Regensburg

Na noite de 12 de setembro de 2006, minha esposa e eu estávamos jantando em Cracóvia com amigos poloneses quando um agitado vaticanista italiano (me perdoem pela redundância nos adjetivos) me ligou querendo saber o que eu achava “do louco discurso do papa sobre os muçulmanos”. Aquele foi, para mim, o primeiro indício de que o rebanho da imprensa mundial estava prestes a bombardear o que Bento XVI tinha dito em Regensburg (foto) ; uma suposta “gafe” que os meios de comunicação continuariam a trazer à tona o tempo todo, até o final daquele pontificado.

Oito anos depois, a palestra de Regensburg (Ratisbona) desperta reações bem diferentes. Aliás, quem de fato a leu em 2006 entendeu que, longe de cometer uma “gafe”, Bento XVI explorou com precisão acadêmica duas questões fundamentais, cujas respostas influenciariam profundamente a guerra civil que corroi as entranhas do islã: uma guerra cujo resultado determinará se o islã do século XXI é seguro para os seus próprios adeptos e seguro para o mundo.

A primeira questão era a liberdade religiosa: será que os muçulmanos conseguiriam encontrar, dentro dos seus próprios recursos espirituais e intelectuais, argumentos islâmicos que defendessem a tolerância religiosa (incluindo a tolerância para com quem se converte do islã a outras religiões)? O processo desejável, sugeriu o pontífice, deveria levar, ao longo do tempo (séculos, no caso), a uma teoria islâmica mais completa sobre a liberdade religiosa.

A segunda questão era a estruturação das sociedades islâmicas: será que os muçulmanos poderiam encontrar, também com base nos seus próprios recursos espirituais e intelectuais, argumentos islâmicos que defendessem a distinção entre autoridade religiosa e autoridade política dentro de um Estado justo? O desenvolvimento igualmente desejável desse processo poderia tornar as sociedades muçulmanas mais humanas em si mesmas e menos perigosas para os seus vizinhos, especialmente se vinculado a uma emergente experiência islâmica de tolerância religiosa.

O papa Bento XVI chegou a sugerir que o diálogo inter-religioso entre católicos e muçulmanos se concentrasse nessas duas questões interligadas. A Igreja católica, admitiu livremente o papa, tinha as suas próprias batalhas no tocante à liberdade religiosa em uma comunidade política constitucionalmente regulada, na qual a Igreja desempenhava um papel fundamental dentro da sociedade civil, mas não diretamente no governo. Mas o catolicismo tinha conseguido resultados interessantes: não capitulando diante da filosofia política laicista, e sim usando o que tinha aprendido da modernidade política para voltar à sua própria tradição, redescobrindo elementos do seu pensamento sobre a fé, a religião e a sociedade que tinham se perdido ao longo do tempo e desenvolvendo a sua doutrina sobre a sociedade justa do futuro.

Será que tal processo de recuperação e desenvolvimento é possível no islã? Esta foi a grande pergunta feita por Bento XVI na palestra de Regensburg.

É uma tragédia de proporções históricas que esta questão tenha sido, primeiro, mal interpretada, e, depois, ignorada. Os resultados desse mal-entendido e desse descaso (e de muitos outros mal-entendidos e muitas outras ignorâncias) estão agora sendo expostos de modo macabro no Oriente Médio: dizimação de antiquíssimas comunidades cristãs; barbaridades que chocaram o aparentemente inchocável Ocidente, como a crucificação e a decapitação de cristãos; países cambaleantes; esperanças despedaçadas de que o Oriente Médio do século XXI possa se recuperar das suas várias doenças culturais e políticas e encontrar um caminho para um futuro mais humano.

Bento XVI, tenho certeza, não sente prazer algum ao ver a história vingar o seu discurso de Regensburg. Mas os seus críticos de 2006 poderiam examinar em sua consciência o opróbrio que despejaram sobre ele há oito anos. Admitir que eles entenderam tudo errado em 2006 seria um bom primeiro passo para abordarem a própria ignorância sobre a guerra civil intra-islâmica que ameaça gravemente a paz do mundo no século XXI.

Aleteia

***

Veja abaixo a íntegra do Discurso.

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA BENTO XVI
A MÜNCHEN, ALTÖTTING E REGENSBURG
(9-14 DE SETEMBRO DE 2006)


DISCURSO DO SANTO PADRE
AOS REPRESENTANTES DO MUNDO CIENTÍFICO
E CULTURAL DA BAVIERA NA AULA MAGNA
DA UNIVERSIDADE DE REGENSBURG


Terça-feira, 12 de Setembro de 2006


“Fé, razão e universidade. Recordações e reflexões”

Eminências
Magnificências
Excelências
Ilustres Senhores
Gentis Senhoras

     É para mim um momento emocionante encontrar-me de novo na universidade e poder mais uma vez pronunciar uma lição. Os meus pensamentos, contemporaneamente, voltam àqueles anos em que, depois de um grande período passado no Instituto superior de Freising, comecei a minha actividade de professor académico na universidade de Bonn. Era em 1959 ainda o tempo da velha universidade dos professores ordinários. Para cada uma das cátedras não existiam nem assistentes nem dactilógrafos, mas em compensação havia um contacto muito directo com os estudantes e sobretudo também entre os professores. Encontrávamo-nos primeiro e depois das lições nas salas dos professores. Os contactos com os historiadores, os filósofos, os filólogos e naturalmente também entre as duas faculdades teológicas eram muito estreitos. Uma vez por semestre fazia-se o chamado dies academicus, no qual professores de todas as faculdades se apresentavam diante dos estudantes de toda a universidade, tornando assim possível uma experiência de universitas uma coisa à qual também o Senhor, Magnífico Reitor, se referiu há pouco isto é, a experiência, o facto de que nós não obstante todas as especializações, que por vezes nos tornam incapazes de comunicar entre nós, formamos um todo e trabalhamos no todo da única razão com as suas várias dimensões, estando assim juntos também na responsabilidade comum pelo recto uso da razão este facto torna-se experiência viva.

     Sem dúvida, a universidade era orgulhosa também das suas duas faculdades teológicas. Era claro que também elas, interrogando-se sobre a racionalidade da fé, desempenham uma obra que necessariamente faz parte do “todo” da universitas scientiarum, mesmo se nem todos podiam partilhar a fé, para cuja co-relação com a razão comum se comprometem os teólogos. Esta unidade interior no universo da razão não foi perturbada nem sequer quando certa vez filtrou a notícia de que um dos colegas dissera que na nossa universidade havia algo de anormal: duas faculdades que se ocupavam de uma coisa que não existia de Deus. Que mesmo perante um cepticismo tão radical seja necessário e normal interrogar-se sobre Deus através da razão e isto deva ser feito no contexto da tradição da fé cristã: no conjunto da universidade, isto era uma convicção fora de questão.

     Tudo me voltou à mente, quando li a parte publicada pelo professor Theodore Khoury (Münster) do diálogo que o douto imperador bizantino Manuel II, Paleólogo, talvez durante os meses do Inverno de 1391 em Ankara, teve com um persa culto sobre cristianismo e islão e sobre a verdade de ambos. Talvez tenha sido depois o próprio imperador quem escreveu, durante o assédio de Constantinopla entre 1394 e 1402, este diálogo; explica-se assim por que os seus raciocínios sejam referidos de modo muito mais pormenorizado do que os do seu interlocutor persa. O diálogo alarga-se sobre todo o âmbito das estruturas da fé contidas na Bíblia e no Alcorão e detém-se sobretudo sobre a imagem de Deus e do homem, mas necessariamente também sempre de novo sobre a relação entre as como se dizia três “Leis” ou três “ordens de vida”: Antigo Testamento, Novo Testamento, Alcorão. Não desejo falar disto nesta lição; gostaria de tratar só um assunto bastante marginal na estrutura de todo o diálogo que, no contexto do tema “fé e razão”, me fascinou e me servirá como ponto de partida para as minhas reflexões sobre este tema.

     No sétimo colóquio (διάλεξις, controvérsia) publicado pelo Prof. Khoury, o imperador enfrenta o tema da jihād, da guerra santa. Certamente o imperador sabia que na sua sura 2, 256 se lê: “Nenhuma coacção nas coisas de fé”. É uma das suras do período inicial, dizem os peritos, em que o próprio Maomé ainda não tinha poder e estava ameaçado. Mas, naturalmente, o imperador conhecia também as disposições, desenvolvidas sucessivamente e fixadas no Alcorão, sobre a guerra santa.

     Sem se deter em pormenores, como a diferença de tratamento entre os que possuem o “Livro” e os “incrédulos” ele, de modo tão brusco que nos surpreende, dirige-se ao seu interlocutor simplesmente com a pergunta central sobre a relação entre religião e violência em geral, dizendo: “Mostra-me também o que Maomé trouxe de novo, e encontrarás apenas coisas más e desumanas, como a sua ordem de difundir através da espada a fé que ele pregava”.

     O imperador, depois de se ter pronunciado de modo tão duro, explica minuciosamente as razões pelas quais a difusão da fé mediante a violência é irracional. A violência está em contraste com a natureza de Deus e a natureza da alma. “Deus não se apraz com o sangue diz ele não agir segundo a razão σὺν λόγω”, é contrário à natureza de Deus. A fé é fruto da alma, não do corpo. Por conseguinte, quem quiser levar alguém à fé precisa da capacidade de falar bem e de raciocinar correctamente, e não da violência e da ameaça… Para convencer uma alma racional não é necessário dispor nem do próprio braço, nem de instrumentos para ferir nem de qualquer outro meio com o qual se possa ameaçar de morte uma pessoa…”.

     A afirmação decisiva nesta argumentação contra a conversão mediante a violência é: não agir segundo a razão é contrário à natureza de Deus. O editor, Theodore Khoury, comenta: para o imperador, sendo um bizantino que cresceu na filosofia grega, esta afirmação é evidente. Para a doutrina muçulmana, ao contrário, Deus é absolutamente transcendente. A sua vontade não está relacionada com nenhuma das nossas categorias, mesmo que fosse a da racionalidade. Neste contexto Khoury cita uma obra do conhecido islamita francês R. Arnaldez, o qual ressalta que Ibn Hazm chega a declarar que Deus não estaria relacionado nem sequer com a sua própria palavra e que nada o obrigaria a revelar a nós a verdade. Se fosse a sua vontade, o homem deveria praticar também a idolatria.

     A este ponto abre-se, na compreensão de Deus e por conseguinte na realização concreta da religião, um dilema que hoje nos desafia de maneira muito directa. A convicção de que agir contra a razão esteja em contradição com a natureza de Deus, é apenas um pensamento grego ou é sempre válido e por si mesmo? Penso que neste ponto se manifeste a profunda concordância entre o que é grego no sentido melhor e o que é fé em Deus sobre o fundamento da Bíblia. Modificando o primeiro versículo do Livro do Génesis, o primeiro versículo de toda a Sagrada Escritura, João iniciou o prólogo do seu Evangelho com as palavras: “No princípio era o λόγος”. É precisamente esta a mesma palavra que o imperador usa: Deus ageσὺν λόγω”, com logos. Logos significa ao mesmo tempo razão e palavra uma razão que é criadora e capaz precisamente de se comunicar mas como razão. Com isto João deu-nos a palavra conclusiva sobre o conceito bíblico de Deus, a palavra na qual todos os caminhos muitas vezes cansativos e sinuosos da fé bíblica alcançam a sua meta, encontram a sua síntese.

     No princípio era o logos, e o logos é Deus, diz-nos o evangelista. O encontro entre a mensagem bíblica e o pensamento grego não era um simples caso. A visão de São Paulo, diante da qual se tinham fechado os caminhos da Ásia e que, em sonho, viu um Macedónio e ouviu a sua súplica: “Vem para a Macedónia e ajuda-nos” (cf. Act 16, 6-10) esta visão pode ser interpretada como uma “condensação” da necessidade intrínseca de uma aproximação entre fé bíblica e o interrogar-se grego.

     Na realidade, esta aproximação já tinha sido iniciada desde há muito tempo. Já o nome misterioso de Deus na sarça ardente, que afasta este Deus do conjunto das divindades com numerosos nomes afirmando apenas o seu “Eu sou”, o seu ser, é, em relação ao mito, uma contestação com a qual está em íntima analogia a tentativa de Sócrates de vencer e superar o próprio mito. O processo iniciado na sarça alcança, no Antigo Testamento, uma nova maturidade durante o exílio, onde o Deus de Israel, agora privado da Terra e do culto, se anuncia como o Deus do céu e da terra, apresentando-se com uma simples fórmula que prolonga a palavra da sarça: “Eu sou”.

     Com este novo conhecimento de Deus caminha em sintonia uma espécie de iluminismo, que se expressa de maneira drástica no escárnio das divindades que seriam apenas obra das mãos do homem (cf. Sl 115). Assim, não obstante toda a dureza do desacordo com os soberanos helenistas, que queriam obter com a força a adaptação ao estilo de vida grego e ao seu culto idolátrico, a fé bíblica, durante a época helenista, ia interiormente ao encontro da parte melhor do pensamento grego, até chegar a um contacto recíproco que depois se realizou especialmente na literatura sapiencial tardia.

     Hoje nós sabemos que a tradução grega do Antigo Testamento, realizada em Alexandria a “Septuaginta” é mais que uma simples tradução (que talvez se deva avaliar de modo pouco positivo) do texto hebraico: de facto, é um testemunho textual distinto e um especifico e importante passo da história da Revelação, no qual se realizou este encontro de uma forma que para o nascimento do cristianismo e para a sua divulgação teve um significado decisivo. No fundo, trata-se do encontro entre fé e razão, entre autêntico iluminismo e religião. Partindo verdadeiramente da natureza íntima da fé cristã e, ao mesmo tempo, da natureza do pensamento grego já fundido com a fé, Manuel II podia dizer: Não agir “com o logos” é contrário à natureza de Deus.

     Honestamente é preciso anotar a este ponto que, no final da Idade Média, se desenvolveram na teologia tendências que rompem esta síntese entre espírito grego e espírito cristão. Em contraste com o chamado intelectualismo agostiniano e tomista iniciou com Duns Scott uma orientação voluntária, a qual no fim, nos desenvolvimentos sucessivos, levou à afirmação de que nós de Deus só conheceremos a voluntas ordinata. Para além dela existiria a liberdade de Deus, em virtude da qual Ele teria podido criar e fazer também o contrário de tudo o que efectivamente fez.

     Aqui vêem-se posições que, sem dúvida, se podem aproximar às de Ibn Hazm e poderiam conduzir até à imagem de um Deus-Arbítrio, que não está relacionado nem com a verdade nem com o bem. A transcendência e a diversidade de Deus são acentuadas de modo tão exagerado, que também a nossa razão, o nosso sentido do verdadeiro e do bem já não são um verdadeiro espelho de Deus, cujas possibilidades abismais permanecem para nós eternamente inalcançáveis e escondidas por detrás das suas decisões efectivas.

Em contraste com isto, a fé da Igreja sempre se ateve à convicção de que entre Deus e nós, entre o seu eterno Espírito criador e a nossa razão criada exista uma verdadeira analogia, na qual como disse o Concílio Lateranense IV em 1215 sem dúvida as diferenças são infinitamente maiores que as semelhanças, mas contudo não até ao ponto de abolir a analogia e a sua linguagem. Deus não é mais divino pelo facto de que o afastamos para longe de nós num voluntarismo puro e impenetrável, mas o Deus verdadeiramente divino é aquele Deus que se mostrou como logos e como logos agiu e age cheio de amor em nosso favor. Sem dúvida, o amor, como diz Paulo, “ultrapassa” o conhecimento e é por isto capaz de compreender mais do que o simples pensamento (cf. Ef 3, 19), contudo ele permanece o amor do Deus-Logos, para o qual o culto cristão é, como diz ainda Paulo λογικη λατρεία” um culto que concorda com o Verbo eterno e com a nossa razão (cf. Rm 12, 1).

     A aqui mencionada recíproca aproximação interior, que se teve entre a fé bíblica e o interrogar-se sobre o plano filosófico do pensamento grego, é um elemento de importância decisiva não só sob o ponto de vista da história das religiões, mas também sob o ponto de vista da história universal um elemento que nos compromete também hoje. Considerado este encontro, não surpreende que o cristianismo, apesar da sua origem e de alguns seus desenvolvimentos importantes no Oriente, tenha por fim encontrado a sua marca historicamente decisiva na Europa. Podemos expressar isto também inversamente: este encontro, ao qual se acrescenta sucessivamente ainda o património de Roma, criou a Europa e permanece o fundamento do que, com razão, se pode chamar Europa.

À tese que o património grego, criticamente purificado, seja uma parte integrante da fé cristã, opõe-se o requerimento da deselenização do cristianismo um requerimento que desde o início da idade moderna domina de modo crescente a pesquisa teológica. Visto mais de perto, podem-se observar três ondas no programa da deselenização: apesar de estarem relacionadas entre si, elas nas suas motivações e nos seus objectivos são claramente distintas uma da outra.

     A deselenização emerge primeiro em ligação com os postulados da Reforma do século XVI. Considerando a tradição das escolas teológicas, os reformadores vêem-se diante de uma sistematização da fé condicionada totalmente pela filosofia, isto é, perante uma determinação da fé a partir de fora em virtude de um modo de pensar que não derivava dela. Assim a fé já não se apresentava como palavra histórica viva, mas como elemento inserido na estrutura de um sistema filosófico.

     A sola Scriptura ao contrário procura a forma pura primordial da fé, do modo como está presente originariamente na Palavra bíblica. A metafísica aparece como um pressuposto derivante de outra fonte, da qual é necessário libertar a fé para a fazer voltar a ser totalmente ela mesma. Com a sua afirmação de ter que pôr de lado o pensar para dar espaço à fé, Kant agiu com base neste programa com uma radicalidade imprevisível para os reformadores. Com isto ele ancorou a fé exclusivamente à razão prática, negando-lhe o total acesso à realidade.

     A teologia liberal dos séculos XIX e XX trouxe uma segunda onda no programa da deselenização: seu representante eminente é Adolf von Harnack. Durante o tempo dos meus estudos, como nos primeiros anos da minha actividade académica, este programa era fortemente operante também na teologia católica. Como ponto de partida era feita a distinção de Pascal entre o Deus dos filósofos e o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob. No meu discurso em Bonn, em 1959, procurei enfrentar este assunto e não pretendo retomar aqui todo o discurso. Mas gostaria de tentar ressaltar pelo menos em síntese a novidade que caracterizava esta segunda onda de deselenização em relação à primeira.

     Como pensamento central sobressai, em Harnack, o regresso simplesmente ao homem Jesus e à sua mensagem simples, que viria antes de todas as teologizações e, precisamente, também antes das helenizações: seria esta mensagem simples que constituiria o verdadeiro ápice do desenvolvimento religioso da humanidade. Jesus teria dado um adeus ao culto em favor da moral. Em conclusão, Ele é representado como pai de uma mensagem moral humanitária.

     A finalidade de Harnack no fundo é reconduzir o cristianismo em harmonia com a razão moderna, libertando-o, precisamente, de elementos aparentemente filosóficos e teológicos, como por exemplo a fé na divindade de Cristo e na trindade de Deus.

Neste sentido, a exegese histórico-crítica do Novo Testamento, na sua visão, coloca novamente a teologia no cosmos da universidade: teologia, para Harnack, é algo essencialmente histórico e, portanto, estrictamente científico. O que ela indaga sobre Jesus mediante a critica é, por assim dizer, expressão da razão prática e por conseguinte também sustentável no conjunto da universidade. Na base encontra-se a autolimitação moderna da razão, expressa de maneira clássica nas “críticas” de Kant, que entretanto foi ulteriormente radicalizada pelo pensamento das ciências naturais. Este conceito moderno da razão baseia-se, em síntese, num resumo entre platonismo (cartesianismo) e empirismo, que o sucesso técnico confirmou.

     Por um lado pressupõe-se a estrutura matemática da matéria, a sua por assim dizer racionalidade intrínseca, que torna possível compreendê-la e usá-la na sua eficiência concreta: este pressuposto básico e, por assim dizer, o elemento platónico no conceito moderno da natureza. Por outro lado, trata-se da utilizabilidade funcional da natureza para as nossas finalidades, onde só a possibilidade de controlar verdade ou falsidade mediante a experiência fornece a certeza decisiva. O peso entre os dois pólos pode, segundo as circunstâncias, estar mais de uma ou mais da outra parte. Um pensador tão estreitamente positivista como J. Monod declarou-se platónico convicto.

     Isto exige duas orientações fundamentais decisivas para a nossa questão. Só o tipo de certezas derivantes da sinergia de matemática e empírica nos permite falar de cientificidade. O que pretende ser ciência deve confrontar-se com este critério. E assim também as ciências que se referem às coisas humanas, como a história, a psicologia, a sociologia e a filosofia procuravam aproximar-se deste cânone da cientificidade. Contudo, é importante para as nossas reflexões o facto de que o método como tal exclui o problema Deus, apresentando-o como um problema acientífico ou pré-científico. Portanto, com isto encontramo-nos diante de uma redução do leque de ciência e razão que é obrigatório pôr em questão.

     Voltarei ainda sobre este assunto. Neste momento é suficiente ter presente que, numa tentativa de conservar o carácter de disciplina “científica” da teologia à luz desta perspectiva, do cristianismo restaria apenas um miserável fragmento. Mas devemos dizer mais: se a ciência no seu conjunto é apenas isto, então é o próprio homem que, com isto, sofre uma redução. Mas as interrogações propriamente humanas, isto é, as do “de onde” e do “para onde”, os questionamentos da religião e do ethos, não podem encontrar lugar no espaço da razão comum descrita pela “ciência” entendida deste modo e devem ser deslocados no âmbito do subjectivo. O sujeito decide, com base nas suas experiências, o que lhe parece religiosamente sustentável, e a “consciência” subjectiva torna-se portanto a única exigência ética.

     Mas, desta forma o ethos e a religião perdem a força de criar uma comunidade e terminam no âmbito da discricionalidade pessoal. Esta é uma condição perigosa para a humanidade: verificamos isto nas patologias ameaçadoras da religião e da razão patologias que necessariamente devem manifestar-se, quando a razão é limitada a tal ponto que as questões da religião e do ethos já não lhe dizem respeito. O que permanece das tentativas de construir uma ética partindo das regras da evolução ou da psicologia e da sociologia, é simplesmente insuficiente.

     Antes de chegar às conclusões que todo este raciocínio tem por finalidade, devo mencionar ainda em breve a terceira onda de deselenização que se difunde actualmente. Em consideração do encontro com a multiplicidade das culturas hoje há quem goste de dizer que a síntese com o helenismo, realizada na Igreja antiga, teria sido uma primeira inculturação, que não deveria vincular as outras culturas. Isto deveria ter o direito de retroceder até ao ponto que precedia aquela inculturação para descobrir a simples mensagem do Novo Testamento e inculturá-la depois novamente nos seus respectivos ambientes.

     Esta tese não é simplesmente errada; contudo é grosseira e imprecisa. De facto, o Novo Testamento foi escrito em grego e tem em si o contacto com o espírito grego um contacto que se tinha maturado no desenvolvimento precedente do Antigo Testamento. Sem dúvida existem elementos no processo formativo da Igreja antiga que não devem ser integrados em todas as culturas. Mas as decisões de fundo que, precisamente, se referem ao relacionamento da fé com a investigação da razão humana, estas decisões de fundo pertencem à própria fé e são os seus desenvolvimentos, conformes com a sua natureza.

     Com isto chego à conclusão. Esta tentativa, feita apenas em linhas gerais, de crítica da razão moderna a partir do seu interior, não inclui absolutamente a opinião de que agora se deva voltar atrás, à época anterior ao iluminismo, rejeitando as convicções da era moderna. Aquilo que no desenvolvimento moderno do espírito é válido, é reconhecido sem hesitações: todos estamos gratos pelas grandiosas possibilidades que ele abriu ao homem e pelos progressos no campo humano que nos foram proporcionados. O ethos da cientificidade, afinal, é como Vossa Magnificência mencionou vontade de obediência à verdade e, por conseguinte, expressão de uma atitude que faz parte das decisões fundamentais do espírito cristão.

     Por conseguinte, a intenção não é retracção, nem crítica negativa; ao contrário, trata-se de um alargamento do nosso conceito de razão e do seu uso. Porque com toda a alegria diante das possibilidades do homem, vemos também as ameaças que sobressaem destas possibilidades e devemos perguntar-nos como podemos dominá-las. Só o conseguiremos se razão e fé estiverem unidas de uma nova forma; se superarmos a limitação autodecretada da razão ao que é verificável na experiência, e lhe abrirmos de novo toda a sua vastidão. Neste sentido, a teologia, não só como disciplina histórica e humano-científica, mas como verdadeira teologia, ou seja, como interrogação sobre a razão da fé, deve ter o seu lugar na universidade e no amplo diálogo das ciências.

     Só assim nos tornamos também capazes de um verdadeiro diálogo das culturas e das religiões um diálogo do qual temos urgente necessidade. No mundo ocidental domina amplamente a opinião de que só a razão positivista e as formas de filosofia dela derivantes sejam universais. Mas as culturas profundamente religiosas do mundo vêem precisamente nesta exclusão do divino da universalidade da razão um ataque às suas convicções mais íntimas. Uma razão, que diante do divino é surda e rejeita a religião do âmbito das subculturas, é incapaz de se inserir no diálogo das culturas.

     Contudo, a razão moderna típica das ciências naturais, com o seu elemento platónico intrínseco, tem em si, como procurei demonstrar, uma pergunta que a transcende juntamente com as suas possibilidades metódicas. Ela mesma deve simplesmente aceitar a estrutura racional da matéria e a correspondência entre o nosso espírito e as estruturas racionais actuantes na natureza como um dado de facto, sobre o qual se baseia o seu percurso metódico. Mas a pergunta acerca do porque deste dado de facto existe e deve ser confiada pelas ciências naturais a outros níveis e modos do pensar à filosofia e à teologia.

     Para a filosofia e, de maneira diferente, para a teologia, ouvir as grandes experiências e convicções das tradições religiosas da humanidade, especialmente a da fé crista, constitui uma fonte de conhecimento; recusar-se significaria uma limitação inaceitável do nosso ouvir e responder.

     Vêm-me à mente a este ponto uma palavra de Sócrates a Fédon. Nos diálogos precedentes tinham sido tratadas muitas opiniões filosóficas erradas, e então Sócrates diz: “Seria muito compreensível se alguém, devido à irritação por tantas coisas erradas, para o resto da sua vida desprezasse qualquer discurso sobre o ser ou o denegrisse. Mas desta forma perderia a verdade do ser e sofreria um grande dano”.

     O ocidente, desde há muito tempo, está ameaçado por esta repulsa contra os questionamentos fundamentais da sua razão, e assim poderia sofrer unicamente um grande dano. A coragem de se abrir à vastidão da razão, não a rejeição da sua grandeza este é o programa com que uma teologia comprometida na reflexão sobre a fé bíblica, entra no debate do tempo presente. “Não agir segundo razão, não agir com o logos, é contrário à natureza de Deus”, disse Manuel II, partindo da sua imagem cristã de Deus, ao interlocutor persa. Para este grandelogos, para esta vastidão da razão, convidamos os nossos interlocutores no diálogo das culturas. Encontrá-la nós próprios sempre de novo, é a grande tarefa da universidade.

© Copyright 2006 – Libreria Editrice Vaticana

 

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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que as famílias muçulmanas devem rejeitar o planejamento familiar e o uso de métodos contraceptivos. Segundo ele, é responsabilidade das mães turcas garantir o crescimento contínuo da população do país, que se expandiu a uma taxa de 1,3% nos últimos anos – a taxa brasileira está em torno de 0,85%.

“Devemos multiplicar nossos descendentes”, declarou Erdogan em um discurso em Istambul. “Fala-se em contracepção, planejamento familiar. Nenhuma família muçulmana pode ter esta mentalidade”. “O que diz meu Deus, o que diz meu querido profeta, é o caminho que tomaremos”, acrescentou o chefe de Estado turco.

Não é a primeira vez que o presidente faz declarações deste tipo. No passado, ele já afirmou que as mulheres devem ter ao menos três filhos e comparou a contracepção a uma traição. Também já provocou a indignação das feministas ao afirmar que as mulheres não são iguais aos homens ou que a mulher é, acima de tudo, uma mãe. Pai de quatro filhos, Erdogan já se pronunciou a favor de limitar o direito ao aborto e da pílula do dia seguinte.

A população turca cresceu exponencialmente nos últimos anos. O país tem atualmente 79 milhões de habitantes. Em 2000, a população era de menos de 68 milhões.

Revista Veja

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Uma decisão que permite que dois estudantes muçulmanos se recusem a participar na tradição de apertar as mãos da professora desencadeou uma polêmica nacional na Suíça.

Os dois adolescentes tiveram a autorização para não cumprimentar a professora com um aperto de mão na escola em Basler Zeitung. no norte do país, após dizerem que tocar uma mulher fora do ambiente familiar ia contra a fé muçulmana.

Os meninos são irmãos, com 14 e 15 anos de idade, e um deles postou um material em sua página de Facebook em apoio do grupo que se intitula Estado Islâmico, segundo reportagem do jornal Basler Zeitung.

A decisão da escola vem enfrentando críticas, com o sindicato dos professores considerando discriminatória a atitude, de acordo com a BBC. Desde então, a escola ajustou a sua regra para afirmar que os dois meninos não devem apertar as mãos de homens ou mulheres.

O prefeito local, Reto Wolf, disse que os moradores locais estavam também insatisfeitos com a decisão.

“Na nossa cultura e no nosso modo de comunicação, um aperto de mão é normal e envia um sinal de respeito pela outra pessoa, e isso tem de ser ensinado às crianças na escola”, disse ele à BBC.

A ministra da Justiça, Simonetta Sommaruga, disse que os apertos de mãos fazem parte da cultura nacional e a decisão da escola não se enquadrava em sua visão de integração.

Algumas organizações muçulmanas a apoiaram. A Federação Suíça das Organizações Islâmicas afirmou não haver referência alguma no Alcorão que justifique a recusa no aperto de mão a uma professora, informou a BBC. Porém Conselho Central Islâmico da Suíça sustentou que os apertos de mãos entre homens e mulheres não são permitidos.

Os muçulmanos formam 5% da população no país alpino, que proibiu a construção de minaretes em um referendo em 2009.

Fonte: Religion News Service

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Os extremistas islâmicos parecem decididos a conquistar. Foi assim sempre. Desde o início e ao longo dos séculos, jihadistas radicais tentam converter as pessoas à sua religião pela força. “Converta-se” e depois chore, porque “nós não temos alternativa a lhe oferecer além da espada”.

O mundo assiste com horror aos lobos do Estado Islâmico em seus ataques contra cristãos e outros grupos minoritários. Os terroristas impõem às vítimas a escolha cruel entre abandonar as próprias casas, converter-se à força ao islã, pagar um pesado imposto por serem “infiéis” ou simplesmente enfrentar o assassinato. Na Nigéria, o Boko Haram aterroriza aldeias, sequestra crianças e incendeia igrejas na sua tentativa de estabelecer um califado, enquanto no Oriente Médio os cristãos são perseguidos, privados de seus direitos civis e marginalizados por uma série de regimes de base islâmica.

Qual é a resposta cristã? Como é que se ama o próximo quando o próximo quer cortar a sua garganta? Será que temos que lançar uma nova cruzada contra eles? Vamos devolver violência aos violentos? Vamos começar nós também a decapitá-los? Certamente, temos direito à legítima defesa, e a batalha de Lepanto, em 1571, é um histórico exemplo de tentativa cristã de se defender do avanço de um islã militante.

A resposta militar pode até proporcionar uma defesa relativamente adequada, libertar prisioneiros e promover uma justiça limitada e uma paz frágil, mas não resolve o problema mais profundo.
Uma pessoa pode ser forçada a se converter exteriormente a uma religião, a obedecer à lei islâmica sob a mira das armas ou sob a lâmina da espada, mas coração nenhum pode ser convertido pela força. É impossível coagir alguém a se converter de verdade.

E é especialmente impossível forçar a conversão ao cristianismo. O cristianismo, afinal, não é simplesmente uma religião de regras. É só pelo poder do Amor que alguém consegue verdadeiramente se converter a Cristo.

A única solução real e de longo prazo para o problema do islã radical é a conversão à plenitude da fé cristã. Começando pela nossa própria conversão autêntica.

Historicamente, o islã é uma forma truncada do cristianismo. Ele mistura um entendimento simplificado de Jesus Cristo com antigos costumes e leis tribais. Para um muçulmano, converter-se ao cristianismo implica aceitar Jesus Cristo como o Filho de Deus. Isto envolve o batismo em Cristo, em nome da Santíssima Trindade, e a aceitação da plenitude da doutrina cristã. Mas a conversão real é muito mais do que a mera adesão a uma lista de doutrinas.

É necessária uma completa conversão do coração e da mente.

Como todas as outras pessoas que se convertem ao cristianismo, os muçulmanos precisam se sentir atraídos pela bondade radiante, pela verdade e pela beleza de Jesus Cristo. Eles precisam enxergar o amor radical que Jesus Cristo oferece e compará-lo com a violência radical dos seus próprios extremistas. Como é que isto pode acontecer? Isto só pode acontecer pela intervenção sobrenatural do Espírito Santo de Deus.

Warren Cole Smith, entrevistando o missionário evangélico David Garrison, conta que um grande número de muçulmanos de todo o mundo está se convertendo ao cristianismo por causa de intensas experiências pessoais. Há movimentos maciços de muçulmanos que se voltam para Cristo, e não apenas como indivíduos, mas também como comunidades, havendo casos de grupos de ao menos 1.000 pessoas que foram batizadas, ou de centenas de igrejas que nasceram ao longo das duas últimas décadas… Um dos exemplos mais impactantes é o do Irã de hoje: muitas pessoas naquele país estão abraçando o cristianismo; dezenas de milhares, talvez centenas de milhares de iranianos, nas últimas décadas, têm aderido à fé em Jesus Cristo.

Como é que tais conversões acontecem?

Em seu livro “A Wind in the House of Islam” [“Um Vento na Casa do Islã”], Garrison explica que, além de haver alguns casos de experiências sobrenaturais, esses muçulmanos, no geral, percebem o amor, a vida e a luz que Cristo traz ao mundo. Quando o poder do amor de Cristo irradia do exemplo dos seus discípulos no mundo, as pessoas que andam nas trevas enxergam essa grande luz e desejam segui-la.

Um dos caminhos desse amor poderoso se expressa mais vividamente na face dos mártires. Quando um cristão morre com o perdão nos lábios e com um cântico no coração, muito pouca gente consegue deixar de se comover. Qualquer pessoa com um mínimo de humanidade, inteligência e compaixão enxerga a crueldade do assassino e a contrasta com a graça sublime demonstrada pelo mártir. É por isso que Tertuliano observou que o “sangue dos mártires é a semente da Igreja”.

As ações selvagens dos jihadistas radicais são chocantes para todas as pessoas sensatas e compassivas, mas a história tem a capacidade de mostrar que essas cruéis e sanguinárias execuções podem ser justamente o fator capaz de virar a maré contra o islã.

Pode demorar, mas a coragem, a paciência e o perdão dos mártires cristãos têm a força de fazer com que muitos voltem o seu coração e a sua mente para o Cristo Rei dos Mártires, aquele que mostrou, com a sua aceitação da morte, que o caminho para a Vida, para o Amor e para a Liberdade não passa pela força das armas, mas sim pelos braços abertos na cruz.

Padre Dwight Longrnecker

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O Custódio da Terra Santa, Padre Pierbattista Pizzaballa, Superior dos Franciscanos no Oriente Médio, consultou aos religiosos da região se desejam ser transferidos a lugares mais seguros ou permanecer junto às comunidades cristãs, algumas das quais foram severamente reduzidas pela violência. “Quase todos expressaram claramente a perspectiva de que só é correto permanecer nos povoados, sem considerar o número de fiéis ou o perigo que significa”, indicou o Superior, segundo o informativo Breitbart.

O sacerdote indicou também que os frades franciscanos “nunca abandonaram os lugares e as pessoas que a Igreja lhes confiou, inclusive com risco” e que “não poucos de nossos mártires, inclusive em tempos recentes, morreram em circunstâncias não muito diferentes da situação atual”.

“Um pastor não abandona seu rebanho e não pergunta se suas ovelhas valem muito ou pouco, se são numerosas ou se são jovens”, acrescentou o Custódio. “Para um pastor todas as ovelhas são importantes e ele as ama a todas da mesma maneira”. Nos territórios sob influência de grupos extremistas, os crentes não podem realizar manifestações públicas de Fé, como o são as procissões, o toque dos sinos e a exibição de símbolos cristãos ou imagens religiosas.

Um antecedente preocupante da situação atual se registrou em 2014, quando o sacerdote franciscano Frei Hanna Jallouf acudiu a uma corte de uma área ocupada por rebeldes a denunciar os abusos de brigadas extremistas contra o mosteiro. Como resposta, o presbítero foi encarcerado junto com vários jovens fiéis sob acusações de cooperação com o regime do presidente sírio. Eventualmente se permitiu mudar sua sentença para prisão domiciliar. (GPE/EPC)

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O Mosteiro de São Elias ficava em um morro ao norte da cidade de Mossul. Sua construção data de 1,4 mil anos atrás.

Por ele estar em uma área controlada pelo Estado Islâmico, de acesso restrito e difícil, não se tinha notícia de sua demolição. Mas estudiosos dizem que as imagens, obtidas pela agência Associated Press, sugerem que o mosteiro foi demolido no fim de 2014, pouco depois de o Estado Islâmico ter cercado a cidade.

Um padre católico de Mossul alertou que a história cristã estava sendo “barbaramente destruída”.

“Vemos isso como uma tentativa de nos expulsar do Iraque, eliminando e encerrando nossa existência nessa terra”, disse o padre Paul Thabit Habib, que agora vive na cidade curda de Erbil.

O Estado Islâmico tem atacado cristãos e outras minorias no Iraque e na Síria, tomando propriedades e forçando conversões ao islã, o pagamento de um imposto especial ou a saída do local.

‘Local de culto’

O grupo extremista também demoliu diversos mosteiros e igrejas, além de conhecidas locações pré-islâmicas, como Nimrud, Hatra e Nineveh, no Iraque, e Palmira, na Síria.

O Mosteiro de São Elias, ou Deir Mar Elia, teria sido construído por monges assírios no fim do século 6º. Mais tarde, passou aos domínios da Igreja Católica Caldeia.

Em 1743, seus monges receberam um ultimato das forças persas para se converterem ao islã. Eles recusaram, e ao menos 150 foram assassinados.

O padre Thabit disse à AP que o mosteiro “tornou-se um lugar de culto para visitantes cristãos e cerimônias religiosas e para os que vinham pedir perdão ao santo padroeiro”.

“O mosteiro atraía gente de Mossul – cristãos e muçulmanos. Todos os poetas, historiadores e viajantes escreveram sobre o mosteiro”, acrescentou. “Tornou-se um lugar muito importante da Igreja no Iraque”.

Em 1970, o mosteiro se transformou em base da Guarda Republicana Iraquiana. Em 2003, um de seus muros foi danificado por destroços de um tanque atingido por um míssil americano, durante a invasão dos Estados Unidos ao país.

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Um ônibus que cobria a linha Nairóbi-Mandera, na região norte do Quênia, passava pela localidade de El Wak, perto da fronteira com a Somália, quando covardes do grupo covardista Al-Shabaab o atacaram.

Todos os cerca de 60 passageiros tiveram de descer. Um deles, desesperado, tentou fugir para um matagal. Foi morto com tiros nas costas.

“Os não cristãos podem voltar para o ônibus”, ordenaram os covardistas ao grupo de viajantes.

Mas levaram a resposta que todo covarde merece: um gesto firme de total desprezo pela sua covardia.

“Ou matam todos nós, cristãos e muçulmanos, ou deixam todos ir embora”, declararam os passageiros muçulmanos, que, antes mesmo de desembarcar, já tinham dado a alguns dos cristãos as próprias roupas, para evitar que eles fossem identificados pela forma de vestir-se.

O grupo covardista, como acontece com todo covarde, ficou desconcertado diante do desafio à sua covardia medrosa. Tentaram disfarçá-la, como se fosse possível disfarçar a covardia, com algumas rajadas de metralhadora – deixando três pessoas feridas. E foram embora, sem concluir o ameaçado gesto de covardismo extremo.

Os covardistas do Al-Shabaab assumiram depois, mediante comunicado, a autoria do ataque. Eles disseram, mentirosamente (porque todo covarde é mentiroso), que “alguns inimigos cristãos foram mortos e outros feridos“, embora ainda não se saiba se o homem assassinado era mesmo cristão.

Covardismo rotineiro

Os atentados covardistas cometidos pelos complexados do Al-Shabaab contra os cristãos têm sido frequentes no Quênia. Em dezembro passado, outro ônibus foi atacado pelos covardistas (foto abaixo), que assassinaram 28 pessoas “por não saberem recitar o alcorão”. No começo deste ano, um ataque extremamente covarde na universidade queniana de Garissa matou 147 estudantes pelo mesmo e covardíssimo “motivo”.
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Os covardes do Al-Shabaab afirmam que seus ataques em solo queniano são uma represália pela participação do país na missão da União Africana que combate o covardismo jihadista na Somália.

Para o bispo de Garissa, dom Joseph Alexander, no entanto, esta nova tentativa de ataque covardista terminou com uma clara mensagem para os complexados criminosos: “O Al-Shabaab agora está sabendo que não tem o apoio da comunidade muçulmana do Quênia“.

Fonte: Aleteia

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Os muçulmanos identificados como os perpetradores dos ataques terroristas de 13 de novembro em Paris provinham de algumas das partes mais seculares do norte da Europa, onde o cristianismo, em particular o catolicismo, é fraco.

A pergunta que se apresenta é: Até que ponto o secularismo e um catolicismo fraco possivelmente desempenharam um papel na radicalização dessas pessoas? Nesta entrevista, concedida no dia 17 de novembro, o padre jesuíta Samir Khalil Samir, estudioso do Islã e pró-reitor do Pontifício Instituto Oriental em Roma, discute alguns dos problemas inerentes ao Islã, assim como as tendências secularistas que têm influenciado a difusão da violência muçulmana fundamentalista.

O Pe. Samir, nascido no Cairo, igualmente explica que o Islã dos séculos XII e XIII era “muito mais mente aberta” do que o Islã seguido por muitos muçulmanos hoje. “Retrocedemos em mil anos”, diz ele, porque o ensino das faculdades de teologia islâmica “não se baseia na razão”, conforme era “em algumas escolas da Idade Média”.

***

Por que o senhor acha que Paris foi o foco do ataque?

Primeiro, temos de lembrar que a França tem a mais alta proporção de muçulmanos nos países ocidentais: pelo menos 6 milhões – quase 10% da população – e eles são, em sua maioria, muçulmanos árabes os quais são mais fanáticos do que os demais, digamos, são mais fanáticos do que os indonésios ou os malaios.

Um outro aspecto é o pretexto do Charlie Hebdo e que o secularismo, na França, é verdadeiramente radical. Não se encontra isso na Itália ou na Alemanha. Na Alemanha, você pode ter a sua mesquita; na Itália, a atmosfera é mais cristã. A França e a Bélgica estão, enormemente, secularizadas e isso faz as pessoas pensarem que tais elementos são a fonte do mal.

Um terceiro motivo pode dever-se ao que a França fez na Líbia com Gaddafi, o que foi inaceitável. Também, o erro que o Ocidente está fazendo, livrando-se de ditadores, como os EUA fizeram com Saddam Hussein no Iraque, está tornando a situação ainda pior. O que a França fez com a Líbia foi deixar o país muito pior do que anteriormente. O que eles tentaram fazer com Assad [na Síria] provoca o que vemos agora.

A visão simplista – aquela de que, se destituirmos o ditador, iremos ter uma nova sociedade – é absurda. Primeiro temos de estudar a situação. Ditadores estão em todos os lugares. A questão é: Como garantir democracia, liberdade e segurança? Infelizmente, os ditadores garantem a segurança de todos, então as pessoas dizem: “Ok, nós não temos liberdade de expressão em uma ditadura, mas onde temos isso no Oriente Médio? Nós os defendemos por causa do dinheiro deles!” Isto é algo que ouvimos diariamente em nossa imprensa árabe: que tudo o que eles [os países ocidentais] querem é o nosso dinheiro.

A impressão é que o Ocidente é materialista e que a laicidade [ou secularismo] é mais materialista, e há algo de verdade aqui. Em outubro de 2010, os Estados Unidos anunciaram um contrato entre eles e a Arábia Saudita para o fornecimento de aviões de guerra na casa dos 60 bilhões de dólares, distribuídos ao longo de 10 anos. Em março de 2015, a Arábia Saudita comprou material militar na casa dos 6.4 bilhões de dólares e se tornou o maior comprador de armas no mundo. Ontem, eles decidiram comprar mais materiais bélicos, incluindo 13 mil bombas “inteligentes”, por U$ 1.29 bilhão. Enquanto isso, 8 milhões de imigrantes sírios estão tentando sobreviver.

Será que isso é, realmente, inocente? As pessoas leem estas manchetes e dizem: “Sim, este é o motivo daquelas coisas que estão acontecendo no mundo árabe”.

Muitos islâmicos radicais parecem vir de países europeus onde o secularismo está mais presente. Até que ponto um tal ambiente ajuda a alimentar a violência islâmica?

Parece claro que boa parte dos terroristas estão vindo da Europa. Há pouco li algo publicado pela Universidade de Al-Azhar [principal universidade do Islã no Cairo], dizendo que existem, no mínimo, 4 mil muçulmanos vindos da Europa. Entre eles, estão muitos cristãos – e da Bélgica, especialmente – que se converteram ao Islã. Em algumas regiões de Bruxelas (em particular, Molenbeek) ou outros lugares, existe uma concentração de jihadistas. Têm lugares aí onde a polícia nem mesmo entra. Eles são defendidos por jihadistas que impedem a polícia.

Então, a situação é bem estranha: são pessoas que não são mais cristãs, que certa vez foram cristãs e que se atraem por este comportamento violento em nome de Deus. Isso significa uma profunda crise religiosa nas igrejas cristãs, na Igreja Católica – e, ao mesmo tempo, significa uma propaganda dura, fanática por parte de entidades islâmicas. A maioria dos muçulmanos consideram esta abordagem como não sendo a certa, especialmente em nossa época. E, para os cristãos, obviamente, pensar que alguém está se tornando religioso porque ele está lutando por Deus é absurdo.

Dessa forma, existe um monte de pessoas que estão perdidas, milhares delas, na Europa, em Bruxelas e alhures, e a Igreja precisa fazer algo. A Igreja está fazendo coisas aqui e ali, mas é o começo de um movimento – trazer de volta o verdadeiro sentido da fé, de Deus, o sentido do nosso papel no mundo de hoje. Podemos ajudar mais sendo fiéis ao Evangelho, em lugar de adotar soluções feudais tiradas de alguns versos do Alcorão.

Alguns dizem que uma falta de acompanhamento moral em ajudar a orientar estes fundamentalistas para longe da violência parece ser um problema significativo – que não existe uma alternativa para o que eles estão ouvindo nas mesquitas, e que não existe uma voz forte de razão moral. Até que ponto isto deveria ser uma preocupação central?

Com certeza existe uma carência na formação cristã. Vemos isso em todos os lugares, na Europa especialmente. Nota-se esta carência nos seminários, em primeiro lugar. Estes não são a metade, nem mesmo um terço, do que eram 40 anos atrás – em todos os lugares. Talvez na Polônia ou na Europa oriental as coisas não sejam bem assim, mas certamente, na Europa ocidental, esta escassez está bem generalizada.

Numa diocese em que vou, em Hildersheim (na Alemanha), encontramos um ou dois [seminaristas] a cada ano se preparando para o sacerdócio, o que é, obviamente, muito pouco e não compensa o número de sacerdotes que morrem anualmente. Estou chegando a recém da França, onde estive numa diocese católica bem forte, em Toulon; mas, em Avignon ou em outras, é preciso três ou quatro dioceses para se ter um pequeno seminário. Na igreja onde eu servia na Alemanha 10 anos atrás, tínhamos o dobro do número de pessoas que vinham à missa aos domingos [em comparação com hoje].

Assim, temos que reagir, e percebo que há uma reação vindo das famílias, dos grupos que são um pouquinho tradicionais. Eles dizem: “Precisamos manter a fé em nossas famílias, assim como era antigamente”. Eles não são “conservadores extremos”; são cristãos muito bons, com muitos filhos em geral. Nesta semana eu convivi com uma família de seis filhos, e orávamos todas as manhãs e noites, uma pequena oração antes de comer – coisas que são bem simples, que eram feitas anos atrás, mas que se perderam [hoje em muitos casos]. Obviamente, no domingo toda a família foi à missa junto.

O senhor diria, portanto, que existe uma correlação entre aqueles países como a Bélgica e os do norte da Europa, onde a Igreja e a família são estão fracas, em termos de deixar um terreno fértil para este tipo de violência?

Acho que sim. Dou um outro exemplo: na França, existem grupos tentando ter contato com os muçulmanos, e mesmo para ter alguns muçulmanos que estão em busca de algo mais. Estive em Toulon ontem com um grupo onde havia 12 muçulmanos que se tornaram cristãos; eles estavam dando os seus testemunhos. Estavam bastante entusiasmados e possuíam uma profunda fé cristã. Dois deles não eram batizados ainda, mas já se consideravam cristãos em seus corações. Estes neófitos são muçulmanos de mente aberta. Não é que este movimento seja contrário ao islamismo, mas existem pessoas que descobriram o Evangelho como algo que as libertou e que as fez amigas de todas as pessoas.

Infelizmente, este movimento é, em geral, considerado por nossas igrejas, e mesmo pelos bispos, como indesejável. Fui a três congressos antes desse e, em todas as vezes, o bispo dizia: “Se vocês fizerem isso, não façam em nome da Igreja; façam em privado”. Desta vez, pela quarta vez, o presidente [do congresso] era o próprio bispo. Ele não é conhecido como alguém tradicional, mas falou: “Temos uma responsabilidade pelos muçulmanos, por toda a população – não somente pelos que vêm à Igreja”. Eis a nossa missão: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade” (Marcos 16,15; ver Mateus 28,19). Então, quando vemos a violência de algumas pessoas que se convertem ao Islã, é, muitas vezes, um sinal de as pessoas terem perdido todo o sentimento religioso e estarem tentando encontrar algo novo.

Até que ponto este problema é inerente ao Islã? Até que ponto o Islã fomenta este tipo de mentalidade?

Com certeza há um grande problema no Islã hoje, e ele é reconhecido pelos próprios muçulmanos. Os muçulmanos estão em crise. Dizem isso regularmente, mas não sabem como mudar ou ousar.

Para mim, o problema está, em primeiro lugar, na mente. Ele é ideológico. O problema é como interpretar o Alcorão, a tradição maometana e o hadith (registro dos ensinamentos, dizeres e ações de Maomé).

Se o interpretamos como uma abordagem política – converter o mundo inteiro ao Islã, porque esta é a última religião revelada, a melhor religião, e Maomé é o melhor modelo para todos –, concluímos que devemos aplicar o jihad, combater todos os demais.

E, assim, empregam-se todos os meios; olha-se para o Alcorão e para a tradição muçulmana, os versos e ensinamentos, falando aos seguidores: “Vocês precisam combatê-los até os converter ao Islã”. Podemos encontrar alguns versos assim. Podemos encontrar esta atitude no próprio Maomé – uma atitude agressiva, seja porque ele teve de se defender, seja porque quis difundir a sua crença no Deus único. Mas, conforme disse o Papa Francisco: “Não podemos servir a Deus com violência. Isso é contra Deus. Não podemos fingir que estamos fazendo algo positivo”.

Até que ponto a formação influi?

A formação [para o jihad] é difundida em muitas mesquitas, em inúmeros livros e em escolas. Vi, num livro para crianças – em uma apologia ao jihad –, dizendo ser este o passo final para um bom muçulmano. Isso é inaceitável; e se se difunde esta abordagem, eliminando uma interpretação do Alcorão para a nossa época, então estamos retrocedendo. Em certo sentido, na Idade Média eles eram muito mais mente aberta do que o são hoje.

Se retrocedêssemos mil anos e lêssemos numa cartilha sobre o que os muçulmanos esperam no paraíso, o resultado seria diferente do de hoje: as virgens, os frutos e as águas de então não eram vistos como materiais, porque não há corpo. Esta interpretação não mais é difundida; em vez disso, há uma interpretação literal do Alcorão. Então, eu acho que retrocedemos mil anos, porque o ensino nas faculdades de teologia islâmica, até mesmo na Al-Azhar, não se baseia na razão. A interpretação do Alcorão e da tradição islâmica não está baseada na razão, conforme era em algumas escolas na Idade Média. Para muitos teólogos muçulmanos, a razão é vista como contrária à revelação. A propósito, esta é exatamente a crítica do Papa Bento XVI em sua famosa palestra na Universidade de Regensburg (Ratisbona), em 12 de setembro de 2006, a qual provocou uma reação muçulmana violenta.

O senhor também diria que este desafio se torna ainda maior devido a um Ocidente que é a antítese de suas crenças cristãs tradicionais – a respeito do qual Bento XVI advertiu em Ratisbona se tratar de um choque entre, essencialmente, um laicismo “frio” versus um Islã “superquente”?

Sim, mas Bento estava distinguindo claramente entre aquilo que vivemos no Ocidente e o laicismo certo (o “laicismo saudável”, como ele diz). Em sua exortação apostólica depois do Sínodo sobre o Oriente Médio, no parágrafo 29, ele afirma existir uma falta interpretação da laïcité [outra palavra para o secularismo] e uma boa interpretação. Você está certo quando diz que a Europa, muitas vezes, teve uma abordagem ruim à modernidade.

Os muçulmanos sabem que a modernidade vem do Ocidente; isso é um fato. Agora, eles veem o Ocidente como tendo perdido a sua ética, especialmente em questões sexuais. Ficam muito chocados com o que veem ou ouvem. Então, dizem que estas coisas decorrem da modernidade. Querem rejeitar os excessos e abusos de alguns princípios, mas acabam rejeitando a coisa toda. O problema é que o Ocidente é o responsável, sem saber, pela reação do mundo islâmico.

Poder-se-ia dizer que o Ocidente, em particular a Europa, tendo virado suas costas a Deus, está levando o Estado Islâmico (ISIS) a essencialmente completar a lacuna?

Sim. A questão é: Como nos confrontamos com a modernidade? Quando a Europa ainda era cristã em seu estilo e em sua prática, a modernidade era vista como um acréscimo. Hoje, ela é vista [pelos muçulmanos fundamentalistas] como a causa de uma tradição infiel, laica – e, portanto, eles a rejeitam dizendo: “Nós vamos voltar para a época do Profeta”. Isso se chama salafismo, do árabe “salaf”, termo para referir os companheiros de Maomé, ou a primeira geração depois dele. Então, a solução para a maioria dos intelectuais religiosos, hoje, é voltar ao “salaf”, reproduzindo exatamente o que foi feito pelo Profeta, como eles o chamam, até com sua barba, mesmo eles não sabem como ela era ou como ele costumava comer, etc.

Existe um princípio no Islã que poderia ser usado para libertar as pessoas, que é o de não olhar para a sharia [a lei islâmica] literalmente, mas, pelo contrário, olhar para a chamada Maqāsid al-Sharia – quer dizer, as metas e os objetivos da sharia, empregando a pergunta “Por que…?” – perguntando: Por que temos esta decisão no Islã?

Um exemplo com os alunos que tive, metade muçulmanos e metade cristãos. Digo que a lei islâmica afirma que alguém é ladrão: o Alcorão diz que devemos cortar a sua mão fora, e se ele voltar a roubar, então devemos cortar o seu pé, e assim por diante. Na Arábia Saudita, eles estão fazendo isso e pensam que estão sendo fiéis ao Alcorão. Agora, se nos perguntarmos: “Qual o objetivo desta lei? É fazê-lo não ser capaz de furtar”. Então, temos que nos focar no objetivo.

Hoje, pergunto aos meus alunos: Não existem outros meios de ajudar um ladrão? Talvez ele esteja numa situação de fome, não tendo formação e, portanto, nunca vai conseguir um emprego. Desse modo, a solução é educar para que ele possa ter um trabalho ao invés de roubar. Mas essa forma de pensar é muito rara. O modelo predominante é: tomam-se literalmente o Alcorão e os dizeres do Profeta – milhares de dizeres, reunidos em grandes volumes –, tome-os literalmente e, em seguida, aplique-os.

O senhor diria que, essencialmente, o que temos é um choque entre heresias do Islã, as quais Hilaire Belloc certa vez chamou de uma heresia cristã, e as heresias da modernidade e do modernismo?

Sim. Elas resultam ou da aplicação literal do Alcorão ou caem naquilo que eles enxergam no Ocidente. As pessoas não encontram um caminho mediano, para dizer: “Nós recusamos isto e aquilo do Ocidente, e nós também recusamos a aplicação material desta e daquela tradição islâmica”, o que significa que foi feito um discernimento. Isso é o emprego da razão em teologia, na interpretação do Alcorão, a “tafsīr” [exegese]. É isso o que não se consegue hoje.

O problema é, primeiramente, teológico, e então ele move-se para a guerra, o terrorismo… Para mim, a solução é a educação dos imãs moderados, imãs de mente aberta, não somente os que estudaram religião, como fazem na Universidade de Al-Azhar e alhures, mas também aquelas pessoas que se formam em matemática, física, filosofia, história, estudos culturais comparados, e assim por diante; além desses, o Alcorão, os estudos tradicionais e do hadith, com o que se vai fazer uma ponte entre ambos e reinterpretar o Islã de acordo com o nosso conhecimento diário de hoje, o conhecimento moderno. Mas nós estamos aplicando o Alcorão como ele foi dito às pessoas no século VII no deserto. Hoje, nós não mais estamos no deserto, e já se passaram 14 séculos.

Até quando o senhor acha que vai continuar esta violência? Até que ponto a vê difundindo-se pelo Ocidente?

Pode levar décadas. A violência é tal e, se não fizermos nada, eles irão vencer. Se deixarmos a Síria lutar sozinha, eles lutarão usando métodos militares e destruirão todo o país para salvar o seu próprio povo, em ambos os lados. Os terroristas não estão cientes do desastre que estão fazendo. Mas o governo está também reagindo com todos os meios. E mesmo que [esta resposta governamental] não queira matar pessoas inocentes, inocentes são também mortos diariamente. Li que houve, até hoje, 230 mil mortes na Síria. É enorme.

O que o senhor gostaria de ver a Igreja fazer? Talvez trazer de volta um senso de moralidade para dentro do Ocidente, um renascimento da Igreja na Europa, para neutralizar esta força?

Sim, penso que precisamos fazer uma grande renovação no Ocidente e na abordagem cristã à vida. Porém a tendência secular é tão forte que, se você fala como um verdadeiro cristão, dizem: “Ah, você é tão antiquado”.

Por exemplo, tomemos a liberdade ao divórcio ou viver juntos sem se casar, e então quando você se casa daí pode se separar quando quiser, etc. Agora se está ensinando que existem tipos [diferentes] de famílias. Vi isto num livro escolar na França: temos uma família com um homem, uma mulher; com dois homens juntos; duas mulheres juntas; e então a família tradicional, com um homem e uma mulher. Está-se destruindo a sociedade e a ética. Isso não é algo exclusivamente cristão…

Quando os muçulmanos veem tais coisas, imediatamente lembram que a homossexualidade é absolutamente condenada no Alcorão, com referência ao personagem bíblico Ló. (Ver os capítulos 7, 80-81; 11, 77-82; 15, 58-74; 21, 74; 26, 165-166; 27, 54-55; 29, 28-30; 54, 33-34.) Em alguns casos, pessoas foram queimadas vivas. Então os muçulmanos dizem: “Ok, o Ocidente é cristão, o cristianismo permite isso, e então o cristianismo não é a verdadeira religião; é uma falsa religião. E nós queremos ser verdadeiros, queremos ficar com o Alcorão e a tradição”.

O que significa que somos, em parte, indiretamente responsáveis pelo fanatismo que está se difundindo cada vez mais no Islã como uma reação ao Ocidente – não só, mas isso também – e desempenhando um papel na radicalização desta religião.

O que mais a Igreja pode fazer?

No geral, nós temos uma grande responsabilidade. Independentemente do que aconteceu, nós cristãos temos uma bela e importante responsabilidade. Temos de ajudar os muçulmanos a superar esta realidade. Podemos ajudá-los mais do que eles próprios, porque fomos até o fim em todas as novas interpretações da Bíblia e porque estamos lutando dentro da Igreja, por exemplo, dentro da Igreja Católica, contra algumas tendências de um secularismo rígido. Assim, temos o mesmo objetivo, mas possuímos mais experiência.

Nós também temos a oportunidade de ter uma autoridade iluminada na pessoa do papa; e este repetiu dias atrás, a antes ainda, que “a “violência jamais pode ser uma solução divina. Eu jamais posso brigar fisicamente por Deus. A luta é espiritual”. Era este o significado da palestra de Bento XVI em Ratisbona e que foi mal interpretado.

Portanto, uma resposta é construir uma verdadeira amizade com os muçulmanos, para dizer que nós estamos juntos contra a laicidade extrema. Concordamos com vocês em algumas questões, vamos nos ajudar para sermos mais espirituais e ter uma abordagem mais espiritual a Deus e à religião.

E, no fim, se tornar católicos?

Sim, certamente. As últimas palavras de Mateus: “Vão e proclamem o Evangelho a todo o mundo” são uma obrigação de amor para cada cristão. Não é propaganda política; é permitir a liberdade espiritual que o Evangelho, que Cristo trouxe ao mundo. Então, não é simplesmente opcional; é uma ordem, mas uma ordem para a liberdade, para a vida e para a alegria. Com os muçulmanos, assim como com os cristãos, nós temos de reevangelizar os cristãos, os muçulmanos e os ateus, e pregar a Boa Notícia.

Se o Evangelho é o tesouro mais belo que temos, como podemos nos recusar em partilhá-lo com os outros, especialmente se eles estão em crise?

A entrevista é de Edward Pentin, publicada por National Catholic Register

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Muçulmano praticante, médico de formação, ensaísta, especialista na questão do islã na França e autor do livro “França-Islã: o choque dos preconceitos”, Malik Bezouh conversou com Aleteia.

Aleteia: Como você analisa a atmosfera na sociedade francesa depois dos ataques?

Malik Bezouh: Há um medo geral, as pessoas estão claramente com medo. Quanto aos muçulmanos, eles estão inquietos e temem as generalizações. Mesmo assim, temos que sair dessa postura vitimista. Mas só responder às generalizações é estéril. Não podemos nos contentar com isso. O que precisamos é dar mais um passo e explicar. A nossa sociedade está em uma encruzilhada. Este drama é um “agora ou nunca” para fazermos uma espécie de “psicoterapia nacional”.

Qual é a posição que os muçulmanos da França devem adotar?

Existe uma dificuldade com a nossa religião: o fundamentalismo que se expressa através desses ataques não é uma doença, mas sim um sintoma muito mais profundo. Nós temos que ser capazes de dizer que o mundo muçulmano está doente. Seria bom que reconhecêssemos as nossas falhas. Poucos dias antes dos ataques, eu recebi uma “fatwa” nas redes sociais me condenando à morte porque eu sou um “reformador”. Eu não vou desistir, já que eu também sou um ativista do patriotismo francês. Eu acredito no amor da França, eu tenho que me comprometer, isso está nas minhas entranhas. Os católicos têm aprendido a lidar com o anticlericalismo galopante e com a cristianofobia. O islã também tem que aprender a lidar com essa realidade.

Como você vê a reação dos franceses de “cultura” católica?

Eu acho que, no geral, a reação é sadia. A cultura católica fez a França ter valores nobres que ajudam a aliviar as tensões. Felizmente, a cultura católica está aqui para oferecer uma vontade de fraternidade entre os franceses! Esta cultura moldou a França e os franceses; o imaginário dos franceses se banha nela. Reconciliações, reencontros e debates são mais possíveis do que nunca. Eu estou otimista, porque a França é forte, ela já passou por muita coisa desde os tempos do rei Clóvis. Somos muitos, hoje, trabalhando para melhorar o relacionamento entre as diferentes comunidades.

Sendo muçulmano, como você contribui para esse diálogo?

Eu estou empenhado no “proselitismo patriótico”. Por isso, eu gostaria de expressar ostensivamente o meu amor pela pátria francesa.

Fonte: Aleteia

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O álbum mais recente do cantor Justin Bieber foi banido de alguns países por ser “muito religioso” e “muito provocante”.

A imagem da capa de ‘Purpose’ [Propósito] uma colagem feita em parceria com o artista de rua RETNA, foi divulgada em 9 de outubro. Poucos dias depois, foi proibida em vários países do Oriente Médio, assim como na Indonésia. Em todos a população é predominantemente muçulmana.

A data oficial de lançamento é 13 de novembro. Aparentemente, a figura de Bieber sem camisa e com a imagem da tatuagem de uma cruz em seu peito foi considerada ofensiva por líderes islâmicos. A gravadora ainda não disse se fará o lançamento nesses países com outra imagem, mas a tendência é que isso ocorra.

Este é o seu quarto álbum de estúdio, onde Bieber deve marcar uma mudança de estilo. Ele trabalhou com o produtor musical Rick Rubin, o DJ Skrillex e o rapper Kanye West.

O jovem artista disse recentemente que quer “viver como Jesus.” Também insiste que está fazendo mudanças em sua vida e deseja “usar a voz para um propósito maior”. Ainda não se conhece todas as músicas do novo disco, por isso é impossível afirmar se elas têm conteúdo religioso.

Em uma entrevista à revista Complex, Bieber falou abertamente sobre como Jesus foi a sua salvação no meio da angústia que vivia. “Nós poderíamos nos libertar de todas as nossas inseguranças… toda mágoa, toda dor, todo medo, todo trauma… Temos o maior curador de todos e seu nome é Jesus Cristo. Ele realmente cura”. Declarou ainda que sua vida mudou completamente quando entendeu que Jesus pagou pelos seus pecados.

Ano passado, o site TMZ afirmou que o popstar estaria se preparando para ser pastor em um futuro próximo. Ele cancelou sua agenda lotada de shows e eventos para ficar duas semanas numa espécie de retiro espiritual na Califórnia.

Desde que se batizou na igreja Hillsong, o cantor canadense vem falando mais abertamente sobre sua fé em Jesus. Usa as redes sociais para citar versículos e fala com os fãs sobre oração. Com certa regularidade posta versículos e fala sobre oração com seus seguidores nas redes sociais.

Charisma News

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A história do missionário Zhang começa com uma visão: “Um dia eu estava orando e tive uma visão – uma mulher mulher estava derramando uma garrafa de óleo precioso sobre Jesus. Jesus olhou para mim e perguntou: ‘O que é mais valioso para você?’ Eu refleti e busquei a resposta do fundo da minha alma, e respondi: ‘Minha vida é o que tenho de mais valioso, e estou disposto a lhe dar. Use-a, Senhor, com o teu poder’. Esse era o meu forte desejo, me tornar um missionário e trabalhar entre os muçulmanos”, revela Zhang.

“Meu primeiro contato com os muçulmanos do meu país foi durante uma viagem missionária de curto prazo, quando eu era estudante do segundo ano. Poucos anos depois de minha formatura, tive a oportunidade de participar de uma pesquisa de campo, da Portas Abertas, na China. Me deram a oportunidade de ensinar em uma escola, em um vilarejo muçulmano. A sugestão foi a de que eu não pregasse o evangelho diretamente, mas que eu apenas construisse relacionamentos e compartilhasse o amor, com respeito”, lembra.

Zhang conta o quanto se surpreendeu quando um garoto muito tímido, que mal tinha falado na classe, foi para a frente e disse, ainda de cabeça baixa: “Eu não acreditava no amor, não sabia que existia, mas depois de conhecer você, eu vejo que estava errado. O amor realmente existe”. Zhang relembra: “Comecei a chorar por ver que o amor transformou o coração daquele menino. Jesus pode derrubar as paredes da religião, e derreter o gelo das diferenças culturais”.

Segundo Zhang, milhares de chineses muçulmanos deixam seus lares para chegar até essas escolas. “Confesso que, no início, uma parte de mim dizia que seria muito difícil viver entre os muçulmanos da China, mas no fundo eu sabia que faria um trabalho significativo, através do amor de Cristo. Deus é bom! Nós não somos super-heróis para salvar o mundo, mas somos filhos de Deus e só precisamos fazer o nosso trabalho”, comenta Zhang e finaliza: “Meu objetivo é ajudá-los a crescer, para que um dia, eles possam impactar suas próprias comunidades”.

Paulo Teixeira

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Através de uma petição chamada “Não toque na minha igreja” (Touche pas à Mon Eglise), que já colheu 25 mil assinaturas, católicos franceses estão regindo à proposta de ceder igrejas vazias para realização de celebrações muçulmanas. A ideia teria surgido em uma entrevista de Dalil Boubakeur, principal líder da Grande Mesquita de Paris, mas ele alega ter sido mal interpretado.

O movimento recebeu nesta semana o apoio do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, que está em plena campanha para a presidencial de 2017 e tem mirado no combate ao radicalismo islâmico como plataforma eleitoral.

Alguns aliados de Sarkozy avaliam que o líder se engajou precipitadamente na campanha, que é encabeçada pela revista Valeurs Actuelles. Isso porque, na avaliação de muitos deles, há um certo exagero – para não dizer engano – em toda a polêmica.

Em uma entrevista concedida no mês passado, um dos principais líderes muçulmanos franceses, Dalil Boubakeur, foi perguntado se concordaria em utilizar igrejas católicas abandonadas ou vazias para suprir a carência de espaços para o culto islâmico. Boubakeur respondeu: “É um problema delicado, mas por que não?”. E argumentou: “É o mesmo Deus e os ritos são vizinhos, fraternais. Muçulmanos e cristãos podem coexistir”.

Foi o que bastou para o escritor Denis Tillinac lançar a campanha através da Valeurs Actuelles. Pesquisa encomenadada pela publicação indica que 67% dos franceses seriam contra a ideia – o número atingiria 72% entre os católicos. O manifesto ainda teve apoio de outro ex-presidente, Valéry Giscard d’Estaing (1974 – 1981), e do escritor Éric Zemmour, entre outras personalidades de direita.

De olho em 2017

Nesta sexta-feira (10), Boubakeur negou que tenha feito qualquer proposta ou que cogite a possibilidade de utilizar igrejas abandonadas. Para ele, o mal entendido estaria sendo utilizado politicamente. Desde que voltou a ser a principal voz da oposição, no posto de presidente do partido Os Republicanos, de centro-direita, Nicolas Sarkozy intensificou seus ataques ao radicalismo islâmico.

Com a retomada, ainda que lenta, da economia francesa, Sarkozy parece apostar todas suas fichas no fato de que o terrorismo e a segurança diante do radicalismo islâmico serão a grande questão do pleito de 2017 – ao contrário de 2012, quando a crise econômica barrou sua reeleição, conduzindo os socialistas ao poder. No último atentado em que um homem foi decapitado, próximo a Lyon, em junho, Sarkozy disse que há uma guerra em curso contra a França e, sempre que pode, evoca as “raízes cristãs” francesas.

Com informações RFI