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“Os Estados Unidos continuam sendo o maior país cristão do mundo e devem manter este posto ao longo das próximas décadas. Mas tende a ser um país cada vez mais secularizado, desencantado (na expressão de Max Weber) e com alto grau de pluralidade religiosa. Mas caminha para ter um percentual de população “descrente” semelhante a outros grandes países, como China, Japão, Suécia, Suíça e Reino Unidos – todos com elevado número de pessoas que se declaram sem religião”, escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 12-06-2017.

Não apenas a América Latina e o Brasil estão passando por uma transição religiosa e por um processo de aumento da pluralidade. Os Estados Unidos (EUA), de maneira diferente dos seus vizinhos continentais do Sul, também estão passando por uma reconfiguração no seu panorama religioso.

Os EUA são o terceiro maior país do mundo em tamanho de população (estão atrás apenas da China e da Índia) e são o maior país cristão do mundo. De origem WASP (White, Anglo-Saxon and Protestant), os cristãos norte-americanos se dividem em três grandes ramos: protestantes tradicionais, protestantes pentecostais e católicos.

O gráfico do “The Public Religion Research Institute” (PRRI), (links abaixo) mostra que, em 1974, os protestantes (tradicionais e pentecostais) representavam 63% da população, os católicos 26%, os sem religião (unaffiliated) 7% e as outras religiões 4%.

Quarenta anos depois, em 2014, os protestantes caíram para 46%, os católicos caíram para 21% e os sem religião subiram para 23%. As outras religiões se mantiveram no mesmo patamar.

O mesmo gráfico do PRRI apresenta uma projeção linear para meados do atual século. A novidade seria a posição majoritária do grupo sem religião que ultrapassaria os protestantes em 2050 e seria o grupo majoritário (embora sem maioria absoluta).

Os católicos ficariam abaixo de 20% em 2050 e as outras religiões manteriam a mesma proporção de 4%. Ou seja, os EUA passariam por um forte processo de secularização e podendo chegar a mais de 40% de pessoas sem afiliação religiosa (aproximadamente o mesmo percentual que existe hoje no Uruguai).

Pesquisa do Instituto PEW mostra, com pequenas diferenças e maior desagregação, o quadro religioso nos EUA entre 2007 e 2014. Nota-se que a maior queda ocorreu entre os protestantes tradicionais que passaram de 18,1% para 14,7% entre 2007 e 2014. No mesmo período, a queda dos protestantes pentecostais foi de 26,3% para 25,4% e dos católicos de 23,9% para 20,8%. O maior aumento aconteceu entre os sem religião (unaffiliated) que passou de 16,1% em 2007 para 22,8% em 2014.

As outras religiões também subiram, passando de 4,7% para 5,9%, no mesmo período.

Pesquisa do Instituto Gallup mostra que o percentual de americanos que acreditam em Deus diminuiu de 90% no início do atual século para 79% em 2016. As pessoas que não estão certos da existência de Deus (aproximadamente equivalente a agnósticos) passou de algo em torno de 7% para 10% e os ateus passaram de2% para 11% no mesmo período.

O gráfico abaixo,no link, também do Instituto Gallup, mostra que o pertencimento a alguma igreja, sinagoga ou mesquita nos Estados Unidos tem diminuído desde a época da Segunda Guerra Mundial até 2016, passando de aproximadamente dois terços para pouco mais da metade.

Se o quadro geral é de aumento do percentual de pessoas sem religião e de redução da frequência religiosa, no caso dos jovens esta tendência é mais acirrada. O número de estudantes universitários sem afiliação religiosa triplicou nos últimos 30 anos, de 10% em 1986 para 31% em 2016, de acordo com dados do CIRP Freshman Survey, mostrado em matéria Scientific American (25/05/2017).

No mesmo período, o número de pessoas que frequentavam serviços religiosos caiu de 85% para 69%. O gráfico abaixo mostra como o número de alunos cuja preferência religiosa é “Nenhum” mudou ao longo do tempo. O recuo da religião começa por volta de 1990 e acelera, com uma média de quase 1 ponto percentual por ano. Essas tendências fornecem um retrato da atual geração de jovens adultos e fornecem um quadro da rápida secularização nos EUA.

Outro estudo do “The Public Religion Research Institute” (PRRI), denominado “EXODUS. Why Americans are Leaving Religion, and Why They’re Unlikely to Come Back” (2016) mostra que o crescimento no número de pessoas sem religião cresce em todas as idades, mas principalmente entre os jovens. Este estudo considera que o número de pessoas sem religião é maior do que o comumente mostrado nas pesquisas tradicionais.

Os Estados Unidos continuam sendo o maior país cristão do mundo e devem manter este posto ao longo das próximas décadas. Mas tende a ser um país cada vez mais secularizado, desencantado (na expressão de Max Weber) e com alto grau de pluralidade religiosa. Mas caminha para ter um percentual de população “descrente” semelhante a outros grandes países, como China, Japão, Suécia, Suíça e Reino Unidos – todos com elevado número de pessoas que se declaram sem religião.

Provavelmente, o crescimento da parcela da população sem religião deve ter influência sobre o conjunto da América Latina e do Brasil. O debate sobre “desencantamento”, “reencantamento” “ressacralização e secularização deve ganhar volume, especialmente se consideramos que todo o continente americano está ficando mais diverso e plural.

Referências:

– Robert P. Jones THE CHANGING AMERICAN LANDSCAPE, PRRI, 2015

Pew Research Center’s new Religious Landscape Study, 2015

– GALLUP. Most Americans Still Believe in God Gallup, Social Issues, June 29, 2016

– GALLUP. Five Key Findings on Religion in the US Gallup, December 23, 2016

– Allen Downey. Data from a nationwide survey shows students who list their affiliation as “none” has skyrocketed, May 25, 2017

– Robert P. Jones, Daniel Cox, Betsy Cooper, and Rachel Lienesch, EXODUS. “Why Americans are Leaving Religion, and Why They’re Unlikely to Come Back,The Public Religion Research Institute” (PRRI), September 22, 2016

Reborn

Sexta-feira à noite. Divididos em vestiários de um ginásio em São Paulo, lutadores se recuperam de combates enquanto outros se aquecem, colocam luvas e se preparam para as lutas seguintes.

Do lado de fora das portas, quem domina o centro do octógono montado para a quinta edição do Ultimate Reborn Fight (URF) é o bispo Leandro Miglioli, de 41 anos, da Igreja Apostólica Renascer em Cristo.

Sob as luzes da Arena Renascer — ginásio à beira do rio Tietê arrendado à igreja em 2015 pela Portuguesa —, o bispo Lê, como é conhecido, usa o microfone para um testemunho de fé em que cita a história de Davi e Golias, uma das histórias mais conhecidas da Bíblia.

“Davi partiu para cima de Golias e a vitória mais improvável aconteceu. Davi atirou uma pedra e Golias foi nocauteado imediatamente. Fui nocauteado pela cocaína dos 15 aos 20 anos, quando conheci o que dava a Davi o poder de vitória. (…) O dia em que coloquei meus pés nesta igreja nunca mais usei drogas”, diz o bispo.

“Você não entrou aqui hoje por acaso, apenas para assistir a essas lutas que adoro, mas porque Deus tem um propósito em sua vida. Se tiver a atitude que tive, que Davi teve, Jesus vai entrar em tua vida, e nunca mais esse gigante que te assola irá te vencer.”

Com as mãos ao alto e cabeças curvadas, o público, estimado pela organização em 3 mil pessoas, consente e repete as palavras da oração puxada pelo bispo.

A interrupção dura cerca de dez minutos e evidencia a principal diferença entre o URF e outros eventos profissionais de MMA (Mixed Martial Arts, ou artes marciais mistas).

Nos torneios da Renascer não há mulheres com placas entre os rounds nem álcool na plateia, e a disputa atlética serve de cenário para atrair jovens que não necessariamente dedicariam uma noite de sexta-feira à religião.

“O MMA é um esporte que exige muita dedicação e trabalho. Na igreja ele é praticado com a mesma qualidade: respeitando regras, com ordem e decência. Então não é manifestação de violência”, afirmou à BBC Brasil o apóstolo Estevam Hernandes Filho, de 63 anos, fundador da Renascer, para quem a igreja é “pioneira na realização de eventos esportivos como estratégia de evangelismo”.

A igreja evangélica, diz Hernandes, inicialmente abriu as portas para treinos, de olho em “atrair mais jovens para o esporte”. A grande procura motivou a realização, em 2013, do primeiro grande torneio de MMA profissional da Renascer, que também tem seu time de atletas, o Reborn Team (time renascer, em tradução livre).

Caminho ao octógono

No segundo andar de uma igreja da Renascer em São Mateus, extremo leste de São Paulo, uma sala usada para encontros comunitários faz às vezes de academia. Há espelhos na parede, luvas, troféus e tatames que os próprios alunos montam antes dos treinos gratuitos.

Boa parte dos pupilos passou pelas mãos de Roberto Pedroso, de 38 anos, o pastor Giraia. Praticante de artes marciais desde 1989, Giraia se converteu à Renascer em 2001 e está à frente do Reborn Team desde o começo dos torneios. “Muitas vezes você convida as pessoas a uma igreja e elas não vão, mas a uma noite de lutas elas vão”, diz.

O pastor rebate as críticas à ligação entre MMA e religião – que, segundo ele, vêm sobretudo de outros cristãos. “Já disseram que a igreja era ridícula, ironizando os torneios com a frase de Jesus sobre ‘oferecer a outra face’. Cada um pensa o que quer. Estou salvando vidas e fazendo o que Deus me chamou a fazer.”

Na conversa com a reportagem, o pastor-treinador enfatiza o que vê como receptividade da igreja. “Dizem que a Renascer é a igreja das portas largas. Glória a Deus. Porque é onde mais se abre a porta para gente se converter. Esse é o nosso foco e essência.”

Renato Silva, um dos novos alunos de Jiraya, deixa escapar, durante uma brincadeira, que os treinos o ajudam a enfrentar o vício em drogas.

“Tem um tempinho que estou ‘firmão’, mas estava envolvido com drogas, bebidas. O treinamento ajuda muito, você não têm noção. Você conhece pessoas novas, enquanto na ‘vida louca’ o pessoal com quem você anda não está enxergando. Um ditado diz que um cego não guia outro cego”, afirma ele, que treina na igreja às segundas e quintas-feiras, das 20h às 23h.

“Ontem eu fui, treinei, cheguei em casa moído. Não fiquei na rua”, conta.

Saindo das cordas

O MMA da Renascer não deixa de ser uma estratégia da igreja para se fortalecer após uma série de golpes na última década. Fundada em 1986 e apontada como promessa entre as denominações neopentecostais brasileiras nos anos 1990, a igreja diz ter hoje cerca de 550 igrejas – o que seria menos da metade do que já teria tido.

Em 2007, o casal fundador (Estevam e Sônia Hernandes) foi detido e condenado por contrabando nos EUA após entrar no país com US$ 56 mil não declarados – cumpriram aproximadamente dez meses de prisão em regime fechado e domiciliar. Dois anos depois, o teto da sede da igreja em São Paulo desabou, matando nove pessoas e ferindo mais de cem. Em 2011, a Igreja perdeu seu mais famoso fiel, o jogador de futebol Kaká.

A Renascer nega que haja relação entre os problemas recentes e a aposta nas lutas. “O objetivo do incentivo ao esporte é realmente alcançar vidas, ajudá-las, levar as pessoas a ter uma vida mais saudável e a conhecer Jesus. Não só esta como todas as atividades da igreja Renascer têm apenas este objetivo”, afirmou a assessoria.

Hernandes diz que o próximo passo da igreja no mundo do MMA é criar uma escola na favela de Heliópolis, em São Paulo, e promover um a dois eventos profissionais por ano. “Nosso objetivo é investir mais nestes eventos, não apenas em São Paulo, mas em outras regiões do país.”

Vale-tudo gospel

De volta ao ginásio paulistano, boa parte do público é formada por fieis da Renascer e fãs dos lutadores – alguns usam até camisetas com estampas de atletas. Os ingressos custam de R$ 30 a R$ 50 e tudo é transmitido pela Rede Gospel de Televisão, a rede VHF e UHF da Renascer.

Durante as lutas, é possível ouvir gritos tradicionais do público de MMA – como o “Uh, vai morrer!” -, mas nada que domine a arena. O sermão do bispo Lê promove engajamento: pessoas ficam de pé, erguem as mãos, fecham ou olhos ou repetem parte das frases. Mas há também gente aparentemente indiferente à pregação.

Com exceção da ausência de mulheres em trajes mínimos e de cerveja na arquibancada, o ritual é o mesmo de outros torneios de MMA: apresentador com tom dramático, três juízes, nada de cabeçadas, golpes nos genitais ou na nuca.

No octógono os atletas são todos profissionais, ainda que em início de carreira. Não é preciso treinar na igreja e nem ser ligado à Renascer para participar do evento, que vale registro no Sherdog, o banco de dados que é referência no MMA. O pagamento costuma ser em ingressos para os próprios torneios, de acordo com o nível do atleta.

Quem mais se destacou até hoje nos treinos da Renascer é um alagoano radicado em São Paulo, de 29 anos. José Alexandre, ou Zé Reborn, como é conhecido, foi convidado à equipe depois que um vizinho testemunhou o dia em que ele nocauteou um colega com apenas um soco durante uma brincadeira.

Hoje, cinco anos depois, o peso-mosca ostenta um cartel de 21 vitórias em 31 lutas profissionais.

“Comecei a treinar na igreja, mas ficava naquela: ‘Caramba, treinar um esporte violento na igreja’. Mas quando a pessoa conhece não é nada daquilo que se pensa. Pessoas de fora criticam e acabam se entregando, aceitando, se reconciliando com Deus e tudo mais”, afirma.

A família, também evangélica, resistiu à novidade no começo. A mulher ficava ressabiada e irmãos diziam: “Sai disso, volta para a igreja”, ao que Zé respondia: “Mas eu estou na igreja, mano!”.

Saudado pelo público e pelo narrador como grande atração da noite — ainda que sua luta não fosse a principal —, Zé Reborn demonstrou no octógono a concentração que exibia ao receber, ainda no vestiário, a benção do pastor Giraia.

Disparou um chute de direita que fez o adversário segurar-lhe a perna, mas permaneceu calmo após ser lançado ao chão. Levantou-se e levou a luta ao solo novamente,

invertendo a guarda. Buscou uma finalização até encaixar a guilhotina que encerrou o combate aos 4’27” do primeiro round.

Só então abriu um sorriso e gritou. Escalou as grades do octógono, sob abraços de Giraia. Ao receber o prêmio pela vitória, foi carregado nos ombros e posou para fotos com o pastor e o apóstolo Hernandes.

Apesar da celebração, o lutador ainda não consegue viver de seus socos e chutes. Pai de três crianças, trabalha como auxiliar de limpeza de condomínio por pouco menos de dois salários mínimos e treina à noite, até três vezes por semana.

As bolsas por luta variam de R$ 800 a R$ 2.000, mas ele diz já ter atuado em troca de ingressos e até de graça para melhorar o currículo. “As pessoas falam sobre sair do emprego e me dedicar apenas aos treinos. Viver só de luta é um sonho, claro. Mas como faço se sair do trabalho? Tenhos filhos”, questiona.

Apesar de saber que um eventual patrocínio poderia ajudá-lo a se dedicar ao MMA em tempo integral — aproximando-o do objetivo de lutar com atletas de ponta e até fora do país —, ele não demonstra ansiedade e diz que a parte financeira não é prioridade. “É uma honra lutar pela igreja. Não é sobre dinheiro. É conversão.”

Fonte: BBC Brasil.

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“Durante anos, olhamos para o processo em curso como observadores externos, pensando que fosse uma conversa entre a Igreja Luterana e a Católica. Mas os contínuos convites recebidos pelo mundo luterano e a vontade de diálogo, a partir do qual emerge a consciência de que são muitas mais as afinidades que nos unem do que aquelas que nos dividem, encorajaram-nos a reconsiderar a nossa posição. E eu estou aqui em Windhoek, na 12ª Assembleia Luterana Mundial, para compartilhar com os delegados a alegria do anúncio da assinatura, por parte da Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas (WCRC), da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação.” ( Veja abaixo a declaração)

***

Nos sofás que adornam os imensos corredores do hotel que hospeda, na capital da Namíbia, os trabalhos das 145 Igrejas-membro da Federação Luterana Mundial (FLM), Chris Ferguson, o secretário-geral da WCRC – que reúne, por sua vez, 225 Igrejas reformadas, incluindo a Igreja Valdense – ajuda-nos a repassar as principais etapas dessa escolha: “O texto da declaração se baseia no princípio do ‘consenso diferenciado’, que conta com uma longa tradição ecumênica e que enfatiza como as diversas linguagens teológicas utilizadas para expressar, neste caso, a doutrina da justificação à luz dessa compreensão comum não devem ser mais matéria divisiva. Este é um ponto decisivo: as diferenças permanecem como um aspecto fundamental das nossas Igrejas e do nosso modo de ser cristãos, a justificação; mas prevalece o desejo de explorar novos caminhos, novas relações. Dizemos que é uma declaração de intenções”.

Em 2010, o Conselho Geral da WCRC tinha aberto as consultas com as suas Igrejas-membro. Houve mesas de trabalho, chegaram opiniões, debateu-se, não foi uma escolha óbvia. “Em 2016, em Havana – continua Ferguson – o Comitê Executivo também recomendou que se aceitasse o convite de se juntar à declaração, em conformidade com o princípio ‘Ecclesia reformata, semper reformanda secundum verbum dei’, e, ao mesmo tempo, pediu que o documento oficial de associação à declaração trouxesse uma referência à ligação entre justificação e justiça, como contribuição reformada para o futuro diálogo ecumênico sobre a compreensão da própria justificação.”

A assinatura no texto da declaração ocorrerá durante uma cerimônia no próximo dia 5 de julho, em Wittenberg, na presença de representantes do mundo luterano, católico e também metodista e anglicano, que, por sua vez, assinaram o texto em 2006 e em 2016.

No mesmo dia, será assinado outro documento, desta vez nascido ad hoc em âmbito reformado e luterano, intitulado “O testemunho de Wittenberg”, que, a partir das celebrações conjuntas ligadas aos 500 anos do início da Reforma protestante, confessa, por um lado, a tragédia de uma Igreja dividida, mas reivindica, por outro, o fruto de décadas de diálogo entre as duas organizações e festeja os novos passos rumo à unidade iniciados pelas respectivas Igrejas-membro em todo o mundo.

“É a aposta dos próximos 500 anos – conclui o secretário Ferguson –, diante das tragédias do mundo, Deus nos quer unidos. As Igrejas podem desempenhar um papel-chave para levar as pessoas à paz nesta terra. E, unidas, são mais fortes. Deus nos chama a isso, a superar as divisões, diante do valor mais alto do bem comum para todos.”

O conceito de consenso diferenciado

Sobre o conceito de “consenso diferenciado”, pode ser útil ler o livro datado de 1999, Il consenso cattolico-luterano sulla dottrina della Giustificazione [O consenso católico-luterano sobre a doutrina da Justificação], editado por Fulvio Ferrario e Paolo Ricca, e publicado pela editora Claudiana.

Na introdução escrita pelo então decano da Igreja Luterana na Itália, o pastor Jürgen Astfalk, afirma-se: “Um consenso não significa pleno acordo. Em um consenso, as diferenças são vistas e não escondidas. As diferenças são elencadas, mas não são mais consideradas como tais a ponto de dividir a Igreja. O método do consenso possibilitou a Concórdia de Leuenberg. As diferentes compreensões dos luteranos e dos reformados – por exemplo – na doutrina da Santa Ceia continuando existindo. Os responsáveis pelas Igrejas, porém, estabeleceram que elas não são tão importantes a ponto de determinar uma divisão entre as Igrejas evangélicas interessadas”.

Site: Riforma

DECLARAÇÃO CONJUNTA SOBRE A
DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO

Preâmbulo

1. A doutrina da justificação teve importância central para a Reforma luterana do século XVI. Era considerada o “primeiro e principal artigo” [1] e simultaneamente “regente e juiz sobre todas as partes da doutrina cristã” [2]. A doutrina da justificação foi particularmente sustentada e defendida em sua expressão reformatória e sua relevância especial face à teologia e à Igreja católica romana de então as quais, por sua vez, sustentavam e defendiam uma doutrina da justificação com características diferentes. Aqui, segundo a prospectiva reformatória, residia o cerne de todas as confrontações. Elas resultaram em condenações doutrinais nos escritos confessionais luteranos [3] e no Concílio de Trento da Igreja católica romana. Essas condenações vigoram até hoje e têm efeito divisor entre as Igrejas.

2. Para a tradição luterana a doutrina da justificação conservou essa relevância especial. Por isso, desde o início, ela também ocupou um lugar importante no diálogo oficial luterano-católico.

3. Remetemos em especial aos relatórios “O evangelho e a Igreja” (1972) [4] e “Igreja e justificação” (1994) [5], da Comissão Mista católica romana/evangélica luterana internacional, ao relatório “Justificação pela fé” (1983) [6], do diálogo católico-luterano nos Estados Unidos, e ao estudo “Condenações doutrinais – divisoras das Igrejas?” (1986) [7], do Grupo de Trabalho Ecumênico de teólogos evangélicos e católicos na Alemanha. Alguns destes relatórios de diálogo obtiveram recepção oficial. Exemplo importante constitui o posicionamento compromissivo emitido pela Igreja Evangélico-Luterana Unida da Alemanha, juntamente com as outras Igrejas pertencentes à Igreja Evangélica na Alemanha, com o máximo grau possível de reconhecimento eclesiástico do estudo sobre as condenações doutrinais (1994) [8].

4. Todos os relatórios de diálogo citados, bem como os posicionamentos a seu respeito, revelam em seu tratamento da doutrina da justificação, alto grau de orientação e juízos comuns. Por isso está na hora de fazer um balanço e de resumir os resultados dos diálogos sobre a justificação, de modo a informar nossas Igrejas, com a devida precisão e brevidade, sobre o resultado geral desse diálogo e de dar-lhes, ao mesmo tempo, condições de se posicionarem de modo compromissivo a respeito.

5. É isso o que pretende a presente Declaração Conjunta. Ela quer mostrar que, com base no diálogo, as Igrejas luteranas signatárias e a Igreja católica romana [9] estão agora em condições de articular uma compreensão comum de nossa justificação pela graça de Deus na fé em Cristo. Esta Declaração Comum (DC) não contém tudo o que é ensinado sobre justificação em cada uma das Igrejas, mas abarca um consenso em verdades básicas da doutrina da justificação e mostra que os desdobramentos distintos ainda existentes não constituem mais motivo de condenações doutrinais.

6. Nossa DC não é uma exposição nova e independente, ao lado dos relatórios de diálogo e documentos já existentes, nem pretende, muito menos, substitui-los. Ela se reporta, antes, a esses textos e sua argumentação.

7. Assim como os próprios diálogos, também esta DC se baseia na convicção de que uma superação de questões controversas e de condenações doutrinárias até agora vigentes não minimiza as divisões e condenações nem desautoriza o passado da própria Igreja. Repousa, porém, sobre a convicção de que no decorrer da história nossas Igrejas chegam a novas percepções e de que ocorrem desdobramentos que não só lhes permitem, mas ao mesmo tempo também exigem, que as questões e condenações divisoras sejam examinadas e vistas sob uma nova luz.

1. A mensagem bíblica da justificação


8. Fomos levados a essas novas percepções por nossa maneira conjunta de escutar a palavra de Deus nas Escrituras Sagradas. Juntos ouvimos o evangelho de que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Esta Boa Nova é exposta de diferentes maneiras nas Escrituras Sagradas. No Antigo Testamento ouvimos a palavra de Deus sobre a pecaminosidade humana (cf. Sl 51, 1-5; Dn 9, 5 s.; Ecl 8, 9 s.; Esd 9, 6 s.) e sobre a desobediência humana (cf. Gn 3, 1-19; Ne 9, 16 s.26), bem como sobre a justiça (cf. Is 46, 13; 51, 5-8; 56, 1 [cf. 53, 11]; Jr 9, 24) e o juízo de Deus (cf. Ecl 12, 14; Sl 9, 5 s.; 76, 7-9).

9. No Novo Testamento os temas “justiça” e “justificação” são abordados de maneira diferenciada em Mateus (cf. 5, 10; 6, 33; 21, 32), em João (cf. 16, 8-11), na Epístola aos Hebreus (cf. 5, 13; 10, 37 s.) e na Epístola de Tiago (cf. 2, 14-26). [10] Também nas cartas paulinas o dom da salvação é descrito de diferentes modos, entre outros como “libertação para a liberdade” (Gl 5, 1-13; cf. Rm 6, 7), como “reconciliação com Deus” (2 Cor 5, 18-21; cf. Rm5, 11), como “paz com Deus” (Rm 5, 1), como “nova criação” (2 Cor 5, 17), como “vida para Deus em Cristo Jesus” (Rm 6, 11-23) ou como “santificação  em  Cristo Jesus”  (cf.  1  Cor  1, 2; 1, 30; 2 Cor 1, 1). Salienta-se entre esses conceitos a descrição como “justificação” do pecador pela graça de Deus na fé (cf. Rm 3, 23-25), que foi destacada de maneira especial no tempo da Reforma.

10. Paulo descreve o evangelho como poder de Deus para a salvação do ser humano caído sob o poder do pecado:  como mensagem que proclama a “justiça de Deus de fé em fé” (Rm 1, 16 s.) e que presenteia a “justificação” (Rm 3, 21-31). Ele anuncia Cristo como “nossa justiça” (1 Cor 1, 30) ao aplicar ao Senhor ressuscitado o que Jeremias disse acerca do próprio Deus (cf. 23, 6). Na morte e na ressurreição de Cristo estão enraizadas todas as dimensões de sua obra redentora, porque “nosso Senhor foi entregue por causa de nossas transgressões e ressuscitou por causa de nossa justificação” (Rm 4, 25). Todos os seres humanos necessitam da justiça de Deus, “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3, 23; cf. Rm 1, 18-3.22; 11, 32; Gl 3, 22). Nas cartas aos Gálatas (cf. 3, 6) e aos Romanos (cf. 4, 3-9) Paulo entende a fé de Abraão (cf. Gn 15, 6) como fé no Deus que justifica o pecador (cf. Rm 4, 5) e invoca o testemunho do Antigo Testamento para sublinhar seu evangelho de que aquela justiça será imputada a todos os que, como Abraão, confiam na promessa de Deus. “O justo viverá pela fé” (Hab 2, 4; cf. Gl 3, 11; Rm 1, 17). Nas cartas paulinas a justiça de Deus é simultaneamente o poder de Deus para cada crente (cf. Rm 1, 16 s.). Em Cristo ele faz com que ela seja nossa justiça (cf. 2 Cor 5, 21). Recebemos a justificação por Cristo Jesus, “a quem Deus propôs, em seu sangue, como propiciação [eficaz] mediante a fé” (Rm 3, 25; cf. 3, 21-28). “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras” (Ef 2, 8 s.).

11. Justificação é perdão dos pecados (cf. Rm 3, 23-25; At 13, 39; Lc 18, 14), libertação do poder dominante do pecado e da morte (cf. Rm 5, 12-21) e da maldição da lei (cf. Gl 3, 10-14). Ela significa acolhida na comunhão com Deus, já agora, mas de forma plena no reino vindouro de Deus (cf. Rm 5, 1 s.). Une com Cristo e sua morte e ressurreição (cf. Rm 6, 5). Acontece no recebimento do Espírito Santo no batismo como incorporação no corpo uno (cf. Rm 8, 1 s., 9 s.; 1 Cor 12, 12 s.). Tudo isso provém somente de Deus, por amor de Cristo, por graça, pela fé no “evangelho de Deus com respeito a seu Filho” (cf. Rm 1, 1-3).

12. As pessoas justificadas vivem a partir da fé que provém da palavra de Cristo (cf. Rm 10, 17) e que atua no amor (cf. Gl 5, 6), o qual é fruto do Espírito (cf. Gl 5, 22 s.). Mas, visto que poderes e ambições atribulam as pessoas crentes por fora e por dentro (cf. Rm 8, 35-39; Gl 5, 16-21) e elas caem em pecado (cf. 1 Jo 1, 8.10), precisam repetidamente ouvir as promissões de Deus, confessar seus pecados (cf. 1 Jo 1, 9), participar do corpo e do sangue de Cristo e ser exortadas a viver uma vida justa em conformidade com a vontade de Deus. Por isso o apóstolo diz às pessoas justificadas:  “Desenvolvei vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer quanto o realizar, segundo a sua vontade” (Fl 2, 12 s.). Permanece, porém, a Boa Nova:  “Já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8, 1) e nos quais Cristo vive (cf. Gl 2, 20). Por intermédio da obra justa de Cristo haverá justificação que dá vida para todos os seres humanos (cf. Rm 5, 18).

2. A doutrina da justificação como problema ecumênico


13. No século XVI, a interpretação e aplicação contrastantes da mensagem bíblica da justificação constituíram uma das causas principais da divisão da Igreja ocidental, o que também se expressou em condenações doutrinais. Por isso, para superar a divisão na Igreja, uma compreensão comum da justificação é fundamental e indispensável. Acolhendo resultados da pesquisa bíblica e percepções da história da teologia e dos dogmas, desenvolveu-se no diálogo ecumênico desde o Concílio Vaticano II uma nítida aproximação no que diz respeito à doutrina da justificação, de modo que a presente DC pode formular um consenso em verdades básicas da doutrina da justificação a cuja luz as correspondentes condenações doutrinais do século XVI não mais se aplicam ao parceiro de hoje.

3. A compreensão comum da justificação


14. O ouvir comum da Boa Nova proclamada nas Sagradas Escrituras e, não por último, os diálogos teológicos de anos recentes entre as Igrejas luteranas e a Igreja católica romana levaram a uma concordância na compreensão da justificação. Ela abarca um consenso nas verdades básicas; os desdobramentos distintos nas afirmações específicas são compatíveis com ela.

15. É nossa fé comum que a justificação é obra do Deus uno e trino. O Pai enviou seu Filho ao mundo para a salvação dos pecadores. A encarnação, a morte e a ressurreição de Cristo são fundamento e pressuposto da justificação. Por isso justificação significa que o próprio Cristo é nossa justiça, da qual nos tornamos participantes através do Espírito Santo segundo a vontade do Pai. Confessamos juntos:  somente por graça, na fé na obra salvífica de Cristo, e não por causa de nosso mérito, somos aceitos por Deus e recebemos o Espírito Santo, que nos renova os corações e nos capacita e chama para as boas obras [11].

16. Todas as pessoas são chamadas por Deus para a salvação em Cristo. Somos justificados somente por Cristo ao recebermos essa salvação na fé. A própria fé, por sua vez, é presente de Deus através do Espírito Santo, que atua na palavra e nos sacramentos na comunhão dos crentes e que, ao mesmo tempo, conduz os crentes àquela renovação de sua vida que Deus consuma na vida eterna.

17. Compartilhamos a convicção de que a mensagem da justificação nos remete de forma especial ao centro de testemunho neotestamentário da ação salvífica de Deus em Cristo:  ela nos diz que como pecadores devemos nossa vida nova unicamente à misericórdia perdoadora e renovadora de Deus, misericórdia esta com a qual só podemos ser presenteados e que só podemos receber na fé, mas que nunca – de qualquer forma que seja – podemos fazer por merecer.

18. Por isso a doutrina da justificação, que assume e desdobra essa mensagem, não é apenas um aspecto parcial da doutrina cristã. Ela se encontra numa relação essencial com todas as verdades da fé, as quais devem ser vistas numa conexão interna entre si. Ela é um critério indispensável que visa orientar toda a doutrina e prática da Igreja incessantemente para Cristo. Quando luteranos acentuam a importância singular desse critério, não negam a conexão e a importância de todas as verdades da fé. Quando católicos se sentem comprometidos com vários critérios, não negam a função especial da mensagem da justificação. Luteranos e católicos compartilham o alvo comum de confessar em tudo a Cristo, ao qual unicamente importa confiar, acima de todas as coisas, como mediador uno (cf. 1 Tm 2, 5 s.) pelo qual Deus, no Espírito Santo, dá a si mesmo e derrama seus dons renovadores.

4. O desdobramento da compreensão comum da justificação

4.1. Incapacidade e pecado humanos face à justificação


19. Confessamos juntos que o ser humano, no concernente à sua salvação, depende completamente da graça salvadora de Deus. A liberdade que ele possui para com as pessoas e coisas do mundo não é liberdade com relação à salvação. Isto quer dizer que, como pecador, ele se encontra sob o juízo de Deus, sendo por si só incapaz de se voltar a Deus em busca de salvamento, ou de merecer sua justificação perante Deus, ou de alcançar a salvação pela própria força. Justificação acontece somente por graça. Porque católicos e luteranos confessam isso conjuntamente, deve-se dizer:

20. Quando católicos dizem que o ser humano “coopera” no preparo e na aceitação da justificação por assentir à ação justificadora de Deus, eles vêem mesmo nesse assentimento pessoal um efeito da graça, e não uma ação humana a partir de forças próprias.

21. Segundo a concepção luterana o ser humano é incapaz de cooperar em sua salvação, porque como pecador ele resiste ativamente a Deus e à sua ação salvadora. Luteranos não negam que o ser humano possa rejeitar a atuação da graça. Quando sublinham que o ser humano pode tão-somente receber (mere passive) a justificação, rejeitam com isso qualquer possibilidade de uma contribuição própria do ser humano para sua justificação, mas não negam sua plena participação pessoal na fé, que é operada pela própria palavra de Deus.

4.2. Justificação como perdão de pecados e ato de tornar justo


22. Confessamos juntos que Deus, por graça, perdoa ao ser humano o pecado, e o liberta ao mesmo tempo do poder escravizador do pecado em sua vida e lhe presenteia a nova vida em Cristo. Quando o ser humano tem parte em Cristo na fé, Deus não lhe imputa seu pecado e, pelo Espírito Santo, opera nele um amor ativo. Ambos os aspectos da ação graciosa de Deus não devem ser separados. Eles estão correlacionados de tal maneira que o ser humano, na fé, é unido com Cristo que em sua pessoa é nossa justiça (cf. 1 Cor 1, 30):  tanto o perdão dos pecados quanto a presença santificadora de Deus. Porque católicos e luteranos confessam isso conjuntamente, deve-se dizer:

23. Quando luteranos enfatizam que a justiça de Cristo é nossa justiça, querem sobretudo assegurar que ao pecador, pelo anúncio do perdão, é representada a justiça perante Deus em Cristo e que sua vida é renovada somente em união com Cristo. Quando dizem que a graça de Deus é amor que perdoa (“favor de Deus”) [12], não negam com isso a renovação da vida do cristão, mas querem expressar que a justificação permanece livre de cooperação humana, tampouco dependendo do efeito renovador de vida que a graça produz no ser humano.

24. Quando católicos enfatizam que ao crente é presenteada a renovação da pessoa interior pelo recebimento da graça, [13] querem assegurar que a graça perdoadora de Deus sempre está ligada ao presente de uma nova vida, que no Espírito Santo se torna efetiva em amor ativo; mas não negam com isso que o dom da graça divina na justificação permanece independente de cooperação humana.

4.3. Justificação por fé e por graça


25. Confessamos juntos que o pecador é justificado pela fé na ação salvífica de Deus em Cristo; essa salvação lhe é presenteada pelo Espírito Santo no batismo como fundamento de toda a sua vida cristã. Na fé justificadora o ser humano confia na promessa graciosa de Deus; nessa fé estão compreendidos a esperança em Deus e o amor a Ele. Essa fé atua pelo amor; por isso o cristão não pode e não deve ficar sem obras. Mas tudo o que, no ser humano, precede ou se segue ao livre presente da fé não é fundamento da justificação nem a faz merecer.

26. Segundo a compreensão luterana, Deus justifica o pecador somente na fé (sola fide). Na fé o ser humano confia inteiramente em seu Criador e Redentor e está assim em comunhão com ele. Deus mesmo é quem opera a fé ao produzir tal confiança por sua palavra criadora. Porque essa ação divina constitui uma nova criação, afeta todas as dimensões da pessoa e conduz a uma vida em esperança e amor. Assim, na doutrina da “justificação somente pela fé”, a renovação da conduta de vida que necessariamente se segue à justificação, e sem a qual não pode haver fé, é distinguida da justificação, mas não é separada dela. Com isso é indicado, antes, o fundamento do qual provém tal renovação. Do amor de Deus, que é presenteado ao ser humano na justificação, provém a renovação da vida. A justificação e a renovação estão ligadas pelo Cristo presente na fé.

27. Também segundo a compreensão católica a fé é fundamental para a justificação, pois sem fé não pode haver justificação. Como ouvinte da palavra e crente o ser humano é justificado por meio do batismo. A justificação do pecador é perdão dos pecados e ato que torna justo através da graça justificadora, que nos torna filhos e filhas de Deus. Na justificação as pessoas justificadas recebem de Cristo fé, esperança e amor e são assim acolhidas na comunhão com Ele. [14] Essa nova relação pessoal com Deus se baseia inteiramente na graciosidade divina e fica sempre dependente da atuação criadora de salvação do Deus gracioso, que permanece fiel a si mesmo e no qual o ser humano pode por isso confiar. Por esta razão a graça justificadora nunca se converte em posse do ser humano, à qual ele pudesse apelar diante de Deus. Quando, segundo a compreensão católica, se acentua a renovação da vida através da graça justificadora, essa renovação em fé, esperança e amor sempre depende da graça inescrutável de Deus e não representa qualquer contribuição para a justificação da qual pudéssemos orgulhar-nos diante de Deus (cf. Rm 3, 27).

4.4. A  pessoa  justificada  como  pecadora

28. Confessamos juntos que no batismo o Espírito Santo une a pessoa com Cristo, a justifica e realmente a renova. Não obstante, a pessoa justificada durante toda a vida permanece incessantemente dependente da graça de Deus que justifica de modo incondicional. Também ela está continuamente exposta ao poder do pecado e suas investidas (cf. Rm 6, 12-14), não estando isenta da luta vitalícia contra a oposição a Deus em termos de cobiça egoísta do velho Adão (cf. Gl 5, 16; Rm 7, 7.10). Também a pessoa justificada precisa pedir, como no Pai Nosso, a cada dia, o perdão de Deus (cf. Mt 6, 12; 1 Jo 1, 9), é chamada constantemente à conversão e ao arrependimento e recebe continuamente o perdão.

29. Luteranos entendem isso no sentido de que a pessoa cristã é “ao mesmo tempo justa e pecadora”:  ela é totalmente justa porque Deus, por palavra e sacramento, lhe perdoa o pecado e lhe concede a justiça de Cristo, da qual ela se apropria pela fé e a qual em Cristo a torna justa diante de Deus. Olhando, porém, para si mesma através da lei, ela reconhece que continua ao mesmo tempo totalmente pecadora, que o pecado ainda habita nela (cf. 1 Jo 1, 8; Rm 7, 17.20):  porque reiteradamente confia em falsos deuses e não ama a Deus com aquele amor indiviso que Deus como seu criador dela exige (cf. Dt 6, 5; Mt 22, 36-40). Essa oposição a Deus é, como tal, verdadeiramente pecado. Não obstante, graças ao mérito de Cristo, o poder escravizante do pecado está rompido:  já não é pecado que “domina” a pessoa cristã por estar “dominado” por Cristo, com o qual a pessoa justificada está unida na fé; assim a pessoa cristã, enquanto vive na terra, pode ao menos em parte viver uma vida em justiça. E, a despeito do pecado, não está mais separada de Deus, porque no retorno diário ao batismo ela, que renasceu pelo batismo e pelo Espírito Santo, tem seu pecado perdoado, de sorte que seu pecado já não lhe acarreta condenação e morte eterna. [15] Portanto, quando luteranos dizem que a pessoa justificada é também pecadora e que sua oposição a Deus é verdadeiramente pecado, não negam que, a despeito do pecado, ela está inseparada de Deus em Cristo e que seu pecado é pecado dominado. Neste último aspecto estão em concordância com os católicos romanos, apesar das diferenças na compreensão do pecado da pessoa justificada.

30. Segundo a concepção católica, a graça de Jesus Cristo concedida no batismo apaga tudo o que é “realmente” pecado, o que é “digno de condenação” (Rm 8, 1),[16] mas que permanece na pessoa uma inclinação (concupiscência) proveniente do pecado e tendente ao pecado. Uma vez que, conforme a convicção católica, o surgimento dos pecados humanos sempre implica um elemento pessoal, e como este elemento falta naquela inclinação contrária a Deus, católicos não vêem nela pecado em sentido autêntico. Com isso não querem negar que essa inclinação não corresponde ao desígnio original de Deus para a humanidade nem que é objetivamente oposição a Deus e que permanece objeto de luta vitalícia; em gratidão pela redenção por intermédio de Cristo querem destacar que a inclinação contrária a Deus não merece o castigo de morte eterna [17] e não separa a pessoa justificada de Deus. Quando, porém, a pessoa justificada se separa voluntariamente de Deus, não basta voltar a observar os mandamentos, mas ela precisa receber, no sacramento da reconciliação, perdão e paz pela palavra do perdão que lhe é conferida por força da obra reconciliadora de Deus em Cristo.

4.5. Lei e evangelho

31. Confessamos juntos que o ser humano é justificado na fé no evangelho “independentemente de obras da lei” (Rm 3, 28). Cristo cumpriu a lei e, por sua morte e ressurreição, a superou como caminho para a salvação. Confessamos ao mesmo tempo que os mandamentos de Deus permanecem em vigor para a pessoa justificada e que Cristo, em sua palavra e sua vida, expressa a vontade de Deus, que constitui padrão de conduta também para a pessoa justificada.

32. Os luteranos sustentam que a distinção e a correta correlação de lei e evangelho é essencial para a compreensão da justificação. A lei, em seu uso teológico, é exigência e acusação às quais está sujeita durante a vida inteira toda pessoa, também pessoa cristã, na medida em que é pecadora; e a lei põe a descoberto seu pecado para que na fé no evangelho, ela se volte inteiramente para a misericórdia de Deus em Cristo, a qual unicamente a justifica.

33. Uma vez que a lei como caminho de salvação foi cumprida e superada pelo evangelho, católicos podem dizer que Cristo não é um legislador à maneira de Moisés. Quando católicos acentuam que a pessoa justificada é obrigada a observar os mandamentos de Deus, não negam com isso que a graça da vida eterna é misericordiosamente prometida aos filhos e filhas de Deus por Jesus Cristo [18].

4.6. Certeza de salvação


34. Confessamos  juntos  que  as pessoas  crentes  podem  confiar  na  misericórdia e nas promissões de Deus. Também em face de sua própria fraqueza e de muitas ameaças para sua fé, podem basear-se – graças à morte e ressurreição de Cristo – na promessa eficaz da graça de Deus em palavra e sacramento e, assim, ter certeza desta graça.

35. Isto foi acentuado de maneira especial pelos reformadores:  em meio à tribulação a pessoa crente não deve olhar para si mesma, mas inteiramente para Cristo e confiar somente nele. Assim, na confiança na promissão de Deus, ela tem certeza de sua salvação, mesmo que, olhando para si mesma, nunca esteja segura.

36. Católicos podem compartilhar da preocupação dos reformadores de basear a fé na realidade objetiva da promessa de Cristo, desconsiderando a própria experiência e confiando somente na palavra promitente de Cristo (cf. Mt 16, 19; 18, 18). Com o Concílio Vaticano II os católicos sustentam:  crer significa confiar-se inteiramente a Deus, [19] que nos liberta das trevas do pecado e da morte e nos desperta para a vida eterna. [20] Neste sentido não se pode crer em Deus e, ao mesmo tempo, não considerar confiável a promessa divina. Ninguém deve duvidar da misericórdia de Deus e do mérito de Cristo. Mas toda pessoa pode estar preocupada com sua salvação quando olha para suas próprias fraquezas e insuficiências. Mesmo inteiramente consciente de seu próprio fracasso, contudo, a pessoa crente pode ter certeza de que Deus quer sua salvação.

4.7. As boas obras da pessoa justificada

37. Confessamos juntos que boas obras – uma vida cristã em fé, esperança e amor – se seguem à justificação e são frutos da justificação. Quando a pessoa justificada vive em Cristo e atua na graça recebida produz, biblicamente falando, bom fruto. Essa conseqüência da justificação é ao mesmo tempo uma obrigação a ser cumprida pelo cristão, na medida em que luta contra o pecado durante a vida toda; por isso Jesus e os escritos apostólicos admoestam os cristãos a realizar obras de amor.

38. De acordo com a concepção católica, as boas obras, tornadas possíveis pela graça e pela ação do Espírito Santo, contribuem para um crescimento na graça de tal modo que a justiça recebida de Deus é conservada e a comunhão com Cristo, aprofundada. Quando católicos sustentam o caráter “meritório” das boas obras, querem dizer que, segundo o testemunho bíblico, essas obras têm a promessa de recompensa no céu. Querem destacar a responsabilidade do ser humano por seus atos, mas não contestar com isso o caráter de presente das boas obras nem, muito menos, negar que a justificação como tal permanece sendo sempre presente imerecido da graça.

39. Também entre os luteranos existe a idéia de uma preservação da graça e de um crescimento em graça e fé. Acentuam, contudo, que a justiça como aceitação da parte de Deus e participação na justiça de Cristo, sempre é perfeita; mas dizem ao mesmo tempo que seu efeito na vida cristã pode crescer. Quando vêem as boas obras da pessoa cristã como “frutos” e “sinais” da justificação, não como “méritos” próprios, não deixam, no entanto, de entender a vida eterna, conforme o Novo Testamento, como “galardão” imerecido no sentido do cumprimento da promessa divina aos crentes.

5. O significado e o alcance do consenso obtido


40. A compreensão da doutrina da justificação exposta nesta DC mostra que entre luteranos e católicos existe um consenso em verdades básicas da doutrina da justificação. À luz desse consenso as diferenças remanescentes na terminologia, na articulação teológica e na ênfase da compreensão da justificação descritas nos parágrafos 18 a 39 são aceitáveis. Por isso as formas distintas pelas quais luteranos e católicos articulam a fé na justificação estão abertas uma para a outra e não anulam o consenso nas verdades básicas.

41. Com isso também as condenações doutrinais do século XVI, na medida em que dizem respeito à doutrina da justificação, aparecem sob uma nova luz:  a doutrina das Igrejas luteranas apresentada nesta Declaração não é atingida pelas condenações do Concílio de Trento. As condenações contidas nos escritos confessionais luteranos não atingem a doutrina da Igreja católica romana exposta nesta Declaração.

42. Com isso não se tira nada da seriedade das condenações doutrinais referentes à doutrina da justificação. Algumas delas não eram simplesmente infundadas; elas conservam para nós “o significado de advertências salutares”, que devemos observar na doutrina e na prática [21].

43. Nosso consenso em verdades básicas da doutrina da justificação precisa surtir efeitos e comprovar-se na vida e na doutrina das Igrejas. A respeito existem ainda questões de importância diversificada que exigem ulteriores esclarecimentos. Entre outras, por exemplo, a relação entre a palavra de Deus e doutrina eclesiástica, bem como a doutrina a respeito da Igreja, da autoridade na Igreja, de sua unidade, do ministério e dos sacramentos, e finalmente a doutrina da relação entre justificação e ética social. Temos a convicção de que a compreensão comum obtida oferece uma base sólida para esse esclarecimento. As Igrejas luteranas e a Igreja católica romana continuarão se empenhando por aprofundar a compreensão comum e fazê-la frutificar na doutrina e na vida eclesiais.

44. Damos graças ao Senhor por este passo decisivo rumo à superação da divisão da Igreja. Rogamos ao Espírito Santo que nos conduza adiante para aquela unidade visível que é a vontade de Cristo.


Notas

 1) Os artigos de Esmalcalde II, 1 (Livro de concórdia:  as confissões da Igreja Evangélica Luterana, 3ª ed., São Leopoldo, Sinodal, Porto Alegre:  Concórdia, 1983, pág. 312).

 2) “Rector et iudex omnia genera doctrinarum” (Edição de Weimar das obras de Lutero, 39/I, 205).

 3) Note-se que uma série de Igrejas luteranas adotaram como base doutrinária compromissiva somente a Confissão de Ausburgo e o Catecismo Menor de Lutero. Estes escritos confessionais não contêm condenações doutrinais referentes à doutrina da justificação em relação à Igreja católica romana.

 4) COMISSÃO MISTA NACIONAL CATÓLICO-LUTERANA, O evangelho e a Igreja, s.d.

 5) GEMEINSAME RÖMISCH-KATHOLISCHE/EVANGELISCH-LUTHERISCHE KOMMISSION (ed.), Kirche und rechtfertigung:  Das Verständnis der Kirche im Licht der Rechtfertigungslehre, Paderborn/Frankfurt, 1994.

 6) Lutherish/Römisch-Katholischer Dialog in den USA:  Rechtfertigung durch den Glauben (1983), in:  Harding MEYER, Günther GASSMAN (eds.), Rechtfertigung im ökumenischen Dialog:  Dokumente und Einführung, Frankfurt, 1987, pp. 107-200. Em ingles:  Lutherans and Catholics in Dialogue, Minneapolis, 1985, vol. VIII.

 7) Lehrverurteilungen – Kirchentrennend?:  vol. I:  Karl LEHMANN, Wolfhart PANNENBERG (eds.), Rechtfertigung, Sakramente und Amt im Zeitalter der Reformation und heute, Friburgo/Göttingen, 1986.

 8) Gemeinsame Stellungnahme der Arnolshainer Konferenz, der Vereinigten Kirche und des Deutschen Nationalkomitees des Lutherischen Weltbundes zum Dokument “Lehrverteilungen – kirchentrennend?”, Ökumenische Rundschau, v. 44, pp. 99-102, 1995; incluindo os posicionamentos que servem de base a essa resoluçao, cf. Lehrveruteilungen im Gespräch: Die ersten ofiziellen Stellungnahmen aus den evangelischen Kirchen in Deustschland, Göttingen, 1983.

 9) Na presente DC a palavra “Igreja” reproduz a respectiva autocompreensao das Igrejas participantes, sem que com isso se queira considerar resolvidas todas as questoes eclesiológicas a ela associadas.

10) Cf. Relatório de Malta nn. 26-30; Rechtfertigung durch den Glauben, nn. 122-147. Por incumbencia do diálogo sobre a justificaçao nos EUA, os testemunhos neotestamentários nao-paulinos foram examinados por John REUMANN, Righteousness in the New Testament, com reaçoes de Joseph A. FITZMEYER e Jerome D. QUINN (Filadélfia/Nova Iorque, 1982), pp. 124-180. Os resultados deste estudo estao compilados no relatório de diálogo Justification by Faith [em alemao:  Rechtfertigung durch den Glauben], nos nn. 139-142.

11) Cf. “Alle unter einem Christus”, n. 14, in:  Dokumente wachsender Übereinstimmung, vol. I, pp. 323-328.

12) Cf. WA 8, 106.

13) Cf. DS 1528.

14) Cf. DS 1530.

15) Cf. Apologia da Confissao de Ausburgo II, 38-45.

16) Cf. DS 1515.

17) Cf. DS 1515.

18) Cf. DS 1545.

19) Cf. DV 5.

20) Cf. DV 4.

21) Lehrverurteilungen – Kirchentrennend?, 32.

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http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/documents/rc_pc_chrstuni_doc_31101999_cath-luth-joint-declaration_po.html

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“Se há quem duvide da transição religiosa no Brasil, a capital do Acre é um exemplo de cidade que já promoveu a mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos (especialmente para a população feminina e jovens). Impressiona o ritmo ocorrido nas últimas duas décadas, pois os católicos caíram cerca de 2% ao ano, enquanto para o Brasil a queda foi de 1% ao ano”, escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate.

Depois de 500 anos de predominância católica, o Brasil está passando por uma transição religiosa, com declínio das filiações católicas e aumento das filiações evangélicas, além do aumento do percentual de outras religiões e do percentual de pessoas que se declaram sem religião.

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Esse fenômeno acontece em todo o território nacional, mas com ritmos diferentes nas regiões, nos estados e nos municípios. A Unidade da Federação com menor percentual de católicos era o Rio de Janeiro, com somente 45,8%, segundo o censo demográfico de 2010. A Unidade da Federação com maior percentual de evangélicos era Rondônia, com 33,8%.

Estes dois estados são os mais avançados na transição religiosa, segundo os últimos dados do IBGE. A razão entre evangélicos e católicos (REC) era de 71,1% em Rondônia e de 64,1% no Rio de Janeiro. Para o Brasil a REC era de 34,3% em 2010, significando que existia 34,3 evangélicos para cada 100 católicos.

Mas em termos das capitais, a cidade de Rio Branco, no Acre, é a mais adiantada na transição religiosa no Brasil, com uma REC de 100%, ou seja, o número de católicos e evangélicos estava praticamente empatado, em 2010.

O percentual de católicos na capital do Acre, em 1991, era de 82,4% e o percentual de evangélicos era de 10%. Mas tudo mudou rapidamente em menos de 20 anos. A tabela acima mostra que, para a população total do município, o percentual de católicos caiu para 61,5% em 2000 e declinou ainda mais para 39,9% em 2010, uma queda impressionante (de 42,5% em 19 anos e de 21,6% em 10 anos). O percentual de evangélicos passou de 23,3%, em 2000, para 39,8% em 2010, subindo 30% em 19 anos e 16,5% na última década. Outras religiões e sem religião somavam 20,3% em 2010.

Quando se analisa a população de 0 a 14 anos o percentual de católicos é ainda menor (34,1% em 2010) e o percentual de evangélicos é ainda maior (44,7%). Este padrão que se repete no país como um todo, mostra que existe um fator intergeracional na transição religiosa, pois as gerações mais jovens estão mais avançadas na transição religiosa e os idosos são os menos afeitos às mudanças de hegemonia.

Quando se considera apenas a população feminina, a capital do Acre já completou a transição religiosa, pois as filiações católicas representavam 38,6% entre as mulheres e as filiações evangélicas representavam 43,4%, em 2010. Outras religiões e sem religião somavam 18% em 2010. Entre as mulheres jovens a mudança de hegemonia é ainda mais visível.

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Artigo do Portal G1 (24/01/2014) mostra que a transição religiosa em Rio Branco foi acompanhada pela multiplicação dos templos evangélicos. Somente nas ruas Valdomiro Lopes e Rua da Conquista, no Bairro da Paz, há mais de sete igrejas evangélicas ao longo de pouco mais de 1 km. O número de templos pode ser decisivo na conquista de fiéis, pois as pessoas tendem a frequentar as igrejas próximas de suas residências.

Se há quem duvide da transição religiosa no Brasil, a capital do Acre é um exemplo de cidade que já promoveu a mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos (especialmente para a população feminina e jovens). Impressiona o ritmo ocorrido nas últimas duas décadas, pois os católicos caíram cerca de 2% ao ano, enquanto para o Brasil a queda foi de 1% ao ano. Resta saber se a cidade de Rio Branco é uma exceção ou se as demais capitais também vão seguir este mesmo processo. A resposta deve ser dada no censo demográfico de 2020, quando teremos um panorama atualizado das filiações religiosas em todos os municípios brasileiros.

Referências:

ALVES, J. E. D; NOVELLINO, M. S. F. A dinâmica das filiações religiosas no Rio de Janeiro: 1991-2000. Um recorte por Educação, Cor, Geração e Gênero. In: Patarra, Neide; Ajara, Cesar; Souto, Jane. (Org.). A ENCE aos 50 anos, um olhar sobre o Rio de Janeiro. RJ, ENCE/IBGE, 2006, v. 1, p. 275-308
https://pt.scribd.com/doc/249670739/A-dinamica-das-filiacoes-religiosas-no-Rio-de-Janeiro-1991-2000-Um-recorte-por-educacao-cor-geracao-e-genero

ALVES, JED, CAVENGHI, S. BARROS, LFW. A transição religiosa brasileira e o processo de difusão das filiações evangélicas no Rio de Janeiro, PUC/MG, Belo Horizonte, Revista Horizonte – Dossiê: Religião e Demografia, v. 12, n. 36, out./dez. 2014, pp. 1055-1085

ALVES, JED, BARROS, LFW, CAVENAGHI, S. A dinâmica das filiações religiosas no brasil entre 2000 e 2010: diversificação e processo de mudança de hegemonia. REVER (PUC-SP), v. 12, p. 145-174, 2012.

ALVES, JED. “A encíclica Laudato Si’: ecologia integral, gênero e ecologia profunda”, Belo Horizonte, Revista Horizonte, Dossiê: Relações de Gênero e Religião, Puc-MG, vol. 13, no. 39, Jul./Set. 2015

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Em fins de 2016, o Instituto Datafolha publicou uma pesquisa que fez ressoar uma campainha de alarme na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O estudo mostra que, nos últimos dois anos, 9 milhões de pessoas abandonaram o catolicismo no país. Em 2014, a porcentagem da população que declarava ser católica era de 60%, ao passo que em dezembro de 2016 baixou para 50%. No mesmo período, os fiéis pentecostais ou neopentecostais passaram de 18% a 22%. Embora a recente baixa na porcentagem de católicos não foi acompanhada por uma ampla expansão dos fiéis pentecostais ou neopentecostais, o que preocupa os bispos é outro dado: a metade dos que declaram ser pentecostais ou neopentecostais provém da Igreja Católica, onde haviam crescido.

Recentemente, a CNBB organizou um encontro para discutir o crescimento das igrejas pentecostais e neopentecostais. As conclusões identificam diversas causas: os evangélicos contam com uma estrutura mais dinâmica e podem chegar às pessoas de uma forma mais rápida, em qualquer lugar onde estejam; aproveitam a ingenuidade ou a má formação dos católicos – sobretudo, os que vivem nas zonas rurais ou nas periferias das grandes cidades – e levam adiante uma intensa propaganda contra o catolicismo; por último, os evangélicos recorrem a uma forte carga emocional para atrair as pessoas.

Como os bispos focalizam estes problemas? Como podem responder à realidade? Que propostas podem ser úteis para inverter a situação?

Na CNBB, todos estão de acordo em que as respostas oferecidas pelos pentecostais ou neopentecostais àqueles que possuem problemas de saúde, acidentes ou situações graves são mais atrativas que as católicas. “Muitas vezes, a razão pela qual as pessoas deixam a Igreja Católica é de tipo material: a promessa de uma ajuda material que praticamente compra, adquire a pessoa, e depois a deixa com a sensação de ter sido traída e desiludida”, afirma dom Francisco Biasin, presidente da Comissão de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CNBB.

Contudo, o problema principal é que não há um ponto de encontro com estas pessoas que têm dificuldades. “Temos que ser mais missionários, encontrar a forma de estar mais presentes nas periferias e no interior, fazer tudo o que for possível para que haja uma figura de referência em cada comunidade”, afirma o cardeal de São Paulo, dom Odilo Scherer. “O importante é buscar os fiéis em suas casas, nas escolas, nas instituições. Ser uma Igreja projetada para o exterior.

Por isso, uma das propostas da CNBB é que o bispo eleja, em cada caso, ao menos dois leigos reconhecidos como católicos que sejam um ponto de referência para seus vizinhos e animem a comunidade. “Que a comunidade perceba que há alguém que está ali em nome do bispo, em nome da Igreja, que os anima e que também os ajuda a enfrentar as dificuldades, os problemas, as discussões, os distanciamentos, que tornam presente a misericórdia. Acredito que, de certa forma, é este elemento que falta bastante na realidade”, afirma dom Leonardo Steiner, secretário geral da CNBB.

Além disso, também é preciso oferecer nas próprias comunidades – e não nas paróquias – grupos de oração, grupos juvenis e de outro tipo. Isto poderia equilibrar, a seu critério, o fato dos pastores pentecostais serem casados, viverem nas comunidades e passarem grande parte do tempo com os fiéis, diferente dos sacerdotes, que precisam se ocupar da paróquia e, às vezes, estão distantes das pessoas.

Contudo, se não há uma autonomia real aos leigos católicos, nada pode mudar. Essa é a opinião de dom Enemésio Lazzaris, bispo de Balsas no Estado do Maranhão, uma das regiões que mais ressentem o crescimento dos pentecostais. “Compreendemos que um dos êxitos das igrejas evangélicas é que cada um se sente igreja, com uma autonomia quase completa. Nós, às vezes, delegamos a autoridade, mas a retemos, controlamos muito. Temos que dar maior liberdade, mais autonomia a estas pessoas”.

Outra proposta importante para a CNBB se refere à formação bíblica e a catequese dos fiéis. Considera-se que uma das possíveis soluções é propor nas comunidades cursos mais frequentes e menos extensos, com uma linguagem mais simples e direta. “Necessitamos de uma maior presença próxima aos católicos, evangelizar mais e ajudá-los a aprofundar a fé, para que tenham uma maior consciência de sua própria fé e possam crescer, para evitar confusões e incertezas”, afirma dom Orani Tempesta, cardeal do Rio de Janeiro.

Por último, constitui um desafio para a CNBB o forte componente emocional que os pentecostais utilizam para atrair os fiéis, o que a médio e longo prazo pode ser um problema. Dom Leonardo Steiner recorda que o Papa Francisco, ao fechar o Ano da Misericórdia, deixou claro que “é preciso testemunhas da esperança e da verdadeira alegria para desfazer as quimeras que prometem uma felicidade fácil com paraísos artificiais”. O problema de se centrar no fator emocional é que a experiência pode ser derrubada. Dom Steiner confirma que “os estudos demonstraram que as pessoas abandonam as Igrejas tradicionais (católicas e outras), vão para outra Igreja e depois para outra e outra, e depois… para nenhuma. Possuem o seu Deus pessoal”. Dessa maneira, as pessoas perdem a relação pessoal com a Igreja.

Por isso, diz dom Steiner, a Igreja não deve responder com a mesma moeda. O importante é se concentrar na maneira de evangelizar. “A alguns agrada, por exemplo, expressar sua fé de maneira mais emocional, e se distanciam do compromisso de transformação social. A Igreja não pode ceder a esse tipo de desejo, porque iria contra sua missão fundamental, que é anunciar integralmente o Evangelho de Cristo”, explica.

“Acredito que podemos aprender algumas coisas de nossos irmãos pentecostais”, afirma dom Biasin. “Há formas de levar em consideração, dentro da Igreja, algumas reivindicações legítimas do pentecostalismo”, e cita como exemplo o movimento da Renovação Carismática. Também oferecer aos fiéis que desejam uma liturgia mais participativa e emocional, com ênfase nos dons do Espírito Santo, o exorcismo, a leitura das Sagradas Escrituras e a música. “Conceber o diálogo católico-pentecostal como uma maneira de compartilhar dons é algo possível e útil para o futuro da Igreja”, conclui dom Biasin.

Fonte: Tierras de América

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é um sacerdote da Arquidiocese de Washington, DC. Presbiteriana Renovada, ele se converteu ao catolicismo, enquanto freqüentava a Universidade de Princeton.

Meu grande erro foi assistir a uma missa católica. Tudo começou inocentemente, visitando uma amiga católica que participou de uma universidade do sul, uma jovem mulher que eu queria impressionar pelo meu desejo grande de espírito de ir à igreja com ela. Mas a minha vida nunca mais foi a mesma desde que daquele domingo de abril de 1992 No dia seguinte, retornando para Nova Jersey onde frequentava a faculdade, eu tinha oito horas para refletir a experiência daquela Missa. Ele tinha feito uma impressão indelével, e ao retornar para o dormitório, perguntei a um amigo católico sobre me levar para o padre de sua paróquia. Eu tinha algumas perguntas que precisavam ser respondidas.

Eu cresci em uma família presbiteriana, bastante consistente, e eu sempre tinha abrigado um interesse na religião. Os negócios do meu pai nos levaram no estrangeiro, quando eu era muito jovem, e a maior parte da minha infância foi passada em países da América Latina. A maioria dos meus amigos que eram “sérios” sobre religião eram de fato católicos, então eu cresci tocado por uma visão favorável da Igreja. Quando vivemos no Brasil, participei de uma escola católica de língua Inglesa, e eu lembro vividamente de ser uma das poucas crianças que não tinham condições de receber a Sagrada Comunhão durante a missa semanal. Era aquela fome de receber Nosso Senhor, da graça da conversão e da fé para crer na presença real de Cristo na Eucaristia.

Até o momento em que cheguei da faculdade, no entanto, eu acho que eu era um produto típico da nossa época: ambicioso para ganhar o mundo e ter prazeres, amigável, evasivo, não-dogmático, tolerante a uma falha, ignorante das realidades sobrenaturais, insensível ao movimento do Espírito Santo. Todas as coisas consideradas, eu talvez não tenha sido um grande pecador, mas também não estava remotamente interessado em me tornar um santo. Eu era, em outras palavras, um “cara legal”. Então veio essa experiência inesquecível da Missa.

Depois desse ímpeto inicial, não havia nada muito teatral no meu caminho de conversão. Minha vida continuou como normal, mas salpicada por momentos de recolhimento. Muitas dessas experiências foram acionadas por minha leitura. Tendo falado com o pároco do meu amigo, eu comecei a ler muito, e eu descobri que muitas das minhas impressões sobre o catolicismo, sobre suas crenças, práticas e história, foram imprecisas e muitas vezes completamente erradas e injustas. Para minha surpresa, descobri que os católicos não fazem, de fato, a adoração a Maria; que as crianças, cuja única culpa é ser não nascido, no entanto, têm o direito de viver; que a história católica não é uma faixa de ignorância pontuada por momentos de luz, mas sim uma afirmação fantasticamente rica e diversificada e orgulhosamente de bondade e beleza, sombreada apenas pela fragilidade humana que todos nós compartilhamos.

Como o meu “mito destroçado” a leitura continuou, descobri que estes e os meus outros preconceitos, nunca antes questionados, começaram a vacilar, então balançar, então entrar em colapso. Cada vez, a minha convicção presumida em que eu segurava se tornou menos estridente, até que um dia eu percebi que eu estava me aproximando de um tópico no sentido inverso: onde meus pontos de vista diferentes dos da Igreja, eu esperava que a Igreja fosse certa, e que eu estava errado. Foi quando eu pensei para mim com admiração: “Eu não posso acreditar. Acho que é tudo verdade!” A ironia dessas palavras não me bateram na hora, porque é claro que foi precisamente então que eu podia acreditar! Eu entrei no programa de formação (o Rito de Iniciação Cristã de Adultos) na igreja paroquial e, alguns meses mais tarde, na Vigília Pascal de 1993, foi recebido na plena comunhão da Igreja Católica e confirmado.

Durante este período de preparação, eu nunca vou esquecer uma das minhas conversas com o padre que, eventualmente, me trouxe para a Igreja. Como eu estava me preparando para sair, ele casualmente comentou que, depois da minha conversão, Deus pode pedir ainda “algo mais” de mim. Isso é – e eu entendi o que ele quis dizer – Deus pode me pedir para ser padre. Resmunguei uma resposta, e um pouco ressentido que ele tinha colocado um fardo para mim, antes de eu ser ainda um católico! Não era o tipo de coisa que pessoas descoladas, sem compromisso, como eu jamais sonharia em fazer a outro ser humano! Como eu sabia pouco, quão pouco eu entendi a profundidade da sua caridade para mim. E como sou grato hoje pela coragem do sacerdote; embora ele tenha ido para o Senhor, todos os dias eu rezo por ele em agradecimento. Na verdade, 10 anos depois de sua sugestão indesejável, ele me viu vestido como um diácono, na Basílica de São Pedro.

Ao terminar a faculdade, entrei para ser Candidato na escola e começou uma temporada de quatro anos na Marinha, onde servi em um cruzador e um contratorpedeiro da Frota do Atlântico. Felizmente, na faculdade eu tinha conhecido algumas maravilhas católicas da Opus Dei que me encorajaram a promover uma vida de oração, a recepção contínua dos sacramentos, a leitura espiritual, e devoções. Que a formação da vida interior ficava me aterrada ao longo desses emocionantes quatro anos de serviço militar.

Ao me aproximar do fim do meu tempo na Marinha, refleti novamente na sugestão do padre a considerar a vocação para o sacerdócio, mas ainda não estava completamente pronto para dar o salto. Mais uma vez eu tinha uma namorada séria e, ao mesmo tempo, no fundo, eu sabia que o Senhor estava me chamando para ser seu sacerdote, eu tentei um último “prazo final” em torno dele. Peguei o matéria aplicada na faculdade de direito, e quando a carta de aceitação veio do meu “tiro longo” a escola, eu estava em êxtase. Quando a euforia passou, no entanto, eu olhava para a letra e percebi que eu nunca iria assistir. Sem mais hesitação, eu recusei, enviei a minha candidatura para o Seminário da Arquidiocese de Washington, e embarquei na viagem mais gratificante e emocionante da minha vida.

Mais do que qualquer outro sentimento, o meu coração está cheio de gratidão. Gratidão a Deus pela minha vida, pela graça da conversão, pela minha fé. Gratidão a minha família para o seu amor, pela minha educação, pelo seu apoio inabalável e incentivo. Gratidão aos muitos sacerdotes e leigos que têm sido referidas testemunhas finas da fé católica e que me apoiaram a cada passo do caminho. Acima de tudo, no entanto, sou grato pelo grande dom e bênção de um chamado ao sacerdócio. O que uma incrível vida – uma vida de íntima união com Cristo, de agir como um poderoso canal da graça de Deus, de ter um papel privilegiado na vida de Seu povo. Deus me deu uma escolha, uma escolha real, e eu estava livre para voltar a vocação. Ele não quer discípulos relutantes. Nem por um momento, no entanto, eu me arrependi de minha resposta. Eu nunca fui mais feliz na minha vida, eu nunca olhei para trás, e não há nada que eu prefira fazer. Rezo todos os dias que o Senhor irá conceder o privilégio de uma chamada para o sacerdócio em muitos generosos, homens firmes para ser pais de almas. Nunca antes, creio eu, tem lá um tempo melhor, uma causa mais nobre, ou uma colheita mais abundante de almas famintas de verdade, de amor puro e sem mácula, para a verdadeira felicidade e paz no coração.

Aquele sacerdote que me pediu para considerar um chamado ao sacerdócio foi entendido. Ele sabia que a felicidade de cada homem, em última análise, encontra-se em seguir o plano de Deus para sua vida. Essa é a grande, abertura do desconhecido segredo para o mundo moderno, em que tantas pessoas freneticamente buscam “felicidade” em todos os lugares errados. Ele queria para mim o que cada amigo verdadeiro cristão deve querer para nós: a serenidade e a alegria incontida de um discípulo generoso de Jesus Cristo. Para mim, o caminho do discipulado significava tornar-se padre, mas primeiro queria abraçar a beleza, a verdade, e a alegria do catolicismo. A Igreja Católica tem sido um guia seguro, uma luz em tempos de escuridão, e um alicerce de apoio para mim por mais de metade da minha vida. Eu não posso nem imaginar a vida sem os sacramentos da Eucaristia e da Confissão, sem a mão firme da sua doutrina, sem a garantia de que ela nos une de forma única para Cristo. E que, em poucas palavras, é por isso que eu sou católico.

Pe. Carter Griffin é um sacerdote da Arquidiocese de Washington, DC. Presbiteriana Renovado, ele se converteu ao catolicismo, enquanto freqüentava a Universidade de Princeton. Depois de se formar em 1994, atuou por quatro anos como oficial da linha de superfície da Marinha dos Estados Unidos antes de entrar no seminário. Ele participou do Seminário Mount St. Mary, em Emmitsburg, Maryland para dois anos de filosofia seguida pelo Colégio Norte-americano em Roma por cinco anos de teologia. Pe. Griffin foi ordenado sacerdote em 2004 e serviu como padre-secretário do arcebispo de Washington antes de iniciar estudos de doutoramento em Roma em 2008 sua tese de doutorado, “Sobrenatural paternidade através do celibato sacerdotal: Execução em Masculinidade”, foi publicado em 2010 . Atualmente é vigário paroquial da paróquia de São Pedro, no Capitol Hill, e foi recentemente transferido como Diretor Vocacional da Arquidiocese de Washington e do Vice-Reitor da nova John Paul II Seminário da Arquidiocese Santíssimo.

De: whyimcatholic.com   

Via Front Católico

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Desde a minha conversão à Igreja, tenho observado um movimento entre os jovens cristãos que afirmam amar Jesus, mas rejeitam a “religião”.

Muitos cristãos da geração millennial que rejeitam a “religião” argumentam que as pequenas diferenças entre as denominações cristãs realmente não importam no final. E eles estão certos; Há pouca diferença real entre muitas das denominações cristãs que surgiram ao longo do tempo desde a Reforma. Quando eu estou no meu estado natal de Oklahoma, eu me deparo com o número absurdo de igrejas diferentes que afirmam estar voltando às raízes do cristianismo.

Porém, a fragmentação sem fim de denominações cristãs é um escândalo para a unidade à qual Cristo nos chama (Jo 17,21). Talvez a rejeição dessas diferenças religiosas entre os jovens cristãos possa ser o início de um movimento ecumênico para a unidade no Corpo de Cristo. Neste sentido, sim, vamos rejeitar as “religiões” baseadas em diferenças superficiais e enraizadas na divisão e no pecado.

Mas, como uma ex-ateia, eu tenho que dizer que há também algumas bandeiras sérias neste movimento para rejeitar a “religião”. Em uma recente tarde de domingo, a hashtag #EuNãoVouÀIgrejaPorque estava entre os top trends no Twitter. Para minha surpresa, muitos dos tuítes foram de cristãos que, orgulhosamente, proclamaram que eles não “precisam” de religião, eles só precisam de Jesus. Parece que a mentalidade sob a rejeição dos sacramentos entre alguns cristãos evoluiu naturalmente para uma rejeição de algo tão básico como celebrar a Eucaristia semanalmente.

Além do fato óbvio de que isso acontece sempre na milenar tradição cristã, há também a preocupação válida de que esta forma de “cristianismo”, baseada em nada mais que sentimento, vai se tornar, dentro de uma geração ou duas, em ateísmo.

E como esta nova forma de “Cristianismo” evoluiu: Muitas pessoas que estão neste movimento argumentam que separar o Cristianismo da “religião” nos ajuda a voltar às raízes do Cristianismo, às reais intenções de Jesus.

Mas a Bíblia e os escritos dos padres primitivos da Igreja revelam muito pouco para sustentar essa afirmação.

Aqui estão algumas evidências da Escritura e da história antiga da Igreja:

1. Os cristãos se reúnem para adorar: Deus nos deu uma orientação clara e as Escrituras deixam evidente que os primeiros cristãos se reuniam para uma refeição eucarística todos os domingos. Reuniões de domingo nunca foram uma prática opcional para os cristãos. Se acreditamos que Jesus morreu por nós, o mínimo que podemos fazer é adorá-lo por uma hora todos os domingos.

Tome cuidado, então, muitas vezes para se reunir para dar graças a Deus, e mostrar o seu louvor. Pois quando vocês se reúnem frequentemente no mesmo lugar, os poderes de Satanás são destruídos, e a destruição a que ele se propõe é impedida pela unidade de sua fé. – Inácio de Antioquia, Carta aos Efésios.

 No primeiro dia da semana, nos reunimos com a finalidade de partir o pão (Atos, 20:7)

 2. Religião é o que nos liga a Deus: Há muito desdém pelas práticas exteriores de piedade nos dias de hoje. E certamente, é verdade que as práticas exteriores não levam sempre à caridade e santidade. Mas isso não é motivo para deixá-las para trás. Somos corpo e alma. A relação com Deus é alimentada por práticas exteriores; elas nos ligam a Deus e estamos ligados a ele através da nossa religião.

Estamos unidos e ligados a Deus por este vínculo de piedade. É disso que a religião toma seu nome. – Lactâncio, As Instituições Divinas

Pois assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras está morta. – Tiago 2:26

3O cristianismo é comunidade: Nossa fé não é apenas um relacionamento individual com Jesus. O Cristianismo envolve relacionamento com Deus (que é, Ele mesmo, uma comunidade de pessoas) e relacionamento com os outros em sua Igreja. É doloroso e difícil estar em relacionamento com outros pecadores. Mas nossa fé nos chama a estar em união não apenas com Deus, mas com outras pessoas.

Somos um corpo unido como tal por uma profissão religiosa comum, pela unidade de disciplina e pelo vínculo de uma esperança comum. Nós nos reunimos como uma assembleia e congregação … Nós nos reunimos para ler nossos escritos sagrados … Em mente e alma, não hesitamos em compartilhar nossos bens terrenos um com o outro. – Tertuliano, Desculpa

Pois, como em um corpo temos muitos membros, e todos os membros não têm a mesma função, então nós, embora muitos, somos um corpo em Cristo, e membros individualmente um do outro. – Romanos 12: 4-5

4. O cristianismo tem sucessão apostólica: As Escrituras deixam claro que Paulo nomeou bispos, Timóteo e Tito, e lhes pediu que designassem presbíteros (1 Tm 2: 2). Quando as pessoas rejeitam a hierarquia e a autoridade legítima em favor do individualismo, rejeitam Jesus e a Igreja que ele fundou.

Quando nos referimos a essa tradição que se origina dos apóstolos e que é preservada por meio da sucessão de presbíteros nas Igrejas, eles se opõem à tradição, dizendo que eles mesmos são mais sábios não meramente do que os presbíteros, até mesmo os apóstolos, porque eles descobriram a verdade não adulterada. – Irineu, Contra todas as heresias

Não negligencie o dom que há em ti, que foi conferido através da palavra profética com a imposição das mãos do presbitério. –  1 Timóteo 4:14

Cristianismo é uma religião. Sempre foi. E o movimento para remover a “religião” de nossa fé é um movimento que, em última instância, poderia minar a transmissão da fé para as gerações vindouras.

Essas são apenas algumas coisas que você pode apontar da próxima vez que uma pessoa disser que ele ou ela acredita em Jesus, mas não acha que é necessário praticar a religião.

Theresa Noble

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‘Cápsulas de Verdad’ (Cápsulas de Verdade) é o nome do novo apostolado católico que busca reavivar e reafirmar a fé dos católicos de língua espanhola com conteúdos sobre a doutrina da Igreja, defesa da fé e a moral cristã a respeito da sexualidade, da defesa da vida e da família.

Atualmente, a página conta com artigos e podcasts sobre apologética produzidos pela equipe de colaboradores do diretor e fundador, Jaime González, um ex-protestante equatoriano que se converteu ao catolicismo alguns anos depois de se casar na Igreja Católica.

“Eu nunca fui anticatólico, por isso não tive problemas de me casar na Igreja Católica. Durante a minha vida de casado, aos 25 anos, a minha esposa Viviana fez uma viagem a Roma onde recebeu uma graça especial e passou por um processo de conversão. Começou a se preocupar mais com a fé, ler mais e ter uma relação mais íntima com Deus”, disse o fundador em diálogo com o Grupo ACI.

“Um dia me deu de presente o livro ‘Todos os Caminhos Levam a Roma’ de Scott Hann e, além disso, comecei a esquadrinhar mais as Escrituras. Percebi muitas passagens que nem sequer eram mencionadas na igreja evangélica, como os do Primado de Pedro ou o capítulo 6 de João acerca da Eucaristia”, acrescentou.

Jaime conta que teve uma “conversão intelectual”, entretanto, o ponto de inflexão foi a Eucaristia.

“No momento que a compreendi, soube que esta era a Igreja de Cristo e decidi me converter, entendi a profundidade do que aconteceu na última Ceia, o que ocorre na Missa e por que a Missa nos dá vida”, expressou.

A respeito da iniciativa ‘Cápsulas de Verdad’ narrou a história da sua origem. “Há dois anos tive a oportunidade de ir a uma peregrinação à Terra Santa. Eu cheguei com um propósito de oração em que dizia a Deus: ‘Senhor eu não quero voltar da sua terra sem saber o que devo fazer para ti’. Todos os dias rezava, mas não tive uma resposta”, relatou.

González afirmou que durante a última Missa no Santo Sepulcro, Deus lhe mostrou sua missão de dedicar-se à defesa da fé e da verdade, para ensinar que não se deve chamar santo o profano, nem o que é profano de santo”.

‘Cápsulas de Verdad’ é dirigido a homens e mulheres entre 20 e 40 anos. Pode acompanha-lo através do seu site ou em suas redes sociais como Facebook e YouTube.

Fonte e Foto: ACI Digital

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Publicamos o comunicado conjunto – produzido pela Federação Luterana Mundial (FLM) e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos – sobre os eventos ecumênicos previstos para Lund e Malmö, na Suécia,com a participação do Santo Padre Francisco, no próximo dia 31 de outubro, para a Comemoração dos 500 anos da Reforma.

É preciso observar, contudo, que o programa completo da viagem do Santo Padre à Suécia será publicado posteriormente e também incluirá uma celebração eucarística com a comunidade católica na manhã do dia 1º de novembro.

Comemoração ecumênica conjunta na Catedral de Lund e no Estádio de Malmö

A comemoração ecumênica conjunta luterano-católica do 500º aniversário da Reforma no dia 31 de outubro em Lund(Suécia) será realizada em dois momentos: terá início com uma liturgia na Catedral de Lund [foto acima] e continuará com um evento público no Estádio de Malmö, aberta a uma participação mais ampla.

O evento conjunto da Federação Luterana Mundial (FLM) e da Igreja Católica Romana pretende evidenciar os 50 anos de contínuo diálogo ecumênico entre católicos e luteranos e os dons resultantes dessa colaboração. A comemoração católico-luterana dos 500 anos da Reforma se centra nos temas da ação de graças, do arrependimento e do compromisso no testemunho comum. O objetivo é expressar os dons da Reforma e pedir perdão pela divisão perpetuada pelos cristãos das duas tradições.

A Catedral de Lund será o lugar onde será realizada a cerimônia de oração comum, baseada no guia litúrgico católico-luterano recentemente publicado, intitulado “Oração Comum”, que, por sua vez, se fundamenta no documento “Do conflito à comunhão”.

O Estádio de Malmö será o cenário onde serão realizadas as atividades dedicadas ao compromisso do testemunho e do serviço comum de católicos e luteranos no mundo. Serão apresentados os aspectos mais importantes do trabalho comum do Serviço Mundial da Federação Luterana Mundial (LWF World Service) e da Caritas Internationalis, como o cuidado dos refugiados, o serviço da paz e a defesa da justiça climática. O Estádio de Malmö pode receber até 10.000 pessoas.

O Santo Padre Francisco, o bispo Dr. Munib A. Younan e o Rev. Dr. Martin Junge, respectivamente presidente e secretário-geral da Federação Luterana Mundial, vão conduzir a cerimônia da oração comum em Lund e o evento noEstádio de Malmö, em colaboração com os responsáveis da Igreja da Suécia e da diocese católica de Estocolmo.

“É quando as comunidades tomam o caminho que afasta dos conflitos que a força surge. Em Cristo, somos encorajados a servir juntos no mundo. A comemoração conjunta é um testemunho do amor e da esperança que todos nós temos, por mérito da graça de Deus”, declararam o presidente da FLM, Younan, e o secretário-geral, Junge.

O cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, explica: “Concentrando-nos juntos sobre a centralidade do problema de Deus e sobre uma abordagem cristocêntrica, luteranos e católicos poderão comemorar ecumenicamente a Reforma, não de um modo meramente pragmático, mas no sentido profundo da fé em Cristo crucificado e ressuscitado”.

“Estamos à espera desse evento, que contará com a participação de 10.000 pessoas. A ideia na base da manifestação na arena de Malmö é descrever ainda mais o processo que vai do conflito à comunhão, concentrando-nos na esperança pelo futuro e no serviço comum no mundo”, afirma a arcebispa da Igreja da Suécia, Antje Jackélen.

O bispo Anders Arborelius, da diocese católica de Estocolmo, acrescenta: “Será escrita uma página da história quando o Papa Francisco e as lideranças da Federação Luterana Mundial visitarem Lund e Malmö para encorajar a todos nós a continuar no caminho rumo à unidade dos cristãos”.

As informações sobre a comemoração ecumênica conjunta serão atualizadas no site do evento: www.lund2016.net.

Contatos para a mídia:

The Lutheran World Federation
Rev. Arni Svanur Danielsson, Head of Communication
asd@lutheranworld.org
+41/22 791 6367, +41/78-929 9686

Sala de Imprensa da Santa Sé
Padre Federico Lombardi, S.I.
lombardi@pressva.va

A nota é da Sala de Imprensa da Santa Sé

 

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viagem que o Papa tinha previsto fazer à Suécia no dia 31 de outubro próximo se estenderá ao dia 01 de novembro por sua participação na cerimônia da Federação Luterana Mundial para comemorar o 500º aniversário da Reforma.

Em um primeiro momento estava previsto que o pontífice argentino participasse só da cerimônia conjunta entre católicos e luteranos na cidade de Lund, na Suécia, mas foi decidido ampliar a viagem por mais um dia, já que no dia 01 de novembro será celebrada uma missa com a comunidade católica, segundo informou nesta quarta-feira o Vaticano.

De acordo com um primeiro programa desta viagem, à espera do oficial, o Vaticano informou que o papa participará da cerimônia de oração comum na catedral de Lund e pela tarde ocorrerá outro ato sobre “o testemunho e o serviço comum dos luteranos e católicos no mundo” no estádio de Malmo.

O encontro com os católicos ainda não tem local definido.

Na comemoração na Suécia estarão presentes o presidente da Federação Luterana Mundial, o bispo Munib A. Younan, e o secretário-geral da mesma, o reverendo Martin Junge.

O evento de Lund situa-se no processo de estudo do documento “From Conflict to Communion” (Do conflito à comunhão) publicado em 2013 e distribuído nas comunidades católicas e luteranas naquela que foi “uma primeira tentativa entre as duas partes de voltar a escrever juntos, em nível internacional, a história da Reforma e suas intenções”.

Em 2017 será comemorado o 50º aniversário do início do diálogo internacional luterano-católico, do qual surgiram estes anos documentos como a “Doctrine of Justification” (Declaração conjunta sobre a Doutrina da Justificação) de 1999 e que encerrou importantes disputas entre ambos.

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Jeremiah, em foto após a sua primeira Comunhão, na Vigília Pascal de 2015.

Para os que me conhecem não é nenhuma surpresa o fato de eu ter nascido no “dia da mentira”. Meus pais rezaram desesperadamente para que Deus permitisse o meu nascimento em literalmente qualquer outro dia, mas Deus tem o Seu senso de humor. O Seu humor — ou, melhor dizendo, a capacidade que Ele tem de mudar os meus planos — se tornaria um tema recorrente em minha vida.

Por exemplo, eu cresci tocando guitarra rítmica em bandas de louvor e de rock; agora, eu estudo música clássica na universidade. Também já quis ser atleta, mas, ultimamente, passo maior parte do meu tempo trancado, praticando meu instrumento. Fui criado, enfim, como protestante devoto, mas agora me juntei à Igreja Católica — e esta é a minha história:

Desde a mais tenra idade, meus pais me ensinaram que Deus é real, que Ele nos ama e que a Sua palavra é infalível. Eles me mostraram através das suas ações que seguir a Deus é a prioridade sobre todas as coisas, não importando quão absurdo isso parecesse.

Meu pai conduzia uma pequena igreja evangélica e não denominacional chamada Calvary Chapel(“Capela do Calvário”, lit.), na cidade de Lodi, no estado da Califórnia. Alguns anos depois, ele se sentiu chamado a mudar para Tulsa, em Oklahoma, onde ele se tornou pastor de outra igreja da mesma organização.

Viver para Cristo não era algo que eu fazia porque meus pais queriam, mas porque o Espírito Santo me atraía a Si. Minha fé era real e se manifestava em um envolvimento ativo no ministério de louvor e adoração, desde a minha adolescência.

Como cabeça do ministério de adoração, eu era simultaneamente pastor e ovelha no rebanho de Cristo. Menor apenas que o meu amor a Cristo era o meu amor à música. A capacidade de expressar o meu amor a Cristo por meio da música, e de levar os outros a fazer o mesmo, era bonita. Quando saí para estudar música na universidade, Deus me colocou na Universidade de Tulsa. Lá eu encontrei as pessoas que eventualmente me levariam a uma união plena com Cristo.

Na faculdade, eu me ocupava a maior parte do tempo com meu quarteto de cordas. Ensaiava por horas incontáveis, toda semana, com duas violinistas e um violista, procurando aperfeiçoar o nosso ofício. Quando você passa tanto tempo com outras pessoas, você termina conhecendo bastante sobre elas. Como queria a divina providência, aconteceu de ambas as violinistas do meu quarteto serem católicas devotas.

Essas mulheres, Ellen e Sarah, logo se tornariam duas das minhas amigas mais próximas. Quanto mais eu crescia em amizade com elas, mais elas me confundiam. De acordo com a minha educação, católicos não eram cristãos de verdade — eles não passavam de idólatras, escravos da lei e da tradição, que tentavam de uma forma ou outra ganhar a sua passagem para o Céu.

Essas católicas, no entanto, eram muito mais santas do que eu. Elas tinham um relacionamento genuíno com Cristo, e Ele era a motivação de cada ação das suas vidas. Elas rezavam com um fervor e consistência que eu queria desesperadamente ter. Interagir pela primeira vez com católicos fervorosos, depois de muito tempo sendo “poupado”, foi o primeiro passo rumo à minha conversão.

Sarah e eu tínhamos várias conversas até altas horas da noite sobre Deus. Cada vez mais, eu pensava comigo mesmo: “Essa conversa foi muito boa! Acho que ela deve estar perto de entender as coisas!” Qualquer dia desses, ela veria a verdade, o erro das heresias católicas, e voltaria para casa, para a verdadeira igreja de Cristo. Mal sabia que seria eu a ver o erro dos meus caminhos e a voltar para casa, para a Igreja Católica.

A Eucaristia, verdadeiro corpo de Jesus

Em uma noite de janeiro, Sarah e eu debatíamos teologia, quando veio à tona o tema da Eucaristia. Ela me disse que os católicos acreditavam que, em toda Missa, o pão e o vinho usados para a comunhão (a Eucaristia) cessam de ser pão e vinho e se tornam literalmente a carne e o sangue de Jesus Cristo. A quem não está familiarizado, pode parecer um conceito absurdo — mas, como eu estava prestes a perceber, Deus é um Deus do absurdo.

Eu disse a ela que era irracional acreditar que Jesus estivesse realmente presente na Eucaristia. O que ela fez em seguida causou em mim uma impressão que eu jamais esqueceria. Ela me disse para pegar a minha Bíblia — que eu, como um bom evangélico, trazia convenientemente guardada em minha mochila — e, então, me levou a João, capítulo 6, onde Jesus pronunciava algumas palavras intensas para Seus seguidores:

“Os judeus começaram a discutir, dizendo: ‘Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?’ Então Jesus lhes disse: ‘Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” (Jo 6, 52-56)

Enquanto lia aquelas palavras em voz alta, eu tentava segurar as lágrimas. Era como se Deus começasse a soprar buracos em minha até então impermeável teologia. Se as palavras do Evangelho fossem literalmente verdadeiras, Jesus nos chama a comer da Sua verdadeira carne e sangue. A comunhão não seria apenas um símbolo de que eu deveria participar mais ou menos uma vez por mês, mas Deus que Se oferece totalmente para a humanidade.

Naquela noite, eu voltei para casa e perguntei ao meu pai por que acreditávamos no que fazíamos. Até hoje posso ouvir a minha voz trêmula dizendo: “Pai, eu preciso de uma boa razão para não acreditar nisso.”

Tentei desesperadamente me convencer de que estava certo, mas, para a minha frustração, meu pai foi incapaz de explicar aquilo em que ele acreditava de um modo que satisfizesse às minhas questões.

Voltei-me para Sarah no dia seguinte com alguns contra-argumentos mal produzidos e claramente nada convincentes. Aleguei que Jesus estava apenas falando em parábolas, mas aquilo não explicava por que os discípulos de Jesus O deixaram depois de ouvir aquelas palavras. Disse que aqueles que saíram simplesmente não tinham entendido, mas isso não explicava por que os Seus discípulos tomaram as Suas palavras ao pé da letra quando confrontados. Como eu logo descobriria, é difícil argumentar contra a verdade.

Olhando para trás, é engraçado perceber o quanto eu aceitava mal a ideia de me tornar católico, mesmo depois que comecei a querer sê-lo. Fiz o que pude para evitar o assunto, mas o Espírito Santo continuou o Seu trabalho. Ele tem um jeito de tornar as coisas abundantemente claras. A cada vez que participávamos da comunhão na minha igreja, Deus me lembrava a todo momento do que eu havia lido em Sua palavra. Tentei imaginar que eu realmente tomava parte na Sua carne, mas eu ainda estava insatisfeito com nosso rito da comunhão.

Como Deus costuma fazer, Ele deixou que o assunto se assentasse por um tempo. No momento, eu não percebia o que estava acontecendo, mas as sementes que tinham sido plantadas começavam lentamente a formar raízes. Depois de um verão tranquilo, surgiu algo de repente, cerca de um mês antes da volta às aulas. Minha única explicação para o que aconteceu foi uma moção do Espírito Santo em mim. Eu estava de férias com minha família, descansando tranquilamente no lago, quando me veio essa ideia disparatada e persistente: “E se Sarah estiver certa? E se os católicos estiverem certos? E se a Eucaristia for realmente Jesus?”

As implicações seriam enormes. Eu precisava investigar a questão, independentemente de qual fosse o resultado. Se fosse verdadeira, seria a coisa mais bela que eu já tinha ouvido. Se Jesus me permitisse comer o Seu corpo físico, a cruz ganharia um significado ainda maior para mim. Se fosse falsa, no entanto, toda a Igreja Católica estaria imersa em completa idolatria.

Quanto mais eu pensava sobre o assunto, mais intenso ele se tornava. Os católicos literalmente adoravam o que parecia ser um pedaço de pão. Eu não queria parte nenhuma nisso se aquele pedaço de pão não fosse realmente Jesus Cristo, mas sabia que iria querê-Lo desesperadamente se fosse.

O testemunho dos Padres da Igreja

Na semana seguinte, fiz uma pesquisa intensa. Começando por João, capítulo 6, consultei as Escrituras de novo por minha conta. Esforcei-me por ver qualquer jeito de que Jesus pudesse ter querido dizer qualquer outra coisa que não literalmente comermos a Sua carne e bebermos o Seu sangue.

Eu ainda não estava completamente convencido da verdade do catolicismo, mas já sabia o suficiente para afirmar que ele não era absurdo. Sarah tinha me dito uma vez que, se eu acreditasse na doutrina católica sobre a Eucaristia, tudo o mais se encaixaria no devido lugar. As palavras dela não fizeram sentido para mim no momento. Quando Deus operou em meu coração, no entanto, comecei a perceber o que ela queria dizer.

Se os Evangelhos me fizeram perceber que eu podia possivelmente estar errado, os escritos dos primeiros cristãos me convenceram de vez. Descobri que, até o século XVI, os cristãos acreditaram por unanimidade que a Eucaristia era literalmente Jesus. Eis algumas das citações retiradas dos Santos Padres:

“Considerai bem como se opõem ao pensamento de Deus os que se prendem a doutrinas heterodoxas a respeito da graça de Jesus Cristo, vinda a nós. […] Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, por­que não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nos­sos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou. Os que recusam o dom de Deus, morrem disputando.” (Santo Inácio de Antioquia [† 110], Epístola aos Esmirnenses, 6-7)

“Não os tomamos como alimento e bebida comuns; do mesmo modo como nos foi ensinado que, pela palavra de Deus, Jesus Cristo Nosso Senhor se encarnou, assim também estes alimentos, para os que tenham pronunciado as palavras de petição e ação de graças, são a verdadeira carne e sangue daquele Jesus que se fez homem e que entra na nossa carne quando o recebemos.” (São Justino Mártir [† 151], Primeira Apologia, 66)

“‘Comei a minha carne’, ele diz, ‘e bebei o meu sangue’. Com esses alimentos o Senhor convenientemente nos abastece, tanto provendo a sua carne quanto derramando o seu sangue, e nada falta ao incremento dos seus filhos.” (São Clemente de Alexandria [† 191], O Pedagogo, I, 6 [PG 8, 302a])

“Assim como, antes da santa invocação da Trindade adoranda, o pão e o vinho da Eucaristia eram simplesmente pão e vinho, depois de feita a invocação, o pão se torna o corpo de Cristo e o vinho, o sangue de Cristo.” (São Cirilo de Jerusalém [† 350], Catequeses, XIX, 7)

“Cristo era carregado em suas próprias mãos quando, entregando o seu corpo, disse: Isto é o meu corpo.” (Santo Agostinho [† 411], Comentários aos Salmos, XXXIII, 1, 10)

“O que vedes é um pão e um cálice, eis o que vossos olhos vos anunciam. O que a vossa fé, porém, propõe à vossa instrução é que o pão é o corpo de Cristo e o cálice, o sangue de Cristo” (Santo Agostinho, Sermões, 272)

Ler aquilo em que os primeiros cristãos acreditavam foi poderoso. Essas citações são apenas um pequeno exemplo da minha pesquisa, mas cada cristão primitivo com que eu me deparava em particular falava da Eucaristia como o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Jesus Cristo. Eu não podia mais lutar contra isso. Fui convencido. Lembrei-me do Evangelho de S. João, especialmente de como aqueles que escutaram as palavras de Jesus ficaram desgostosos e muitos deles O deixaram. Também me lembrei da clássica resposta de São Pedro: “A quem iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6, 68).

Lembro claramente o momento em que parei de lutar contra Deus. Era ainda verão, e o departamento de música estava deserto. Sentei-me na sala de prática da minha faculdade, completamente sozinho. Parei de tocar o violoncelo por um momento e Deus finalmente me alcançou. Senti como se Jesus estivesse me dando um ultimato: ou eu acreditava em Sua palavra ou eu devia deixá-Lo de uma vez por todas. Eu sabia que seria difícil fazer algo tão contrário a como eu havia sido criado, mas também sabia que não podia jamais deixar de seguir a Cristo. A resposta de São Pedro se tornou a minha oração. Eu então disse a Jesus que realmente não tinha nenhum outro lugar para onde ir.

Voltando para casa

Contei a todos os que eu conhecia sobre a minha conversão de coração, e fui recebido com reações as mais positivas. Quase nenhum dos meus amigos católicos podia prever que isso aconteceria; eles ficaram chocados e cheios de alegria.

Desde o início da minha conversão, a Igreja me ajudou a crescer mais do que eu podia imaginar. Comecei a rezar de verdade pela primeira vez na vida. Enquanto crescia, eu tentava rezar, mas nunca chegava muito longe. Participava de encontros de oração e dizia algumas palavras com os irmãos e as irmãs reunidos. Eu conversava com Deus e tentava escutá-Lo, mas hesitava muito e não tinha posto todo o meu coração naquilo. A minha oração era esporádica, para dizer muito.

Tudo mudou quando percebi que podia passar o meu tempo com Jesus em pessoa. A presença física de Cristo na Eucaristia é algo impressionante. Posso sentar-me em frente ao Deus que criou o universo, que veio a esse mundo na Pessoa de Jesus Cristo. O mesmo corpo que sofreu, foi crucificado, morreu, foi sepultado, ressuscitou do túmulo e subiu aos céus permanece no mesmo lugar comigo quando eu entro em uma capela.

Como a diferença entre passar o tempo pessoalmente com um amigo e mandar mensagem para ele, a presença física é incrivelmente significante em relação a Deus. É bom e necessário rezar a Deus onde quer que estejamos, mas é ainda mais valioso passar o tempo com Ele em pessoa. Comecei a me apaixonar pela oração e, por consequência, me apaixonei mais profundamente por Deus.

O tempo entre minha mudança de coração e minha entrada oficial na Igreja, na Páscoa, foi um dos períodos mais dolorosos da minha vida. Meus pais sentiram como se eu os tivesse traído e nossa relação ficou tensa. Deus usou minhas imperfeições nesse relacionamento para me ensinar a ser humilde e assumir a responsabilidade por meus erros. Mais do que isso, Ele usou meus sofrimentos para me ensinar que eles podiam ser, de fato, algo desejável. Pela primeira vez em minha vida, soube verdadeiramente o que significava não ter ninguém a quem recorrer senão Jesus.

Para tornar as coisas ainda mais difíceis, descobri que não poderia receber Cristo na Eucaristia até a Páscoa. Minha conversão inicial aconteceu por volta de agosto. O período de 8 meses entre agosto e abril pareciam mais como se fossem 8 anos. Apesar da minha impaciência, Deus usou esse tempo de espera para me fortalecer. Na medida em que a Páscoa se aproximava, Ele foi substituindo o meu sofrimento pela alegria.

Durante esse tempo, aprendi que é quando eu sofro que eu mais me pareço com nosso Senhor. Sua última prova de amor foi sofrer e morrer por nossa causa. Assim, quando eu experimento qualquer dificuldade, tenho a oportunidade de imitar o amor de Cristo que se apresenta na Cruz.Se antes eu reclamava da dor, agora eu posso unir minha dor à de Cristo. Assim, meu sofrimento recebe a mesma natureza redentora que tem a paixão de Cristo. Agora eu vejo que o sofrimento não é algo a ser temido, mas a ser acolhido. Se eu quero me unir a Cristo, o caminho mais rápido de fazê-lo é através dos Seus sofrimentos.

Enquanto focava mais completamente em Cristo, Ele colocava tudo o mais em ordem na minha vida. Eu não queria nada mais a não ser unir-me a Ele no sacramento da Sagrada Comunhão, e Deus usou esse desejo para atrair-me a Si.

Durante as semanas de preparação para a Páscoa, os dias pareciam meses. Quando a Semana Santa finalmente chegou, senti-me completamente pronto a receber Cristo. Na noite da Vigília pascal, finalmente fui acolhido na Igreja Católica e recebi o corpo de Cristo na minha primeira Comunhão.

Esse foi de longe o momento mais feliz de toda a minha vida, mas tentar colocar minha experiência em palavras seria injusto. Tudo o que posso dizer é que finalmente me senti completo. Por toda a minha vida estive à procura de algo que me completasse, sem jamais ter encontrado. Eu sabia que a resposta era Jesus, mas, mesmo tendo tentado de tudo, eu ainda sentia que algo estava faltando.

Receber em meu corpo o corpo de Jesus preencheu aquele vazio dentro de mim. No sacramento da Eucaristia, eu comi literalmente o corpo, sangue, alma e divindade de Cristo. Essa não é uma refeição como outra qualquer. O Deus que criou tudo o que existe quis vir fisicamente para dentro do meu corpo. Só de pensar nisso eu me arrepio até o dia de hoje. No coração dos Sacramentos, ninguém mais pode ser encontrado senão Jesus. A missão da Igreja é trazer as pessoas a Ele. A Igreja Católica trouxe minha alma a Cristo e eu não tenho palavras para agradecer por isso.

Fonte: We Dare to Say | Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere

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Durante trinta anos eu trabalhei como pastor luterano em função ministerial. E depois, por mais quatro anos, fui reitor do distrito daAmerican Lutheran Church North.

Agora, estou prestes a me tornar católico, juntamente com minha esposa; eu pela primeira vez, e ela pela segunda.

Você pode culpá-la por minha conversão (embora eu pense nisso como uma transição natural, como você verá). Ela foi criada católica e tornou-se luterana. Seu pai foi criado luterano e tornou-se católico. A vida é estranha às vezes. Seu pai morreu há dois anos, e em vias de acompanhar aquele bom homem em sua batalha final contra a esclerose lateral amiotrófica, ela sentiu um puxão de volta à sua fé de infância.

Para minha surpresa – a dela também, eu acho – eu disse para irmos juntos. Na verdade, não era uma surpresa para mim. Desde o seminário, quando me envolvi nos documentos confessionais Luteranos do século XVI, fui me tornando progressivamente mais católico em meu pensamento. O que buscava na minha fé era uma densidade eclesial.

Mas não é somente pela decepção como luterano que estou me tornando católico. Há uma convicção por trás disso.

1) Alguns dos meus trabalhos no seminário, por volta do final de 1970, foram feitos no Pontifício Colégio Josephinum em Ohio. Eu tive aulas de Sacramentologia e Estudos Marianos, ministrados por dois jesuítas da velha escola. Encontrei-me em uma sala de aula, um luterano solitário, cercado por uma horda de seminaristas salesianos. Foi emocionante.

O que me impressionou foi o quão perto luteranos e católicos realmente estão em doutrinas básicas e nas respectivas formulações teológicas. Nós – romanos e luteranos – fazemos teologia da mesma forma, e, possivelmente, de uma maneira que ninguém mais faz. Prestamos muita atenção às nossas palavras. Cada palavra é pesada e comparada com palavras alternativas que possam ser usadas, mas apresentam menos precisão. Precisão na formulação, ao que parece, vai nos manter fora do inferno teológico, e se as palavras exatas não são exatamente palavras adequadas, bem, não duvido, todos nós estamos certamente condenados.

Quando você pensa sobre isso, é realmente uma abordagem muito charmosa. Isso também significa que, quando luteranos e católicos sentam juntos, eles têm uma linguagem comum e falando isso juntos muitas vezes resulta em coisas surpreendentes, como em 1999, com a doutrina da justificação.

No nível paroquial, não há confluência na forma como católicos e luteranos são. É aquela coisa da densidade eclesial que mencionei: os católicos têm, luteranos não.

2) Quando minha esposa disse que estava pensando em voltar para a Igreja Católica, eu comecei a pensar quão luterano eu ainda permanecia. Eu tinha a influência do Pe. Richard John Neuhaus. Eu era o seu sucessor na Forum Letter, uma publicação Luterana que ele editou por 16 anos. Em seus anos como padre católico, ele costumava me cutucar, volte para casa. A última correspondência que trocamos foi sobre o assunto. Após sua morte, fiquei várias noites sonhando que ele me perguntava por que eu não tinha feito isso. Esse senhor teve um profundo impacto em minha vida pastoral como luterano.

Quanto mais eu pensava sobre as coisas mais eu percebia que a maioria dos clérigos luteranos que eu mais admirava, um por um, partira para Roma. Parecia que eu conhecia muitos padres como pastores, e depois de um tempo, não poucos desses pastores se tornaram padres. Lá estava eu ​​na margem, dando adeus.

Por um curto período após a morte de Neuhaus eu ajudei a editar a revista que ele fundou, First Things. Embora não explicitamente católica, é geralmente considerada dessa forma. Durante os últimos seis anos, está chegando no sétimo, eu tenho sido um colunista regular no website; eu era um escritor luterano; agora eu sou um escritor católico.

3) Tornou-se muito fácil para mim me tornar católico. Mas a chave, é claro, não é a conveniência, mas a convicção. Passei a acreditar que a essência, mais como plenitude, da Igreja de Cristo é encontrado em igrejas em comunhão com a Igreja de Roma.

Eu não rejeito nada em ter sido luterano. Isto é a transição, não a conversão; estou indo, mas a fé cristã que marcou a minha vida está vindo comigo. Eu aprendi minhas orações como luterano, memorizei o catecismo, e quando eu estava lutando contra o agnosticismo, tendendo ao ateísmo, Deus colocou em minha vida alguns apaixonados e autênticos pastores luteranos que me ensinaram bem. Para um cara que nesses anos não acreditava que Cristo ressuscitou, foi entre os luteranos que passei a acreditar na ressurreição. O que posso fazer, salvo dar a Deus o louvor?

Ser católico não é um trabalho acabado – não para mim, não para qualquer um de nós. Nós não ocupamos uma igreja em estado de perfeição. Mas não é o nosso trabalho torná-la perfeita; isso é responsabilidade de Deus. Mas temos a promessa de uma Igreja santa sendo aperfeiçoada. Há sempre descobertas de fé que aguardam cada um de nós.

Autor: Russell E. Saltzman é colunista da First Things; vive em Kansas City, Missouri. Seu Twitter:  @RESaltzman.

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Pedidos de oração são comuns em igrejas. Contudo, uma empresa criou a versão digital de campanhas de intercessão por uma pessoa ou causa. Durante quatro anos, qualquer pessoa que procurasse o Christian Prayer Center [Centro de Oração Cristã], um site com quase 1,3 milhões de seguidores no Facebook, iria “investir” entre 9 e 35 para que pessoas pudessem fazer orações pelos seus pedidos.

Quem visitava esse site – que logo gerou uma versão em espanhol, Oracion Cristiana –  podia ler os testemunhos de líderes religiosos e fiéis de diferentes denominações. Unanimemente eles afirmavam que receberam graças como restauração da saúde ou dinheiro inesperado para pagamentos de contas. Havia histórias até de pessoas que diziam ter sido curadas de câncer!

Segundo Bob Ferguson, procurador-geral do Estado de Washington, onde ficava a sede da empresa que vendia orações, mais de 125.000 pessoas pagaram pelo serviço. De 2011 a 2015, foram mais de 400.000 compras de oração, que gerou mais de 7 milhões de dólares para o bolso do criador do site Benjamin Rogovy.

Fanpage do site fraudulento.

Porém, após seguidas denúncias, as autoridades descobriram que era tudo falso. Os testemunhos eram inventados. As fotografias de clientes satisfeitos foram retiradas de bancos de imagem da internet. O “pastor John Carlson”, que assinava os e-mails semanais, e o “pastor Eric Johnston”, que cuidava da tal rede, nunca existiram.

A promessa aos visitantes do site é que seus pedidos de oração seriam repassados a “milhares” em uma corrente de oração pela Internet.

A mensagem na página da fraude dizia: “As igrejas locais e pequenos grupos de oração sempre foram uma ótima maneira de compartilhar as bênçãos da oração, mas estes métodos são limitados. Temos a capacidade de reunir o verdadeiro poder de milhares de vozes, todos orando pelas mesmas coisas”.

O material afirmava que oferecia conforto especialmente as pessoas que tinham fé, mas não queriam estar ligadas a uma igreja.

Uma das artimanhas dos operadores da fraude foi criar na página de pagamentos (somente por cartão de crédito), uma opção de “bênção continuada”, onde basicamente prometia que as orações em favor do contratante continuariam, desde que ele concordasse com uma pequena taxa mensal.

O procurador Ferguson disse em comunicado: “Eu acredito no poder da oração. O que eu não acredito e não irei tolerar são empresas ilegais que tiram vantagem das pessoas de fé a fim de fazer um dinheirinho rápido.”

O esquema criado por Benjamin foi condenado pela justiça. O dinheiro será devolvido a todos os que foram enganados e requisitaram um reembolso. Para fazer isso, basta responder ao e-mail enviado a todos os que constavam no banco de dados da empresa.

Rogovy está respondendo por outros esquemas fraudulentos on-line. Ele também fundou uma associação religiosa que era gerida pelo falso “pastor Parker Robinson”. Eles vendiam um certificado de ordenação pastoral por US$ 139. Bastava o interessado afirmar que acreditava em um só Deus verdadeiro, aceitava Jesus como seu Salvador, e pedia perdão por seus pecados.

O enquadramento legal de Rogovy foi por violação da Lei de Defesa do Consumidor americana, que proíbe instituições (como igrejas) de fazer afirmações falsas visando arrecadar doações de qualquer espécie.

O site do Christian Prayer Center foi fechado. 

Fonte: Christian Today

rosario

Fez bastante barulho, em abril de 2013, a conversão ao catolicismo do pastor pentecostal portorriquenho Fernando Casanova. Desde então, ele se tornou um valioso defensor da Igreja com seu assombroso domínio da bíblia e seu estilo de oratória apaixonado e de coração aberto.

Fernando mesmo relata o lento e doloroso processo da sua conversão ao catolicismo: foram cinco anos, depois de muitos outros de prestigioso serviço dentro da sua igreja protestante.

O processo de conversão começou com a pesquisa bíblica da Igreja única e unida fundada por Jesus Cristo, já que Fernando se desconcertava com a proliferação contínua de grupos e igrejas protestantes. Mas seu afã nesta pesquisa tinha uma restrição clara: a meta de “não ser católico”.

Só que o momento-chave da sua busca interior se deveu precisamente à Eucaristia católica.

Ao tomar a decisão de se converter ao catolicismo e comunicá-la à sua esposa, ela, protestante convencida, preferiu a separação. Homem de família e fiel ao matrimônio, Fernando teve de passar meses sem conviver com a esposa e os três filhos, martirizado pelo mistério do porquê de Deus ao permitir tamanha dor quando ele estava, afinal, seguido o caminho certo.

Em suas pregações, ele narra, com muito sentimento, que, ao entrar em uma capela para buscar a força de Deus no meio da sua situação dolorosa, viu sobre um dos bancos da igreja um rosário. Entendeu que Deus lhe pedia que o rezasse. Para ele, mesmo convertido firmemente, ainda era muito difícil, por causa das suas origens evangélicas, rezar o terço. Mas Fernando olhou para Nossa Senhora e lhe disse que estava disposto a rezar o rosário com dois pedidos:

“Que minha esposa e eu nos reconciliemos”

“Que minha esposa, meus filhos e eu entremos em comunhão plena com a Igreja do teu Filho”

Conta ele: “Rezei o terço torpemente e sem fé, pedindo perdão a Deus a cada dez ave-marias caso isso não lhe agradasse”.

No mesmo dia, Fernando Casanova se reencontrou com a família e se reconciliou com a esposa.

Mera coincidência? Pois bem. O processo de conversão da família foi continuando. Finalmente, na catedral da capital de Porto Rico, o ex-pastor evangélico, sua esposa e seus filhos foram recebidos formalmente na Igreja católica. E em que dia aconteceu isso? Por mais uma “coincidência”, foi exatamente um ano depois daquele “rosário mal rezado”.

O próprio Fernando lamenta não ter conservado aquele terço que, um ano antes, tinha encontrado abandonado sobre um banco da igreja. Ele não apenas gostaria de guardá-lo: Fernando gostaria que, depois de morto neste mundo, fosse enterrado com aquele rosário envolto em suas mãos agradecidas.

Javier Ordovás