É triste constatar que existe uma teologia que procura, sobretudo, ser acadêmica, parecer científica, e esquece a realidade vital, a presença de Deus, sua presença entre nós, sua maneira de falar nos dias de hoje, não somente no passado.

Já São Boaventura distinguia no seu tempo duas formas de teologia. Escreveu ele: “Há uma teologia que provém da arrogância da razão, quer dominar tudo, faz Deus passar de sujeito ao objeto que estudamos, quando Ele deveria ser sujeito que nos fala e nos guia”. Existe realmente esse abuso da teologia, que é arrogância da razão e não nutre a fé, mas obscurece a presença de Deus no mundo.

Há também uma teologia desejosa de conhecer mais, por amor ao amado, é estimulada pelo amor, guiada pelo amor, quer conhecer melhor o amado. Essa é a verdadeira teologia, que provém do amor de Deus e deseja entrar mais profundamente em comunhão com Cristo.

De fato, são grandes as tentações hoje; sobretudo, impõe-se a assim chamada “visão moderna do mundo” (Bultmann, “modernes Weltbild”), que se torna o critério de tudo quanto seria possível ou impossível. E assim, com esse critério de que tudo é como sempre, de que todos os acontecimentos históricos são do mesmo gênero, exclui-se precisamente a novidade do Evangelho, exclui-se a irrupção de Deus, a verdadeira novidade que é a alegria da nossa Fé.

Apesar dos abusos, sabemos que em todas as partes do mundo há muitos teólogos que vivem verdadeiramente da Palavra de Deus, nutrem-se da meditação, vivem a Fé da Igreja e querem colaborar para que a Fé esteja presente em nossos dias.

Não há por que ter medo do fantasma da cientificidade. Acerca do tema, declara o magno teólogo Joseph Aloisius Ratzinger: “Eu comecei a estudar teologia em janeiro de 1946. Vi, portanto, quase três gerações de teólogos e posso dizer: as hipóteses que naquele tempo, e depois nos anos 60 e 80, eram as mais novas, absolutamente científicas, quase dogmáticas, envelheceram nesse ínterim e não valem mais! Muitas delas parecem quase ridículas.”

Com a tese “Povo e casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho”, o teólogo Ratzinger, que recebeu o doutorado em 1953, exorta os colegas para que “tenham a coragem de resistir à aparente cientificidade, de não submeter-se a todas as hipóteses do momento, mas de pensar realmente a partir da grande Fé da Igreja, que está presente em todos os tempos e nos dá acesso à verdade. Sobretudo, não pensem que a razão positivista, a qual exclui o transcendente – que não pode ser acessível -, é a verdadeira razão. Essa razão débil que apresenta apenas as coisas experimentais é de fato uma razão insuficiente.”

O hoje Papa Emérito conclui: “nós, teólogos, devemos usar a razão ampla, aberta à grandeza de Deus. Devemos ter a coragem de ir para além do positivismo, até a questão das raízes do ser. Isto me parece de grande importância. É necessário, portanto, ter a coragem da razão grande, ampla, ter a humildade de não submeter-se a todas as hipóteses do momento, de viver da grande Fé da Igreja de todos os tempos. Não existe uma maioria contra a maioria dos Santos: a autêntica maioria é a dos Santos na Igreja, e pelos Santos devemos nos orientar!”

No Colóquio do Santo Padre com os Sacerdotes, dado na Cidade do Vaticano, durante a vigília de encerramento do Ano Sacerdotal, em 10 de junho de 2010,  declarou Bento XVI: “digo o mesmo aos seminaristas e sacerdotes: tomem em consideração que a Sagrada Escritura não é um livro isolado: é vivente na comunidade viva da Igreja, que é o mesmo sujeito em todos os séculos e assegura a presença da Palavra de Deus. O Senhor deu-nos a Igreja como sujeito vivo, com a estrutura dos Bispos em comunhão com o Papa, e essa grande realidade dos Bispos do mundo em comunhão com o Papa os garante o testemunho da verdade permanente. Temos confiança nesse Magistério permanente da comunhão dos Bispos com o Papa, que nos representa a presença da Palavra. Além disso, confiamos também na vida da Igreja e, sobretudo, devemos ser críticos. Certamente a formação teológica – gostaria de dizer isso aos seminaristas – é muito importante. Em nosso tempo, devemos conhecer bem a Sagrada Escritura, inclusive contra os ataques das seitas; precisamos ser, de fato, amigos da Palavra. Devemos conhecer também as opiniões de nossa época, para poder responder racionalmente, para poder dar “razão da nossa Fé”, como diz São Pedro.”

No mesmo encontro, o Papa Ratzinger lembrou que o Catecismo contém a síntese da nossa Fé. “A formação é muito importante. Mas devemos ser igualmente críticos: o critério da Fé serve para ver também os teólogos e a teologia. O Papa João Paulo II deu-nos um critério absolutamente seguro, no Catecismo da Igreja Católica: vemos ali a síntese da nossa Fé, e esse Catecismo é deveras o critério para observarmos aonde vai uma teologia aceitável ou não aceitável. Recomendo, pois, a leitura, o estudo desse texto, e podemos assim avançar com uma teologia crítica no sentido positivo, isto é, crítica contra as tendências da moda e aberta às verdadeiras novidades, à profundidade inexaurível da Palavra de Deus, que se revela nova em todos os tempos, inclusive no nosso.”

Bento XVI finalizou recordando que  “a oração não é algo secundário: rezar é propriamente a ‘profissão’ do sacerdote”.

Entendo eu, um humilde leigo católico, que a Teologia deva ser instrumento de fortalecimento da nossa fé: como se abrisse para nós, por um momento, a cortina do mistério que separa o mundo visível do mundo invisível.

E na força desta luz, que por esta pequena abertura da cortina entra no nosso mundo, somos encorajados como o profeta Elias (cf. 1 Reis 19, 8) a continuarmos com ânimo a nossa peregrinação rumo ao monte Horeb, símbolo do céu. E assim nos levar a uma maturidade interior para nos fazer crescer sempre mais profundamente na fé em Deus.

Assim torna-se um trampolim para nos elevarmos mais alto e solidamente na vida cristã numa fé vivida com uma consciência clara da ação de Deus no nosso dia a dia, como está escrito no Salmo: “Senhor, Tu examinaste-me e conheces-me, sabes quando me sento e quando me levanto; à distância conheces os meus pensamentos…. Os teus olhos viram-me em embrião…. Todos os meus dias estavam modelados, ainda antes que um só deles existisse. (Salmo 139, 11)

Verificamos, a partir dos anos cinquenta, uma ruptura entre o “Jesus histórico” e o “Cristo da fé”, uma situação dramática para a fé porque torna incerto o seu autêntico ponto de referência: a amizade íntima com Jesus, da qual tudo depende.

Entendo que para ser teólogo e para desempenhar o serviço para a universidade e para a humanidade ele tem que ir além e perguntar: mas é verdadeiro o que ali é dito? E se for verdadeiro, diz-nos respeito? E de que maneira? E como podemos reconhecer que é verdadeiro e que nos diz respeito? E realçar de modo essencial, decisivo, o fundamento histórico do próprio cristianismo: o Evangelho está relacionado com a história.

E reconhecer o benefício derivado na vida da Igreja da exegese histórico-crítica e dos outros métodos de análise do texto desenvolvidos em tempos recentes.

Para nossa visão da sagrada Escritura a atenção a estes métodos é imprescindível e está relacionada com o realismo da encarnação. Esta necessidade é a consequência do princípio cristão formulado no Evangelho segundo João (1, 14): Verbum caro factum est. O fato histórico é uma dimensão constitutiva da fé cristã. A história da salvação não é uma mitologia, mas uma verdadeira história e por isso deve ser estudada com os métodos da pesquisa histórica séria.

Pedimos o compromisso intelectual para responder a nível científico, e depois de ter ouvido os outros saberes, a uma pergunta exigente para o homem contemporâneo: é verdadeiro aquilo em que cremos ou não?

Na teologia está em jogo a questão acerca da verdade; ela é o seu fundamento último e essencial. O factum est do Prólogo de João (1, 14) é válido como categoria cristã fundamental não só para a encarnação como tal, mas deve ser reivindicado também para a última ceia, para a cruz e a ressurreição: a encarnação de Jesus está ordenada para o sacrifício de si mesmo pelos homens e este para a ressurreição; de outra forma o cristianismo não seria verdadeiro. Podemos olhar para a verdade deste factum est não no modo da certeza histórica absoluta, mas reconhecer a sua seriedade lendo de maneira justa a Escritura como tal.

Porventura não provém de Jesus um raio de luz que cresce ao longo dos séculos, um raio que não podia provir de um simples ser humano, um raio mediante o qual entra deveras no mundo o esplendor da luz de Deus? Teria podido, o anúncio dos apóstolos, encontrar fé e edificar uma comunidade universal, se não tivesse agido nele a força da verdade?

O teólogo não pode se dissociar da realidade do caminho de fé que a Igreja fez no tempo e continua a percorrer hoje. Um caminho que nasce precisamente a partir do encontro com uma Pessoa real, verdadeira e vivente. E para tanto necessitamos de teólogos que sejam uma testemunha séria, credível, competente, apaixonada.

Paulo Vendelino Kons, historiador


 

Era 1802 quando o ilustre físico Pierre-Simon de Laplace simbolicamente abre as cortinas para uma nova era no pensamento humano com um dos mais épicos diálogos da história da ciência. Diz a anedota que, Napoleão, quando se deparou com o cientista fez a pergunta que toda a Europa pretendia ter feito: “M. Laplace, me disseram que você escreveu este grande livro sobre o sistema do universo e jamais sequer mencionou seu Criador.” A resposta de Laplace foi incisiva: “Não foi necessária tal suposição.” Em 1814, após a morte de Napoleão, Laplace acrescentou que “a curva descrita por uma simples molécula de ar é regulada de modo tão certo quanto os planetas”, para depois concluir que o destino de todo átomo no universo é matematicamente previsível, em princípio, pelas forças da natureza. E assim as portas do determinismo científico foram escancaradas. Deem-nos as condições iniciais e as equações das forças da natureza e tudo o mais pode ser conhecido pelas leis do movimento. Se, em teoria, todos movimentos podem ser previamente determinados, então o corolário é óbvio: não há livre-arbítrio.

Cem anos se passaram, veio a teoria do caos, a mecânica quântica e as teorias sociais deterministas falharam miseravelmente. A modernidade então se descambou em puro pessimismo, mas sem perder a essência do corolário laplaciano. A busca da generalização, ao modo da ciência, passou a ser escarnecida como “positivismo”, e a “teoria” passou a se tornar um conjunto de reflexões pessimistas e obscuras sobre a inacessibilidade do outro e seus significados. Com efeito, Wittgenstein disse uma vez – no decorrer da formulação de sua filosofia inicial, subseqüentemente repudiada – que o mundo não é a totalidade das coisas, mas dos fatos. Na atmosfera intelectual atual, sente-se que o mundo não é a totalidade das coisas, mas os significados. Tudo é sentido e o significado é tudo, e a hermenêutica é seu profeta. Na pos-modernidade, o movimento e suas idéias são demasiados etéreos e voláteis para serem capturados e apreendidos com precisão. Dos fatos à linguagem foi a saga que a modernidade cumpriu e toda a subjetividade com respeito ao mundo externo trouxe uma certeza estonteante: mesmo que não pudéssemos ter certeza do mundo exterior, poderíamos pelo menos ter certeza de nossos próprios sentimentos, pensamentos e sensações. Se estas são engendradas por significados impostos a matérias-primas incipientes e incoerentes, e os significados vêm em pacotes culturais contraditórios, então essa certeza e ponto de descanso não podem ser encontrados dentro de nós, sequer por auto-reflexão, mas apenas socialmente. A verdade é então elusiva, polimorfa e subjetiva.

Nós somos construídos socialmente, argumentam os pós-modernos, e nós não estamos, mesmo enquanto adultos, conscientes da construção social por trás do nosso discurso. Nós podemos pensar que estamos falando livremente e fazendo nossas próprias escolhas, mas a mão invisível da construção social está fazendo de nós o que realmente somos. O que você pensa e o que você faz e mesmo como você pensa é governado pelas suas crenças subjacentes adquiridas por meio da linguagem e seus significados. Claro está, o corolário laplaciano segue: não pode portanto haver livre-arbítrio. Mas tudo fica ainda pior quando levamos o raciocínio ainda mais adiante. Vejamos. Se o discurso é em si algo distintivo porque constrói quem somos e está por trás de todas as ações nas quais nos engajamos e se, como uma forma de ação, ele pode e faz mal a outras pessoas, e se, por fim, toda a sociedade deve aceitar que qualquer forma de ação danosa precisa ser restringida por lei, então nós precisamos aceitar a censura. Tudo o mais no ativismo pós-moderno pode então ser resumidos nesta única palavra: censura. 

A vida em sociedade passa então a ser a luta de todos contra todos em uma indelével e inexorável jornada de agressões entre distintas comunidades linguísticas, pois se grupos diferentes são construídos de forma diferente, de acordo com sua linguística e origem distintas – brancos e negros, homens e mulheres são, por exemplo, construídos de formas diferentes -, e uma vez que universos linguístico-sociais e ideológicos distintos entram em conflito, então o discurso dos membros de cada grupo é visto como um veículo pelo qual os interesses concorrentes dos grupos entram em combate. E não haverá forma de resolver o conflito, porque dessa perspectiva você não pode dizer, “vamos resolver isso de forma racional”. O que a razão é, é em si construída por condições anteriores que fizeram quem você é. O que parece racional para você não é o que é racional para o outro grupo. E de fato, onde pode haver razão onde não há livre-arbítrio? Consequentemente, toda a discussão necessariamente se reduzirá a ver quem fala mais alto e o convívio social é todo reduzido a mera política. Não há portanto outra saída para a pos-modernidade senão a barbárie. 

Por Lacombi Lauss

Dom Henrique Soares da Costa, bispo de Penedo, AL, publicou em seu blog neste último 12 de setembro as seguintes considerações sobre tendências da sociedade atual. Elas são válidas para a reflexão e a discussão:

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Escrevi há algum tempo… Escreveria de novo, cada palavra:

Aonde vamos? Até onde chegará a vulgaridade da nossa sociedade de consumo, que tudo consome e extingue de moral, de respeitabilidade, de senso de vergonha, de pudor, de limite que constrói e amadurece, de tudo quanto aprendemos dos nossos antepassados que era justo, reto, belo, louvável, digno?

Eis a sociedade ocidental: perdeu sua matriz geradora, a fé cristã. Foi o cristianismo a principal seiva a alimentar a consciência do Ocidente, foi a fé cristã a raiz que sustentou nossa civilização e deu-lhe em grande medida os parâmetros morais que a fez valorizar a dignidade da pessoa, o sentido da liberdade, a compaixão e a responsabilidade em favor dos mais fracos, a dignidade da mulher, o valor do corpo, etc. É esta moral que vai desaparecendo na sociedade ocidental pós-cristã, agora moribunda e irremediavelmente condenada à morte em seus valores.

Assim, tudo se pode esperar de deriva, de confusão moral, de leviandade, de inversão de valores! Pode alguém não concordar, mas afirmo: não se mantém a longo a moralidade de um povo se se elimina sua matriz religiosa. Ocidente ateu, Ocidente em franca decadência moral!

Por que escrevo isto? Pelo leilão de virgindade! Isto mesmo – e imagino que você, meu Leitor, já tenho visto a internet: um jovem russo de 23 anos e uma jovem brasileira de 20 anos estão leiloando sua virgindade. Ela quer construir casas para os pobres(!) com o dinheiro arrecadado; ele, tímido(!), heterossexual, pede que respeitem(!) sua sexualidade e os homossexuais não façam lance como candidatos a parceiros do moço virgem – até agora os maiores lances são de homens!

Que pensar de tudo isto? É condenável do ponto de vista humano, do ponto de vista cristão e de todos os pontos de vista que partam de algum critério de decência!

O nome disso? Prostituição vulgar e grosseira falta de pudor e de vergonha, falta de senso de limite e de ridículo!

Nada justifica que pessoas brinquem assim com sua sexualidade e, pior ainda, num tremendo mau exemplo, difunda sua imoralidade como algo louvável. E mais um detalhe: os familiares apoiam ou, no mínimo, respeitam! Eis aonde chegamos! Nem Roma no seu período de degradação moral pagã chegou a estes requintes!

Um outro exemplo: nesta semana, uma menina norte-americana de apenas 15 anos, foi candidamente à escola vestindo uma camisa com sugestiva inscrição: “Eu gosto de v…”. A menina é homossexual e faz questão de propagar sua situação. A escola pediu que ela não mais vestisse aquela camisa no ambiente escolar. A reação foi decidida: a garota considerou-se tolhida no seu livre direito de expressão e acusou a escola de hipocrisia! Sua mãe, inacreditavelmente, concordou com a filha!

Basta! Não me alongarei mais! Não merece! Somente chamo atenção para a triste situação moral em que nos encontramos e da qual coisas desse tipo são sintomas. Mas, se olharmos bem, em maior ou menor escala, a mentalidade pagã e imoral (e não somente no aspecto sexual) está por toda parte, aplaudida, endossada, defendida e difundida.

Não é de se estranhar: tire Deus como absoluto; onde ancorar, como alicerçar qualquer moralidade? Se não há o Bem, a Verdade, então tudo pode ser bem – o meu bem –, tudo pode ser verdade – a minha verdade!

Como pode um cristão aplaudir um mundo assim? Pense nisto, porque tal mundo o cerca, o instiga a posicionar-se nas suas decisões, bate à porta da sua vida e não permite, na prática que você seja neutro. Não é possível ser neutro! Como você se coloca, meu Leitor amigo?

Certamente, um discípulo de Cristo não deve se amargurar, não deve ser soberbo, não deve se julgar melhor que ninguém, não deve condenar em bloco o mundo, não se arvora em juiz mesquinho, feito beata de novela, não demoniza tudo e todos. Mas, sabe distinguir o bem do mal – e seu critério é Cristo, o Filho de Deus, que a todos julgará.

O cristão não deve ter medo de dizer claramente que o mal é mal e que o bem é bem! Deve respeitar e dialogar com todos, mas deve também, serena e fortemente, lutar, combater para que a sociedade, se não consegue mais ver a Deus como inspirador de sua valoração moral, ao menos se inspire e se fundamente no que de mais nobre, sóbrio e belo a consciência humana retamente formada pode produzir.

Uma coisa é carta: uma moral e uma ideia de liberdade que tenham como centro a realização da pessoa sem limite algum, como um absoluto desvinculado de qualquer referência e compromisso com o bem, a sensibilidade e a consciência dos outros, são moral e liberdade doentias: moral imoral e liberdade escrava do próprio eu, num solipsismo insuportável, imaturo e destrutivo.

Estejamos atentos para não cair nessas loucuras nem deixar que nossa sociedade enverede ainda mais por este mau caminho em que, infelizmente, já anda metida…

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Do blog Visão Cristã, de Dom Henrique Soares da Costa

Relativismo, verdade e fé
Ángel Rodríguez Luño, Doutor em Filosofia e Educação, professor de Teologia Moral da Pontificia Università della Santa Croce (Roma)

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Em diversas ocasiões e com diversas palavras, Bento XVI tem manifestado a sua convicção de que o relativismo tem se convertido no problema central que a fé cristã tem que enfrentar nos nossos dias [2].

Alguns meios de comunicação têm interpretado essas palavras como referidas quase exclusivamente ao campo da moral, como se respondessem à vontade de qualificar do modo mais duro possível todos os que não aceitam algum ponto concreto do ensinamento moral da Igreja Católica. Esta interpretação não corresponde ao pensamento nem aos escritos de Bento XVI. Ele alude a um problema muito mais profundo e geral, que se manifesta primariamente no âmbito filosófico e religioso, e que se refere à atitude intencional profunda que a consciência contemporânea – crente ou não crente – assume facilmente com relação à verdade.

A referência à atitude profunda da consciência perante a verdade distingue o relativismo do erro. O erro é compatível com uma adequada atitude da consciência pessoal com relação à verdade. Quem afirmasse, por exemplo, que a Igreja não foi fundada por Jesus Cristo, afirmá-lo-ia porque pensa (equivocadamente) que essa é a verdade e que a tese oposta é falsa. Quem faz uma afirmação deste tipo, pensa que é possível atingir a verdade. Aqueles que a atingem – e na medida em que a atingem – têm razão e aqueles que sustentam a afirmação contraditória se equivocam.

A filosofia relativista, porém, diz que é preciso resignar-se com o fato de que as realidades divinas e as que se referem ao sentido da vida humana, pessoal e social, são substancialmente inacessíveis, e que não existe uma via única para aproximar-se delas.

Cada época, cada cultura e cada religião têm utilizado diversos conceitos, imagens, símbolos, metáforas, visões etc. para expressá-las. Essas formas culturais podem opor-se entre si, mas, com relação aos objetos aos quais se referem, teriam todas elas igual valor. Seriam diversos modos – cultural e historicamente limitados – de aludir de modo muito imperfeito a realidades que não se podem conhecer. Em definitivo, nenhum dos sistemas conceituais ou religiosos teria, sob qualquer aspecto, um valor absoluto de verdade. Todos seriam relativos ao momento histórico e ao contexto cultural; daí a sua diversidade e, inclusive, a sua oposição. Mas, dentro dessa relatividade, todos seriam igualmente válidos enquanto vias diversas e complementares para aproximar-se de uma mesma realidade, que, substancialmente, permanece oculta.

Num livro publicado antes de sua eleição como Romano Pontífice, Bento XVI se referia a uma parábola budista [3]. Um rei do norte da Índia reuniu um dia um bom número de cegos que não sabiam o que é um elefante. Fizeram com que alguns dos cegos tocassem a cabeça e lhes disseram: “isto é um elefante”. Disseram o mesmo aos outros, enquanto faziam com que tocassem a tromba, ou as orelhas, ou as patas, ou os pelos da extremidade do rabo do elefante. Depois, o rei perguntou aos cegos o que é um elefante e cada um deu explicações diversas, conforme a parte do elefante que lhe haviam permitido tocar. Os cegos começaram a discutir, e a discussão foi se tornando violenta, até terminar numa briga de socos entre os cegos, que constitui o entretenimento que o rei desejava.

Este conto é particularmente útil para ilustrar a ideia relativista da condição humana. Nós, os homens, seríamos cegos que corremos o perigo de absolutizar um conhecimento parcial e inadequado, inconscientes da nossa intrínseca limitação (motivação teórica do relativismo). Quando caímos nessa tentação, adotamos um comportamento violento e desrespeitoso, incompatível com a dignidade humana (motivação ética do relativismo). O lógico seria que aceitássemos a relatividade das nossas idéias, não só porque isso corresponde à índole do nosso pobre conhecimento, mas também em virtude do imperativo ético da tolerância, do diálogo e do respeito recíproco. A filosofia relativista se apresenta a si mesma como o pressuposto necessário da democracia, do respeito e da convivência. Mas essa filosofia não parece dar-se conta de que o relativismo torna possível a burla e o abuso por parte de quem tem o poder em suas mãos: no conto, o rei que quer se divertir a custa dos pobres cegos; na sociedade atual, aqueles que promovem os seus próprios interesses económicos, ideológicos, de poder político etc. à custa dos demais, mediante o manejo hábil e sem escrúpulos da opinião pública e dos demais recursos do poder.

O que tudo isto tem a ver com a fé cristã? Muito.

Porque é essencial ao Cristianismo o apresentar-se a si mesmo como religio vera, como religião verdadeira [4]. A fé cristã se move no plano da verdade, e esse plano é o seu espaço vital mínimo. A religião cristã não é um mito, nem um conjunto de ritos úteis para a vida social e política, nem um princípio inspirador de bons sentimentos privados, nem uma agência ética de cooperação internacional.

A fé cristã, antes de mais, nos comunica a verdade acerca de Deus, ainda que não exaustivamente, e a verdade acerca do homem e do sentido de sua vida [5].

A fé cristã é incompatível com a lógica do “como se”. Não se reduz a dizer-nos que temos de nos comportar “como se” Deus nos tivesse criado e, por conseguinte, “como se” todos os homens fôssemos irmãos, mas afirma, com pretensão veritativa, que Deus criou o céu e a terra e que todos somos igualmente filhos de Deus. Diz-nos, além disto, que Cristo é a revelação plena e definitiva de Deus, «resplendor de sua glória e imagem de seu ser» [6], único mediador entre Deus e os homens [7] e, portanto, não pode admitir que Cristo seja somente o rosto com o qual Deus se apresenta aos europeus [8].

Talvez convenha repetir que a convivência e o diálogo sereno com os que não têm fé ou com aqueles que sustentam outras doutrinas não se opõem ao Cristianismo; na verdade, é todo o contrário. O que é incompatível com a fé cristã é a ideia de que o Cristianismo, as demais religiões monoteístas ou não monoteístas, as místicas orientais monistas, o ateísmo etc. são igualmente verdadeiros, porque são diversos modos limitados, cultural e historicamente, de se fazer referência a uma mesma realidade, que, no fundo, nem uns nem outros conhecem.

Isto é, a fé cristã se dissolve , no plano teórico, a perspectiva da verdade, segundo a qual aqueles que afirmam ou negam o mesmo não podem ter igualmente razão nem podem ser considerados como representantes de visões complementares de uma mesma realidade.

  1. O relativismo religioso

A força do Cristianismo e o poder para configurar e sanar a vida pessoal e coletiva que tem demonstrado ao longo da história, consiste em implicar uma estreita síntese entre fé, razão e vida [9], na medida em que a fé religiosa mostra à consciência pessoal que a razão verdadeira é o amor e que o amor é a razão verdadeira [10]. Essa síntese se rompe se a razão que nela deveria entrar for relativista. Por isso, dissemos no início que o relativismo se converteu no problema central que a evangelização tem que enfrentar nos nossos dias. O relativismo é assim problemático porque – ainda que não chegue a ser uma mutação de época da condição e da inteligência humanas – comporta uma desordem generalizada da intencionalidade profunda da consciência com relação à verdade, que tem manifestações em todos os âmbitos da vida.

Em primeiro lugar, existe hoje uma interpretação relativista da religião. É o que atualmente se conhece como “teologia do pluralismo religioso”. Esta teoria teológica afirma que o pluralismo das religiões não é só uma realidade de fato, mas uma realidade de direito. Deus quereria positivamente as religiões não cristãs como caminhos diversos através dos quais os homens se unissem a Ele e recebessem a salvação, independentemente de Cristo. Cristo tem, no máximo, uma posição de particular importância, mas é só um dos caminhos possíveis e, desde logo, nem exclusivo nem inclusivo dos demais. Todas as religiões seriam vias parciais, todas poderiam aprender das outras algo da verdade sobre Deus, em todas haveria uma verdadeira revelação divina.

Essa posição descansa sobre o pressuposto da essencial relatividade histórica e cultural da ação salvífica de Deus em Jesus Cristo. A ação salvífica universal da divindade se realizaria através de diversas formas limitadas, segundo a diversidade de povos e culturas, sem se identificar plenamente com qualquer delas.

A verdade absoluta de Deus não poderia ter uma expressão adequada e suficiente na história e na linguagem humana, sempre limitada e relativa. As ações e as palavras de Cristo estariam submetidas a essa relatividade, pouco mais ou pouco menos que as ações e as palavras das outras grandes figuras religiosas da humanidade. A figura de Cristo não teria um valor absoluto e universal. Nada do que aparece na história poderia ter esse valor [11]. Não nos deteremos agora em explicar os diversos modos em que se tem pretendido justificar esta concepção [12].

Destas complexas teorias ocupou-se a encíclica Redemptoris Missio [13], de João Paulo II, e a declaração Dominus Iesus [14]. É fácil dar-se conta de que tais teorias teológicas dissolvem a cristologia e relativizam a revelação levada a cabo por Cristo, que seria limitada, incompleta e imperfeita [15], e que deixaria um espaço livre para outras revelações independentes e autónomas [16]. Para os que sustentam estas teorias é determinante o imperativo ético do diálogo com os representantes das grandes religiões asiáticas, que não seria possível não se aceitar como ponto de partida que essas religiões têm um valor salvífico autônomo, não derivado e não dirigido a Cristo. Também neste caso o relativismo teórico (dogmático) obedece, em boa parte, a uma motivação de ordem prática (o imperativo do diálogo). Estamos, pois, perante outra versão do conhecido tema kantiano da primazia da razão prática sobre a razão teórica.

Faz-se necessário esclarecer que o que acabamos de dizer em nada prejulga a salvação dos que não têm a fé cristã. O único que se diz é que também os não cristãos que vivem com retidão segundo a sua consciência se salvam por Cristo e em Cristo, embora nesta terra não o tenham conhecido. Cristo é o Redentor e o Salvador universal do género humano. Ele é a salvação de todos os que se salvam.

  1. O relativismo ético-social

Passamos a ocupar-nos do relativismo ético-social. Esta expressão significa não só que o relativismo atual tem muitas e evidentes manifestações no âmbito ético-social, mas também – e principalmente – que se apresenta como se estivesse justificado por razões ético-sociais. Isto explica tanto a facilidade com que se difunde quanto a escassa eficácia que têm certos intentos de combatê-lo.

Vejamos como Habermas formula essa justificação ético-social. Na sociedade atual encontramos um pluralismo de projetos de vida e de concepções do bem humano. Este fato nos propõe a seguinte alternativa: ou se renuncia à pretensão clássica de pronunciar juízos de valor sobre as diversas formas de vida que a experiência nos oferece ou, então, se há de renunciar a defender o ideal da tolerância, para o qual cada concepção da vida vale tanto como qualquer outra, ou, pelo menos, tem o mesmo direito a existir [17]. A mesma ideia é expressa de modo mais sintético por um conhecido jurista argentino: «Se a existência de razões para modos de vida não fosse utilizada para justificar o emprego da coação, a tolerância seria compatível com os compromissos mais profundos» [18]. A força deste tipo de raciocínio consiste em que, historicamente, tem ocorrido muitas vezes que nós, os homens, temos sacrificado violentamente a liberdade sobre o altar da verdade. Por isso, com um pouco de habilidade dialética não é difícil fazer passar por defesa da liberdade atitudes e concepções que, na realidade, caem no extremo oposto de sacrificar violentamente a verdade sobre o altar da liberdade.

Isto se vê claramente no modo em que a mentalidade relativista ataca os seus adversários. A quem afirme, por exemplo, que a heterossexualidade pertence à essência do casamento, não se lhe diz que essa tese é falsa, mas se lhe acusa de fundamentalismo religioso, de intolerância ou de espírito anti-moderno. Menos ainda se lhe dirá que a tese contrária é verdadeira, isto é, não se tentará demonstrar que a heterossexualidade nada tem a ver com o casamento. O característico da mentalidade relativista é pensar que esta tese é uma das teses que existe na sociedade juntamente com a sua contrária e, talvez, com outras mais, e que, em definitiva, todas têm igual valor e o mesmo direito a serem socialmente reconhecidas. Ninguém é obrigado a se casar com uma pessoa do mesmo sexo, mas quem quiser fazê-lo deve poder fazê-lo. É o mesmo raciocínio com o qual se justifica a legalização do aborto e de outros atentados contra a vida de seres humanos que, pelo estado em que se encontram, não podem reivindicar ativamente os seus direitos, e cuja colaboração não é necessária a nós. Ninguém é obrigado a abortar, mas quem pensar que deve fazê-lo, deve poder fazê-lo.

Pode-se criticar a mentalidade relativista de muitas formas, conforme as circunstâncias. Mas o que nunca se deve fazer é reforçar, com as próprias palavras ou atitudes, aquilo que nessa mentalidade é mais persuasivo. Isto é: quem ataca o relativismo não pode dar a impressão de que está disposto a sacrificar a liberdade sobre o altar da verdade. Pelo contrário, deve-se demonstrar que se é muito sensível ao fato – de per si, bastante claro – que a passagem da perspectiva teórica à perspectiva ético-política tem de se fazer com muito cuidado. Uma coisa é ser inadmissível que aqueles que afirmam e aqueles que negam o mesmo tenham igualmente razão; outra coisa seria dizer que só os que pensam de um determinado modo podem desfrutar de todos os direitos civis de liberdade no âmbito do Estado. Deve-se evitar qualquer tipo de confusão entre o plano teórico e o plano ético-político: uma coisa é a relação da consciência com a verdade e outra, bem diferente, é a justiça para com as pessoas. Seguindo esta lógica, poder-se-á mostrar depois, de modo crível, que de uma afirmação que pretende dizer como as coisas são, isto é, de uma tese especulativa, só cabe dizer que é verdadeira ou falsa. As teses especulativas não são nem fortes nem débeis, nem privadas nem públicas, nem frias nem quentes, nem violentas nem pacíficas, nem autoritárias nem democráticas, nem progressistas nem conservadoras, nem boas nem más. São simplesmente verdadeiras ou falsas. O que pensaríamos de quem, ao expor uma demonstração matemática ou uma explicação médica, começasse a dizer que esses conhecimentos científicos têm só uma validade privada ou então que constituem uma teoria muito democrática? Se existe completa certeza de que um fármaco permite deter um tumor, trata-se, pura e simplesmente, de uma verdade médica, e não há nada mais a se acrescentar. Porém, é cabível qualificar uma forma de conceber os direitos civis ou a estrutura do Estado de autoritária ou de democrática, de justa ou de injusta, de conservadora ou de reformista. Ao mesmo tempo, é preciso recordar que existem realidades, como o casamento, que são, a uma só vez, objeto de um conhecimento verdadeiro e de uma regulação prática segundo a justiça. Em caso de conflito, é preciso encontrar o modo de salvar tanto a verdade quanto a justiça para com as pessoas, para o qual se há de ter muito em conta – entre outras coisas – o aspecto “expressivo” ou educativo das leis civis [19].

No Discurso de 22 de dezembro de 2005, Bento XVI distinguiu com muita nitidez a relação da consciência com a verdade das relações de justiça entre as pessoas. Transcrevo um parágrafo muito significativo: «se a liberdade religiosa for considerada como expressão da incapacidade do homem para encontrar a verdade e, consequentemente, tornar-se uma canonização do relativismo, então passa impropriamente de necessidade social e histórica para o nível metafísico. Assim, priva-se-lhe do seu verdadeiro sentido, com a consequência de não poder ser aceite por quem crê que o homem é capaz de conhecer a verdade de Deus e, com base na dignidade interior da verdade, está ligado a tal conhecimento.

Uma coisa completamente diversa é, porém, considerar a liberdade de religião como uma necessidade derivante da convivência humana, aliás, como uma consequência intrínseca da verdade que não pode ser imposta do exterior, mas que o homem deve fazer sua mediante um processo do convencimento. O Concílio Vaticano II, com o Decreto sobre a liberdade religiosa, reconhecendo e fazendo seu um princípio essencial do Estado moderno, recuperou novamente o patrimônio mais profundo da Igreja» [20].

Bento XVI dá mostras de um fino discernimento quando reconhece que no Concílio Vaticano II a Igreja fez seu um princípio ético-político do Estado moderno, e que o fez recuperando algo que pertencia à tradição católica. Sua posição está cheia de matizes. E, desse modo, esclarece que «quem pensava que com este “sim” fundamental para a era moderna se dissipassem todas as tensões e a “abertura ao mundo” assim realizada transformasse tudo em pura harmonia, tinha subestimado as tensões internas e também as contradições da mesma era moderna; tinha subestimado a perigosa fragilidade da natureza humana que em todos os períodos da história e em cada constelação histórica é uma ameaça para o caminho do homem». E se afirma que «não podia ser intenção do Concílio abolir esta contradição do Evangelho em relação aos perigos e aos erros do homem», diz também que é um bem fazer todo o possível por evitar as «contradições erróneas ou supérfluas, para apresentar a este nosso mundo a exigência do Evangelho em toda a sua grandeza e pureza» [22]. E, assinalando o fundo do problema, acrescenta que «[o] passo dado pelo Concílio em direção à era moderna, que de modo tão impreciso foi apresentado como “abertura ao mundo” pertence definitivamente ao perene problema da relação entre fé e razão, que se apresenta sempre de novas formas» [23].

O raciocínio de Bento XVI mostra um modo de fazer frente de modo justo e matizado a uma posição tremendamente insidiosa como é a do relativismo ético-social.

  1. Os problemas antropológicos do relativismo

Dissemos que o relativismo no campo ético-social se apoia numa motivação de ordem prática: quer permitir fazer algo a quem o deseja, sem produzir dano aos demais, e isto seria uma ampliação da liberdade. Mas o valor dessa motivação é só aparente. A mentalidade relativista comporta uma profunda desordem antropológica, que tem custos pessoais e sociais muito altos. A natureza desta desordem antropológica é bastante complexa e altamente problemática. Aqui vou mencionar só dois problemas.

O primeiro é que a mentalidade medieval está unida a uma excessiva acentuação da dimensão técnica da inteligência humana e dos impulsos ligados à expansão do eu com os quais essa dimensão da inteligência está relacionada, o que leva consigo a depressão da dimensão sapiencial da inteligência e, por conseguinte, das tendências transitivas e transcendentes da pessoa, com as quais esta segunda dimensão da inteligência está aparentada.

O que aqui se chama dimensão técnica da inteligência humana e que outros autores chamam por outros nomes [24] é a evidente e necessária atividade da inteligência que nos permite orientar-nos no meio ambiente, garantindo a subsistência e a satisfação das necessidades básicas. Cunha conceitos, capta relações, conhece a ordem das coisas etc. com a finalidade de dominar e de explorar a natureza, fabricar os instrumentos e obter os recursos que necessitamos. Graças a esta função da inteligência, as coisas e as forças da natureza tornam-se objetos domináveis e manipuláveis para o nosso proveito. Deste ponto de vista, conhecer é poder: poder dominar, poder manipular, poder viver melhor.

A função sapiencial da inteligência visa, pelo contrário, a entender o significado do mundo e o sentido da vida humana. Cunha conceitos não com a finalidade de dominar, mas de alcançar as verdades e as concepções do mundo que possam dar resposta satisfatória à pergunta pelo sentido de nossa existência, resposta que, em longo prazo, nos resulta tão necessária como o pão e a água.

A sistemática fuga ou evasão do plano da verdade, que estamos chamando mentalidade relativista, comporta um desequilíbrio destas duas funções da inteligência e das tendências que a ela estão ligadas. O predomínio da função técnica significa o predomínio, em nível pessoal e cultural, dos impulsos voltados aos valores vitais (o prazer, o bem estar, a ausência de sacrifício e de esforço), através dos quais se afirma e se expande o eu individual. A depressão da função sapiencial da inteligência comporta a inibição das tendências transitivas, isto é, das tendências sociais e altruístas e, sobretudo, uma diminuição da capacidade de auto-transcendência, em razão do que a pessoa fica encerrada nos limites do individualismo egoísta.

Em termos mais simples: o afã ansioso de ter, de triunfar, de subir, de descansar e de se divertir, de levar uma vida fácil e prazenteira, prevalece com sobras sobre o desejo de saber, de refletir, de dar um sentido ao que se faz, de ajudar os demais com o próprio trabalho, de transcender o reduzido âmbito dos nossos interesses vitais imediatos. Fica quase bloqueada a transcendência horizontal (voltada aos demais e à coletividade) e também a vertical (voltada aos valores ideais absolutos, voltada a Deus).

O segundo problema está estreitamente vinculado ao primeiro. A falta de sensibilidade para com a verdade e para com as questões relativas ao sentido do viver leva consigo a deformação – quando não a corrupção – da ideia e da experiência da liberdade; da própria liberdade, em primeiro lugar. Não pode estranhar que a consolidação social e legal dos modos de vida congruentes com a desordem antropológica de que estamos falando se fundamentem sempre invocando a liberdade, realidade certamente sacrossanta, mas que é preciso entender em seu verdadeiro sentido.

Invoca-se a liberdade como liberdade de abortar, liberdade de ignorar, liberdade de não saber falar senão com palavras soezes, liberdade de não dever dar razão das próprias convicções, liberdade de incomodar e, antes de tudo e sobretudo, liberdade de impor aos demais uma filosofia relativista, que todos teríamos que aplaudir como filosofia da liberdade. Quem lhe negar o aplauso será submetido a um processo de linchamento social e cultural muito difícil de aguentar. Penso que estas considerações podem ajudar a entender em que sentido Bento XVI tem falado de “ditadura do relativismo”.

Tudo isto também tem muito a ver, negativamente, com a fé cristã. Quem pensa que existe uma verdade e que essa verdade pode ser alcançada com certeza mesmo em meio de muitas dificuldades, quem pensa que nem tudo pode ser de outra maneira, isto é, quem pensa que a nossa capacidade de modelar culturalmente o amor, o casamento, a geração, a ordenação da convivência no Estado etc. tem limites que não se podem superar, pensa, em definitiva, que existe uma inteligência mais alta do que a humana. É a inteligência do Criador, que determina o que as coisas são e os limites do nosso poder de transformá-las. O relativista pensa o contrário. O relativismo parece um agnosticismo. Quem o puder pensar até o final verá muito mais afim o ateísmo prático. Não me parece compatível a convicção de que Deus criou o homem e a mulher com a ideia de que pode existir um casamento entre pessoas do mesmo sexo. Isto só será possível se o casamento fosse simplesmente uma criação cultural: nós o estruturamos, há séculos, de um modo, e agora somos livres para estruturá-lo de outro modo.

O relativismo responde a uma concepção profunda da vida que trata de impor. O relativista pensa que o modo de alcançar a maior felicidade possível de se conseguir neste pobre mundo nosso – que sempre é uma felicidade fragmentada e limitada – é evadir o problema da verdade, que seria uma complicação inútil e nociva, causa de tantas quebra-cabeças. Mas esta concepção se encontra com o problema de que os homens, além de desejarem ser felizes, de quererem gozar, de aspirarem a carecer de vínculos para se moverem à vontade, têm também uma inteligência e desejam conhecer o sentido do seu viver.

Aristóteles iniciou a sua Metafísica dizendo que todo homem, por natureza, deseja saber [25]. E Cristo acrescentou que «não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus» [26].

O desejo de saber e a fome da palavra que procede da boca de Deus são inextinguíveis, e nenhum aparato comunicativo ou coercitivo poderá fazê-los desaparecer da vida humana. Por isso, estou convencido de que a hora atual é uma hora cheia de esperança e de que o futuro é muito mais promissor do que parece. Com as presentes reflexões, que não querem ser negativas, só se pretendeu expor com seriedade e realismo o aspecto da presente conjuntura que Bento XVI tem chamado relativismo, bem como a sua incidência na prática e na difusão da fé cristã no mundo atual.

ÁNGEL RODRÍGUEZ LUÑO, DOUTOR EM FILOSOFIA E EDUCAÇÃO, E PROFESSOR DE TEOLOGIA MORAL DA PONTIFICIA UNIVERSITÀ DELLA SANTA CROCE (ROMA)

Notas

[1] Aqui teremos em conta os seguintes textos: Ratzinger, J.Fede, verità, tolleranza.

Il Cristianesimo e le religioni del mondo. Siena : Cantagalli, 2003 (trad. espanhola: Fe, verdad y tolerância. Salamanca : Ed. Sígueme, 2005); a homilia da “Missa pro eligendo Romano Pontifice”, celebrada na basílica vaticana em 18 de abril de 2005 e o importantíssimo Discurso de Bento XVI à Cúria Romana por ocasião do Natal, de 22 de dezembro de 2005.

[2] Cf., por exemplo, Ratzinger, J. Fede, verità, tolleranza. Il Cristianesimo e le religioni del mondo, cit., p. 121. Veja-se também a homilia anteriormente mencionada de 18 de abril de 2005.

[3] Cf. Ratzinger, J. Fede, verità, tolleranza…, cit. pp. 170 ss.

[4] Cf. ibid., pp. 170-192.

[5] Dizemos que o conhecimento de Deus que nos dá a fé não é exaustivo porque no Céu conheceremos a Deus muitíssimo melhor. No entanto, o que nos diz a Revelação é verdadeiro, e é tudo o que Deus quis dar-nos a conhecer de Si mesmo. Não há outra fonte para conhecer mais verdades acerca de Deus. Não há outras revelações.

[6] Hb 1, 3.

[7] Cf 1 Tm 2, 5.

[8] Esta é a tese defendida em princípios do século XX por E. Troeltsch.Cf. L’assoluteza del cristianesimo e la storia delle religioni. Napoli : Morano, 1968.

[9] Esta é uma idéia muito presente ao longo do livro anteriormente citado Fede, verità e tolleranza….

[10] Cf. Ratzinger, J. Fede, verità e tolleranza…, cit., p. 192.

[11] Uma exposição e uma defesa da tese pluralista pode se encontrar em: Knitter, P. No Other Name? A Critical Survey of Christian Attitudes towards the World Religions. Maryknoll (NY) : Orbis Books, 1985; Hick, J. An Interpretation of Religion. Human Responses to Transcendent. London : Yale University Press, 1989; Amaladoss, M. “The pluralism of Religions and the Significance of Christ”, In: IdemMaking All Things New: Dialogue, Pluralism and Evangelization in Asia. Anand : Gujarat Sahistya Prakash, 1990, pp. 243-268; Idem. “Mission and Servanthood” In: Third Millenium 2 (1999), pp. 59-66; Idem. “Jésus Christ, le seul sauveur, et la mission” In:Spiritus 159 (2000), pp. 148-157; Idem, “‘Do not judge…’ (Mt 7:1)” In: Jeevadhara 31/183 (2001), pp. 179-182; Wilfred, F. Beyond Settled Foundations. Madras : The Journey of Indian Theology, 1993.

[12] Uns afirmam que o Verbo não encarnado, Logos ásarkos ou Logos cósmico, desenvolve uma ação salvífica muito mais ampla que a do Verbo Encarnado, isto é, que a do Logos énsarkos (cf., por exemplo, Dupuis, J. Verso una teologia del pluralismo religioso. Brescia : Queriniana, 1997, p. 404). Porém, outros dizem que é o Espírito Santo que desenvolve uma ação salvífica separada e independente da de Cristo, e fundamentam no Espírito Santo o valor salvífico autônomo das religiões não cristãs e a verdadeira revelação contida nelas.

[13] Cf. João Paulo II. Carta Encíclica Redemptoris Missiosobre a permanente validade do mandato missionário, 07-XII-1990.

[14] Cf. Congregação para a Doutrina da Fé. DeclaraçãoDominus Iesus sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja, 06-VIII-2000.

[15] Cf. Dupuis, J. Verso una teologia del pluralismo religioso, cit., pp. 367 e 403.

[16] Cf. ibid., pp. 332 e 342.

[17] Cf. Habermas, J. Teoria della morale. Bari-Roma : Laterza, 1995, p. 88 (original: Erläuterungen zur Diskursrthik, Frankfurt am Main : Suhrkamp, 1991).

[18] Nino, C. S. Ética y derechos humanos. Un ensayo de fundamentación. Barcelona : Ariel, 1989, p. 195.

[19] Chama-se aspecto “expressivo” das leis civis o fato inegável de que as leis, além de permitir ou de proibir algo, expressam uma concepção do homem, da vida, do casamento e, desse modo, têm um efeito educativo de sinal positivo ou negativo.

[20] Bento XVI. Discurso à Cúria Romana por ocasião do Natal, 22-XII-2005.

[21] Ibidem.

[22] Ibidem.

[23] Ibidem.

[24] Philipp Lersch a chama função intelectual e denomina função espiritual da inteligência a que nós chamamos função sapiencial. Cf. Lersch, Ph. La estrutuctura de la personalidad, 4ª ed. Barcelona : Scientia, 1963, pp. 399-404.

[25] Cf. Aristóteles. Metafísica, I, 1: 980 a 1.

[26] Mt 4, 4
(Fonte: site do Opus Dei – Brasil AQUI)

Durante um TEDx*  Talk, Mirjam Heine, ( Psicóloga e estudante de medicina) da Universidade de Würzburg, Alemanha, afirmou que “a pedofilia é uma orientação sexual natural, assim como a heterossexualidade”.

“De acordo com pesquisas atuais, a pedofilia é uma orientação sexual imutável”, argumentou Heine. “Assim como, por exemplo, a heterossexualidade. Ninguém escolhe ser pedófilo. Ninguém pode deixar de ser um.

“A diferença entre a pedofilia e outras orientações sexuais é que viver essa orientação sexual terminará em um desastre … É nossa responsabilidade superar nossos sentimentos negativos em relação aos pedófilos. E tratá-los com o mesmo respeito que tratamos as outras pessoas.

“Devemos aceitar que os pedófilos são pessoas que não escolheram sua sexualidade … Devemos aceitar que a pedofilia é uma preferência sexual, um pensamento, um sentimento e não um ato. Devemos diferenciar entre abuso sexual infantil e pedofilia. Não devemos aumentar o sofrimento dos pedófilos excluindo-os, culpando-os e ridicularizando-os ”.

  • Sob o lema “ideias que merecem ser espalhadas”, o TEDx é um programa de eventos locais, auto-organizados, que reúne pessoas para compartilhar ideias e conectar pessoas.

Confira abaixo

Em 2012, um tabelionato lavrou a primeira escritura pública, até onde se sabe, reconhecendo a união estável entre um homem e duas mulheres. Três anos depois, foi a vez de três mulheres terem reconhecida sua “união poliafetiva”. Diante disso, a Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS) fez um pedido à Corregedoria Nacional de Justiça do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2016, para que a matéria seja regulamentada e as “uniões poliafetivas” sejam declaradas ilegais. O caso deve voltar ao plenário do CNJ no próximo dia 15.

Mas qual o problema, afinal, de pessoas adultas viverem juntas em união estável poliafetiva? Por que o Estado teria algo a ver com isso? Não seria o caso de simplesmente se lhes reconhecer uma liberdade que as pessoas que querem viver em monogamia já têm?

Não poucos anos atrás, essas perguntas seriam impensáveis e a rejeição da poligamia (um homem vivendo com mais de uma mulher) ou da poliandria (uma mulher vivendo com mais de um homem) seria imediata, por ferir nossas intuições mais vitais. E aqui talvez resida o drama do nosso tempo: demos por óbvias muitas verdades por muito tempo e não nos esforçamos por defendê-lasUma dessas verdades é que as uniões poliafetivas (chamemos assim todos os arranjos possíveis) são uma profunda agressão à dignidade humana.

É evidente, para quem tenha refletido em profundidade no significado da dignidade humana, que a poliafetividade agride essa mesma dignidade. Quando se afirma que o ser humano tem uma especial dignidade, afirma-se que ele é dotado de um valor extraordinariamente elevado, de uma nobreza ímpar, decorrente da riqueza de seus potenciais (inteligência, vontade e afetividade, para Aristóteles; autodeterminação, para Kant, por exemplo). Por outro lado, quando se pensa na união conjugal, se pensa naquele tipo de união em que duas pessoas compartilham seus mundos, tanto interior quanto exterior, enriquecendo-os e envolvendo-os num projeto comum. E, como já escrevemos em outro momento, “um coração dividido não dá tudo o que é devido ao parceiro”.

Uma verdadeira relação conjugal é caracterizada pelo mais alto grau de cumplicidade, de entrega da própria vida, e é impossível fazer essa entrega a duas, três, quatro ou dez pessoas. Mais ainda, a aparência dessa entrega é uma agressão à dignidade, pelo aviltamento de cada uma das pessoas nessa relação múltipla. De fato, quando se aborda o do ponto de vista da igualdade, um valor especialmente estimado por todos nós, modernos, fica mais fácil compreender o mal da poliafetividade.

As uniões poliafetivas são intrinsecamente desiguais e seu reconhecimento normatiza a iniquidade. Em qualquer arranjo conjugal com mais de duas pessoas, sempre haverá o preferido para a satisfação dos desejos sexuais, o predileto para se conversar sobre este ou aquele assunto, o escolhido para se acompanhar nesta ou naquela aventura. De uma forma ou de outra, todos acabarão instrumentalizados por este ou aquele desejo passageiro de um dos integrantes do arranjo. Mais do que isso, e aí reside a mesura que o vício presta à virtude, é normal, nas relações poliafetivas, que o indivíduo dominante acabe por eleger informalmente sua parelha preferida, o que é facilmente comprovado, quer por pesquisas, quer pela experiência cotidiana de muitas pessoas que têm embarcado no conto do vigário do “poliamor”.

Por isso, o histórico prestígio dado à união monogâmica no Ocidente não é fruto de mera conveniência de época, mas sim resultado de uma conclusão natural a respeito da dignidade humana e do amor conjugal, que, por sua própria essência, não pode ser repartido em inúmeras fatias e manter-se autêntico amor. O fato é que o amor entre os cônjuges é tão sui generis na intensidade de seu compromisso que não é possível senão vivê-lo a dois. Ele consiste na entrega plena de um ao outro em vista de um projeto de vida comum. Sendo plena, essa entrega não pode ser dividida sem ser enfraquecida, prejudicando aquela que é a razão de ser da conjugalidade – a experiência de um amor tão total, incondicional e exclusivo que, na monogamia, quando se casa, se diz: tudo que de mim for conjugal será teu, tudo que de ti for conjugal será meu, celebrando-se a igualdade na vida privada.

Tampouco se deve ignorar, como também já argumentamos neste espaço, o mal que a poliafetividade trará às crianças porventura criadas em tais arranjos, por crescerem privadas do contato diário com a experiência profunda de amor monogâmico entre seus pais. Enfrentar essa questão com o rigor que merece fugiria de nossa intenção aqui, mas é preciso ter clareza que o consenso nas ciências sociais mostra que a desestruturação familiar tem impacto direto no bem-estar de crianças e adolescentes, perpetua ciclos de pobreza, fomenta a criminalidade e mina a capacidade de autoafirmação e comportamento responsável dos seres humanos, que são requisitos fundamentais do autogoverno democrático. Em suma, a monogamia é não só o único modelo conjugal que respeita a dignidade humana, mas também o único que realmente contribui para o bem comum.

Nada disso é novidade aos olhos do direito brasileiro. A Constituição Federal, em seu artigo 226, § 3º afirma que “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. O Supremo Tribunal Federal (STF), mesmo ao reconhecer a possibilidade de união estável entre homossexuais, passou a interpretar a união estável como possível entre “duas pessoas”. A jurisprudência brasileira é firme ao reconhecer como ilícitos civis, em regra, o concubinato e a união estável paralela, por contrariarem todo o sentido do regramento de família, que tem por base a monogamia.

Se o Estado deveria proibir ou criminalizar o mal da poligamia, enquanto agressão à dignidade humana, é uma questão que foge daquilo que se discute aqui e tem relação com os limites do poder estatal. O que não se pode admitir é que o Estado chancele tal agressão, dando-lhe o manto da respeitabilidade social. Se os tribunais resolvessem inovar a ordem jurídica e reconhecer a licitude da poligamia, isso já seria um absurdo. Que os cartórios o queiram fazer, é um acinte. O CNJ fará bem ao acolher o pedido de providências e impedir esse disparate.

Fonte: Gazeta do Povo

Vi na televisão um programa sobre a Chapada dos Veadeiros. Surpreso, fiquei sabendo de quantas pessoas vivem ali à espera de um contato com extraterrestres. Um desses devotos dos ETs vive numa verdadeira disciplina ascética, preparando-se para o encontro com os seres de outros planetas; é vegetariano, vive na pobreza e fez voto de castidade; chega mesmo a rezar para eles…

Como é louca a humanidade! Como é desorientada a nossa civilização ocidental! Primeiro, a partir do século XVIII, declaramos que o homem se tornara adulto e emancipado. Era necessário matar toda verdade religiosa e tudo quanto não coubesse na cachola miúda da razão humana. Assim, negou-se toda religião sobrenatural, toda revelação de Deus a Israel e inventou-se, no Ocidente, um deus distante, teórico, Arquiteto do Universo, distante, frio e inútil… Depois, nosso Ocidente negou Deus de vez: era preciso matar Deus – dizia-se – para que o homem vivesse de verdade. Assim, esta nossa civilização ocidental, colocou o homem no trono que pertence somente a Deus.

Esta razão endeusada e este homem no centro de tudo (na escola no ensinaram o absurdo que foi um ótimo negócio passar do teocentrismo medieval para o antropocentrismo do renascimento, como se o homem fosse Deus e Deus fosse apenas um detalhe…) levaram o Ocidente a duas guerras crudelíssimas, com mais 70 milhões de mortos… Depois das guerras (do nazismo em nome da razão, do fascismo em nome da racionalidade, do marxismo em nome da ciência e da história), veio a ressaca: não se crê mais em nada: nem no Deus revelado, nem na razão, nem nas instituições, nem nos grandes projetos…

Agora, não é mais o homem no centro; é somente o indivíduo, sozinho, fechado, egoísta, com uma ilusãozinha, uma moralzinha, um projetozinho, um deusinho segundo a sua imagem e semelhança medíocre e escrava de mil paixões…

No vazio de Deus, na negação do cristianismo, o Ocidente encontra-se perdido – alegremente perdido, bebadamente iludido e inconsciente de sua perdição! Procura-se desesperadamente encher o vazio existencial e encontrar um sentido para a vida no consumismo, no poder a qualquer custo, nas drogas, no endeusamento da natureza, no turismo desenfreado, nas seitas, na promiscuidade, na busca frenética pelo prazer e a autoafirmação… É assim: tire Deus, apague o Cristo da consciência do nosso Ocidente e fica somente o vazio, um homem infantilizado, presa das velhas práticas pré-cristãs…

Era para ser claro, palpável: sem Deus, o homem definha, o homem torna-se menos homem. Fomos, todos nós, feitos para o Infinito, para o Absolutamente Outro, o Eterno, e somente nessa abertura encontramos o Sentido, a Direção, o Eixo da nossa existência. O homem não é fruto da natureza; o homem é fruto do Autor na natureza, que nela impregna um desígnio, um sonho de amor: o homem é imagem de Deus, criado para Deus, com um coração que não se contenta com menos que Deus! Tire Deus e endeuse o que não é Deus; elimine o Deus verdadeiro e torne-se escravo de mil ídolos mentirosos!

O cristianismo, na Antiguidade, vencendo o paganismo, deu ao Ocidente a firmeza conceitual e a clareza de visão da vida e do mundo que permitiram o surgimento de uma civilização que tornou-se planetária. Esse Ocidente volta as costas para o Cristo e torna-se presa de todos os infantilismos e escravidões dos quais o cristianismo o havia libertado: desprezo pela vida humana, adoração infantilóide na natureza, falta de sentido para a existência, angústia, medo do sofrimento e da morte…

Que você, meu Amigo, tenha certeza: ainda haveremos de ver muita coisa! A tolice tem ares de sabedoria; a superstição tem pose de religião; a loucura tem fama de profunda lucidez…

Pobre homem, pobre Ocidente! Quanto precisamos de Deus; quantos temos necessidade daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida!

Dom Henrique Soares da Costa

Bispo de Palmares, PE

Via Aleteia

Apagam a memória, doutrinam os jovens. Anulam a liberdade. O Papa Francisco volta a condenar, assim, as colonizações culturais e ideológicas de todos os tempos. Ele fez isso na homilia na Casa Santa Marta da manhã dessa quinta-feira, 23 de novembro de 2017, relatada pela Radio Vaticana, durante a qual também as identificou com as ditaduras europeias do século passado.

Todas as vezes em que “surge na Terra uma nova ditadura cultural ou ideológica”, ela é “uma colonização”, afirma o pontífice. Ele observa: “Pensem naquilo que as ditaduras do século passado fizeram na Europa” e nas relativas e correspondentes “escolas de doutrinamento” que nasceram depois.

Desse modo, “tira-se a liberdade, desconstrói-se a história, a memória das pessoas, e impõe-se um sistema educativo aos jovens. Todas: todas fazem assim. Mesmo com as luvas brancas, algumas: não sei, um país, uma nação pede um empréstimo, ‘não, eu te dou, mas tu, nas escolas, deves ensinar isto, isto e isto’, e te indicam os livros, livros que apagam tudo o que Deus criou e como o criou”.

Além disso, “apagam as diferenças, apagam a história: a partir de hoje, começa-se a pensar assim. Quem não pensa assim deve ser deixado de lado, até mesmo perseguido”.

Assim aconteceu também na Europa, reiterou o bispo de Roma, onde aqueles “que se opunham às ditaduras genocidas eram perseguidos”, ameaçados, privados da liberdade, o que corresponde, então, a “outra forma de tortura”.

As colonizações ideológicas e culturais destroem também a memória, além da liberdade, reduzindo-as a “fábulas”, “mentiras”, “coisas de velhos”.

O pontífice destacou, depois, o papel da mulher na proteção da história, da memória e das raízes: “Conservar a memória: a memória da salvação, a memória do povo de Deus, aquela memória que tornava forte a fé deste povo perseguido por esta colonização ideológica e cultural. A memória é aquela que nos ajuda a vencer todos os sistemas educativos perversos. Recordar. Recordar os valores, recordar a História, recordar as coisas que aprendemos. E depois – referindo-se à figura da mãe dos Macabeus que encoraja os filhos a serem tenazes diante do martírio – a mãe. A mãe que falava duas vezes – diz o texto – ‘na língua dos pais’: falava em dialeto. E não há nenhuma colonização cultural que possa vencer o dialeto”. Francisco exalta a “ternura feminina” e a “coragem viril” da mãe dos Macabeus.

Eis a reflexão do pontífice: “Somente a força das mulheres é capaz de resistir a uma colonização cultural”; são elas as guardiães da memória, “capazes de defender a história de um povo” e de “transmitir a fé” que, depois, “os teólogos vão explicar”.

O papa enfatizou que “o povo de Deus seguiu em frente por causa da força de tantas mulheres bravas, que souberam dar a fé aos filhos, e só elas – as mães – sabem transmitir a fé em dialeto”.

Vatican Insider

Os novos registros oficiais de nascimento, casamento e óbito no Brasil possuem regras de emissão que valem a partir de 21 de outubro de 2017. Os cartórios terão prazo até 1º de janeiro de 2018 para se adaptar, data em que o novo formato será obrigatório.

A mudança mais destacada pelo governo é obrigação de se incluir o CPF nas certidões. Esse é o primeiro passo para a obtenção do número único de identidade civil no país, que deverá ser lançado em breve.

Porém, chama atenção nas novas normas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) o reconhecimento das “múltiplas configurações de família”. As novas certidões de nascimento, por exemplo, não possuem mais os tradicionais quadros preestabelecidos para o nome dos genitores. Ou seja, ao invés de “pai” e “mãe”, traz apenas “filiação”, seguindo o modelo que fora estabelecido em 2011, ainda no governo Dilma.

Segundo o material divulgado pela Agência Brasil, isso possibilita que além do arranjo tradicional heterossexual de um pai e uma mãe, a ideia de filiação pode acomodar duas pessoas do mesmo sexo, ou até uma filiação entre três pessoas. Em todos os casos será formalmente reconhecido a formação de “um novo núcleo familiar”. Segundo o CNJ, “A certidão poderá conter os nomes de até dois pais e duas mães em razão da dissolução de casamentos ou relacionamentos estáveis dos pais”.

Sendo assim, fica regulamentado na prática o reconhecimento do casamento homoafetivo e do poliamor, algo que antes só era possível após um processo judicial.

O governo destaca que também terão os mesmos direitos casais que tiveram um filho a partir de técnicas de reprodução assistida, como barriga de aluguel ou ainda por uso de material genético doado.

Outra possibilidade é a inclusão de nomes de pais socioafetivos (padrasto ou madrasta) na Certidão sem necessidade de recorrer ao Judiciário, basta o responsável legal manifestar esse desejo no cartório. Quando são filhos a partir de 12 anos de idade, é necessário seu consentimento.

Do ponto de vista jurídico, não haverá diferença entre qualquer um desses “arranjos familiares”.

Na nova Certidão de Casamento, o raciocínio é o mesmo. Há apenas o campo para dois “nomes”, sem distinção de sexo. Todas as mudanças podem ser conferidas aqui.

Fonte: G Prime

Em discussões infindáveis na internet, assim como na vida, às vezes, tudo que precisamos é admitir que estamos errados ou, melhor, simplesmente não se importar.

Meu cérebro, como todos os cérebros, abriga uma quantidade inacreditável de informações acumuladas, e uma vasta quantidade dela diz respeito a coisas que vi na TV. Sempre detestei Star Trek, e isso é uma coisa que expresso em voz alta sempre que posso, mas basta eu ver um pedacinho qualquer de A Nova Geração, que logo descubro se tratar de um episódio que já assisti.

Também nunca fui exatamente fã do programa da Oprah, mas sem dúvida que o assisti por centenas de horas. Muitos anos após ele ter saído do ar sigo lembrando-me de um insight que Oprah compartilhou com a audiência. Não lembro o contexto, mas Oprah se surpreendeu ao perceber que não precisava atender ao telefone só porque ele estava tocando.

Foi um insight significativo também para mim, e não porque atender ao telefone seja uma tarefa particularmente difícil, mas porque significa que há uma liberdade invisível nisso, que eu de alguma forma não havia percebido antes. Mesmo que eu seguisse atendendo todas as ligações, agora parecia haver uma escolha. Antes de considerar a questão, era um relacionamento de mestre-escravo, em que uma pessoa lá fora aperta alguns botões, e meu corpo se levantava (talvez me retirando de um episódio antigo de Star Trek).

Lentamente começo a reconhecer outra liberdade ignorada, que é a liberdade de deixar os outros estarem certos (ou pelo menos se sentirem certos) mesmo que eu pense que estão errados ou estejam errados em temas acidentais, não essenciais.

Reconheço que tenho um longo histórico de debater minhas visões, mesmo quando não estou bem certo de porque o estou fazendo. Uma vez eu estava discordando respeitosamente de um colega de trabalho com relação a alguma coisa, e depois de eu levantar um ponto particularmente bem colocado, ele saiu do tom esportivo e disse: “ você gosta mesmo de discutir, hein?!” Tentei dizer que ele estava errado, mas mais tarde indaguei a mim mesmo por alguns segundos se eu realmente gosto de discutir. Não, ele que gosta de discutir. Caso contrário ele teria percebido que eu estava certo.

E isso foi antes da internet se tornar onipresente em nossas vidas, antes de ir junto com a gente para o banheiro, quando “se conectar” era uma atividade que só se fazia em alguma momento do dia, em vez de ser um modo de percepção global adicional que acionamos a qualquer momento. Naquela época uma pessoa normal vivenciava muito menos momentos em que se considerava adequado levar uma questão além do ponto permitido pela polidez.

Hoje é alarmante o quanto é fácil se encontrar batendo com uma pessoa distante, sem rosto, que está tentando dizer a você que prover saúde para todos os cidadãos é uma conspiração comunista, enquanto você espera que sua batata termine de esquentar no micro-ondas. O fato de não ter um rosto aumenta ainda mais nosso impulso de discutir. Você já deve ter percebido que é bem menos agradável discutir com alguém quando se pode ver seus olhos.

Suponho que muitos de vocês nem tenham ideia do que estou falando. Você vê uma afirmação com que não concorda, ou que por conhecer os fatos sabe estar errada, e então tem o impulso de corrigir, iluminar ou reprimendar o outro, mas isso fica apenas em sua cabeça. Você pode ouvir alguém louvando Nancy Grace como uma defensora altruísta dos vulneráveis, ou defendendo que Godfather III foi tão bom quanto os outros filmes da trilogia, e ainda assim não sente desejo algum de fazer a outra pessoa parar de pensar isso. Você é sábio o suficiente para saber que a “luta justa” em áreas de comentário na internet é quase sempre pura condescendência, e só provê motivos para a ignorância fincar suas âncoras e aumentar o tom da voz.

Mas muitos entre nós não são sábios assim. Essas almas debatedoras, que, dentre nós, realmente se engajam (e, como vemos, há zilhões de nós: basta examinar os comentários no Facebook ou no Youtube) muitas vezes creem estar de alguma forma realmente mudando as mentes, erradicando a ignorância e o pensamento superficial. Não estamos nos entregando a um passatempo destrutivo, ou no mínimo inútil, estamos salvando o mundo do erro, um usuário sem rosto do Reddit de cada vez.  Não só está tudo certo em se engajar nesses pequenos conflitos, trata-se de um imperativo moral. Não podemos permitir que a ignorância siga sem oposição. A internet (e o mundo todo, mas é mais fácil na internet) precisa ser patrulhada em busca de crenças ruins.

E, é claro, raramente ocorre a nós que estejamos errados. Talvez todas minhas fontes estejam incorretas, e nós de fato engulamos oito aranhas por ano durante o sono. Mas no entusiasmo de corrigir os erros de outros, nunca nos ocorre que talvez sejamos nós o problema, ou pelo menos parte do problema. Estar errado dá a mesma sensação de estar certo, e essa é a única sensação que todos os envolvidos têm, em qualquer discussão, sobre qualquer coisa.

Para aqueles entre nós inclinados a discutir cada ponto, é fácil esquecer que temos a liberdade de simplesmente seguir nossas vidas e permitir que os pontos-de-vista “errados” sigam. É fantástico o quanto parece que uma conversa qualquer precisa de sua contribuição, da mesma forma que uma chaleira gritando precisa ser tirada da boca do fogão.

Mas não é a mesma coisa. Uma perspectiva diferente, não importa o quão absurda pareça, não é uma emergência. A civilização sobreviveu por 10 mil anos antes de eu e você chegarmos aqui com nossas correções sarcásticas e nossos retruques condescendentes, e não fizemos exatamente muita diferença desde que chegamos. Parece que não precisamos tentar fazer parar as pessoas pensarem o que não queremos que pensem, e que nossa energia provavelmente será mais bem aplicada em outra coisa.

Em outras palavras, é possível, em teoria, se aposentar da Patrulha da Crença Alheia.

Reconheço que as crenças têm consequências no mundo real. Ações prejudiciais vêm de crenças ruins. Não estou dizendo que não devemos jamais opor a ninguém, nunca confrontar ninguém, nunca se engajar com aqueles que discordam de nós. Só acho que fazer luvas, usar um cabeça dura qualquer nas medias sociais de sparrer, não afeta as crenças de ninguém de qualquer forma útil.

Acho que o conselho de Richard Carlson provavelmente é um mote ideal para isso: deixe os outros estarem “certos” a maior parte do tempo. Afirmar e defender suas visões demanda uma quantidade enorme de energia mental e realiza quase nada. Algumas vezes é importante (e até mesmo útil) se posicionar numa conversa, mas geralmente é apenas uma forma de se entregar à destruição da paz.

Por “aposentadoria da Patrulha da Crença Alheia”, estou falando principalmente de se aposentar de discussões que não sejam cara-a-cara, e em que não haja respeito mútuo. Na mesma hora que a motivação deixa de ser boa vontade e vira má vontade ou incomodação, fui embora.

Espero muito que você perceba o impulso que surge antes das palavras saírem. Pode ser muito automático. Quando você começa a considerar a aposentadoria, é incrível como se torna atraente dizer algo, jogar um “Bem, na VERDADE…”

É como ser o policial de narcóticos no programa de TV, convencido pela família a se aposentar, mas que então, sem perceber, se descobre envolvido em alguma aventura fantástica, atrás de pistas e perseguindo marginais em telhados. Ele acaba de volta àquele mundo, dando socos em algum traficante no topo de um trem em movimento, e não porque conscientemente decidiu retornar à vida, mas porque seus instintos de detetive eram mais aguçados do que a consciência do que estava fazendo.

Então veremos como as coisas se dão na aposentadoria. Já percebi como esse impulso surge frequentemente. Já apaguei tantas respostas meio-escritas para o Reddit que me pergunto se alguma vez contribuí com algo que não fosse refutar alguém ou fazer um comentário de escárnio.

O convido a se juntar a mim, caso você seja um veterano da Patrulha da Crença Alheia. Vamos largar completamente esse jogo de capa e espada e ir jogar tênis. Ainda podemos expressar nossas visões em milhares de outras formas que não sejam tão duras e intemperadas. Temos essa liberdade, e não o culpo se você não a reconhece. Mas já posso adiantar que é melhor se aposentar.

Só não vou discutir o assunto.

David Cain

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Desde a minha conversão à Igreja, tenho observado um movimento entre os jovens cristãos que afirmam amar Jesus, mas rejeitam a “religião”.

Muitos cristãos da geração millennial que rejeitam a “religião” argumentam que as pequenas diferenças entre as denominações cristãs realmente não importam no final. E eles estão certos; Há pouca diferença real entre muitas das denominações cristãs que surgiram ao longo do tempo desde a Reforma. Quando eu estou no meu estado natal de Oklahoma, eu me deparo com o número absurdo de igrejas diferentes que afirmam estar voltando às raízes do cristianismo.

Porém, a fragmentação sem fim de denominações cristãs é um escândalo para a unidade à qual Cristo nos chama (Jo 17,21). Talvez a rejeição dessas diferenças religiosas entre os jovens cristãos possa ser o início de um movimento ecumênico para a unidade no Corpo de Cristo. Neste sentido, sim, vamos rejeitar as “religiões” baseadas em diferenças superficiais e enraizadas na divisão e no pecado.

Mas, como uma ex-ateia, eu tenho que dizer que há também algumas bandeiras sérias neste movimento para rejeitar a “religião”. Em uma recente tarde de domingo, a hashtag #EuNãoVouÀIgrejaPorque estava entre os top trends no Twitter. Para minha surpresa, muitos dos tuítes foram de cristãos que, orgulhosamente, proclamaram que eles não “precisam” de religião, eles só precisam de Jesus. Parece que a mentalidade sob a rejeição dos sacramentos entre alguns cristãos evoluiu naturalmente para uma rejeição de algo tão básico como celebrar a Eucaristia semanalmente.

Além do fato óbvio de que isso acontece sempre na milenar tradição cristã, há também a preocupação válida de que esta forma de “cristianismo”, baseada em nada mais que sentimento, vai se tornar, dentro de uma geração ou duas, em ateísmo.

E como esta nova forma de “Cristianismo” evoluiu: Muitas pessoas que estão neste movimento argumentam que separar o Cristianismo da “religião” nos ajuda a voltar às raízes do Cristianismo, às reais intenções de Jesus.

Mas a Bíblia e os escritos dos padres primitivos da Igreja revelam muito pouco para sustentar essa afirmação.

Aqui estão algumas evidências da Escritura e da história antiga da Igreja:

1. Os cristãos se reúnem para adorar: Deus nos deu uma orientação clara e as Escrituras deixam evidente que os primeiros cristãos se reuniam para uma refeição eucarística todos os domingos. Reuniões de domingo nunca foram uma prática opcional para os cristãos. Se acreditamos que Jesus morreu por nós, o mínimo que podemos fazer é adorá-lo por uma hora todos os domingos.

Tome cuidado, então, muitas vezes para se reunir para dar graças a Deus, e mostrar o seu louvor. Pois quando vocês se reúnem frequentemente no mesmo lugar, os poderes de Satanás são destruídos, e a destruição a que ele se propõe é impedida pela unidade de sua fé. – Inácio de Antioquia, Carta aos Efésios.

 No primeiro dia da semana, nos reunimos com a finalidade de partir o pão (Atos, 20:7)

 2. Religião é o que nos liga a Deus: Há muito desdém pelas práticas exteriores de piedade nos dias de hoje. E certamente, é verdade que as práticas exteriores não levam sempre à caridade e santidade. Mas isso não é motivo para deixá-las para trás. Somos corpo e alma. A relação com Deus é alimentada por práticas exteriores; elas nos ligam a Deus e estamos ligados a ele através da nossa religião.

Estamos unidos e ligados a Deus por este vínculo de piedade. É disso que a religião toma seu nome. – Lactâncio, As Instituições Divinas

Pois assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras está morta. – Tiago 2:26

3O cristianismo é comunidade: Nossa fé não é apenas um relacionamento individual com Jesus. O Cristianismo envolve relacionamento com Deus (que é, Ele mesmo, uma comunidade de pessoas) e relacionamento com os outros em sua Igreja. É doloroso e difícil estar em relacionamento com outros pecadores. Mas nossa fé nos chama a estar em união não apenas com Deus, mas com outras pessoas.

Somos um corpo unido como tal por uma profissão religiosa comum, pela unidade de disciplina e pelo vínculo de uma esperança comum. Nós nos reunimos como uma assembleia e congregação … Nós nos reunimos para ler nossos escritos sagrados … Em mente e alma, não hesitamos em compartilhar nossos bens terrenos um com o outro. – Tertuliano, Desculpa

Pois, como em um corpo temos muitos membros, e todos os membros não têm a mesma função, então nós, embora muitos, somos um corpo em Cristo, e membros individualmente um do outro. – Romanos 12: 4-5

4. O cristianismo tem sucessão apostólica: As Escrituras deixam claro que Paulo nomeou bispos, Timóteo e Tito, e lhes pediu que designassem presbíteros (1 Tm 2: 2). Quando as pessoas rejeitam a hierarquia e a autoridade legítima em favor do individualismo, rejeitam Jesus e a Igreja que ele fundou.

Quando nos referimos a essa tradição que se origina dos apóstolos e que é preservada por meio da sucessão de presbíteros nas Igrejas, eles se opõem à tradição, dizendo que eles mesmos são mais sábios não meramente do que os presbíteros, até mesmo os apóstolos, porque eles descobriram a verdade não adulterada. – Irineu, Contra todas as heresias

Não negligencie o dom que há em ti, que foi conferido através da palavra profética com a imposição das mãos do presbitério. –  1 Timóteo 4:14

Cristianismo é uma religião. Sempre foi. E o movimento para remover a “religião” de nossa fé é um movimento que, em última instância, poderia minar a transmissão da fé para as gerações vindouras.

Essas são apenas algumas coisas que você pode apontar da próxima vez que uma pessoa disser que ele ou ela acredita em Jesus, mas não acha que é necessário praticar a religião.

Theresa Noble

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O sucesso da campanha de 2015 na Irlanda pelo reconhecimento legal das uniões homossexuais como equivalentes ao casamento natural gerou grande excitação entre os defensores da “redefinição” do casamento no resto do mundo (ocidental, pelo menos).

A união homossexual, porém, não é a única forma de relacionamento que pretende ser equiparada ao matrimônio natural. Há uma longa fila de “amores” aguardando reconhecimento social e, nessa lista de espera, encontramos o assim chamado “poliamor”.

Na própria Irlanda, uma ex-participante do reality show Big Brother, chamada Jade-Martina Lynch, assumiu e resumiu a sua vivência do “poliamor” dizendo: “A minha alma é tão livre que eu não poderia manter um relacionamento monogâmico”.

Uma definição mais longa foi divulgada pelo grupo californiano Saturnia Regna, que define o “poliamor” como “muitos amores ou um amor compartilhado entre muitas pessoas. A palavra tem sido usada pelo menos desde o início do século XX para descrever a escolha de amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Esta forma responsável de não-monogamia não implica clandestinidade nem traição. O poliamor consiste em acordos mútuos com pessoas que você ama, mantendo tudo aberto e tratando as pessoas amadas de uma forma ética, consensual e comprometida”.

A palavra-chave nesta descrição é “não-monogamia”, ou seja, a manutenção estável de envolvimento sexual com mais de uma pessoa. O resto da definição parece até compatível com o mandamento de amar a todos: afinal, quem não concorda que devemos “tratar as pessoas amadas de forma ética, consensual e comprometida”?

O que não é muito claro é o que significa, exatamente, essa “responsável não-monogamia” que o “poliamor” propõe. A mídia ocasionalmente retrata o caso de pessoas “descoladas” que vivem suas “relações abertas” compartilhando a supervisão dos deveres escolares dos filhos, entre outras situações que soam “discretas e inofensivas” para a nossa modernidade. Mas há outros lados no “poliamor”.

O grupo Saturnia Regna, por exemplo, andou anunciando nos Estados Unidos um programa de férias de verão “em um lindo resort do norte da Califórnia com uso opcional de roupa”. Em tal ambiente, a “comunidade poliamor” poderia aprimorar habilidades como “a clarificação e a expressão de desejos, a gestão dos ciúmes, a expansão e o aprofundamento da intimidade e do relacionamento multi-parceiros”.

Esta proposta apresenta uma perspectiva de “exercícios interativos” em um contexto “propício para a expressão sensual em um grau não possível na maioria dos ambientes comuns”. A interpretação de que os participantes desses encontros não apenas correm nus ao ar livre, mas também “se engajam em interações afetivas com múltiplos parceiros, podendo, até, fazer amor à vista dos outros” é pouco exagerada (fica a dica de cuidado para os adeptos puritanos do poliamor…).

A propaganda chega inclusive a pincelar certo caráter de “virtude” nessa postura:

A interação social no ambiente de uso opcional de roupas exige que as pessoas sejam mais respeitosas do que nos contextos comuns – e não menos. O poliamor e os relacionamentos abertos demandam que as pessoas sejam mais sensíveis aos sentimentos e desejos das pessoas com quem interagem – e não menos. Explorar o poliamor exige um nível mais alto de confiança, honestidade, vulnerabilidade emocional e disposição para enfrentar sentimentos desconfortáveis do que é exigido em relacionamentos mais convencionais. Se você não é uma pessoa disposta e capaz de se comportar desta maneira, este evento provavelmente não é para você”.

O esforço para revestir uma orgia com matizes de “escola de sensibilidade” pode ser hilário por um lado, mas, por outro, é uma mostra perturbadora do futuro possível das relações sexuais reguladas só pela aparência de “amor”. O “poliamor” afirma que os seus “relacionamentos não-monogâmicos” são apenas “outra maneira de amar”. Mas não esclarece qual é a definição de “amor” em que tenta se basear.

Há algo que impeça o “poliamor” de conseguir, em breve, a equiparação legal ao casamento? Se nem a definição de casamento está clara hoje em dia, provavelmente não.

E isso importa?

Bom, importa para quem acha preocupante a institucionalização da instabilidade familiar. O divórcio já permite há décadas que os pais se separem e formem novos relacionamentos – e não são desprezíveis as estatísticas que indicam que os filhos tendem a sofrer de modo considerável os efeitos dessa ruptura em termos de autoestima, segurança pessoal, rendimento escolar, amadurecimento afetivo. Se o “poliamor” chegar a ser reconhecido legalmente como “equiparável ao matrimônio”, o que as crianças acharão de si mesmas no meio disso tudo?

E isso, importa?

Aleteia

Religião-Católica-10

Obs: Este texto requer um conhecimento prévio dos argumentos para a existência de Deus. Veja aqui uma série de 6 breves vídeos no Youtube.
 
Com base no argumento cosmológico, sabemos que Deus é:
1. Auto-existente, atemporal, não espacial, imaterial (uma vez que ele  criou o tempo, o espaço e a matéria, então deve estar fora do tempo, do espaço e da matéria). Em outras palavras, ele não tem limites. Ou seja, ele é infinito.
2. Inimaginavelmente poderoso, uma vez que ele criou todo o Universo do nada.
3. Pessoal, uma vez que ele optou por converter um estado de nulidade em um Universo tempo-espaço-material (uma força impessoal não tem capacidade de tomar decisões).
Com base no argumento teleológico, sabemos que Deus é:
4. Supremamente inteligente, uma vez que planejou a vida e o Universo com incrível complexidade e precisão.
5. Determinado, uma vez que planejou as muitas formas de vida para viverem nesse ambiente específico e ordenado.
Com base no argumento moral, sabemos que Deus é:

6. Absolutamente puro no aspecto moral (ele é o padrão imutável de moralidade pelo qual todas as ações são medidas. Esse padrão inclui justiça e amor infinitos).

Teísmo é a abordagem adequada para descrever tal Deus. Aqui está a maravilhosa verdade sobre essas descobertas: o Deus teísta que descobrimos é compatível com o Deus da Bíblia, mas nós o descobrimos sem usar a Bíblia. Mostramos que, por meio de raciocínio, ciência e filosofia adequados, pode-se conhecer muitas coisas sobre o Deus da Bíblia. Na verdade, isso é o que a própria Bíblia diz (e.g. 5119; Rm 1.18-20; 2.14,15). Os teólogos chamam essa revelação de Deus de natural ou revelação geral (que é claramente vista independentemente de qualquer tipo de Escritura). A revelação das Escrituras é chamada de revelação especial. Assim, sabemos por meio da revelação natural que o teísmo é verdadeiro.
 
Essa descoberta nos ajuda a ver não apenas como é a verdadeira tampa da caixa, mas o que ela não pode ser. Uma vez que o oposto de verdadeiro é falso, sabemos que qualquer visão de mundo não teísta deve ser falsa. Ou, colocando de outra maneira, entre as maiores religiões mundiais, somente uma das religiões teístas — judaísmo, cristianismo ou islamismo — pode ser verdadeira. Todas as outras principais religiões mundiais não podem ser verdadeiras, porque elas são não-teístas.
 
Pode ser verdadeira (teísta) Não pode ser verdadeira (não teísta)
1. Judaísmo 1. Hinduísmo (panteísta ou politeísta)
2. Cristianismo 2. Budismo (panteísta ou ateísta)
3. Islamismo 3. Nova Era (panteísta)
  4. Humanismo secular (ateísta)
  5. Mormonismo (politeísta)
  6. Wicca (panteísta ou politeísta)
  7. Taoísmo (panteísta ou ateísta)
  8. Confucionismo (ateísta)
  9. Xintoísmo (politeísta)
Isso pode parecer uma declaração muito imponente — negar a verdade de tantas religiões mundiais nesse estágio. Mas, por meio de lógica simples usando a lei da não-contradição — religiões mutuamente excludentes não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Tão certo quanto jogadores de futebol são cortados da escalação de um jogo porque carecem de certas habilidades, certas religiões mundiais são cortadas da escalação como possíveis religiões verdadeiras porque carecem das qualificações necessárias.
 
Desse modo, por meio da lógica, se o teísmo é verdadeiro, então todos os não teísmos são falsos. Isso não significa que todo o ensinamento de uma religião não teísta é falso ou que não existe nada de bom nessas religiões — certamente existe verdade e bondade na maioria das religiões mundiais. Isso simplesmente quer dizer que, como uma maneira de se olhar para o mundo (i.e., uma visão de mundo), qualquer religião não teísta está construída sobre um fundamento falso. Embora alguns detalhes possam ser verdadeiros, o cerne de qualquer sistema religioso não teísta é falso.
 
Fonte: GEISLER, Norman; TUREK, Franklin; – Não tenho fé suficiente para ser ateu – Ed. Vida (Adaptado)