A cinco anos da eleição do Papa Francisco, Vatican Insider entrevistou o arcebispo Víctor Manuel Fernández, reitor da Universidade Católica da Argentina, teólogo muito próximo do Pontífice.

Qual é o balanço destes primeiros cinco anos de Pontificado? Quais foram suas maiores características?

Não gostaria de me distrair mencionando algumas realizações na política internacional, nem sequer os êxitos que possa ter conseguido na reforma da Cúria ou das finanças vaticanas. Porque isso implicaria uma visão um tanto mundana. Deixemos que os meios de comunicação se dediquem a essas análises. Nós, católicos, acreditamos no mistério do Espírito que desata os nós e transforma a realidade ao seu modo e em seus tempos. Se me perguntar o que fez Gandhi, posso lhe dizer que já não recordo exatamente as ações e os êxitos que teve. Mas, sem dúvida, sei que deixou uma marca importantíssima na história e que provocou mudanças que não deixaram a humanidade do mesmo modo.

Qual é a mensagem que mais passou, tanto dentro como fora da Igreja?

No caso de Francisco, acredito que não se esquecerá seu convite constante, com palavras e gestos, a voltar à frescura do Evangelho e seu coração feito de misericórdia e de justiça para com os mais fracos. Ao mesmo tempo, não deixará de ressoar a reivindicação por uma Igreja mais despojada, alegre e capaz de sair de si no diálogo e o serviço. Mesmo que alguns, no futuro, pretendam retroceder a esse respeito, acredito que a grande reforma irreversível de Francisco, já conquistada, consiste em que isso dificilmente será aceito. 

Qual é a reforma mais importante que o Papa Francisco espera para a Igreja?

O aprofundamento disto que já mencionei. Ainda há muitos membros da Igreja que falam pouco de Jesus Cristo, que não vibram de afeto e admiração quando o mencionam, que preferem julgar os defeitos alheios e baixar normas éticas como rochas, com o propósito de não aceitar a dinâmica de anunciar o amor incondicional de Deus a cada pessoa, de transmitir o amor próximo e salvador de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, ainda há muitas resistências para se deixar as comodidades das estruturas que nos dão segurança, mas que cada vez atraem menos quantidade de fiéis.

Não lhe parece que existe o risco de se reduzir as mensagens do Papa a “slogans”, que, como todos os “slogans”, acabam vazios, ou seja, utilizados segundo conveniências, mas sem uma mudança verdadeira?

Os grandes santos e reformadores, aqueles que provocaram mudanças reais na Igreja e na história, não foram amigos de slogans, mas, sim, de gestos e entregas. Contudo, há tempo que na Igreja vivemos de slogan. Por exemplo, há aqueles que dizem ser “a favor da vida”, mas preferem que não se fale dos imigrantes, do compromisso com os mais pobres, da luta pela justiça para que menos gente morra por desnutrição ou por doenças que poderiam ser curadas. Esse é um slogan. Igualmente, outros repetem frases de Francisco como slogan, e até falam da “primavera da Igreja”, talvez para não parecer opositores ou para se assegurar algum posto na Igreja, mas caso se olhe para os seus hábitos, suas ações, suas insistências e suas opções, parecem não responder ao espírito deste Papa. É um modo de se fechar ao vento transformador do Espírito, sendo “politicamente correto”.

Os meios de comunicação (e não só) enfatizaram muito características humanas e simpáticas do Papa Francisco, que o tornaram um personagem popular e amado. Não existe o perigo de que se torne muito “personagem” e que se concentre muita atenção em sua pessoa?

É verdade. No entanto, ele nunca foi amante do culto às personalidades. Quando ele aprecia muito alguém, diz-lhe: “Humilhe-se”. Entrega-se muito à proximidade com o povo porque isso tem a ver com sua valorização da religiosidade popular, e ele quer que seu papado seja um sinal encarnado da proximidade terna e misericordiosa de Jesus. Mas, quem não vê isto a partir da mais autêntica fé católica, acaba esquecendo o fim de tudo, que é Jesus, e fica no personagem. É como “ficar no dedo que aponta a lua”. Isto tem um grave risco, porque produz o efeito contrário: se veem um erro ou um ponto frágil, ou se um dia o Papa não sorri porque está fraco ou doente, para eles, o personagem é rompido. 

Alguns falam muito (às vezes, exagerando sua importância) das chamadas “resistências” internas, fenômenos que também viveram seus predecessores. De que modo contam e incidem na vida cotidiana da Igreja?

Incidem mais que antes, em razão do enorme peso dos meios de comunicação e das redes sociais. Antes, poucas pessoas liam um jornal. Hoje, são muitos os que seguem as notícias pela Internet, e os meios de comunicação em geral destacam o que faz muito barulho, o negativo, as críticas. Anos atrás, um senhor muito conservador e negativo só falava com sua esposa, porque nem os vizinhos suportavam ouvi-lo. Agora, essas pessoas podem abrir um blog e também difundir mentiras e calúnias, ou suspeitas infundadas, e sempre terá leitores. Também pode dedicar todo o dia a opinar nos fóruns de Internet e sua voz se expande. As personagens mais moderadas e serenas, que são a maioria, parecem atuar menos neste sentido. Na Argentina, onde houve nos últimos dois anos uma forte e persistente campanha de desprestígio nos meios de comunicação e nas redes, o Papa, no entanto, mantém 80% de aprovação, segundo as pesquisas mais sérias. Mas, esses 80% fazem pouco ruído. 

É correto que, após a publicação da “Amoris Laetitia”, há “confusão” na Igreja de hoje?

Amoris Laetitia implica uma mudança paradigmática no modo de tratar situações complexas, ainda que isso não implique que abra todas as portas. Certamente, vai além da possibilidade de que alguns divorciados em segunda união possam comungar. Esta mudança, que nos impede de ser muito duros e matemáticos em nossos juízos, é muito incômoda para alguns. Porém, é impossível dizer que há “confusão” depois que o Papa fez publicar uma nota nas Acta Apostolicae Sedis como “magistério autêntico”. Só o Papa pode tomar uma decisão desse tipo e Francisco a tomou. Portanto, não há confusão. Já sabemos o que o Papa pede. Outra coisa é você gostar ou não, considerar adequada ou não. Mas, então, não se deve dizer: “é confuso”. É preciso dizer: “não gosto”. Ou então: “Eu prefiro uma Igreja com normas mais rígidas”.

As diferentes reformas nos organismos da Cúria romana ainda estão sendo realizadas. Em que medida são importantes as reformas estruturais?

É dada muita importância a estas reformas, mas são as mais “reversíveis”. Poderá vir outro Papa e criar uma Cúria enorme. Além disso, as pessoas que existirem nessas estruturas serão determinantes. Contudo, acredito que Francisco também conseguiu “desmistificar” para sempre a Cúria vaticana, que só poderá ser compreendida como um organismo de serviço ao Papa, que não o substitui, nem aos bispos.

Como o Papa vivencia os casos relacionados aos escândalos dos abusos? As normas para combater o fenômeno existem, mas também será possível mudar a mentalidade?

Sei que sofre muito por este assunto, porque neste caso se destrói o sentido profundo do ministério sacerdotal, chamado a “cuidar”. Em espanhol este sentido está destacado, porque se chama o sacerdote de “cura”. O “cuidado” é uma característica do sacerdócio que Francisco carrega muito no coração. Acredito que a mentalidade está mudando nesta linha, ainda que às vezes os processos necessitem de seus tempos para evitar injustiças.

Vatican Insider

No encontro privado há alguns dias com os párocos romanos, Francisco falou de sua década de “desorientação”, até 1992. Ele disse ter vivido “o tempo de uma grande desolação, um tempo obscuro”.

“Eu pensava – continuou – que já era o fim da minha vida”, porque, “sim, eu era confessor, mas com um espírito de derrota”. E ainda: “Eu rezei muito, nesse tempo, mas estava seco como uma madeira”, porque “eu acreditava que a plenitude da minha vocação estava em fazer coisas”. No entanto, “não abandonei a oração, e isso me ajudou”.

O Papa Francisco não tem medo de falar de si, entrando até nos momentos mais reservados e, ao mesmo tempo, obscuros da sua vida. As palavras que ele mesmo diz de improviso, ao se encontrar, na semana passada, com os párocos de Roma na Basílica de São João de Latrão, são a parte mais íntima de sua vida e vão desvendar, com simplicidade, o tempo de uma espécie de noite escura vivida pelo futuro papa na Argentina, entre o início dos anos 1980 e 1992, ano em que João Paulo II o nomeou bispo auxiliar de Buenos Aires.

Depois de um telefonema do núncio vaticano na Argentina, Ubaldo Calabresi, “eu abri, depois, outra porta”, contou. Bergoglio, que completou 45 anos em 1981, vivia um momento de difícil passagem da sua vida. Depois de ter se tornado, com apenas 37 anos, o superior da província argentina da Companhia de Jesus e, depois, reitor do Colégio Máximo de San Miguel, tornou-se confessor, cargo no qual não se achou completamente.

Passou um período na Alemanha, dedicado a terminar uma tese de doutorado sobre Romano Guardini, que, porém, nunca chegaria a defender, e depois partiu para Córdoba, onde, “como trabalho”, foi diretor espiritual e confessor da Igreja da Companhia de Jesus.

Foram anos duros para ele, de escuridão, até mesmo de incompreensões dentro da Companhia, um período que os biógrafos definem como “exílio”. E nos quais Bergoglio muitas vezes teve que repetir para si mesmo: “Agora eu não sei o que fazer”.

Ele nunca imaginaria o que aconteceria depois: a nomeação a bispo auxiliar, a liderança de toda a diocese de Buenos Aires, a eleição ao sólio de Pedro em 13 de março de 2013, exatamente há cinco anos.

É verdade, como ele mesmo revela em um livro-entrevista escrito com o sociólogo francês Dominique Wolton, ainda em 1978, ele viveu um período de inquietação – “o demônio do meio-dia”, como é chamada na Argentina a crise da meia-idade – enfrentado, “durante seis meses, uma vez por semana”, com uma psicanalista judia que o ajudou muito.

Mas aqui parece que ele teve que enfrentar algo mais profundo, uma crise na vocação, resolvida apenas graças à oração e, em particular, a uma relação “face a face com o Senhor, falando, conversando, dialogando com Ele”.

A noite escura é de muitas mulheres e homens de fé, “um espinho na carne”, diz São Paulo. João da Cruz escreve sobre isso e fala da noite dos sentidos e do espírito, momento de labuta, sofrimento, dúvida, sensação de solidão e de abandono por parte de Deus. Uma escuridão, explica o carmelita espanhol, desejada por Deus para purificar o alma da ignorância e libertá-la dos apegos a afetos, pessoas e coisas, que as impedem de ter o ímpeto para o alto e para a união amorosa com Ele.

Ela foi vivida, entre muitos, também por Teresa de Calcutá, que se sentiu por muito tempo “abandonada por Deus”. Ela sorria para todos, mas dentro de si não tinha nada mais do que escuridão.

Bergoglio não chegou a dizer que se sentiu abandonado por Deus. No entanto, sua desorientação é real. Mas, confidenciou aos padres romanos, para muitos sacerdotes pode ser assim: “É um momento áspero, mas libertador. O que passou, passou”. Depois “há outra idade, outro seguir em frente”.

E, de fato, tudo mudou posteriormente. O jesuíta que, em 1978, ouviu, enquanto estava no carro, que haviam eleito Karol Wojtyla ao sólio de Pedro, um homem cujo nome ele custa a repetir, partiu para Roma em 2013, convencido de voltar para casa logo.

As coisas ocorreram de forma diferente. Bergoglio se tornou Francisco e ficou longe da sua Argentina. Mas a crise dos anos de Córdoba passou, hoje. Aos seus colaboradores, ele repete que não sente saudade alguma do seu país. Ele escolheu morar em Santa Marta não por rejeitar o luxo do apartamento apostólico, mas porque aqueles quartos lhe parecem um funil ao contrário, uma porta pequena na entrada de espaços grandes demais.

Em Santa Marta, ele vê as pessoas, reza, trabalha, não se sente sozinho. A estrada é plana. A noite escura já parece ter desaparecido.

La Repubblica

Depois do pequeno acidente na Colômbia, que lhe custou uma ferida no olho e na bochecha esquerda, e do de Dhaka, Bangladesh, onde um poste de luz quase caiu sobre ele, mais uma desventura ocorreu com o Papa Francisco no papamóvel, desta vez no Chile.

Enquanto passava a bordo do carro descoberto entre as dezenas de milhares de fiéis pelas ruas do Parque O’Higgins, em Santiago do Chile, onde celebrou a sua primeira missa em terras chilenas, o pontífice foi atingido na cabeça por um jornal jogado por alguém presente na grande multidão.

Francisco, que nunca parou de sorrir, simplesmente se virou, olhando para seus pés para ver do que se tratava.

Nada de grave, mas os homens de segurança logo levantaram o nível de guarda, considerando-se também os protestos que acompanharam esse primeiro dia da viagem do papa ao país sul-americano.

Um grupo de manifestantes queria se aproximar justamente do Parque O’Higgins e foi disperso pelas unidades antimotim da polícia chilena, com alguns confrontos isolados.

O vídeo do jornal jogado contra o papa, enquanto isso, viralizou na web.

Vatican Insider via IHU

Em 28 de julho de 2013, último dia da viagem apostólica do Papa Francisco ao Brasil, foi celebrada a Missa de encerramento da XXVIII Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Participaram daquela celebração eucarística, também chamada de “Missa de Envio“, cerca de 3,7 milhões de peregrinos.

Número histórico

De todas as edições da JMJ já realizadas no mundo, foi a segunda com mais fiéis reunidos, atrás apenas da edição de 1995 na capital filipina, Manila, com 4 milhões de peregrinos.

A prefeitura do Rio de Janeiro afirmou que a Missa de Envio da JMJ 2013 foi o maior evento já realizado em toda a história da Cidade Maravilhosa do ponto de vista da quantidade de pessoas presentes. E isso considerando grandes shows e festivais internacionais de música ocorridos na cidade, um carnaval que é apelidado de “maior espetáculo da Terra” e um réveillon que é reconhecido entre os mais concorridos do planeta.

O próprio Ministério do Turismo do Brasil informou que a JMJ 2013 trouxe a maior movimentação de turistas da história do país até então.

Quem pagou a conta?

O custo estimado do evento católico foi de R$ 118 milhões. Quem pagou foi a própria Igreja, mediante o seu Comitê Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013. A participação do governo do Estado e da Prefeitura do Rio de Janeiro se concentrou no que já é sua obrigação: a segurança e o atendimento médico das pessoas. O prefeito carioca da época, Eduardo Paesconfirmou este fato em entrevista à Rádio Globo:

“Quem paga pelas despesas da JMJ é o Comitê Organizador Local (COL), criado pela Igreja Católica. Não pagamos pelo palco, pelos shows, pela hospedagem do Papa. Tudo o que tem a ver com a infraestrutura do evento é pago pelo COL da JMJ”.

Paes reafirmou que os governos federal, estadual e municipal devem colocar à disposição da população serviços como saúde e segurança, da mesma forma que o fazem em quaisquer grandes aglomerações de pessoas, como o carnaval, o réveillon e, para citar outro exemplo de evento religioso, a “Marcha para Jesus”, organizada anualmente por denominações evangélicas.

Mesmo assim, houve protestos enviesados: já no primeiro dia de visita do Papa Francisco ao Rio de Janeiro, manifestantes contrários ao que chamavam de “gastos públicos com um evento religioso particular” entraram em conflito com a polícia.

2017-2018: na maior crise da história do Rio, o maior show de fogos da história do Rio

Neste réveillon que deu as boas-vindas a 2018, um Rio de Janeiro onipresente nos noticiários graças ao ápice da crise econômica, política, social e moral que o assola há anos realizou a sua maior queima de fogos de artifício de todos os tempos.

Ao contrário do ano anterior, em que, devido à crise, houve apenas um palco para os shows e 12 minutos de queima de fogos, o réveillon de Copacabana nesta virada de 2017 para 2018, apesar da crise que não apenas prosseguiu como ainda piorou, contou com mais shows que se estenderam pela madrugada: DJ Tucho, Alex Cohen, Ana Petkovic, Belo, Cidade Negra, Frejat, Anitta, DJ Luis Henrique e as escolas de samba Portela e Mocidade Independente de Padre Miguel, vencedoras do carnaval 2017. 12 telões gigantes espalhados pela praia destacavam cenas tanto dos shows quanto da queima de nada menos que 25 toneladas de fogos de artifício, disparados a partir de 11 balsas na baía da Guanabara e que adornaram os céus de Copacabana durante 17 minutos, diante de um público de 2,4 milhões de pessoas, conforme dados divulgados pela Riotur.

Para organizar os shows pirotécnicos de réveillon no Rio de Janeiro, são necessários em média 90 dias de preparação e uma equipe de 1.500 pessoas.

Segundo o presidente da Riotur, Marcelo Alves, o investimento para este réveillon foi de R$ 25 milhões, sendo 82% captados junto à iniciativa privada. Entre os gastos, foram estimados pelo menos 8 milhões de reais com estruturas de palco a serem bancadas pela prefeitura. O BNDES(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) foi um dos “patrocinadores” do evento, com 2 milhões de reais – dinheiro que também é público. Este patrocínio foi dado mediante a Lei Rouanet, criada em 1991 para incentivar projetos culturais e fomentar novos talentos, mas que está continuamente na berlinda por bancar projetos de grandes artistas já consagrados, bem como por acusações de favorecimentos, falta de transparência e adoção de critérios ideológicos favoráveis a projetos alinhados com a assim chamada “agenda da esquerda”.

Vida real

Enquanto isso, o Rio de Janeiro registra hospitais municipais com superlotação, falta de insumos, equipamentos danificados e cidadãos que morrem na fila à espera de um atendimento que não é prestado. Servidores públicos dependem de esmolas de amigos e familiares para sobreviver aos atrasos contínuos no pagamento dos seus salários. Pelo menos duas empresas de ônibus que atendiam ao município deixaram de operar e outras estão em litígio com a prefeitura, aumentando a crise no transporte público da cidade. Os números da violência equivalem aos de países em guerra, com casos frequentes de balas perdidas que matam civis dentro de suas próprias casas e crianças dentro de suas próprias escolas, além de um número recorde de policiais executados. Regiões da cidade são controladas quase inteiramente pelo crime organizado, diante da impotência do Estado e do fracasso das suas políticas de segurança.

Já no primeiro dia deste novo ano, a página inicial dos principais sites de notícias do país estampam: “Rocinha, no Rio, tem intenso tiroteio nas primeiras horas de 2018“.

O atual prefeito, Marcelo Crivella, da Igreja Universal do Reino de Deus, remete a culpa pela falta de recursos, na maior medida, à Olimpíada de 2016. Já o ex-prefeito Eduardo Paes rebate dizendo que “não se contraiu um real de dívida para se construir qualquer estádio para a Olimpíada. Todos já estão pagos”.

Um mês antes de resolver conceder seu “patrocínio” ao réveillon, o BNDES chegou a dizer, pela boca de seu presidente Paulo Rabello de Castro, que “o Rio de Janeiro está em estágio terminal“.

O remédio terá sido queimar fogos durante 17 minutos?

Sabedoria e esperança. Alegria e coragem. Diálogo com os jovens de outras religiões e com os idosos, e discernimento para “reconhecer e rejeitar falsas promessas de felicidade”. O tão aguardado encontro com jovens na Universidade Notre Dame de Daca, capital de Bangladesh, começou com um pequeno atraso em relação ao horário previsto, 15h20 (hora local).

A viagem asiática do Papa termina com este encontro com jovens de diferentes religiões. Muitos deles são estudantes de escolas católicas de Bangladesh. Francisco foi recebido com entusiasmo, cantos e danças tradicionais em uma festa cheia de cores e alegria. Após a saudação, feita por dom Gervas Rozario, o Pontífice argentino ouviu atentamente o testemunho de dois jovens estudantes da universidade, Upasana Ruth Gomes e Anthony Toranga Norek, e depois respondeu às suas perguntas lendo o documento que tinha preparado para a ocasião.

“Santo Padre, você compreende as nossas fadigas”, disse a jovem. “Nós nos entusiasmamos facilmente, mas, ao mesmo tempo, nos sentimos confusos, desanimados, frustrados, não sabemos qual direção tomar e, às vezes, nos perdemos. Muitas vezes, somos tão instáveis e emocionalmente vulneráveis que a nossa vida parece não ter sentido. Vendo as injustiças do mundo, a falta de respeito pela Criação, a divisão nas famílias, os maus tratos e os perigos a que as mulheres e as crianças estão expostas, sentimo-nos realmente desanimados e impotentes”.

Anthony, por sua vez, disse: “Estamos empenhados em viver. Tentamos agir de diferentes maneiras de acordo com a justiça, amar com ternura e caminhar humildemente, deixando que Deus guie os nossos passos. Mas a mensagem de paz e de cura, da cura que desejamos ouvir, nem sempre chega aos nossos ouvidos”.

“Vocês, jovens – disse o Papa Francisco ao tomar a palavra –, têm algo de único: vocês estão sempre cheios de entusiasmo, e sinto-me rejuvenescer toda vez que encontro vocês”, e precisamente “esse entusiasmo juvenil está relacionado ao espírito aventureiro. Um dos seus poetas nacionais, Kazi Nazrul Islam, expressou isso definindo a juventude do país como ‘arrojada’, ‘habituada a arrancar a luz do ventre das trevas’”.

“Os jovens – continuou Francisco – estão sempre prontos para avançar, fazer tudo acontecer e arriscar. Eu animo vocês a avançar com esse entusiasmo em boas e más circunstâncias. Avançar, especialmente naqueles momentos em que vocês se sentem oprimidos por problemas e tristezas e, olhando ao redor, parece que Deus não se faz ver no horizonte”.

Mas também recomendou: ao avançar, “certifiquem-se de escolher o caminho certo. O que significa isto? Isso significa saber ‘viajar’ na vida, e não ‘vagar’ sem rumo”, orientando-se por esse ‘software’ que está naturalmente dentro de cada um de nós, que “nos ajuda a discernir seu programa divino e a responder-lhe com liberdade. Mas, como qualquer software, também este precisa ser constantemente atualizado. Mantenham atualizado o seu programa, ouvindo o Senhor e aceitando o desafio de fazer a sua vontade”, pediu Bergoglio.

E também falou sobre a “sabedoria”, que é “a única coisa que nos orienta e nos faz avançar no caminho certo”, “a sabedoria que nasce da fé”, e não “a falsa sabedoria deste mundo. É a sabedoria que se vislumbra nos olhos dos pais e avós que depositaram sua confiança em Deus. Como cristãos, podemos ver em seus olhos a luz da presença de Deus, a luz que descobriram em Jesus, que é a mesma sabedoria de Deus. Para receber essa sabedoria, devemos ver o mundo, a nossa situação, os nossos problemas, tudo, com os olhos de Deus”.

“Essa sabedoria nos ajuda a identificar e rejeitar as falsas promessas de felicidade”, explicou o Papa, “uma cultura que promete falsas promessas não pode libertar; conduz apenas a um egoísmo que enche os nossos corações de escuridão e amargura. A sabedoria de Deus, pelo contrário, nos ajuda a saber como acolher e aceitar aqueles que agem e pensam de maneira diferente de nós. É triste quando começamos a fechar-nos em nosso pequeno mundo e a nos retrair sobre nós mesmos. Então adotamos o princípio ‘ou é como eu digo ou não se faz nada’, acabando enredados, fechados em nós mesmos. Quando um povo, uma religião ou uma sociedade se tornam um ‘pequeno mundo’, perdem o melhor que têm e se precipitam em uma mentalidade presunçosa, que faz dizer: ‘eu sou bom, você é mau’”.

Por isso, o Papa convidou os jovens a abrir-se aos outros e a “olhar para além das nossas comodidades pessoais e das falsas garantias que nos deixam cegos perante os grandes ideais que tornam a vida mais bonita e digna de ser vivida”. Nesse sentido, Francisco disse que estava feliz porque, junto com os católicos, havia também muitos jovens muçulmanos e de outras religiões no campo esportivo da universidade. “Com o fato de se encontrarem aqui hoje – disse – mostram a sua determinação de promover um clima de harmonia, onde se estende a mão aos outros, apesar das suas diferenças religiosas”.

Ele recordou, dessa maneira, uma experiência que teve em Buenos Aires, em uma nova paróquia de uma área extremamente pobre, cujos equipamentos foram construídos por um grupo de estudantes. “Fui e, quando cheguei à paróquia, o padre apresentou-os um a um, dizendo: ‘Este é o arquiteto, é judeu, este é comunista, este é católico praticante’. Aqueles estudantes eram todos diferentes, mas estavam todos trabalhando pelo bem comum. Estavam abertos à amizade social e decididos a dizer ‘não’ a qualquer coisa que pudesse afastá-los do propósito de estarem juntos e se ajudarem uns aos outros”.

O Papa concluiu com este desejo para as novas gerações desta porção da Ásia: “Que a sabedoria de Deus continue a inspirar o seu compromisso de crescer no amor, na fraternidade e na bondade”. “Isshór Bangladeshké ashirbád korún!” (Que Deus abençoe Bangladesh!), exclamou o Papa ao se despedir. Após o encontro, o Papa Bergoglio dirigiu-se ao aeroporto internacional para a despedida oficial.

Fonte: Vatican Insider

Uma dezena de perguntas. Por expressa vontade do papa, todas concentradas na viagem a Myanmar e Bangladesh. Apesar do cansaço da visita dupla, também nesta ocasião Francisco não se isentou da já tradicional coletiva de imprensa no avião, entretendo-se com os jornalistas por quase uma hora.

Ele disse que, por enquanto, uma viagem à China não está em preparação, enquanto gostaria de ir à Índia no ano que vem. Ele contou como nasceu o seu pedido de perdão aos Rohingya e explicou por que usou essa palavra apenas na sexta-feira à noite (“O que me interessava era que chegasse a mensagem”, em síntese, não queria que esse uso obstaculizasse o diálogo com as autoridades que, ao contrário, ocorreu e, de sua parte, foi muito claro: “Eu não negociei a verdade”, afirmou).

Além disso, ele também apontou que, mesmo com o general birmanês Hlaing, a mensagem chegou claramente (não se pode voltar atrás) e que, hoje, no Myanmar, antes de fazer julgamentos sobre o governo democrático, é preciso se perguntar o que ele pode fazer e o que ele não pode fazer naquela situação.

O papa também enfatizou que sempre preferiu o diálogo às denúncias, porque, com o diálogo, a mensagem pode chegar mais facilmente.

Sobre a posse das armas atômicas, por fim, o papa reiterou o seu pensamento: estamos no limite da legalidade moral, porque são armas capazes de destruir a humanidade.

Palavras pronunciadas no voo de volta, que concluiu no aeroporto romano de Fiumicino às 21h40 (hora local) desse sábado à noite, com uma antecedência de uma hora em relação ao programa oficial.

Eis, aqui, um resumo das suas respostas mais significativas.

Sobre o encontro com os Rohingya e o uso da palavra

Francisco lembrou que não foi a primeira vez que a pronunciou em público, mas especificou que escolheu “comunicar passo a passo”, porque, para ele, “o mais importante é que a mensagem chegue”.

“Estou muito satisfeito com as conversas que pude ter, porque tive a satisfação de dialogar, de fazer o outro falar, de dizer a minha opinião, e, assim, a mensagem chegou. E chegou a tal ponto que continuou e terminou ontem, com aquele encontro”, razão pela qual se disse agradecido ao governo de Bangladesh, que acolheu 700 mil refugiados, enquanto há países mais ricos que fecham as portas.

Quanto ao pedido de perdão, ele se deixou guiar pela inspiração e também ficou um pouco com raiva, porque queriam logo mandar embora os 16 Rohingya presentes.

“Depois de ouvi-los um por um com o intérprete, comecei a sentir algo dentro de mim e me disse: não posso deixá-los ir embora sem uma palavra. Pedi o microfone, mas não lembro o que eu disse. Eu sei que, em certo ponto, pedi perdão. Naquele momento, eu chorava, tentava que não se visse. Eles também choravam.”

A ideia do envolvimento na oração dos outros líderes religiosos também lhe veio de repente. “No entanto – concluiu – a mensagem chegou”, e “ninguém fez críticas”. Francisco também especificou que gostaria de ter visitado os campos de refugiados, mas que não foi possível por várias razões.

Por fim, um golpe contra o pequeno grupo de fundamentalistas em um povo que, ao contrário, é pacífico: eles desencadearam a reação do Exército, que não fez distinção entre bons e maus.

Sobre o encontro com o general Hlaing, chefe do Exército birmanês

Foi ele quem pediu o encontro, disse Francisco. “E eu consenti, porque, com o diálogo, sempre se ganha”. “Foi uma boa conversa”, acrescentou. “Não posso entrar em detalhes, porque foi uma conversa privada. Mas eu não negociei a verdade. Mas fiz com que ele entendesse que um caminho como era nos maus tempos [isto é, no tempo da ditadura militar], renovada, hoje, não é mais viável. Foi um belo encontro, civil, e também lá a mensagem chegou.”

À pergunta se a antecipação do encontro escondia, por parte do general, a vontade de dizer: “Aqui quem manda sou eu”, Francisco respondeu que, mais do que a intenção, importava para ele o diálogo.

Também lhe perguntaram se, na conversa, ele usou a palavra Rohingya, e ele respondeu assim: “Eu usei as palavras para chegar à mensagem e, quando vi que a mensagem era aceita, ousei dizer tudo o que queria dizer. Intelligenti pauca”.

Sobre as críticas internacionais a San Suu Kyi e sobre a situação em Myanmar

Para julgar, é preciso considerar que a situação está em um ponto de viragem. “Não será fácil seguir em frente, mas não será fácil voltar atrás”, disse o papa. E a defesa contra os retornos ao passado é justamente uma renovada consciência internacional, além do fato de que a ONU disse que os Rohingya são os mais perseguidos no mundo.

Quanto ao governo democrático, o Myanmar “é uma nação politicamente em crescimento, em transição. Por isso, as possibilidades devem ser avaliadas também nessa ótica. Neste momento de transição, teria sido possível fazer isto ou aquilo? Em Myanmar, deve-se olhar para a construção do país. Dois passos para a frente, um para trás: a história nos ensina isso”.

Sobre a China

A esperança é sempre a de ir até lá, mas uma viagem não está em preparação, que também “faria bem a todos”. Enquanto isso, porém, intensificam-se os contatos em nível cultural, político e no que se refere à situação da Igreja.

“É preciso ir passo a passo com delicadeza, como está sendo feito, lentamente. Eu acredito que, nestes dias, começará em Pequim uma sessão da comissão mista. É preciso paciência, mas as portas do coração estão abertas.”

Sobre a Índia

À Índia, por sua vez, a viagem poderia se concretizar no ano que vem. Neste ano não foi possível, embora, inicialmente, a visita devia ser à Índia e Bangladesh. “Mas foi providencial – disse Francisco –, porque a Índia requer uma viagem para si mesma”, dando a entender que quer visitar diversas regiões do país.

Sobre a posse de armas nucleares

“Estamos no limite da legalidade da sua posse, porque, hoje, elas podem destruir toda a humanidade”, lembrou o papa. Devemos aprender a lição de Hiroshima e Nagasaki.

Por isso, existem fortes dúvidas sobre a legalidade moral da sua posse. Na verdade, Francisco deu a entender que essa posse não é mais justificável de modo algum, nem mesmo com o equilíbrio da dissuasão, como era nos tempos do magistério de João Paulo II.

Jornal Avvenire, 03-12-2017. 

Uma refeição no Vaticano com Francisco para 1.500 necessitados, no Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo próprio Bergoglio. E outros 2.000 convidados nos refeitórios da capital.

Depois de cumprimentar o papa, houve também aqueles que quiseram uma foto com ele e, sem problemas de “cerimonial” ou de “autoridade”, passaram o celular a Dom Fisichella para que tirasse a foto. Depois, houve aqueles que, após o abraço com Francisco, estouraram em lágrimas. Isso também aconteceu no almoço de Jorge Mario Bergoglio com os necessitados no primeiro Dia Mundial dos Pobres.

O pontífice acolheu 1.500 indigentes, enquanto outros 2.000 almoçaram em outros refeitórios de Roma, que “hoje está cheia” disso, exclama o pontífice com alegria.

A Sala Paulo VI, o grande salão projetado por Pier Luigi Nervi, utilizado para as audiências papais ou, no máximo, para concertos, foi transformada em uma sala de jantar com 150 mesas, cada uma com dez assentos. As mesas eram redondas, preparadas de forma elegante, mas sóbria.

O Papa Francisco – que chegou com Dom Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização – cumprimentou os presentes e depois disse: “Bem-vindo a todos. Vamos nos preparar para este momento juntos. Cada um de nós com o coração cheio de boa vontade, de amizade”.

Todos os presentes foram convidados a “compartilhar o almoço desejando-nos o melhor uns aos outros”. Depois da oração, ele cumprimentou os convidados espalhados pela capital italiana: “Uma benção também a todos aqueles (2.000, lembrou Fisichella) que estão nos outros refeitórios em Roma. Roma está cheia hoje” desses almoços. Uma saudação “e um aplauso daqui”.

Francisco compartilhou o almoço sentando-se em uma das mesas, um pouco maior do que as outras, com cerca de 20 pessoas.

Todas as pessoas necessitadas presentes – 1.500 entre as cerca de 7.000 pessoas que participaram da missa celebrada em São Pedro na manhã desse domingo, para o Dia Mundial dos Pobres – foram acompanhadas pelo pessoal das associações de voluntariado provenientes não só de Roma e do Lácio, mas também de diversas dioceses do mundo (por exemplo, Paris, Lyon, Nantes, Angers, Beauvais, Varsóvia, Cracóvia, Solsona, Malines-Bruxelas e Luxemburgo).

Os pobres foram servidos por 40 diáconos da diocese de Roma e por cerca de 150 voluntários provenientes das paróquias de outras dioceses. O menu, preparado pelo restaurante Al Pioppeto, de Sergio Dussin, previa nhoques da Sardenha servidos com tomate, azeitonas e queijo Collina Veneta, escalopes de vitela com legumes, polenta e brócolis de Bassano, tiramisu veneziano, água, suco de laranja e café. Quem animou o almoço foi a Banda da Gendarmeria vaticana e coro Le Dolci Note, composto por crianças e adolescentes de 5 a 14 anos.

Os outros convidados romanos do papa reuniram-se em refeitórios, seminários e colégios católicos de Roma (Pontifício Colégio Norte-Americano, Colégio Apostólico Leoniano, refeitório do Círculo São Pedro, refeitório da Cáritas Roma, Comunidade de Santo Egídio, Pontifício Seminário Romano Menor, Pontifício Ateneu Regina Apostolorum) para participar também de um almoço festivo.

No domingo, Francisco também publicou um tuíte: “Neste dia, convido toda a Igreja a manter o olhar fixo sobre aqueles que estendem suas mãos pedindo a nossa solidariedade”.

Bergoglio instituiu o Dia Mundial dos Pobres ao término do Jubileu Extraordinário da Misericórdia.

Vatican Insider

Os últimos, os frágeis, os homens e as mulheres dos quais a dignidade é pisoteada todos os dias. Para eles, será celebrado, no próximo domingo, 19 de novembro, o 1º Dia Mundial dos Pobres no Vaticano. Um evento fortemente desejado pelo Papa Francisco na conclusão do Jubileu da Misericórdia e organizado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, que reunirá 4.000 pessoas necessitadas, carentes e pobres na Basílica de São Pedro para a missa com o pontífice às 10h (hora de Roma).

Todos serão acompanhados pelos membros das associações de voluntariado provenientes não só de Roma e do Lácio, mas também de diversas dioceses do mundo (como Paris, Lyon, Nantes, Angers, Beauvais, Varsóvia, Cracóvia, Solsona, Malines-Bruxelas e Luxemburgo).

Após a missa com o papa, 1.500 pobres serão acolhidos na Sala Paulo VI, para participar de um almoço festivo com o Papa Bergoglio. O momento será animado pela Banda da Gendarmeria Vaticana e pelo coro Le Dolci Note, composto por crianças de 5 a 14 anos.

Os outros 2.500, por sua vez, serão transferidos para refeitórios, seminários e colégios católicos em Roma (Pontifício Colégio Americano do Norte, Colégio Apostólico Leoniano, refeitórios do Círculo de São Pedro, refeitório da Cáritas Roma, Comunidade de Santo Egídio, Pontifício Seminário Romano Menor, Pontifício Ateneu Regina Apostolorum) para também participar de um almoço festivo.

Os pobres serão servidos por 40 diáconos da diocese de Roma e por cerca de 150 voluntários provenientes das paróquias de outras dioceses. O menu que o restaurante Al Pioppeto, de Sergio Dussin, servirá na Sala Paulo VI será composto por nhoques da Sardenha com tomates, azeitonas e queijo Collina Veneta, costeletas de vitela com legumes, polenta e brócolis de Bassano, tiramisú veneziano, água, suco de laranja e café.

O Dicastério para a Nova Evangelização, de acordo com um comunicado, dirigiu-se a algumas associações de voluntariado, como a Cáritas, Comunidade de Santo Egídio, Ordem de Malta, Nuovi Orizzonti, Comunidade João XXIII, Associação Fratello 2016, Obras Antonianas de Roma, ACLI, Grupos Vincentinos de Voluntariado.

E também foram envolvidas as realidades próximas das pessoas marginalizadas e das paróquias, para que conseguissem envolver todos os necessitados nesse dia. Foi generosa a resposta de todos esses institutos, que ofereceram um apoio valioso na organização.

Entre as iniciativas em preparação ao evento, deve-se ressaltar o Presidio Sanitario Solidale, ativo – de segunda-feira, 13, a domingo, 19 de novembro, das 9h às 16h – na Praça Pio XII. Nessa área médica, serão realizadas, gratuitamente, para todos aqueles que pedirem, análises clínicas, consultas médicas especializadas de cardiologia, dermatologia, infectologia, ginecologia e andrologia.

Na véspera do evento, sábado, 18, às 20h (hora de Roma), na Basílica de São Lourenço Fora dos Muros – deliberadamente escolhida pela referência ao santo diácono de Roma, que, ao imperador que lhe pediu as riquezas da Igreja, apresentou os pobres, dizendo: “Estes são os verdadeiros tesouros da Igreja” – será celebrada uma vigília de oração pelo mundo do voluntariado, que, todos os dias, no silêncio do seu compromisso, oferecem alívio e alegria a tantos pobres.

Na preparação do 1º Dia dos Pobres, foi preparado um subsídio pastoral, intitulado “Não amemos com palavras, mas com obras”, traduzido para seis idiomas. Na Itália e no restante do mundo, as dioceses e as paróquias acolheram com entusiasmo o convite do Papa Francisco, com muitas iniciativas em favor das pessoas menos favorecidas.

Fonte: Vatican Insider

O Departamento Filatélico e Numismático do Estado do Vaticano enviou para a impressão um selo comemorativo da Reforma Protestante representando a pintura do frontão da igreja de Wittenberg com o primeiro plano de Jesus crucificado e, no fundo, a cidade de Wittenberg (o lugar onde o reformador alemão e frade agostiniano, em 31 de outubro de 1517, afixou suas 96 teses na porta da igreja do castelo da cidade saxônica para combater o comércio de indulgências).

A representação “pictórica” do selo retrata, em postura de penitência e ajoelhados, respectivamente, a esquerda e direita da Cruz, Martin Luteroque segura a Bíblia, fonte e meta de sua doutrina, e Felipe Melanchton, teólogo e amigo de Martin Lutero – um dos maiores protagonistas da reforma – que, ao contrário, segura a primeira exposição oficial dos princípios do protestantismo por ele redigida: a Confissão de Augsburgo“Confessio Augustuana”.

“É a primeira vez – relata para Riforma.it o pastor Heiner Bludau decano da Igreja Evangélica Luterana na Itália (Celi) – que o Vaticano decide imprimir um selo comemorativo dedicado a Lutero e à Reforma Protestante. Justamente em Wittenberg comemoramos oficialmente em 31 de outubro, na presença das mais altas autoridades do Estado e religiosas, os 500 anos da reforma

Na cidade de Lutero chegou a notícia de reprodução em papel filigranado das imagens de Lutero e Melanchton retratados ao lado de Jesus com o pano de fundo da cidade saxônica. Uma notícia, para nós luteranos, agradável, inesperada e importante. Devo admitir que eu ainda não tive a oportunidade de ver o selo, mas considero essa iniciativa importante. Assim como foram as declarações conjuntas entre luteranos e católicos; neste caso, o Vaticano, ou melhor, seu departamento de filatelia e numismática, decidiu de forma autônoma lançar um importante sinal de proximidade, utilizando uma imagem muito clara, eloquente e abrangente, que bem explica e ilustra a importância, o sentido da Reforma iniciada por Lutero”. 

Em Wittenberg (a cidade de Lutero e fundo do selo), lembra ainda Bludau, foram realizadas as celebrações da “Festa da Reforma“, com um culto solene na Igreja do Castelo de Wittenberg celebrado pelo presidente da EKD, Heinrich Bedford-Strohm e também uma recepção oficial que contou com a presença, entre outros, da própria chanceler Angela Merkel ; todos eventos promovidos pela Igreja evangélica luterana alemã – Evangelische Kirche in Deutschland (EKD) na última terça-feira – “ocasiões importantes – continuou Bludau – em que surgiu, com força, a necessidade de continuar o trabalho ecumênico e interreligioso. Um tema decisivo é o da liberdade religiosa.

Bedford-Strohm em seu precioso sermão também falou sobre a atualidade da Reforma e a importância de olhar para o futuro, um futuro à insígnia da responsabilidade, seja coletiva ou pessoal; a chanceler Merkel, colocando lado a lado a liberdade religiosa com a Reforma Protestante reiterou que as liberdades não podem, no entanto, prescindir dos deveres; ressaltando também a importância da presença religiosa e interreligiosa no tecido institucional, social, político e comunitário da Alemanha”.

O presidente do Conselho da Igreja Evangélica Alemã, o bispo Heinrich Bedford-Strohm, diante do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, da chanceler Angela Merkel, do presidente do Bundestag Wolfgang Schäuble, bem como numerosos outros convidados do mundo político e ecumênico e centenas de fiéis, quis lembrar: “Estamos sentados aqui, 500 anos depois” e depois enviou uma mensagem ao Papa Francisco: “Irmão em Cristo, agradecemos a Deus pelo seu testemunho de amor e misericórdia que para nós, protestantes, também significa testemunho de Cristo”.

Palavras importantes de reconhecimento endereçadas ao Papa, prosseguiu Bludau, “porque, embora seja verdade que o caminho de aproximação e aberturas ecumênicas começou com o Concílio Vaticano II, é igualmente verdade que o impulso mais significativo ao diálogo e à reconciliação nestes últimos anos vieram dos movimentos dos Papa Francisco. Uma aproximação com todas as igrejas protestantes e evangélicas.

Certamente, importantes são as declarações assinadas no passado, tais como a católico-luterana sobre a doutrina da justificação de 1999, ou a de 2103 “Do conflito à comunhão“, todos documentos dogmáticos importantes. Mas eu acredito que a visita do Papa Francisco em Lund – para abrir as comemorações dos Quinhentos anos da Reforma – tenha sido a verdadeira faísca que realmente modificou a atmosfera e a percepção geral, um movimento visível para todos, de maneira especial na Itália, onde a informação generalista e secular conta muitas vezes e espasmodicamente a vida do papa, as suas obras, as suas viagens e os seus pensamentos. O Papa abrindo as celebrações da Reforma mostrou a todos que não somos “seitas”, mas igrejas cristãs. Uma mensagem que soube penetrar nos interstícios mais inatingíveis da própria igreja católica”.

Após reuniões compartilhadas entre as igrejas protestantes e evangélicas e a cúpula da Igreja Católica, como a do início deste ano em Trento junto com o Departamento Nacional para o Ecumenismo e Diálogo (Unedi) da CEI, e intitulado “Católicos e protestantes 500 anos depois da reforma”, é possível ter um olhar comum, como aconteceu por ocasião da “Festa da reforma” em Roma no último dia 28 de outubro, graças à presença do Cardeal Ravasi e à transmissão da Rai Due ao vivo por mais de uma hora.

Juntamente com a CEI – Unedi, Bludau finalmente recordou “que nasceu a ideia de promover também a declaração conjunta divulgada em 31 de outubro. As relações entre a Igreja Luterana e a Igreja Católica são parte, certamente significativa, de um percurso ecumênico bem mais amplo.

Um percurso empreendido há muito tempo juntos com a Federação das Igrejas Evangélicas na Itália (FCEI) da qual somos federados, e com a qual, graças aos seus esforços, pudemos compartilhar em 28 de outubro último uma jornada realmente rica e importante que, amplificada pela Rai, permitiu-nos colocar à disposição o evento não como um fato “intraprotestante”, mas de todos e para todos os italianos. Essas relações ecumênicas e essas atenções são o sinal importante de um percurso em contínua evolução”.

Sitio da Igreja Valdense na Itália, Riforma.

Massimo Borghesi, filósofo italiano com uma longa carreira na cátedra universitária, estudos e publicações, apresentará nos próximos dias ao público o resultado de uma obra que estava faltando. E essa lacuna estava nas origens de aproximações e desconhecimentos. Uma full immersion nas fontes primárias que alimentavam ao longo do tempo o modo de ver e pensar daquele que hoje ocupa a cátedra mais alta da Igreja católica.

Para realizar sua pesquisa, Borghesi recebeu uma ajuda decisiva, precisamente a do sujeito pesquisado, que contribuiu com cinco gravações de áudio. “Através de um amigo comum, Guzmán Carriquiry, vice-presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, pude tirar proveito da gentileza do Papa Francisco e enviar-lhe algumas perguntas”, revela o autor. O resultado do trabalho poderá ser conhecido dentro de alguns dias, apresentado pela editora Jaca Book com o título Jorge Mario Bergoglio. Uma biografia intelectual. Dialética e mística.

Na sequência, apresentamos algumas pistas do que o leitor vai encontrar no livro de Massimo Borghesi, obtidas com a cumplicidade da amizade.

 

O que o levou a fazer essa pesquisa sobre o pensamento do Papa?
    
O preconceito, sobretudo no ambiente intelectual e acadêmico, que persiste sobre a imagem do pontificado. O Papa Francisco teve que assumir o difícil legado de Bento XVI, um dos grandes teólogos do século XX. Depois de um pontificado com uma forte marca no plano intelectual, o estilo pastoral de Bergoglio parecia demasiado “simples” para muitos, inadequado para os grandes desafios do mundo metropolitano e secularizado. O Papa que veio do fim do mundo é censurado, na Europa e nos Estados Unidos, de não ser “ocidental”, europeu, culturalmente preparado.

Quando você entendeu que não era assim?

A leitura “tensionante”, dialética, que Gaston Fessard faz de Santo Inácio está na origem do pensamento de Bergoglio

Pessoalmente, eu tinha lido alguns textos de Bergoglio que tinham chamado muito a minha atenção. Entre eles, alguns discursos da segunda metade da década de 1970, quando Bergoglio era o jovem provincial dos jesuítas argentinos. Eles me causaram uma boa impressão. O que me impactou sobremaneira foi o “pensamento” que dava sustentação aos seus argumentos. Bergoglio dirigia-se aos seus irmãos jesuítas que estavam vivendo uma situação dramática e dolorosa. A Argentina dessa época era governada pelos militares, que praticavam uma sangrenta repressão à frente revolucionária dos Montoneros. Em relação a este conflito, a Igreja estava profundamente dividida entre os apoiadores do governo e aqueles que apoiavam a revolução.

Para Bergoglio, esta fratura da sociedade também colocava em cheque a Igreja, que tinha sido incapaz de unir o povo. Seu ideal era o catolicismo como coincidentia oppositorum, como superação dessas oposições que, quando radicalizadas, tornam-se contradições insuperáveis. 

Bergoglio expressava esse ideal através de uma filosofia própria, uma concepção segundo a qual a lei que governa a unidade da Igreja, assim como a social e a política, baseia-se numa dialética “polar”, em um pensamento “agonista” que mantém unidos os opostos sem anulá-los ou reduzi-los forçosamente ao uno. Multiplicidade e unidade constituíam os dois polos de uma tensão ineludível. Uma tensão cuja solução era confiada, uma e outra vez, ao poder do Mistério divino que atua na história.

Esta perspectiva que emergia nas entrelinhas dos discursos do jovem Bergoglio me interessou imediatamente. Associado aos pares polares que o Papa coloca no Evangelii Gaudium constituía uma verdadeira “filosofia” própria, um pensamento original. Tendo estudado minuciosamente a dialética de Hegel e, acima de tudo, a concepção da polaridade em Romano Guardini, essa perspectiva me interessou imediatamente. Era evidente que Bergoglio tinha uma concepção original, um ponto de vista teológico-filosófico que, curiosamente, não chamou a atenção dos estudiosos.

O Papa deu uma contribuição pessoal ao seu trabalho de pesquisa com gravações que ele lhe enviou. O que lhe permitiu determinar essa contribuição?

Através de amigo em comum, Guzmán Carriquiry, vice-presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, pude tirar proveito da gentileza do Papa Francisco e enviar-lhe algumas perguntas. Depois de ler seus escritos, com efeito, colocava-se a questão sobre a gênese de sua dialética polar. Era uma leitura muito original da realidade que oferecia analogias com o tomismo hilemórfico e dialético de Alberto Methol Ferré, principal intelectual latino-americano da segunda metade do século XX. Mas Methol Ferré não estava na origem do pensamento de Bergoglio. Os caminhos de ambos se encontram apenas no final dos anos 70, durante a preparação da grande Conferência de Puebla da Igreja Latino-Americana.

Então, de onde Bergoglio tira a sua ideia da tensão polar como lei do Ser? Sobre este ponto, que é central, os artigos e livros não ofereciam nenhuma pista. É como se Bergoglio quisesse manter o segredo sobre a fonte do seu pensamento. É aqui que as respostas do Papa se revelaram fundamentais. Graças a elas, pude entender que o ponto de partida do seu pensamento deve ser situado nos anos de estudos no Colégio San Miguel, quando Bergoglio reflete sobre a teologia de Santo Inácio através do modelo da “Teologia do como se” e, sobretudo, através da leitura, determinante, do primeiro volume de La Dialectique des Exercices Spirituels de Saint Ignace de Loyola [A dialética dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola] de Gaston Fessard. A leitura “tensionante”, dialética, que Fessard faz de Santo Inácio está na origem do pensamento de Bergoglio. Para mim, foi uma verdadeira descoberta.

Quais são as influências europeias mais fortes sobre o Papa, aquelas que ele assimilou e deixaram uma marca na estrutura do seu pensamento?

O Michel De Certeau que interessa a Bergoglio é o dos anos 60, o estudioso da mística moderna, de Surin a Fabro

Um dos resultados do meu livro foi precisamente estabelecer a grande influência que os autores europeus, especialmente jesuítas, tiveram em Bergoglio. Assim, desaparece a lenda do papa latino-americano, que não estaria em condições de se medir com o pensamento europeu. O principal autor é, sem dúvida, Gaston Fessard, jesuíta, um dos mais geniais intelectuais franceses do século XX. Também Henri de Lubac, com a maneira de conceber a relação entre Igreja e sociedade que ele propõe em Catholicisme. Les aspects sociaux du dogme [Catolicismo. Os aspectos sociais do dogma]. Fessard e Lubac são protagonistas da Escola de Lyon. Ao segui-los, Bergoglio é, de certo modo, um discípulo dessa escola. Tanto Fessard quanto Lubac aderem a uma concepção dialética, herdada de Adam Möhler, o grande fundador da Escola de Tübingen, para quem a Igreja é coincidentia oppositorum, unidade sobrenatural daquilo que no plano do mundo é irreconciliável. É a mesma concepção que Bergoglio tem.

Além dos dois autores jesuítas que acabamos de citar, há outro, também francês, que influenciou Bergoglio: Michel de Certeau. Ele também foi protagonista do cenário intelectual, especialmente nos anos 70. Mas o De Certeau que interessa a Bergoglio é o dos anos 60, o estudioso da mística moderna, de Surin a Fabro. O prefácio que ele escreveu para o Memorial de Pedro Fabro, o grande amigo de Santo Inácio, é um texto-chave na formação de Bergoglio. Seu ideal jesuíta da vida cristã, do contemplativo em ação, tem o selo de Pedro Fabro.

Há outros autores que sejam decisivos na sua formação, além dos franceses?

Methol Ferré e Bergoglio encontram-se, compartilham a mesma perspectiva sobre a Igreja e a sociedade, têm os mesmos autores de referência

A partir de 1986, o ítalo-alemão Romano Guardini adquire um papel fundamental. Nesse ano, Bergoglio viaja para Frankfurt, Alemanha, para fazer uma tese de doutorado sobre Guardini. Mas o tema que ele escolhe não são as obras teológicas ou de caráter religioso, mas a única obra inteiramente filosófica de Guardini: A Oposição Polar. Ensaio de uma filosofia do concreto vivo. É uma decisão curiosa. Por que ocupar-se do Guardini filósofo e não do teólogo?

A resposta é compreensível à luz do meu estudo. Para Bergoglio, a antropologia “polar” de Guardini é uma confirmação de sua visão dialética e antinômica, apreendida através de Fessard e De Lubac. A autoridade de Guardini confere um valor especial ao modelo de pensamento que Bergoglio aplica aos campos eclesial e político-social. Ao mesmo tempo, o modelo guardiniano amplia o bergogliano e permite aprofundamentos inéditos. A partir dos anos 90, Guardini torna-se um autor de referência. Encontramo-lo citado várias vezes na Evangelii Gaudium e na Laudato Si’.

Outro autor chave é o grande teólogo suíço-alemão Hans Urs von Balthasar. Essa foi uma descoberta. A partir dos anos 90, quando já era bispo e depois como cardeal, Bergoglio aproximou-se da grande estética teológica de Von Balthasar, compartilhando seu enfoque, o primado que concede à beleza em função da comunicação do bem e da verdade. A unidade dos transcendentais do ser torna-se um ponto fundamental do pensamento teológico e filosófico de Bergoglio. De Balthasar, Bergoglio toma também as categorias para opor-se ao gnosticismo, ao esvaziamento da carne de Cristo nos diversos “idealismos” espiritualistas. O ensaio sobre Irineu, no livro Glória, impressionou muito Bergoglio.

E quero lembrar uma última influência: a obra de dom Luigi Giussani. Bergoglio era leitor – e em alguns casos, os apresentou em Buenos Aires – dos livros de Giussani traduzidos para o espanhol. Do seu ponto de vista, as principais categorias do método educativo de Giussani – o encontro, o estupor, a experiência, etc. – estão associadas à entrega gloriosa da “forma” (Gestalt), como ensina Von Balthasar. Tudo isso orientado para uma atitude missionária, evangelizadora, que situa o cristão no horizonte da Igreja dos primeiros séculos: como há 2000 anos.

Que peso têm, em seu pensamento, as fontes latino-americanas? Methol Ferré, historiador e filósofo nascido no Uruguai, ocupa um lugar importante na sua obra…

Entre as fontes latino-americanas, sem dúvida, colocaria na primeira fila Lucio Gera e sua Teologia do Povo, a reformulação da Teologia da Libertação feita pela Escola do Rio da Prata, com sua crítica ao marxismo e sua opção preferencial pelos pobres. É um aspecto conhecido e estudado do pensamento de Bergoglio. A Teologia do Povo tem o mérito de redescobrir o valor da religiosidade popular latino-americana, simbolizada pelo culto a Nossa Senhora de Guadalupe, que supera os preconceitos da cultura iluminista.

Além de Gera e dos teólogos próximos a ele, no entanto, há outros autores que são decisivos para a reflexão de Bergoglio. Entre eles, Miguel Ángel Fiorito, seu professor de filosofia. Fiorito é quem o introduz em uma redescoberta dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio através da leitura do estudo inaciano de Gaston Fessard. Depois, o encontro com Amelia Podetti, a “filósofa” argentina mais ilustre dos anos 70. Estudiosa de Hegel, Podetti desenvolve uma reflexão sobre a inculturação da fé, sobre a relação entre centro e periferia, sobre o papel da América Latina no novo contexto mundial, o que interessou muito a Bergoglio.

Finalmente, há o autor por excelência: Alberto Methol Ferré, com quem compartilhou a experiência do CELAM entre 1979 e 1992 e é o intelectual mais lúcido da América Latina. Bergoglio e Methol estão em perfeita sintonia. Meu trabalho analisa o pensamento de Methol Ferré, seu tomismo dialético, e isso juntamente com a entrevista que você fez com Methol no livro O Papa e o Filósofo, é uma novidade no panorama cultural italiano. Methol Ferré e Bergoglio encontram-se, compartilham a mesma perspectiva sobre a Igreja e a sociedade, têm os mesmos autores de referência. Fundamentalmente um: ambos dependem da visão polar, dialética, de Gastón Fessard. Essa fonte comum também explica sua proximidade ideal, filosófica, sua sintonia na maneira de enfrentar os desafios da Igreja latino-americana desde a década de 1970. Bergoglio aprecia muitíssimo o “amigo” Methol, lê seus artigos em Víspera e Nexo, e está impressionado com sua geopolítica eclesial, compartilha seu ideal de “Pátria Grande”.

Há aquisições finais do seu estudo, de síntese, que reafirmam o que foi escrito até agora sobre o Papa Bergoglio?

Bergoglio é um discípulo da Escola de Lyon cujos protagonistas foram Gaston Fessard e Henri de Lubac

As aquisições são muitas. Em primeiro lugar, como já dissemos, esclarece-se a gênese e o fio condutor do pensamento de Jorge MarioBergoglio. E é a primeira vez que isso acontece. São desmentidas as opiniões daqueles que, por preconceito ou por falta de documentação, continuam repetindo que Francisco não tem qualificações para exercer o ministério petrino.

Bergoglio é portador de um pensamento original, dependente de uma tradição do pensamento “católico” dos séculos XIX e XX, a de Adam Möhler, Erich Przywara,Romano Guardini, Gaston Fessard e Henri de Lubac. Alguns desses autores são jesuítas, outros não. É uma tradição ilustre que precisamente o magistério de Franciscohoje permite redescobrir e valorizar. Uma tradição que desmente aqueles que – penso sobretudo nas críticas contra a Amoris Laetitia – pretendem atribuir ao Papa uma teologia praxística, relativista e permissiva.

Na concepção “polar” de Bergoglio, a Verdade e a Misericórdia não podem ser separadas, assim como o belo-bom-verdadeiro, à luz da unidade dos transcendentais. Aqueles que criticam Francisco por suposto subjetivismo e modernismo mostram que não conhecem seu pensamento. Assim como também não conhecem o seu pensamento aqueles que o acusam de reduzir a fé à questão social e esquecer o primado do kerygma. Pelo contrário, Francisco – como afirma explicitamente na Evangelii Gaudium – quer recuperar o primado do kerygma sobre o desvio ético da Igreja nas últimas décadas e, ao mesmo tempo, quer um forte compromisso dos católicos no social.

Ele não faz nenhuma redução: são dois polos de uma tensão que caracteriza o católico. Em relação ao compromisso político, a transcendência, o “primeirear” da fé e da graça sobre qualquer declínio histórico, é essencial. O Papa tem uma concepção “mística” que afirma a abertura do pensamento em relação a qualquer fechamento ideológico e sistemático, e isso em função da ação do “Deus sempre maior”.

Como ficam as críticas feitas a Bergoglio criticando-o de ser “populista-peronista”?

O Papa Francisco tem uma concepção “mística” que afirma a abertura do pensamento em relação a qualquer fechamento ideológico e sistemático, e isso em função da ação do “Deus sempre maior”

Aqueles que as fazem, evidentemente, não o conhecem bem, ou as fazem sabendo que estão errados. O Papa é um crítico da absolutização da economia capitalista desvinculada de qualquer lei ética, assim como foi imposta na era da globalização. Mas ele não é “populista“. Sua simpatia pelo peronismo, devida à atenção dada à questão social, não deve ser confundida com as ideias salvíficas próprias de uma política ideológica.

É interessante, desse ponto de vista, a valorização que Bergoglio faz na década de 1990 de A Cidade de Deus de Santo Agostinho. Ele propõe Agostinho como um modelo atual para criticar os modelos teológico-políticos que comprometem a Igreja com o poder, seja da direita, seja da esquerda. Sobre este assunto, a posição de Bergoglio está totalmente em sintonia com a leitura de Agostinho que Ratzinger faz. O livro esclarece muitos pontos da reflexão de Bergoglio que até agora tinham ficado na sombra do público europeu, constituindo-se em fonte de controvérsias. Nisso reside, espero, a utilidade do mesmo.

Massimo Borghesi. Jorge Mario Bergoglio. Una biografia de intellettuale. Dialettica e mistica. Introduzione di Guzmán Carriquiry Lecour. Milano: Jaca Book, 2017.

A entrevista é de Alver Metalli, publicada por Vatican Insider.

O arcebispo de Bolonha convidou muitos pobres e deficientes para almoçar com o Papa Francisco. Um grande refeitório foi montado dentro da Basílica de São Petrônio, diante do altar. Foi o suficiente para alguns católicos acusarem o pontífice de profanar um lugar santo.

O Catecismo diz (item 2120) que o sacrilégio consiste em tratar as coisas santas de forma indigna. A refeição dos pobres na basílica de Bolonha afrontou a sacralidade do lugar? Se estudarmos os costumes dos grandes papas e santos dos primeiros séculos da História da Igreja, veremos que não.

Em primeiro lugar, se tratou de um evento excepcional. Ninguém tem a intenção de usar o templo rotineiramente como refeitório para os pobres.

Em segundo lugar, na Igreja primitiva era comum que, ao fim da missa, as pessoas reorganizassem o local, de modo a permitir que todos os fiéis se sentassem à mesa e se alimentassem. É o que narra São João Crisóstomo:

“Nas igrejas havia um costume admirável: (…) Ao final da reunião, em vez de voltarem imediatamente para casa, os ricos, que haviam se preocupado em levar provisões abundantes, convidavam os pobres e todos se sentavam à mesma mesa, preparada na igreja, e todos sem distinção comiam e bebiam as mesmas coisas.”

Com o grande aumento do número de fiéis, esse costume se tornou inviável, e acabou deixando de existir. Em ocasiões excepcionais, porém, continuou a ser praticado.

Um dos mais admiráveis papas de todos os tempos, São Gregório Magno, abriu as portas da igreja para que doze pobres pudessem comer lá dentro, em um momento de calamidade em Roma (ao final do século IV). O refeitório, com uma grande mesa de mármore, foi preparado no oratório de Santa Bárbara, ao lado de sua residência.

Antes do atual prédio da Basílica de São Pedro, no Vaticano, havia um templo anterior, construído pelo Imperador Constantino. Nesse local, diante do altar, numerosos almoços foram servidos aos desamparados. São Paulino de Nola testemunhou um desses almoços, que foi oferecido pelo senador romano Pamaquio.

O senador ofereceu o almoço em honra à memória de sua amada esposa, que havia falecido.  São Paulino elogiou aquela atitude:

“Tu reuniste na basílica do Apóstolo uma multidão de pobres, patrões de nossas almas, que por toda cidade de Roma pedem esmola para viver…  Vi todas a multidões de gente miserável chegar como enxames em grandes filas, até o fundo da imensa basílica do glorioso Pedro… Que alegre espetáculo era tudo aquilo!”

Será que os católicos de língua venenosa que hoje acusam o Papa Francisco de profanação têm a mesma ousadia de levantar a voz para acusar São Gregório Magno? E quanto a São Paulino de Nola e São João Crisóstomo… Seriam eles insensatos, que apoiavam a realização de um ato indigno na casa de Deus?

(via O catequista)

Em livro, o Papa Francisco abre o seu coração em uma entrevista concedida a Dominique Wolton. O pesquisador francês ficou impressionado com a sua “incrível simplicidade”.

Crise dos migrantes, laicismo, pedofilia na Igreja, relações com o islã… O Papa Francisco abre o seu coração em um livro que chegou às livrarias francesas no dia 06 de setembro passsado. O Sumo Pontífice respondeu a Dominique Wolton em uma série de entrevistas, “não menos de 12 encontros em um ano”. O pesquisador francês destaca que “este homem, que é extremamente culto, fala com uma incrível simplicidade”.

Como você convenceu o Papa e por que ele aceitou a entrevista?

Eu propus a ele o projeto sem conhecê-lo inteiramente. Eu escrevi para ele dizendo: “Eis quem eu sou e o que fiz e eu quero propor-lhe um livro sobre a política”. Anexei o plano do livro que eu tinha preparado. O que o levou a aceitar, foi, em primeiro lugar, o fato de que eu sou cientista. Isso o tranquilizou em relação a um jornalista. Eu era um leigo francês, o que lhe interessava, porque ele gosta muito da França e do debate sobre a laicidade. A segunda coisa, que não estava prevista, é que quando nós nos encontramos, houve um verdadeiro encontro humano. Rolou uma química entre as nossas duas histórias, que não tem nada a ver uma com a outra; mas isso criou esse diálogo e esta comunicação.

Como isso aconteceu? Você conversou a sós com ele?

Sim. Na primeira vez, me fizeram esperar em um pequeno escritório e eu levei um intérprete para me ajudar, porque eu não sou nenhum gênio em italiano nem em espanhol. A porta se abriu e este homem chegou de branco. Em seguida, ficamos o tempo todo sozinhos. Não é fácil falar com um papa!

Que tipo de pessoa você teve na sua frente? Um excelente comunicador? Um jesuíta? O Papa?

O que me impressionou imediatamente foi a bondade, os olhos, a gentileza, uma espécie de ternura incrível, uma vontade muito grande, uma lucidez real e uma incrível simplicidade. Nós nos conectamos intelectualmente. Logo depois, tudo aconteceu num plano mais amigável, mas não havia nenhuma linguagem estereotipada ou em todo o caso o mínimo. Em relação aos inúmeros políticos que eu já vi, de presidentes da República, políticos pretensiosos com sua linguagem estereotipada, ele é de uma simplicidade! É a razão de seu sucesso mundial. Este homem, que é extremamente culto, fala com uma incrível simplicidade.

Ele lhe pareceu sozinho? Ele até fala de uma gaiola…

Sim, é a gaiola do Vaticano! Eu não percebi que estivesse enclausurado, embora seja, como ele mesmo disse, uma gaiola muito agradável. Eu penso que ele não está sozinho. Uma boa parte dos católicos está com ele e outra boa parte lhe é hostil, mas ele tem muito mais encontros humanos, políticos e culturais com ateus e agnósticos, porque ele fala de política. É por isso que isso me interessava. Ele é extremamente sensível à sociedade: como ele diz, “a Igreja deve fazer a grande política, não a pequena política”. Portanto, ele odeia a hipocrisia, a rigidez, as críticas sobre os costumes. Ele tem uma visão do humano extremamente cristã e, ao mesmo tempo, sem ilusões. Ele não é um homem de rupturas. O que me impressiona é que é realmente da grande política, no sentido de que sua obsessão é a de estender pontes e não construir muros, isto é, conectar e não excluir. Penso que isso seja de uma inteligência política extrema, no sentido mais amplo da palavra “política”.

Ele é agora um amigo para você?

Eu penso que o que eu posso representar para ele e o que eu posso lhe dizer é importante, e vice-versa. Você sabe, é sempre assim na minha vida. Eu tive uma relação muito forte com Raymond Aron, muito forte com Jean-Marie Lustiger, forte o suficiente com Jacques Delors e muito forte com ele. Em todo caso, é este encontro humano e esta espécie de lucidez, enfim, este otimismo, que eu guardo.

Fonte: Radio France

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Autor de um livro-entrevista com o Sumo Pontífice, o sociólogo conta os segredos dos seus 14 encontros.

Faça um resumo de Politique et Société (Editions de L’Observatoire), que foi publicado na quarta-feira, 06 de setembro.

É um encontro intelectual e humano. Uma janela para o mundo entre o sociólogo agnóstico, pesquisador em comunicação política, que eu sou, e um papa que mede a importância da laicidade e repensa o equilíbrio entre tradição e modernidade. Essas 411 páginas destacam sua luta contra as corrupções e nos mostram que o tempo da Igreja é diferente do nosso.

Como você trabalhou?

Na “clandestinidade”… Manter o segredo não era muito difícil, porque ninguém me conhecia. Por conseguinte, para mim foi fácil entrar no Vaticano anonimamente na companhia do padre Louis de Romanet, meu tradutor, que, tendo trabalhado na Secretaria de Estado, também serviu de peixe-piloto para mim. Eu desci do táxi atrás da Praça de São Pedro, passei pelas várias barreiras marcadas pelo secretário particular do Papa até a Casa Santa Marta, onde ele mora. No começo, eu não sabia quantos encontros eu teria, porque o livro foi sendo construído ao longo de meses. Finalmente, trabalhando sozinho, eu não arrisquei nenhuma fuga.

Descreva para nós este Papa, que você nunca tinha encontrado antes.

Sua inteligência, sua bondade, sua alegria, sua fé, sua misericórdia, seu amor pelo povo, a humanidade me impressionaram; mas também sua energia, sua cultura, sua abertura de espírito e mais ainda a sua firmeza na luta contra a rigidez.

Francisco admitiu ter consultado uma psicanalista...

Uma surpresa que veio naturalmente quando abordamos a questão das mulheres, suas amizades femininas; ele então “confessou” isso sem barreiras entre sua vida pública e sua vida privada. Este papa não esconde estar muito à vontade com elas; a prova: os seus olhos brilham quando fala delas.

Ele é um pessimista ou um otimista?

Ele é, antes, um cético ativo, otimista contracorrente, mas sem ilusões sobre nada. Seu credo é o Evangelho, onde o bem supera o mal, mas não tem um calendário preciso. Ele trava as batalhas essenciais para ele: a batalha contra a hipocrisia, pelo serviço dos pobres, dos excluídos, pela reforma da família, da cúria, com a ambição de colocar as mulheres na Igreja católica. É uma verdadeira batalha esperando dar-lhes um papel importante no futuro, talvez até mesmo que tenham acesso às ordens sagradas. Na verdade, consciente de que se João Paulo II libertou a Europa, seu desafio é enfrentar os desafios da globalização. Mas é “diabolicamente” difícil gerenciar as tensões internacionais.

Um papa muito jesuíta?

Mais franciscano na sua abordagem da pobreza, mas jesuíta na gestão da política e do poder, e argentino no seu cosmopolitismo, no seu humor, na sua forte desconfiança dos Estados Unidos. Para entender isso, é preciso mensurar o quanto a sua relação com a Argentina é visceral…

No entanto, a imprensa argentina ainda não falou sobre o livro.

De fato, os principais jornais argentinos, ao menos por enquanto, ainda não ecoaram o livro. Sem dúvida, eles ainda não perceberam que a eleição de Jorge Mario Bergoglio mudou as prioridades. Ele também está bravo com a Europa, que ele considera não estar à altura. O Papa Francisco está obcecado com as pontes que não devem ser quebradas. Construir muros lembra-lhe muito os muros do comunismo e das ditaduras.

Que lição você aprendeu com essa experiência única?

Nosso relacionamento manteve-se técnico, profissional. Francisco me fez poucas perguntas pessoais, nunca me ofereceu um café ou me convidou para almoçar na Casa Santa Marta. Eu gostaria de dizer que, desde o final do livro, formou-se entre nós uma cumplicidade respeitosa e calorosa que, confesso, me deixa muito orgulhoso. No começo, tive que superar a emoção criada pelo poder do seu olhar, a angústia de conseguir realizar bem este trabalho, cujo projeto eu tinha feito antes de entrar em contato com o Santo Padre. Eu falei em francês lentamente – o Papa compreende perfeitamente o nosso idioma, mas suas palavras são hesitantes, então ele me respondia em italiano. Quando ele releu o livro, ele não censurou nada, apenas fez alguns ajustes, e quando, na semana passada, eu lhe levei a primeira cópia, ele exclamou: “Ah! Que lindo que ficou”. Um momento inesquecível!

Fonte: Paris Match.

Na sequência da mais recente onda de violência na Europa, o Vaticano diz não estar tomando medidas extras de segurança, em parte porque a salvaguarda já era “muito forte”.

Normalmente os papas sentem um grau maior de calmaria com respeito à própria segurança do que outras figuras públicas, pois, do ponto de vista deles, os pontífices contam com a rede se segurança máxima que se pode ter.

A essa altura, um ataque com facas na Finlândia ocorrido sexta-feira deixou dois mortos. A polícia diz que passou a considerar o ato como terrorista e informou que prendeu um marroquino de 18 anos e outros cinco. Este incidente levou ao recrudescimento das medidas de segurança nos aeroportos e estações de metrô, além de uma maior presença policial em locais onde as pessoas se reúnem.

A Cidade do Vaticano, evidentemente, é também um alvo europeu, sendo um lugar onde muitas pessoas se reúnem. Na verdade, é provavelmente milagre que algo semelhantemente horrível não tenha ocorrido aí ainda. Afinal, para um jihadista esta cidade-Estado é o alvo perfeito: um símbolo imponente do cristianismo e da civilização ocidental, além de ser o lar do líder cristão mais conhecido do planeta.

Na sexta-feira, conversei com a porta-voz do Vaticano, Paloma García Ovejero, que me disse que o Vaticano não está tomando nenhuma precaução extra em se tratando de segurança à luz dos eventos recentes, em parte porque “não temos nenhum indício” de uma ameaça em específico.

“Não adotamos medidas extras de segurança, pois aqui o nível de vigilância já era muito forte”, disse García Ovejero. “A Basílica de São Pedro está sempre protegida, e a Via della Conciliazione [avenida que leva até a praça] permanece fechada para o tráfico”.

“Ou seja, estamos com o mesmo nível de alerta”, completou ela.

Então, resta saber se as ansiedades com a questão da segurança influirão em alguma atividade pública do papa, seja em Roma, seja quando ele pegar a estrada. (A sua próxima viagem está marcada para o começo de setembro, quando visitará a Colômbia.)

Na falta de indícios diretos de uma ameaça específica, a minha aposta é que o Papa Francisco não irá diminuir a sua exposição pública, e o mesmo eu diria quanto aos dois papas anteriores que cobri, Bento XVI e João Paulo II.

Em geral, os papas contam com uma preocupação com a questão da segurança muito menor em comparação com os outros líderes mundiais. Se olharmos o aparato de segurança em torno de um presidente americano ou do presidente da Rússia, as comparações com um papa sequer fazem sentido.

As equipes que trabalham para o papa são de alto nível, porém enfrentam limites no número de membros e no que podem fazer para manter o religioso longe de qualquer perigo.

Lembro certa vez de estar em uma viagem com João Paulo II na Grécia. Ele presidia uma missa em uma pequena avenida. Durante a procissão do ofertório, um homem não autorizado se juntou à fila e começou a se aproximar do papa. Ele estava talvez a meio passo do altar, a poucos metros de João Paulo, quando um segurança percebeu e o retirou.

As manchetes nos jornais do dia seguinte diziam: “Homem é atacado enquanto corria em direção ao papa!” Posso lhe garantir que ele “não corria”, pois usava muletas.

No final da missa, anunciou-se que o indivíduo era um sem-teto e estava doente, e que só queria dar a João Paulo uma amostra de seu trabalho. Por fim, foi trazido de volta, recebeu um abraço papal e posou para fotos. No entanto, é óbvio que essa história poderia ter acabado diferente.

Por que os papas se permitem correr perigos como este?

Além do aspecto pastoral de querer estar o mais próximo possível das pessoas, há uma outra dimensão que nem sempre entra nos cálculos para avaliar os níveis de segurança e que é, sem dúvida, real: os papas realmente acreditam que, no fim, o destino deles está nas mãos de um poder muito maior.

Eu não estava em Roma quando tentaram assassinar João Paulo, em 13-05-1981. Na verdade, eu cursava o ensino médio quando o fato ocorreu. No entanto, passei muito tempo ao longo dos anos conversando com quem estava lá, incluídos alguns dos assessores mais próximos do papa, os quais deixaram claro que João Paulo acreditava, com firmeza, que a Virgem Maria estendeu as mãos para ele naquele dia – era, lembremos, Dia de Nossa Senhora de Fátima – e o salvou.

Temos de concordar: João Paulo II era bem mais místico do que Bento XVI ou Francisco, mas todos estão convencidos de que o destino deles a Deus pertence.

Isso não quer dizer, é claro, que os papas são imprudentes ou que recusam medidas de segurança básicas. Mesmo o espontâneo Papa Francisco tornou-se um pouco mais disciplinado, geralmente permitindo que sua equipe de segurança faça barreiras à sua frente enquanto caminha entre as multidões.

Quando esteve na República Centro-Africana, Francisco quis parar próximo a uma igreja em que, diziam, cristãos haviam sido mortos recentemente. No entanto, ele acabou desistindo da ideia quando o núncio apostólico no país lhe explicou que era “perigoso demais”.

Da mesma forma, quando Francisco esteve nas Filipinas, um momento marcante aconteceu numa visita à ilha de Tacloban, local que tinha sido devastado por fortes tempestades. Mesmo assim, Francisco concordou em encurtar a sua programação quando os pilotos disseram que que uma tempestade tropical que se aproximava deixaria inseguro o seu retorno para casa.

Portanto, embora os papas não contem somente com a sorte – especialmente porque, onde quer que vão, a segurança de outras pessoas está em jogo também –, eles muitas vezes sentem uma calmaria maior quanto à própria segurança pessoal do que outras figuras públicas.

Novamente, temos de concordar: do ponto de vista deles, os papas contam com a rede de segurança máxima.

A reportagem é de John L. Allen Jr.- Crux