Na tradicional coletiva de imprensa que concede a bordo do avião nos retornos de suas viagens, o Papa Francisco respondeu durante 45 minutos a perguntas de jornalistas que o acompanhavam na volta do IX Encontro Mundial das Famílias, realizado em Dublin no último fim de semana.

As perguntas abordaram desde a conversa do Papa com a ministra irlandesa para a infância até o trabalho da Igreja com os migrantes, passando pela luta contra os abusos sexuais cometidos por membros do clero.

Quando um jornalista perguntou o que ele diria ao pai de uma pessoa homossexual, o Papa respondeu:

“Sempre houve homossexuais e pessoas com tendências homossexuais, sempre. Os sociólogos dizem, não sei se é verdade, que nos tempos de mudança de época crescem alguns fenômenos sociais e éticos. Um deles seria este, mas essa é a opinião de alguns sociólogos.

A sua pergunta é clara: o que eu diria a um pai que vê que o filho ou filha tem essa tendência. Primeiro eu diria para rezar: reza. Não condenar. Dialogar. Entender, dar espaço ao filho ou à filha para se expressarem. Depois, com quantos anos se manifesta essa inquietação do filho? Isto é importante. Uma coisa é quando se manifesta na infância, porque há muitas coisas que podem ser feitas através da psiquiatria, para ver como estão as coisas. Outra coisa é quando se manifesta depois dos 20 anos ou algo assim…

Eu nunca diria que o silêncio é um remédio. Ignorar o filho ou a filha com tendência homossexual é uma falta de paternidade e maternidade. Você é meu filho, você é minha filha, do jeito que você é. Eu sou seu pai, sua mãe, vamos conversar. Se você, pai ou mãe, não se sentir capaz, peça ajuda, mas sempre através do diálogo, porque esse filho ou essa filha tem direito a uma família. E essa família, quem é? Não tire da família. Este é um desafio sério para a paternidade e a maternidade”.

Por que “psiquiatria”?

A palavra “psiquiatria” gerou polêmica e a frase “através da psiquiatria” chegou a ser retirada da transcrição oficial publicada pelo Vaticano nesta segunda-feira, 27 de agosto.

Como sempre, a polêmica foi intensificada por interpretações forçadas de matriz ideológica além do desejo da mídia de fazer barulho para atrair atenções. Sites chegaram a dizer, tendenciosamente, que o “Papa foi desautorizado pelo Vaticano“.

A vice-diretora da Sala de Imprensa da Santa Sé, Paloma García Ovejero, explicou à agência AFP que a palavra foi retirada da transcrição “para não alterar o pensamento do Papa“:

“Quando o Papa se refere à ‘psiquiatria’, fica claro que ele queria dar um exemplo sobre as diferentes coisas que podem ser feitas”.

Além disso, não é inusual que se use inadvertidamente um termo pelo outro quando se fala de psiquiatria, psicologia e psicanálise. A psiquiatria é um ramo da medicina que aborda transtornos mentais. A psicologia estuda a pessoa como um todo para ajudá-la a entender e superar problemas ou sintomas. E a psicanálise é um método de pesquisa psicológica baseado nas teorias de Sigmund Freud.

É importante considerar as palavras de Francisco levando em conta as suas origens: na Argentina, o desenvolvimento da psicanálise está intimamente ligado à psiquiatria, tanto que Buenos Aires é frequentemente apontada como a “capital” das ideias freudianas.

Durante as entrevistas com Dominique Wolton publicadas em 2017, o pontífice revelou que ele próprio havia passado pela psicanálise aos 42 anos de idade.

Em 2013, pouco depois de eleito, o Papa Francisco tinha feito confusão involuntária com os termos “psiquiatria” e “psicologia”: ele explicou que tinha escolhido morar na Casa Santa Marta em vez do Palácio Apostólico por razões de “personalidade, […] por razões psiquiátricas“. Ele queria dizer “razões psicológicas“.

A Igreja e os questionamentos pessoais sobre sexualidade

A Igreja considera que os fatores psicológicos envolvidos em questionamentos pessoais sobre a própria sexualidade e identidade devem ser cuidadosamente levados em conta, sem imposições ideológicas.

Isto não é novidade para ninguém que seja intelectualmente honesto, nem é algo contestado pela própria psicologia – pelo contrário.

Quem contesta a necessidade de se levarem em conta os fatores psicológicos que permeiam inquietações particulares sobre esses aspectos da personalidade costumam ser os impositores da ideologia de gênero, que, em vários casos, se mostram fechados ao diálogo a ponto de tacharem como “tentativa de cura gay” qualquer abordagem que procure ajudar pessoas a dissiparem dúvidas sobre a sua sexualidade.

Aleteia

O jornalista italiano Eugenio Scalfari, do jornal ‘La Repubblica’, assegurou que, em um recente encontro, o Papa Francisco disse que “não existe um inferno” e que “é uma honra ser chamado de revolucionário”. Mas, o que realmente é verdade nesta publicação? O Vaticano se pronunciou.

Scalfari admitiu há algum tempo que as suas entrevistas são feitas sem um aparelho de gravação, mas “tento entender a pessoa que estou entrevistando”, e depois disso escrevo “suas respostas com minhas próprias palavras”.

Na entrevista publicada em 28 de março, Quarta-feira Santa, Scalfari assegurou que o Papa disse que as pessoas que se arrependem “obtêm o perdão de Deus, mas as pessoas que não se arrependem, e portanto, não podem ser perdoadas, desaparecem”. “Não existe um inferno, existe o desaparecimento das almas pecaminosas”, disse o Santo Padre, segundo o jornalista italiano.

Scalfari intitulou o seu artigo atribuindo ao Papa Francisco a frase: “É uma honra ser chamado de revolucionário”.

Entretanto, a Sala de Imprensa da Santa Sé explicou que a publicação de Scalfari “é o resultado de sua reconstrução” de uma reunião privada com o Papa, que não era uma entrevista, e que não se trata de “palavras textuais”.

Em seu comunicado divulgado 29 de março, a Sala de Imprensa do Vaticano indicou que “o Santo Padre recebeu recentemente, o fundador do jornal italiano ‘La Repubblica’, numa reunião privada por ocasião da Páscoa, mas sem lhe dar nenhuma entrevista”.

“O que é relatado pelo autor no artigo de hoje é o resultado de sua reconstrução, em que as palavras textuais pronunciadas pelo Papa não são citadas”, acrescenta.

“Portanto, nenhuma citação do artigo mencionado deve ser considerada como uma transcrição fiel das palavras do Santo Padre”, disse o Vaticano.

De fato, as supostas declarações citadas por Scalfari se contradizem com repetidas exortações do Papa Francisco a não cair nas mentiras do diabo, e até mesmo explicações do que é o inferno.

Em março de 2015, o Papa Francisco se reuniu com um grupo de fiéis italianos e indicou: “O inferno é querer afastar-se de Deus porque não quero o amor dele”.

Assim “vai ao inferno somente aquele que diz a Deus: ‘Não preciso de você, eu me arranjo sozinho’, assim como fez o diabo que é o único que temos certeza que está no inferno”, disse o Santo Padre na ocasião.

ACI Digital

O Conselho Permanente da CNBB, reunido entre 24 e 26 de outubro, em Brasília aprovou com emendas e correções um texto contendo orientações pastorais dirigidas aos operadores de todas as mídias que no Brasil se apresentam como católicas. O documento foi preparado com a participação de todas as comissões pastorais da Conferência e traz considerações importantes a serem observadas na TV, no Rádio, nos impressos e nas chamadas mídias sociais da Igreja.

Dom Darci José Nicioli, presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação, coordenou todo o processo de composição do documento e foi encarregado pelo Conselho a dar continuidade ao processo que inclui a revisão, publicação, divulgação do documento por meio de ano de estudos e debates com os operadores das mídias.

Ele falou à Assessoria de Imprensa. Confira a entrevista:

Este novo documento da CNBB com orientações para a mídia católica tem que tipo de origem? Por que foi necessário fazer esse texto?

Todos os documentos que emanam da nossa Conferência Episcopal nascem da solicitude dos nós bispos em vista da animação da ação evangelizadora no Brasil. Nenhum desses textos é produzido sem essa mística. Em colegialidade fraterna, procuramos nos debruçar, na medida do possível, sobre todas as realidades que compõem a nossa ação pastoral. O campo da comunicação é importantíssimo! Lançamos o nosso Diretório Nacional para a Comunicação em 2014 e, desde aquele período, temos pensado em traduzi-lo em orientações explicitamente pastorais para ajudar os operadores da mídia católica e de todos os que atuam na mídia e assumem sua catolicidade.

A necessidade de orientação para campos específicos do apostolado é comum à nossa ação evangelizadora. E vivendo em tempos de grandes transformações e expansão midiática, esse ambiente da vida eclesial e social pediu dos nossos bispos uma reflexão mais específica. Foi por isso que, por longos meses, estamos trabalhando nesse texto que foi aprovado pelo Conselho Permanente da CNBB e que, logo, estará nas mãos de todos os irmãos e irmãs que atuam em todas as mídias. Não é um texto pronto e acabado, mas um instrumento de estudo que poderá receber a influência de todos os que, efetivamente, atuam em mídias em nome da Igreja.

Quem são, então, os destinatários desse documento? A CNBB apresenta essas orientações aos diretores, responsáveis ou a todos os comunicadores católicos?

Os bispos decidiram falar aos operadores de todas as mídias que se apresentam como católicos diante da sociedade, tanto os que atuam em veículos da Igreja como aqueles que ocupam espaços próprios ou de terceiros e querem se comunicar a partir da experiência de fé vivida na Igreja Católica. Isso significa que o documento é dirigido a proprietários, diretores, redatores, editores, apresentadores, artistas, repórteres, produtores de conteúdo e qualquer outra pessoa – profissional ou não – que esteja na árdua tarefa de comunicar o evangelho de Cristo em todas as mídias.

Adotamos o termo mídias para respeitar a diversidade dos espaços físicos e digitais que são hoje ocupados pela comunicação. Com isso queremos chegar não apenas aos olhos e ouvidos, mas aos corações de todos aqueles que trabalham nas emissoras de TV e Rádio, ligadas à Igreja de algum modo e também aqueles que participam dos meios laicos e se apresentam neles como católicos. Um dos destinatários pensados pelos bispos – enquanto preparávamos este documento que contou com a colaboração de vários comunicadores e de todas as comissões pastorais da CNBB – é o produtor de conteúdo na internet. Queremos também dialogar com as pessoas que assumem esse novo ambiente em sites, blogs ou redes sociais.

Quais são os principais temas abordados neste documento?

O texto é bem abrangente. Destaco alguns temas importantes: é fundamental o trabalho de todos, especialmente das mídias, em prol da unidade da Igreja; é fundamental que cada mídia consiga expressar a catolicidade; as mídias têm responsabilidades na formação da cidadania, conforme orientação da doutrina social da Igreja; as mídias também são importantes para a catequese litúrgica, uma vez que “fazem escola” nas comunidades locais; a ética dos agentes que interagem nas mídias, particularmente na questão comercial de produtos ligados ou não à religião; cumplicidade na missionariedade da Igreja; compromisso com a Palavra, a Tradição e o Magistério, pois é isso que define a catolicidade de uma Midia que se diz a serviço da Igreja.

Conforme o senhor disse, o texto ainda deve fazer um percurso antes de chegar à sua redação final. Por que desse método e como ele será aplicado?

A CNBB sempre agiu desse modo com todos os seus documentos oficiais. Há sempre um período para que as comunidades, os pastores, os padres, os religiosos, os leigos possam colaborar na formulação de caminhos para uma pastoral orgânica, uma ação evangelizadora participativa e que seja eficaz no anúncio do Evangelho de Cristo. Com esse documento não é diferente. O Conselho Permanente aprovou um texto que será publicado na série verde dos “Estudos CNBB” e este trabalho, em seguida, fará ainda um trajeto peregrinando entre os comunicadores da Igreja do Brasil, suscitando reflexão e engajamento.

O Conselho Permanente encarregou a Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação de animar esse processo. Logo que o texto estiver finalizado – com as últimas correções pedidas – e publicado pela CNBB, apresentaremos aos comunicadores de todas as mídias um cronograma de trabalho. É desejável que na Assembleia Geral de 2019, depois do amplo trabalho de debates, correções, emendas e sugestões, apresentemos a proposta de um texto final, para a aprovação dos bispos.

Nesse tempo de estudos, quais serão as prioridades da Comissão para a Comunicação da CNBB?

A primeira providência será de criar condições para que todos os comunicadores que atuam nas mídias no Brasil tenham acesso e possam conhecer a integralidade das orientações pastorais propostas pela CNBB. Acreditamos que isso não pode ser apenas confiado à adesão espontânea que, apesar de necessária, pode durar muito tempo. Vamos propor datas e encontros para a leitura desse texto, considerando a especificidade das mídias.

Uma segunda prioridade será aquela de fazer que essas orientações não sejam apenas conhecidas, mas experimentadas na prática de cada uma das mídias. Precisamos evitar promover debates da letra pela letra e trazer o elemento da prática para aprofundar o que o texto propõe. Nesse sentido, precisamos levar as orientações para as redações das TVs, dos Jornais, das revistas, dos produtores de conteúdo na internet, etc.

Ainda uma ação importante, entre outras que poderemos realizar no decorrer do processo, é estabelecer um cronograma para receber contribuições – a partir do conhecimento e da prática das orientações – para que sejam inseridas no texto a ser apresentado em 2019.

O senhor não acha que muita coisa para pouco tempo?

Acho sim! Mas, comunicadores católicos são arrojados e corajosos. Ninguém brinca em serviço! São criativos e céleres! Eles têm uma capacidade de produção que a maioria de nós desconhece completamente. Quando a gente vê um programa bonito, uma reportagem bacana, uma campanha legal nas mídias, às vezes, não nos damos conta que foi um grupo enorme de pessoas que trabalhou com talento, dedicação e carinho e trouxeram aquilo para o público, a tempo e a hora. Basta um bom planejamento e a adesão dos comunicadores. Nós conseguiremos!

A Igreja no Brasil merece o nosso esforço! O compromissa da fé em Jesus Cristo, nosso Redentor, pede nossa adesão para que tenhamos todas as áreas da evangelização bem refletidas nos trabalhos que são realizados no ambiente midiático. Este documento não é da Comissão de Comunicação, é um documento da CNBB e considerou a participação de todas as grandes linhas do nosso trabalho pastoral no Brasil.

(CNBB)

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O jesuíta estadunidense Padre James Martin, da revista América, e Michael Warsaw, presidente do conselho e diretor da EWTN Global Catholic Network, foram nomeados pelo Papa Francisco para ajudar a assessorar a Secretaria de Comunicação do Vaticano.

O Vaticano divulgou as novas nomeações em 12 de abril.

Francisco nomeou seis padres, seis leigos e uma leiga para serem os novos consultores ou conselheiros da equipe de comunicação, liderada pelo Monsenhor Dario Vigano, que coordena as diversas operações de comunicação e mídia do Vaticano. Eles formam um grupo consultivo separado dos membros da secretaria – um grupo de 16 cardeais, bispos e leigos nomeados pelo Papa no ano passado.

Entre os novos consultores estão:

– Padre Martin, editor-geral da revista jesuíta América. Editor prolífico, ele também é graduado em Administração e trabalhou com finanças corporativas antes de entrar na Companhia de Jesus. Ele frequentemente colabora com alguns dos principais meios de comunicação nos Estados Unidos e é membro de uma companhia de teatro Off-Broadway em Nova York.

– Warsaw entrou na EWTN em 1991 e ocupou posições de alto nível na produção televisiva, em operações de satélites e serviços técnicos. A rede, que inclui rádio, publicações impressas e o National Catholic Register, atinge mais de 140 países no mundo.

– Ann Carter, co-fundadora da Rasky Baerlein Strategic Communications de Boston, agora lidera a ACcommunication Partners, dando consultoria sobre desafios administrativos e questões de comunicação. Ela foi CEO da Rasky Baerlein quando a empresa abandonou seu papel de relações públicas externas da arquidiocese de Boston, período em que surgiu a crise de abusos sexuais na igreja. A empresa retomou seu trabalho depois que o chefe da arquidiocese, o cardeal Bernard Law, renunciou.

– Michael Unland, diretor executivo do Conselho Católico de Meios de Comunicação (CAMECO), que auxilia os meios de comunicação do mundo todo e busca contribuir com a presença da igreja na mídia, bem como destacar a importância da mídia dentro da igreja.

– Graham Ellis, vice-diretor da BBC Radio e presidente da comissão Euroradio com a União Europeia de Radiodifusão.

Dino Cataldo Dell’Accio, especialista em tecnologia da informação e da comunicação e segurança e principal auditor de TICs da sede das Nações Unidas, em Nova York.

Catholic News Service.

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A mídia vive, em grande parte, da desgraça alheia em todos os níveis e a sua máxima expressão parece ser, com frequência, os programas que servem como indicadores da pobreza cultural de uma sociedade.

Esses programas procuram na exploração emocional e dos instintos um poder de atração que se sustenta num princípio tão simples quanto eficaz: com sensacionalismo e baixo nível intelectual, a audiência é garantida porque, habituado, o grande público tende a não pensar nem questionar, especialmente quando não conta com opções diversificadas. E o hábito é uma força poderosa que a mídia procura consolidar: com espectadores acostumados ao lixo, ela pode gerar conteúdo abundante com o mínimo esforço e custo. É daí que vem a sua rentabilidade.

Acontece que, assim como o ouvido humano se “adapta” ao barulho, mas vai perdendo com isto a capacidade auditiva, assim também a alma humana vai perdendo a sensibilidade ao contato permanente com a banalização da tragédia e da miséria humana.

Há 4 grandes fórmulas de “sucesso” que constituem armadilhas para fisgar o telespectador. Saiba reconhecê-las:

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Primeira armadilha: Explorar a miséria humana como se fosse “notícia”

Para muitos repórteres e apresentadores, tentar crescer na carreira é desculpa suficiente para insistir em matérias que atropelam a dignidade de qualquer pessoa. Eles se digladiam para ser os primeiros a explorar o divórcio de uma celebridade, a divulgar aos quatro ventos a intimidade do famoso esportista e sua namorada, o vício de Fulano, o artista que “saiu do armário”… Tudo o que é relacionado com escândalo pode dar dinheiro.

Para maior impacto, não falta quem adicione comentários maldosos que recorrem ao dissimulo, à dubiedade, à ironia e, descaradamente, à mentira pura e simples. Com astúcia, brincam com a sensibilidade do grande público alterando a sua percepção dos fatos: tanto são capazes de vender a imagem “boa e inocente” de um sequestrador quanto de destruir a imagem de algum funcionário público que esteja perturbando interesses partidaristas.

O chamado “quarto poder” é capaz de impor os seus critérios sobre o que seria “relevante”, sem se importar se isso leva ou não à dissolução das virtudes sociais e, por consequência, da própria sociedade. Um triste exemplo é o dos países com alto índice de fracasso escolar e baixo índice de leitura, nos quais a superficialidade das relações pessoais e a obsessão pelo sexo são muito mais rentáveis do que a educação das novas gerações.

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Segunda armadilha: Divulgar a intimidade das pessoas como se fosse de interesse público

Com escárnio, empurra-se o dedo nas feridas da humilhação, da tragédia, do fracasso e do ressentimento das pessoas, exibindo-se a sua intimidade sem nenhum limite – pois qualquer limite reduziria o “espetáculo”. São programas cujo formato, no cúmulo do cinismo, tenta se mostrar como um “favor”, uma “ajuda” e um importante “valor” para o conjunto da sociedade.

São programas crus em que a violência verbal ilustra as infidelidades, a violência física, o abandono e tantas outras chagas de famílias machucadas, cujos membros são convidados a participar como se a sua humilhação pública os ajudasse a solucionar alguma coisa. No meio deste cenário, não faltam as armações: há gente que se presta a virar objeto de espetáculo em troca de dinheiro ou da mera oportunidade de aparecer na tela e conseguir minutos de “fama”.

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Terceira armadilha: Transformar o horror em algo comum a fim de promover o fascínio pelo mal

A violência extrema é proposta sem reflexão e com grandes doses de frivolidade em abundantes séries e filmes com péssimos argumentos, diálogos indigentes e abundância de palavrões. O mesmo acontece até em desenhos animados de “vingadores sociais” e guerras absurdas. Franco-atiradores cuja vida pessoal é um desastre, por exemplo, são mostrados como heróis a serviço da nação, assassinando à distância com aptidões inatas apoiadas em tecnologia de alta precisão. Em cenas como esta, a morte é exposta com mil detalhes de nitidez, sob o sangue que salpica tudo enquanto um ser humano voa aos pedaços em câmara lenta.

Há séries em que os bons e os maus se confundem a ponto de mal se notar diferença entre um gângster, um policial ou um detetive que está sofrendo muito por causa da desintegração da sua família. Não faltaram assassinos da vida real que se inspiraram nesse fascínio pela violência e numa visão “romântica” do crime para destruir a vida de inocentes.

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Quarta armadilha: Inserir pornografia em todos os contextos possíveis

Roupa sumária, sexo explícito, estupros, nudez repentina, diálogos forçadamente “eróticos”… Tudo isto parece obrigatório em qualquer roteiro, seja dramático ou supostamente “cômico” – inclusive em filmes “de família”.

O “normal” e “moderno” é o sexo trivializado, apresentado como “maturidade artística” de produtores, diretores e atores que bem sabem quais são os ingredientes da “fórmula da audiência”.

Existem produtos de cinema e televisão de grande qualidade em roteiro, direção, interpretação e ambientação histórica; outros refletem adequadamente a nossa vida do ponto de vista médico, policial, judicial, mas apresentam ambiguidades morais que confundem conhecimentos e habilidades com a própria dignidade humana de personagens cuja vida pessoal e familiar está em frangalhos.

Como não podemos simplesmente fingir que esses programas não existem, podemos aproveitá-los como oportunidades para esclarecer, responder a perguntas, fazer pensar e ajudar a discernir e tirar conclusões com critérios imparciais. Não adianta simplesmente restringir: “não assistam”, “não escutem”, “não toquem”. É preciso ensinar a usar a liberdade e entender que, para reconhecer o mal, não é necessário experimentá-lo.

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Adaptado de original em espanhol escrito por Orfa Astorga de Lira, mestre em Matrimônio e Família pela Universidade de Navarra, Espanha.

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Um líder religioso entre as cinco pessoas mais poderosas do mundo. O Papa Francisco foi assim reconhecido de acordo com a revista “Forbes” em 2016. Dessa forma, torna-se o primeiro dos três latino-americanos da lista.

A revista destaca que ele é o “líder espiritual” de quase um sexto da população mundial (1 bilhão e 300 milhões de pessoas) e está “comprometido em uma missão pessoal de transformar a imagem da Igreja Católica”.

O pontífice caiu uma posição, sendo que em 2014 e 2015 manteve-se em quarto lugar.

Este ano, o presidente russo, Vladimir Putin, de 64 anos, foi a pessoa mais poderosa do mundo, enquanto que em segundo lugar está Donald Trump (70), embora ainda não seja presidente dos Estados Unidos.

É a quarta vez que Putin lidera a lista, enquanto que Trump sobe 70 lugares, empurrando a chanceler alemã, Angela Merkel (62), para o terceiro lugar. O atual presidente dos EUA, Barack Obama (55), caiu do terceiro lugar no ano passado para o 48º.

O Papa Francisco (79) está em quinto lugar, logo depois do presidente chinês, Xi Jinping (63).

Da Rússia até a Síria, passando pelas eleições presidenciais dos EUA, “Putin consegue tudo o que quer”, disse a revista, justificando sua colocação em primeiro lugar. Merkel, por sua vez, é descrita como “o último bastião do poder liberal ocidental”.

Completando os dez primeiros lugares, constam também a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen (70); o fundador da Microsoft, Bill Gates (61); o co-fundador do Google, Larry Page (43); o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi (66); e o criador do Facebook, Mark Zuckerberg (32), de longe, o mais novo do “top ten”.

O empresário mexicano de telecomunicações Carlos Slim Helu (76) está no 17º lugar, enquanto o presidente do México, Enrique Peña Nieto (50), classifica-se na 54ª posição. O também presidente turco, Recep Tayyip Erdogan (62), está de volta à lista após cinco anos, figurando na posição 56.

Religión Digital

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Publicamos em seguida a Entrevista de Francisco deu ao semanário católico belga “TERTIO”, por ocasião da conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia:

 

No nosso país estamos vivendo um período em que a política nacional quer separar a religião da vida pública, por exemplo, no currículo escolar. É a opinião de que, em tempos de secularização, a religião tem de ser reservada para a vida privada. Como podemos ser ao mesmo tempo Igreja missionária, em saída para a sociedade, e viver a tensão criada por esta  opinião pública?

PAPA – Bem, eu não quero ofender ninguém, mas esta posição é uma postura antiquada. Este é o legado que nos deixou a Ilustração – não é verdade? – onde todo o fato religioso é uma subcultura. É a diferença entre laicismo e laicidade. Falei disto com os franceses. O Vaticano II falou-nos da autonomia das coisas ou dos processos ou das instituições. Há uma laicidade saudável, por exemplo, a laicidade do Estado. Em geral, o Estado laico é bom. É melhor do que um Estado confessional, porque os Estados confessionais acabam mal.

Mas uma coisa é laicidade e outra coisa é laicismo. E o laicismo fecha as portas à transcendência: à dupla transcendência, tanto à transcendência para com os outros como, sobretudo, à transcendência para com Deus. Ou para o que está Mais Além. E a abertura à transcendência faz parte da essência humana. É parte do homem. Não estou falando de religião, estou falando de abertura à transcendência.

Então, uma cultura ou um sistema político que não respeite a abertura à transcendência da pessoa humana, poda, corta a pessoa humana. Ou seja, não respeita a pessoa humana. Isto é mais ou menos o que eu penso. Então, mandar para a sacristia qualquer ato de transcendência é uma assepsia. Ela não condiz com a natureza humana, corta-se à natureza humana boa parte da vida, que é a abertura.

O senhor preocupa-se com a relação inter-religiosa. No nosso tempo convivemos com o terrorismo, com a guerra. Às vezes comenta-se que a raiz das guerras atuais está na diferença entre religiões. O que dizer sobre isto?

PAPA  – Eu acho que, sim, o comentário existe. Mas nenhuma religião como tal pode fomentar a guerra. Porque está nesse caso proclamando um deus de destruição, um deus de ódio. Você não pode fazer a guerra em nome de Deus ou em nome de uma postura religiosa. Não se pode fazer a guerra. Em nenhuma religião. E, portanto, o terrorismo, a guerra, não estão relacionados com a religião. Usam-se deformações religiosas para justificá-la. Isso sim.

Vocês são testemunhas disso, viveram-no na vossa pátria. Mas são deformações religiosas que não constituem a essência do fato religioso. Que é ao contrário amor, unidade, respeito, diálogo, todas essas coisas, mas não nesse aspecto. Ou seja, nisto há que ser taxativos. Em outras palavras, nenhuma religião proclama a guerra pelo fato religioso. Deformações religiosas, sim. Por exemplo, todas as religiões têm grupos fundamentalistas. Todas. Nós também. E daí, elas destroem, a partir do seu fundamentalismo.

Mas esses grupelhos religiosos que deformaram, que “adoeceram” a própria religião, e daí lutam, ou fazem a guerra, ou criam a divisão na comunidade, que é uma forma de guerra. Mas esses são os grupos fundamentalistas que temos em todas as religiões. Há sempre um pequeno grupo…

Outra pergunta de guerra. Comemoramos os 100 anos da primeira Guerra Mundial. O que o senhor diria ao continente europeu do lema pós-guerra “Nunca mais a guerra”?

PAPA  – À Europa falei três vezes: duas em Estrasburgo e uma no ano passado ou neste ano, – não recordo – quando do prêmio Carlos Magno [06 de maio de 2016]. Acho que esse “Nunca mais a guerra” não foi levado a sério, porque depois da primeira veio a segunda, e depois da segunda há esta terceira que estamos vivendo agora, aos pedaços. Estamos em guerra. O mundo está fazendo a terceira guerra mundial: Ucrânia, Oriente Médio, África, Iêmen…

É muito sério. Então, “nunca mais a guerra” da boca para fora, mas ao mesmo tempo fabricamos armas e as vendemos, e as vendemos aos próprios beligerantes. Porque um mesmo fabricante de armas as vende para este e para aquele que estão em guerra um com o outro. É verdade. Há uma teoria econômica que eu nunca tentei verificar, mas eu a li em vários livros: que na história da humanidade, quando um Estado percebia que os seus balanços não fechavam, fazia uma guerra e reequilibrava os seus balanços. Quer dizer, é uma das maneiras de enriquecer mais facilmente. Claro, o preço é muito caro: sangue.

Esse “Nunca mais a guerra” acho que é algo que a Europa disse sinceramente, disse honestamente. Schumann, De Gasperi, Adenauer … disseram-no sinceramente. Mas depois… Hoje em dia há falta de líderes; a Europa precisa de líderes, líderes que sigam adiante… Bem, não vou repetir o que disse nos três discursos.

Existe alguma possibilidade de que o senhor venha à Bélgica para esta comemoração?

PAPA – Não, não está previsto, não. Não está previsto. À Bélgica eu ia a cada ano e meio, quando era provincial, porque lá havia uma associação de Amigos da Universidade Católica de Córdoba. Eu era chanceler [reitor]… Então eu ia lá falar com eles. Eles faziam os seus exercícios [espirituais]. Eu ia para agradecer-lhes. E tomei carinho pela Bélgica. Para mim a mais bela cidade da Bélgica não é a sua, mas Bruges … [ri]

[Entrevistador: Devo dizer-lhe que o meu irmão é jesuíta.

Papa: Ah, é? Não sabia!

Entrevistador: Por isso, apesar de ser jesuíta, é gente boa.

Papa: Eu ia perguntar se ele era católico… (ri e riem)]

Estamos terminando o Ano da Misericórdia. Pode dizer como viveu o ano e o que espera quando o ano tiver terminado?

PAPA  – O Ano da Misericórdia não foi uma ideia que me ocorreu a mim de repente. Vem desde o Beato Paulo VI. Paulo VI tinha feito alguns passos para redescobrir a misericórdia de Deus. Depois, São João Paulo II fundamentou muito isto com três fatos: a encíclica Dives in Misericordia, a canonização de Santa Faustina; e a Festa da Divina Misericórdia na Oitava de Páscoa; e ele morreu na véspera desta festa.

E já aí como que encaminhou a igreja nesse rumo. E eu senti que o Senhor queria isto. Foi, foi… Não sei como se formou a ideia no meu coração até que um belo dia eu disse a Monsenhor Fisichella, que tinha vindo por assuntos do seu dicastério. Eu disse-lhe: “Como eu gostaria de fazer um Jubileu, um Ano Jubilar da Misericórdia”. E ele disse-me: “E por que não?”.

E assim começou o Ano da Misericórdia. É a melhor garantia de que não foi uma ocorrência humana, mas que vem de cima. Creio que o Senhor a inspirou. E evidentemente fez-se muito bem. Por outro lado, o fato de que o Jubileu não era só em Roma, mas em todo o mundo, em todas as dioceses, e dentro de cada diocese, como que mobilizou, movimentou, e as pessoas se mobilizaram muito. Mobilizaram-se muito e sentiram-se chamadas reconciliar-se com Deus, a reencontrar o Senhor, a sentir a carícia do Pai.

O teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer fez a distinção entre a graça barata e a preciosa. O que significa para o senhor a misericórdia barata ou preciosa?

PAPA – A misericórdia é preciosa e barata. Eu não conheço como é o texto de Bonhoeffer, não sei como explica isto. Mas… É barata, porque não se tem que pagar nada: não é preciso comprar indulgências, é puro presente, puro dom; e é preciosa porque é o dom mais precioso. Há um livro, escrito com base numa entrevista que fizeram comigo, cujo título é “O nome de Deus é Misericórdia” e é preciosa porque é o nome de Deus: Deus é misericórdia.

Faz-me lembrar um padre que eu tinha em Buenos Aires, – que ainda celebra missa e trabalha, e tem 92 anos! –  e no início da missa sempre dá alguns avisos. É muito enérgico. Com 92 anos, prega muito bem, as pessoas vão ouvi-lo.

– “Por favor, desliguem os telefones”… e durante a missa, quando começava o ofertório, … [toca] um telefone. Ele parou e disse:

– “Por favor, desliguem o telefone.” E o coroinha que estava ao lado, disse:

– “Padre, é o seu”. E então ele tirou o telefone do bolso e disse:

– “Alô”. (Riem)

Parece-nos que o senhor está indicando o Vaticano nos tempos de hoje. Vai-nos indicando caminhos de renovação na Igreja. A Igreja sinodal… No sínodo, o senhor  explicou a sua visão do futuro. Poderia explicá-lo para os nossos leitores?

PAPA – A “Igreja sinodal”. Tomo esta palavra. A Igreja nasce das comunidades, nasce da base, da comunidade, nasce do batismo, e organiza-se em torno de um bispo que a convoca, lhe dá força. O bispo que é o sucessor dos apóstolos. Esta é a Igreja. Mas em todo o mundo há muitos bispos, muitas igrejas organizadas, e há Pedro.

Então, ou existe uma Igreja piramidal, onde Pedro diz e o que ele diz se faz, ou há uma Igreja sinodal, onde Pedro é Pedro, mas acompanha a Igreja e a faz crescer, a escuta; mais ainda, ele aprende com isso, e vai como que harmonizando, discernindo o que vem das igrejas, e devolve-o. A experiência mais rica disto foram os dois últimos sínodos. Ali todos os bispos do mundo foram ouvidos, com a preparação; todas as igrejas do mundo: as dioceses, trabalharam.

Todo este material veio.  Depois voltou. E voltou uma segunda vez para o segundo sínodo para completar isto. De aí saiu Amoris Laetitia. É surpreendente a riqueza da diferença de matizes. É próprio da Igreja. É a unidade na diversidade. Isso é sinodalidade. Não descer de cima para baixo, mas ouvir as igrejas, harmonizá-las, discernir. Então, há uma exortação pós-sinodal, que é Amoris Laetitia, que é o resultado de dois sínodos, onde toda a Igreja trabalhou, e que o Papa fez sua. Expressa-o de uma forma harmoniosa.

É curioso: tudo o que está lá [na Amoris Laetitia] foi aprovado no sínodo por mais de dois terços dos padres. O que é uma garantia. Uma igreja sinodal significa que este movimento se dá de cima para baixo, de baixo para cima. Mesmo nas dioceses. Mas há uma fórmula latina que diz que as igrejas estão sempre cum Petro e sub Petro (com Pedro e sob Pedro). Pedro é o garante da unidade da Igreja, o garante. Então… esse é o ponto. E temos de fazer progressos na sinodalidade. Que é uma das coisas que os ortodoxos conservaram. E as igrejas católicas orientais também. É uma riqueza deles. Eu reconheço isso na encíclica.

A mim parecia-me que a passagem que fez o segundo sínodo [foi] do método de “ver, julgar e agir” para “ouvir, compreender e acompanhar”. É muito diferente. São as coisas que eu digo às pessoas constantemente. A passagem que dá o Sínodo é de “ver, julgar e agir”, para ouvir a realidade do povo, compreendê-la bem e, depois acompanhar as pessoas em seu caminho.

PAPA – Porque cada um disse o que pensava, sem medo de sentir-se julgado. E todos estavam em atitude de escutar, sem condenar. Depois discutia-se como irmãos nos grupos. Mas uma coisa é como irmãos e outra é condenar a priori. Lá houve uma liberdade de expressão muito grande. E isso é bonito.

Em Cracóvia o senhor ofereceu aos jovens estímulos preciosos. Qual seria uma mensagem particular para os jovens do nosso país?

PAPA –

  • Que não tenham medo,
  • que não tenham vergonha da fé,
  • que não tenham vergonha de buscar caminhos novos.

Há jovens que não são crentes: Não te preocupes, busca o sentido da vida. A um jovem eu daria dois conselhos: “buscar horizontes” e “não se aposentar aos 20 anos”. É muito triste ver um jovem aposentado aos 20-25 anos. Busca horizontes, segue em frente e continua trabalhando nesta tarefa humana.

 Uma última pergunta, Santo Padre, uma opinião sobre os meios de comunicação.

PAPA  – Os meios de comunicação têm uma responsabilidade muito grande. Hoje em dia, está em suas mãos a possibilidade e a capacidade de formar opinião. Podem formar uma boa ou má opinião. Os meios de comunicação são construtores de uma sociedade. Por si mesmos, eles são para construir. Para intercambiar. Para confraternizar, para fazer pensar, para educar.

Em si mesmos, eles são positivos. Claro que, como todos somos pecadores, a mídia também pode cair – nós que fazemos mídia, eu estou aqui usando um meio de comunicação – pode fazer mal. E os meios de comunicação têm suas tentações. Podem ser tentados à calúnia (então, usados para caluniar e enxovalhar as pessoas), especialmente no mundo da política; podem ser usado para difamação (todos têm direito à boa fama, mas talvez em sua vida anterior, ou em sua vida passada, ou dez anos atrás, teve um problema com a justiça, ou um problema na sua vida familiar … então, trazer isso à luz agora é grave, causa dano, anula-se uma pessoa).

Na calúnia diz-se uma mentira sobre uma pessoa. Na difamação solta-se uma ‘carpeta’ [notícia comprometedora],   – como dizemos na Argentina, faz-se um ‘carpetazo’ – e te assacam algo que é verdade mas que já passou. E que talvez já foi pago com a prisão ou com multa, ou qualquer outra coisa. Não se tem direito de fazer isso. Isso é pecado e faz mal. E uma coisa que pode fazer muito dano nos meios de comunicação é desinformação. Ou seja, diante de qualquer situação dizer uma parte da verdade e não a outra. Não! Isso é desinformar.

Porque você dá ao telespectador a metade da verdade. E ele, portanto, não pode fazer um julgamento sério sobre a verdade completa. A desinformação é provavelmente o maior dano que pode fazer um meio de comunicação. Porque orienta a opinião numa direção, escondendo a outra parte da verdade. E depois, eu acho que a mídia tem que ser muito limpa, muito limpa e muito transparente. E não cair – sem ofender, por favor – na doença da coprofilia: que é procurar comunicar sempre o escândalo, as coisas feias, mesmo que sejam verdadeiras. E como as pessoas têm a tendência a coprofagia, pode-se causar muito mal. Então, eu diria que há essas quatro tentações. Mas eles são construtores de opinião e podem edificar e fazer um bem enorme, imenso.

Terminando, só uma palavra para os sacerdotes. Não um discurso, porque estão dizendo que tenho de terminar… O que é o mais importante para um sacerdote?

PAPA  – É uma resposta um pouco salesiana. Sai do meu coração: “Lembra-te que tens uma mãe que te quer. Não deixes de amar a tua mãe, a Virgem”.

Em segundo lugar, deixa Jesus olhar para ti.

Terceiro: busca a carne sofredora de Jesus nos irmãos. Neles vais te encontrar com Jesus. É como uma base. Daí sai tudo. Se és um padre órfão, que esqueceste que tens mãe; se és um padre que se afastou de quem te chamou, que é Jesus,  nunca vais poder levar o Evangelho.

Qual é o caminho? A ternura. Tenham ternura. Não tenham vergonha, os padres, de ter ternura. Acariciem o sangue sofredor de Jesus. Hoje faz falta uma revolução da ternura neste mundo que padece da doença da cardio-esclerose.

 A cardio …?

PAPA  – A cardio-esclerose.

[Texto original em espanhol]

http://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2016/12/07/0882/01951.html

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A notícia da canonização de Madre Teresa de Calcutá também ganhou destaque em  jornais de países islâmicos, que dedicaram colunas e até páginas inteiras sobre a elevação aos altares da “Mãe dos Pobres e Destituídos”.

Os jornais The Península Qatar Daily News, do Qatar, Iraq Sun do Iraque, Iran Herald do Irã, Kuwait Times, do Kuwait, Saudi Arabia Gazette, da Arábia Saudita, Khaleej Times, dos Emirados Árabes Unidos, para citar alguns, publicaram a notícia da canonização assim como as palavras do Papa Francisco.Dizem que a Igreja católica recebeu com alegria mais uma santa que já era reconhecida por sua santidade em vida. Quanto à vida da santa, todos são unânimes em ressaltar seu serviço aos pobres.

O Muscat Daily News de Omã, afirmou que Madre Teresa, “com sua dedicação aos pobres, se transformou numa das mulheres mais famosas do planeta”. “Madre Teresa é uma freira que trabalhou durante décadas para os pobres e doentes da Índia”, lê-se no artigo.

O jornal da região dos países do Golfo Pérsico que mais deu destaque ao evento foi o “Gulf News”.

Língua universal

Além de publicar diversas reportagens nos dias anteriores à canonização, na edição do dia 5 de setembro, dedicou duas páginas com textos e fotos sobre Santa Teresa de Calcutá – inclusive com uma chamada de primeira página.

A publicação ressaltou seu sorriso como língua universal e publicou as palavras do Papa: “Madre Teresa gostava de dizer: ‘talvez eu não fale suas línguas, mas eu posso sorrir’”.

O artigo refere-se ainda à proximidade de Madre Teresa com o povo, e cita novamente o Pontífice: “Nós temos algumas dificuldades para chamá-la ‘Santa Teresa’. Sua santidade está tão próxima de nós, tão carinhosa e frutuosa que vamos continuar a chamá-la espontaneamente de Madre”.

O Gulf News também publicou as palavras do Primeiro Ministro da Índia, Narendra Modi: “Madre Teresa dedicou toda sua vida no serviço dos pobres e destituídos. Quando uma pessoa assim é relacionada com santidade, é normal para o povo indiano se sentir orgulhoso”.

O jornal do golfo pérsico publicado em inglês também destacou as palavras de Madre Teresa para identificar o trabalho de sua Congregação:

“Nós não somos trabalhadores sociais, não somos professores, enfermeiros ou doutores; somos irmãs religiosas. Nós servimos a Jesus no pobre. Nossa vida não tem outra razão ou motivação”.

Por fim, o Gulf News também recordou as homenagens que as igrejas católicas de Dubai, Santa Maria e São Francisco, ambas frequentadas por muitos indianos, prestaram à Santa Teresa.

Rádio Vaticano

 Lombardi

“O momento mais difícil e sofrido foi o escândalo da pedofilia.” O padre Federico Lombardi, nascido em Saluzzo (Cuneo), Itália, em 1942, sobrinho do célebre jesuíta Riccardo Lombardi, chamado de “microfone de Deus” nos tempos do Papa Pacelli, formado em matemática na Universidade de Turim, formado em Teologia em Frankfurt, ex-provincial dos jesuítas italianos, ex-diretor da TV e da Rádio Vaticano, depois de uma década deixa a direção da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Com o seu estilo um pouco resignado, minimalista, alheio a qualquer protagonismo, ele foi “voz” dos papas, identificando totalmente na instituição que representou. Sempre pacato, mas também irônico.. Como aquela vez no Líbano, com Bento XVI, em setembro de 2012, em que, a um jornalista local que, erroneamente, definiu-o como “cardeal”, ele respondeu: “Pas encore, J’espère jamais!”, ainda não, e eu espero que nunca. Ou quando, durante o último conclave, respondeu aos que lhe perguntavam o que o papa emérito tinha comido naquele dia:: “Deveríamos perguntar a ele”.

Como é ser porta-voz do papa?

É fundamental estar a serviço, não pensar em se colocar em primeiro plano. É preciso ajudar o conhecimento, a difusão e a correta leitura daquilo que o papa diz e faz. Ser um bom mediador para os comunicadores, disponibilizando-lhes os materiais necessários, ajudando-os a também compreender, por exemplo, as razões de uma decisão.

Francesco precisa de “spin doctors”?

Acho que não, ao menos eu nunca tive essa atitude. O papa não precisa nem de intérpretes. Certamente, o porta-voz deve estar pronto e disponível para dar conselhos, para avaliar expressões ou sugerir propostas. Mas sempre como serviço discreto, respeitoso ao papa, à sua personalidade e às suas escolhas.

Qual foi o momento mais difícil desses 10 anos?

Foi o caso dos abusos de menores, muito doloroso, em que eu me senti envolvido e partícipe ao constatar a presença do pecado e do mal nas nossas vidas e na vida da Igreja. Eu tentei vivê-lo para ajudar a se dar passos de verdade e de transparência, de acordo com a vontade do Papa Ratzinger.

O senhor foi porta-voz de dois papas diferentes, Bento e Francisco. O que o senhor pode dizer sobre o primeiro?

Eu sempre admirei a sua profundidade de pensamento e de visão espiritual da realidade. Também me fascinou a sua trilogia sobre Jesus. Eu tentei acompanhá-lo de acordo com as minhas possibilidades nos momentos difíceis da crise dos abusos e do Vatileaks.

É verdade que a eleição de Francisco o abalou particularmente?

Sim, levei uma hora para me recuperar depois do anúncio! Eu não tinha absolutamente nenhuma ideia de que um papa jesuíta, um coirmão meu, podia ser eleito. Com ele, há sintonia na espiritualidade. Eu sinto a sua atitude como familiar. Há uma grande sintonia com o seu modo de viver a Igreja a caminho, buscando compreender a vontade de Deus e levando o Evangelho ao mundo em solidariedade especialmente com aqueles que sofrem e com aqueles que são pobres.

Diga a verdade: o senhor sua frio durante as coletivas de imprensa no avião?

Não, eu não suo frio. Eu tenho confiança na inteligência dos jornalistas presentes, que sabem captar a mente do papa.

Como foi a sua relação com os jornalistas?

Uma relação com pessoas concretas que têm uma gama de atitudes variadas, desde os mais sensíveis à Igreja aos mais distantes ou indiferentes. Eu tentei estabelecer relações livres, de respeito e de serviço, respeitando sempre a liberdade de cada um, sem manipular ou influenciar.

Há liberdade de imprensa no Vaticano?

Eu diria que sim. Sempre tentei criar as condições para que os jornalistas pudessem fazer bem o seu trabalho, com liberdade, fornecendo-lhes dados e textos, junto com explicações sobre o porquê de certas decisões. Propostas, e nunca impostas.

Como lidar diante das perguntas mais difíceis?

Eu nunca tive dificuldade para reconhecer que, às vezes, eu não podia responder, ou porque não sabia, ou porque a resposta não podia ser dada, ou talvez ainda porque não havia. Eu já disse várias vezes: “Isto eu não sei”. Ou: “Esta é uma informação que eu não tenho para dar”.

Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa

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Antes de obter o consentimento do Papa Francisco para uma entrevista com o La Croix, o nosso enviado especial permanente em Roma, Sébastien Maillard, teve que renovar várias vezes o seu pedido, mas, de acordo com o próprio papa, soube fazer isso de maneira “humilde”.

Antes, houve um acordo de princípio por parte do papa. Depois, em um domingo, um e-mail do padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, marcou o encontro para a segunda-feira, 9 de maio, às 16h30. Uma lista de perguntas tinha sido previamente transmitida ao papa, a seu pedido.

Naquele dia, Sébastien Maillard e Guillaume Goubert, diretor de redação, acompanhados pelo padre Lombardi, dirigiram-se à Casa Santa Marta, onde reside o papa no Vaticano. Esperaram-no em uma sala no piso térreo. O papa chegou sozinho, com alguns minutos de antecedência.

Depois das fotos, a conversa ocorreu em italiano, mas, de vez em quando, o papa introduzia alguma expressão francesa: “Ah, la laïcité française!”, exclamou, arrastando maliciosamente a penúltima sílaba.

A conversa durou pouco mais de uma hora, em um clima descontraído. Concordou-se que o texto tirado da entrevista seria relido pelo papa antes da publicação. O papa, depois, foi embora, como tinha vindo, simples e sorridente, privadamente, assim como aparece em público.

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“É preciso integrar os migrantes”

Nos seus discursos sobre a Europa, o senhor fala das “raízes” do continente, mas sem jamais defini-las como cristãs. Em vez disso, define a identidade europeia como “dinâmica e multicultural”. Na sua opinião, a expressão “raízes cristãs” não é apropriada para a Europa?

É preciso falar de raízes no plural, porque há muitas. Nesse sentido, quando ouço falar de raízes cristãs da Europa, eu temo às vezes o tom, que pode ser triunfalista ou vingativo. E, então, torna-se colonialismo. João Paulo II falava disso com um tom tranquilo. A Europa, sim, tem raízes cristãs. O cristianismo tem o dever de “borrifá-las”, mas em um espírito de serviço, como no lava-pés. O dever do cristianismo, para a Europa, é o serviço. Erich Przywara, grande mestre de Romano Guardini e de Hans Urs von Balthasar, nos ensina: a contribuição do cristianismo a uma cultura é a de Cristo com o lava-pés, ou seja, o serviço e o dom da vida. Não deve ser uma contribuição colonialista.

O senhor fez um gesto forte, trazendo consigo refugiados de Lesbos para Roma, no dia 16 de abril. Mas a Europa pode acolher tantos migrantes?

É uma pergunta justa e responsável, porque não se pode escancarar as portas de forma irracional. Mas a pergunta de fundo a se fazer é por que há tantos migrantes hoje em dia. Quando eu fui para Lampedusa, há três anos, esse fenômeno já estava começando. O problema inicial são as guerras no Oriente Médio e na África, e o subdesenvolvimento do continente africano, que provoca a fome. Se há guerras, é porque existem fabricantes de armas – que se justificar pela defesa – e, sobretudo, traficantes de armas. Se há tanto desemprego, é por causa da falta de investimentos que possam gerar empregos, dos quais a África tanto precisa.

Isso levanta, de modo mais geral, a questão de um sistema econômico mundial que caiu na idolatria do dinheiro. Mais de 80% das riquezas da humanidade estão nas mãos de cerca de 16% da população. Um mercado completamente livre não funciona. O mercado, em si mesmo, é uma coisa boa, mas deve haver, como ponto de apoio, um terceiro, o Estado, para controlá-lo e equilibrá-lo. É o que se chama de economia social de mercado.

Voltemos aos migrantes. A pior acolhida é a de “guetizá-los”, enquanto, ao contrário, é preciso integrá-los. EmBruxelas, os terroristas eram belgas, filhos de migrantes, mas vinham de um gueto. Em Londres, o novo prefeito [Sadiq Khan, filho de paquistaneses muçulmanos] prestou juramento em uma catedral e, sem dúvida, será recebido pela rainha. Isso demonstra para a Europa a importância de reencontrar a sua capacidade de integrar. Eu penso em Gregório Magno [papa de 590 a 604], que negociou com aqueles que eram chamados de bárbaros, que, depois, se integraram. Essa integração é ainda mais necessária hoje em dia, quando a Europa conhece um grave problema de desnatalidade, em razão de uma busca egoísta de bem-estar. Instala-se um vácuo demográfico. Na França, no entanto, graças à política familiar, essa tendência é atenuada.

O medo de acolher os migrantes se alimenta, em parte, do medo do Islã. Na sua opinião, o medo causado por essa religião na Europa é justificado?

Eu não acho que agora haja um medo do Islã como tal, mas do Daesh e da sua guerra de conquista, tirada em parte do Islã. A ideia de conquista é inerente à alma do Islã, é verdade. Mas ela poderia ser interpretada com a mesma ideia de conquista, no fim do Evangelho de Mateus, em que Jesus envia os seus discípulos a todas as nações. Diante do atual terrorismo islamista, seria oportuno nos interrogarmos sobre a maneira pela qual foi exportado um modelo de democracia, ocidental demais, para países em que havia um poder forte, como no Iraque. Ou na Líbia, que tem uma estrutura tribal. Como dizia um líbio há algum tempo: “Antigamente, nós tínhamos Gaddafi. Agora temos 50!”. No fundo, a coexistência entre cristãos e muçulmanos é possível. Eu venho de um país onde eles convivem em boa familiaridade. Lá, os muçulmanos veneram a Virgem Maria e São Jorge. Em um país da África, me disseram, para o Jubileu da Misericórdia, os muçulmanos fazem uma longa fila na catedral para passar pela porta santa e rezar para a Virgem Maria. Na África Central, antes da guerra, cristãos e muçulmanos viviam juntos e devem reaprender a fazer isso hoje. O Líbano também demonstra que isso é possível.

O peso que o Islã tem hoje na França, assim como o vínculo histórico do país com o cristianismo, levantam problemas recorrentes sobre o lugar das religiões no espaço público. Qual é, na sua opinião, uma boa laicidade?

Um Estado deve ser laico. Os Estados confessionais acabam mal. Isso vai contra a história. Eu acho que uma laicidade acompanhada por uma lei sólida que garanta a liberdade religiosa oferece um quadro para se seguir em frente. Nós somos todos iguais, como filhos de Deus ou com a nossa dignidade de pessoa. Mas cada um deve ter a liberdade de exteriorizar sua própria fé. Se uma mulher muçulmana quer usar o véu, ela deve poder fazer isso. Assim também se um católico quer portar uma cruz. Deve-se poder professar a própria fé, não ao lado, mas dentro da cultura. Uma pequena crítica que eu dirigiria para a França a esse respeito é de exagerar a laicidade. Isso provém de uma maneira de considerar as religiões como uma subcultura e não como uma cultura, para todos os efeitos. Eu temo que essa abordagem, que se compreende como a herança do Iluminismo, ainda esteja presente. A França deveria dar um passo a mais nesse assunto, para aceitar que a abertura à transcendência é um direito de todos.

Em um quadro laico, como os católicos deveriam se posicionar para defender as suas posições sobre questões éticas, como a eutanásia ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo?

É no Parlamento que se deve discutir, argumentar, explicar, raciocinar. Desse modo, uma sociedade cresce. Assim que a lei for votada, o Estado deve respeitar as consciências. Em toda estrutura jurídica, a objeção de consciência deve estar presente, porque é um direito humano, incluindo para um funcionário do governo, que é uma pessoa humana. O Estado também deve respeitar as críticas. Essa é uma verdadeira laicidade. Não podemos deixar de levar em conta os argumentos dos católicos, dizendo-lhes: “Você fala como um padre”. Não, eles se apoiam no pensamento cristão, que a França desenvolveu de forma notável.

O que a França representa para o senhor?

La fille aînée de l’Église… mais pas la plus fidèle! [A filha mais velha da Igreja… mas não a mais fiel!] (risos). Nos anos 1950, também se dizia: “França, país de missão”. Nesse sentido, é uma periferia a ser evangelizada. Mas precisamos ser justos com a França. A Igreja lá possui uma capacidade criativa. A França também é uma terra de grandes santos, de grandes pensadores: Jean Guitton, Maurice Blondel, Emmanuel Levinas – que não era católico –, Jacques Maritain. Penso igualmente na profundidade da sua literatura. Eu também aprecio como a cultura francesa impregnou a espiritualidade jesuíta em relação à corrente espanhola, mais ascética. A corrente francesa, que começou com Pedro Fabro, embora sempre insistindo no discernimento do espírito, dá outro sabor. Com os grandes espirituais franceses:Louis Lallemand, Jean-Pierre de Caussade. E com os grandes teólogos franceses, que tanto ajudaram a Companhia de Jesus: Henri de Lubac e Michel de Certeau. Eu gosto muito destes dois últimos: dois jesuítas que são criativos. Em suma, é isso que me fascina da França. Por um lado, essa laicidade exagerada, a herança da Revolução Francesa e, por outro, tantos grandes santos.

Qual é o santo ou a santa que o senhor prefere?

Santa Teresa de Lisieux.

O senhor prometeu ir para a França. Quando imagina que poderá fazer essa viagem?

Recentemente, eu recebi uma carta de convite do presidente François Hollande. A Conferência Episcopal também me convidou. Não sei quando vai acontecer essa viagem, porque o ano que vem é eleitoral na França, e, em geral, a prática da Santa Sé é de não fazer tal deslocamento nesse período. No ano passado, tínhamos começado a levantar hipóteses em vista dessa viagem, incluindo uma passagem por Paris e pela sua periferia, por Lourdes e por uma cidade aonde nenhum papa se dirigiu, Marselha, por exemplo, que representa uma porta aberta para o mundo.

A Igreja na França vive uma grave crise de vocações sacerdotais. Como fazer hoje com tão poucos padres?

A Coreia oferece um exemplo histórico. Esse país foi evangelizado por missionários vindos da China que, depois, voltaram para a China. Mais tarde, durante dois séculos, a Coreia foi evangelizada por leigos. É uma terra de santos e de mártires que hoje tem uma Igreja forte. Para evangelizar, não é preciso de padres necessariamente.

O batismo dá a força para evangelizar. E o Espírito Santo, recebido no batismo, impulsiona a sair, a levar a mensagem cristã, com coragem e paciência. É o Espírito Santo o protagonista daquilo que a Igreja faz, o seu motor. Muitos cristãos ignoram isso. Ao contrário, um perigo para a Igreja é o clericalismo. É um pecado que se comete a dois, como o tango!

Os padres querem clericalizar os leigos, e os leigos pedem para ser clericalizados, por facilidade. Em Buenos Aires, eu conheci inúmeros bons párocos que, vendo um leigo capaz, logo exclamavam: “Façamos dele um diácono!”. Não, é preciso deixá-lo como leigo. O clericalismo é particularmente importante na América Latina. Se a devoção popular lá é forte, é justamente porque é a única iniciativa dos leigos que não é clerical. E continua sendo mal compreendida pelo clero.

A Igreja na França, particularmente em Lyon, está sendo atualmente atingida por escândalos de pedofilia que remontam ao passado. O que se deve fazer nessa situação?

É verdade que não é fácil julgar determinados fatos depois de décadas, em outro contexto. A realidade nem sempre é clara. Mas, para a Igreja, nesse âmbito, não pode haver prescrição. Para aqueles abusos, um padre que tem vocação de levar uma criança para Deus a destrói. Dissemina o mal, o ressentimento, a dor. Como disse Bento XVI, a tolerância deve ser zero. Com base nos elementos de que eu disponho, eu acredito que, em Lyon, o cardeal Barbarin tomou as medidas necessárias, tomou as coisas bem em mãos. É corajoso, criativo, missionário. Agora, devemos esperar pelo prosseguimento do processo perante a justiça civil.

Portanto, o cardeal Barbarin não deve renunciar?

Não, seria um contrassenso, uma imprudência. Depois da conclusão do processo, isso será visto. Mas, agora, seria como se declarar culpado.

No dia 1º de abril, o senhor recebeu Dom Bernard Fellay, superior-geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Está novamente prevista a reintegração dos lefebvrianos na Igreja?

Em Buenos Aires, eu sempre falei com eles. Eles me cumprimentavam, me pediam uma bênção de joelhos. Eles amam a Igreja. Dom Fellay é um homem com quem se pode dialogar. Não é assim com outros elementos um pouco estranhos, como Dom Williamson, ou outros que se radicalizaram. Eu acho que, como já disse na Argentina, eles são de católicos a caminho da plena comunhão. Durante um Ano da Misericórdia, pareceu-me que eu devia autorizar os seus confessores a perdoar o pecado do aborto. Eles me agradeceram por esse gesto. Antes, Bento XVI, que eles respeitam muito, tinha liberado a missa segundo o rito tridentino. Dialoga-se bem, faz-se um bom trabalho.

O senhor estaria disposto a lhes conceder um status de prelazia pessoal?

Seria uma solução possível, mas, em primeiro lugar, é preciso estabelecer um acordo de fundo com eles. O Concílio Vaticano II tem o seu valor. Prossegue-se lentamente, com paciência.

O senhor convocou dois sínodos sobre a família. Esse longo processo, na sua opinião, mudou a Igreja?

É um processo que começou com o consistório [de fevereiro de 2014], introduzido pelo cardeal Kasper, antes de um Sínodo extraordinário em outubro do mesmo ano, seguido por um ano de reflexão e por um Sínodo ordinário. Acho que todos saímos diferentes desse processo em relação a como entramos. Eu também. Na exortação pós-sinodal [Amoris laetitia, de abril de 2016], eu tentei respeitar ao máximo o Sínodo. Vocês não vão encontrar detalhes canônicos sobre o que se pode ou se deve fazer ou não fazer. É uma reflexão serena, pacífica, sobre a beleza do amor, sobre como educar os filhos, como se preparar para o matrimônio… Ela valoriza as responsabilidades que poderiam ser acompanhadas pelo Pontifício Conselho para os Leigos, sob a forma de orientações de fundo.

Além desse processo, devemos pensar na verdadeira sinodalidade, ao menos naquilo que significa a sinodalidade católica. Os bispos estão cum Petro, sub Petro [com o sucessor de Pedro e sob o sucessor de Pedro]. Isso difere da sinodalidade ortodoxa e da sinodalidade das Igrejas greco-católicas, em que o patriarca conta como um único voto. OConcílio Vaticano II dá um ideal de comunhão sinodal e episcopal. Ainda é preciso fazê-lo crescer, mesmo em nível paroquial, levando-se em conta do que está prescrito. Existem paróquias que não estão dotadas nem de um conselho pastoral, nem um conselho para assuntos econômicos, enquanto o Código de Direito Canônico exige isso expressamente. A sinodalidade também se joga nesse nível.

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A mídia mundial deu grande destaque, ontem, a alguns “pedaços de declarações” do papa Francisco e, além de truncá-los, deu-lhes como de costume a sua interpretação ideologicamente direcionada: a de que a Igreja estaria “liberando o uso de contraceptivos”.

O papa não disse nada disso.

Vamos aos fatos. Uma jornalista da rede espanhola Cope fez esta pergunta ao papa Francisco:

Santo Padre, já faz algumas semanas que há muita preocupação em muitos países latino-americanos, mas também na Europa, com o vírus zika. O risco maior seria para as gestantes: há angústia. Algumas autoridades propuseram o aborto, ou evitar a gravidez. Neste caso, a Igreja pode levar em consideração o conceito de “mal menor”?

O papa Francisco respondeu com clareza: NÃO.

Ele afirmou:

O aborto não é um “mal menor”. É um crime. É descartar um para salvar o outro. É aquilo que a máfia faz! É um crime. É um mal absoluto. Quanto ao “mal menor”, evitar a gravidez é. Vamos falar em termos de conflito entre o quinto e o sexto mandamentos. Paulo VI, o grande, em uma situação difícil, na África, permitiu que as religiosas usassem anticoncepcionais por causa dos atos de violência. Não confundir o mal de evitar a gravidez, que é uma coisa, com o aborto. O aborto não é um problema teológico: é um problema humano. É um problema médico. É matar uma pessoa para salvar outra – e isso no “melhor” dos casos. Ou é por comodismo, não é? Vai contra o Juramento de Hipócrates, que os médicos devem fazer. É um mal em si mesmo. E não é um “mal religioso”: é um mal humano. Além disso, evidentemente, já que é um mal humano, como todos os assassinatos ele é condenado. Agora, evitar a gravidez não é um mal absoluto: e em certos casos, como neste, como naquele que eu mencionei do beato Paulo VI, era claro. Eu exortaria os médicos a fazerem tudo para encontrar as vacinas contra esses mosquitos que causam este mal: nisto sim se tem que trabalhar. Obrigado.

Então, para que não haja dúvidas, a Igreja continua afirmando que:

  1. Evitar a gravidez artificialmente é um mal moral. Por quê? Para entender este conceito (que é certamente difícil para uma cultura que foi induzida a se obcecar pelo prazer fugaz e inconsequente), é necessário ter uma visão de conjunto sobre a sexualidade humana – à qual, naturalmente, a gravidez é vinculada. Vamos lá: o ato sexual humano atinge a plenitude do seu significado como expressão física do amor de doação entre um homem e uma mulher que se amam verdadeiramente, que se entregam reciprocamente de alma e corpo, dentro de uma relação consciente, livre e madura, selada pelo compromisso pessoal do matrimônio indissolúvel, sacramentado por Deus. Fora do contexto conjugal, o ato sexual é incompleto e moralmente deficiente, pois vai contra a sua própria plenitude e perfeição. Dentro da sexualidade plena, que é indissociável do amor conjugal, a abertura à vida é um requisito naturalmente óbvio. Privar o ato sexual da sua dimensão geradora de vida dentro do amor conjugal é reduzi-lo moralmente, tornando-o deficiente. É por isso que todo ato artificial de evitar a gravidez é um “mal moral”: porque limita a plenitude da sexualidade como dimensão inseparável do amor conjugal irrestrito e aberto ao dom da vida.
  2. Já evitar a gravidez com métodos naturais – ou seja, não artificiais – é moralmente lícito.Entendida a visão harmônica e unitária da sexualidade em sua plenitude, pode-se também entender que é justo (e até moralmente obrigatório) que os cônjuges tomem todas as precauções lícitas e boas para garantir o máximo bem do filho – e isto implica, em casos específicos como o do atual surto do zika vírus, adiar os planos de gravidez. Logo, agir responsavelmente para evitar a gravidez é moralmente bom e recomendado, desde que os meios escolhidos sejam respeitosos da natureza do ato sexual: é o caso, por exemplo, do método Billings ou, evidentemente, da abstenção. Recorrer a meios artificiais, como visto acima, entra em conflito moral com a plenitude da sexualidade: é por isso que, moralmente, os meios artificiais para impedir a gravidez não são aceitáveis.
  3. Excepcionalmente, o recurso a métodos artificiais, desde que claramente não abortivos, pode ser tolerado como “mal menor”. Mas somente em casos muito pontuais, como diante de um risco grave e real como o do zika vírus, que, até o momento, é apontado como causa provável de microcefalia. É neste contexto de excepcionalidadeque se encaixam as palavras do papa Francisco – portanto, não se trata, em absoluto, de uma “liberação” da pílula, do preservativo ou de quaisquer outros métodos artificiais de impedimento da gestação, como parte da mídia deu a entender, levianamente.
  4. Evitar uma futura gravidez, em qualquer caso, é completamente diferente de “eliminar” uma gravidez já existente – porque “gravidez já existente” significa “bebê já existente”. O aborto voluntário é e continuará sendo sempre o assassinato de um ser humano em suas primeiras fases de desenvolvimento, o extermínio de uma pessoa humana indefesa, e isto jamais poderá ser entendido como “um mal menor” seja qual for o contexto. O aborto voluntário é sempre um “mal absoluto”. Quando a gravidez já é um fato, por mais que não tenha sido planejada e por mais que a gestante não deseje o filho, ela dispõe de uma gama suficiente de alternativas moralmente lícitas, que passam bem longe da opção de assassinar o bebê. Um esclarecimento adicional: é muito diferente a situação em que a gestante precisa passar por delicados e inevitáveis procedimentos médicos em que, como consequência não procurada nem provocada, o bebê em gestação acaba falecendo.

O polêmico caso das freiras

No caso das freiras a quem Paulo VI autorizou tomar contraceptivos, o contexto é extremo: na iminência de serem estupradas, elas receberam permissão pontifícia para tomar pílulas anticoncepcionais como meio de exceção. O risco era não apenas possível, mas real e iminente, e de consequências gravíssimas. Como o estupro foge à sexualidade unitiva e procriativa, é evidente que ninguém tem a obrigação de achar-se no risco iminente de sofrê-lo e não poder tomar precauções excepcionais, que – neste caso sim – são um “mal menor”. E a palavra “excepcional” aqui é chave: o recurso aos anticoncepcionais como medida de precaução não pode se tornar uma regra – por isso mesmo é que foi necessária a aprovação direta do próprio papa naquele contexto extremo. Importante: Paulo VI também deixou bem claro que, se alguma daquelas freiras fosse violentada e engravidasse, deveria deixar a vida religiosa, ter o filho e assumir a maternidade. Aborto? Absolutamente não: entre as muitas alternativas moralmente aceitáveis, jamais está o assassinato do bebê inocente.

Quanto ao resto, é manipulação ideológica das palavras do papa Francisco.

Aleteia

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Santo Padre, no México existem milhares de desaparecidos. No entanto, o caso dos 43 de Ayotzinapa é um caso emblemático. Gostaria de lhe perguntar: por que não se reuniu com eles?

Nas minhas mensagens fiz referências contínuas aos assassinatos, às mortes, à vida cobrada por todas estas gangues do narcotráfico, dos traficantes de seres humanos. Ou seja, falei sobre este problema, das chagas que o México está sofrendo. Eram tantos grupos, mesmo contrários entre si, com lutas internas.

Portanto, eu preferi dizer que na Missa se veem todos, na Missa de Juárez, ou se preferirem em qualquer outra, mas que havia esta disponibilidade. Era praticamente impossível receber todos os grupos, que, por outro lado, eram contrários entre si. É uma situação difícil de entender, para mim, que sou estrangeiro, verdade?

Mas creio que é uma sociedade mexicana que é vítima de tudo isso: dos crimes, deste fazer desaparecer as pessoas, de descartar as pessoas. Sobre isso eu falei. Sendo um discurso público, podes constatar ali. É uma dor muito grande, porque este povo não merece um drama como este.

O tema da pedofilia, como bem o sabe o México, tem raízes muito dolorosas. O caso do Pe. Maciel deixou fortes sinais, sobretudo nas vítimas. As vítimas continuam a sentir-se desprotegidas pela Igreja. Muitos deles continuam a ser homens de fé, e alguns até mesmo seguiram o sacerdócio. Pergunto-lhe: o que pensa deste tema? Em algum momento pensou em encontrar as vítimas e, em geral, esta ideia de que os padres, quando são descobertos por um caso desta natureza, sejam somente transferidos para outra paróquia e nada mais?

Bem, começo pela segunda. Um bispo que transfere um padre de paróquia quando se reconhece um caso de pedofilia, é um inconsciente, e o melhor que pode fazer é apresentar sua renúncia. Claro?

Segundo, voltando ao caso Maciel. E aqui, me permito prestar uma homenagem ao homem que lutou em momentos em que não tinha a força para se impor, até que não conseguiu se impor… Ratzinger… o cardeal Ratzinger, sim, um aplauso para ele! É um homem que teve toda a documentação. Quando era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, teve tudo em suas mãos, fez investigações, chegou, chegou, chegou… mas não pôde ir além na execução.

Porém, se vocês recordarem, dez dias antes de morrer, São João Paulo II – naquela Via-Sacra da Sexta-Feira Santa – disse a toda a Igreja que era preciso limpar as “porcarias” da Igreja. E na Missa ‘Pro Eligendo Pontefice’ – ele não é um bobo, sabia que era um candidato – não usou máscaras e disse exatamente a mesma coisa. Ou seja, foi o corajoso que ajudou tantos a abrir esta porta. Assim quero que vocês recordem dele porque, às vezes, nos esquecemos deste trabalho escondido, daqueles que prepararam a estrada para destampar a panela.

Terceiro, estamos trabalhando bastante com o cardeal secretário de Estado, estamos conversando, e também com o grupo dos nove cardeais conselheiros. Após escutar decidi nomear um terceiro secretário adjunto na Doutrina da Fé, para que se encarregue somente destes casos, porque a Congregação, de fato, não consegue dar conta de tudo aquilo que tem que se feito.

Além disso, foi constituída a Corte de Apelação, presidida por dom Scicluna, que está se ocupando dos casos em segunda instância, quando há recursos. Porque os primeiros recursos são feitos pela plenária, pela “feria quarta”, como a chamam, da Doutrina da Fé, que se reúne nas quartas-feiras. Quando há recursos, volta-se à primeira instância e isto não é justo. Então, segundo recurso, perfeitamente legal, já com o advogado de defesa. Mas é preciso apurar porque temos tantos atrasos nos casos, porque aparecem casos.

Quarto, sobre outra coisa sobre a qual se está trabalhando muito bem é a comissão para a proteção dos menores. Não é rigorosamente fechada aos casos de pedofilia, mas à proteção dos menores. Ali, me reuni uma manhã inteira com seis integrantes – dois alemães, dois irlandeses e dois ingleses. Homens e mulheres, abusados, vítimas.

E também e me reuni conta tantas vítimas na Filadélfia. Também lá, uma manhã, tive um encontro com as vítimas e sei que se está trabalhando. Mas dou graças a Deus que esta panela tenha sido destampada, e é preciso continuar a destampá-la. E tomar consciência. E, por fim, quero dizer que é uma monstruosidade, porque um padre é consagrado para levar uma criança a Deus e lá se aproveita dela como em um sacrifício diabólico, destruindo-a.

Bem, no que diz respeito a Maciel… Voltando à Congregação, fiz uma intervenção, e hoje o governo da Congregação encontra-se em uma “semi-intervenção”. Ou seja, o superior geral é eleito pelo Conselho, pelo Capítulo Geral, mas o vigário é eleito pelo Papa. Dois conselheiros gerais são eleitos pelo Capítulo Geral e outros dois são eleitos pelo Papa, de modo que vamos ajudando a rever contas antigas.

Você falou hoje com muita eloquência dos problemas dos migrantes. Do outro lado da fronteira existe uma campanha eleitoral muito acirrada. Um dos candidatos à Casa Branca, o republicano Donald Trump, em uma entrevista recentemente disse que o senhor é um homem político e inclusive disse que talvez o senhor seja também uma peça de xadrez, um instrumento do governo mexicano para a política migratória. Ele declarou que, se eleito, quer construir 2,5 mil quilômetros de cercas ao longo da fronteira, quer deportar 11 milhões de imigrantes ilegais, separando assim famílias, etc. Então, queria perguntar, antes de tudo, o que pensa sobre estas acusações contra o senhor e se um católico estadunidense pode votar em uma pessoa assim?

Graças a Deus que disse que sou um político, porque Aristóteles define a pessoa humana como um animal politicus. Ao menos sou uma pessoa humana. E que sou uma peça de xadrez, mas, talvez, não sei… Deixo isso ao juízo de vocês, das pessoas.

E, depois, uma pessoa que pensa somente em levantar muros, seja onde for, e não a construir pontes, não é cristã. Isso não está no Evangelho.

Depois, aquilo que me dizia, sobre o que aconselharia, votar ou não votar: não me envolvo. Somente digo: este homem não é cristão, se diz isto. É preciso ver se ele disse assim as coisas, e dou o benefício da dúvida.

O encontro com Kirill e a assinatura da declaração comum foi visto no mundo inteiro como um passo histórico. Mas agora, hoje já, na Ucrânia os greco-católicos sentem-se traídos e falam de um “documento político”, de apoio à política russa. Você pensa em ir a Moscou? Ou talvez ir a Creta para saudar o Concílio pan-ortodoxo?

Estarei presente, espiritualmente, em Creta com uma mensagem. Gostaria de ir, mas é preciso respeitar o Sínodo. Haverá observadores católicos e por trás do seu trabalho estarei eu, rezando com os melhores desejos para que os ortodoxos sigam adiante. Seus bispos são bispos como nós.

Com Kirill, meu irmão, nos abraços e beijamos, e depois tivemos um colóquio de duas horas, no qual falamos como irmãos, sinceramente: ninguém sabe do que falamos.

Sobre a declaração dos ucranianos: quando a li, fiquei um pouco preocupado, porque foi feita pelo Arcebispo Maior de Kyiv-Halyc dos ucranianos, Sviatoslav Shevchuk. Foi ele quem disse que o povo ucraniano se sente profundamente desiludido e traído.

Conheço muito bem Sviatoslav: trabalhamos quatro anos juntos em Buenos Aires. Quando ele foi eleito arcebispo maior – aos 42 anos, voltou a Buenos Aires, veio para se despedir e me deu de presente um ícone da Nossa Senhora da Ternura e me disse: “Esta me acompanhou por toda a vida: quero deixá-la contigo, porque você me acompanhou nestes quatro anos”. É uma das poucas coisas que fiz trazer de Buenos Aires e que está na minha escrivaninha.

É um homem pelo qual tenho respeito e familiaridade, nos tratamos de “você”, e assim… Pareceu-me um pouco estranha a sua declaração. Mas, para compreender uma notícia, uma declaração, é preciso procurar a hermenêutica de conjunto. E essa declaração de Shevchuk está no último parágrafo de uma longa entrevista. Ele se declara filho da Igreja, em comunhão com o Bispo de Roma, com a Igreja; fala do Papa, da proximidade do Papa, e dele, da sua fé. Sobre a parte dogmática, nenhuma dificuldade: é ortodoxa no bom sentido da palavra, isto é, doutrina católica. E depois cada qual tem o direito de expressar suas opiniões, são suas ideias pessoais.

Tudo o que disse foi sobre o documento, não sobre o encontro com Kirill. O documento é discutível, e também devemos acrescentar que a Ucrânia está em um momento de guerra, de sofrimento: muitas vezes manifestei a minha proximidade ao povo ucraniano. Compreende-se que um povo nessa situação sinta isto, o documento é discutível sobre esta questão da Ucrânia, mas nessa parte da declaração pede-se para parar esta guerra, que se chegue a acordos. Eu, pessoalmente, defendi que os Acordos de Minsk prossigam, e não se apague com o cotovelo aquilo que foi escrito com as mãos. Recebi ambos os presidentes – paridade, não? E por isso, quando ele diz que ouviu isso do seu povo, eu o entendo. Não devemos nos assustar com aquela frase. Uma notícia deve ser interpretada com a hermenêutica do conjunto, não da parte.

O Patriarca Kirill o convidou para ir a Moscou?

Que se Kirill me convidou? Prefiro deter-me apenas no que dissemos em público. O colóquio privado é privado, mas posso dizer que saí feliz. E ele também.

A minha pergunta é sobre a família, tema que o senhor abordou muitas vezes nesta viagem. No Parlamento italiano está em discussão a lei sobre as uniões civis, um tema que tem levado a fortes enfrentamentos políticos, mas também a um forte debate na sociedade e entre os católicos. Neste particular, gostaria de saber o seu pensamento sobre o tema da adoção da parte das uniões civis, e, portanto, sobre os direitos das crianças e dos filhos em geral.

Em primeiro lugar, não sei como estão as coisas no Parlamento italiano… O Papa não se imiscui na política italiana. Na primeira reunião que tive com os bispos, em maio de 2013, uma das três coisas que lhes disse: “Com o governo italiano, se virem vocês”. Porque o Papa é para todos, e não pode se meter na política concreta, interna de um país: este é o papel do Papa. E aquilo que penso é aquilo que pensa a Igreja e disse em tantas… porque este não é o primeiro país que faz esta experiência; são muitos. Eu penso aquilo que a Igreja sempre disse sobre este assunto.

Santo Padre, há algumas semanas há muita preocupação em muitos países latino-americanos, mas também na Europa, sobre o zika vírus. O risco maior seria para as mulheres grávidas: há angústia. Algumas autoridades propuseram o aborto, ou de se evitar a gravidez. Neste caso, a Igreja pode levar em consideração o conceito do mal menor?

O aborto não é um mal menor: é um crime. É descartar um para salvar o outro. É aquilo que a máfia faz. É um crime. É um mal absoluto. Sobre o mal menor… o de evitar a gravidez… Falamos em termos de conflito entre o quinto e o sexto mandamento. Paulo VI, o Grande, em uma situação difícil, na África, permitiu às religiosas usar anticoncepcionais para os casos de violência. Não confundir o mal de evitar a gravidez, sozinho, com o aborto.

O aborto não é um problema teológico: é um problema humano, é um problema médico. Mata-se uma pessoa para salvar uma outra – no melhor dos casos. Vai contra o Juramento de Hipócrates que os médicos devem fazer. É um mal em si mesmo, mas não é um mal religioso a princípio: não, é um mal humano. Além disso, evidentemente, já que é um mal humano – como todos assassinatos – é condenado.

Ao contrário, evitar a gravidez não é um mal absoluto: e, em certos casos, como neste, como naquele que mencionei do Beato Paulo VI, era claro. Também eu exortaria os médicos para que façam tudo para encontrar as vacinas contra estes dois mosquitos que trazem este mal: sobre isto se deve trabalhar.

Dentro de algumas semanas, o senhor vai receber o Prêmio Carlos Magno, um dos prêmios mais prestigiosos da Comunidade Europeia. Parece que a União Europeia está perdendo pedaços com a crise do euro e agora com a crise dos refugiados: o senhor tem talvez uma palavra para nós, nesta situação de crise europeia?

Primeiro, sobre o Prêmio Carlos Magno. Eu tinha o hábito de não aceitar honorificências ou doutorados, desde sempre: não por humildade, mas porque não gosto destas coisas. Um pouco de loucura é bom ter, e não gosto. Mas neste caso, não digo “forçado”, mas “convencido” com a santa e teológica teimosia do cardeal Kasper, que foi escolhido por Aachen (Alemanha) para me convencer. E eu disse: “Sim, mas no Vaticano”. E disse isso; e ofereço o prêmio para a Europa: que seja um prêmio para que a Europa possa fazer aquilo que eu desejei em Estrasburgo: que não seja a avó-Europa, mas a mãe-Europa.

Segundo: outro dia, lendo as notícias sobre esta crise – eu leio pouco, folheio somente um jornal – não digo o nome para não provocar ciumeiras, mas sabe-se… leio quinze minutos e depois peço informações à Secretaria de Estado. Uma palavra que me agradou, e me agradou – não sei quem a aprova, quem não: “a refundação da União Europeia”. E pensei nos grandes pais, mas e hoje? Onde encontramos um Schumann, um Adenauer? E todos estes grandes que no pós-guerra fundaram a União Europeia…

E eu gosto desta ideia da refundação: oxalá se possa fazê-la! Porque a Europa, não diria que é única, mas tem uma força, uma cultura, uma história que não pode ser desperdiçada. E devemos fazer de tudo para que a União Europeia tenha a força e também a inspiração de seguir em frente.

Como é possível que a Igreja ainda hoje perdoe mais facilmente um assassino do que quem se divorcia e casa novamente?

Ah, gosto desta pergunta! Sobre a família, falaram dois Sínodos. E o Papa falou todo o ano durante as eucaristias. Gosto desta pergunta, porque você a fez plasticamente bem. No documento pós-sinodal, que sairá talvez antes da Páscoa – retoma-se tudo aquilo que o Sínodo – em um dos capítulos, porque existem muitos – fala sobre os conflitos ou sobre famílias feridas, e a pastoral das famílias feridas. É uma das preocupações.

Assim como outra é a preparação ao matrimônio. Imagine: para se tornar padre, são oito anos de estudo, de preparação, e depois, depois de um certo tempo, não consegue mais, pede a dispensa e vai embora e está tudo certo. Pelo contrário, para receber um sacramento que é para toda a vida, três quatro palestras são suficientes…

A preparação para o matrimônio é muito importante: é muito, muito importante, porque acredito que seja uma coisa que a Igreja, na pastoral comum – ao menos no meu país, na América do Sul – não valorizou muito. Por exemplo – agora não tanto, mas há alguns anos – na minha Pátria, havia o costume de… se chamava “casamento em apuros”: casar rapidamente, porque vem um filho. E para cobrir socialmente a honra da família. Ali, não eram livres, e tantas vezes estes matrimônios são nulos. É melhor que nasça a criança, que continuem namorados, e quando sentem que é para toda a vida, que sigam em frente. Há um erro.

Outro capítulo muito interessante: a educação dos filhos. As vítimas dos problemas da família são os filhos, os filhos. Por exemplo, quando o pai não tem tempo para falar com seus filhos, quando a mãe não tem tempo livre para falar com seus filhos, isso não está bem. Quando eu confesso um casal que tem filhos, pergunto: “Quantos filhos vocês têm?”. E alguns se assustam, pois acreditam que o padre lhes pergunta sempre se têm mais. E então eu faço uma segunda pergunta: você brinca com seus filhos? E a maioria – quase todos! – diz: “Mas, Padre, não tenho tempo: trabalho o dia todo”. E os filhos são vítimas de um problema social que fere a família. Gosto da sua pergunta. E uma terceira coisa interessante, no encontro com as famílias em Tuxla Gutiérrez. Havia nesse ato um casal em segunda união. E a palavra-chave que o Sínodo usou – e a retomei na Exortação – é integrar na vida da Igreja as famílias feridas. Mas sem esquecer as crianças, que são as primeira vítimas.

Integrar na Igreja não significa dar a comunhão. Eu conheço católicos recasados que vão à igreja uma vez, duas vezes ao ano, e querem fazer a comunhão como se fosse um título adquirido. Um trabalho de integração… Todas as portas estão abertas. Mas não se pode dizer que estas pessoas podem comungar. Isto seria uma ferida também para os casais, porque não faria com que eles sigam por este caminho de integração. E estes dois (de Tuxtla) eram felizes! E usaram uma expressão muito bonita: “Nós não fazemos a comunhão eucarística, mas fazemos comunhão na visita ao hospital, nisto e naquilo”. Sua integração é essa. Se há alguma coisa a mais, o Senhor dirá a eles. É um caminho, é uma estrada.

A mídia publicou a intensa correspondência entre João Paulo II e a filósofa estadunidense Anna Teresa Tymieniecka. Na sua opinião, um Papa pode ter uma relação tão íntima com uma mulher? O senhor conhece – ou conheceu – este tipo de experiência?

Esta relação de amizade entre São João Paulo II e esta filósofa eu a conhecia quando estava em Buenos Aires. João Paulo II era um homem inquieto. Depois, eu diria que um homem que não sabe ter uma boa relação de amizade com uma mulher – não falo dos misóginos, eles são doentes – falta a ele alguma coisa. E eu, por experiência própria, também quando peço um conselho, peço a um colaborador, a um amigo, um homem, mas também gosto de ouvir o parecer de uma mulher: e te dão tanta riqueza! Olham as coisas de outro modo.

Gosto de dizer que a mulher é aquela que constrói a vida no ventre e tem – mas esta é uma comparação que eu faço, não? – e tem este carisma de te dar coisas para construir. Uma amizade com uma mulher não é pecado. Uma relação amorosa com uma mulher que não seja tua mulher, é pecado. Entendido?

O Papa é um homem, o Papa tem necessidade também do pensamento das mulheres. E também o Papa tem um coração que pode ter uma amizade sadia, santa com uma mulher. Existem santos amigos – Francisco, Clara, Teresa,João da Cruz. Não se assustem. mas as mulheres ainda são um pouco….não bem consideradas, não totalmente. Não entendemos o bem que uma mulher pode fazer à vida do padre e da Igreja, no sentido de um conselho, da ajuda, de uma amizade saudável.

Eu volto para o tema da lei que está para ser votada no Parlamento italiano: é uma lei que, no final das contas, diz respeito também a outros Estados, porque outros Estados têm leis que tratam da união entre pessoas do mesmo sexo. Existe um documento da Congregação para a Fé, de 2003, que dedica um amplo espaço a isto e também dedica um capítulo ao comportamento que os parlamentares católicos devem ter diante desta lei, e se diz expressamente que os parlamentares católicos não devem votar esta lei. Considerando que existe muita confusão sobre isto, gostaria de pedir ao senhor, antes de tudo, se este documento de 2003 ainda tem valor. E, efetivamente, qual o comportamento que um parlamentar católico deve ter?

Eu não recordo bem este documento de 2003 da Congregação para a Doutrina da Fé. Mas um parlamentar católico deve votar segundo a própria consciência bem formada. Diria isto, só isto. Creio que é suficiente, e digo bem formada porque não é a consciência aquilo que me parece.

Eu me recordo quando foi votado o casamento entre pessoas do mesmo sexo em Buenos Aires, que houve ali um empate, e no final alguém disse, aconselhou o outro: “Mas, tens isto claro?” – “Não” – “Nem eu, mas assim perdemos” – “Então vamos embora” – “Se sairmos, não terão quórum”. E o outro disse: “Mas se chegarmos ao quórum, damos o voto a Kirchner!”, e o outro: “Mas, prefiro dá-lo a Kirchner e não a Bergoglio!” Esta não é uma consciência bem formada.

E em relação às pessoas do mesmo sexo, repito aquilo que disse na viagem do Rio de Janeiro e que está no Catecismo da Igreja Católica.

Depois de Moscou, Cairo: existe algum outro degelo que se vislumbra no horizonte? Refiro-me à audiência que o senhor deseja com o Papa dos sunitas, chamemo-lo assim, com o imã da al-Azhar?

Sobre isto foi dom Ayuso ao Cairo, na semana passada, para encontrar o segundo dos imãs e também saudar o imã.Dom Ayuso é secretário do cardeal Tauran, do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Eu quero encontrá-lo, sei que ele gostaria, e estamos buscando a melhor maneira: sempre através do cardeal Tauran, porque este é o caminho. Mas vamos consegui-lo.

Ainda não chegamos em Roma e já estamos pensando nas futuras viagens, em fazer as malas novamente. Santo Padre, quando irá à Argentina, onde esperam pelo senhor há tanto tempo, e, quando retornará à América Latina ou irá à China… Uma frase: você, durante esta viagem, falou muitas vezes em sonhar. O que o senhor sonha? E, sobretudo, qual é o seu pesadelo?

A China, ir até lá: gostaria muito!

Quero dizer também uma coisa, uma coisa certa sobre o povo mexicano. É um povo de uma riqueza, de uma riqueza tão grande. É um povo que surpreende. Tem uma cultura, uma cultura milenar. Vocês sabem que hoje, no México, são faladas 65 línguas, contando os indígenas? 65! É um povo de uma grande fé, embora tenha sofrido perseguições religiosas, existem mártires – agora vou canonizar dois… dois ou três.

É um povo que não se pode explicar simplesmente porque a palavra “povo” não é uma categoria lógica, é uma categoria mítica. E o povo mexicano, não é possível explicá-lo, esta riqueza, esta história, esta alegria, esta capacidade de festa e estas tragédias das quais vocês perguntaram. Eu não posso dizer outra coisa, que esta unidade, também que este povo tenha conseguido não fracassar, não acabar com tantas guerras, e coisas que acontecem agora… Mas ali, em Ciudad Juárez, havia um pacto de 12 horas de paz para a minha visita, depois continuarão lutando entre si, os traficantes.

Mas um povo que ainda tem esta vitalidade, somente pode ser explicado por Guadalupe. E eu convido vocês para estudar seriamente o acontecimento Guadalupe. Nossa Senhora está lá. Eu não encontro outra explicação. E seria bonito se vocês, como jornalistas – existem alguns bons livros que explicam, também explicam a pintura, como é, o que significa. E assim se poderá compreender um pouco este povo tão grande e tão bonito.

Em que sonha, em italiano e em espanhol? O que pediu a Guadalupe?

Pedi pelo mundo, pela paz, por muitas coisas. A pobrezinha ficou com a cabeça assim… Pedi perdão, pedi para que a Igreja cresça saudável, pedi pelo povo mexicano…

Também, uma coisa que pedi muito é que os padres sejam verdadeiros padres e as irmãs, verdadeiras irmãs. E os bispos, bons bispos como o quer o Senhor. Por isto rezei tanto. Mas as coisas que um filho diz à Mãe são um pouco secretas.

Eu diria que sonho em esperanto. Não sei como responder a isto. Algumas vezes, sim, recordo algum sonho em outra língua, mas sonhar em língua não. Com figuras, sim; minha psicologia é assim. Com palavras sonho pouco

Sala de Imprensa do Vaticano, publicada por Religión Digital.

Zika

Pra variar, pinçaram ideologicamente o que lhes interessava dizer. A pergunta em questão foi essa aqui, feita por Paloma Garcia, da “Cope” (uma agência de notícias espanhola):

Santo Padre, há algumas semanas há muita preocupação em muitos países latino-americanos, mas também na Europa, sobre o vírus “Zika”. O risco maior seria para as mulheres grávidas: há angustia. Algumas autoridades propuseram o aborto, ou de se evitar a gravidez. Neste caso, a Igreja pode levar em consideração o conceito de “entre os males, o menor”?

Papa Francisco: O aborto não é um “mal menor”. É um crime. É descartar um para salvar o outro. É aquilo que a máfia faz, eh? É um crime. É um mal absoluto.

Sobre “mal menor”: mas, evitar a gravidez é – falemos em termos de conflito entre o quinto e o sexto Mandamento. Paulo VI, o Grande!, em uma situação difícil, na África, permitiu às religiosas de usar anticoncepcionais para os casos de violência. Não confundir o mal de evitar a gravidez, sozinho, com o aborto. O aborto não é um problema teológico: é um problema humano, é um problema médico. Mata-se uma pessoa para salvar uma outra – nos melhores dos casos. Ou por conforto, não? Vai contra o Juramento de Hipócrates que os médicos devem fazer. É um mal em si mesmo, mas não é um mal religioso, ao início: não, é um mal humano. Além disso, evidentemente, já que é um mal humano – como todos assassinatos – é condenado. Ao invés, evitar a gravidez não é um mal absoluto: e, em certos casos, como neste, como naquele que mencionei do Beato Paulo VI, era claro. Ainda, eu exortaria os médicos para que façam tudo para encontrar as vacinas contra estes dois mosquitos que trazem este mal: sobre isto se deve trabalhar. Obrigado.

Eu sei, eu sei… você leu, leu, leu e, no final das contas, ficou com a impressão de que ele disse isso mesmo, não foi? A questão é que ele se deteve em comparar o sexto com o quinto mandamento. E deixou claro: o aborto não é um problema religioso, é humano, porque tem a ver com assassinato, com escolher quem pode e quem não pode viver. É um crime!

A questão da contracepção acaba sendo menos grave (do ponto de vista não-religioso), porque é um problema teológico. É pecado. Mas você ainda está vivo pra poder consertar, ao contrário do aborto que é irreversível.

Dom Odilo Scherer fez exatamente a mesma observação em uma entrevista há pouco tempo atrás (Entrevista Dom Odilo). Ele coloca o aborto como crime e a contracepção como problema de liberdade. Só lembrando que optar por esperar um pouco para engravidar, não envolve necessariamente contracepção, já que pode ser feito por continência ou Método Billings!

O CASO DAS FREIRAS

Ok, ok… eles estão certíssimos. Mas e a questão das freiras? Não dá a entender que o Papa liberou a contracepção? Sim, se você for um jornalista ávido por uma declaração bombástica e pouco comprometido com a verdade dos fatos.

O caso das freiras liberadas por Paulo VI para tomar contraceptivos é muito extremo. As freiras estavam na iminência de serem violentadas sexualmente e, para evitar um mal maior ainda, foram autorizadas a utilizar pílulas anticoncepcionais. Lembrando que o sexo para um católico deve carregar duas características: unitiva e procriativa, coisa que só é possível de maneira responsável dentro do sagrado laço do Matrimônio. Obviamente, um estupro não se enquadra no que a Igreja entende como sexo (com finalidade unitiva e procriativa), logo, não há porque se estar aberto à vida. Mas essa é uma questão pontual, não uma regra! Tanto que precisou da aprovação de Paulo VI.

Aliás, vale acrescentar que, neste episódio, Paulo VI também recomendou que as freiras que porventura engravidassem devido à violência sexual, tivessem seus filhos, abandonassem o convento e assumissem sua maternidade. Ou seja, nada de aborto!

É claro que ser estuprada em guerra é completamente diferente de evitar o vírus Zika. Por isso, vale a orientação final do Papa Francisco:

Ainda, eu exortaria os médicos para que façam tudo para encontrar as vacinas contra estes dois mosquitos que trazem este mal: sobre isto se deve trabalhar.

Resumindo: aborto é crime, usar contraceptivos é pecado que pode ser tolerado em casos muito extremos e o Zika não é um deles – que se procure uma vacina.

Ponto final. O resto é tentativa de manipulação ideológica das palavras do Papa!

Leia a íntegra da entrevista clicando aqui.

Fonte: O catequista.