SUBTÍTULO: O AMOR NA FAMÍLIA.
O Papa Francisco nos convida uma leitura não de todo o texto de uma vez, mas de uma leitura saboreada parte a parte, mostrando que a Família é uma oportunidade e não um problema. 01-07
Cap. I – tem apoio fundamentos e luzes Bíblicas (À Luz da Palavra) 08-30
Tu e a tua esposa (Gn) 09-13
Os teus filhos como brotos de oliveira (Sl 128/127,3) 14-18
Um rastro de sofrimento e sangue (fraticida …) 19-22
O fruto do teu próprio trabalho (pai é trabalhador… ) 23-26
A ternura do abraço (“intimidade delicada e carinhosa entre a mãe e o seu bebê, um recém-nascido que dorme nos braços de sua mãe depois de ter sido amamentado”) 27-30
Cap. II – conjuntura atual familiar (Realidade e os desafios das famílias) 31-57
A situação atual da família (Caminhos Pastorais; descartável; sistema econômico excludente; problema de ter uma casa e de ter um emprego; idosos [eutanásia e suicídio assistido]; famílias na miserabilidade) 32-49
Alguns desafios (função educativa; ansiedade com futuro, mas não vivem o presente; insegurança profissional, econômico e medo relacional; toxicodependência [álcool, jogos de azar]; violência familiar como agressividade social; 52[variedades situações familiares/uniões de fato, pessoas do mesmo sexo não podem ser equiparadas ao matrimônio]; poligamia prática; desconstrução jurídica familiar; força da família ensinar a amar; violência verbal, física e sexual contra a mulher; mutilação genital; aluguel de ventres; dignidade entre o homem e mulher; ausência do pai marca gravemente a vida familiar, a educação dos filhos e a sua inserção na sociedade; gender = nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher [não esquecer que “sexo biológico (sex) e função sociocultural do sexo (gender), podem-se distinguir, mas não separar”]) 50-57
Cap. III – Recorda elementos essenciais da doutrina da Igreja sobre matrimônio e a família (O Olhar Fixo em Jesus: A Vocação da Família) (“olhou para as mulheres e os homens que encontrou com amor e ternura, acompanhando os seus passos com verdade, paciência e misericórdia, ao anunciar as exigências do Reino de Deus”). 58-88
Jesus recupera e realiza plenamente o projeto divino 61-66
A família nos documentos da Igreja 67-70
O Sacramento do Matrimônio 71-75
Sementes do Verbo e situações imperfeitas 76-79
A transmissão da vida e a educação dos filhos 80-85
A família e a Igreja 86-88
Cap. IV – Esposos identificaram (O Amor no Matrimônio) (amor hoje está bem desfigurado e necessita precisar o real sentido 1Cor 13,2-3). 89-164
O nosso amor cotidiano (1Cor 13,4-7) 90
Paciência (macrothymei qualidade do Deus da Aliança, que convida a imitá-Lo também na vida familiar) 91-92
Atitude de serviço (jrestéuetai única vez que aparece em toda a Bíblia –, que deriva de jrestós (pessoa boa, que mostra a sua bondade nas ações) prestável) 93-94
Curando a inveja (zeloi (ciúme ou inveja). Significa que, no amor, não há lugar para sentir desgosto pelo bem do outro (cf. At 7,9; 17,5). A inveja é uma tristeza pelo bem alheio) 95-96
Sem ser arrogante nem se orgulhar (perpereuetai, que indica vanglória, desejo de se mostrar superior para impressionar os outros com atitude pedante e um pouco agressiva. physioutai – é muito semelhante, indicando que o amor não é arrogante) 97-98
Amabilidade (Amar é também tornar-se amável, e nisto está o sentido do termo asjemonéi. Significa que o amor não age rudemente, não atua de forma inconveniente, não se mostra duro no trato) 99-100
Desprendimento (hino à caridade afirma que o amor “não procura o seu próprio interesse”, ou “não procura o que é seu”. “Não cuide somente do que é seu, mas também do que é dos outros” (Fl 2,4).) 101-102
Sem violência interior (paroxýnetai – que diz respeito a uma reação interior de indignação provocada por algo exterior. Trata-se de uma violência interna, uma irritação recôndita que nos põe à defesa perante os outros, como se fossem inimigos molestos a evitar. Se tivermos de lutar contra um mal, façamo-lo; mas sempre digamos “não” à violência interior.) 103-104
Perdão (logízetai to kakón significa que se “tem em conta o mal”, “trá-lo gravado”, ou seja, está ressentido. Nenhuma família ignora como o egoísmo, o desacordo, as tensões, os conflitos agridem, de forma violenta e às vezes mortal, a comunhão: daqui as múltiplas e variadas formas de divisão da vida familiar. Se aceitamos que o amor de Deus é incondicional, que o carinho do Pai não se deve comprar nem pagar, então poderemos amar sem limites, perdoar aos outros, ainda que tenham sido injustos para conosco.) 105-108
Alegrar-se com os outros (jairei epi te adikía indica algo de negativo arraigado no segredo do coração da pessoa. sygjairei te alétheia – rejubila com a verdade. alegra-se com o bem do outro, quando se reconhece a sua dignidade, quando se apreciam as suas capacidades e as suas boas obras. A família deve ser sempre o lugar em que uma pessoa que conquista algo de bom na vida, sabe que vão com ela se alegrar.) 109-110
Tudo desculpa (“Tudo”. “tudo desculpa – panta stégei”. É diferente de “não ter em conta o mal”, porque este termo tem a ver com o uso da língua; pode significar “guardar silêncio” a propósito do mal que possa haver em outra pessoa. Os esposos, que se amam e se pertencem, falam bem um do outro, procuram mostrar mais o lado bom do cônjuge do que as suas fraquezas e erros. O amor convive com a imperfeição, desculpa-a e sabe guardar silêncio perante os limites do ser amado.) 111-113
Confia (O amor convive com a imperfeição, desculpa-a e sabe guardar silêncio perante os limites do ser amado. O amor confia, deixa em liberdade, renuncia a controlar tudo, a possuir, a dominar. Família, onde reina uma confiança sólida, carinhosa e, aconteça o que acontecer, sempre se volta a confiar, permite o florescimento da verdadeira identidade dos seus membros, fazendo com que se rejeite espontaneamente o engano, a falsidade e a mentira.) 114-115
Espera (Panta elpízei: não desespera do futuro. A pessoa, com todas as suas fraquezas, é chamada à plenitude do Céu. ) 116-117
Tudo suporta (Panta hypoménei significa que suporta, com espírito positivo, todas as contrariedades. É amor que apesar de tudo não desiste, mesmo que todo o contexto convide a outra coisa. Na vida familiar, é preciso cultivar esta força do amor, que permite lutar contra o mal que a ameaça.) 118-119
Crescer na caridade conjugal (“O Espírito, que o Senhor infunde, dá um coração novo e torna o homem e a mulher capazes de se amarem como Cristo nos amou. O amor conjugal atinge assim aquela plenitude para a qual está interiormente ordenado: a caridade conjugal” FC, 13. O matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós.) 120-122
A vida toda, tudo em comum (Depois do amor que nos une a Deus, o amor conjugal é a “amizade maior”. Partilha-se tudo, incluindo a sexualidade, sempre no mútuo respeito.) 123-125
Alegria e beleza (No matrimônio, convém cuidar da alegria do amor. A alegria matrimonial, que pode ser vivenciada mesmo no meio do sofrimento, implica aceitar que o matrimônio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres, sempre no caminho da amizade que impele os esposos a cuidarem um do outro: “prestam-se recíproca ajuda e serviço”. O amor de amizade chama-se “caridade”, quando capta e aprecia o “valor sublime” que tem o outro.) 126-130
Casar-se por amor (Quero dizer aos jovens que nada disto é prejudicado, quando o amor assume a modalidade da instituição matrimonial.) 131-132
Amor que se manifesta e cresce (O amor de amizade unifica todos os aspectos da vida matrimonial e ajuda os membros da família a avançarem em todas as suas fases. Na família, “é necessário usar três palavras: com licença, obrigado, desculpa. Três palavras-chave”. É mais saudável aceitar com realismo os limites, os desafios e as imperfeições, e dar ouvidos ao apelo para crescer juntos, fazer amadurecer o amor e cultivar a solidez da união, aconteça o que acontecer.) 133-135
O diálogo (modalidade privilegiada e indispensável para viver, exprimir e maturar o amor na vida matrimonial e familiar. Reservar tempo, tempo de qualidade, que permita escutar, com paciência e atenção, até que o outro tenha manifestado tudo o que precisava comunicar. Isto requer a ascese de não começar a falar antes do momento apropriado. Desenvolver o hábito de dar real importância ao outro. Ter gestos de solicitude pelo outro e demonstrações de carinho. O amor supera as piores barreiras. É preciso ter algo para se dizer. Quando cada um dos cônjuges não cultiva o próprio espírito e não há uma variedade de relações com outras pessoas, a vida familiar torna-se endogâmica e o diálogo fica empobrecido.) 136-141
Amor apaixonado (Deve haver qualquer motivo para um amor sem prazer nem paixão se revelar insuficiente a simbolizar a união do coração humano com Deus.) 142
O mundo das emoções (Desejos, sentimentos, emoções (os clássicos os chamavam de “paixões”) ocupam um lugar importante no matrimônio. Estas manifestações da sua sensibilidade mostram até que ponto estava aberto aos outros o seu coração humano. Experimentar uma emoção não é, em si mesmo, algo moralmente bom nem mau. Se uma paixão acompanha o ato livre, pode manifestar a profundidade dessa opção. O amor matrimonial leva a procurar que toda a vida emotiva se torne um bem para a família e esteja a serviço da vida em comum.) 143-146
Deus ama a alegria dos seus filhos (caminho pedagógico, um processo que inclui renúncias: é uma convicção da Igreja, que muitas vezes foi rejeitada pelo mundo como se fosse inimiga da felicidade humana. É necessária a educação da emotividade e do instinto e, para isso, às vezes torna-se indispensável impormo-nos algum limite. Deus ama a alegria do ser humano, pois Ele criou tudo “para nosso bom uso” (1Tm 6,17). Deixemos brotar a alegria à vista da sua ternura, quando nos propõe.) 147-149
A dimensão erótica do amor (Tudo isto nos leva a falar da vida sexual dos esposos. O próprio Deus criou a sexualidade, que é um presente maravilhoso para as suas criaturas. Veja-se aqui a Teologia do Corpo de São João Paulo II: “o coração humano torna-se participante, por assim dizer, de outra espontaneidade”.) 150-152
Violência e manipulação (Não podemos ignorar que muitas vezes a sexualidade se despersonaliza e enche de patologias, de modo que “se torna cada vez mais ocasião e instrumento de afirmação do próprio eu e de satisfação egoísta dos próprios desejos e instintos”. Nunca é demais lembrar que, mesmo no matrimônio, a sexualidade pode tornar-se fonte de sofrimento e manipulação. Por isso, devemos reafirmar, claramente, que “um ato conjugal imposto ao próprio cônjuge, sem consideração pelas suas condições e pelos seus desejos legítimos, não é um verdadeiro ato de amor e nega, por isso mesmo, uma exigência de reta ordem moral, nas relações entre os esposos”. importante deixar claro a rejeição de toda a forma de submissão sexual. a rejeição das distorções da sexualidade e do erotismo nunca deveria levar-nos ao seu desprezo nem ao seu descuido. O ideal do matrimônio não pode configurar-se apenas como uma doação generosa e sacrificada, onde cada um renuncia a qualquer necessidade pessoal e se preocupa apenas por fazer o bem ao outro, sem satisfação alguma.) 153-157
Matrimônio e virgindade (A virgindade é uma forma de amor. A virgindade tem o valor simbólico do amor que não necessita possuir o outro, refletindo assim a liberdade do Reino dos Céus. É um convite para os esposos viverem o seu amor conjugal na perspectiva do amor definitivo a Cristo, como um caminho comum rumo à plenitude do Reino. O celibato corre o risco de ser uma cômoda solidão, que dá liberdade para se mover autonomamente, mudar de local, tarefa e opção, dispor do seu próprio dinheiro, conviver com as mais variadas pessoas segundo a atração do momento.) 158-162
A transformação do amor (amor, que nos prometemos, supera toda a emoção, sentimento ou estado de ânimo, embora possa incluí-los. O vínculo encontra novas modalidades e exige a decisão de reatá-lo repetidamente; e não só para conservá-la, mas para fazê-lo crescer. É o caminho de se construir dia após dia, mas nada disto é possível, se não se invoca o Espírito Santo, se não se clama todos os dias pedindo a sua graça.) 163-164
Cap. V – Esposos identificaram (O Amor que se torna fecundo) (O amor sempre dá vida.) 165-198
Acolher uma nova vida (A família é o âmbito não só da geração, mas também do acolhimento da vida que chega como um presente de Deus. As famílias numerosas são uma alegria para a Igreja.) 166-167
O amor na expectativa própria da gravidez (A gravidez é um período difícil, mas também um tempo maravilhoso. A mulher grávida pode participar deste projeto de Deus, sonhando o seu filho. A cada mulher grávida quero pedir afetuosamente: cuida da tua alegria, que nada te tire a alegria interior da maternidade. Tua criança merece a tua alegria…) 168-171
Amor de mãe e de pai (Toda a criança tem direito a receber o amor de uma mãe e de um pai, ambos necessários para o seu amadurecimento íntegro e harmonioso.) 172-177
Fecundidade alargada (mesmo que faltem os filhos, tantas vezes ardentemente desejados, o matrimônio conserva o seu valor e indissolubilidade, como comunidade e comunhão de toda a vida. A adoção é um caminho para realizar a maternidade e a paternidade de uma forma muito generosa, e desejo encorajar os que não podem ter filhos a alargar e abrir o seu amor conjugal para receber quem está privado de um ambiente familiar adequado.) 178-184
Distinguir o Corpo (A Eucaristia exige a integração no único corpo eclesial.) 185-186
A vida na família em sentido amplo (O núcleo familiar restrito não deveria isolar-se da família alargada, onde estão os pais, os tios, os primos e até os vizinhos.) 187
Ser filho (Não faz bem a ninguém perder a consciência de ser filho. Em cada pessoa, “mesmo quando se torna adulta ou idosa, quando passa também a ser progenitora ou desempenha funções de responsabilidade, por baixo de tudo isso permanece a identidade de filho. Todos somos filhos.) 188-190
Os idosos (“Não me rejeites no tempo da velhice, não me abandones quando diminuem minhas forças” (Sl 71/70,9). É o brado do idoso, que teme o esquecimento e o desprezo. Os idosos ajudam a perceber “a continuidade das gerações”, com “o carisma de lançar uma ponte”215 entre elas.) 191-193
Ser irmão (A relação entre os irmãos aprofunda-se com o passar do tempo, e “o laço de fraternidade que se forma na família entre os filhos, quando se verifica em um clima de educação para a abertura aos outros, é uma grande escola de liberdade e de paz. Em família, entre irmãos, aprendemos a convivência humana (…). Talvez nem sempre estejamos conscientes disto, mas é precisamente a família que introduz a fraternidade no mundo.) 194-195
Um coração grande (“o amor entre o homem e a mulher no matrimônio e, de forma derivada e ampla, o amor entre os membros da mesma família – entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs, entre parentes e familiares – é animado e impelido por um dinamismo interior e incessante, que leva a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma da comunidade conjugal e familiar”) 196-198
Cap.VI – Agentes Pastorais (Algumas Perspectivas Pastorais) (As diferentes comunidades é que deverão elaborar propostas mais práticas e eficazes, que tenham em conta tanto a doutrina da Igreja como as necessidades e desafios locais.) 199-285
Anunciar hoje o Evangelho da família (fazer-lhes “experimentar que o Evangelho da família é alegria que ‘enche o coração e a vida inteira’, porque, em Cristo, somos ‘libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento’ (EG, n. 1). “Por isso exige-se a toda a Igreja uma conversão missionária: é preciso não se contentar com um anúncio puramente teórico e desligado dos problemas reais das pessoas”. “A principal contribuição pastoral familiar é oferecida pela paróquia, que é família de famílias, onde se harmonizam as contribuições de pequenas comunidades, movimentos e associações eclesiais” Os seminaristas deveriam ter acesso a uma formação interdisciplinar mais ampla sobre namoro e matrimônio, não se limitando à Doutrina. Além disso, a formação nem sempre lhes permite desenvolver o seu mundo psicoafetivo. “A presença dos leigos e das famílias, em particular a presença feminina, na formação sacerdotal, favorece o apreço pela variedade e complementaridade das diversas vocações na Igreja”) 200-204
Guiar os noivos no caminho de preparação para o matrimônio (é preciso ajudar os jovens a descobrir o valor e a riqueza do matrimônio. “A complexa realidade social e os desafios, que a família é chamada a enfrentar atualmente, exigem um empenhamento maior de toda a comunidade cristã na preparação dos noivos para o matrimônio. Convido as comunidades cristãs a reconhecerem que é um bem para elas mesmas acompanhar o caminho de amor dos noivos. A preparação dos que já formalizaram o noivado, quando a comunidade paroquial consegue acompanhá-los com bom período de antecipação, deve dar-lhes também a possibilidade de individuar incompatibilidades e riscos. Tanto a preparação próxima como o acompanhamento mais prolongado devem procurar que os noivos não considerem o matrimônio como o fim do caminho, mas o assumam como uma vocação que os lança para diante, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos todas as provações e momentos difíceis.) 205-211
A preparação da celebração (A preparação próxima do matrimônio tende a concentrar-se nos convites, na roupa, na festa com os seus inumeráveis detalhes que consomem tanto os recursos econômicos como as energias e a alegria. Na preparação mais imediata, é importante esclarecer os noivos para viverem com grande profundidade a celebração litúrgica, ajudando-os a compreender e viver o significado de cada gesto.) 212-216
Acompanhamento nos primeiros anos da vida matrimonial (Temos de reconhecer como um grande valor que se compreenda que o matrimônio é uma questão de amor: só se podem casar aqueles que se escolhem livremente e se amam. Lembro-me de um refrão que dizia que a água estagnada corrompe-se, estraga-se. O mesmo acontece com a vida do amor nos primeiros anos do matrimônio quando fica estagnada, cessa de mover-se, perde aquela inquietude sadia que a faz avançar. Uma das causas que leva a rupturas matrimoniais é ter expectativas demasiado altas sobre a vida conjugal. Quando se descobre a realidade mais limitada e problemática do que se sonhara, a solução não é pensar imediata e irresponsavelmente na separação, mas assumir o matrimônio como um caminho de amadurecimento, onde cada um dos cônjuges é um instrumento de Deus para fazer crescer o outro.) 217-222
Alguns recursos (Os primeiros anos de matrimônio são um período vital e delicado, durante o qual os cônjuges crescem na consciência dos desafios e do significado do matrimônio. Daí a necessidade de um acompanhamento pastoral que continue depois da celebração do sacramento (cf. FC, parte III). Este caminho é uma questão de tempo. O amor precisa de tempo disponível e gratuito, colocando outras coisas em segundo lugar.) 223-230
Iluminar crises, angústias e dificuldades (Quando o vinho envelhece com esta experiência do caminho, então aparece, floresce em toda a sua plenitude a fidelidade dos momentos insignificantes da vida. É a fidelidade da espera e da paciência. Esta fidelidade, cheia de sacrifícios e alegrias, de certo modo vai florescendo na idade em que tudo fica “sazonado” e os olhos brilham com a contemplação dos filhos de seus filhos.) 231
O desafio das crises (A história de uma família está marcada por crises de todo o gênero, que são parte também da sua dramática beleza. É preciso ajudar a descobrir que uma crise superada não leva a uma relação menos intensa, mas a melhorar, sedimentar e maturar o vinho da união. Não se vive juntos para ser cada vez menos feliz, mas para aprender a ser feliz de maneira nova, a partir das possibilidades que abre uma nova etapa. Perante o desafio de uma crise, a reação imediata é resistir, pôr-se à defesa por sentir que escapa ao próprio controle, por mostrar a insuficiência da própria maneira de viver, e isto incomoda. Há crises comuns que costumam verificar-se em todos os matrimônios, como a crise ao início quando é preciso aprender a conciliar as diferenças e a desligar-se dos pais; ou a crise da chegada do filho, com os seus novos desafios emotivos. A estas crises, vêm juntar-se as crises pessoais com incidência no casal, relacionadas com dificuldades econômicas, laborais, afetivas, sociais, espirituais) 232-238
Velhas feridas (É compreensível que, nas famílias, haja muitas dificuldades, quando um dos seus membros não amadureceu a sua maneira de relacionar-se, porque não curou feridas de alguma etapa da sua vida. Muitos terminam a sua infância sem nunca terem se sentido amados incondicionalmente, e isto compromete a sua capacidade de confiar e entregar-se. Por mais evidente que possa parecer que toda a culpa seja do outro, nunca é possível superar uma crise esperando que apenas o outro mude. É preciso também questionar a si mesmo sobre as coisas que poderia pessoalmente amadurecer ou curar para favorecer a superação do conflito.) 239-240
Acompanhar depois das rupturas e dos divórcios (Em alguns casos, a consideração da própria dignidade e do bem dos filhos exige pôr um limite firme às pretensões excessivas do outro, a uma grande injustiça, à violência ou a uma falta de respeito que se tornou crônica. É preciso reconhecer que “há casos em que a separação é inevitável. “é indispensável um discernimento particular para acompanhar pastoralmente os separados, os divorciados, os abandonados. Tem-se de acolher e valorizar sobretudo a angústia daqueles que sofreram injustamente a separação, o divórcio ou o abandono, ou então foram obrigados, pelos maus-tratos do cônjuge, a romper a convivência. Quanto às pessoas divorciadas que vivem em uma nova união, é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que “não estão excomungadas” nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial. sublinhou a necessidade de tornar mais acessíveis, ágeis e possivelmente gratuitos os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade”.263 A lentidão dos processos irrita e cansa as pessoas. a nossa tarefa pastoral mais importante relativamente às famílias é reforçar o amor e ajudar a curar as feridas, para podermos impedir o avanço deste drama do nosso tempo.) 241-246
Algumas situações complexas (‘procure-se (…) uma colaboração cordial entre o ministro católico e o não católico, desde o momento da preparação para o matrimônio e para as núpcias’ (FC, n. 78). A respeito da partilha eucarística, recorda-se que ‘a decisão de admitir ou não a parte não católica do matrimônio à comunhão eucarística deve ser tomada em conformidade com as normas gerais existentes na matéria, tanto para os cristãos orientais como para os outros cristãos, e tendo presente esta situação particular, ou seja, que recebem o sacramento do matrimônio cristão dois cristãos batizados. Embora os esposos de um matrimônio misto tenham em comum os sacramentos do Batismo e do Matrimônio, a partilha da Eucaristia, não pode deixar de ser extraordinária e, contudo, devem ser observadas as disposições indicadas’ (Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Diretório para a Aplicação dos Princípios e das Normas sobre o Ecumenismo, 25 de março de 1993, 159-160)”.) 247-252
Quando a morte crava o seu aguilhão (a vida familiar vê-se desafiada pela morte de um ente querido. Não podemos deixar de oferecer a luz da fé para acompanhar as famílias que sofrem em tais momentos. Não gastemos energias, detendo-nos anos e anos no passado. Quanto melhor vivermos nesta terra, tanto maior felicidade poderemos partilhar com os nossos entes queridos no céu. Quanto mais conseguirmos amadurecer e crescer, tanto mais poderemos levar-lhes coisas belas para o banquete celeste.) 253-258
Cap. VII – (Reforçar a Educação dos Filhos) (função educativa das famílias é tão importante e se tornou muito complexa) 259-290
Onde estão os filhos? (A família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento, guia, embora tenha de reinventar os seus métodos e encontrar novos recursos. A obsessão, porém, não é educativa; e também não é possível ter o controle de todas as situações em que um filho poderá chegar a encontrar-se. Vale aqui o princípio de que “o tempo é superior ao espaço. Se a maturidade fosse apenas o desenvolvimento de algo já contido no código genético, quase nada poderíamos fazer. Mas não é! A prudência, o reto juízo e a sensatez não dependem de fatores puramente quantitativos de crescimento, mas de toda uma cadeia de elementos que se sintetizam no íntimo da pessoa; mais exatamente, no centro da sua liberdade.) 260-262
A formação ética dos filhos (Os pais necessitam também da escola para assegurar uma instrução de base aos seus filhos, mas a formação moral deles nunca a podem delegar totalmente. A tarefa dos pais inclui uma educação da vontade e um desenvolvimento de hábitos bons e tendências afetivas para o bem. Isto implica que se apresentem como desejáveis os comportamentos a aprender e as tendências a fazer maturar. É necessário maturar hábitos. A liberdade é algo de grandioso, mas podemos perdê-la.) 263-267
O valor da sanção como estímulo (De igual modo, é indispensável sensibilizar a criança e o adolescente para se darem conta de que as más ações têm consequências. É preciso despertar a capacidade de colocar-se no lugar do outro e sentir pesar pelo seu sofrimento originado pelo mal que lhe fez. A correção é um estímulo quando, ao mesmo tempo, se apreciam e reconhecem os esforços e quando o filho descobre que os seus pais conservam viva uma paciente confiança.) 268-270
Realismo paciente (A educação moral implica pedir a uma criança ou a um jovem apenas as coisas que não representem, para eles, um sacrifício desproporcionado, exigir-lhes apenas a dose de esforço que não provoque ressentimento ou ações puramente forçadas.) 271-273
A vida familiar como contexto educativo (A família é a primeira escola dos valores humanos, na qual se aprende o bom uso da liberdade. Há inclinações maturadas na infância, que impregnam o íntimo de uma pessoa e permanecem toda a vida como uma inclinação favorável a um valor ou como uma rejeição espontânea de certos comportamentos) 274-279
Sim à educação sexual (necessidade de “uma educação sexual positiva e prudente” oferecida às crianças e adolescentes “à medida que vão crescendo” e “tendo em conta os progressos da psicologia, pedagogia e didática”.) 280-286
Transmitir a fé (A educação dos filhos deve estar marcada por um percurso de transmissão da fé, que se vê dificultado pelo estilo de vida atual, pelos horários de trabalho, pela complexidade do mundo atual, onde muitos têm um ritmo frenético para poder sobreviver.) 287-290
Cap. VIII – Convite a todos (Acompanhar, Discernir e Integrar a Fragilidade) (toda a ruptura do vínculo matrimonial “é contra a vontade de Deus, está consciente também da fragilidade de muitos dos seus filhos”. Não esqueçamos que, muitas vezes, o trabalho da Igreja é semelhante ao de um hospital de campanha.) 291-312
A gradualidade na pastoral (quando a união atinge uma notável estabilidade através de um vínculo público e se caracteriza por um afeto profundo, responsabilidade para com a prole, capacidade de superar as provas, pode ser vista como uma ocasião a acompanhar na sua evolução para o sacramento do matrimônio. “A escolha do matrimônio civil ou, em diversos casos, da simples convivência, muitas vezes é motivada não por preconceitos nem por resistências no que se refere à união sacramental, mas por situações culturais ou ocasionais.) 293-295
O discernimento das situações chamadas “irregulares” (“Duas lógicas percorrem toda a história da Igreja: marginalizar e reintegrar. (…) O caminho da Igreja, desde o Concílio de Jerusalém em diante, é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração. (…) O caminho da Igreja é o de não condenar eternamente ninguém; derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com coração sincero (…). Porque a caridade verdadeira é sempre imerecida, incondicional e gratuita”.326 Por isso, “é preciso evitar juízos que não levam em consideração a complexidade das diversas situações e é necessário prestar atenção ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição”. Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto de uma misericórdia “imerecida, incondicional e gratuita”. Os divorciados que vivem em uma nova união, por exemplo, podem encontrar-se em situações muito diferentes, que não devem ser catalogadas ou fechadas em afirmações demasiado rígidas, sem deixar espaço para um adequado discernimento pessoal e pastoral.) 296-300
As circunstâncias atenuantes no discernimento pastoral (Para se entender adequadamente por que é possível e necessário um discernimento especial em algumas situações chamadas “irregulares”, há uma questão que sempre se deve levar em consideração, para nunca se pensar que se pretende diminuir as exigências do Evangelho. A Igreja possui uma sólida reflexão sobre os condicionamentos e as circunstâncias atenuantes. Por isso, já não é possível dizer que todos os que estão em uma situação chamada “irregular” vivem em estado de pecado mortal, privados da graça santificante.) 301-303
As normas e o discernimento (É mesquinho deter-se a considerar apenas se o agir de uma pessoa corresponde ou não a uma lei ou norma geral, porque isto não basta para discernir e assegurar uma plena fidelidade a Deus na existência concreta de um ser humano. Peço encarecidamente que nos lembremos sempre de algo que ensina São Tomás de Aquino e aprendamos a assimilá-lo no discernimento pastoral: “Embora nos princípios gerais tenhamos o caráter necessário, todavia à medida que se abordam os casos particulares, aumenta a indeterminação (…).A pastoral concreta dos ministros e das comunidades não pode deixar de incorporar esta realidade.) 304-306
A lógica da misericórdia pastora (Para evitar qualquer interpretação tendenciosa, lembro que, de modo algum, deve a Igreja renunciar a propor o ideal pleno do matrimônio, o projeto de Deus em toda a sua grandeza: “É preciso encorajar os jovens batizados para não hesitarem perante a riqueza que o sacramento do matrimônio oferece aos seus projetos de amor, com a força do apoio que recebem da graça de Cristo e da possibilidade de participar plenamente na vida da Igreja”. Jesus “espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos, a vida complica-se sempre maravilhosamente”. É verdade que, às vezes, “agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa”. ) 307-312
Cap. IX – (Espiritualidade Conjugal e Familiar) (amor com matizes diferentes. Descreve brevissimamente características fundamentais da espiritualidade específica e o desenvolver nas relações da vida familiar) 313-325
Espiritualidade da comunhão sobrenatural (viver na graça é ter e viver na presença de Deus e isso acontece em todos os momentos da vida, daí a comunhão familiar bem vivida é um caminho de santificação) 314-316
Unidos em oração à luz da Páscoa (unificar-se em Cristo a família e rezar, orar em família) 317-318
Espiritualidade do amor exclusivo e libertador (no matrimônio o pertencer a uma única pessoa. A espiritualidade ajuda a “desiludir-se” do outro, despojamento interior) 319-320
Espiritualidade da solicitude, da consolação e do estímulo (Deus chama os casais a gerar e cuidar! A vida em casal é uma participação na obra fecunda de Deus e cada um é para o outro uma permanente provocação do Espírito. Toda a vida da família é um pastoreio misericordioso) 321-325
Oração à Sagrada Família
Jesus, Maria e José, em Vós contemplamos o esplendor do verdadeiro amor, confiantes, a Vós nos consagramos. Sagrada Família de Nazaré, ornai também as nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas igrejas domésticas. Sagrada Família de Nazaré, que nunca mais haja nas famílias episódios de violência, de fechamento e divisão; e quem tiver sido ferido ou escandalizado seja rapidamente consolado e curado. Sagrada Família de Nazaré, fazei que todos nos tornemos conscientes do caráter sagrado e inviolável da família, da sua beleza no projeto de Deus. Jesus, Maria e José, ouvi-nos e acolhei a nossa súplica. Amém!
Observação geral:
Todos os capítulos tem uma breve introdução.
São 08 capítulos divididos em 325 parágrafos.
Capítulos 1 e 2 – são introdutórios, 1º visão bíblica, 2º visão antropológica, sociológica (situacional e desafiante)
Capítulo 3 – visão doutrinal
Capítulos 4 e 5 – questão do amor no matrimônio com características práticas paulinas; o fruto do amor conjugal são os filhos gerados no amor e que dão sentido a vida e acolhem a nova vida que geraram
Capitulo 6 – pistas pastorais vindas de experiências já realizadas
Capítulo 7 – Educação dos filhos
Capítulo 8 – ADIF – prática não só de pastoralidade, mas de vivencialidade, na ótica do discernimento e da misericórdia
Capítulo 9 -trata da espiritualidade conjugal e espiritualidade familiar.
A novidade do texto está na forma como é apresentado, mesmo sendo longo, é atraente e como sugestão papal deve ser lido por blocos e por interesses que facilita a absorção e compreensibilidade do mesmo.
Pode-se pensar em grupos de estudos e/ou reflexão familiar, sobre determinado trecho.
O Capitulo 8 que abreviamos como ADIF é a realidade de todos.
Há uma riqueza profunda sim no documento, mas não esperem que tenham soluções aos problemas, mas sim pistas que levaram os pastores e seus colaboradores a pensarem juntos e acolherem quem está ou se sente apartado do seio da comunhão, não só eucarística, mas vivencial da Igreja. A Igreja acolhe a todos e como na Santa Missa tem um valor infinito e acolhe todas as intenções possíveis e de cada um.
Nenhuma família é perfeita e pronta, mas somos chamados a construir juntos num amadurecimento como um verdadeiro processo que nos leva a capacidade de amar. Tenhamos a família de Nazaré que teve seus percalços e dificuldades, mas que não desistiu de viver os laços da ternura e do amor, do abraço fraterno e reconfortante que nos faz reerguer os olhos e continuar a caminhada. Sublinhemos a frase do Papa “Não percamos a esperança por causa dos nossos limites”
Agradecemos ao Papa Francisco por mais este documento que reflete o momento atual da história e as preocupações da Igreja em propor sempre a beleza do matrimônio e, ao mesmo tempo, indo ao encontro, neste ano Santo da Misericórdia, a tantas outras situações que são consequências do momento atual. Tenho certeza de que a leitura tranquila deste documento será reconfortador para todos. Que produza muitos frutos para todos.
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ.