com diversas variantes (cf. Mt 10, 39; 16, 25; Mc 8, 35; Lc 9, 24; Jo 12, 25). Assim descreve Jesus o seu caminho pessoal, que O conduz, através da cruz, à ressurreição: o caminho do grão de trigo que cai na terra e morre e assim dá muito fruto. Partindo do centro do seu sacrifício pessoal e do amor que aí alcança a sua plenitude, Ele, com tais palavras, descreve também a essência do amor e da existência humana em geral.


Cada vez menos perguntas sobre si próprio; procurará sempre mais a felicidade do outro

Embora o eros seja inicialmente sobretudo ambicioso, ascendente — fascinação pela grande promessa de felicidade — depois, à medida que se aproxima do outro, far-se-á cada vez menos perguntas sobre si próprio, procurará sempre mais a felicidade do outro, preocupar-se-á cada vez mais dele, doar-se-á e desejará « existir para » o outro. Assim se insere nele o momento da agape; caso contrário, o eros decai e perde mesmo a sua própria natureza. Por outro lado, o homem também não pode viver exclusivamente no amor oblativo, descendente. Não pode limitar-se sempre a dar, deve também receber. Quem quer dar amor, deve ele mesmo recebê-lo em dom. Certamente, o homem pode — como nos diz o Senhor — tornar-se uma fonte donde correm rios de água viva (cf. Jo 7, 37-38); mas, para se tornar semelhante fonte, deve ele mesmo beber incessantemente da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo coração trespassado brota o amor de Deus (cf. Jo 19, 34).

No fundo, o « amor » é uma única realidade, embora com distintas dimensões; caso a caso, pode uma ou outra dimensão sobressair mais. Mas, quando as duas dimensões se separam completamente uma da outra, surge uma caricatura ou, de qualquer modo, uma forma redutiva do amor. A fé bíblica não constrói um mundo paralelo ou um mundo contraposto àquele fenômeno humano originário que é o amor, mas aceita o homem por inteiro, intervindo na sua busca de amor para purificá-la, desvendando-lhe ao mesmo tempo novas dimensões.

Fonte: Carta Encíclica Deus Caritas Est, do Papa Bento XVI, sobre o amor cristão (editado)
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Notas:
[1] Cf. Jenseits von Gut und Böse, IV, 168.
[2] X, 69.